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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA (UEPB)

JESSÉ ANDRADE ARAÚJO

O FENÔMENO CONSTITUCIONAL À LUZ DA CRÍTICA MARXISTA

CAMPINA GRANDE - PARAÍBA


2023
JESSÉ ANDRADE ARAÚJO

O FENÔMENO CONSTITUCIONAL À LUZ DA CRÍTICA MARXISTA

Projeto de Pesquisa apresentado ao Centro de


Ciências Jurídicas, Universidade Estadual da Paraíba,
como requisito parcial à obtenção da aprovação do
Componente Curricular Métodos e Técnicas de
Pesquisa II.

Área de Concentração: Estado e Domínio Econômico

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Aureci Gonzaga Farias

CAMPINA GRANDE - PARAÍBA


2023
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………03
2 TEMA……………………………………………………………………………….06
2.1 PROBLEMA………………………………………………………………………..06
2.2 HIPÓTESES……………………………………………………………………….07
3 OBJETIVOS……………………………………………………………………….08
3.1 OBJETIVO GERAL………………………………………………………………..08
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS……………………………………………………..08
4 JUSTIFICATIVA……………………………………………………………………08
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA………………………………………………….10
5.1 BREVE ANÁLISE HISTÓRICA DAS CONCEPÇÕES
DE DIREITO E CONSTITUIÇÃO………………………………………………...10
5.1.1 Juspositivismo e não Juspositivismo…………………………………………....10
5.1.2 Da Crítica Marxista………………………………………………………………...11
5.2 A FORMA MERCADORIA E O SUJEITO DE DIREITOS………..……………12
5.3 CONSTITUIÇÃO E MARXISMO…..……………………………………………..13
6 METODOLOGIA…………………………………………………………………...15
7 CRONOGRAMA…………………………………………………………………...16
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………….17
1 INTRODUÇÃO

O Projeto de Pesquisa presente, intitulado “O Fenômeno Constitucional à Luz


da Crítica Marxista”, tem como objetivo central compreender a Constituição, lato
sensu, a partir do materialismo histórico dialético, haja vista a sofisticação e a
pertinência do método marxiano.
Os movimentos constituintes são demasiadamente recentes na história da
humanidade e marcam o início de um novo debate acerca das normas e de sua
hierarquização. É sabido que os Estados Unidos da América figura historicamente
como nação fundadora do modelo constitucional, quando, em 1788, outorga-se a
Lex Legum americana, fonte de todo o ordenamento jurídico a partir de então. Pari
passu, a França já passava por um tortuoso processo revolucionário que colocava o
modelo monarquista numa situação crítica, ao passo que se planejava a
implementação de normas fundamentais que existissem como meandros à política e
ao Direito. Claro, não é possível falar na gênese constitucional sem citar a Magna
Charta Libertatum, de 1215, articulada pela burguesia contra o John Lackland.
Ainda nessa esteira histórica, nasce em 1818 o filósofo alemão Karl Marx
(1818-1883), que cresce no ínterim da revolução industrial. Apesar da longa vida
acadêmica, Marx, que foi estudante de Direito, publicou a sua mais elevada obra em
1867, intitulada “Das Kapital”. Com isso, o pensador refinava o método de análise
da realidade que já vinha desenvolvendo há décadas, desde que fora um jovem
crítico ao idealismo hegeliano. Marx percebeu que há uma hegemonia da matéria
em relação à ideia e que essa, por sua vez, busca justificar aquela - a dinâmica da
ideologia.
Com base nisso, surgiu uma pleura de autores interessados nos escritos
marxianos, enxergando ali uma novidade fulgurante, que ansiava pelo debruce de
inúmeras mentes. Um desses se destaca no âmbito jurídico: o jurista e filósofo
soviético Evguiéni Bronislavovitch Pachukanis (1891-1937), que produz sua obra
máxima, “Teoria Geral do Direito e Marxismo”, em 1924. Pachukanis, com profundo
conhecimento do método marxiano, se apropria dos conceitos marxistas centrais e
cunha na história uma crítica inédita ao Direito, entendendo haver na manifestação
da forma jurídica um paralelo com a forma mercadoria. O pensador, nesse ponto,
desvela o fenômeno jurídico e demonstra a pertinência do materialismo histórico
dialético ao aduzir que as relações de produção determinam a realidade
histórico-social, ou, como diria Plekhanov (1856-1918), o ser social.
Entretanto, apesar dos inúmeros esforços teóricos adstritos à análise
marxista do Direito, não se foram debatidas as possíveis diferenciações conceituais
entre o Direito e o fenômeno constitucional e, portanto, não se há considerações
acerca da relevância em relação ao estudo desse. É necessário revisitar os textos
que perscrutam o fenômeno jurídico a partir da perspectiva materialista, a fim de
estender tal escrutínio à Teoria da Constituição, promovendo a articulação entre a
crítica e o objeto novo.
Por conseguinte, enxergando nessa lacuna a possibilidade de buscar novos
resultados teóricos, foram formulados os seguintes questionamentos: como o
fenômeno constitucional pode ser entendido a partir de uma análise materialista
histórico dialética? Há diferença conceitual entre Direito e Constituição que encontre
fulcro na realidade material?
Para responder a esses questionamentos levantam-se as seguintes
hipóteses: há aspectos próprios da Constituição que fogem ao fenômeno jurídico e
isso justifica a criação daquela categoria normativa como uma nova forma oriunda
das contradições do capitalismo. Dito isso, não é possível tergiversar o fato das
primeiras constituições tratarem predominantemente da organização do Estado,
enquanto estrutura de poder, estabelecendo bases administrativas, normas
concernentes à ordem institucional e à preservação dos grupos burgueses
nacionais.
Ainda nesse bojo, a Constituição é uma forma necessária do modelo
econômico capitalista que surge também com o intuito burguês de fortalecer (ou
fundar) e apartar o Estado da sociedade, colocando-o acima dela. Desse modo, é
de incontornável serventia evocar Engels (1820-1895) e sua proposição de que o
Estado emana do embaraço insolúvel da contradição interna que, sem a existência
de tal instituição, resultaria numa luta estéril e feroz entre as classes (1894).
Com fulcro nisso, é possível compreender o “acordo constitucional”
(Constituição) como a participação aparente do povo na elaboração do fenômeno
que fortalece sua própria exploração - mascarando a hegemonia dos interesses das
classes dominantes sob o pálio do consentimento popular - na medida em que tal
possui a força de ocultar a gênese conflituosa do Estado.
Depois, a Constituição inexoravelmente também existe como instrumento
ideológico efetivo de manutenção da estrutura de classes - sociedade vertical -,
permitindo, inclusive, a partir de ditames normativos, conservar grupos burgueses
nacionais, enquanto o Direito, apesar de corroborar com esse fim, tem origem na
prática burguesa de equalizar as relações de troca - sociedade horizontal -, o que,
por sua vez, garante o sujeitamento ideológico completo (amparado pela
artificialidade jurídica) do indivíduo que vende sua força de trabalho e,
concomitantemente, crê que o faz por livre e espontânea vontade
Em Suma, os documentos constitucionais, hodiernamente, são os principais
contribuidores do conceito de liberdade na sociedade burguesa. A imagética
conceitual amparada na liberdade formal - na equidade, por assim dizer -, contribui
consideravelmente à manutenção das mazelas sociais provenientes de uma brutal
desigualdade econômica (material).
Nesse fito, faz-se imprescindível a análise do tema proposto, a fim de
contribuir com uma nova perspectiva concernente ao fenômeno
jurídico-constitucional. É necessário o enfrentamento de pautas já consolidadas na
academia para que haja uma marcha teórica ao desenvolvimento do debate -
característico da dialética.
A escolha do tema, como objeto de estudo, se justifica, a princípio, pelo fato
do autor nunca se deparar com ideias marxistas emanadas da academia na qual
figura como sua alma mater; mas também pelo reconhecimento de que há no
método marxista a mais elevada sofisticação metodológica de análise do ser social.
Não somente, o autor do presente projeto também vislumbra uma realidade
possível, de justiça social, realizável apenas com a superação da configuração
econômica constituída. Para isso, são necessárias doses de subversão, de rebeldia,
capazes de romper com o que jaz rígido nos vários setores sociais. A crítica
marxista, anunciada ou tacitamente, serve ao propósito central de entender a
realidade, mas, concomitantemente, compreender que há contradições nessa
realidade que precisam ser vencidas.
A grande relevância científica e social do estudo proposto está em evidenciar
o quão importante é a inovação promovida por Karl Marx nas ciências sociais - a
partir da elaboração do materialismo histórico dialético, a fim de perscrutar a
sociedade - e a necessidade de se pensar o Direito e Constituição a partir desse
método.
2 TEMA

O Fenômeno Constitucional à Luz da Crítica Marxista

2.1 PROBLEMA

Os movimentos constituintes são demasiadamente recentes na história da


humanidade e marcam o início de um novo debate acerca das normas e de sua
hierarquização. É sabido que os Estados Unidos da América figuram historicamente
como nação fundadora do modelo constitucional, quando, em 1788, outorga-se a
Lex Legum americana, fonte de todo o ordenamento jurídico a partir de então. Pari
passu, a França já passava por um tortuoso processo revolucionário que colocava o
modelo monarquista numa situação crítica, ao passo que se planejava a
implementação de normas fundamentais que existissem como meandros à política e
ao Direito. Claro, não é possível falar na gênese constitucional sem citar a Magna
Charta Libertatum, de 1215, articulada pela burguesia contra o John Lackland.
Ainda nessa esteira histórica, nasce em 1818 o filósofo alemão Karl Marx
(1818-1883), que cresce no ínterim da revolução industrial. Apesar da longa vida
acadêmica, Marx, que foi estudante de Direito, publicou a sua mais elevada obra em
1867, intitulada “Das Kapital”. Com isso, o pensador refinava o método de análise
da realidade que já vinha desenvolvendo há décadas, desde que fora um jovem
crítico ao idealismo hegeliano. Marx percebeu que há uma hegemonia da matéria
em relação à ideia e que essa, por sua vez, busca justificar aquela - a dinâmica da
ideologia.
Com base nisso, surgiu uma pleura de autores interessados nos escritos
marxianos, enxergando ali uma novidade fulgurante, que ansiava pelo debruce de
inúmeras mentes. Um desses se destaca no âmbito jurídico: o jurista e filósofo
soviético Evguiéni Bronislavovitch Pachukanis (1891-1937), que produz sua obra
máxima, “Teoria Geral do Direito e Marxismo”, em 1924. Pachukanis, com profundo
conhecimento do método marxiano, se apropria dos conceitos marxistas centrais e
cunha na história uma crítica inédita ao Direito, entendendo haver na manifestação
da forma jurídica um paralelo com a forma mercadoria. O pensador, nesse ponto,
desvela o fenômeno jurídico e demonstra a pertinência do materialismo histórico
dialético, ao aduzir que as relações de produção determinam a realidade
histórico-social, ou, como diria Plekhanov (1856-1918), o ser social.
Entretanto, apesar dos inúmeros esforços teóricos adstritos à análise
marxista do Direito, não se foram debatidas as possíveis diferenciações conceituais
entre o Direito e o fenômeno constitucional e, portanto, não se há considerações
acerca da relevância em relação ao estudo desse. É necessário revisitar os textos
que perscrutam o fenômeno jurídico a partir da perspectiva materialista, a fim de
estender tal escrutínio à Teoria da Constituição, promovendo a articulação entre a
crítica e o objeto novo.
Por conseguinte, enxergando nessa lacuna a possibilidade de buscar novos
resultados teóricos, foram formulados os seguintes questionamentos: como o
fenômeno constitucional pode ser entendido a partir de uma análise materialista
histórico dialética? Há diferença conceitual entre Direito e Constituição que encontre
fulcro na realidade material?

2.2 HIPÓTESES

Há aspectos próprios da Constituição que fogem ao fenômeno jurídico e isso


justifica a criação daquela categoria normativa como uma nova forma oriunda das
contradições do capitalismo. Dito isso, não é possível tergiversar o fato das
primeiras constituições tratarem predominantemente da organização do Estado,
enquanto estrutura de poder, estabelecendo bases administrativas, normas
concernentes à ordem institucional e à preservação dos grupos burgueses
nacionais.
Ainda nesse bojo, a Constituição é uma forma necessária do modelo
econômico capitalista que surge também com o intuito burguês de fortalecer (ou
fundar) e apartar o Estado da sociedade, colocando-o acima dela. Desse modo, é
de incontornável serventia evocar Engels (1820-1895) e sua proposição de que o
Estado emana do embaraço insolúvel da contradição interna que, sem a existência
de tal instituição, resultaria numa luta estéril e feroz entre as classes (1894).
Com fulcro nisso, é possível compreender o “acordo constitucional”
(Constituição) como a participação aparente do povo na elaboração do fenômeno
que fortalece sua própria exploração - mascarando a hegemonia dos interesses das
classes dominantes sob o pálio do consentimento popular - na medida em que tal
possui a força de ocultar a gênese conflituosa do Estado.
Depois, a Constituição inexoravelmente também existe como instrumento
ideológico efetivo de manutenção da estrutura de classes - sociedade vertical -,
permitindo, inclusive, a partir de ditames normativos, conservar grupos burgueses
nacionais, enquanto o Direito, apesar de corroborar com esse fim, tem origem na
prática burguesa de equalizar as relações de troca - sociedade horizontal -, o que,
por sua vez, garante o sujeitamento ideológico completo (amparado pela
artificialidade jurídica) do indivíduo que vende sua força de trabalho e,
concomitantemente, crê que o faz por livre e espontânea vontade
Em Suma, os documentos constitucionais, hodiernamente, são os principais
contribuidores do conceito de liberdade na sociedade burguesa. A imagética
conceitual amparada na liberdade formal - na equidade, por assim dizer -, contribui
consideravelmente à manutenção das mazelas sociais provenientes de uma brutal
desigualdade econômica (material).

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Compreender o fenômeno jurídico-constitucional a partir da ótica materialista


histórico dialética.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Levantar as diferenças conceituais entre Direito e Constituição, verificando se


tais diferenças fogem da análise lógico-linguística e encontram lastro na
realidade material histórica;

● Explorar, a partir do método proposto, o que se pode chamar de fenômeno


jurídico;

● Verificar, a partir do método proposto, se o fenômeno constitucional difere do


fenômeno jurídico.
4 JUSTIFICATIVA

O presente projeto emana da indignação do autor que o inscreve


concernente ao afastamento da realidade - em sua integralidade - que a formação
jurídica vigente promove a seus estudantes. Ao que parece, todos estão plenamente
convencidos pelas teorias idealistas, ancoradas na superada Teoria dos Fatores,
pregando que algum segmento da realidade - seja a moral, a ética, a cultura, ou até
a psique - é hegemônico ao passo de condicionar outros setores do ser social. A
limitada crença de que não só algum dos fatores supracitados pode responder pela
essência dos demais, mas também a ideia, o espírito humano pode fazê-lo, é ainda
pior, pois se entrega, em todo e de maneira anunciada, à tradição idealista. A cultura
jurídica aliena porque é alienada, cria mitos porque é um mito, e isso demanda
apontamentos candentes.
Durante todos os anos de academia, em todos os seus congressos,
palestras, aulas, simpósios, o autor deste proposto trabalho nunca ouviu proferir-se
o nome de algum teórico marxista, tampouco se deparou com alguma explicação
sobre a perspectiva marxista do Direito. Isso demonstra a essência ideológica do
Direito, como seu modus agendi implica na castração do raciocínio, criando uma
cultura de crença nos dogmas.
Dito isso, o projeto in casu tem fito na contribuição de uma perspectiva crítica
ao fenômeno jurídico-constitucional, encontrando inspiração em grandes teóricos
marxistas - com destaque em Pachukanis -, sem deixar de lado, claro, os
nevrálgicos textos do próprio Marx. Daí surge o fulcro necessário para o
prosseguimento deste projeto, entendendo que, apesar dos longos avanços
promovidos pelos teóricos marxistas que se propuseram a debater o Direito, há um
novo horizonte sob o conceito constitucional, que demanda um novo olhar.
A relevância do escrutínio de tal tema tem lastro na compreensão real do
fenômeno jurídico-constitucional através da perquirição teórica encontrada em
estudos no campo da filosofia da história, economia política, sociologia; com fito,
pois, numa perspectiva sintética da realidade. Assim, busca-se maior profundidade
no estudo proposto.
Ainda, é mister destacar que a presente proposta de pesquisa pretende
contribuir com a comunidade jurídica na figura dos seus cientistas e operadores do
Direito, fustigando a curiosidade e animando o senso crítico daqueles que estudam
o fenômeno jurídico. Mas não só, nossa intenção considera alcançar toda a
comunidade acadêmica que anseia pelo debate acerca da realidade social.
Ademais, além dessa, é de suma importância atingir a sociedade em geral,
mostrando que uma das funções da aparência é ocultar a essência, e que, portanto,
a criticidade é necessária.
Por fim, o que importa, ao final da futura pesquisa, é acender o debate acerca
das ideias marxistas aplicadas ao Direito, mostrar a pertinência do materialismo
histórico dialético para a compreensão dos fenômenos sociais e demonstrar a
importância monumental da perspectiva marxista.
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

5.1 BREVE ANÁLISE HISTÓRICA DAS CONCEPÇÕES DE DIREITO E


CONSTITUIÇÃO

5.1.1 Juspositivismo e não Juspositivismo

Ao longo da história surgiram várias perspectivas com fito no fenômeno


jurídico. A manifestação do direito nas sociedades humanas provoca complexos
debates concernentes à natureza do direito, sua origem, sua finalidade e a
articulação de sua existência com o conceito de justiça. No entanto, apesar das
incontáveis teses que concorrem à explicação do fenômeno jurídico, duas grandes
categorias estão bem consolidadas na academia: o juspositivismo e o não
juspositivismo.
O juspositivismo, resume o professor Alysson Mascaro (2017), inscreve na
norma e nas instituições correspondentes o fundamento do Direito. Ainda, o jurista
italiano Norberto Bobbio (2016) ensina que os juspositivistas enxergam a validade
da norma - id est, sua vigência ante o aparato estatal - como pressuposto da justiça.
Nesse sentido, só é justo o que é válido. Noutro prisma, o jusnaturalismo, cingindo
no espectro oposto, enxerga que só é dotado de validade aquilo que é justo,
encontrando, pois, o fundamento do direito no mais abstrato conceito de justiça.
Ainda, é interessante trazer à baila a síntese de John Finnis (1998) no que concerne
às correntes jusnaturalistas, em apontar que a todas elas é comum a pressuposição
de critérios normativos que antecedem a escolha humana.
É central destacar que as concepções de constituição também passam por
tais escolásticas. Todavia, não se é dispensável mencionar duas correntes
constitucionalistas: os materialistas e os formalistas (BONAVIDES, 2004). Claro,
uma análise atenta da tese formalista nos conduz ao seu caráter juspositivista, haja
vista que, para essa cultura, a Constituição de uma nação só se limita ao que resta
consignado na carta constitucional.
Contudo, para além dos horizontes supracitados, há uma terceira leitura
importantíssima do fenômeno jurídico: a crítica marxista. Essa busca alcançar, no
direito, as determinações sociais estruturais do capitalismo. (MASCARO, 2017).
5.1.2 Da Crítica Marxista

O marxismo se alastra com relativa velocidade logo após a difusão dos


escritos marxianos, ainda durante a vida do fundador do materialismo histórico
dialético: Karl Marx (1818-1883). Marx, invertendo a dialética hegeliana, passa a
enxergar não mais o mundo das ideias, ou o geist de um povo, como sendo o
fundamento da realidade social. No fulcro da filosofia marxista há o esclarecimento
de que as relações de produção e troca de mercadorias engendram a forma social
como nos é apresentada. As ditas relações materiais condicionam necessariamente
os demais setores da vida social, inclusive as ideias - na forma de ideologia.
Não há dúvidas da natureza do direito nos escritos marxianos; Marx
categoriza o corpo de normas jurídicas como sendo mais uma manifestação
ideológica. Com fito nisso, para melhor compreensão do conceito de ideologia na
literatura marxista, toma-se o seguinte fragmento:

A ideologia é, assim, uma consciência equivocada, falsa, da realidade.


Desde logo, porque os ideólogos acreditam que as ideias modelam a vida
material, concreta, dos homens, quando se dá o contrário: de maneira
mistificada, fantasmagórica, enviesada, as ideologias expressam situações
e interesses radicados nas relações materiais, de caráter econômico, que
os homens, agrupados em classes sociais, estabelecem entre si. Não são,
portanto, a ideia Absoluta, o Espírito, a Consciência Crítica, os conceitos de
Liberdade e Justiça, que movem e transformam as sociedades. Os fatores
dinâmicos das transformações sociais devem ser buscados no
desenvolvimento das forças produtivas e nas relações que os homens são
compelidos a estabelecer entre si ao empregar as forças produtivas por
eles acumuladas a fim de satisfazer suas necessidades materiais (MARX,
2019, p. 37).

Conquanto Marx seja o precursor da análise materialista dialética, o enfoque


no direito foi dado pelo marxista soviético Evgeni Pachukanis (1891-1937). O
jusfilósofo percebe algo até então inaudito: o direito se manifesta a partir da
integração de vários átomos (indivíduos) no sistema capitalista, a partir da forma
mercadoria - peça fundamental para a melhor compreensão marxista do direito, que
será desenvolvida mais à frente.
Entretanto, apesar dos inúmeros esforços no sentido de compreender o que
chamamos de direito, os marxistas nunca pareceram fustigar maiores preocupações
acerca do fenômeno constitucional. Na contramão das demais doutrinas
jusfilosóficas, o marxismo não produziu grandes críticas de arcabouço teórico
constitucional. Pari passu, não se há registro de grandes obras relacionadas a uma
análise atenta ao que se pode chamar de constituição. Na obra pachukaniana, por
exemplo, não há menção à constituição normativa. Pode-se concluir que tal lacuna
nada mais é do que um tácito reconhecimento, para o autor, de que direito e
constituição se confundem.
Percebendo tal vácuo, avançamos no sentido de perscrutar no fenômeno
constitucional, partindo da originalidade de Pachukanis, diferenciações conceituais
que o separem do direito, a partir da análise de dimensão, com observação dos
setores que o compõe a constituição. (TRIVIÑOS, 1987).

5.2 A FORMA MERCADORIA E O SUJEITO DE DIREITOS

Como mencionado outrora, Pachukanis alcança a perspectiva original de que


o direito existe a partir da figura do sujeito de direitos. Antes disso, nas sociedades
pré-capitalistas, não há características suficientes para diferenciar o direito de um
conjunto de normas sociais - isso já foi apontado, inclusive, por Bobbio em sua obra
“Teoria da Norma Jurídica”.
Na obra pachukaniana vemos a apropriação do conceito de forma mercadoria
- exaustivamente tratada por Marx n’O Capital. Não obstante, Pachukanis trata de
perceber a manifestação da forma mercadoria também nos sujeitos que estão
insertos no modelo econômico capitalista. Isto é, os sujeitos são mercadorias:
trocáveis, alienáveis, possuidores de valor. Acontece que, desse modo, a análise da
forma do sujeito deriva diretamente da análise de forma mercadoria.
(PACHUKANIS, 2017).
Ainda no principal escrito pachukaniano, o autor, com fito na comprovação de
o sujeito de direitos figura como lastro central na análise do direito, o jurista inscreve
afirmação no sentido de que o trabalhador assalariado surge no mercado como um
livre vendedor de sua força de trabalho, porque a relação capitalista de exploração é
mediada pela forma jurídica do contrato; enquanto o servo, nos sistemas
pré-capitalistas, está em situação de completa subordinação ao senhor, justamente
porque tal relação de exploração não exige uma formulação jurídica particular.
(PACHUKANIS, 2017).
Noutras palavras, de maneira rigorosa, afirma sobre a importância de superar
a análise do direito pela norma:
Conclui-se então que, para analisar as definições fundamentais do direito,
não seja preciso partir do conceito de lei e utilizá-lo como fio condutor já
que o próprio conceito de lei, enquanto decreto do poder político, pertence
a um estágio de desenvolvimento onde a divisão da sociedade em esferas
civil e política já está concluída e consolidada e onde, por conseguinte, já
estão realizados os momentos fundamentais da forma jurídica”
(PACHUKANIS, 1988, apud MASCARO, 2017, p.41).

Com base no que fora até aqui tratado, passa-se a uma análise mais atenta
às questões constitucionais, a fim de verificar a pertinência da perspectiva sobre
forma mercadoria fora do escopo do direito infraconstitucional.

5.3 CONSTITUIÇÃO E MARXISMO

Como suso, não houve grande contribuição do marxismo para com a


compreensão do fenômeno constitucional. Isso se deu ora pelo fato de alguns
teóricos, como o próprio Marx, compreenderem que tal questão é secundária, por se
tratar de uma categoria ideológica; ora porque alguns, como Pachukanis e Stutchka,
não acreditavam haver diferenças relevantes entre direito e constituição.
Porém, é importante destacar que as constituições emanam de um contexto
específico: a organização administrativa de povos que rompiam laços com a
monarquia. Nesse sentido, enxerga-se, in prima facie, o caráter político da
constituição.
Tal perspectiva destoa do conceito convencional - quase consenso entre os
juspositivistas e os jusnaturalistas - de que a constituição tem como objetivo
precípuo a guarda de direitos individuais frente à sociedade e ao aparato estatal. Tal
afirmação não está errada, apenas não se considera aprofundar o olhar analítico.
Como é de praxe, temos que analisar o contexto histórico da ascensão da
categoria constitucionalista, bem como as contradições sociais que engendraram tal
forma.
É cediço que o primeiro corpo normativo a ganhar status de constituição foi a
lei suprema dos Estados Unidos da América, em 1787. Na mesma esteira histórica,
em 1791, a França, após tortuosos anos de revolta, promulgou sua constituição.
Nesse bojo, é de se notar o caráter quase exclusivamente administrativo das
normas constitucionais. O texto consignado em ambas as cartas visa estabelecer
regras adstritas à organização do aparato burocrático do estado, ditando critérios de
admissão de cargos, ritos, prazos, instituições e o quantum do corpo administrativo.
6 METODOLOGIA

6.1 MÉTODOS CIENTÍFICOS

O método adotado na pesquisa será o dialético materialista. Isto, pois,


apenas a partir do conflito de conceitos, para gerar sua superação, é possível
compreender uma realidade fundamentalmente dialética. Para Marx a dialética se
apresenta como método de investigação, uma forma de analisar o objeto sob o
aspecto material a partir da abstração - ciência abstrata. Como ensina Triviños
(1987), uma pesquisa baseada no materialismo dialético deve levar em
consideração a delimitação do objeto, a análise da dimensão do objeto, a
formulação de conceitos, juízos, valores, concernentes àquele objeto e, por fim,
partir para uma análise concreta de seus aspectos centrais.

6.2 TIPOS DE PESQUISA

Quanto aos caminhos de apuração, elege-se aqui a análise bibliográfica e


documental. Quanto aos fins, a pesquisa certamente segue no sentido
exploratório-descritivo. Porquanto há elementos pouco explorados previamente, que
necessitam de maiores considerações. Contudo, a descrição emana como fato
indispensável, como dito outrora por Triviños (1987).

6.3 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE PESQUISA

A pesquisa segue no sentido de articular dois conceitos com pouca interação


no campo da teoria: direito e marxismo. Para lograr tal objetivo, a investigação feita
a partir da literatura marxista é fundamental, haja vista a clara compreensão do
método utilizado. Com isso, as mais importantes obras de Karl Marx são
indispensáveis: O Capital, Ideologia Alemã, Manuscritos Econômico-Filosóficos,
entre outros. Não só, conhecendo em Pachukanis a mais alta compreensão
marxista acerca do fenômeno jurídico, tem-se constante em toda a pesquisa
citações à Teoria Geral do Direito e Marxismo. Além disso, utilizar-se-á documentos
normativos históricos, bem como obras centrais para a cultura jurídica consolidada,
a exemplo de Teoria do Direito, de Bobbio, e Teoria Pura do Direito, de Kelsen.
7 CRONOGRAMA

O trabalho tem previsão de início a partir de julho de 2023, com final para
dezembro do mesmo ano, totalizando seis meses, divididos em seis etapas
conforme cronograma infraposto:

Etapas/Meses Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

Pesquisa x x x x
Bibliográfica

Leitura x x x x x

Pesquisa x x x x
Documental

Coleta de Dados x x x x

Análise e x x x x
interpretação dos
dados coletados

Revisão x
final/Apresentaçã
o escrita e oral
do trabalho
REFERÊNCIAS

BOBBIO, Norberto. Teoria da norma jurídica. 6. ed., São Paulo: Edipro, 2016.

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 34. ed., São Paulo:


Malheiros Editores, 2004.

ENGELS, Friederich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado.


São Paulo: Boitempo, 2019

FINNIS, John. Aquinas: moral, political and legal theory. Oxford: Oxford University
Press, 1998.

MARX, Karl. O Capital - Livro I – crítica da economia política: O processo de


produção do capital. 14. ed., São Paulo: Boitempo, 2013.

__________. A ideologia alemã. 2. ed., Rio de Janeiro: Vozes de Bolso, 2021.

MASCARO, Alysson. Estado e forma política. 2. ed., São Paulo: Boitempo, 2017.

PACHUKANIS, Evgeni. Teoria geral do direito e marxismo. São Paulo: Boitempo,


2016.

PLEKHANOV, Guiorgui Valentinovitch. O papel do indivíduo na história. 2. ed.,


São Paulo: Expressão Popular, 2011.

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a


pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas,1987.

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