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Tendencialmente, nas sociedades marcadas por altos níveis de desigualdade comuns nas democracias
do chamado mundo em desenvolvimento as políticas públicas direcionadas a populações de
comunidades carentes não servem a outro propósito senão tirar proveito da alta vulnerabilidade, para
cooptar das pessoas o apoio eleitoral.
exercem nas decisões políticas se exerce de maneira amorfa e não é
percebida, a não ser a partir de pesquisas e análises orientadas por
metodologia científica e a partir de uma perspectiva que se desprenda
daquele quadro formal de poder e se proponha a perscrutar a realidade que
se desenvolve “nos bastidores”, ao ponto de se demonstrar que a interação
dessas forças sociais ocultas que ocorre nos bastidores é que forja ou
produz (e controla, fundamentalmente!) o quadro de poder formal que a
ciência do Direito nos revela.
Ao revelar essa realidade das relações de poder, distinta
daquelas outras relações formais que são expostas na fachada do edifício, é
como se a Sociologia mostrasse o que está por trás, encoberto por essa
fachada.
b) Não respeitabilidade: para formar uma consciência
peculiar sobre aspectos da vida em sociedade, necessário que a Sociologia
se desprenda do compromisso, que têm outras ciências e o próprio senso
comum, de se orientar exclusivamente pelo conjunto de significados
próprios da sociedade tradicional.
É necessário que a Sociologia se disponha a perspectivar as
questões sociais a partir da referência de outros conjuntos de significados,
próprios de setores marginais da sociedade. Por exemplo, não se faz análise
sociológica da questão do tráfico de entorpecentes e da criminalidade
violenta decorrente se a perspectiva pela qual se filtra a análise do
problema é aquela do senso comum ou mesmo do Direito, para o qual o
comércio e o consumo dessas substâncias são condutas fortemente
reprováveis, próprias de pessoas de mau caráter, incapazes de viver em
sociedade.
É preciso que a análise do problema se proponha a encará-lo a
partir de outras perspectivas e, para tanto, o sociólogo haverá de se
entrevistar também com os próprios traficantes, com usuários, com
moradores das comunidades afetadas, com policiais civis e militares
envolvidos na “guerra ao tráfico”, enfim, como se costuma dizer com
propriedade, olhar o crime não só na perspectiva da sociedade tradicional,
mas também em outras perspectivas, especialmente a do criminoso. Se para
a sociedade tradicional a ação dos traficantes e o consumo são o problema,
para quem está nas favelas, envolvido de alguma maneira com o
“movimento”, como chamam os grupos do tráfico, o problema é a presença
da polícia, que acirra a violência local, que cria ou aumenta o risco de
lesão ou morte de traficantes e outros moradores, que impede ou dificulta o
exercício da mercancia dos entorpecentes, uma atividade econômica que,
queiramos ou não admitir, é relevante para aquela comunidade carente.
Também nesse ponto é muito elucidativa a assistência do
documentário Notícias de uma guerra particular, em que se observa com
clareza que os produtores fizeram uso intenso desse instrumento da não
respeitabilidade.