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Direito

Direito
Constitucional
Administrativo
Apresentação
Olá, caro (a) estudante!

O período de dedicação e preparação para uma prova de concurso público é uma


jornada árdua e trabalhosa. Pensando nisso, elaboramos esta Apostila com toda dedicação e
atenção que você merece.

O conteúdo dela foi criado com todo o rigor necessário para sua utilização como
material de apoio ao estudo para todas as pessoas que almejam prestar concursos e/ou
realizar o exame da ordem. Os conteúdos citam fontes confiáveis, atualizadas e completas
sobre os mais variados temas em Direito e foram elaborados por profissionais com experiência
em ensino e prática jurídica.

O material está organizado hierarquicamente (em modo decrescente de hierarquia:


Temas, Tópicos e Sub-tópicos). Essa estrutura permite a exploração organizada dos
conteúdos da disciplina e agrupam os objetos do conhecimento que se relacionam, conferindo
uma leitura mais fluida e orgânica. Mapas mentais, que são um método de memorização e
organização do conhecimento adquirido, foram desenvolvidos ao final de cada Tema com o
objetivo de facilitar o aprendizado dos conteúdos estudados.

O Direito Constitucional é fundamental para a implementação do Estado Democrático


de Direito. Inicialmente, visava-se a proteção dos direitos individuais, que restringiam o poder
do Estado para garantir uma vida digna aos indivíduos. Posteriormente, houve o advento dos
direitos sociais, que passaram a demandar uma atuação positiva por parte do Poder Público,
além de estabelecerem diretrizes e programas que deveriam ser implementados para que
sejam efetivados os direitos da população.

Assim, esse ramo do Direito funciona como um garantidor dos direitos fundamentais
em detrimento do poder absoluto do Estado. Ainda, é um instrumento que permite que haja a
harmonia entre os Poderes, evitando abusos praticados pelo Executivo, pelo Legislativo e pelo
Judiciário, de modo a garantir o bom funcionamento da democracia e da federação.

A presente apostila estudará a divisão interna da Magna Carta, seu preâmbulo, seu
corpo, bem como os Atos de Disposições Constitucionais Transitórios (ADCT). Haverá um
aprofundamento de todos os temas relacionados ao Direito Constitucional, desde o seu
advento até a regulação das relações contemporâneas, estudando a forma de recepção e de
revogação de normas no ordenamento jurídico.

Ainda, será apresentada a Teoria da Constituição e a evolução dos direitos individuais,


sociais, políticos e de nacionalidade. Será explicada a atuação de cada um dos Entes
Federados e de cada um dos Poderes que compõe a República Federativa Brasileira. Além
disso, eram estudados as ações e os tipos de controle de constitucionalidade, os remédios
constitucionais, e outros instrumentos que visam limitar a atuação estatal em prol da garantia
dos direitos da população.

Diante do exposto, percebe-se a importância do Direito Constitucional para a efetivação


da federação e do Estado Social Democrático de Direito. Para que o estudo possa ocorrer de
maneira mais eficaz, recomendamos que o aluno faça uma leitura atenta das normas previstas
no texto constitucional, de modo a complementar todo o estudo que será feito pela presente
apostila. Agindo dessa maneira, acredita-se que todo o aprendizado irá se sedimentar de uma
forma mais duradoura e completa.

Desejamos bons estudos e uma excelente prova!

Atenciosamente,

Equipe pedagógica LFG


Sumário

1.Teoria da Constituição ....................................................................................................... 6

2. Preâmbulo da Constituição............................................................................................. 24

3. Princípios Fundamentais da República ......................................................................... 27

4. Teoria dos Direitos Fundamentais ................................................................................. 30

5. Direitos Individuais .......................................................................................................... 35

6. Direitos Individuais – Remédios Constitucionais e Garantias Processuais ............. 40

7. Direitos Sociais ................................................................................................................ 50

8. Direito de Nacionalidade ................................................................................................. 56

9. Direitos Políticos.............................................................................................................. 62

10. Partido Político............................................................................................................... 69

11. Organização Político Administrativa do Estado .......................................................... 76

12. Administração Pública – Disposições Gerais e Servidores Públicos ....................... 88

13.Organização dos Poderes .............................................................................................. 96

14. Poder Legislativo ......................................................................................................... 100

15. Processo Legislativo ................................................................................................... 110

16. Poder Executivo ........................................................................................................... 128

17. Poder Judiciário ........................................................................................................... 136

18. Organização do Poder Judiciário ............................................................................... 143

19. Funções Essenciais à Justiça ..................................................................................... 151

20. Controle de Constitucionalidade ................................................................................ 155

21. Defesa do Estado e das instituições democráticas .................................................. 169

22. Da ordem econômica e financeira .............................................................................. 175


23. Ordem Social ................................................................................................................ 181

24. Disposições Constitucionais Gerais .......................................................................... 195

25. ADCT ............................................................................................................................. 198


1.Teoria da Constituição
A Teoria da Constituição tem por objeto o estudo do sentido, da história, das classificações
e do alcance da Constituição. É importante lembrar que o conceito de Constituição não é único
na doutrina. Ao longo da história constitucional, o constitucionalismo se transformou e,
consequentemente, surgiram várias concepções de Constituição.

1.1 Constitucionalismo

Pedro Lenza, citando Canotilho, afirma que o Constitucionalismo é uma técnica de


limitação de poder com fins garantísticos (CANOTILHO, apud LENZA, 2019). Busca-se,
assim, um governo limitado que garanta o respeito aos direitos dos indivíduos que compõe
uma determinada sociedade.

No século XX, surge o chamado Neoconstitucionalismo, que, além de visar à


limitação do poder dos governantes, tem por objetivo garantir a eficácia da Constituição, de
modo a concretizar, efetivamente, os direitos fundamentais dos indivíduos. Seria, portanto,
uma ferramenta para viabilizar o Estado Democrático Social do Direito.

O Neoconstitucionalismo tem marcos que foram importantes para o seu surgimento.


O marco histórico foi a reconstrução da Europa no período pós-Segunda Guerra Mundial,
situação em que os países se viram fragilizados pelas destruições provocada pelos conflitos
e, por isso, sentiram a necessidade de uma Constituição mais efetiva e que garantisse os
direitos dos indivíduos. No Brasil, a doutrina aponta como marco histórico a promulgação da
Constituição de 1988. O marco filosófico foi o pós-positivismo, que reaproximou o Direito e a
Ética, tornando o sistema jurídico uma ordem valorativa e não meramente positivista. Por fim,
os marcos teóricos foram: a) a expansão da jurisdição constitucional com o papel de maior
destaque para os magistrados, que passaram a priorizar a força normativa da Constituição
como maneira de se efetivar os direitos e garantias fundamentais; b) um conjunto de
mudanças de paradigmas que incluem a força normativa da Constituição; c) e a transformação
da dogmática da interpretação constitucional com o reconhecimento da normatividade dos
princípios constitucionais (LENZA, 2019).
Mapa mental

Neoconstitucinalismo
Marco Histórico Marco Filosófico Marco Teórico

Pós Jurisdição
2ª Guerra Positivismo
Mundial Constitucional

Força normativa
da Constituição

Nova
interpretação
constitucional
1.2 Concepções da Constituição

Existem três principais concepções do termo “Constituição”. Assim, os sentidos a serem


considerados são: sociológico, político e jurídico.

O sentido sociológico foi trabalhado por Ferdinand Lassale. Para o teórico, a


Constituição seria a soma dos fatores reais e sociais presentes em uma determinada
sociedade. Existiriam duas Constituições, uma chamada Jurídica ou Escrita, que seria
aquela formalmente constitucional, mas que não seria eficaz, e outra chamada Real ou
Efetiva, que retrataria efetivamente a sociedade e prevaleceria sobre a primeira.

Já o sentido político foi proposto por Carl Schmitt, que considerava a Constituição como
sendo a retratação da decisão política fundamental do povo, que, através da sua vontade
e do seu poder de decisão, contribuiria para a efetivação da Magna Carta. A referida teoria
também é conhecida como voluntarista, já que a vontade do povo seria fundamental na
construção do ordenamento jurídico. Ainda, Schmitt considerava que a Constituição era
diferente da chamada Lei Constitucional. A primeira retrataria as decisões materialmente
mais importantes para a sociedade, de modo a ser realmente efetiva. A segunda, por sua vez,
somente retrataria as decisões menos importantes, sendo apenas formalmente
constitucional.

Por fim, o sentido jurídico foi proposto pelo teórico Hans Kelsen, que considerava que a
Constituição deveria ser pura, ou seja, sem nenhuma influência social, política ou filosófica.
De acordo com sua teoria, haveria a chamada norma hipotética fundamental, que validaria
todas as normas do ordenamento jurídico. Assim, haveria uma espécie de “pirâmide”
normativa, em que a validade de uma norma ocorreria com base na norma imediatamente
superior, sendo que no topo da pirâmide estaria essa norma hipotética fundamental e abaixo
estariam as demais espécies normativas, que seguiriam uma ordem: normas primárias, que
retiram seu fundamento de validade diretamente da Constituição (leis, medidas
provisórias, decretos autônomos e legislativos) e, posteriormente, normas secundárias
(decretos regulamentares, portarias, etc.).

Ainda, Kelsen considerava que o plano jurídico constitucional se dividiria em dois. O


primeiro seria o positivo, que retrataria as normas positivadas na Constituição, e o segundo
seria o lógico, que retrataria a norma hipotética fundamental.
Mapa mental
Sentidos da
Constituição

Sociológico Político Jurídico

Lassale Schmitt Kelsen

Fatores reais da Decisão Política Pura e sem influências


sociedade Fundamental do povo externas

Constituição efetiva Constituição é Positivo: Normas


prevalece sobre a diferente de Lei Positivadas
Jurídica Constitucional

Lógico: Norma
Voluntarista
Hipotética
Fundamental
1.3 Classificações da Constituição

O conceito de Constituição varia de acordo com classificação que é adotada. Existem


várias tipologias diferentes que analisam as características da Constituição, sendo que elas
levam em consideração os seguintes elementos: a origem, o modo de elaboração, a
finalidade, a realidade, o conteúdo, a forma, a extensão, a estabilidade, o conteúdo ideológico
e a ideologia. Antes de entrar nesses conceitos, cumpra destacar que o Brasil já teve sete
Constituições diferentes, sendo elas as dos anos de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e
1988.

1. Quanto à origem, a Constituição pode ser classificada como: outorgada ou


autocrática, que é a produzida de maneira autoritária, sem levar em consideração
a vontade do povo; promulgada ou democrática, que é aquela elaborada pela
Assembleia Constituinte eleita democraticamente pelo povo; cesarista, que
contém características das duas últimas concepções, uma vez que é elaborada
de maneira autoritária, sem considerar inicialmente a vontade do povo
(características da constituição outorgada), mas, posteriormente, é submetida ao
referendo popular, de modo que o povo a valida (características da constituição
promulgada). A Constituição Federal Brasileira de 1988 é considerada
promulgada.

2. Quanto ao modo de elaboração, a Constituição pode ser definida como histórica,


que é elaborada de maneira lenta ao longo dos anos, ou dogmática, que é feita
de acordo com os valores presentes na sociedade no momento em que foi
elaborada. A atual Constituição brasileira é classificada como dogmática.

3. Quanto à finalidade, a Constituição pode ser considerada garantia, relacionando-


se com os direitos de primeira geração (ou dimensão) que, em regra, demandam
certa abstenção por parte do Poder Público para que sejam efetivados, tais como
os direitos civis e políticos; dirigente ou diretiva ou programática ou
compromissória, oportunidade em que são estabelecidas diretrizes e metas que
deverão ser cumpridas pelo Estado, de modo que se relacionam com os direitos
de segunda geração, necessitando, portanto, de uma atuação positiva por parte
do Poder Público para que tais direitos sejam efetivos, como ocorre com os
direitos sociais, econômicos e culturais. A Constituição Federal Brasileira de 1988
é considerada dirigente.

4. Quanto à realidade, pode ser normativa, oportunidade em que a Constituição


consegue, de fato, alcançar a realidade e ser minimamente efetiva; nominativa,
ocasião em que, apesar de tentar, a Constituição não consegue regular
efetivamente as relações sociais; semântica, que ocorre quando a Constituição
tem sua função desvirtuada e visa somente manter a atual estrutura no poder. No
Brasil, apesar da divergência doutrinária, adota-se a classificação normativa.

5. Quanto ao conteúdo, pode ser formal, que somente considera como sendo
constitucional a norma que esteja presente formalmente dentro do texto da
Constituição; material, que considera constitucional a norma que tenha o
conteúdo materialmente constitucional, não importando que esteja fora da
Constituição. A Constituição Federal Brasileira de 1988 é considerada formal.

6. Quanto à extensão, pode ser considerada analítica, que é aquela em que há um


excesso de conteúdo dentro da Constituição, que acaba tratando de muitos
assuntos e por isso pode se tornar prolixa; sintética, que é aquela em que há
uma seleção específica de temas, de maneira que somente serão selecionados
para integrarem a Constituição aqueles que sejam materialmente mais
importantes. No Brasil, adota-se a classificação analítica.

7. Quanto à forma, pode ser escrita, oportunidade em que todos os temas


constitucionais estarão escritos dentro do texto normativo; não escrita, que
apresenta conteúdos constitucionais que podem não estar escritos dentro do texto
constitucional. No Brasil, adota-se a classificação escrita.

8. Quanto à estabilidade, pode ser imutável, que é aquela que não pode sofrer
nenhum tipo de alteração; rígida, que é aquela que pode sofrer alteração, desde
que seja através de um procedimento mais complexo do que aquele que altera as
leis ordinárias e desde que sejam respeitas as cláusulas pétreas, que são temas
que não podem ser alterados por nenhuma emenda constitucional (art. 60 § 4 º
CR/88); semirrígida, quando parte dela pode ser alterada pelo procedimento
simples de alteração de leis ordinárias e a outra parte somente pode ser alterada
pelo processo mais complexo de emendas constitucionais (art. 60 § 2 º CR/88);
flexível, a Constituição pode ser alterada da mesma maneira que uma lei
ordinária. No Brasil, adota-se a classificação rígida.

9. Quanto ao conteúdo ideológico, a constituição pode ser classificada como


liberal, que se relaciona com os direitos “negativos” de primeira geração, que
demandam uma certa abstenção por parte do Poder Público para que sejam
efetivados; social, que se relaciona com os direitos “positivos” de segunda
geração, que demandam uma atuação efetiva do Estado para que sejam
concretizados. A Constituição Federal Brasileira de 1988 é considerada social.

10. Quanto à ideologia, a Constituição pode ser considerada ortodoxa, que abriga
somente uma ideologia; heterodoxa ou eclética, que abriga mais de uma
ideologia. A atual Constituição brasileira é classificada como heterodoxa. A
constituição de 1988 é eclética.

1.4 Hermenêutica Constitucional

A hermenêutica constitucional é o processo de interpretação da Constituição, de modo


a buscar o seu real significado (LENZA, 2019). Ao ser decifrado o verdadeiro alcance da
norma constitucional, será conhecida, por consequência, a abrangência de uma norma
infraconstitucional.

No momento em que for realizar a mencionada interpretação, o hermeneuta leva em


consideração aspectos históricos, ideológicos, sociais, econômicos e políticos presentes na
sociedade. Para sistematizar seu trabalho, o intérprete pode valer-se de algumas técnicas,
tais como a utilização dos princípios e dos métodos hermenêuticos.

Os Princípios são divididos em:

1. Unidade: Considera a Constituição como sendo una, de modo que não haverá
contradição entre seus artigos;
2. Efeito Integrador: a interpretação deve buscar a unidade política e a promoção
da integração social. Dica: quando aparecer o termo “unidade política”, considerar
sua relação com o princípio do efeito integrador e não com o princípio da unidade;
3. Máxima Efetividade ou Eficácia: a interpretação da constituição deve ser efetiva
e buscar a opção que dê maior concretude aos direitos fundamentais, que são
responsáveis pela garantia de uma vida digna aos indivíduos;
4. Força Normativa da Constituição: a interpretação constitucional deve levar em
consideração a realidade social e os fatores históricos a fim de dar maior eficácia
e aplicabilidade a norma constitucional.
5. Proporcionalidade: interpreta a Constituição da maneira mais proporcional
possível. Se divide em adequação (relacionando-se com a escolha dos meios
mais eficazes), necessidade (relacionando-se com a escolha menos gravosa) e
proporcionalidade em sentido estrito (que analisa o melhor custo benefício);
6. Justeza ou Conformidade (exatidão ou correção) funcional: visa impedir uma
interpretação que subverta o esquema de funções constitucionalmente
estabelecidas pelo poder constituinte originário;
7. Concordância Prática ou Harmonização: relaciona-se com um conflito
aparente de normas, que deverá ser harmonizado em cada situação. Não há
sacrifício total de nenhum direito, havendo somente uma redução de aplicação
no caso concreto, sem que isso signifique supressão da norma constitucional;
8. Interpretação Conforme a Constituição: se aplica no caso de normas
plurissignificativas, ou seja, que têm mais de um sentido. Nesse caso, o
interprete deverá priorizar o sentido que torna a aplicação da Constituição o mais
eficaz possível, afastando interpretações que violem o ordenamento jurídico.

Já os Métodos são divididos em:

1. Tópico-Problemático: Prioriza o problema sobre a norma, considera uma


interpretação mais aberta e com a participação de vários interpretes. Foi
idealizado por Theodor Viehweg. Dica: para lembrar que Theodor criou o método
Tópico Problemático, basta lembrar que ambos começam com a letra “T”;
2. Hermenêutico-Concretizador: Prioriza a norma sobre o problema. O interprete
parte de uma pré-compreensão da norma quando vai interpretá-la. Seu criador
foi Konrad Hesse. Dica: para lembrar que Hesse criou o método Hermenêutico
Concretizador, basta lembrar que ambos começam com a letra “H”;
3. Normativo-Estruturante: Considera que a interpretação da norma deve levar em
conta não somente o que está escrito no texto, mas também deve observar a
realidade que circunda o intérprete. Foi idealizado por Friedrich Muller;
4. Científico-Espiritual: A interpretação é axiológica, uma vez que leva em
consideração os valores presentes na sociedade e por isso se torna mais elástica
e flexível. Seu criador foi Rudolf Smend;
5. Jurídico: É o método de hermenêutica clássico pensado por Savigny, que
considerava a Constituição como uma espécie de lei e, portanto, ao interpretá-
la, usaria os mesmos métodos clássicos usados para se interpretar uma lei.

1.5 Poder Constituinte

No que se refere ao Poder Constituinte, Pedro Lenza, ao parafrasear Canotilho, afirma


que: “O poder constituinte se revela sempre como uma questão de “poder”, de “força” ou de
“autoridade” política que está em condições de, numa determinada situação concreta, criar,
garantir ou eliminar uma Constituição. ” (CANOTILHO apud LENZA, 2019). Conforme
entendimento doutrinário e jurisprudencial majoritários, a titularidade do poder constituinte
é do povo, já que o artigo 1º da CR/88 afirma que todo poder emana do povo. Entretanto,
cumpre destacar que o teórico Sieyes afirmava que a referida titularidade seria da nação.

O Poder Constituinte originário ou genuíno ou de primeiro grau é aquele que instaura


uma nova ordem jurídica e rompe por completo a anterior. Ele pode ser histórico, que ocorre
quando é estruturado pela primeira vez em uma sociedade, ou revolucionário, que é todo
aquele que vem após o histórico e caracteriza uma quebra com a normatividade anterior e a
consequente criação de uma nova ordem jurídica.

Como características do Poder Constituinte Originário, pode-se citar:

1. Incondicionado: não deve obediência à normatividade anterior;


2. Poder de fato e político: tem uma natureza pré-jurídica, pois inicia uma nova
ordem jurídica que até então era inexistente;
3. Ilimitado juridicamente: não precisa se limitar ao conteúdo do direito anterior.
4. Autônomo: a estruturação da nova ordem jurídica será feita de maneira
autônoma, independentemente de qualquer disposição anterior;
5. Inicial: já que instaura uma nova ordem jurídica;
6. Permanente: não se encerra com a promulgação da constituição, podendo se
adequar às eventuais mudanças sociais.

O Poder Constituinte Derivado, também conhecido por Secundário ou


Remanescente ou Constituído ou Instituído ou de Segundo Grau (LENZA, 2019), tem
essa nomenclatura porque é criado e instituído pelo poder originário. Ele pode ser: a)
decorrente: manifestado através da prerrogativa de os Estados criarem suas próprias
Constituições Estaduais. O referido poder decorre da autonomia estatal, manifestada pela
capacidade de ter uma organização, um governo e uma administração próprios (arts. 18 a
25 da CR/88); b) reformador: manifesta-se através da emenda constitucional (arts. 59, I
e 60 CR/88); c) Revisor: após a promulgação da Constituição de 1988, foi necessário
aguardar o período mínimo de cinco anos para que aquela sofresse qualquer tipo de
alteração (art. 3º do ADCT).

Como características do Poder Constituinte Derivado, pode-se citar:

1. Condicionado: deve obediência ao Poder Constituinte Originário e se


condiciona às formas pré-estabelecidas por este poder;
2. Poder de direito: tendo, portanto, uma natureza jurídica;
3. Dependente: já que precisa se ater aos conteúdos propostos pelo Poder
Originário;
4. Limitado: ele está condicionado aos limites explícitos e implícitos impostos pelo
poder constituinte originário.

Mapa mental
1.6 A nova Constituição e a ordem jurídica anterior

1.6.1 Recepção, Revogação, Desconstitucionalização e


Inconstitucionalidade Superveniente

Quando surge uma nova Constituição, é necessário que o aplicador do direito observe as
normas que existiam até então para saber se elas continuarão a vigorar. A situação irá variar
de acordo com a natureza dessas normas que existiam antes do advento da nova constituição,
ou seja, se elas eram constitucionais ou infraconstitucionais.

a) Normas da Constituição anterior: estas serão totalmente revogadas, não havendo


que se falar na recepção ou na análise da compatibilidade destas com as disposições
da nova Constituição. Assim, as normas constitucionais que vigoravam até então serão
retiradas inteiramente do ordenamento jurídico. Isso ocorre, pois não é aceito o
fenômeno da desconstitucionalização, que é a recepção de dispositivos da
Constituição anterior, que permanecem em vigor com o surgimento da nova ordem
constitucional.

b) Normas Infraconstitucionais do sistema jurídico anterior: neste caso, aplica-se


os fenômenos da revogação ou da recepção. Caso as normas infraconstitucionais
anteriores à edição da nova Constituição sejam compatíveis materialmente com esta,
serão recepcionadas. Por outro lado, caso aquelas normas não sejam compatíveis com o
novo texto constitucional, serão revogadas. O STF não aceita o fenômeno da
inconstitucionalidade superveniente, que ocorre quando uma norma anteriormente
constitucional se transforma em inconstitucional em razão do surgimento de uma nova
Constituição.

Ainda, importante destacar que essa análise de compatibilidade com a nova Constituição
é feita de acordo com o conteúdo material das normas, não importando o seu conteúdo formal.
Desse modo, a norma infraconstitucional anterior à nova Constituição poderá ser
recepcionada se for materialmente compatível com esta, ainda que esteja formalmente
equivocada. Por fim, não há que se falar no fenômeno de recepção durante o período de
vacatio legis, uma vez que, neste caso, a norma ainda não está em vigor.
Mapa mental

1.6.2 Repristinação e Efeito Repristinatório

A chamada repristinação é um fenômeno legislativo em que uma norma revogada


volta ao ordenamento jurídico em razão da revogação da norma que a havia revogado.
Por exemplo, se uma lei A é revogada por uma lei B e, posteriormente, esta lei B é revogada
por uma lei C, a lei A voltará ao ordenamento jurídico em razão da repristinação. Todavia,
esse fenômeno não é automático e somente ocorre caso esteja expresso, conforme
preceitua o artigo 2º, § 3º, da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei
4.657/42).

Já o efeito repristinatório advém do controle de constitucionalidade e, segundo Olavo


Augusto Vianna Alves, seria a reentrada em vigor de uma norma que havia sido “revogada”
por uma outra norma que posteriormente foi declarada inconstitucional (VIANNA ALVES,
2019). Por exemplo, a lei A foi revogada pela lei B e, posteriormente, a lei B é declarada
inconstitucional pela lei C. Nesse caso, a lei A voltará a entrar em vigor em razão do efeito
repristinatório, sendo esse efeito automático, diferentemente da repristinação.

1.6.3 Repristinação e Efeito Repristinatório

A chamada repristinação é um fenômeno legislativo em que uma norma revogada


volta ao ordenamento jurídico em razão da revogação da norma que a havia revogado.
Por exemplo, se uma lei A é revogada por uma lei B e, posteriormente, esta lei B é revogada
por uma lei C, a lei A voltará ao ordenamento jurídico em razão da repristinação. Todavia,
esse fenômeno não é automático e somente ocorre caso esteja expresso, conforme
preceitua o artigo 2º, § 3º, da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei
4.657/42).
Já o efeito repristinatório advém do controle de constitucionalidade e, segundo
Olavo Augusto Vianna Alves, seria a reentrada em vigor de uma norma que havia sido
“revogada” por uma outra norma que posteriormente foi declarada inconstitucional
(VIANNA ALVES, 2019). Por exemplo, a lei A foi revogada pela lei B e, posteriormente, a lei
B é declarada inconstitucional pela lei C. Nesse caso, a lei A voltará a entrar em vigor em
razão do efeito repristinatório, sendo esse efeito automático, diferentemente da
repristinação.

1.7 Eficácia das normas constitucionais

Uma das classificações mais reconhecidas no ordenamento jurídico é a que diz que as
normas constitucionais terão eficácia plena, contida ou limitada.

1.7.1 – Eficácia Plena:


a) Autoaplicável: Não precisa de regulamentação para que possa produzir efeito,
uma vez que este ocorre imediatamente após a norma integrar o ordenamento
jurídico. Apesar de não precisar, esse tipo de norma pode receber algum tipo de
complementação, mas não é obrigatório.
b) Não restringível: outra norma não tem o condão de limitá-la.
c) Aplicabilidade: direta, uma vez que não necessita de nenhuma outra norma para
que possa produzir efeitos; integral, uma vez que não sofre restrições de outras
normas.
d) Efeito imediato: já que a norma produz efeitos assim que for promulgada;

1.7.2 – Eficácia Contida ou Prospectiva:

a) Produção de todos os efeitos logo após sua promulgação;


b) Possibilidade de ser restringida: mas essa restrição não é obrigatória e sim
discricionária, não interferindo na plena produção de efeitos logo após a publicação da
norma;
c) Autoaplicável: produz efeitos logo após a sua promulgação e independentemente de
qualquer tipo de regulamentação;
d) Aplicabilidade direta: já que não depende de norma reguladora;
e) Efeito imediato: uma vez que produz efeitos logo após sua promulgação;
1.7.3 - Eficácia Limitada ou Programática:

a) Produção de efeitos é limitada: depende de regulamentação;


b) Aplicabilidade indireta: já que depende de lei para que possa produzir efeitos;
c) Efeito mediato e limitado: uma vez que a promulgação da lei não é suficiente para que
ela possa ser plenamente eficaz, dependendo de complementação para que gere
efeitos;
d) Programática: estabelece diretrizes e objetivos a serem atingidos pelo Poder
Público e, para tanto, dependem de regulamentação;
e) Apesar de depender de regulamentação para que possam produzir efeitos, há certos
efeitos mínimos que ocorrem nas normas de eficácia limitada, quais sejam: efeito
negativo, uma vez que há revogação de atos normativos anteriores em sentido
contrário, além da proibição de haver lei posterior que seja contrária à norma em
questão; efeito vinculativo, uma vez que obriga o legislador a produzir um ato
normativo regulamentador para que as normas programáticas possam ser
concretizadas; são parâmetros para o controle de constitucionalidade, apesar de
ainda não produzirem todos os efeitos.
Mapa Mental
1.8 Regras e Princípios

Segundo Robert Alexy, a norma jurídica se divide em regras e princípios, sendo


importante conhecer a diferença entre eles.

As regras possuem aplicação direta, já que se realizam no caso concreto na maior


medida possível. Além disso, são consideradas mandamentos de definição, aplicando-se
aquilo que é conhecido como “tudo ou nada”, de modo que ou a regra é aplicada
inteiramente ou não é aplicada. Ainda, em caso de conflito, uma norma será inteiramente
aplicada e a outra será totalmente afastada ou declarada inválida, de acordo com os
critérios da especialidade, da hierarquia ou da cronologia. Por fim, possuem reduzido grau
de abstração, sendo mais diretas e não comportando muita discussão acerca do seu sentido
ou da sua aplicabilidade.
Os princípios, por outro lado, têm uma aplicação que carece de mediação
concretizadora, já que, para serem aplicados, precisam da atuação do legislador ou do
magistrado, diferentemente das regras, que têm aplicação direta. Ainda, são mandamentos
de otimização, de modo que serão satisfeitos em diferentes graus, que irão variar de
acordo com as possibilidades do caso concreto, diferentemente das regras, que são
consideradas mandamentos de definição. Em caso de conflito, aplica-se a técnica da
ponderação, em que se aplicam ambos os princípios, sendo que um deles será aplicado em
maior grau, mas, diferentemente das regras, não há a invalidação de nenhum dos
princípios que estejam em aparente conflito. Por fim, possuem elevado grau de abstração,
mostrando-se mais flexíveis e maleáveis para se adequarem aos casos concretos.

Mapa Mental

• Mandamento de
Regra definição

• Mandamento de
Princípio otimização
Referências bibliográficas

FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Controle de Constitucionalidade e seus efeitos.


Salvador. Editora Juspodvim, 2018.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo.
Saraiva Educação,2019. RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª
edição. São Paulo. Saraiva Educação, 2019.
2. Preâmbulo da Constituição
Inicialmente, é válido destacar como é feita a divisão da Constituição da República do
Brasil de 1988. Esta contém um preâmbulo e nove títulos, além do Ato de Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT).
Quanto ao preâmbulo, Pedro Lenza, citando Jorge Miranda, afirma que existem três
principais correntes que discorrem acerca da natureza jurídica do preâmbulo (MIRANDA,
apud LENZA, 2019), quais sejam: tese da irrelevância jurídica, que afirma que aquele não
passa de questão política, sendo indiferente para o Direito; tese da plena eficácia, que
afirma que o preâmbulo tem a mesma eficácia que qualquer norma constitucional; tese da
relevância jurídica indireta, que é intermediária e assevera que, embora o preâmbulo
participe das “características jurídicas da Constituição”, não deve ser confundido com o
articulado.

Conforme entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal Federal e pela doutrina,


entende- se que a tese correta seria a da irrelevância jurídica, ou seja, a de que o
preâmbulo se situa no campo da política e, portanto, não pode ser considerado como
norma constitucional. Como consequência, as suas disposições não precisam ser iguais
em todos os preâmbulos, uma vez que não há que se falar em força cogente de seu texto.

O preâmbulo, seria, portanto, um texto introdutório que serviria para retratar os


principais objetivos da Constituição, bem como os princípios que deveriam nortear a
atuação dos intérpretes e dos aplicadores do direito. Entretanto, por ter um conteúdo político,
entende-se que aquele não tem a mesma eficácia que uma norma constitucional.
Diferentemente do que ocorre no caso de uma norma constitucional de reprodução
obrigatória, neste caso, a Constituição do Estado será obrigada a reproduzir os conteúdos
vinculantes. Regra esta que não se aplica ao caso do preâmbulo.
Por fim, cumpre destacar que o referido entendimento é consolidado no Supremo
Tribunal Federal, que, na ocasião da ADI 2076, se manifestou no sentido de que: “(...) o
preâmbulo da Constituição não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não
se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força
normativa”. Desse modo, as Constituições Estaduais não precisam reproduzir
obrigatoriamente o que está disposto no preâmbulo da Constituição Federal” (ADI 2076,
Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 15/08/2002, DJ 08-08-2003
PP-00086 EMENT VOL- 02118-01 PP-00218).
Mapa Mental

Natureza Jurídica do Prêmbulo

Irrelevância
Jurídica
Relevância Jurídica
Plena Eficácia
Indireta

Meio termo entre


Mesma eficácia de
Não tem força Natureza Adotado pela teses da
qualquer norma
normativa meramente política jurisprudência irrelevância e da
constitucional
plena eficácia
Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
3. Princípios Fundamentais da República

3.1 Conceito

Os chamados Princípios Fundamentais da República são diretrizes que orientaram a


aplicação do direito e explicitam os valores instituídos pelo Poder Constituinte Originário. Na
Constituição da República, os Princípios Fundamentais são caracterizados pelos:
fundamentos da república, objetivos, e princípios das relações internacionais,
dispostos nos artigos 1 º, 3 º e 4 º, respectivamente.

3.2 Fundamentos da República

Os fundamentos estão previstos no artigo 1º da Constituição. Uma dica para ajudar a


decorá-los, é pensar no mnemônico SO CI DI VA PLU. Vejamos:

1. SOberania;
2. CIdadania;
3. DIgnidade da pessoa humana;
4. VAlores Sociais do Trabalho e da Livre Iniciativa;
5. PLUralismo político;

3.3 Objetivos

Os objetivos estão previstos no artigo 3º da Constituição e representam as ambições do


legislador constituinte. Uma dica é lembrar que os objetivos sempre começam com um verbo,
por exemplo, “construir”, “garantir” ou “promover”. Além disso, atenção para a diferença entre
os verbos erradicar a pobreza e marginalização em contraposição ao inciso que diz reduzir
as desigualdades sociais e regionais.

Os mencionados objetivos são: a) construir uma sociedade livre, justa e solidária; b)


garantir o desenvolvimento nacional; c) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
as desigualdades sociais e regionais; d) promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

3.4 Princípios das Relações Internacionais


Os princípios das Relações Internacionais prezam pela garantia da paz nas relações do
Brasil com os outros países. Apesar de ser respeitada a soberania dos demais países,
concede-se o asilo político caso o estrangeiro se enquadre nos requisitos legais, uma vez
que o fundamento da dignidade da pessoa humana e princípio da prevalência dos direitos
humanos garante essa proteção.
São eles: a) independência nacional; b) prevalência dos direitos humanos; c)
autodeterminação dos povos; d) não-intervenção; e) igualdade entre os Estados; f) defesa
da paz; g) solução pacífica dos conflitos; h) repúdio ao terrorismo e ao racismo; i) cooperação
entre os povos para o progresso da humanidade; j) concessão de asilo político.

Mapa Mental

Fundamentos (Art. 1º)

Princípios Fundamentais da
Objetivos (Art. 3º)
República

Princípios Fundamentais das


Relações Internacionais (Art.
4º)
Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo.
Saraiva Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.
4. Teoria dos Direitos Fundamentais

O Título II da Constituição da República de 1988 dispõe sobre os direitos e garantias


fundamentais. Vale ressaltar que os direitos fundamentais não se restringem ao rol do art.
5º da Constituição, podendo ser encontrados em outras disposições normativas (LENZA,
2019).

4.1 Gerações ou Dimensões

A Jurisprudência e a Doutrina afirmam que uma das principais diferenças entre os direitos
humanos e os direitos fundamentais é o plano de positivação da norma. Enquanto os
primeiros estão concentrados em documentos internacionais, os segundos estão
positivados internamente no ordenamento jurídico de cada país. Ambos visam garantir, em
última instância, a dignidade da pessoa humana.

A doutrina clássica, a exemplo de Norberto Bobbio, dividia os mencionados direitos nas


chamadas “gerações”. Entretanto, conforme entendimento traduzido pelo doutrinador Paulo
Bonavides, optou-se por mudar a nomenclatura para “dimensões”, uma vez que o primeiro
termo poderia passar a equivocada ideia de que uma geração substituiria a outra ou de que
haveria uma ordem cronológica de surgimento dos direitos, o que não é verdade. Desse modo,
ao utilizar-se o termo dimensões, considera-se que uma nova dimensão não iria substituir a
anterior. Pelo contrário, elas iriam se complementar.

Nesse sentido, Pedro Lenza, ao discorrer sobre os direitos de primeira dimensão


(LENZA, 2019, n.p.), pontuou que estes se relacionam à ideia de liberdade e marcaram a
transição de um Estado Autoritário para um Estado de Direito, fruto do pensamento liberal
burguês do século XVIII. Além disso, tais direitos demandam uma abstenção do Estado para
que possam ser concretizados, ou, seja, necessitam que o Estado se abstenha e deixe que
os indivíduos exerçam suas faculdades livremente. Como exemplo, cita-se os direitos civis
e políticos.

Os de segunda dimensão, por sua vez, se relacionam à ideia de igualdade e


demandam uma atuação positiva do Estado para que possam ser concretizados. A
Revolução Industrial, ocorrida na Europa, no século XX, impulsionou o advento dos
referidos direitos, pois, em razão das condições degradante de trabalho, o povo foi se unindo
para pleitear a garantia de direitos por parte do Estado, que deveriam adotar medidas
concretas, já que a sua abstenção estava gerando um grande desequilíbrio social. São os
direitos sociais, culturais e econômicos.
Já os direitos de terceira dimensão se baseiam na globalização e se preocupam com as
mudanças ocorridas em âmbito internacional. Estão relacionados à ideia de fraternidade,
uma vez que a sociedade como um todo tem o dever de agir para garantir o bem comum.
Como exemplo, cita-se os direitos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Paulo Bonavides, citado por Pedro Lenza, considera que os direitos de quarta dimensão
se referem à globalização dos direitos fundamentais, o que significa universalizá-los no
campo institucional (BONAVIDES apud LENZA, 2019). Cita-se a democracia, a informação
e o pluralismo.

Por fim, no que se refere ao direito à paz, há forte controvérsia doutrinária. Enquanto
Karel Vasak entende ser direito da terceira dimensão, Paulo Bonavides, em razão da sua
importância, o classifica como sendo um direito autônomo de quinta dimensão.

Mapa Mental

Dimensões ou Gerações de Direito

1ª 2ª 3ª 4ª 5ª
Liberdade Igualdade Globalização
Fraternidade

Abstenção Atuação
Democracia Paz
Estatal Estatal

Direitos Meio
Direitos
Sociais, Ambiente
Civis e Pluralismo
Culturais e
Políticos
Econômicos
4.2 A Eficácia dos Direitos Fundamentais e a Teoria dos quatro Status de
Jellineck

No que se refere à eficácia dos direitos fundamentais, André Ramos Tavares explica
haver duas principais espécies (RAMOS TAVARES, 2019), quais sejam:

1. Horizontal, Privada ou Externa: aplicação dos direitos fundamentais nas


relações entre particulares. Inicialmente discutia-se se esses direitos seriam
aplicáveis nas relações privadas, uma vez que nestas prevaleceriam a liberdade
de escolha. Entretanto, após discussões doutrinárias e jurisprudenciais, entendeu-
se que os direitos fundamentais também deverão ser observados nas relações
entre iguais, ou seja, nas relações entre particulares.
2. Vertical: Aplicação dos direitos fundamentais nas relações entre particulares e
Estado. Aqui não há muitas discussões e entende-se que os direitos fundamentais
são plenamente aplicáveis nesse tipo de relação, sendo, ainda, uma forma de
limitar o poder do Estado.

Pedro Lenza apresenta a Teoria dos quatro status de Jellineck como sendo uma das
explicações do papel desempenhado pelos direitos fundamentais nos ordenamentos
jurídicos. (LENZA, 2019).

No que se refere à interação do indivíduo com o Estado, aquele poderá se encontrar na


posição:

1. Ativa ou Cidadania Ativa: nesse caso, o indivíduo passa a ter mais autonomia,
uma vez que possui direitos políticos e sua vontade é considerada quando da
atuação do Poder Público.

2. Passiva ou Status Subjectionis: aqui, a pessoa se encontra em uma relação de


submissão ao Poder Público, tendo deveres com o bem comum e devendo ajudar
na implementação dos direitos.

Já no que se refere à interação do Estado com o indivíduo, aquele poderá se encontrar na


posição:
1. Positiva ou Civitatis: o Estado deve agir efetivamente para que possa garantir
os direitos dos indivíduos. A nomenclatura “positiva” ocorre em razão de não
bastar a mera abstenção do Poder Público para que os direitos sejam garantidos,
uma vez que é necessário que haja uma efetiva atuação por parte do Estado.

2. Negativa ou Libertatis: nesse caso, o Estado tem seu poder limitado, de modo
que é demandado sua abstenção, gerando, portanto, uma certa liberdade para
o indivíduo. Assim, percebe-se que a nomenclatura “negativa” se relaciona com
a ausência de atuação estatal, e a palavra “libertatis” se relaciona com a maior
liberdade de atuação que o indivíduo passa a ter.

Mapa Mental

Teoria dos quatro Status de Jellineck

Estado Particular
Positivo ou Civitatis Ativo ou Cidadania Ativa

Negativo ou Libertatis Passivo ou Subjectionis


Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo.
Saraiva Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.
5. Direitos Individuais
Os Direitos Individuais são limitações impostas pela soberania popular que visam
restringir o poder do Estado para que possa ser garantida a vida digna dos indivíduos. Além
de serem fundamentos da Constituição (art. 1º, CR/88), eles têm aplicabilidade imediata
e são aplicáveis a todos os homens e mulheres, sejam nacionais ou estrangeiros, sendo
considerados inalienáveis, imprescritíveis e irrenunciáveis.

Inicialmente, é importante destacar o caput do artigo 5º da CR/88 que diz que todos serão
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Além disso, garante-se aos
brasileiros e aos estrangeiros a inviolabilidade do direito à liberdade, à igualdade, à vida,
à propriedade e à segurança.

É importante que o(a) aluno(a) faça uma leitura atenta de todos os incisos do artigo 5º da
CR/88 e tente entendê-los, pois estes não serão citados em sua integralidade, já que seria
contra produtivo somente citar algo que já está disposto na Constituição Federal. Assim,
optou-se por destacar as características de alguns dos direitos que são mais recorrentes nas
provas e nos concursos públicos.

A liberdade de expressão (art. 5 º, IX, CR/88) garante que a pessoa pode se manifestar
livremente sobre quaisquer aspectos, sejam eles intelectuais, artísticos, científicos ou de
comunicação, independentemente de licença ou de censura prévia. Entretanto, caso a
manifestação de um indivíduo viole o direito de outro, a este é garantido o direito de resposta
proporcional ao agravo (art. 5 º, V, CR/88), sendo vedado o anonimato (art. 5 º, IV, CR/88).

Os direitos à intimidade e à privacidade (art. 5 º, X, CR/88) são garantidos, de modo que


ninguém poderá invadir a vida privada do outro, sob pena de indenizá-lo em caso de eventual
violação de direito. Nesse sentido, a casa passa a ser o asilo inviolável do indivíduo (art. 5
º, XI, CR/88), não podendo ninguém nela penetrar sem o consentimento de seu morador,
salvo nos casos de flagrante delito, de desastre, para prestar socorro ou por determinação
judicial, sendo que, neste caso, restringe-se ao período diurno.

O direito à reunião é garantido, de modo que as pessoas poderão reunir-se em locais


abertos ao púbico (art. 5 º, XVI, CR/88), desde que o façam pacificamente e sem armas.
Não é necessária autorização, bastando haver apenas o prévio aviso à autoridade
competente.

No que se refere às associações, é importante fazer uma diferenciação (art. 5 º, XIX,


CR/88). Tanto para haver a suspensão de suas atividades quanto para a sua dissolução,
é necessário que haja decisão judicial. Entretanto, o trânsito em julgado somente é
exigido no caso de dissolução.

Ainda, garante-se que ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer


associado (art. 5º, XX, CR/88). As entidades associativas têm legitimidade para representar
seus filiados judicial ou extrajudicialmente, mas, para tanto, necessitam de autorização
expressa dos interessados (art. 5º, XXI, CR/88).

É garantido o direito à indenização justa, prévia e em dinheiro no caso de haver


desapropriação por interesse social ou por necessidade ou utilidade pública (art. 5 º, XXIV,
CR/88). Sobre a impenhorabilidade de propriedade rural, é necessário que esta seja
pequena e seja trabalhada pela família (art. 5 º, XXVI, CR/88), sendo que, nesses casos, não
poderá ocorrer penhora nem mesmo para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva.

Serão garantidos, independentemente do pagamento de taxa, a obtenção de certidões


em repartições públicas e o exercício do direito de petição, contra ilegalidade ou abuso de
poder (artigo 5 º, XXXIV, CR/88). Importante diferenciar essa hipótese da prevista no art. 5º,
LXXVI, da CR/88, que garante a que será gratuito apenas aos reconhecidamente pobres a
certidão de óbito e o registro civil de nascimento. Por fim, o art. 5 º, LXXVII, CR/88,
assegura a gratuidade das ações de habeas corpus e habeas data, independentemente
da condição financeira dos impetrantes, já que estas são necessárias ao exercício da
cidadania.

Sobre o direito penal e processual penal, é assegurada a instituição do júri (art. 5º,
XXXVIII, CR/88), sendo que a lei não excluirá da apreciação do judiciário qualquer lesão
ou ameaça a direito, além de garantir que não haverá tribunal de exceção (art. 5 º,XXXV
e XXXVII, CR/88). Ainda, não haverá crime sem anterior lei que o comine nem pena sem
prévia cominação legal (princípio da legalidade), sendo que a lei penal, excepcionalmente,
poderá retroagir, desde que seja para beneficiar o réu (art. 5 º, XXXIX e XL, CR/88).

A Constituição garante que nenhuma pena poderá passar da pessoa do condenado.


Todavia, a referida disposição não impede que sejam transferidas aos sucessores as
obrigações de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens, desde que essas
disposições se limitem ao valor da herança (art. 5 º, XLV, CR/88).

Importante destacar que veda-se a existência das seguintes penas: morte, salvo nos
casos de guerra declarada; perpétuas; trabalho forçado; banimento; ou cruéis (art. 5 º,XLVII,
CR/88). Ainda sobre as penas, é garantido que esta será cumprida em estabelecimentos
distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado, sendo
garantido aos presos o respeito à integridade física e moral (art. 5 º,XLVIII e XLIX, CR/88),
sendo inadmissíveis as provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI, CR/88).

Importante fazer uma diferenciação entre as restrições constitucionais impostas a alguns


crimes. Primeiramente, os crimes de racismo e de ação de grupos armados civis ou
militares (art. 5 º,XLII e XLIV, CR/88) são inafiançáveis e imprescritíveis. Por outro lado,
os crimes hediondos, tráfico, terrorismo e tortura (mnemônica: T3 + Hediondo), apesar
de também serem inafiançáveis, se diferenciam dos primeiros porque são insuscetíveis
de graça ou anistia (art. 5 º,XLIII, CR/88).

Mapa Mental

Hediondo
Racismo e
Tráfico
Grupos
Terrorismo
Armados
Tortura
Inafiançável Inafiançável

Insuscetível
Imprescritível de graça e
anistia

Importante destacar que às presidiárias serão asseguradas todas condições


necessárias para que possam permanecer com seus filhos durante a amamentação, sendo
que ninguém será privado de liberdade sem o devido processo legal, garantindo-se o
contraditório e a ampla defesa. Ainda, ninguém será considerado culpado até transito em
julgado de sentença penal condenatória e ninguém será preso senão em flagrante delito ou
por ordem escrita de autoridade judiciária. Por fim, a prisão de qualquer indivíduo será
comunicada imediatamente ao juiz e à família do preso, sendo que este será informado de
seus direitos, dentre os quais o de permanecer calado e o de ter acesso à identificação
dos responsáveis por sua prisão, sendo que ninguém será levado à prisão quando a lei
admitir liberdade provisória, com ou sem fiança. Os referidos direitos individuais estão
previstos no art. 5 º, L, LIV, LV, LVI, LVII, LXI, LXII, LXIII, LXIV, LXVI, LXVII da CR/88.

Sobre a prisão civil, cumpre destacar que esta é inconstitucional, salvo no caso de
devedor de pensão alimentícia. Apesar do art. 5 º, LXVII, CR/88 dizer que poderá haver
prisão civil no caso de depositário infiel, o STF entendeu que esta última hipótese é
incabível, em razão da disposição do Pacto de San José da Costa Rica, ratificado pelo
Brasil, que impede a prisão civil do depositário infiel. Desse modo, a única hipótese cabível
atualmente é a do devedor de pensão alimentícia.

Sobre a extradição, o art. 5 º, LI, assevera que esta não pode ocorrer para o brasileiro
nato, cabendo, excepcionalmente ao naturalizado, desde que este tenha praticado algum
crime comum antes da naturalização ou comprove sua atuação no tráfico de drogas,
podendo seu envolvimento, neste caso, ocorrer antes, durante ou após o processo de
naturalização. O artigo art. 5 º da CR/88 garante os chamados remédios constitucionais,
quais sejam: habeas corpus, mandado de segurança individual e coletivo, mandado de
injunção, habeas data e ação popular (art. 5 º, LXVIII, LXIX, LXX, LXXI e LXXII, CR/88).
Referidas ações serão estudadas no tópico “Direitos Individuais – Remédios
Constitucionais”.

Por fim, o Estado terá o dever de indenizar o condenado nos casos de erro judiciário
ou de haver aprisionamento além do tempo fixado na sentença (art. 5 º, LXXV, CR/88).
Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo.
Saraiva Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019
6. Direitos Individuais – Remédios Constitucionais e Garantias
Processuais
Os chamados remédios constitucionais, conforme preceitua André Ramos Tavares,
são instrumentos que visam garantir os direitos fundamentais (RAMOS TAVARES, 2019,
n.p.). Todos têm previsão constitucional e alguns também têm proteção legal específica. São
eles: habeas corpus; mandado de segurança individual e coletivo; habeas data; mandado de
injunção individual e coletivo; e ação popular.

6.1 Habeas Corpus


Conforme preceitua o artigo 5 º, LXVIII, da CR/88, “conceder-se-á habeas corpus
sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou por abuso de poder.”. Importante mencionar
que referido remédio, juntamente com o habeas data, é gratuito (o artigo 5 º, LXXVII, CR/88).

Desse modo, caso alguém seja ameaçado de sofrer algum tipo de restrição à sua liberdade
de locomoção, será viável a impetração de um habeas corpus preventivo. Do mesmo modo,
caso já esteja sofrendo uma violência ao seu direito de ir e vir, será cabível o habeas corpus
repressivo. Todavia, cumpre destacar que não caberá ao mencionado remédio
constitucional no caso de pessoas jurídicas, uma vez que essas entidades não possuem o
chamado direito de locomoção, que é restrito às pessoas naturais.

Em razão da importância desse direito fundamental, o habeas corpus poderá ser


impetrado por qualquer pessoa, independentemente de sua capacidade postulatória, de
modo que não se faz necessário a presença de advogado. É importante fazer uma ressalva,
já que referido remédio não é cabível nos casos de punições disciplinares militares (art. 142
§ 2º da CR/88).

Por fim, cumpre destacar que o STF entende que, em regra, não haverá intimação
pessoal da Defensoria Pública quanto à data de julgamento de habeas corpus, salvo se
houver pedido expresso para a realização de sustentação oral.

6.2 Mandado de Segurança Individual e Coletivo

O mandado de segurança individual está previsto no artigo 5 º, LXIX da CR/88 e na Lei


12.016/09 e será utilizado para proteger direito líquido e certo que não seja amparado por
habeas corpus ou habeas data, sendo, portanto, subsidiário. Além disso, é necessário que
o ato ilegal ou abusivo de poder seja cometido por uma autoridade pública ou por um agente
de pessoa jurídica que esteja no exercício das atribuições do Poder Púbico.

É necessário que o impetrante tenha prova pré-constituída, de modo que torne o fato
incontroverso e não haja dilação probatória. Mas vale ressaltar que, nos termos da Súmula
625 do STF, a controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de
segurança.

Além disso, é importante destacar que não caberá a condenação em honorário


advocatícios no caso de ação de mandado de segurança, ainda que haja recurso para o
segundo grau ou para as instâncias superiores, sendo de competência das turmas
recursais o julgamento do mandado de segurança contra ato de juizado especial.

O prazo para impetração do mandado de segurança é decadencial de 120 dias (art. 23,
da Lei 12.016/20009), a contar do conhecimento da prática do ato ilegal ou abusivo pelo
interessado, salvo na hipótese de ser preventivo, oportunidade em que o indivíduo se encontra
ameaçado de sofrer lesão ao seu direito, não havendo que se falar em início de prazo
decadencial, já que a lesão ainda não ocorreu. Ainda, o pedido de reconsideração feito na
via administrativa não interrompe o prazo para a impetração do mencionado remédio
constitucional.

Cumpre destacar que não será cabível a impetração de mandado de segurança caso:
a) o Fato seja controvertido, embora caiba mandado de segurança caso o direito seja
controvertido; b) seja cabível recurso contra ato judicial em questão; c) seja contra atos de
gestão comercial, embora seja cabível contra atos de gestão pública, ainda que sejam
praticados por empresas públicas ou sociedades de economia mista; d) tenha havido trânsito
em julgado, já que, nesse caso, seria cabível ação rescisória, salvo no caso de decisões
judiciais teratológicas; e) seja contra lei em tese.

Importante salientar que o referido remédio pode ser impetrado por estrangeiro, não se
restringindo aos nacionais. Ainda, existe a especificidade de ser uma ação personalíssima,
de modo que irá se extinguir caso o autor venha a falecer, não podendo os herdeiros sucede-
lá nestes casos.

A chamada Teoria da Encampação ocorre quando há o ingresso da autoridade


coatora correta no caso de ter sido impetrado o mandado de segurança contra a autoridade
incorreta. Segundo a Súmula 628 do STJ, a teoria é aplicada, quando presente,
cumulativamente, os seguintes requisitos: a) existência de vínculo hierárquico entre a
autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado; b)
manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e c) ausência de
modificação de competência estabelecida na Constituição Federal.
Sobre a concessão de liminar no mandado de segurança, é importante destacar que o
magistrado poderá exigir caução, depósito ou fiança para concedê-la, de modo que sua
duração se restringe no máximo até a publicação da sentença.
A sentença concessiva do mandado de segurança poderá ser executada
provisoriamente, salvo nas hipóteses legais em que a lei veda a concessão de liminar,
como ocorre nos casos de: deferimento da compensação do crédito tributário; entrega de
mercadoria que vieram do exterior; caso o servidor seja reclassificado, equiparado; ou seja
concedido o pagamento de vantagens de qualquer natureza. Sobre esse tema, é importante
diferenciar que a liminar será incabível para efetivar a compensação de crédito tributário,
embora caiba mandado de segurança para declarar o direito à compensação desses
créditos.

Caso seja praticado um ato ilegal ou abusivo por um diretor de uma Universidade
Privada, é importante que se faça uma diferenciação. Em regra, a competência para julgar
essa ação será da justiça estadual, salvo se for impetrado um mandado de segurança,
pois, nesse caso específico, será cabível o ajuizamento na justiça federal.

Ainda, caso a sentença de mandado de segurança conceda alguma vantagem ao


servidor público, este somente poderá receber os valores que se venceram após a
impetração do remédio constitucional, uma vez que este não substitui a ação de cobrança
devida. Importante destacar que haverá o duplo grau obrigatório, ou seja, o processo será
analisado novamente por uma autoridade superior, caso haja a concessão da segurança.

Cumpre destacar que, no caso de haver recurso contra a decisão proferida em sede de
mandado de segurança, caso não haja a publicação da sentença no prazo de 30 dias, o
acordão será substituído por notas taquigrafas independentemente de revisão. É o que
dispõe o artigo 17 da Lei nº. 12.016/09 (Lei do MS).

O STF possui diversas súmulas tratando sobre o mandado de segurança, sendo


importante destacar alguns entendimentos, como o previsto na súmula 405, que aduz que,
caso haja a denegação do mandado de segurança pela sentença, ficará sem efeito a
liminar concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária. Ainda, a súmula 510 afirma
que caso o ato ilegal seja praticado por uma autoridade no exercício da competência
delegada, contra ela caberá o mandado de segurança e não contra a autoridade delegante.
Ainda, é válido destacar que, no âmbito do mandado de segurança, existe o chamado
pedido de suspensão (art. 15 da Lei do MS), que é feito somente pelo Ministério Público
ou por pessoa jurídica de direito público e consiste no pleito para suspender a execução da
liminar e da sentença. Ele ocorre para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e
à economia públicas, e seu conhecimento fica sob responsabilidade do presidente do tribunal
ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso.

Não é qualquer ato que está sujeito à impetração do mandado de segurança, de modo
que se faz necessário dividir os atos em administrativos, judiciários e legislativos.

1. Ato administrativo: em regra, é plenamente cabível a concessão de mandado


de segurança, visando desconstituir um ato administrativo ilegal ou abusivo, uma
vez que este é proferido por autoridade pública ou por pessoa que esteja exercendo
uma função pública, ainda que temporariamente;

2. Ato judicial: em regra, não é cabível mandado de segurança contra ato judicial,
salvo nos casos de decisões teratológicas, inclusive após o trânsito em julgado
e na hipótese de a decisão não possuir recurso previsto em lei;

3. Ato legislativo: em regra, não é cabível mandado de segurança contra ato


legislativo, salvo nos casos de lei de efeito concreto ou de projeto de lei que
viole o processo legislativo.

Já o mandado de segurança coletivo está previsto no artigo 5 º LXX da CR/88 e nos


artigos 21 e seguintes da Lei 12.016/09, de modo que também visa proteger direito líquido e
certo não amparado por habeas corpus ou por habeas data. Poderá ser impetrado por alguns
legitimados, sendo que o Ministério Público e a Defensoria Pública não estão arrolados
no mencionado dispositivo legal, uma vez que este somente cita como legitimados os:

1. Partido Político com representação no Congresso Nacional, relativo aos


interesses de seus integrantes ou à finalidade partidária;
2. Organização sindical;
3. Entidade de classe;
4. Associação constituída legalmente e em funcionamento há pelo menos um ano,
na defesa do direito da totalidade ou de parte de seus associados, desde que
haja autorização especial;

Sobre a coisa julgada no mandado de segurança coletivo, é válido destacar duas


observações. A primeira é que os efeitos serão limitados aos membros do grupo ou da
categoria que foram substituídos pelo impetrante (art. 22, caput, Lei do MS). A segunda,
disposta no mesmo artigo, diz que o mencionado remédio não induz litispendência para
as ações individuais e os efeitos do mandado de segurança coletivo somente beneficiarão
o titular da ação individual se este requerer a desistência do seu mandado de segurança
individual no prazo de 30 dias, a contar da ciência da propositura da ação coletiva.

A liminar contra pessoa jurídica de direito púbico no mandado de segurança coletivo,


somente será concedida após audiência do representante judicial do ente público. Salienta-
se que o prazo para que haja o pronunciamento do mencionado representante é de 72 horas
(art. 22, § 2º, Lei do MS).

6.3. Habeas Data

Conforme preceitua o artigo 5 º LXXII, o habeas data será concedido para assegurar
“o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constante de registros ou
banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público”, bem como para a
“retificação de dados, quando se se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo” Desse modo, pode-se extrair algumas conclusões referentes ao habeas data,
quais sejam:

• As informações devem dizer respeito ao impetrante, não


podendo se referir a outra pessoa;
• É permitido que o interessado tenha o conhecimento, faça a
retificação ou promova alguma anotação nos mencionados
dados;

• As informações devem estar presentes em banco de dados de


entidades governamentais ou de caráter público, não sendo
devido se somente estiverem contidas em bancos de entidades
privadas sem divulgação ao público;
• O interessado, além da impetração do mencionado remédio,
pode optar também pela propositura de processo sigiloso
judicial ou administrativo, não sendo obrigatória a impetração
de habeas data nesses casos.

Importante destacar que os prazos são diferentes de acordo com a intenção do


impetrante. Assim, será de 10 dias no caso de acesso e de 15 dias nos casos de
retificação e de alteração de dados.

Por fim, conforme jurisprudência do STF, para a impetração do habeas data, é


preciso que tenha havido um requerimento administrativo prévio, ou seja, o
interessado deverá provar que pediu as mencionadas informações anteriormente e estas
foram negadas, de modo a existir uma pretensão resistida.
Sobre o tema, a súmula 02 do STJ aduz que: “Não cabe habeas data se não houve recusa
de informações por parte da autoridade administrativa” citação. Entretanto, basta provar
que houve o requerimento, não sendo necessário haver o esgotamento das
instâncias administrativas, sob pena de violar o princípio da inafastabilidade da
jurisdição (art.5 º, XXXV, CR/88), que diz que não poderá ser excluído da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão a qualquer direito.

6.4 Mandado de Injunção

O mandado de injunção está previsto no artigo 5º, LXXI, CR/88 e na Lei 13.300/16, sendo
usado para sanar omissão total ou parcial de norma regulamentadora, podendo ser
individual ou coletivo. É cabível caso essa ausência legislativa torne inviável o exercício dos
direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à
soberania e à cidadania, conforme preceitua o artigo 1 º da Lei 13.300/16 (Lei do MI).

O mencionado remédio possui características específicas, podendo ser considerado:

• Concretista: o judiciário já estabelece as condições que


deverão ser observadas caso o legislativo não supra sua moral
em editar a norma regulamentadora (art. 8 º, II, Lei do MI);

• Intermediário: entretanto, referidas condições não ocorrem de


maneira imediata, uma vez que o judiciário estabelece um
prazo para que o legislativo sane sua omissão e produza a
norma regulamentadora. Somente se este não o fizer é que
deverão ser observadas as condições estipuladas pelo
judiciário (art. 8 º, I, Lei do MI);
• Individual: em regra, seus efeitos são restritos às partes,
podendo, excepcionalmente, haver uma extensão a outros
casos pelo relator (art. 13, caput, Lei do MI);

O mandado de injunção individual poderá ser impetrado por pessoas naturais ou


jurídicas (art. 3 º, Lei do MS) e o coletivo poderá ser impetrado pelos mesmos legitimados do
mandado de segurança coletivo, acrescentando o Ministério Público e a Defensoria
Pública (art. 12, Lei do MI), sendo eles:

1. Partido Político com representação no Congresso Nacional, relativo aos


interesses de seus integrantes ou à finalidade partidária;
2. Organização sindical;
3. Entidade de classe;
4. Associação constituída legalmente e em funcionamento há pelo menos um ano,
na defesa dos direitos da totalidade ou de parte de seus associados, desde que
haja autorização especial;
5. Ministério Público;
6. Defensoria Pública;

Caso haja uma norma regulamentadora superveniente, esta, em regra, produzirá


Efeitos Ex Nunc, ou seja, irretroativos, salvo se for mais favorável ao interessado (art. 11,
caput, Lei do MI). Dica: Com o “N” do “Nunc”, pense em “Nunca” retroage.

Por fim, cumpre destacar que o mandado de injunção se assemelha ao mandado de


segurança no que se refere ao fato de que a ação coletiva não induz litispendência e não
estende seus efeitos para as ações individuais, salvo se o autor destas requerer a
desistência de seu processo em até 30 dias após ser cientificado da propositura do mandado
de injunção coletivo (art. 13, § único, Lei do MI).

6.5 Ação Popular


A ação popular está prevista no Artigo 5º, LXXIII, CR/88 e na Lei 4.717/65 (LAP), sendo
utilizada para anular ato lesivo ao patrimônio público, de modo a defender a moralidade
administrativa, o meio ambiente e o patrimônio histórico e cultural. O autor fica
dispensado do pagamento de custas judiciais e dos ônus da sucumbência, salvo se
comprovado má fé.

A defesa do mencionado patrimônio público inclui os interesses das empresas


públicas, das sociedades de economia mista e das entidades que o Estado participe. Na
hipótese de se tratar de instituição com a qual o Poder Público concorra com menos de 50%
do patrimônio ou da receita anual ou de entidades subvencionadas, as consequências
patrimoniais da invalidez dos atos lesivos terão por limite a repercussão desses sobre a
contribuição dos cofres públicos (art. 1 º, § 2 º, Lei 4.717/65).

Importante frisar que a mencionada lei conceitua os atos nulos, sendo todos os demais
considerados anuláveis. Os principais vícios de nulidade estão previstos no artigo 2 º da lei
da ação popular, sendo que os demais estão no artigo 4 º e remetem a situações mais graves.
Cita-se os principais vícios que a lei considera como passíveis de nulidade:
• Incompetência: quando o ato não se incluir nas atribuições
legais do agente que o praticou;
• Forma: omissão ou não observância de formalidades
indispensáveis à existência do ato;
• Objeto: o resultado caracterizar violação de lei, regulamento
ou outro ato normativo;
• Motivo: matéria de fato ou de direito em que se fundamenta
o ato é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada;
• Finalidade: o agente pratica o ato visando a fim diverso
daquele previsto explicita ou implicitamente na regra de
competência;
Referida ação somente poderá ser proposta por um cidadão, que é aquele indivíduo
que possui o título de eleitor. Se alguém entre 16 e 18 anos optar por fazer o referido título,
terá legitimidade para propor a ação popular.

Caso o autor desista da ação ou dê motivos para a absolvição da instância, dentro


do prazo de 90 dias, qualquer cidadão ou o Ministério Público poderão promover o
prosseguimento da ação (art. 9 da LAP). Diferentemente, caso o autor não promova
a execução da decisão dentro do prazo de 30 dias, o Ministério Público deverá fazê-lo no
prazo de 60 dias, sob pena de falta grave (art. 16 da LAP).

Na ação popular existe o chamado reexame necessário invertido, que ocorre quando
a sentença concluir pela carência ou pela improcedência da ação (art. 19 da LAP). Assim,
haverá o duplo grau de jurisdição e a ação será julgada novamente pela instância superior.
Sobre os efeitos da decisão proferida em sede de ação popular, a lei estabelece que aqueles
serão (art. 18da LAP) erga omnes, ou seja, oponíveis a todos. A exceção apontada é no caso
de haver improcedência por falta de provas, pois, nesse caso, qualquer cidadão poderá
intentar outra ação com idêntico fundamento, bastando que apresente outra prova.

Mapa Mental

Remédios Constitucionais

HC MS MI HD
Individual Individual

Coletivo Coletivo
Referências bibliográficas
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo. Saraiva
Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019
7. Direitos Sociais
7.1 Conceito

Os chamados direitos sociais, conforme preceitua André Ramos Tavares, por serem
considerados de segunda dimensão, exigem que o Poder Público tenha uma atuação
positiva para garantir o implemento da igualdade material dos indivíduos. São, portanto,
espécies de direitos prestacionais, uma vez que exigem que o Estado realize medidas para
efetivá-los, não bastando uma conduta de mera abstenção (RAMOS TAVARES, 2019, n.p.).
Estão concentrados em sua maioria nos artigos 6º, 7º e 8º da CR/88.
Os direitos sociais são interpretados à luz de três princípios: “vedação ao retrocesso”;
“mínimo existencial” e “reserva do possível”. A chamada vedação ao retrocesso, ou efeito
cliquet, garante que os direitos sociais não sejam restringidos, somente podendo ser
ampliados. Assim, uma vez alcançado certo patamar de direitos sociais, estes não poderão
ser restringidos, podendo ser, somente, estendidos. O mínimo existencial diz respeito à
proteção mínima dos direitos sociais que assegurem uma existência digna ao indivíduo. Já
a reserva do possível aponta que a concretização dos direitos sociais precisa ser realizada
dentro das limitações orçamentárias do Estado.

No que se refere à jurisprudência, importante destacar dois entendimentos


firmados pelos Tribunais Superiores. O STF entende que é inconstitucional a lei que
autoriza o trabalho de gestantes e de lactantes em atividades insalubres, pois a
Constituição Federal (art. 6º) garante o direito à proteção da maternidade, que serve de
fundamento para outros direitos sociais, tais como o direito à segurança no emprego e a
redução dos riscos inerentes ao trabalho, de modo que tais garantias constitucionais não
podem ser suprimidas por leis infraconstitucionais. Ainda, o STJ afirma que os idosos que
gozam de gratuidade no transporte coletivo, além de não pagarem a passagem, também
são isentos das tarifas de pedágio e de utilização dos terminais.

Uma dica para tentar decorar os direitos previstos no artigo 6º é pensar na mnemônica que
diz:

EDU MORA ALI SAU TRABALHA LA ASSIS PROSSEG TRANSPORTANDO PREV.

1. EDU: Educação;
2. MORA: Moradia;
3. ALI: Alimentação;
4. SAU: Saúde;
5. TRABALHA: Trabalho;
6. LA: Lazer;
7. ASSIS: Assistência aos desamparados;
8. PROSSEG: PROteção à maternidade e à infância e SSEG: SEGurança;
9. TRANSPORTANDO: Transporte;
10. PREV: Previdência Social;

Os artigos 7º e 8º dizem respeito aos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais. É


importante que o aluno faça uma leitura atenta desses artigos, uma vez que eles não serão
citados em sua integralidade, pois seria contra produtivo somente citar algo que já está
disposto na Constituição Federal. Desse modo, optou-se por destacar as características de
alguns dos direitos que são mais recorrentes nas provas.

Dentre os direitos consagrados do artigo 7º, pode-se destacar aqueles que vieram por
emenda constitucional, ou seja, não vieram no texto original da Constituição Federal. São
eles: salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos
da lei; assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos
de idade em creches e pré-escolas; ação, quanto aos créditos resultantes das relações de
trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até
o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho.

Ainda, é importante destacar que, no ano de 2013, através da Emenda Constitucional


número 72, as domésticas alcançaram importante avanço, sendo estendido a elas os
seguintes direitos:

1. Salário mínimo: fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas


necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com
reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;
2. Irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
3. Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo;
4. Décimo terceiro salário;
5. Proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
6. Duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e
quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
7. Repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
8. Remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta
por cento a do normal;
9. Gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que
o salário normal;
10. Licença à gestante e licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
11. Aviso prévio proporcional ao tempo de serviço;
12. Redução dos riscos inerentes ao trabalho;
13. Aposentadoria;
14. Reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;

Ainda no que se refere à extensão dos direitos às domésticas, cumpre destacar que
caso sejam atendidas as condições estabelecidas em lei e caso seja observada a
simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, a elas também serão
estendidos os seguintes direitos:

1. Relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa;


2. Seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
3. Fundo de garantia do tempo de serviço (FGTS);
4. Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
5. Salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda;
6. Assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos
de idade em creches e pré-escolas;
7. Seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
O artigo 8º da CR/88 trata sobre a associação profissional ou sindical, que serão criadas
para a promoção da defesa dos direitos coletivos e individuais da categoria em questões
judiciais ou administrativas. Para tanto, garante-se que será livre a fundação de sindicato,
não podendo a lei exigir autorização do Poder Público para a sua criação, sendo devido
apenas seu registro no órgão competente.

É vedada a criação de mais de uma organização sindical na mesma base territorial,


sendo está definida pelos empregados e empregadores, não podendo ser inferior à área de
um Município. Após a sua criação, não poderá haver nenhum tipo de interferência no
sindicato por parte do Poder Público.
Ainda, é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro de sua
candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente,
até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. Referida
disposição constitucional visa garantir um exercício de direção sindical livre de eventuais
pressões externas e políticas.
Poderá haver uma contribuição para custeio do sistema confederativo sindical, que
será independente da contribuição prevista em lei e será fixada pela Assembleia Geral,
sendo descontada em folha no caso de categoria profissional. A Constituição Federal garante,
ainda, que ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato, sendo
obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho,
podendo o aposentado filiado votar e ser votado nas organizações sindicais.

Por fim, o art. 9º da CR/88 dispõe sobre o direito de greve, assegurando que este será
garantido pelo Poder Público e competirá aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade
de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. O STF já pacificou
o entendimento de que poderá haver desconto no salário dos trabalhadores durante o
período de greve, mas este poderá ser cobrado de forma parcelada.

Mapa Mental
Contribuição

Confederativa Sindical

Facultativa Facultativa

Imposta pela
assembleia geral Imposta pela lei

Previsão Constitucional
Cobrança Anual
Referências bibliográficas
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo. Saraiva
Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
8. Direito de Nacionalidade
A nacionalidade tem status de direito fundamental com previsão expressa na Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948). No ordenamento jurídico brasileiro, o capítulo III do
Título II da Constituição da República de 1988 dispõe sobre a nacionalidade.
O tema é constantemente cobrado nas provas da OAB. É importante decorar: as
hipóteses de cargos privativos de brasileiro nato (art. 12, §3º, CR); os critérios de definição da
nacionalidade (ius solis e ius sanguinis); os requisitos constitucionais para adquirir a
nacionalidade brasileira (brasileiro naturalizado – art. 12, II, CR); e as hipóteses de perda da
nacionalidade brasileira (art. 12, §4º, CR).

8.1 Conceito

Tradicionalmente, a nacionalidade sempre foi encarada como um vínculo de natureza


política- jurídica do indivíduo com o Estado (LENZA, 2019, n.p.).

Na sua obra, André Ramos Tavares conceitua que:

A nacionalidade é a ligação juridicamente estabelecida entre um indivíduo e


determinado Estado. Daí decorre a distinção entre nacionais e estrangeiros
tendo como parâmetro a existência ou não daquele entrelaçamento. (RAMOS
TAVARES, 2019, n.p.)

Ter um vínculo jurídico-político significa ser titular de direitos e obrigações especiais


perante o Estado.

8.2 Brasileiro Nato e Naturalizado


Inicialmente, é importante fazer a diferenciação entre o brasileiro nato e o naturalizado.
Essa distinção é importante, pois, apesar de a Constituição prever que a lei não poderá
estabelecer distinção entre os brasileiros natos e naturalizados (art. 12, § 2 º, CR/88),
existem casos em que haverá tratamento diferenciado sim.
Nesse sentido, o artigo 5º, LI, CR/88, estabelece que o brasileiro nato nunca será
extraditado. Entretanto, o naturalizado poderá ser extraditado no caso de praticar crime
comum antes do processo de naturalização ou caso tenha praticado o delito de tráfico de
drogas, podendo, neste caso, a conduta ter sido cometida antes ou após o processo de
naturalização.

Além disso, o artigo 12, § 3º, da CR/88, aponta cargos que são privativos de brasileiros
natos, sendo eles:
a) Presidente e Vice-presidente da República;
b) Presidente da Câmara dos Deputados;
c) Presidente do Senado Federal;
d) Ministro do Supremo Tribunal Federal – atenção porque, neste caso, não há
restrição ao presidente
e) Integrante de carreira diplomática;
f) Oficial das Forças Armadas;
g) Ministro de Estado da Defesa.

Consideram-se brasileiros:

8.2.1. Natos

a) Nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não
estejam a serviço do seu país. É o que a doutrina chama de jus solis, que
considera como brasileiro nato aquele que tenha nascido no “solo” brasileiro,
ainda que seja filho de pais estrangeiros. A única exceção ocorre quando algum
dos pais esteja a serviço público do seu país, não incluindo se trabalharem em
empresa privada (art. 12, I, a, CR/88);
b) Nascidos no estrangeiro e quando um dos pais esteja a serviço da República
Federativa do Brasil, não incluindo a hipótese de estarem a serviço de alguma
empresa privada brasileira (art. 12, I, b, CR/88);
c) Nascidos no estrangeiro, quando um dos pais seja brasileiro, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente. Aqui, utiliza-se o que a doutrina
chama se jus sanguinis, que considera como brasileiro nato aquele que tenha o
“sangue”, seja materno ou paterno, de outro brasileiro, ainda que o nascimento
tenha ocorrido no exterior (art. 12, I, c, primeira parte, CR/88);

d) Nascidos no estrangeiro, quando um dos pais seja brasileiro, desde que


venham a residir no Brasil e optem, em qualquer tempo após atingida a
maioridade, pela nacionalidade brasileira. Aqui também se utiliza o que a doutrina
chama-se jus sanguinis, que considera como brasileiro nato aquele que tenha o
“sangue”, seja materno ou paterno, de outro brasileiro, ainda que o nascimento
tenha ocorrido no exterior (art. 12, I, c, segunda parte, CR/88).

8.2.2. Naturalizados

a) Estrangeiros de qualquer nacionalidade, desde que residam no Brasil há mais


de quinze anos ininterruptos, não tenham condenação penal e requeiram à
autoridade competente;
b) Sejam originários de países de língua portuguesa, desde que residam no Brasil
há pelo menos um ano ininterrupto e tenham idoneidade moral. Cuidado para
não confundir, pois o requisito é que seja país de língua portuguesa, não se
restringindo apenas à Portugal;

Aos portugueses com residência permanente no Brasil serão atribuídos os direitos


inerentes ao brasileiro, desde que haja reciprocidade em favor dos brasileiros que estejam
em Portugal (art. 12, §1º, CR). Atenção, pois não se trata de hipótese de naturalização.

A naturalização poderá ser concedida aos originários de países de língua portuguesa


(incluindo Portugal), entretanto, a garantia dos direitos inerentes aos brasileiros é restrita
aos portugueses.
Mapa Mental

Português

Naturalizado Direitos Inerentes ao


Brasileiro

Residência por 01 ano


Residência permanente

Idoneidade moral
Reciprocidade

Países de língua
portuguesa
Restrito àqueles que
vieram de Portugal

8.3 Perda da Nacionalidade

Ainda, importante destacar os casos em que haverá a perda da nacionalidade, sendo


que tais hipóteses estão previstas no artigo 12, § 4 º, da CR/88, sendo elas:

1. Cancelamento da naturalização por sentença judicial em virtude do


cometimento de atividade nociva ao interesse nacional;
2. Caso seja adquirida outra nacionalidade, salvo nos casos: a) haja o
reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira. Como exemplo,
cita-se um brasileiro que, pela lei da Itália, tenha o direito de adquirir a
nacionalidade originária italiana, concomitante com a brasileira, tendo, nesse
caso, dupla nacionalidade; b) haja a imposição de naturalização, pela norma
estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. Como
exemplo, cita-se o caso de um jogador de futebol que é obrigado a se naturalizar
em outro país para que lá possa permanecer e exercer seus direitos.

Ainda, é importante destacar um importante julgado proferido pelo STF (STF. 1ª Turma.
Ext. 1.462/DF), que diz que o brasileiro titular de green card que optar por adquirir a
nacionalidade norte-americana irá perder a nacionalidade brasileira e, portanto, poderá ser
extraditado pelo Brasil. Aqui não se aplica a disposição referente à dupla nacionalidade.

Por fim, cumpre destacar que a Constituição estabelece os símbolos da República


Federativa do Brasil, sendo eles a bandeira, o hino, as armas e o selo nacional (art.13, §
1º, CR/88). Entretanto, é autorizado que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
tenham símbolos próprios, não sendo necessário que haja simetria com os símbolos
federais.

Mapa Mental

Brasileiro

Nato Naturalizado

Cargos
Privativos

Ministro
Presidente Presidente Presidente Ministro Carreira Oficial da
e Vice da Câmara do senado do STF Diplomática das defesa
forças
armadas
Referências bibliográficas
FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Controle de Constitucionalidade e seus efeitos.
Salvador. Editora Juspodvim, 2018.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo. Saraiva
Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
9. Direitos Políticos
Sabe-se que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
ou diretamente nos termos do art. 1º, parágrafo único, da Constituição da República de 1988.
Assim, os indivíduos têm direito de participação na formação da vontade política do Estado
e está prerrogativa é assegurada através dos direitos políticos. O tema tem sido cobrado
reiteradamente pela FGV/OAB. Para a prova é importante a memorização: a) dos limites de
idade de cada cargo eletivo (art. 14, §3º, VI); b) das hipóteses de inelegibilidade previstas na
Constituição (art. 14, §4º ao §8º); e c) das condições de elegibilidade (art. 14, §3º).

9.1 Conceito

Pedro Lenza conceitua direitos políticos como sendo instrumentos por meio dos quais
é garantida a efetivação da soberania popular (LENZA, 2019, n.p.). Desse modo, há a
atribuição de poderes aos cidadãos para que estes possam interferir na condução da coisa
pública, seja de maneira direta ou indireta. Ainda, André Ramos Tavares aponta que os
direitos políticos podem ser ativos, se referente à capacidade de votar, e passivos, se dizem
respeito ao estudo da elegibilidade, que é o direito de ser votado (RAMOS TAVARES, 2019).

9.2 Da soberania popular, do alistamento eleitoral e da elegibilidade

Conforme exposto, a soberania popular se relaciona com as prerrogativas atribuídas


aos indivíduos para que estes possam interferir na vida pública, seja direta ou indiretamente.
O artigo 14 da CR/88 estabelece hipóteses de exercício da mencionada soberania, sendo:
o sufrágio universal, o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular para projeto de lei e o
voto direto, secreto, universal, periódico e de igual valor para todos.
O alistamento eleitoral está relacionado ao direito político ativo, que diz respeito à
capacidade de votar. O alistamento eleitoral e voto são obrigatórios para os maiores de
dezoito anos e facultativos para os analfabetos, os maiores de setenta anos e os maiores
de dezesseis e menores de dezoito anos (art. 14, § 1º, CR/88). Além disso, há hipóteses em
que a Constituição veda o alistamento eleitoral, já que não poderão se alistar como

62
eleitores os estrangeiros e os conscritos, sendo que, neste caso, a vedação se limita ao
período em que o indivíduo prestar o serviço miliar obrigatório.

A elegibilidade, por sua vez, está relacionada com o direito político passivo, ou seja,
com a capacidade de ser votado. O artigo 14, §3 º, da Constituição Federal estabelece as
condições de elegibilidade, sendo elas:

a) Nacionalidade brasileira;
b) Pleno exercício dos direitos políticos;
c) Alistamento eleitoral;
d) Domicílio eleitoral na circunscrição;
e) Filiação partidária.

Além desses requisitos, para que o indivíduo seja eleito, é necessário que ele respeite
os limites de idade estabelecidos pela Constituição. Em regra, verifica-se a idade do
interessado no ato da posse, exceto no caso do vereador, oportunidade em que a idade
será verificada quando do registro da candidatura. Nesse sentido, o artigo 14, §3 º, IV, da
CR/88, estabelece que a idade será de:

1. 35 anos para Presidente e Vice, e Senador;


2. 30 anos para Governador e Vice dos Estados e do DF;
3. 21 anos para Deputado federal, deputado estadual ou distrital, prefeito e vice, e
juiz de paz
4. 18 anos para vereador.

63
Mapa Mental

Idade

35 anos 30 anos 21 anos 18 anos

Presidente Governador Deputado


Vereador
Federal e
Estadual

Data da Data de
Senador
posse Prefeito e registro da
Vice candidatura

Data da
Posse Data da
Posse

No que se refere à inelegibilidade, a Constituição Federal, em seu artigo 14, elenca


algumas hipóteses que deverão ser observadas. Entretanto, a Lei Complementar poderá
estabelecer outros casos de inelegibilidade, bem como os prazos de sua cessação. A
intenção é garantir a proteção de princípios basilares da Administração Pública, como é o
caso da probidade e da moralidade administrativa. Além disso, leva-se em consideração a
vida pregressa do candidato, a normalidade e a legitimidade das eleições, de modo a evitar
que haja influências nocivas do poder econômico ou abuso do exercício da função.

Sobre as hipóteses de inelegibilidade previstas na Constituição, destaca-se que elas


serão aplicadas aos analfabetos e aos inálistaveis, ou seja, estrangeiros e conscritos.
Ainda, também serão inelegíveis, no território de jurisdição do titular, os cônjuges e os
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau, do presidente da república, do
governador e do prefeito. Essa regra também alcança quem os tenha substituído nos seis
meses anteriores ao pleito, salvo se já titulares de mandato eletivo e estiverem
concorrendo à reeleição.

64
Percebe-se, portanto, que neste último caso a inelegibilidade se restringe ao território
de jurisdição do titular. Desse modo, o cônjuge do governador de Minas Gerais somente
ficará impedido de concorrer às eleições no mencionado Estado, podendo concorrer, por
exemplo, às eleições em São Paulo ou em Goiás. Somente no caso de cônjuge do presidente
da república é que a inelegibilidade será aplicável a todo o país, já que aquele exerce
jurisdição em todos os Estados. Outra observação a ser feita é a de que a inelegibilidade de
quem haja substituído o Chefe do Executivo não será aplicável caso aquele já seja titular de
algum mandato eletivo e esteja concorrendo à reeleição.
Ainda sobre os Chefes do Executivo, ou seja, Presidente da República, Governador e
Prefeito, é importante destacar alguns entendimentos consolidados dos Tribunais
Superiores sobre o assunto. Inicialmente, destaca-se que a inelegibilidade continuará
ainda que haja divórcio durante o mandado eletivo do Chefe do Executivo, sendo que ela
somente se encerra com o óbito de alguma das partes. Ainda, a vedação ao exercício de
três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese
em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado.

Cumpre salientar que os analfabetos possuem uma peculiaridade. Apesar de seu voto
e de seu alistamento serem facultativos, ele será inelegível. Assim, pode-se dizer que os
analfabetos podem votar (embora não sejam obrigados), mas não podem ser votados.

A Constituição Federal veda o que é conhecido como terceiro mandato, de modo que os
Chefes do Poder Executivo somente poderão ser reeleitos para um único período
subsequente. Assim, não poderão exercer mais do que dois mandatos seguidos (art. 14, §
5º, CR/88). A referida regra também é aplicável àqueles os tiverem substituído nos seis
meses anteriores ao pleito.
Além disso, a Carta Magna também prevê que, caso o Presidente, o Governador ou o
Prefeito queiram concorrer a outros cargos, deverão renunciar aos respectivos mandatos
até seis meses antes das eleições. Entretanto, referida norma não se aplica caso eles
estejam concorrendo à reeleição.

Ainda sobre a elegibilidade, cumpre destacar que o militar será elegível desde que
cumpra com os requisitos dispostos no § 8º do artigo 14 da Constituição Federal. Caso tenha
menos de dez anos de serviço, deverá ser afastado da atividade. Todavia, caso tenha mais
de dez anos, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará para a inatividade
no ato da diplomação.

65
Mapa Mental

Alistamento Eleitoral e
Voto

Obrigatório Facultativo Inálistavel

Maiores de 16 e
Maiores de 18 anos Estrangeiros
menores de 18 anos

Maiores de 70 anos Conscritos

Analfabetos

9.3 Direitos políticos: perda, suspensão e impugnação

O mandato eletivo poderá ser impugnado perante a Justiça Eleitoral, mas, para tanto,
deverão ser observados os requisitos constitucionais (art. 14, § 10 e § 11 da CR/88).
Primeiramente, deve-se observar o prazo de quinze dias contado da diplomação, sendo que
os motivos que autorizam essa impugnação se restringem ao abuso de poder econômico,
corrupção ou fraude. Ainda, a referida ação irá tramitar em segredo de justiça, de modo que
é garantido o sigilo durante o seu curso.

A Constituição Federal garante que os direitos políticos não poderão ser cassados.
Entretanto, poderá haver sua perda ou suspensão nos casos de:

1. Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

66
2. Incapacidade civil absoluta;
3. Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
4. Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa;
5. Improbidade administrativa.

A lei que altera o processo eleitoral entrará em vigor na data da sua publicação (art. 16,
CR/88). Entretanto, não será aplicada à eleição que ocorra até um ano após a data da sua
vigência, de modo a garantir o princípio da segurança jurídica.
Por fim, importante destacar o entendimento do Supremo Tribunal Federal de que a
suspensão de direitos políticos em razão da condenação criminal transitada em julgado
(art. 15, III, da CR/88) é autoaplicável, pois trata-se de consequência imediata da sentença
penal condenatória. Além disso, aplica-se tanto para condenados a penas privativas de
liberdade como também a penas restritivas de direitos.

67
Referências bibliográficas

FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Controle de Constitucionalidade e seus efeitos.


Salvador. Editora Juspodvim, 2018.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo.
Saraiva Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.

68
10. Partido Político
Os partidos políticos exercem um papel constitucional de destaque na democracia
brasileira, uma vez que o ordenamento jurídico prevê a filiação partidária como condição
inafastável de elegibilidade (VELLOSO, 2016, n.p.). Para fins de prova, o estudo do presente
material acrescido da leitura atenta do artigo 17 da Constituição de 1988 será suficiente.

10.1. Conceito

José Afonso da Silva, citado por Pedro Lenza, assevera que o partido político é uma “(..)
agremiação de um grupo social que se propõe a organizar, coordenar e instrumentar a
vontade popular com o fim de assumir o poder para realizar o seu programa de governo”
(SILVA, input LENZA, 2019, p. n). Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito
privado que se destinam a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade
do sistema representativo e a garantir a defesa dos direitos fundamentais dos indivíduos (art.
1º, Lei nº. 9.096/95).

10.2. Partido político: registro, autonomia, deveres e cancelamento da


filiação partidária

Inicialmente, o partido adquire sua personalidade jurídica na forma da lei civil (art. 7º,
CR/88), sendo que, posteriormente, promoverá o registro de seu estatuto no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). O mencionado registro do estatuto no TSE garante que o partido
possa participar do processo eleitoral, receber recursos do Fundo Partidário e ter acesso
gratuito ao rádio e à televisão, nos termos fixados nesta Lei. Além disso, assegura-se a
exclusividade da sua denominação, sigla e símbolos, de modo a vedar sua utilização por
outros partidos e, com isso, evitar a indução de erros ou confusões.

Para que possam cumprir seus objetivos, os partidos têm autonomia para definir sua
estrutura interna, organização e funcionamento, de modo que é garantido a liberdade de
criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, desde que haja o respeito à

69
soberania nacional, ao pluripartidarismo e aos direitos fundamentais dos indivíduos (art. 17,
CR/88). Todavia, apesar dessa liberdade, é vedado ao partido político possuir caráter militar
ou paramilitar, bem como utilizar-se de organização da mesma natureza e adotar uniforme
para seus membros.

Ainda, é necessário que haja o preenchimento de alguns requisitos para o funcionamento


dos partidos políticos, quais sejam: a) prestar contas à Justiça Eleitoral, sempre prezando
pela transparência; b) caráter nacional, sendo vedado partidos municipais ou estaduais; c)
proibição do recebimento de recursos financeiros de pessoa jurídica ou governo
estrangeiro, de modo a preservar a soberania nacional; d) comprovação, no período de dois
anos, o apoio de eleitores não filiados a partidos políticos, correspondente a, pelo menos,
0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados na última eleição geral para a Câmara dos
Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou
mais, dos Estados, com um mínimo de 0,1% (um décimo por cento) do eleitorado que haja
votado em cada um deles

A Lei número 9.096/95, que regulamenta os partidos políticos no Brasil, em seu artigo
22, dispõe sobre as hipóteses em que haverá o cancelamento imediato da filiação
partidária, sendo elas: a) morte; b) perda dos direitos políticos; c) expulsão; d) outras formas
previstas no estatuto, com comunicação obrigatória ao atingido no prazo de quarenta e oito
horas da decisão; e) filiação a outro partido, desde que a pessoa comunique o fato ao juiz da
respectiva Zona Eleitoral. Ainda, havendo coexistência de filiações partidárias, prevalecerá
a mais recente, devendo a Justiça Eleitoral determinar o cancelamento das demais.

70
Mapa Mental

Cancelamento imediato da
filiação partidária
Outras
Filiação a
Perda dos formas
outro
Morte Direitos Expulsão previstas
partido
Políticos no
político
Estatuto

71
A mencionada lei ainda destaca que somente poderá filiar-se a partidos o eleitor que
estiver no pleno gozo de seus direitos políticos, sendo que, para desligar-se, o filiado
deverá fazer comunicação escrita ao órgão de direção municipal e ao Juiz Eleitoral da
Zona em que for inscrito. Cuidado para não confundir, pois, apesar de o partido político ter
caráter nacional, ele terá órgão de direção municipal, de modo que caberá a este último a
análise dos pedidos de desligamento do partido, dentre outras atribuições.

Cumpre destacar um importante entendimento do Supremo Tribunal Federal, que dispõe


sobre a impossibilidade de intervenção de partido político como amicus curiae em
processo criminal de seu filiado. Desse modo, caso um deputado federal esteja
respondendo a ação penal diante do STF pela suposta prática de crime de peculato, o
partido político a que pertence esse candidato não poderá intervir como amicus curie
no caso, pois, caso houvesse essa atuação, o partido estaria, na verdade, ingressando
na posição de parte interessada, o que desvirtuaria a intenção pretendida pelo amicus.

10.3. Coligações partidárias e fidelidade partidária

A coligação é a prerrogativa jurídica do partido político em formar aliança com outros


partidos com objetivo de disputa eleitoral (LENZA, 2019, n.p.). A Emenda Constitucional de
97/2017 alterou o artigo 17, §1º, da Constituição, para proibir as coligações partidárias nas
eleições proporcionais (deputados federais, estaduais, distritais e vereadores) a partir de
2020. No entanto, o partido tem autonomia para definir as suas coligações nas eleições
majoritárias (presidente, governador, prefeito e senador).

A Constituição também vedou a exigência de verticalização das coligações


partidárias ao dispor sobre a não obrigatoriedade de “vinculação entre as candidaturas em
âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal” (art. 17, §1º, CR).

O artigo 17, §1º, da CR dispõe que os estatutos dos partidos políticos devem “estabelecer
normas de disciplina e fidelidade partidária”. O STF já definiu que a fidelidade partidária deve
ser respeitada em relação aos candidatos eleitos pelo sistema proporcional. Assim, aquele
que mudar de partido sem justa causa perderá o cargo eletivo (LENZA, 2019, n.p.). Ressalta-
se que, segundo o próprio STF, essa regra não se aplica ao sistema majoritário.

72
A minirreforma eleitoral de 2015 (Lei nº 13.165/2015) passou a prever expressamente as
hipóteses de justa causa da desfiliação partidária:

1. Mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário;


2. Grave discriminação política pessoal;
3. Mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede o prazo
de filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao
término do mandato vigente.
Por fim, a Emenda Constitucional 97/2017 incluiu o §5º do art. 17 da Constituição para
prever uma possibilidade de “janela partidária” constitucional que autoriza o candidato eleito
a filiar a outro partido, sem perda do mandato (LENZA, 2019, n.p.). Caso um indivíduo seja
eleito por algum partido que não preencha os requisitos supramencionados, aquele terá a
faculdade de ter garantido o seu mandato, desde que ele se filie a algum outro partido que
tenha cumprido com os requisitos constitucionais e legais para a sua criação. Entretanto,
essa filiação não será considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo partidário
e acesso gratuito ao rádio e televisão.

73
Mapa Mental

Partidos Políticos
Preceitos
Liberdade
de Soberania Regime Direitos
organização Nacional democrático Fundamentais
partidária

Proibição de
recebimento de
recursos ou Caráter Prestação Funcionamento
subordinação a
entidades e nacional de contas parlamentar
estados
estrangeiros

74
Referências bibliográficas

FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Controle de Constitucionalidade e seus efeitos.


Salvador. Editora Juspodvim, 2018.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo.
Saraiva Educação,2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.
VELLOSO, Carlos Mário da; AGRA, Walber de Moura. Elementos de direito eleitoral.
5ª. edição. São Paulo: Saraiva, 2016.

75
11. Organização Político Administrativa do Estado

A Constituição da República de 1988 organiza o Estado Brasileiro ao definir e


regulamentar a forma de estado, a forma de governo e o sistema de governo. Os Capítulos do
I ao V, do Título III da Constituição, tratam especificamente sobre a organização político-
administrativa ao dispor sobre as competências, organização e bens dos entes federativos.
A matéria é muito cobrada nas provas de Direito Constitucional da OAB e merece uma
atenção especial do (a) aluno (a). É importante o estudante dominar as principais
características do federalismo brasileiro e memorizar as regras de repartição de
competências previstas na Constituição.

11.1. Conceito

Dalmo de Abreu Dallari, citado por Pedro Lenza, define Estado como sendo: “a ordem
jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado
território” (DALLARI input LENZA, 2019). Dentro desse conceito, podemos extrair os
elementos integrantes do Estado, quais sejam: soberania, finalidade, povo e território.
O Estado Brasileiro pode ser analisado sob diferentes aspectos. No que se refere à forma
de governo, adotou-se a república (em contraposição à monarquia); quanto à forma de
estado, o Brasil é caracterizado por ser uma federação (em contraposição ao Estado
unitário); no que se refere ao sistema de governo, adotou-se o presidencialismo (em
contraposição ao parlamentarismo).

No que se refere à Federação brasileira, Pedro Lenza cita o artigo 1º, caput, da CR/88,
que assevera que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos
Estados, Municípios e Distrito Federal, constituindo-se em Estado Democrático de Direito
(LENZA, 2019). Ainda, o artigo 18 da Carta Magna afirma que: “a organização política-
administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição”.

A mencionada autonomia é dividida em política (elaborar suas próprias constituições


estaduais ou leis orgânicas municipais, etc.), administrativa (promover licitações e
concursos públicos, etc.), financeira (elaborar o projeto de lei referente ao seu orçamento,
etc.).

76
Como características da federação brasileira, Pedro Lenza (2019, n.p.) cita:

a. Descentralização politica, de modo a dar autonomia para os entes que compõe a


federação;
b. repartição de competências;
c. constituição rígida;
d. impossibilidade do direito de secessão, de modo que é inviável a separação entre os
entes, já que predomina o princípio da indissolubilidade do vínculo federativo;
e. possibilidade excepcional de intervenção para garantir a ordem;
f. repartição de receitas tributárias

Salienta-se, ainda, que a forma federativa de Estado é cláusula pétrea, ou seja, não
pode ser suprimida nem mesmo por emenda constitucional. É o que dispõe o artigo 60, § 4º,
CR/88: “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: inciso I - a
forma federativa de Estado”.

Mapa Mental

Brasil

Forma Sistema

Governo Estado Governo

República Federação Presidencialismo

77
11.2. Competência Legislativa e Competência Administrativa

A competência se divide em legislativa e administrativa. A primeira pode ser privativa


de cada ente ou concorrente entre União, Estados e Distrito Federal, não incluindo os
Municípios

(art. 24, CR/88), que, apesar de não estarem expressos nessa competência, podem legislar
sobre assuntos locais (art. 30, CR/88). A segunda, também conhecida como material, pode
ser exclusiva de cada ou comum entre os entes federativos e, aqui, diferentemente da
competência legislativa, está expresso o Município (art. 23, CR/88). Atenção porque as
provas cobram as palavras chaves, de modo que concorrente sempre se relaciona com
competência legislativa, e comum sempre se relaciona com competência administrativa
ou material.
Sobre a delegabilidade, ou não, de uma competência basta pensar que a competência
administrativa é “exclusiva” e “indelegável”, de modo que, em ambos os casos, as palavras
se iniciam com uma vogal. Por outro lado, a competência legislativa é “privativa” e
“delegável”, de modo que, em ambas as situações, se inicia a palavra com uma consoante.

No presente tópico serão tratadas as competências concorrente (legislativa) e comum


(administrativa). Já as competências privativas (legislativas) e exclusivas (materiais)
serão tratadas no tópico específico sobre cada um dos entes federados. Como todas essas
competências estão previstas na Constituição Federal, o presente material não irá transcrevê-
las em sua integralidade, para não ficar um material extenso e repetitivo. Assim, será
priorizado o destaque daquelas competências mais cobradas nas provas e nos concursos
públicos, de modo que o aluno deverá fazer uma leitura atenta dos artigos 18 a 36 da
Constituição Federal.
A competência legislativa concorrente, prevista no art. 24 da CR/88, conforme visto,
se restringe à União, ao Estado e ao Distrito Federal, não abrangido expressamente o
Município. No que diz respeito às matérias passíveis de alterações legislativas, existe um
método mnemônico conhecido por “PUFET”, de modo que será cabível legislar sobre direito
Penitenciário, Urbanístico, Financeiro, Econômico e Tributário.

Importante fazer um paralelo entre a competência concorrente de todos os entes e a


competência privativa da União. No que diz respeito ao processo civil, será de competência
concorrente legislar sobre matéria processual (art. 24, XI, CR/88), enquanto que caberá

78
somente à União legislar sobre direito processual (art. 22, I, CR/88). No mesmo sentido,
caberá concorrentemente aos entes legislarem sobre previdência social (art. 24, XII,
CR/88), enquanto que caberá à União legislar privativamente sobre a seguridade social (art.
22, XXIII, CR/88), que é mais ampla, já que abrange saúde, assistência e previdência social.
Ainda, será cabível quando o assunto for: a) orçamento; b) juntas comerciais; c) floresta,
caça, pesca, fauna, flora e proteção ao meio ambiente; d) consumo; e) patrimônio histórico,
cultural, artístico e turístico; f) responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor
e a bens e direitos artísticos, estéticos e históricos; g) juizado especial; h) educação, cultura,
lazer, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa e inovação; i) assistência jurídica e
Defensoria Pública; j) infância e juventude.
No âmbito da competência legislativa concorrente, a União irá se limitar a legislar sobre
normas gerais, de modo que caberá aos Estados e ao Distrito Federal legislarem de
maneira suplementar, de acordo com suas necessidades. Caso inexista lei federal dispondo
sobre normas gerais, os Estados e o Distrito Federal terão competência legislativa plena.
Entretanto, com a superveniência de norma geral federal que seja contrária à lei estadual
ou distrital, estas últimas terão sua eficácia suspensa em razão do advento da lei federal,
não havendo que se falar em revogação (art. 24, § 4 º, CR/88).
Já a competência administrativa comum, diferentemente da competência legislativa,
inclui explicitamente os Municípios (art. 23, CR/88). Os assuntos estão relacionados com
temas que dizem respeito a todos os entes, tais como saúde, proteção aos deficientes e ao
meio ambiente e aos bens de valores históricos, artísticos e paisagísticos. Além disso, visam
assegurar a preservação das florestas, da fauna e da flora, bem como de fomentar atividades
como a agropecuária, o abastecimento alimentar e a implementação de moradias e de
saneamento básico. Ainda, existe a possibilidade de que sejam feitas leis complementares
para a fixação de cooperação entre os entes, com o intuito de garantir o desenvolvimento
nacional (art. 23, § único, CR/88).

79
Mapa Mental

Competência

Administrativa ou
Legislativa
Material

Privativo - Exclusiva -
Concorrente Comum
Delegável Indelegável

11.3. A União

A União é um ente federado autônomo que possui personalidade jurídica de direito


púbico, sendo que a Constituição Federal, em seu artigo 20, estabelece os bens da União,
sendo lagos, rios, ilhas fluviais e lacustres que banhem mais de um Estado, que sirvam de
limite com outros países ou que se estendam a territórios estrangeiros. Além disso, incluem
as terras dos índios e as devolutas indispensáveis à defesa da fronteira, bem como as
praias marítimas, ilhas oceânicas e costeiras, salvo as que sejam sede de Municípios. Ainda,
cita- se o mar territorial, os terrenos de marinha, os potenciais de energia hidráulica, os
recursos minerais do subsolo, as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos.

No que se refere à exploração desses bens, é garantido aos Estados, ao Distrito


Federal, aos Municípios e aos órgãos da Administração direta da União a participação no
resultado da exploração de petróleo, de gás natural, de minerais e de recursos hídricos
para fins de geração de energia elétrica. Caso seja inviável a participação direta, garante-
se a compensação financeira por essa exploração (art. 20, § 1 º, CR/88).

À União é assegurada a competência legislativa privativa para tratar de assuntos de


interesse nacional, mas a Constituição garante que o referido ente possa delegar essa
competência para os Estados através de lei complementar (art. 22, § único, CR/88). Existe

80
um método mnemônico conhecido como “CAPACETE DE PIMENTRA” que elenca alguma
das competências legislativas da União, sendo elas:
Sendo elas:

a) Civil (direito);
b) Agrário (direito);
c) Processual (direito);
d) Aeronáutico (direito);
e) Comercia (direito);
f) Eleitoral (direito);
g) Trabalho (direito);
h) Espacial (direito);

i) DEsapropriação;

j) Penal (direito);
k) Informática;
l) Marítimo (direito);
m) Energia;
n) Nacionalidade e naturalização;
o) Trânsito, transporte e telecomunicações;
p) Requisições civis e administrativas;
q) Águas;

As demais competências legislativas privativas da União se relacionam com as suas


competências administrativas e, para evitar repetições, as referidas matérias serão tratadas
no parágrafo seguinte.
No que se refere à competência administrativa ou material da União (art. 21, CR/88),
destaca-se: a) concessão de anistia; b) declarar guerra e paz; c) decretar a intervenção federal
e o estado de sítio e de defesa; d) emitir moeda; e) dar classificação indicativa de diversões
públicas e programas de rádio e de televisão; e) administrar as reservas cambiais, de crédito,
de câmbio, de capitalização, de previdência privada e de seguros; f) explorar diretamente ou
mediante autorização, permissão ou concessão os serviços de telecomunicações,
radiodifusão, energia elétrica e de cursos de água; g) explorar serviços nucleares e exercer
monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento de minérios nucleares; h)

81
organizar e manter os serviços de estatística, geografia, geologia e cartografia; i) elaborar e
executar os planos nacionais e regionais de ordenação do território; m) manter o serviço postal
e o correio aéreo nacional.
Lembrar da diferenciação entre os mnemônicos referentes à competência legislativa
concorrente (“PUFET”) e à competência legislativa privativa da União (“CAPACETE DE
PIMENTRA”).

No que tange à organização dos poderes pela União, é importante fazer algumas
diferenciações. No caso dos Territórios, a União terá plena atuação, uma vez que organizará
e manterá seu poder Judiciário, seu Ministério Público e sua Defensoria Pública. Entretanto,
no caso do Distrito Federal, a competência da União não irá abranger a Defensoria Pública,
já que esta é autônoma. Desse modo, no que se refere ao Distrito Federal, a União irá
organizar e manter o Judiciário, o Ministério Público, o corpo de bombeiro militar e a polícia
civil e militar.

Mapa Mental

A união organizará

Território Distrito Federal

Judiciário Judiciário

Ministério Público Ministério Público

Defensoria Pública Bombeiro

Polícia Cívil

Polícia Militar

82
11.4. Os Estados

Os Estados são entes federados autônomos que possuem personalidade jurídica


de direito púbico, sendo que a Constituição Federal lhes garante o direito de explorar,
diretamente ou mediante concessão, os serviços de gás canalizado, sendo vedada a
edição de medida provisória sobre esse assunto. Percebe-se que houve uma restrição às
concessões, não havendo que se falar em permissão ou autorização nesses casos (art. 25, §
2 º, CR/88). Outra prerrogativa atribuída pela Magna Carta é a possibilidade de os Estados
criarem regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, desde que o
façam através de leis complementares.

No que se refere aos bens dos Estados, destaca-se as águas superficiais, subterrâneas,
fluentes, emergente e em depósito, além das ilhas oceânicas e costeiras que estiverem sob
o seu domínio, ressalvadas as pertencentes à União, aos Municípios ou a terceiros (art. 26,
CR/88). Ainda, garante-se a propriedade das terras devolutas (salvo as necessárias para a
manutenção das fronteiras) e das ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União.
A Constituição Federal garante que os Estados possam incorporar-se entre si,
subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros (art. 18, § 3º, CR/88). Para
tanto, deve-se garantir o plebiscito com a aprovação da população diretamente interessada
e a edição de lei complementar federal editada pelo Congresso Nacional.

Os deputados estaduais terão mandato de quatro anos, sendo seu subsídio fixado
através de lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, tendo como limite máximo 75% do
subsídio dos deputados federais (art. 27, § 2 º, CR/88). Salienta-se que a os subsídios do
Governador, do Vice-Governador e dos Secretários Estaduais também serão fixados por
lei de iniciativa da Assembleia Legislativa.

Por fim, no que se refere à competência legislativa do Estado, este, além de concorrer
com os demais entes (exceto com os Municípios), terá poder para editar normas residuais
tratando sobre os assuntos de interesse do Estado. No que se refere à competência
administrativa ou material, seu poder será comum e dividido entre todos os demais entes,
incluindo os Municípios. Corroborando esse entendimento, cumpre destacar um
julgamento proferido pelo STF, que considerou constitucional a lei estadual que concedeu
ressarcimento de despesas de saúde a magistrados, pois referida competências estaria
dentro da margem de discricionariedade legislativa residual que a Constituição Federal
garantiu aos Estados.

83
11.5. O Distrito Federal e os Territórios

O Distrito Federal é uma pessoa jurídica de direito público interno (art. 41, Código
Civil) que não será dividido em Municípios, já que sua ramificação ocorre através das
chamadas regiões administrativas, também conhecidas como cidades satélites. Será regido
por lei orgânica, que é votada em dois turnos, com interstício mínimo de dez dias e
aprovada por 2/3 da Câmara Legislativa, que a promulgará. Fazendo um paralelo, essa lei
orgânica está para o Distrito Federal assim como a Constituição Estadual está para os
Estados (art. 32, CR/88). No que se refere às competências do Distrito Federal, haverá uma
espécie de acumulação, uma vez que a este serão atribuídas as competências legislativas
atribuídas aos Estados e aos Municípios. A União irá organizar e manter o poder
Judiciário, o Ministério Público, o corpo de bombeiros e as polícias militares e civis do
Distrito Federal, mas não terá ingerência sobre a Defensoria Pública do Distrito Federal, já
que está é autônoma (art. 21, XIII e XIV, CR/88).

O Território, por sua vez, não é um ente federado, sendo uma espécie de autarquia
territorial que integra a União (art, 18, § 2º, CR/88), de modo que sua criação, transformação
ou reintegração ao Estado de origem serão regulamentados por lei complementar.
Diferentemente do que ocorre com o Distrito Federal, o Território poderá ser dividido em
Municípios (art. 33, § 1º CR/88). Ainda, a União irá organizar e manter eventual poder
Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública do Território (art. 21, XIII e XIV, CR/88).

11.6. Os Municípios

Os Municípios são entes federados autônomos que possuem personalidade jurídica


de direito púbico. Sua fiscalização será feita pelo Legislativo Municipal (com o auxílio do
Tribunal de Contas Estadual ou Municipal), mediante controle externo, além do controle
interno feito pelo Executivo Municipal, sendo que as contas dos Municípios ficarão
disponíveis a qualquer contribuinte pelo prazo anual de sessenta dias.

Sobre a mencionada fiscalização, é importante destacar que o parecer prévio emitido


pelo órgão competente sobre as contas do Prefeito somente deixará de prevalecer por
decisão de 2/3 a Câmara Municipal (art. 31, §2 º, CR/88). Apesar de existirem alguns
espalhados pelo país, a Constituição veda que haja a criação de novos Tribunais,
Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.

84
No que se refere aos vereadores, a Constituição Federal dispõe que seu número poderá
variar entre nove (nos Municípios de até quinze mil habitantes) e cinquenta e cinco (nos
Municípios com mais de 8 milhões de habitantes). Além disso, o subsídio dos vereadores irá
variar entre 20% e 75% do subsídio dos deputados estaduais, mudando conforme o número
de habitantes do local (art. 29, VI, CR/88).
Sobre o limite total de despesas, importante fazer uma diferenciação. O total de despesa
com a remuneração dos Vereadores não poderá ultrapassar 5% das receitas do Município.
Por outro lado, o total de despesas com folha de pagamento, incluindo o gasto com o
subsídio dos vereadores, não poderá ultrapassar 70% da receita total da Câmara Municipal.

Por fim, a Constituição Federal garante que os Municípios possam incorporar-se entre
si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros (art. 18, § 4 º, CR/88). Para
tanto, deve haver a edição de lei estadual, além da realização de plebiscito com a aprovação
da população diretamente interessada, desde que respeite o período estabelecido pela Lei
Complementar Federal e se faça o Estudo de Viabilidade Municipal.

Mapa Mental
Total de Despesas

5%
Município
Subsídio de
Vereadores

70%

Folhas de
Câmara Municipal
Pagamento
incluí subsídios de
vereadores

85
A Constituição Federal garante ao Município a prerrogativa de elaboração de sua própria
lei orgânica (art. 29, CR/88), que será votada em dois turnos, com interstício mínimo de
dez dias e aprovação por 2/3 dos membros da Câmara Municipal.

Apesar de o Município não estar expresso no artigo que trata sobre a competência
legislativa concorrente entre os entes, ele poderá legislar sobre assuntos de interesse
local, complementar a legislação federal e estadual, instituir tributos mediante lei e criar
distritos (art. 30, CR/88).

No que se refere à competência material, o Município promoverá o adequado


ordenamento territorial, mediante o planejamento e o controle do uso, do parcelamento e da
ocupação do solo urbano. Ainda, deverá haver a proteção do patrimônio histórico cultural
e a promoção de cooperação técnica financeira com a União e com o Estado para a
implementação de programas de educação infantil, de ensino fundamental e de serviços
de saúde. Por fim, prestará, diretamente ou mediante concessão ou permissão, os
serviços públicos de interesse local, incluindo o de transporte coletivo (art. 30, CR/88).

Mapa Mental

Incorporação, Subdivisão ou Desmembramento

• Plebiscito
• Lei Complementar federal
Estado

• Plebiscito
• Lei Complementar Federal: estabelece o período
• Lei estadual promove a alteração do ente
Município • Estudo de Viabilidade Municipal

86
Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo.
Saraiva Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.

87
12. Administração Pública – Disposições Gerais e Servidores
Públicos

A Administração Pública é objeto específico do Direito Administrativo. No entanto, o


presente material abordará as disposições constitucionais sobre a Administração e seus
servidores a partir do estudo do art.37 ao art. 42 da Constituição da República de 1988.

12. 1. Conceito

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, conceitua Administração


Pública sob dois vieses, quais sejam: orgânico (formal ou subjetivo) e funcional (material ou
objetivo) (MENDES, 2019, n.p.). No primeiro, diz que a “Administração Pública é o conjunto
de todas as entidades criadas para a execução dos serviços públicos ou para o alcance de
objetivos governamentais”. No segundo caso, há um

sentido funcional para designar a própria atividade (função) exercida por aqueles
entes. É o sentido que se depreende do mesmo dispositivo constitucional
quando submete a Administração Pública aos princípios da legalidade,
moralidade, impessoalidade etc. (MENDES, 2019, n.p.)

O presente material irá tratar das principais disposições constitucionais acerca da


Administração Púbica (arts. 37 e 38, CR/88) e dos servidores públicos (arts. 39 a 42, CR/88).
Entretanto, não serão transcritos todos os incisos desses artigos, para não se ter um material
repetitivo, extenso e pouco prático. Por isso, é necessário que, além da leitura do presente
material, o aluno faça uma leitura atenta dos mencionados artigos presentes na Constituição
Federal.

88
12. 2. Disposições Gerais sobre a Administração Pública

O caput do artigo 37 da Constituição da República elenca os princípios aplicáveis à


Administração Pública, sendo utilizado um método mnemônico para gravá-los, conhecido
como “LIMPE”: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência.

Os cargos públicos serão preenchidos por brasileiros e estrangeiros, na forma da lei,


sendo que sua investidura depende de aprovação em concurso público, que terá duração
máxima de dois anos, podendo ser prorrogado por igual período. Durante esse prazo,
aquele aprovado em concurso público será convocado com prioridade sobre os novos
concursados, sendo reservado por lei um percentual de cargos para os deficientes.

O cargo público é o conjunto de atribuições e de responsabilidades previstas na


estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor (art. 1 º, Lei 8.112/90).
Será criado por lei, com denominação própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para
provimento em caráter efetivo (após aprovação em concurso) ou em comissão (de livre
nomeação e exoneração).
As chamadas funções de confiança serão exercidas exclusivamente por servidores
ocupantes de cargo efetivo. Os cargos de comissão, por sua vez, poderão ser preenchidos
por qualquer indivíduo sem relação permanente com o Estado. Ambos se destinam às funções
de direção, chefia e assessoramento. Em situações de necessidade temporária de
excepcional interesse público a lei poderá estabelecer a contratação por tempo
determinado.

Em regra, é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando


houver compatibilidade de horários, nos casos de: a) dois cargos de professor; b) um cargo
de professor e o outro técnico ou científico; c) dois cargos privativos de profissionais da
saúde com profissões regulamentadas. Essa proibição estende-se a empregos e funções
nas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedade de economia mista, suas
subsidiárias e sociedade controladas direta ou indiretamente por essas entidades.

A vedação também é excepcionada pela Constituição nas hipóteses: de um cargo de


vereador com outro cargo, emprego ou função pública (art. 38, III, CR); a de um cargo de
magistrado com outro no magistério (art. 95, parágrafo único, I, CR); e a de um cargo de
membro do Ministério Público com outro no magistério (art. 128, §5º, II, d, CR).

89
É instituído o chamado teto constitucional, que consiste na remuneração máxima que
poderá ser percebida por um servidor público de qualquer dos entes da administração direta
ou de autarquia ou de fundação. Salienta-se que, diferentemente da proibição de
acumulação remunerada de cargos, as empresas públicas e sociedades de economia
mista somente irão se submeter ao teto constitucional caso recebam dinheiro público para
o pagamento de pessoal ou para o custeio geral. A submissão à regra do teto constitucional
também incluirá os detentores de mandato eletivo, além dos aposentados e pensionistas,
sendo essas verbas percebidas cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais
ou de qualquer natureza.

O teto geral é o subsídio do Ministro do Supremo Tribunal Federal, entretanto, poderá


haver outros limites dentro dos entes federados. O subteto do Município corresponde ao
subsídio do Prefeito e o subteto dos Estados e do Distrito Federal variam de acordo com o
poder. Desse modo, no âmbito do executivo, o subteto será o subsídio do Governador, no
âmbito legislativo, será o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais e, no âmbito
judicial, será o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, sendo que este
último subteto se aplica ao Ministério Público, ao Procurador e ao Defensor Público.

Salienta-se que é facultado aos Estados e ao Distrito Federal, mediante emenda à


Constituição Estadual ou à Lei Orgânica Municipal, fixar como limite único o subsídio do
Desembargador do Tribunal de Justiça. Entretanto, a referida regra não irá se aplicar aos
deputados estaduais, distritais e nem aos vereadores, uma vez que possuem regras
próprias.

Cumpre destacar que os vencimentos dos cargos do Legislativo e Judiciário não


poderão ser superiores aos pagos pelo Executivo, sendo vedada a equiparação ou
vinculação de quaisquer espécies remuneratórias. Além disso, salienta-se que os
acréscimos pecuniários percebidos por servidor público não serão computados nem
acumulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores.

A Constituição Federal estabelece que a administração fazendária e seus servidores


fiscais terão precedência sobre os demais setores administrativos na forma da lei, além da
destinação de recursos prioritários para a realização de suas atividades. Essa prerrogativa
é assegurada para garantir autonomia e a não submissão a eventuais ingerências de outros
poderes.

No que se refere aos entes da Administração Indireta, a Constituição dispõe que somente
por lei específica poderá ser criada autarquia. Além disso, será necessário a edição de lei
90
autorizando a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de
fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir suas áreas de atuação.
Ainda, também será necessária a autorização legislativa para a criação de subsidiárias das
mencionadas entidades.
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviço
público responderão pelos danos que seus agentes, nesta qualidade, causarem a terceiros,
não importando se estes são usuários do serviço público (art. 37, §6 º). Esse artigo se refere
à responsabilidade objetiva do Poder Público ou daqueles que o substituem. Sendo assim,
para que o Estado seja condenado a reparar um dano que seu agente promoveu a terceiros,
é desnecessário provar que aquele tenha agido com dolo ou culpa, já que a
responsabilidade é objetiva. No entanto, a análise da culpabilidade do agente público será
necessária para saber se ele terá que responder por regresso perante o Poder Público, pois,
caso tenha agido com dolo ou culpa, terá que ressarcir as despesas efetuadas pelo Estado.

12.3. Servidores Públicos

Quando um servidor público da administração direta, autárquica e fundacional passa


a exercer um mandato, é necessário que sejam observadas algumas regras. Se for um
mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ele ficará afastado do cargo. Caso seja eleito
Prefeito, também ficará afastado do cargo, mas será garantido que o interessado opte por
qual remuneração irá receber. Entretanto, caso seja eleito vereador e caso haja
compatibilidade de horários, haverá acumulação de vantagens, ou seja, ele irá receber
tanto as vantagens do cargo público quanto a remuneração do mandato eletivo, mas, caso
não haja compatibilidade de horários, aplica-se a regra que diz respeito ao Prefeito.

Em todos os casos supramencionados será contado o tempo de serviço para todos os


efeitos legais, exceto para promoção por merecimento. Além disso, para efeito de benefício
previdenciário, os valores durante o período de afastamento serão determinados como se
no exercício estivesse.

Alguns servidores públicos devem ser remunerados mediante subsídio, que é uma
parcela única que veda o acréscimo de qualquer gratificação, adicional ou outra espécie
remuneratória (art. 39, §9 º, CR/88). A referida regra se aplica aos detentores de mandato
eletivo, aos Ministros e Secretários de Estado, aos magistrados, aos membros do

91
Ministério Público, aos conselheiros dos Tribunais de Contas, aos membros da AGU, aos
Defensores Públicos e aos membros das polícias.

No que se refere aos servidores titulares de cargos efetivos na Administração Direta e


nas autarquias e fundações é assegurado regime de previdência próprio, que terá caráter
contributivo e solidário, de modo que irão contribuir o respectivo ente público, os servidores
ativos e inativos e os pensionistas. Os tipos de previdência possíveis são:

1. Invalidez Permanente: que será paga proporcionalmente ao tempo de trabalho,


salvo se ocorrer em razão de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença
grave, contagiosa ou incurável, ocasiões em que se dará integralmente;
2. Compulsória: com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, sendo aos
70 ou 75 anos, caso haja lei complementar neste último caso, não se aplicando
aos cargos em comissão.
3. Voluntária: desde que haja o cumprimento de um tempo mínimo de dez anos de
serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria.
Além disso, deverá cumprir os requisitos de: a) se homem, 60 anos de idade e 35
anos de contribuição e, se mulher, 55 anos de idade e 30 de contribuição; b) 65
anos de idade se homem ou 60 anos de idade se mulher, com proventos
proporcionais ao tempo de contribuição;

Importante destacar que os requisitos de idade e tempo de contribuição serão


reduzidos em cinco anos para o indivíduo que comprove exclusivamente tempo de efetivo
exercício nas funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio.
Ainda, salvo nos casos de aposentadorias decorrentes de cargos acumuláveis, é vedada a
percepção de mais de uma aposentadoria à conta do mencionado regime previdenciário.

É vedado a adoção de requisitos diferenciados para a concessão de aposentadoria, salvo


nos casos previstos em lei complementar que tratem sobre deficientes ou sobre atividades
de risco ou que prejudiquem a saúde e integridade física do indivíduo.

Cumpre destacar que o presente capítulo se restringiu à análise da aposentadoria do


regime próprio dos servidores ocupantes de cargos efetivos da Administração direta,
autárquica e fundacional (art. 40, CR/88). Entretanto, essas regras não se aplicam à
aposentadoria do regime geral de previdência (arts. 201 e 202, CR/88) que é aplicável ao

92
servidor ocupante exclusivamente de cargo em comissão, cargo temporário ou emprego
público.
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desde que instituíam um regime
de previdência complementar para seus servidores titulares de cargo efetivo (art.40, §14,
CR/88), poderão fixar como valor da aposentadoria e da pensão do regime próprio o limite
máximo estabelecido pelo regime geral de previdência. A referida previdência complementar
será instituída por lei de iniciativa do Poder Executivo e por intermédio de entidades fechadas
de previdência complementar, que terão natureza pública e somente irão oferecer aos
participantes os planos de benefício na modalidade contribuição definida.
Os aposentados e pensionistas que participam do regime próprio de previdência não
terão que pagar contribuição sobre os proventos que recebem, exceto se o valor ultrapassar
o limite máximo estabelecido para o regime geral de previdência. Na hipótese de ser um
indivíduo que possua uma doença incapacitante, somente terá que contribuir caso
ultrapasse o dobro do valor máximo do regime geral.
Por fim, cumpre destacar o instituto conhecido como estabilidade, que é garantido ao
servidor ocupante de cargo efetivo em razão de concurso público e que exerça suas
funções efetivamente há mais de três anos. Após a aquisição da estabilidade, o servidor
somente poderá perder o cargo nas hipóteses de: a) sentença judicial transitada em
julgado; b) processo administrativo; c) avaliação periódica de desempenho. Entretanto,
caso uma decisão judicial invalide a demissão do servidor público, será ele reintegrado e o
eventual ocupante do cargo será reconduzido ao cargo de origem sem direito à
indenização, aproveitado em outro cargo ou colocado em disponibilidade. Vale destacar que
o art. 169, §4º, da CR prevê a possibilidade de exoneração de servidor estável na hipótese de
o Poder Público exceder os limites de despesa com pagamento de servidores definidos na
Lei de Responsabilidade Fiscal.

Mapa Mental

93
Geral Ministro do STF

Executivo Governador
Subteto

Desembargador do
Estados e DF Judiciário
TJ
Deputado Estadual
Legislativo
e Distrital

Municípios Prefeito

94
Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo.
Saraiva Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.

95
13.Organização dos Poderes

A Organização dos Poderes inclui o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Cada um


desses temas será abordado em um tópico específico da apostila, de modo que o presente
capítulo irá trazer as disposições gerais sobre o assunto.

13.1. Conceito

A Constituição da República de 1988 estabeleceu o modelo tripartite de repartição do


poder (art. 2º, CR/88), oportunidade em que se estabeleceram os poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário, que convivem de forma harmônica e independente. André Ramos
Tavares explica que essa vinculação do constitucionalismo à separação dos poderes
encontrou sua formulação clássica na Declaração Francesa dos Direitos do Homem de
1789 (TAVARES, 2019, n.p.).

No mesmo sentido, Pedro Lenza assevera que se divide as atribuições do Poder Público
em diferentes poderes com o intuito de preservar a liberdade individual e combater a
concentração do poder, que estava muito presente nos Estados Absolutistas (LENZA,
2019). Ainda, Gilmar Mendes lembra que a separação dos poderes é uma das cláusulas
pétreas (art. 60, §º 4, CR/88) que foi concebida pelo constituinte originário visando garantir
o Estado Democrático de Direito (MENDES, 2019, n.p.).

13.2. A Separação dos Poderes e a Teoria dos Freios e Contrapesos

Montesquieu desenvolveu a teoria da separação dos poderes que visou entender o


funcionamento do Estado moderno, trazendo a ideia de que existem três
poderes harmônicos e independentes entre si, sendo eles o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário. Para que haja essa harmonia, é necessário que haja o respeito às competências
de cada Poder, de forma que um não poderá interferir arbitrariamente na atuação do outro.
Entretanto, caso haja abuso por parte de qualquer um dos Poderes, poderá haver um controle
por parte dos demais, sendo que essa atuação passou a ser chamada de Teoria dos Freios
e Contrapesos, de modo que, apesar de serem autônomos, os poderes devem fiscalizar uns
aos outros para garantir a manutenção do equilíbrio.

96
13.3. Funções típicas e atípicas dos Poderes

Para que possa haver essa dinâmica harmônica entre os Poderes, a Constituição
Federal estabeleceu funções típicas e atípicas para cada um deles.

Assim, o Executivo terá a função típica relacionada à prática de atos de chefia de


estado, de chefia de governo e de atos administração, de forma que exercerá o controle
e a organização da Administração Pública como um todo. Como função legislativa atípica,
existe a expedição de medida provisória e de lei delegada e, como função atípica judiciária,
cita-se o julgamento de processos administrativos.

Por outro lado, como função típica do Legislativo, cita-se a capacidade de legislar e de
editar normas jurídicas. Um exemplo de atuação atípica administrativa, pode-se citar a
gestão de seus bens e a administração de seu pessoal. Ainda, como função atípica
jurisdicional, cita- se o julgamento de autoridades nos crimes de responsabilidade (art. 52,
I e II, CR/88).
Ainda, o Poder Judiciário tem como função típica a atividade de julgar uma lide
resistida, de modo a dar uma solução definitiva a um caso. Já como atuação atípica
legislativa, cita-se a elaboração do Regimento Interno, que visa regulamentar o
funcionamento dos Tribunais. Como função atípica administrativa, cita-se a gestão de seu
pessoal através da realização de concursos públicos, bem como a concessão de férias e de
licença a seus servidores.
Assim, compreender e respeitar a separação dos poderes, bem como coibir seus
excessos, serve para manter o funcionamento do Estado Democrático de Direito e, desse
modo, garantir e respeitar as pluralidades culturais que existem dentro de uma sociedade.
Ainda, é possível utilizar-se de tecnologias que auxiliem na fiscalização desses poderes, de
modo a garantia a sua eficácia.

Mapa Mental

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98
Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo.
Saraiva Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.

99
14. Poder Legislativo

O Poder Legislativo é um dos poderes da União (art. 2º, CF) e o seu estudo é de
fundamental importância para o Direito Constitucional. A matéria está regulamentada no
artigo 44 ao artigo 58 da Constituição. O tema acrescido do tópico específico de Processo
Legislativo (que será tratado em módulo específico) é um dos assuntos mais cobrados na
prova da OAB e merece atenção especial do (a) aluno (a).

14.1. Conceito

O Poder Legislativo é o poder do Estado ao qual, seguindo o princípio da separação dos


poderes, é atribuída a função típica de legislar, embora possua funções atípicas
administrativas e de natureza jurisdicional. Conforme preceitua Pedro Lenza, o poder
legislativo, que é indispensável para a organização administrativa do Estado, é bicameral
no âmbito federal, uma vez que é composto por duas casas: Câmara de Deputados
(representando o povo) e Senado (representando os Estados membros). Entretanto, no
âmbito estadual, distrital e municipal, o referido poder é unicameral, já que é composto por
uma única casa legislativa (LENZA, 2019, n.p.).

14.2. O Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal

O Poder Legislativo federal é exercido pelo Congresso Nacional, que é composto pela
Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal (art. 44, CR/88). Salvo disposição em
contrário, as deliberações de cada Casa e de suas comissões serão tomadas por maioria
dos votos, estando presente a maioria absoluta de seus membros. O Congresso Nacional
possui competências que dependem da sanção do presidente da república (art. 48, CR/88)
e competências exclusivas independentes e autônomas (art. 49, CR/88).

100
O Congresso Nacional poderá dispor sobre todas as matérias de competência da União
(vide o tópico “Organização Político-Administrativa do Estado”), desde que haja a sanção do
presidente da república. Como exemplo, pode-se citar a concessão de anistia, a disposição
sobre sistema tributário, plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual,
operações de crédito e matéria financeira. Ainda, poderá tratar sobre telecomunicação,
radiodifusão, planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento (art. 48,
CR/88). Além disso, poderá dispor sobre a criação e a extinção de Ministérios e órgãos da
administração pública, além da criação, da transformação e da extinção de cargos, empregos
e funções públicas.
No que se refere à competência exclusiva do Congresso Nacional, optou-se por citar
os principais dispositivos do artigo 49 da Constituição Federal. Assim, será competente para:
a) Escolher 2/3 dos membros do Tribunal de Contas da União;
b) Autorizar o presidente da república a declarar guerra e a celebrar paz;
c) Resolver definitivamente sobre Tratados e Acordos Internacionais;
d) Autorizar que forças estrangeiras transitem temporariamente no país;
e) Aprovar a intervenção federal e o estado de defesa e de sítio;
f) Autorizar que o presidente e o vice-presidente se ausentem do país por mais de
quinze dias;
g) Sustar atos normativos do poder executivo que exorbitem o poder regulamentar
ou os limites da delegação legislativa;
h) Fiscalizar e controlar o Poder Executivo, incluindo a Administração Indireta;
i) Autorizar o referendo e convocar o plebiscito;
j) Aprovar as iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares;
k) Autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos
hídricos e pesquisa e lavra de riquezas minerais.
A Câmara dos Deputados é composta por representantes do povo eleitos pelo sistema
proporcional (art. 45, caput, CR/88). O número de deputados federais que irão compor a
Câmara será definido por lei complementar, sendo que o número mínimo é oito e o máximo
é setenta, com exceção dos Territórios, que elegerão quatro deputados. A Câmara possui
algumas competências privativas (art. 51, CR/88), de modo que deverá autorizar, por 2/3
de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente, o Vice-presidente e os
Ministros de Estado. Além disso, elaborará o seu regimento interno, elegerá membros do
Conselho da República e a e fará a tomada de contas do Presidente da república quando
não for apreciada pelo Congresso Nacional no prazo de sessenta dias.

101
O Senado é composto por representantes dos Estados eleitos pelo sistema majoritário,
com a eleição de três senadores com mandato de oito anos, sendo que cada senador é
eleito com dois suplentes (art. 46, CR/88). O artigo 52 da Constituição da república elenca
as competências privativas do Senado Federal, sendo que se optou por elencar aquelas
que são mais cobradas nas provas, de modo que é necessário que o aluno faça uma leitura
atenta do mencionado artigo. Desse modo, compete privativamente ao Senado:

a) Processar e julgar o presidente e o vice-presidente da república nos crimes de


responsabilidade (diferentemente dos crimes comuns, que serão julgados pelo
STF);

b) Processar e julgar os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do


Exército e da Aeronáutica nos crimes de responsabilidade cometidos em
conexão com o presidente e o vice-presidente da república;
c) Processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, do Conselho
Nacional de Justiça, do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador
Geral da República e o Advogado Geral da União nos crimes de
responsabilidade;
d) Aprovar por voto secreto, após arguição pública, a escolha de: Ministros do
Tribunal de Contas da União indicados pelo presidente da república (1/3),
procurador geral da república, presidente e diretor do banco central, etc.;
e) Aprovar, por voto secreto, após arguição secreta, a escolha dos chefes de missão
diplomática permanente;
f) Suspender a execução de lei declarada inconstitucional definitivamente pelo
STF;
g) Aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração do procurador
geral da república;
h) Eleger membros do Conselho da República;

102
Mapa Mental

Sistema Majoritário

Representam os Estados
Congresso Nacional

Senado Federal

3 Senadores por Estado

Mandato de oito anos

Sistema Proporcional

Câmara dos Deputados Representam o Povo

Variam entre 8 e 70
deputados, exceto o
Território, que serão 4

14.3. Os deputados federais e os senadores: imunidades, proibições e


perda do mandato

As imunidades parlamentares são prerrogativas asseguradas aos parlamentares para


que estes possam cumprir com suas funções constitucionais com certa autonomia e
liberdade, sem a interferência ou ingerência dos Poderes Executivo, Legislativo ou
Judiciário. Referidas imunidades subsistirão durante o estado de sítio, somente podendo
ser suspensas pelo voto de 2/3 dos membros da respectiva Casa, nos casos de atos

103
praticados fora do recinto do Congresso Nacional e que sejam incompatíveis com a função.
A imunidade material garante que parlamentares sejam invioláveis civil e penalmente por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos (art. 53, caput, CR/88).

Já a imunidade formal se divide em três, sendo que desde a expedição do diploma os


mencionados parlamentares serão submetidos a julgamento perante o STF. Ressalta-se o
recente entendimento do STF de que as normas que estabelecem prerrogativa de foro devem
ser interpretadas restritivamente para se aplicarem apenas aos crimes cometidos durante o
exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas (AP 937 QO/RJ, Rel. Min.
Roberto Barroso. Julgamento em 03.05.2018).
Além disso, os parlamentares não poderão ser presos, salvo em flagrante delito de
crime inafiançável, sendo que, neste caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro
horas à respectiva Casa para que esta possa deliberar sobre o tema pela maioria de seus
membros (art. 53, §1 º e 2 º, CR/88). Ainda, no caso de cometimento de crime após a
diplomação, a respectiva Casa poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação
perante o STF, devendo esse pedido de sustação ser apreciado em quarenta e cinco dias
improrrogáveis (art. 53, §5 º, CR/88). Neste caso, apesar de o STF poder receber a
denúncia contra o Deputado Federal ou Senador, ele deverá dar ciência à respectiva Casa
para que esta, por iniciativa de partido político e pelo voto da maioria de seus membros,
tenha a prerrogativa de sustar o andamento da ação, de modo que essa sustação do
processo também irá acarretar a suspensão da prescrição, enquanto durar o mandato.
É importante fazer uma distinção que ocorre entre o âmbito federal e municipal. Os
vereadores somente possuirão a imunidade material, não havendo que se falar em
imunidade formal, sendo que o magistrado terá a prerrogativa de afastar o vereador da
função que este ocupa. Ainda, sua imunidade será restrita à circunscrição do Município ao
qual atua e somente ocorrerá caso as suas opiniões, palavras e votos tenham relação com
as funções legislativas que eles exercem.
Sobre o tema, é importante destacar a jurisprudência do STF, que aduz que os
Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades formais previstas para os
parlamentares federais.

Além disso, a Casa Legislativa pode rejeitar a prisão preventiva e as medidas


cautelares impostas pelo Poder Judiciário contra os seus membros, caso a medida
imposta impeça, direta ou indiretamente, que o Parlamentar exerça o seu mandato, de
modo que não haverá violação do princípio da separação dos poderes nesses casos.

104
Desse modo, percebe-se que o Judiciário poderá impor aos parlamentares as medidas
cautelares do art. 319 do Código de Processo Penal. No entanto, a respectiva Casa
legislativa poderá rejeitá-las, como ocorrido esse fato no caso do parlamentar Aécio
Neves.

Mapa Mental

Imunidade Parlamentar
Material Formal
Inviolável suas opiniões,
Após a diplomação
palavras e voto

Julgamento perante o STF

Não são presos, salvo em flagrante


de crime inafiançável, devendo a
casa analisar em 24 horas
Sustação do processo perante o STF
até a decisão final, devendo ser
analisad em 45 dias improrrogáveis
Ainda, os Deputados Federais e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre
informações recebidas em razão do exercício do mandato (art. 53, §6 º, CR/88). Não é uma
imunidade, mas é mais uma prerrogativa constitucional garantida aos parlamentares, que têm
o poder de garantir o sigilo da fonte, de modo que possam atuar com mais liberdade durante
o seu mandato.

A Constituição Federal, em seu artigo 54, estabelece algumas proibições ao parlamentar,


que, desde a expedição do diploma, não poderá: a) manter contrato com pessoa jurídica de

105
direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou
concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas
uniformes; b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os que
sejam demissíveis ad nutum, nas entidades mencionadas anteriormente.

Além disso, não poderão, desde a posse: a) ocupar cargo ou função que seja demissível
ad nutum nas referidas entidades; b) ser proprietário, controladores, diretores ou exerça
função remunerada em empresa que goze de favor decorrente de pessoa jurídica de direito
público; c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades
supramencionadas; d) ser titular de mais de um cargo ou mandato público eletivo.

No que diz respeito à perda do mandado, é necessário fazer uma distinção dos
órgãos competentes para decidir e para aplicar a penalidade (art. 55, CR/88). A perda do
mandato não será automática, uma vez que será decidida pela respectiva Casa, pelo voto
de maioria absoluta de seus membros, mediante provocação da Mesa ou de partido político
com representação no Congresso Nacional, nos seguintes casos:

a) Infringência de qualquer das proibições dispostas no parágrafo anterior (art. 54,


CR/88);
b) Procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar, que abrange
os casos previstos no regimento interno, além do abuso das prerrogativas
parlamentares e percepção de vantagens indevidas;
c) Sofrer condenação criminal transitada em julgado.

Por outro lado, a perda do mandato será automaticamente declarada pela Mesa (e
não mais decidida pela Casa) nas hipóteses de:
a) Deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões
ordinárias da Casa a que pertencer, salvo no caso de licença ou missão
autorizada;
b) Perda ou suspensão de seus direitos políticos;
c) Quando for decretado pela justiça eleitoral.

14.4. As Comissões Parlamentares, as Convocações e as Reuniões

106
O Congresso Nacional possuirá comissões permanentes e temporárias, de modo que
na constituição das Mesas das Comissões é assegurada, tanto quanto possível, a
representação proporcional dos partidos ou blocos parlamentares (art. 58, caput, CR/88).
Dentre as competências das Comissões, pode-se citar a convocação de Ministro de Estado
para prestar informações sobre assuntos previamente determinados, o recebimento de
petições, reclamações, representações ou queixas, além da apreciação e da emissão de
parecer sobre programas de obras e planos nacionais, regionais e setoriais de
desenvolvimento. Ainda, caberá a discussão e votação de projeto de lei que dispensar a
competência do plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa.

As comissões representativas serão aquelas que irão ocorrer durante o recesso (art.
58, §4º, CR/88). Já a comissão parlamentar de inquérito, também conhecidas como CPI,
possui poderes de investigação próprios das autoridades judiciais e será criada pela
Câmara ou pelo Senado, de maneira conjunta ou separada, podendo haver o requerimento
de 1/3 de seus membros para que ocorra essa criação. Importante destacar que as CPI’s
irão apurar fato determinado e terão prazo certo, sendo que suas conclusões, se for o
caso, serão encaminhadas ao Ministério Público para que este promova a responsabilidade
civil ou criminal dos infratores.

A convocação extraordinária poderá ser feita por alguns legitimados desde que
preencha os requisitos previstos nos parágrafos 6 º a 8 º, do artigo 57, da Constituição
Federal. Desse modo, esta poderá ser requerida pelo Presidente do Senado, nas hipóteses
de compromisso e posse do Presidente e Vice-Presidente do país, além da decretação de
estado de defesa ou de intervenção federal ou de pedido de autorização para a decretação
de estado de sítio. Ainda, ela poderá ser feita pelo Presidente da República, pelos
Presidentes da Câmara e do Senado ou por requerimento da maioria dos membros de ambas
as casas, em caso de urgência ou de interesse público relevante, desde que haja aprovação
da maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso Nacional.

Salienta-se que durante a sessão legislativa extraordinária os parlamentares somente


poderão deliberar sobre a matéria para a qual foram convocados, salvo se houver medida
provisória em vigor na data da convocação, oportunidade em que a sua discussão será
automaticamente incluída na sessão. Ainda, é importante destacar que é vedado o
pagamento de parcela indenizatória em razão de tal convocação.

As reuniões irão ocorrer entre os dias 02 de fevereiro e 17 de julho e 01 de agosto a 22


de dezembro, sendo que a sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do

107
projeto de lei de diretrizes orçamentárias (art. 57, CR/88). Haverá sessão conjunta para
inaugurar a sessão legislativa, para receber o compromisso do Presidente e do Vice-
presidente, para conhecer e deliberar sobre o veto e para elaborar o regimento interno
comum. No que se refere às convocações, a Câmara, o Senado federal ou qualquer uma
de suas comissões poderão convocar Ministros de Estado ou titulares de órgãos
subordinados à Presidência da República para prestarem, pessoalmente, informações
sobre assuntos previamente determinados, sob pena de crime de responsabilidade (art.
50, CR/88). Entretanto, essa convocação não atinge o presidente e o vice-presidente da
república.

Mapa Mental

108
Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Pulo.
Saraiva Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.

109
15. Processo Legislativo
O processo legislativo é um conjunto de regras procedimentais que têm
previsão constitucional e serve para a elaboração das espécies normativas (LENZA,
2019, n.p.). O processo legislativo constitucional está regulamentado nos artigos 59 ao 69
da Constituição de 1988 e compreende a elaboração de emendas à constituição, de leis
ordinárias, de leis complementares, de leis delegadas, de medidas provisórias, de
decretos legislativos e de resoluções.

15.1. Conceito

André Ramos Tavares, citando Nelson de Souza Sampaio, conceitua o processo


legislativo sob dois sentidos: o sociológico e o jurídico. Sociologicamente, o processo
legislativo “refere- se ao conjunto de fatores reais ou fáticos que põe em movimento os
legisladores e ao modo como eles costumam proceder ao realizar a tarefa legislativa.”. Já no
sentido jurídico, insere- se no conceito amplo do Direito Processual, sendo que “o direito
regula a sua própria criação, estabelecendo as normas que presidem a produção de outras
normas, sejam normas gerais ou individuais” (TAVARES, 2019, n.p). O processo legislativo,
seria, em última análise, o processo pelo qual ocorre a criação das leis (em sentido amplo).
Gilmar Mendes afirma que o processo legislativo terá início quando o órgão competente
toma a iniciativa de apresentar uma proposta de criação de um novo direito, sendo que o
projeto de lei terá início na Câmara dos Deputados, salvo nas hipóteses de iniciativa do
Senado ou de comissão do Senado (MENDES, 2019, n.p.).

15.2. Da Emenda à Constituição

No Brasil têm-se uma Constituição rígida que exige requisitos específicos para que
possa ser alterada via emenda, tendo limitações circunstanciais, formais e materiais.
Primeiramente, não poderá ocorrer essa alteração durante a vigência de intervenção federal
ou de estado de defesa ou de sítio (limitação circunstancial). Além disso, é necessário que
se observe a iniciativa, já que somente poderá haver emenda à Constituição Federal mediante
(art. 60, CR/88) proposta de (limitação formal):

110
a) 1/3, no mínimo, dos membros da Câmara ou do Senado Federal;
b) do Presidente da República;

c) de mais da metade dos membros das Assembleias Legislativos das


unidades da federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria
relativa de seus membros.
Ainda, é necessário que seja observado um quórum específico para que haja essa
alteração do texto constitucional, de modo que a proposta será discutida e votada em cada
uma das Casas do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se
obtiver, em ambos, um mínimo de 3/5 dos votos dos parlamentares (limitação formal). A
promulgação das emendas constitucionais, diferentemente do que ocorre com as leis
ordinárias, se dará através das Mesas da Câmara e do Senado, com o respectivo número
de ordem (art. 60, §2º e 3º, CR/88).
A matéria constante em proposta de emenda constitucional que tenha sido rejeitada
ou considerada prejudicada não poderá ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa. Nesse caso, o interessado deverá aguardar a próxima sessão legislativa para que
possa propor novamente o projeto de emenda constitucional (art. 60, § 5 º, CR/88), sendo que
essa mesma regra se aplica às medidas provisórias (art. 62, § 10 º, CR/88). Entretanto,
essa regra não se aplica no caso de leis ordinárias (art. 67, CR/88), uma vez que estas
poderão ser propostas novamente na mesma sessão legislativa, ainda que tenham sido
rejeitadas ou consideradas prejudicadas.

Por fim, cumpre destacar as seguintes cláusulas pétreas - que são limitações
materiais ao poder de reforma constitucional:

a) Forma federativa de estado;


b) Separação dos Poderes;
c) Direitos e Garantias individuais;
d) Voto direto, secreto, universal e periódico,

Assim, as cláusulas pétreas são matérias insuscetíveis de serem suprimidas ou


reduzidas, não podendo ser objeto de deliberação de proposta de emenda constitucional
tendente a aboli-las (art. 60, § 4 º, CR/88).

15.3. Das Leis Ordinárias e Complementares


111
A iniciativa de leis complementares e de leis ordinárias são as mesmas (art. 61, caput,
CR/88), de modo que poderão ser propostas por:
a) Qualquer membro ou comissão da Câmara, do Senado ou do Congresso;
b) Presidente da República;
c) Supremo Tribunal Federal;
d) Tribunais Superiores;
e) Procurador Geral da República;
f) Cidadão, nos casos previstos na Constituição Federal.

Apesar de haver essas iniciativas alternativas, a Constituição previu casos em que o


projeto de lei será de iniciativa privativa do Presidente da República, como na criação
de cargos, de funções ou de empregos públicos, além de matérias relacionadas ao aumento
da remuneração do pessoal no âmbito da Administração Direta ou Autárquica. No âmbito
dos Territórios e da União, será privativa a iniciativa legislativa referente à sua organização
administrativa, judiciária, tributária, orçamentária e que trate de serviços públicos e do pessoal
da sua administração. Ainda, destacam-se as matérias referentes à organização do Ministério
Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização
do Ministério Público e da Defensoria pública dos Estados, do Distrito Federal e
dos Territórios. Além disso, cumpre ao Presidente da República elaborar o projeto de lei que
verse sobre a criação e a extinção de Ministérios e órgãos da Administração pública,
observado o disposto no art. 84, VI, CR/88. Por fim, cita-se as matérias relacionadas aos
militares das Forças Armadas, incluindo seu regime jurídico, seu provimento de cargos, sua
promoção, sua estabilidade e sua remuneração.

A diferença entre a lei ordinária e a lei complementar é que esta precisa do quórum de
maioria absoluta para aprovação e, para aquela, basta maioria relativa (art. 69 e 47 da
CR/88, respectivamente). Entretanto, é importante ressaltar que não existe hierarquia entre
esses tipos normativos, de modo que a diferença reside na matéria tratada por cada uma, já
que a lei complementar trata das matérias específicas dispostas na Constituição Federal,
enquanto que, à lei ordinária, incumbe tratar das matérias residuais.

Os projetos de lei de iniciativa do Presidente de República, do STF e dos Tribunais


Superiores serão analisados inicialmente pela Câmara dos Deputados e somente depois
passarão pelo crivo do Senado.

122
No que se refere ao projeto de lei, a Casa Revisora poderá: a) aprová-lo, ocasião em
que este será encaminhado à sanção ou à promulgação, sendo que, caso seja aprovado
por uma Casa, será revisto pela outra em um só turno de discussão e de votação; b)
emendá- lo, ocasião em que o projeto voltará à Casa Iniciadora; c) rejeitá-lo, oportunidade
em que ocorrerá o seu arquivamento (art. 65, CR/88).

A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente
da República, que poderá sancioná-lo ou vetá-lo no prazo de quinze dias úteis, caso o
considere inconstitucional ou contrário ao interesse público (art. 66, CR/88). Posteriormente,
comunicará as razões do veto, em quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado.
Importante destacar que o silêncio importa em sanção e o veto poderá ser parcial, desde
que abranja texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea, não podendo
abranger somente palavras (art. 66, § 2 º e 3 º, CR/88).

Ainda sobre o veto, cumpre destacar que este será apreciado em trinta dias, em sessão
conjunta, somente podendo ser rejeitado pela maioria absoluta dos Deputados Federais
e dos Senadores. Caso haja a rejeição do veto, o Presidente da República não poderá
discordar e deverá promulgar a lei dentro de quarenta e oito horas, sob pena de ser
promulgada pelo Presidente do Senado nesse mesmo prazo e, caso este também não o
faça, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo (art. 66 §º 4, 5 º e 7 º, CR/88).

Ainda, cumpre destacar que o Presidente da República tem a prerrogativa de requerer


urgência para a apreciação do projeto de lei de sua iniciativa. Caso este não seja analisado
dentro do prazo de quarenta e cinco dias, irão suspender todas as demais deliberações
legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazos constitucionalmente
previstos (art. 64, § 3 º, CR/88). Caso, o Senado faça alguma emenda ao projeto elaborado
pela Câmara, esta terá o prazo de dez dias para analisá-la, sendo que esses prazos não
irão ocorrer durante o recesso legislativo (art. 64, § 1 º e 3 º, CR/88).

Diferentemente do que ocorre no caso da emenda constitucional (art. 60, § 5 º, CR/88) e


da lei complementar (art. 62, § 10 º, CR/88), caso um projeto de lei tenha sido rejeitado ou
considerado prejudicado, poderá ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa (art. 67, CR/88).

15.4. Das Leis Delegadas

123
As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que solicitará a
autorização ao Congresso Nacional (art. 68, caput, CR/88). Entretanto, não será cabível a
edição de leis delegadas que versem sobre:

a) Nacionalidade e cidadania;
b) Direitos políticos, eleitorais e individuais;
c) Organização do Poder Judiciário e do Ministério Público;
d) Planos Plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos;
e) Atos de competência exclusiva do Congresso Nacional e os de competência
privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal.

É importante destacar que a delegação conferida pelo Congresso Nacional ao


Presidente da República se dará através de resolução, que irá especificar o seu conteúdo
e os termos de seu exercício (art. 68, § 2 º, CR/88). Por fim, insta salientar que o Congresso
Nacional, em regra, não irá exercer controle antes da edição da lei delegada, mas, caso a
resolução determine a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este deverá fazê-
lo em votação única, sendo vedado qualquer emenda.

15.5. Das Medidas Provisórias

As medidas provisórias estão dentro da competência atípica legislativa do Poder


Executivo, de modo que incumbe ao Presidente da República editá-las com força de lei,
devendo submetê-la imediatamente à apreciação do Congresso Nacional (art. 62, CR/88),
tendo sua votação iniciada na Câmara dos Deputados. Sua edição deverá ser precedida de
algum motivo relevante e urgente, de modo que não poderá haver a edição de medida
provisória versando sobre as seguintes matérias:

a) Nacionalidade, cidadania, e partidos políticos;


b) Direito: político, eleitoral, penal, processual penal e processual civil;
c) Organização do Poder Judiciário e do Ministério Público;
d) Planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamentos, créditos adicionais e
suplementares;
e) Que vise a detenção ou o sequestro de bens, de poupança popular ou de
qualquer outro ativo financeiro;
f) Matéria reservada a lei complementar;

124
g) Matéria já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e
pendente de sanção ou de veto pelo Presidente da República.

Em regra, poderá haver medida provisória que resulte em instituição ou majoração de


impostos (exceto nos casos previstos nos arts. 153, I, II, IV e V e 154, II, CR/88). Nesses
casos, não haverá produção imediata de efeitos, de modo que somente produzirão efeitos
no exercício financeiro seguinte, caso tenha havido sua conversão em lei até o
último dia do exercício em que foi editada. Ainda, importante destacar que não será admitido
o aumento de despesas previstas nos projetos de iniciativa do exclusiva do Presidente da
República (ressalvado o disposto no art. 166, § 3 º e 4 º, CR/88) e nem dos projetos
referentes à organização dos serviços administrativos da Câmara e do Senado.

Por fim, cumpre destacar que, caso seja aprovado o projeto de lei de conversão que
altere o texto original da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até
que seja sancionado ou vetado o projeto. É o que dispõe o art.62, § 12 º, CR/88.
O Congresso Nacional terá o prazo de sessenta dias, prorrogável por igual período,
para disciplinar, através de decreto legislativo, as relações jurídicas decorrentes da medida
provisória. Caso não haja essa conversão, a medida provisória perderá sua eficácia, desde
sua edição, não havendo que se falar em nulidade ou revogação (art. 62, § 3 º, CR/88), sendo
que esse prazo ficará suspenso durante o período de recesso do Congresso.
Quando não for editado o decreto legislativo dentro do prazo de sessenta dias após a
rejeição ou a perda da eficácia da medida provisória, as relações jurídicas constituídas
e decorrentes de atos praticados durante a sua vigência conservar-se-ão por ela regidas
(artigo 62, § 11 º, CR/88).

Além disso, caso a medida provisória não seja apreciada dentro de quarenta e cinco
dias contados da sua publicação, ela entrará em regime de urgência. Isso implicará
na suspensão de todas as demais deliberações legislativas das respectivas Casas até que
haja a votação da matéria constante na medida provisória (art. 62, § 6 º, CR/88).

A análise da medida provisória será feita inicialmente pela comissão mista de


Deputados Federais e Senadores, que emitirão parecer antes de enviá-la para análise, em
sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional. Percebe-
se, portanto, que, primeiramente, haverá uma análise conjunta para, posteriormente, haver
uma análise em separado pela Câmara e pelo Senado (art. 62, § 9 º, CR/88).
Conforme visto no subtópico da emenda constitucional, a matéria constante em medida
provisória que tenha sido rejeitada ou considerada prejudicada não poderá ser objeto de

125
nova proposta na mesma sessão legislativa. Nesse caso, o interessado deverá aguardar a
próxima sessão legislativa para que possa propor novamente o projeto de emenda
constitucional (art. 62, § 5 º e 10 º, CR/88). Todavia, essa regra não se aplica às leis
ordinárias (art. 67, CR/88), que poderão ser propostas novamente na mesma sessão
legislativa ainda que tenham sido rejeitadas ou consideradas prejudicadas.

15.6. Dos Decretos Legislativos e das Resoluções

Conforme preceitua André Ramos Tavares (2019), o decreto legislativo, apesar de


fazer parte do processo legislativo, não foi inserido na Constituição Federal, sendo
disciplinado pelo Regimento Interno do Congresso Nacional. É um ato normativo próprio que
veicula matérias de competência exclusiva do Congresso que estão expressas no artigo 49
da CR/88, incisos I a XXVII.
Por fim, a resolução, como preceitua Pedro Lenza, regulamentará as matérias de
competência privativa da Câmara dos Deputados (art. 51, CR/88), do Senado Federal (art.
53, CR/88) e algumas competências do Congresso Nacional (LENZA, 2019, n.p.).

Mapa Mental

Processo Legislativo
Lei
Complementar, Emenda Decreto Medida
Resolução
Ordinária e Constitucional Legislativo Provisória
Delegada

Proibição

126
Medida Provisória Lei Delegada
•Nacionalidade e Cidadania •Nacionalidade e Cidadania
•Organização do Judiciário e do MP •Organização do Judiciário e do MP
•Direitos Políticos e Eleitorais •Direitos Políticos e Eleitorais
•Plano Plurianual, Diretriz Orçamentária e •Plano Plurianual, Diretriz Orçamentária e
Orçamento Orçamento
•Matéria reservada à Lei Complementar •Matéria reservada à Lei Complementar
•Já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo •Direito Individual
CN e pendente de sanção ou veto •Competência privativa da Câmara e do Senao e
•Detenção ou sequestro de bens de poupança exclusiva do CN
•Direito Penal, CPC, CPP, Partido político

Referências Bibliográficas
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.

127
16. Poder Executivo

A Constituição da República de 1988 adotou o sistema de governo presidencialista, que


foi mantido pelo plebiscito 1993, nos termos do art. 2º do ADCT (LENZA, 2019, n.p.). O Poder
Executivo é regulamentado pelos artigos 76 ao 91 da CF/88.

16.1. Conceito

O Poder Executivo é um dos três poderes do Estado moderno, que foi sugerido por
Montesquieu, na teoria da separação dos poderes. Sobre o tema, Gilmar Mendes afirma
que:

A expressão Poder Executivo tem significado variado. Nela se confundem o


Poder e o governo. Como anota José Afonso da Silva, ora ela exprime a função
ou a atribuição de um Poder (CF, art. 2 º), ora o órgão (cargo e ocupante, CF,
art. 76). (MENDES, 2019)

Sobre as funções do Executivo, Pedro Lenza nos ensina que sua função típica é a
executiva ou administrativa, de modo a materializar a prática de atos de Chefia de Estado,

128
de chefia de Governo e de atos de administração. Já as funções atípicas do executivo
seriam as de legislar, como a edição de medida provisória, ou de julgar um processo
administrativo, como, por exemplo, o julgamento de um recurso administrativo referente à
cobrança de multa de trânsito (LENZA, 2019).

16.2. Do Presidente e do Vice-Presidente da República

Antes de adentrar nos artigos da Constituição Federal acerca do Presidente da


República, cumpre destacar algumas características do presidencialismo que, de acordo
com André Ramos Tavares, consagra a autonomia do Presidente da República diante
do Congresso Nacional, de modo que aquele não necessita deste para que possa se manter
no poder (TAVARES, 2019).

Ainda, o presidente poderá agir como Chefe de Estado, de modo a representar o país em
âmbito internacional e Chefe de Governo, que se relaciona às prerrogativas do presidente
no âmbito da Administração Pública.

A Constituição Federal, em seu artigo 76, estabelece que o Poder Executivo é exercido
pelo Presidente da República, que será auxiliado pelos Ministros de Estado. A eleição do
Presidente importará na do Vice e ocorrerá através do sistema majoritário, sendo eleito
aquele que obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os brancos e os nulos.

Caso nenhum candidato obtenha os votos necessários no primeiro turno, far-se-á nova
eleição em até vinte dias após a proclamação do resultado, sendo eleito, nesse caso, o
candidato que obtiver maioria relativa dos votos. Se antes de realizar o segundo turno
ocorrer morte, desistência ou impedimento de algum dos candidatos, convocar-se-á,
dentre os remanescentes, o de maior votação e, caso haja empate, será convocado o mais
idoso (art. 77, § 2 º a 5 º, CR/88).

O Presidente e o Vice tomarão posse perante o Congresso Nacional, mas, caso não o
façam sem justificativa dentro do período de dez dias, os cargos serão declarados
vagos (art. 78, parágrafo único da CR/88). É importante diferenciar esse prazo com o
previsto no artigo 83 da Carta Magna, que estipula que o Presidente e o Vice precisarão de
autorização do Congresso Nacional para que possam se ausentar do país por período
superior a quinze dias.

129
É importante diferenciar duas situações que podem ocorrer caso o Presidente não esteja
exercendo sua função. Primeiramente, no caso de situações temporárias como o
impedimento, o Presidente será substituído pelo Vice. Por outro lado, caso a situação seja
permanente, como no caso de vacância, o primeiro será sucedido pelo segundo. Caso haja
impedimento ou vacância dos cargos de Presidente e de Vice, serão chamados ao exercício
da presidência sucessivamente: o Presidente da Câmara, o Presidente do Senado e
o Presidente do STF.

Na hipótese de ocorrer vacância dos cargos de Presidente e de Vice-Presidente da


República nos primeiros dois anos de mandato, será feita eleição direta no prazo de
noventa dias depois de aberta a última vaga. Entretanto, caso a vaga ocorra nos últimos
dois anos de mandato, será feita eleição indireta no prazo de trinta dias, sendo que somente
os membros do Congresso Nacional irão eleger o novo Presidente para cumprir o mandato
restante (art. 81, CR/88).

A Constituição Federal, em seu artigo 84, estipulou as competências


privativas do Presidente da República, podendo destacar como principais:

a) Nomear e exonerar Ministros de Estado;


b) Exercer a direção superior da Administração Federal;
c) Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como os
decretos e os regulamentos para a sua fiel execução;
d) Manter relações com os Estados estrangeiros e acreditar seus representantes
diplomáticos;
e) Celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a
referendo do Congresso Nacional;
f) Decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
g) Decretar e executar a intervenção federal;
h) Exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-
los para os cargos que lhes são privativos;
i) Nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal
Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-
Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros
servidores, quando determinado em lei;

130
j) Escolher 1/3 dos membros do Tribunal de Contas da União, sendo que essa
escolha deverá ser aprovada pelo Senado Federal;
k) Convocar e presidir o Conselho da República (além de escolher membros nos
termos do art. 89, VII, CR/88) e o Conselho de Defesa Nacional;
l) Declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso
Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões
legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a
mobilização nacional;
m) Celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;
n) Permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente;
o) Enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes
orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição;
p) Prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a
abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior.

Além dessas competências, existem algumas que o Presidente poderá delegar sua
execução aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral da República e ao Advogado
Geral da União (art. 84, § único, CR/88), sendo elas:

a) Concessão de indulto;
b) Comutação de pena;
c) Prover os cargos públicos federais na forma da lei;
d) A elaboração de decreto autônomo, versando sobre a extinção de funções ou
de cargos públicos vagos, bem como sobre a organização e o funcionamento da
Administração Federal, desde que não implique em aumento de despesa e nem
na criação ou na extinção de órgãos públicos;

Além das hipóteses previstas na Lei número 1.089/50, a Constituição Federal, em seu
artigo 85, elencou alguns casos em que o Presidente da República iria responder pelo
cometimento de crime de responsabilidade. Assim, haverá sua responsabilização sempre
que praticar atos que atentem contra a Constituição, contra a existência da União, contra
a lei orçamentária, contra a segurança interna do país, contra a probidade na
administração e contra o cumprimento das leis e das decisões judiciais. Além disso,

131
haverá crime de responsabilidade sempre que o Presidente atentar contra o livre
exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes
Constitucionais das unidades da Federação.

A Câmara dos Deputados tem a prerrogativa de admitir, por 2/3 de votos, a acusação
contra o Presidente da República, que será julgado pelo Senado no caso de
crimes de responsabilidade ou pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no caso de
crimes comuns (art. 86, CR/88). Ainda, o Presidente ficará suspenso ou afastado de suas
funções, pelo prazo máximo de cento e oitenta dias, após a instauração do processo pelo
Senado, no caso de crimes de responsabilidade ou após haver o recebimento da denúncia
ou da queixa crime pelo STF, no caso de crimes comuns (art. 86, § 1 º e 2 º, CR/88).
Por fim, cumpre destacar que o Presidente da República terá imunidade quanto à prisão,
se distinguindo daquela prevista para os parlamentares (art. 53, CR/88). Desse modo, o
Presidente, durante a vigência do seu mandato, não poderá ser responsabilizado por ato
estranho ao exercício da função (art. 86, § 4 º, CR/88). Por exemplo, se o Presidente comete
uma lesão grave contra sua esposa, ele não poderá ser responsabilizado enquanto durar seu
mandato, pois esse crime não se relaciona com o exercício de sua função. Por outro lado,
caso o Presidente cometa uma lesão grave contra um parlamentar em razão do exercício do
cargo, aquele poderá ser punido durante o mandato. Entretanto, o Presidente não poderá
ser preso nas infrações penais comuns enquanto não sobrevier sentença condenatória
(art. 86, § 3 º, CR/88).

16.3. Dos Ministros de Estado, do Conselho da República e do Conselho


de Defesa Nacional

Os Ministros de Estado irão auxiliar o Presidente da República e serão escolhidos


dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e que estejam em pleno exercício dos seus
direitos políticos (art. 87, caput, CR/88). Dentre suas funções, pode-se citar referendar os
atos e os decretos assinados pelo Presidente da República e exercer a
orientação, a coordenação e a supervisão dos órgãos e das entidades da Administração
Federal.

O Conselho da República é um órgão superior de consulta do Presidente da República


(art. 89, CR/88) e dele participam: Vice Presidente da República, o Presidente do Senado
e da Câmara, os líderes da maioria e da minoria da Câmara e do Senado, o Ministro
da Justiça e seis cidadãos brasileiros natos com mais de trinta e cinco anos de idade,

132
sendo que dois deles serão nomeados pelo Presidente da República, outros dois serão
eleitos pelo Senado e os dois últimos serão eleitos pela Câmara, sendo que todos terão
mandato de três anos, vedada a recondução.

Dentre as competências do Conselho da República, pode-se citar a necessidade de


pronunciamento sobre a intervenção federal, sobre o estado de sítio, sobre o estado de
defesa e sobre questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas.

Já o Conselho de Defesa Nacional (art. 91, CR/88), apesar de também ser um órgão de
consulta do Presidente, tem uma composição diferente do Conselho da República, sendo
composto pelo: Vice-Presidente, Presidente da Câmara e do Senado, Comandante da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica e pelos Ministros de Estado da Defesa, da
Justiça, das Relações Exteriores e do Planejamento.

Dentre as competências do Conselho de Defesa Nacional, pode-se citar a deliberação


acerca de assuntos relacionados à soberania nacional, à defesa do Estado Democrático,
aos casos de guerra e de paz e aos assuntos relacionados à intervenção federal e ao
estado de defesa e de sítio. Ainda, o Conselho irá propor os critérios e as condições de
utilização de áreas indispensáveis à segurança do território e opinar sobre seu efetivo uso,
especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação dos recursos
naturais. Por fim, ele irá estudar e propor o desenvolvimento de atividades que visem
assegurar a independência nacional e a defesa do Estado Democrático de Direito.

Mapa Mental

Presidente – vacância - Eleição

Direta Indireta

90 dias 30 dias

133

Congresso Nacional vota e


População vota e escolhe

Primeiros dois anos de


mandato

Presidente -
Substituição
(Temporário)

1º - Presidente
2º - Presidente do 3º - Ministro do STF
da Câmara
Senado

134
Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.

135
17. Poder Judiciário

O Poder Judiciário tem por função típica a atividade jurisdicional e está regulamentado
nos artigos 92 ao 126 da CF. Sobre o papel constitucional atribuído ao Poder Judiciário,
Gilmar Mendes afirma que a Constituição de 1988 confiou ao Judiciário o papel até então
não outorgado por nenhuma outra Constituição brasileira, de modo a lhe garantir autonomia
institucional, administrativa e financeira para que pudesse cumprir com seus deveres sem
a interferência ou ingerência de nenhum outro poder (MENDES, 2019, n.p.).

17.1. Conceito

O Poder Judiciário é um dos três poderes do Estado Moderno que foi sugerido por
Montesquieu, na teoria da separação dos poderes. De acordo com Pedro Lenza, o referido
poder possui a função típica de realizar a atividade jurisdicional, que é inerente à sua
natureza (LENZA, 2019, n.p.). Também exerce funções atípicas, de natureza legislativa,
como a elaboração do seu regimento interno (art. 96, I, “a”, CR/88) e atípicas, de natureza
administrativa, como decidir sobre a concessão de férias a seus membros (art. 96, I, “f”,
CR/88).

Sobre essa função típica, Pedro Lenza também cita algumas características da
jurisdição, sendo elas (LENZA, 2019, n.p.):
a) a lide (caracterizada por uma pretensão resistida, não havendo consenso quanto
à aplicação do direito ao caso, fazendo-se necessária a intervenção do Judiciário);
b) a inércia (em regra, o Judiciário não pode agir de ofício, devendo haver
provocação para que uma lide seja instaurada); e
c) a definitividade (caracterizada pela coisa julgada proferida no âmbito do
Judiciário).

As disposições comuns aos órgãos integrantes do Judiciário e a sua organização (arts.


92 a 100 da CR/88) serão estudados no tópico “Organização do Judiciário”. No presente
tópico, serão expostas as principais características dos juízos e dos Tribunais que compõem
o país, estando dispostos nos artigos 101 a 126 da CR/88.

136
17.2. Do Supremo Tribunal Federal (STF)

O STF é a instância máxima do Poder Judiciário e tem a função de zelar pelo


cumprimento da Constituição Federal, bem como realizar o controle de
constitucionalidade, que somente é permitido em razão do país possuir uma Constituição
rígida. Sua composição será de onze Ministros, escolhidos dentre os cidadãos com mais de
trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, desde que possuam notável
saber jurídico e reputação ilibada (art. 101, caput, CR/88). Essa nomeação será feita pelo
Presidente da República depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado.

Competirá ao STF julgar originariamente, mediante recurso ordinário ou através de


recurso extraordinário (art. 102, I, II, III, CR/88, respectivamente). Inicialmente, competirá ao
STF julgar originariamente:

a) Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) ou Ação Declaratória de


Constitucionalidade (ADC);
b) Infrações penais comuns: Presidente, Vice-Presidente, membros do Congresso
Nacional, Ministros do STF e Procurador Geral da República;
c) Infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade: Ministros de
Estado, Comandante da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, salvo se
cometerem crime de responsabilidade conexo com o Presidente, ocasião em que
serão julgados pelo Senado (art.52, I, CR/88), os membros dos Tribunais
Superiores, do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de
caráter permanente;
d) O litígio entre Estado Estrangeiro ou Organismo Internacional e a União, o Estado,
o
Distrito Federal ou o Território;

e) A reclamação para a preservação da sua competência, a revisão criminal e a


ação rescisória dos seus julgados;
f) Ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente
interessados, bem como nas ações em que mais da metade dos membros do
Tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente
interessados;
g) A extradição solicitada por Estado Estrangeiro;
h) Conflito de competência entre o STJ e quaisquer Tribunais ou entre Tribunais

137
Superiores ou entre estes e qualquer outro Tribunal;
i) Conflito entre a União e os Estado, ou entre a União e o Distrito Federa ou entre
uns e outros, incluindo sua Administração Indireta;
j) Ações contra o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e contra o Conselho Nacional
do Ministério Público (CNMP);
k) O mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for
atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas,
do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio
STF;

l) O mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da


República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do
Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio STF;
m) O habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou
o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente
à jurisdição do STF, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única
instância;
n) O habeas corpus, sendo paciente o Presidente da República, o Vice-Presidente
da República, os membros do Congresso Nacional, os Ministros do STF, o
Procurador Geral da República, os Ministros de Estado, os membros dos Tribunais
Superiores, os membros do Tribunal de Contras da União, os chefes de missão
diplomática de caráter permanente e os Ministros da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica.

Ainda, o STF julgará, mediante recurso ordinário, as questões relacionadas ao crime


político e com o julgamento de habeas corpus, de mandado de segurança, de habeas
data e de mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores,
se denegatória a decisão. É o que dispõe o artigo 102, II, da Constituição Federal.

É importante destacar que as mencionadas ações constitucionais (habeas corpus,


habeas data, mandado de segurança e mandado de injunção) poderão ser analisadas pelo
STF tanto na sua competência originária quanto na sua competência via recurso ordinário.
Por isso é importante que o aluno leia os artigos destacados no presente material, de modo
a facilitar a sedimentação do seu conhecimento.

138
Além disso, o STF julgará, em recurso extraordinário, as causas decididas em única ou
última instância, quando a decisão recorrida (art. 102, III, CR/88):

a) Contrariar dispositivo desta Constituição;


b) Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição;
d) Julgar válida lei local contestada em face de lei federal. Diferentemente de julgar
válido ato de governo local contestado em face de lei federal, pois, neste caso,
a competência será do STJ mediante recurso especial (art.105, III, “b”, CR/88).

No recurso extraordinário, o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral


das questões discutidas, de modo que o Tribunal somente poderá recusá-lo por
manifestação de 2/3 de seus membros (art. 102, § 3 º, CR/88). É importante destacar a
diferença existente entre o recurso ordinário, que exige que a demanda seja decidida em
única instância, e o recurso extraordinário, que permite que essa decisão ocorra em única
ou última instância.
Por fim, caberá ao STF a edição, a revisão e o cancelamento de súmula vinculante
através do voto de 2/3 de seus membros, desde que haja reiteradas decisões sobre matéria
constitucional. Após a sua edição, a súmula vinculará os demais órgãos do Judiciário e
da Administração Pública Direta e Indireta (art. 103-A, CR/88). O Poder Legislativo, na sua
função típica de legislar, não irá se submeter à súmula vinculante, mas, na sua função atípica
administrativa, estará vinculado àquela e, caso haja o desrespeito ao enunciado de uma
súmula vinculante, caberá reclamação constitucional ao STF.

17.3. Do Superior Tribunal de Justiça (STJ)

O STJ terá sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional, sendo
composto de, no mínimo, trinta e três Ministros, que serão nomeados pelo Presidente da
República dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos,
desde que tenha notável saber jurídico e reputação ilibada. Para tanto, deverá haver
aprovação da escolha pela maioria absoluta do Senado (art. 104, caput, CR/88).

Aqui não se aplica a regra do quinto constitucional (art. 94, CR/88), mas a Constituição
estabelece que 1/3 dos membros do STJ será composto por integrantes do Tribunal Regional

139
Federal (TRF) e 1/3 por integrantes dos Tribunais de Justiça (TJ), indicados em lista tríplice
elaborada pelo próprio Tribunal. Além disso, 1/3, em partes iguais, será ocupado por
advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e
Territórios, alternadamente, indicados na forma do art. 94.
No que se refere ao julgamento e ao processamento de decisões judiciais, o STJ terá
competência originária e competência recursal, sendo esta dividida em recurso ordinário
e especial (art. 105, I, II, e III, CR/88). Desse modo, competirá ao STJ julgar,
originariamente:

a) Nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nos


crimes comuns e nos de responsabilidade, os desembargadores dos TJs dos
Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos
Estados e do Distrito Federal, dos TRFs, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do
Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e
os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;
b) Os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvados os casos de
competência do STF, que estão dispostos no art. 102, I, "o";
c) A reclamação para a preservação de sua competência, bem como as revisões
criminais e as ações rescisórias de seus julgados;
d) Os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da
União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro
ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da União;
e) A homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às
cartas rogatórias;
f) O mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for
atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou
indireta, excetuados os casos de competência do STF e dos órgãos da Justiça
Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;
g) Os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado,
dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio
Tribunal;
h) Os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas
mencionadas na alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua

140
jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da
Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

É importante fazer uma comparação no que diz respeito aos Ministros de Estado e aos
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Eles serão julgados no Senado,
quando praticarem crime de responsabilidade em conexão com o Presidente da República
(art. 52, I, CR/88). Ainda, serão julgados originariamente perante o STF (art. 101, I, “c”, CR/88)
nos crimes comuns e nos de responsabilidade (salvo se conexos com o Presidente da
República), cabendo também a este Tribunal o julgamento do habeas corpus quando alguma
dessas autoridades for paciente e sofrer constrangimento à sua liberdade de locomoção (art.
101, I, “d”, CR/88). Diferentemente, caberá ao STJ o julgamento do habeas corpus, do
mandado de segurança e do habeas data quando alguma dessas autoridades seja coatora
do ato ilegal (art. 105, I, “b” e “c”, CR/88).

No que se refere ao recurso ordinário, o STJ será competente (art. 105, II, CR/88) para julgar:

a) Os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos TRF ou pelos


Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for
denegatória;
b) Os mandados de segurança decididos em única instância pelos TRF ou pelos
Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a
decisão;
c) As causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional,
de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;

Cumpre destacar a diferença existente nesse artigo. No que se refere ao habeas corpus,
a decisão poderá ter sido proferida em única ou em última instância, ao passo que, no caso
do mandado de segurança, a decisão somente poderá ser proferida em única instância.
Ainda, é importante diferenciar o julgamento das lides que envolvam Estados
Estrangeiros e Organismos Internacionais. O julgamento ocorrerá no STF quando
envolver a União, os Estados e o Distrito Federal, sendo a competência originária (art. 101,
I, “e”, CR/88). Por outro lado, a competência será via recurso ordinário e será proferida
decisão pelo STJ quando envolver Municípios ou pessoa natural residente no país (art. 105,
II, “c”, CR/88).

141
Além disso, competirá ao STJ o julgamento de recurso especial quando a causa
envolver (art. 105, III, CR/88):

a) Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;


b) Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal
(diferentemente de julgar válido lei local contestada em face de lei federal, pois,
neste caso, a competência será do STF mediante recurso extraordinário - art.102,
III, “d”, CR/88);
c) Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal;

Por fim, é importante mencionar que dois órgãos funcionarão junto ao STJ (art. 105,
§ único, CR/88). São eles: Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de
Magistrado, que regulamentará os cursos oficiais para o ingresso e promoção na carreira,
e o Conselho da Justiça Federal, que exercerá a supervisão administrativa e orçamentária
da Justiça Federal de primeiro e segundo grau.

17.4. Dos Tribunais Regionais Federais (TRF) e dos Juízes Federais

Os TRFs, conforme visto, se submetem à regra do quinto constitucional (art. 94,


CR/88) e, desse modo, deverão preencher 1/5 de suas cadeiras com advogados e membros
do Ministério Público com mais de dez anos de efetiva atividade (art. 107, I, CR/88). Os
demais membros do Tribunal serão ocupados mediante a promoção de juízes federais, que
se dará alternadamente pelos critérios de antiguidade e merecimento, desde que estes
contem com mais de cinco anos de exercício funcional.
É importante fazer uma diferenciação quanto à atuação do TRF, que instalarão a justiça
itinerante, mediante a realização de audiência e outras funções de caráter jurisdicional. Por
outro lado, poderão funcionar de maneira descentralizada, de modo a constituir Câmaras
Regionais para assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça (art. 107, § 2 º e § 3 º).
Assim como todos os Tribunais, o TRF terá competência originária e competência recursal,
sendo que esta última se materializará no reexame de causas decididas pelos juízes federais
ou pelos juízes estaduais no exercício da competência federal (art. 107, II, CR/88).

142
Por outro lado, caberá ao TRF julgar originariamente (art. 107, I, CR/88) as causas que
versarem sobre os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar
e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do
Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. Ainda, julgarão
as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da
região, bem como os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal.
Por fim, competirão julgar os mandados de segurança e os habeas data contra ato do
próprio Tribunal ou de juiz federal e o habeas corpus, quando o coator for juiz federal.

No que se refere aos juízes federais, estes terão competência para julgar (art. 109, CR/88):

a) As causas em que a União, as entidades autárquicas ou as empresas públicas


federais forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes,
exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e
à Justiça do Trabalho. Atenção porque, apesar de incluir a empresa pública, não inclui
a sociedade de economia mista federal;
b) As causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou
pessoa domiciliada ou residente no País;
c) As causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou
organismo internacional;
d) Os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e
da Justiça Eleitoral;
e) Os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;
f) Os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra
o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
g) Os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a
outra jurisdição;
h) Os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;

143
i) Os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da
Justiça Militar;
j) Os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta
rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as
causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
k) A disputa sobre direitos indígenas;

Quando a União for parte em uma demanda, é importante diferenciar duas situações (art.
109, § 1 º e 2 º, CR/88). Se for autora, a demanda será proposta na seção judiciária onde o
réu tiver domicílio. Por outro lado, se a União for ré, a ação poderá ser proposta na seção
judiciária do domicílio do autor, ou no local onde houver ocorrido o ato que deu origem à
demanda, ou no local onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.

Por fim, é importante destacar que poderá configurar o chamado incidente de


deslocamento de competência, que irá ocorrer nas hipóteses em que houver grave
violação de direitos humanos (art. 109, § 5 º, CR/88). Nesses casos, o Procurador Geral
da República poderá suscitar perante o STJ, em qualquer fase do inquérito ou do
processo, que haja o deslocamento da demanda para que esta seja julgada pela justiça
federal. Isso ocorre para que sejam assegurados o cumprimento de obrigações decorrentes
de Tratados Internacionais de Direitos Humanos dos quais o Brasil seja parte.

17.5. Dos Tribunais e dos Juízes do Estado

A competência dos Tribunais de Justiça será definida pela Constituição do Estado,


sendo que a lei de organização judiciária será de iniciativa do próprio TJ. Entretanto, a
Constituição garante que esses Tribunais funcionem de maneira descentralizada,
constituindo Câmaras Regionais a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à
justiça em todas as fases do processo. Além disso, o TJ instalará a justiça itinerante, com
a realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, de modo a
proporcionar um maior acesso da população ao Poder Judiciário (art. (125, § 1 º e 6 º,
CR/88).

Ainda, caberá aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de


leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual,
vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão (art. 125, § 2 º, CR/88). Por

144
fim, o Tribunal de Justiça, com o intuito de dirimir conflitos fundiários, poderá propor a criação
de varas especializadas, que terão competência exclusiva para questões agrárias.

17.6. Das Justiças Trabalhista, Militar e Eleitoral

A Constituição estabelece que são órgãos da Justiça do Trabalho (art. 111, CR/88) o
Tribunal Superior do Trabalho (TST), o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e os juízes do
trabalho. Aplica-se ao TST e ao TRF a regra do quinto constitucional (art. 94, CR/88), de
modo que 1/5 de seus membros será composto por advogados ou por membros do
Ministério Público com mais de dez anos de exercício funcional.

No que se refere à composição do TST, destaca-se que este será composto por vinte e
sete Ministros, que serão escolhidos dentre os brasileiros com mais de trinta e cinco e
menos de sessenta e cinco anos, sendo nomeados pelo Presidente da República após
aprovação pela maioria absoluta do Senado (art. 111-A, caput, CR/88). O TRT, por sua vez,
compõe-se de, no mínimo, sete juízes, que serão nomeados pelo Presidente da República
dentre os brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, sendo
que esses Tribunais instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais
funções jurisdicionais, podendo funcionar de maneira descentralizada, de modo a constituir
Câmaras Regionais para garantir o pleno acesso à justiça aos cidadãos (art. 115, CR/88).

A Constituição estabelece os casos que serão processados e julgados pela Justiça do


Trabalho (art. 114, CR/88), sendo eles: a) as ações oriundas da relação de trabalho,
abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; b) as ações que envolvam
exercício do direito de greve; c) as ações sobre representação sindical, entre sindicatos,
entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; d) os mandados de
segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria
sujeita à sua jurisdição; e) os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição
trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; f) as ações de indenização por dano moral
ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; g) as ações relativas às penalidades
administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações
de trabalho; h) a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a
, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir.

145
No que se refere à Justiça Eleitoral, a Constituição elenca os órgãos que a compõe,
sendo eles o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), os Juízes
Eleitorais e as Juntas Eleitorais (art. 118, CR/88). A Lei complementar irá dispor sobre a
organização e a competência da Justiça Eleitoral, sendo que os juízes dos Tribunais Eleitorais,
em regra, servirão por no mínimo dois anos e no máximo dois biênios consecutivos.

A composição do TSE será de, no mínimo, sete Ministros, ocorrendo eleição, por voto
secreto, para a escolha de três membros do STF (um deles será o Presidente) e dois do
STJ (um deles será o Corregedor Geral). Os outros dois membros serão nomeados pelo
Presidente da República dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade
moral, que serão eleitos pelo STF (art. 119, I e II, CR/88). O TRE será composto, mediante
eleição por voto secreto, de dois desembargadores do TJ e de mais dois juízes estaduais
escolhidos pelo TJ. Além disso, será integrado por um juiz federal ou por um
desembargador federal, neste caso somente se o TRF tiver sede na Capital do Estado ou
no Distrito Federal. Por fim, os outros dois membros serão nomeados pelo Presidente da
República dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, que serão
indicados pelo TJ (art. 120, CR/88).

As decisões do TSE serão irrecorríveis, salvo as que contrariarem a Constituição


Federal e as denegatórias de habeas corpus ou de mandado de segurança (art. 121, § 3
º, CR/88). No que se refere ao TRE, caberá recursos quando tiver decisão: a) contrária
disposição expressa desta Constituição ou de lei; b) ocorrer divergência na interpretação
de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais; c) versando sobre inelegibilidade ou expedição
de diplomas nas eleições federais ou estaduais; d) que anular diplomas ou decrete a perda
de mandatos eletivos federais ou estaduais; e) deneguem habeas corpus , mandado
de segurança, habeas data ou mandado de injunção (art. 121, § 4 º, CR/88).

A Justiça Militar será integrada pelo Superior Tribunal Militar (STM) e pelos Tribunais e pelos
Juízes Militares instituídos por lei (art. 122, II e II, CR/88). Essa Justiça somente irá julgar
os crimes militares definidos em lei, sendo que esta é que irá dispor sobre a organização,
o funcionamento e a competência da Justiça Militar.

Mapa Mental

146
Estado Estrangeiro ou
Organismo Internacional

STF STJ

Julgamento Julgamento por


originário Recurso Ordinário

Contra União, Contra Município ou


Estado, DF ou Pessoa Natural

Território

Ministros de Estado e Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica serão


julgados:

Senado
• Crime de responsabilidade conexo com o Presidente

STF
• Crime Comum
• Crime de Responsabilidade, salvo se conexo com o Presidente
• HC - quando paciente

STJ
• Mandado de Segurança - quando coator
• Habeas Data - quando coator
• HC - quando coator

147
Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.

142
18. Organização do Poder Judiciário

André Ramos Tavares, ao dispor sobre a organização do Poder Judiciário, assevera que
sua estrutura se divide, para fins didáticos, em Justiça Federal e Estadual. A Federal tem
competência taxativa e se subdivide em comum e especializada, sendo esta última
composta pelas Justiças Militar, Eleitoral e Trabalhista. A Justiça Estadual, por sua vez,
tem competências residuais, ou seja, pode tratar de tudo aquilo que não for de competência
especializada de outra Justiça (TAVARES, 2019, n.p.).

18.1. A jurisdição brasileira e a estrutura do Poder Judiciário

O Supremo Tribunal Federal entende que o Poder Judiciário é uno, sendo que essa
divisão é feita somente para sistematizar o conhecimento, já que o Judiciário possui âmbito
nacional (ADI 3.367/DF, rel. Min Cezar Peluso, DJ de 17-03-2006).
No que se refere à organização do Poder Judiciário, Gilmar Mendes divide o tema em
alguns tópicos, quais sejam: a divisão dos tribunais, a formação do quinto constitucional e
dos precatórios, além do funcionamento dos órgãos judiciais sobre a ótica da autonomia e
da celeridade na prestação jurisdicional. Ainda, estuda-se a exigência da fundamentação e
da publicidade dos atos judiciais, bem como as garantias e vedações estipuladas aos
magistrados (MENDES, 2019, n.p.). Todos esses temas foram vistos no tópico “Poder
Judiciário”, de modo que no momento visa-se apenas explanar como é feita a divisão e a
organização do Poder Judiciário.
Gilmar Mendes afirma que a estrutura do Judiciário é definida pelo artigo 92 da
Constituição, sendo hierarquizada e constituída por diversos órgãos (MENDES, 2019, n.p.).
O órgão máximo é o Supremo Tribunal Federal (STF), que exerce a função de guardião da
Constituição e promove o controle de constitucionalidade. Logo abaixo, encontram-se os
Tribunais Superiores, que são: Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal Superior do
Trabalho (TST), Superior Tribunal Militar (STM) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Logo
abaixo, estão os Tribunais de segundo grau, como os Tribunais de Justiça (TJ), Tribunais
Regionais Federais (TRF), Tribunais Regionais Eleitorais (TRE), Tribunais Regional do
Trabalho (TRT). Por fim, encontram-se os juízes, que exercem a jurisdição no primeiro grau.

143
O presente tópico visa explanar como é feita a organização do Judiciário, sendo que cada um
dos mencionados tribunais será tratado no tópico específico “Poder Judiciário”.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é um órgão administrativo que integra a


estrutura do Poder Judiciário, porém, não possui competência jurisdicional. Será composto
de quinze membros com mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo que o
Presidente da República irá presidi-lo e os demais membros serão nomeados pelo
Presidente da República depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado.

Compete ao CNJ o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário


e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, além de outras atribuições que poderão
ser conferidas pelo Estatuto da Magistratura. Como exemplo, cita-se o recebimento de
reclamações contra os membros ou órgãos do Judiciário, além de rever, de ofício ou
mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros do Judiciário
julgados há menos de um ano. Ainda, proporá ao STF as mudanças que julgar necessárias,
além de representar ao Ministério Público no caso de crime contra a Administração Pública
ou de crime de Abuso de Autoridade.

18.2 Disposições comuns aos órgãos integrantes do Poder Judiciário:


composição, garantias, vedações, quinto constitucional, reserva de
plenário, autonomia

Inicialmente, cumpre destacar que o Supremo Tribunal Federal (STF) e os Tribunais


Superiores terão jurisdição em todo o território nacional, sendo que estes e o Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) terão sede na Capital Federal (art. 92, § 1 º e 2 º, CR/88). No que
se refere ao Estatuto da Magistratura, cumpre destacar que sua formação ocorrerá através
de Lei Complementar de iniciativa do STF, devendo sempre respeitar os princípios e
mandamentos constitucionais, conforme preceitua o artigo 93 da Carta Magna.
No que se refere ao subsídio dos membros ocupantes de cargos no Poder Judiciário,
cumpre destacar que os Ministros dos Tribunais Superiores irão receber 95% do subsídio do
Ministro do STF (art. 93, V, CR/88). Já os demais magistrados terão seus subsídios fixados
em lei, não podendo a diferença entre as categorias ser superior a 10% e nem inferior a 5%
do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, sempre obedecendo as regras
do teto constitucional previstas nos artigos 37, XI e 39 § 4 º da Constituição Federal.

144
No que se refere à atividade jurisdicional, é importante destacar que as decisões
judiciais serão fundamentadas e públicas, sob pena de nulidade, mas poderão ser
restritas às partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos excepcionais e
específicos que exijam essa limitação (art. 93, IX, CR/88). Já as decisões administrativas
dos Tribunais também deverão ser sempre motivadas e em sessão pública, sendo que as
decisões disciplinares serão tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros
(art. 93, X, CR/88).

No que se refere às decisões de remoção, disponibilidade e aposentadoria do


magistrado em razão de interesse público, é indispensável que haja o voto da maioria
absoluta dos membros do CNJ ou do respectivo Tribunal, garantido sempre o exercício do
contraditório (art. 93, VIII, CR/88).

A atividade jurisdicional será sempre ininterrupta, sendo vedadas férias coletivas nos
juízes e nos tribunais de segundo grau, devendo haver o seu funcionamento mesmo nos dias
em que não houver expediente forense normal, pois haverá juiz em plantão permanente (art.
93, XII, CR/88). Ainda, cumpre destacar que o número de juízes deverá ser proporcional à
efetiva demanda judicial e à respectiva população (art. 96, XIII, CR/88).

Existe uma importante regra conhecida como quinto constitucional, que é aplicável
aos TRFs e aos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Território (art. 94, CR/88).
De acordo com essa regra, 1/5 dos lugares desses Tribunais serão ocupados,
alternadamente, por membros do Ministério Público e por advogados com mais de dez
anos de carreira, sendo que neste último caso também é exigido notório saber jurídico e
reputação ilibada. Os interessados irão compor lista sêxtupla que será feita pelos órgãos
de representação das respectivas classes. Após o recebimento dessas indicações, o
Tribunal interessado formará lista tríplice e a enviará ao Poder Executivo que, nos vinte
dias subsequentes, escolherá um de seus integrantes para ser nomeado pela regra do
quinto constitucional.

A Constituição estabelece garantias e vedações aos juízes. Inicialmente, os magistrados


gozarão das garantias de inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público (art. 93, VIII,
CR/88); irredutibilidade do subsídio, exceto nas exceções previstas constitucionalmente;
e vitaliciedade. Esta última garante que os magistrados somente poderão perder o cargo
mediante sentença judicial transitada em julgado, além de que será adquirida pelos juízes
de primeiro grau após dois anos de efetivo exercício no cargo (art. 95, CR/88).

145
Ainda, é vedado que os magistrados: a) exerçam, ainda que em disponibilidade, outro
cargo ou função, salvo a de magistério; b) receber, a qualquer pretexto, custas ou
participação no processo, além de auxílios ou contribuições de qualquer pessoa física
ou jurídica, ressalvadas as exceções previstas em lei; c) dedicar-se à atividade político-
partidária; d) exercer a advocacia no juízo ou tribunal ao qual se afastou antes de decorrido
três anos do afastamento do cargo em razão de exoneração ou de aposentadoria.

O artigo 97 estabelece o que é conhecido como reserva de plenário, que é o quórum


mínimo exigido para que um Tribunal declare a inconstitucionalidade de uma lei através do
controle difuso. Assim, somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos
membros do órgão especial é que poderão declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou
de um ato normativo. Destaca-se que, se o Tribunal tiver mais de vinte e cinco julgadores,
poderá ser formado um órgão especial que terá no mínimo onze e no máximo vinte e cinco
membros, que exercerão as funções administrativas e jurisdicionais delegadas pelo Tribunal
Pleno, que é composto por todos os membros de um Tribunal (art.93, XI, CR/88).

O Poder Judiciário possui autonomia administrativa e financeira (art. 99, caput,


CR/88). A primeira delas está relacionada com sua atuação administrativa livre, de modo
que poderá organizar sua estrutura interna da maneira que lhe interessar, além de ter a
prerrogativa de elaborar seu regimento interno, seus concursos públicos e suas atividades
que sirvam para o bom funcionamento de seus órgãos. Quanto à autonomia financeira, a
Constituição garante que os Tribunais elaborem suas propostas orçamentárias dentro dos
limites estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (art. 99, § 1 º, CR/88). O
encaminhamento dessas propostas será feito pelos Presidentes dos Tribunais, depois da
aprovação deles.

18.3. Precatórios

Por fim, passa-se ao estudo dos precatórios, que é uma espécie de requisição de
pagamento feita por um terceiro, para que a Fazenda Pública, que é devedora, lhe pague
certa quantia em dinheiro (art. 100, CR/88). Assim, os pagamentos devidos pelas Fazendas
Federal, Distrital, Estaduais e Municipais em razão de sentenças judiciais transitadas em
julgado serão efetuados mediante a ordem cronológica dos precatórios.

As disposições constitucionais do precatório não serão aplicáveis às obrigações


estipuladas pelo Poder Público qualificadas como Requisições de Pequeno Valor (RPV).

146
Esses débitos da Fazenda, apesar de também advirem de uma decisão judicial, terão um
regramento distinto e mais simplificado do que aquele estabelecido para os precatórios.

Apesar de existir essa ordem cronológica, alguns pagamentos terão preferência sobre
os demais, como é o caso dos débitos de natureza alimentícia, os créditos pertencentes às
pessoas maiores de sessenta anos ou que tenham alguma deficiência ou doença grave
(art. 100, § 2 º, CR/88). Caso o indivíduo se enquadre em alguma dessas hipóteses, ele terá
prioridade de recebimento sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo
do fixado em lei como sendo o valor máximo.

Entretanto, será proibido haver o fracionamento, a repartição ou a quebra do valor da


execução para fins de enquadramento do valor máximo permitido. Ainda, será proibida a
expedição de precatórios complementares ou suplementares (art. 100, § 8 º, CR/88).

Caso haja a apresentação do precatório até o dia 01 de julho de um ano, será


obrigatório haver a inclusão no orçamento das entidades de Direito Público da verba
necessária ao seu pagamento, que deverá ocorrer até o final do exercício seguinte,
oportunidade em que os valores serão corrigidos monetariamente (art. 100, § 5 º, CR/88).
Salienta-se que a União poderá assumir débitos oriundos de precatórios de Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios, refinanciando-os diretamente (art. 100, § 16, CR/88).
O Presidente do Tribunal proferirá a decisão exequenda para que as consignações das
dotações orçamentárias e dos créditos abertos sejam pagas ao interessado através do
precatório, sob pena de responder por crime de responsabilidade caso tente frustrar os
pagamentos. A atuação do Presidente do Tribunal nesses casos será meramente
administrativa (e não judicial), de modo que será inviável a interposição de recursos
judiciais como é o caso do recurso extraordinário. Caso haja requerimento do credor e
exclusivamente nos casos de preterimento de seu direito de precedência ou de não alocação
orçamentária, poderá haver o sequestro da quantia necessária para que o pagamento seja
garantido (art. 100, § 6 º, CR/88).
O credor terá a prerrogativa de ceder, total ou parcialmente, seus créditos em
precatórios, independentemente da concordância do Poder Público. Entretanto, essa
cessão somente produzirá efeitos após a comunicação, por meio de petição, à Fazenda
Pública devedora (art. 100, § 13 º e § 14 º, CR/88).

147
Mapa Mental

Quinto Constitucional

1/5 do tribunal composto por


• Advogados e membros do MP com mais de
dez anos de experiência
• TRFs e TJs dos Estados , DF e territórios
Reserva de Plenário

Tribunal declara:
inconstitucionalidade, por Controle pelo juiz
maioria absoluta de voto

Não Aplica: Medida Cautelar

Norma anterior à
Constituição

148
STF

STJ TST TSE STM

Tribunal
TRF e TJ TRT TRE
Militar

Juizes Juiz investido


Juizes do
Federais e na função Juiz Militar
Trabalho
Estaduais eleitoral

149
Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.

150
19. Funções Essenciais à Justiça
O Poder Constituinte deu um tratamento constitucional diferenciado às seguintes
atividades profissionais, ao atribuir o status de funções essenciais à Justiça: Ministério
Público, Advocacia Pública, Advocacia e Defensoria Pública. A matéria está regulamentada
nos art. 127 a 135 da Constituição da República de 1988.

19.1. Conceito

Pedro Lenza (2019) afirma que as funções essenciais à justiça são algumas atividades
públicas e privadas que estão previstas nos artigos 127 a 135 da CR/88 e surgiram com o
objetivo de viabilizar e de dinamizar a atividade jurisdicional. Serão compostas pela
advocacia privada e pública, pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública.

Gilmar Mendes (2019) afirma que a movimentação do Poder Judiciário é importante para
que os conflitos possam ser resolvidos e para que os direitos possam ser garantidos.
Para tanto, é necessário que existam agentes que oficiem perante o juízo, exercendo,
portanto, uma função essencial à justiça.

André Ramos Tavares (2019) faz uma observação no que diz respeito à polícia judiciária,
afirmando que os corpos voltados à segurança pública, apesar de sua importância, não
pertencem ao capítulo das “Funções Essenciais à Justiça” e sim ao Título “Da Defesa do
Estado e das Instituições Democráticas”. Essas funções investigativas serão realizadas
pela política federal e pela polícia civil, dentro dos seus respectivos âmbitos de atuação.

19.2. Do Ministério Público e da Defensoria Pública

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do


Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis. São princípios institucionais do Ministério
Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional (art. 127, CR/88).

Para que possa cumprir com seus deveres constitucionais, ao Ministério Público é
assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo propor ao Poder Legislativo
a criação extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público,
a política remuneratória e os planos de carreira.

151
O Ministério Público abrange o Ministério Público da União (MPU), que compreende o
Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Trabalho (MPT), o Ministério Público
Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Além disso, existem os
Ministérios Públicos dos Estados, que estão fora do âmbito do MPU (art.128, CR/88).
Dentre as garantias instituídas a seus membros, destaca-se a vitaliciedade, após dois
anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em
julgado, a irredutibilidade de subsídio e a inamovibilidade, salvo por motivo de interesse
público, mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da
maioria absoluta de seus membros.

Por outro lado, aplicam-se vedações a seus membros, sendo elas: a) receber, a
qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais;
b) exercer a advocacia; c) participar de sociedade comercial, na forma da lei; d) exercer,
ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério;
e) exercer atividade político-partidária; f) receber auxílios ou contribuições de pessoas
físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.

Por fim, destacam-se as principais funções institucionais do Ministério Público, que estão
estabelecidas no artigo 129 da CR/88, sendo elas promover, privativamente, o inquérito civil
e a ação penal pública, na forma da lei, bem como promover a ação de
inconstitucionalidade ou representação para intervenção da União e dos Estados. Além
disso, defenderá os direitos das populações indígenas e exercerá o controle externo da
atividade policial. Por fim, poderá requisitar diligências investigatórias e a instauração de
inquérito policial.

Já a Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do


Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático,
fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa,
em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados (art. 134, CR/88).

Caberá à Lei complementar organizar a Defensoria Pública da União e do Distrito


Federal e dos Territórios e prescrever normas gerais para sua organização nos Estados,
assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da
advocacia fora das atribuições institucionais. Além disso, garante-se autonomia funcional
e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária.

152
19.3. A Advocacia e a Advocacia pública

No que se refere à advocacia privada, a Constituição Federal, em seu artigo 133,


estabelece que o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável
por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Por outro lado, no que tange à Advocacia Pública, é importante destacar os artigos 131
e 132 da CR/88, de modo que a Advocacia-Geral da União é a instituição que representa a
União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe a consultoria e o assessoramento jurídico
do Poder Executivo. Já os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, por sua vez,
exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades
federadas. Além disso, terão, como garantia, a estabilidade após três anos de efetivo
exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios.

Mapa Mental

Funções essenciais
à justiça

Ministério Advocacia Advocacia Defensoria


Público Privada Pública Pública

153
Referências bibliográficas

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo.
Saraiva Educação, 2019.
VASCONCELOS, Clever. Curso de Direito Constitucional. 6ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.

154
20. Controle de Constitucionalidade

A ideia do controle de constitucionalidade vem do próprio escalonamento normativo do


ordenamento jurídico e do princípio da supremacia da Constituição. A hierarquia entre as
normas e a existência de uma constituição rígida exigem a atribuição de competência a um
órgão para resolver os conflitos entre as normas constitucionais e as demais normas do
ordenamento. Registra-se que o assunto “Controle de Constitucionalidade” é um dos mais
cobrados nas provas e merece uma atenção especial do (a) aluno (a).

20.1. Conceito

Pedro Lenza (2019), ao citar Canotilho, nos ensina que:

o poder constituinte se revela sempre como uma questão de ‘poder’, de ‘força’


ou de ‘autoridade política que está em condições de, numa determinada
situação concreta, criar, garantir ou eliminar uma Constituição entendida
como lei fundamental da comunidade política’.

O controle de constitucionalidade visa, em última instância, defender os preceitos


estabelecidos pela Constituição. Sobre o assunto, André Ramos Tavares (2019) afirma que
existem três grandes modelos de operacionalizar a defesa e garantir a supremacia da
Constituição, sendo eles: a) norte americano, que é feito de maneira concreta; b) austríaco,
que prioriza o controle originário e abstrato; c) francês, que é preventivo. No Brasil, adotou-
se uma espécie de junção entre os modelos americanos e austríaco, pois é possível ocorrer
o controle difuso e concreto através dos juízes e Tribunais, bem como o controle abstrato
e em tese.

Nesse sentido, Gilmar Mendes (2019) aponta que o controle de constitucionalidade


poderá ser concentrado (austríaco), difuso (americano) e misto. O primeiro defere o
julgamento a um órgão jurisdicional superior ou a uma Corte Constitucional. Já o segundo
assegura a qualquer órgão judicial o poder-dever de afastar a sua aplicação se a

155
considerar incompatível com a Constituição. Por fim, o terceiro é uma junção dos dois
primeiros, possuindo tanto o controle concentrado quanto o difuso.

20.2. Dos Tipos de Controle

Existem os controles de constitucionalidade preventivo e repressivo, que se


manifestam em todos os Poderes. O preventivo é aquele que ocorre antes da norma passar
a integrar o ordenamento jurídico, sendo que, no Legislativo, se manifesta, por exemplo, na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que analisa o projeto de lei antes de ele ser
publicado. No Executivo se manifesta através do veto jurídico proferido pelo Presidente da
República, que poderá considerar o projeto de lei inconstitucional ou contrário aos interesses
públicos.

No Judiciário, se manifesta através do Mandado de Segurança (MS) impetrado por


parlamentar quando houver violação ao processo legislativo ou na hipótese de PEC
manifestamente ofensiva à cláusula pétrea, sendo que haverá a extinção do MS caso o
parlamentar perca seu mandato no curso da ação (LENZA, 2019, n.p.). Este último controle
é feito ao projeto de emenda constitucional, considerando a inconstitucionalidade formal e
material e no projeto de lei, considerando a inconstitucionalidade formal apenas.

Já o controle repressivo ocorre depois que a norma passa a vigorar no ordenamento


jurídico. No Legislativo, ocorre quando não ocorre a aprovação de uma medida provisória.
No âmbito do Executivo, cita-se a hipótese em que o chefe do executivo não aplica a lei
por considerá-la inconstitucional, sendo que, nesse caso, não irá ocorrer a retirada da
norma do ordenamento jurídico, e sim a sua não aplicação a um caso concreto. Por fim, no
Judiciário, irá ocorrer mediante o controle concentrado, a ser exercido por um Tribunal, ou
mediante o controle difuso, a ser exercido por qualquer Tribunal ou por um magistrado.

20.3. Dos Tipos de Inconstitucionalidade

A inconstitucionalidade de uma lei ou de um ato normativo poderá ocorrer de diversas


formas. Poderá ser:
a. Formal (nomodinâmica): que poderá ser dividida em orgânica, que diz
respeito à competência dos entes federados (exemplo, competência da União
para legislar sobre trânsito) ou formal propriamente dita, que se relaciona

156
com vício subjetivo, que diz respeito ao vício de iniciativa ou objetivo, que é
a inobservância das regras constitucionais nas demais fases do processo
legislativo (exemplo, desrespeito ao quórum de maioria absoluta para
aprovação de lei complementar);
b. Material (nomoestática): se relaciona com o conteúdo da lei ou do ato
normativo;

c. Direta: quando a lei ou ato normativo deriva direto da Constituição, sendo,


portanto, um ato normativo primário;
d. Indireta ou Reflexa: a lei ou ato normativo deriva diretamente da lei e é
declarado inconstitucional. Nesse caso, haverá um controle de legalidade e
não de inconstitucionalidade.
e. Circunstancial ou por Arrastamento: excepcionalmente, a
inconstitucionalidade da lei ou ato normativo primário irá abranger também o ato
normativo secundário dependente. Poderá ocorrer de maneira excepcional e
automática, não sendo necessário haver pedido expresso pela parte
interessada;
f. Parcial: inconstitucionalidade de uma palavra, de uma frase, de um parágrafo.
É conhecido como parcelaridade e é admitido em sede de controle de
inconstitucionalidade, diferentemente do que ocorre com o veto de uma lei por
um presidente, que não poderá abranger somente palavras ou expressões;
g. Originária: a norma já nasce inconstitucional;
h. Superveniente: a norma nasce constitucional, mas, em virtude de uma
emenda constitucional ou de uma nova constituição, se torna inconstitucional.
Não é admitida no Brasil.

20.4. Da Reserva de Plenário

A cláusula de reserva de plenário prevista no art. 97 da Constituição de 1988, também


conhecida como full bench, é o quórum mínimo de maioria absoluta de votos que o Tribunal
precisa ter para que, uma lei, ou um ato normativo, seja declarado inconstitucional. É uma
condição de eficácia da decisão e ocorrerá, em regra, dentro dos Tribunais, salvos nos casos
de:

a) Declaração de constitucionalidade de uma norma, uma vez que esta é presumida;


b) Decisão da Turma Recursal do Juizado Especial;

157
c) Medida Cautelar;
d) Nos casos de recepção e de revogação de leis ou atos normativos, pois trata-se de
normas anteriores à Constituição, não havendo que se falar em controle de
inconstitucionalidade;
e) Normas pré-constitucionais;
f) Súmulas do STF;
g) Normas que estejam de acordo com precedentes do STF e do próprio Tribunal que
estiver julgando a lide;
h) Julgamento proferido por um Magistrado de primeiro grau, vez que a decisão é feita
somente por uma pessoa, não havendo que se falar em colegialidade;

Sobre o tema, vale destacar a Súmula Vinculante nº 10 do STF:

Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão


fracionário de tribunal que, embora não declara expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua
incidência, no todo ou em parte.

No entanto, a jurisprudência tem autorizado a dispensa da regra do art. 97 da CF toda


vez que já houve decisão do órgão especial ou pleno do tribunal, ou do STF, sobre a matéria.
Este entendimento foi expressamente previsto no art. 949, parágrafo único, do CPC/15
(LENZA, 2019, n.p.).

20.5. Medida cautelar

A medida cautelar é uma antecipação provisória da tutela jurisdicional, ou seja, o


magistrado irá satisfazer provisoriamente o pedido feito pelo autor. Poderá ocorrer nas
ações de controle de constitucionalidade e nos remédios constitucionais, exceto no mandado
de injunção. As regras específicas sobre as medidas cautelares nas ações de controle
concentrado estão previstas na Lei da ADI e da ADC (Lei nº 9.868/1999).

No caso de uma medida cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI),


podemos citar as seguintes características: a) não se aplica à reserva de plenário, podendo
ser deferida independentemente do voto da maioria absoluta dos membros de um Tribunal;
b) será erga omnes, tendo eficácia contra todos; c) poderá ter seus efeitos modulados,

158
caso haja o voto de 2/3 dos membros do Tribunal; d) terá efeito Ex Nunc, não havendo
retroatividade. Diferentemente da decisão final proferida em sede de ADI, vez que, neste
caso, o efeito será Ex Tunc e haverá retroatividade; e) ocorrerá o efeito repristinatório, de
modo a tornar aplicável a legislação anterior. Assim, haverá a devolução automática do
ato que havia sido revogado pela lei que acabou de ser considerada inconstitucional;

20.6. Da ADI, da ADC, da ADPF e da Representação de


Inconstitucionalidade

Inicialmente, cumpre destacar que as ações de controle de constitucionalidade


(ADI, da ADC e da ADPF) não terão prazo para serem propostas e seus legitimados estão
dispostos no artigo 103 da CR/88, sendo eles:
a) Presidente da República: Legitimado universal, não precisa de pertinência temática.
Também não necessita de advogado;
b) Mesa do Senado: Legitimada universal, não precisa de pertinência temática. Também
não necessita de advogado;
c) Mesa da Câmara: Legitimada universal, não precisa de pertinência temática. Também
não necessita de advogado;
d) Procurador-Geral da República (PGR): Legitimado universal, não precisa de
pertinência temática. Também não necessita de advogado;
e) Conselho Federal da OAB: Legitimado universal, não precisa de pertinência
temática. Também não necessita de advogado;
f) Partido Político com representação no Congresso Nacional (CN): Legitimado
Universal, não precisa de pertinência temática. Entretanto, precisa de advogado;
g) Confederação Sindical: Legitimada especial, pois precisa de pertinência temática.
Também precisa de advogado;
h) Entidade de Classe de âmbito nacional: Legitimada especial, pois precisa de
pertinência temática. Também precisa de advogado;
i) Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal:
Legitimada especial, pois precisa de pertinência temática. Entretanto, não precisa de
advogado;
j) Governador do Estado ou do DF: Legitimado especial, pois precisa de pertinência
temática. Entretanto, não precisa de advogado;

159
Antes de entrar no estudo específico de cada uma das mencionadas ações, cumpre
destacar o papel de algumas autoridades importantes no deslinde do caso. Primeiramente, o
PGR deverá estar presente em todas as ações de controle concentrado que tramitam
perante o STF e não poderá desistir da ação interposta, embora possa opinar pela
constitucionalidade da lei.

Por outro lado, o Advogado Geral da União (AGU) é obrigatório nas ações de
inconstitucionalidade (ADI) que tramitam perante o STF, mas é dispensável nas ações que
discutem a sua constitucionalidade (ADC). Em regra, devem defender a
constitucionalidade de um ato normativo, já que esta é presumida, mas,
excepcionalmente, poderão defender a inconstitucionalidade de uma lei, caso seja do
interesse da União ou caso o STF já tenha se manifestado dessa maneira em sede de
controle concentrado ou difuso.

Ainda, o Amicus Curiae é uma pessoa, um órgão ou uma entidade não litigante que
leva ao STF informações relevantes para o julgamento da ação, não tendo o poder de
recorrer, via de regra. É importante destacar que é irrecorrível a decisão proferida pelo STF
que inadmite ou que admite sua participação na ação.

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) é uma ação de controle concentrado que


irá ocorrer perante o STF e irá decidir, por maioria absoluta dos votos dos Ministros
(reserva de plenário), acerca da inconstitucionalidade de uma lei ou de um ato normativo
federal ou estadual, estando prevista na Lei número 9.868/99. Em sede de ADI, é
necessário que o advogado tenha procuração com poderes especiais e que referido
instrumento exponha quais artigos serão refutados pelo interessado perante o STF. Ainda,
importante destacar que o pedido será fechado, não podendo ser analisado um pedido que
não foi formulado pela parte autora, entretanto, a causa de pedir será aberta, podendo o
STF decidir as questões sob fundamentos distintos daquelas trazidos pela parte autora.

A ADI poderá ser proposta em face de lei em vacatio legis (período entre a publicação
e a entrada em vigor da lei), de resoluções e de decretos autônomos e legislativos, uma
vez que são atos normativos primários, conforme preceitua o artigo 59 da CR/88. Entretanto,
não poderão ser opostos em face de:

a) Decreto de desapropriação, já que não é um ato geral;


b) Preâmbulo da CR/88, pois não possui força normativa;
c) Súmulas em geral, já que possuem regras próprias para que haja sua discussão
ou seu cancelamento;
160
d) Norma constitucional originária, que, apesar de não poder ser declarada
inconstitucional, poderá ser parâmetro de controle de constitucionalidade;
e) Lei ou ato normativo secundário, já que nesses casos ocorre controle de
legalidade e não de constitucionalidade. É o caso do decreto regulamentar e dos
demais atos que não estejam no artigo 59 da CR/88;
f) Norma que com eficácia já exaurida;
g) Norma já revogada que, apesar de não ser passível de ADI, ADC e ADPF, poderá
ser objeto de controle difuso;

A Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) é uma ação de controle


concentrado que irá tramitar perante o STF, que irá decidir, por maioria absoluta dos votos
dos Ministro (reserva de plenário), acerca da constitucionalidade de uma lei ou de um ato
normativo, estando prevista na Lei número 9.868/99. Aqui, diferentemente da ADI, somente
será analisada norma federal, não havendo que se falar na análise de lei estadual. Caso
haja a concessão de medida cautelar, o julgamento do mérito deverá ocorrer no prazo
máximo de 180 dias, sob pena de haver a perda da eficácia. Aqui, aplica-se as regras vistas
acima acerca do quórum de decisão, da legitimidade para interpor as ações e das normas
referentes às atuações do PGR, do AGU e do Amicus Curiae.

A Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) também é uma ação de


controle concentrado que irá ocorrer no STF, estando tipificada na Lei número 9.882/99.
Seu caráter é subsidiário, vez que somente poderá ser intentada na hipótese de não existir
outro meio eficaz para a discussão da questão. Aqui, também se aplica as regras vistas acima
acerca do quórum de decisão, da legitimidade para interpor as ações e das normas
referentes às atuações do PGR, do AGU e do Amicus Curiae.
É importante registar que não existe um conceito normativo sobre o que é preceito
fundamental, A jurisprudência do STF tem buscado definir casuisticamente o que é (ou não)
hipótese de preceito fundamental.

Ainda, diferentemente da ADI e da ADC, existe um rol maior de atos que poderão ser
analisados pelo STF, uma vez que poderá discutir:

a) Lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal. Diferentemente da ADC, que


somente cabe contra ato federal e diferentemente da ADI, que só é cabível em face de
ato federal ou estadual;
b) Ato normativo primário, previstos no artigo 59 da CR/88;
c) Ato normativo secundário;

161
d) Ato administrativo;
e) Ato judicial, salvo se já tiver ocorrido o trânsito em julgado deste;
f) Ato realizado por um particular em delegação, sendo, portanto, um ato concreto;
g) Normas pré-constitucionais, igual ocorre no controle difuso

A Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO), também é uma ação de


controle concentrado que irá ocorrer no STF, estando tipificada na Lei número 9.868/99,
artigo 12-A e seguintes. Seu objetivo é tornar eficaz uma norma constitucional que não está
produzindo seus efeitos devidos em razão da ausência de norma regulamentadora. Para
tanto, o STF é acionado para reconhecer a omissão na produção dessa norma, de modo que
irá notificar o Poder responsável pela sua elaboração para que este produza a lei
regulamentadora. Se essa competência couber a um órgão administrativo, o STF
determinará que haja o saneamento dessa mora no prazo de trinta dias. Aqui, também se
aplica as regras vistas acima acerca do quórum de decisão, da legitimidade para interpor as
ações e das normas referentes às atuações do PGR, do AGU e do Amicus Curiae.

Por fim, é importante destacar a Representação de Inconstitucionalidade, que também


é uma ação de controle concentrado, mas seu julgamento irá ocorrer no âmbito do Tribunal
de Justiça Estadual (TJ), estando tipificada no artigo 125, § 2º da CR/88. Seu paradigma é,
em regra, a Constituição Estadual, podendo, excepcionalmente, tratar sobre a Constituição
Federal, desde que seja uma norma de reprodução obrigatória. O TJ, via de regra, irá
analisar somente lei e atos normativos estaduais e municipais, podendo, excepcionalmente,
tratar sobre normas federais no âmbito do controle difuso.

Embora o recurso extraordinário, em regra, tenha efeito restrito às partes, quando


proferido no âmbito de Representação de Inconstitucionalidade contra decisão proferida
pelo TJ, o STF irá julgá-lo e seu efeito será erga omnes, ou seja, extensível a todos. Ainda,
importante destacar o entendimento firmado pelos Tribunais Superiores de que a Emenda
à Constituição Estadual pode estabelecer competência do TJ para julgar ADI em face de
lei municipal presente na Constituição Estadual, ainda que a norma violada conste também
na Constituição Federal e seja de reprodução obrigatória.

Por fim, cumpre diferenciar o quórum no âmbito do controle de constitucionalidade, que


será de maioria absoluta (seis Ministros) para que uma lei ou um ato normativo seja
declarado inconstitucional, valendo essa decisão a partir da publicação da ata da sessão
de julgamento. Todavia, será de 2/3 dos votos (oito Ministros) o quórum para que possa
haver a modulação dos efeitos de uma decisão do STF no âmbito do controle.

162
20.7. Da Repristinação e do Efeito Repristinatório

A chamada repristinação é um fenômeno legislativo em que uma norma revogada


volta ao ordenamento jurídico em razão da revogação da norma revogadora. Por exemplo,
se uma lei A é revogada por uma lei B e, posteriormente, esta lei B é revogada por uma lei
C, a lei A voltará ao ordenamento jurídico em razão da repristinação. Todavia, esse
fenômeno não é automático e somente ocorre caso esteja expresso, conforme preceitua o
artigo 2º , § 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei 4.657/42).

Já o efeito repristinatório advém do controle de constitucionalidade e, segundo


Olavo Augusto Vianna Alves (2019), seria a reentrada em vigor de uma norma que havia
sido “revogada” por uma outra norma que posteriormente foi declarada inconstitucional.
Por exemplo, a lei A foi revogada pela lei B e, posteriormente, a lei B é declarada
inconstitucional pela lei C. Nesse caso, a lei A voltará a entrar em vigor em razão do efeito
repristinatório, sendo esse efeito automático, diferentemente da repristinação.

20.8. Das alterações ocorridas no curso de uma ação de controle


concentrado, da Reclamação Constitucional e da Súmula vinculante

Inicialmente, cumpre destacar algumas situações que poderão ocorrer, caso haja
alteração da lei impugnada via ADI durante o curso da ação. Caso ocorra essa situação,
em regra, haverá perda do objeto, com a consequente extinção da ADI. Entretanto, caso a
parte autora prove que a nova lei padece dos mesmos vícios da anterior, poderá haver a
continuidade do julgamento perante o STF. Além disso, não haverá perda do objeto,
portanto, continuará o julgamento da ADI, se ocorrer: a) fraude, oportunidade em que
deverá ser demonstrado que houve a revogação da lei apenas para evitar o julgamento da
ADI; b) Conteúdo da lei revogada seja repetido em outra norma; c) STF já tenha iniciado
o julgamento de mérito da decisão e não tenha sido comunicado acerca da alteração da
lei impugnada via ADI.

A reclamação constitucional está prevista nos artigos 988 e seguintes do Código de


Processo Civil e será utilizada para garantir o respeito às disposições contidas nas súmulas
vinculantes, bem como a competência e as decisões dos Tribunais. Além disso, busca-
se preservar a decisão proferida pelo STF no controle concentrado de constitucionalidade

163
(não inclui o controle difuso) e os acórdãos proferidos em sede dos Incidentes de Assunção
de Competência e de Resolução de Demandas Repetitivas.

Sobre o tema, é importante fazer uma diferenciação. Caso haja o descumprimento de


uma decisão do STF, será necessário haver o esgotamento das vias ordinárias para que se
possa intentar uma reclamação constitucional? Depende. Se for o caso de descumprimento
do exposto em repercussão geral dentro de um recurso extraordinário, será necessário
haver esse esgotamento. Entretanto, se for o caso do descumprimento do estabelecido em
sede de ADI, ADC e ADPF, não será necessário haver o esgotamento das vias ordinárias,
sendo passível reclamação perante o STF ainda que o descumprimento tenha partido de um
juiz de primeiro grau. Ainda sobre o assunto, importante destacar que será necessário haver
esse esgotamento das vias ordinárias no caso de haver suposto desrespeito ao disposto
em súmula vinculante.
Sobre o tema, cumpre destacar que a súmula vinculante será editada, revisada ou
cancelada mediante o voto de 2/3 do STF, que poderá agir de ofício ou mediante
requerimento: a) de todos os legitimados para a ADI (art. 103, CR/88); b) Defensor Público
Geral da União; c) Tribunais Superiores, Tribunal Militar, Tribunal de Justiça Estadual ou
do Distrito Federal (TJ), Tribunal Regional Federal (TRF), Tribunal Regional Eleitoral (TRE)
e do Trabalho (TRT).
Os efeitos da súmula vinculante irão ocorrer a partir da sua publicação na imprensa
oficial. Além disso, irão vincular a Administração Direta e Indireta e o Poder Judiciário,
com exceção do próprio STF, que poderá cancelá-la ou revisá-la. O Poder Legislativo,
quando estiver em sua função típica de legislar, não irá se submeter ao disposto na súmula
vinculante, podendo editar lei que disponha em sentido oposto ao previsto naquela.
Entretanto, quando o Legislativo estiver atuando na sua função atípica administrativa, como
ao realizar um concurso público ou uma licitação, terá que observar o disposto na súmula
vinculante.

Mapa Mental

164
Anterior à
Norma Revogada
CF

Difuso -
Difuso
Somente

ADPF

165
- Não retroage - Retroage
Efeito Ex Nunc

Efeito Ex Tunc
- Medida - ADI, ADC,
Cautelar ADPF e ADO
- Difuso
- Efeito contra
todos

Lei Municipal

STF TJ Qualquer Juízo


ou Tribunal

ADPF ADI Controle Difuso

Recurso
Extraordinário em
sede de ADI no
TJ - Norma de
reprodução
obrigatória

166
Preventivo CCJ

Legislativo
Tipos de Controle

Repressivo Negar medida provisória

Preventivo Veto

Executivo
Chefe do Executivo não
Repressivo aplicar uma lei a um caso
concreto

MS para preservar a
Preventivo competência parlamentar
Judiciário
Controle concentrado ou
Repressivo difuso

167
Referências bibliográficas
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.

168
21. Defesa do Estado e das instituições democráticas
O Título V (Da Defesa do Estado e das Instituições democráticas) da Constituição da
República de 1988 é um dos elementos de estabilização constitucional (LENZA, 2019, n.p.).
A matéria está regulamentada nos art. 136 ao 144 da CF. A matéria é de extrema importância
para as provas e tem sido cada vez mais cobrada.

21.1. Conceito

Pedro Lenza (2019) nos ensina que a Defesa do Estado e das Instituições
Democráticas, para fins didáticos, pode ser dividida em dois grupos, sendo o primeiro deles
relacionados com instrumentos que viabilizam essa defesa, sendo o estado de defesa e o
estado de sítio. O outro grupo, por sua vez, tem como objetivo a defesa do País como um
todo, sendo constituído pelas Forças Armadas e pela Segurança Pública. No mesmo
sentido, André Ramos Tavares (2019) afirma que são medidas excepcionais de controle
do pacto federativo, vez que, em regra, um poder não poderá intervir no outro.

Sobre o tema, Clever Vasconcelos (2019) afirma que a defesa do Estado consiste na
proteção incondicional do território brasileiro contra invasões estrangeiras (arts. 34, II e
137, II, CR/88), na defesa da soberania nacional (art. 91, CR/88) e na segurança da Pátria
(art. 142, CR/88). Isso ocorre, pois é necessário que haja a defesa das instituições
democráticas, caso haja a extrapolação dos limites constitucionais por algum dos
poderes, uma vez que não pode existir a preponderância de um grupo sobre os demais.

21.2. Do Estado de Defesa

O Estado de Defesa será decretado pelo Presidente da República, ouvidos o Conselho


da República e o Conselho de Defesa Nacional (art. 136, caput, CR/88). Seu intuito é
preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem
pública ou a paz social ameaçada por grave e iminente instabilidade institucional ou
atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.

Ao decretar o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de


vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso
Nacional, que decidirá por maioria absoluta, devendo apreciar o decreto dentro de dez dias

169
contados de seu recebimento. Entretanto, caso haja rejeição do decreto, haverá a cessação
imediata do Estado de Defesa.

O decreto que instituir o estado de defesa indicará as medidas coercitivas a vigorarem,


dentre elas, as restrições aos direitos de reunião, ao sigilo de correspondência e da
comunicação telegráfica e telefônica. Além disso, poderá haver a ocupação e uso
temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo
a União pelos danos e custos decorrentes.

No que se refere ao tempo de duração do estado de defesa, este não será superior a
trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões
que justificaram a sua decretação. Por fim, é importante destacar situações que poderão
estar presentes na vigência do estado de defesa, sendo elas: a) a prisão por crime contra
o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada
imediatamente ao juiz; b) a comunicação será acompanhada de declaração, pela
autoridade, do estado físico e mental do detido; c) a prisão de qualquer pessoa não poderá
ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário; d) é vedada a
incomunicabilidade do preso.

21.3. Do Estado de Sítio

O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de


Defesa Nacional, solicitar, ao Congresso Nacional, autorização para decretar o estado de
sítio, que irá autorizar por maioria absoluta de voto dos seus membros. Poderá ocorrer nos
casos de comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a
ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa, sendo que, neste caso, não
poderá ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo
superior. Além disso, também poderá ser decretado, na hipótese de declaração de estado
de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira, sendo que, nessa hipótese, poderá
ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira
(art. 137, CR/88).

O decreto do estado de sítio indicará sua duração e as garantias constitucionais que


ficarão suspensas durante o seu cumprimento. Caso haja essa solicitação durante o
recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de imediato, convocará
extraordinariamente o Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a fim de

170
apreciar o ato, sendo que a mencionada Casa Legislativa permanecerá em funcionamento
até o término das medidas coercitivas.

Na vigência do estado de sítio, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes


medidas, nos termos do art. 139 da CF: a) obrigação de permanência em localidade
determinada; b) detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes
comuns; c) restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das
comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e
televisão; d) suspensão da liberdade de reunião; e) busca e apreensão em domicílio; f)
intervenção nas empresas de serviços públicos; g) requisição de bens.

21.4. Das Forças Armadas

No que se refere às Forças Armadas, o artigo 142 da CR/88 garante que aquelas serão
constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica. São instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a
autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e da lei e da ordem.

Cumpre destacar que não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares
militares, sendo que os membros das Forças Armadas são denominados militares,
estando, portanto, proibidas à sindicalização, à greve e a filiação à partidos políticos,
enquanto em serviço ativo.

Ainda, o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou


com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de
paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra. Caso o oficial seja condenado na justiça
comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença
transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto nesse parágrafo.

A Constituição aduz que o serviço militar será obrigatório, exceto no caso das
mulheres e dos eclesiásticos, que ficarão isentos desse serviço (art. 143). Entretanto,
caberá às Forças Armadas atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após
alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de
crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de
caráter militar.

171
21.5. Da Segurança Pública

A Segurança Pública, conforme preceitua o artigo 144 da CR/88, é dever do Estado,


direito e responsabilidade de todos, além de ser exercida para a preservação da ordem pública
e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
a) polícia federal;
b) polícia rodoviária federal;
c) polícias civis;
d) polícias militares e corpos de bombeiros militares;
e) polícias penais federal, estaduais e distrital;

Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus


bens, serviços e instalações. Por fim, existe também a segurança viária, que é exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio
nas vias públicas e compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito.

Mapa Mental

Defesa do Estado e das


Instituições
Democráticas

Estado de Segurança
Estado de Sítio Forças Armadas
Defesa Pública

172
Diferença entre

Estado de Defesa - Estado de Sítio -


Art.136, CF Art. 137, CF

Presidente decreta, Presidente precisa


solicitar autorização
independemente de ao CN, não podendo
solicitação ao CN decretar de ofício

Posterior
comunicação ao CN,
que deverá decidir
em 10 dias

173
Referências bibliográficas
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
VASCONCELOS, Clever. Curso de Direito Constitucional. 6ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019

174
22. Da ordem econômica e financeira
Pedro Lenza (LENZA, 2019, n.p.) assevera que o contexto do advento da ordem
econômica e financeira na Constituição Federal se deu principalmente a partir do século XX,
em que foi necessário haver a constitucionalização da economia em razão das inúmeras
situações de abuso do poder econômico. Desse modo, visa-se assegurar a todos os
indivíduos uma existência digna e que respeite a justiça social. A Ordem Econômica e
Financeira está regulamentada nos artigos 170 ao 192 da Constituição de 1988

22.1. Conceito

Clever Vasconcelos (2019) entende que a Constituição Federal instituiu uma ordem
econômica intervencionista, embora seja fundada na liberdade de iniciativa econômica e
seja assegurado o direito de propriedade privada dos meios de produção. Busca-se a
harmonia entre a livre iniciativa e a garantia da concretização da justiça social e da
valorização do trabalho.

André Ramos Tavares (2019) reitera que, no que diz respeito à competência legislativa
dos entes federados, caberá à União, aos Estados e ao Distrito Federal (DF) a
regulamentação, de maneira concorrente, sobre o direito econômico (arts, 170 a 192,
CR/88). Nesses casos, caberá à União editar normas gerais e aos Estados e ao DF a
suplementação de acordo com as peculiaridades locais.

22.2. Ordem Econômica e Financeira

Inicialmente, é importante fazer uma diferenciação importante existente no artigo 170


da Constituição Federal, que diz respeito ao fundamento e aos princípios da ordem
econômica e financeira. Esta será fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça.
Por outro lado, terá como princípios:
a) soberania nacional;
b) propriedade privada;

175
c) função social da propriedade;
d) livre concorrência;
e) defesa do consumidor;
f) defesa do meio ambiente;
g) redução das desigualdades regionais e sociais;

h) busca do pleno emprego;


i) tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as
leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade


econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança
nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei (art. 173, caput,
CR/88). Ainda, as empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão
gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.

Cumpre destacar outra diferenciação presente no artigo 174 da CR/88. Como agente
normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as
funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor
público e indicativo para o setor privado.

No que diz respeito às jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os


potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de
exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a
propriedade do produto da lavra (art. 176, CR/88). Além disso, a pesquisa e a lavra desses
recursos dependerão de autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por
brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e
administração no País. Essa autorização será por prazo determinado, mas não será
necessária no caso de aproveitamento do potencial de energia renovável de capacidade
reduzida (art. 176, § 4º, CR/88). Por fim, garante-se a participação ao proprietário do solo
nos resultados da lavra, na forma e no valor que dispuser a lei.

176
22.3. Política Urbana

Conforme preceitua o artigo 182 da Constituição Federal, a política de


desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, tem por objetivo
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de
seus habitantes. É importante destacar que a Constituição atribui à União a competência
material para instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação,
saneamento básico e transportes urbanos (art. 21, XX, CR).

Para que possa cumprir com seu dever constitucional, os Municípios irão elaborar o
plano diretor, que é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão
urbana. Sua aprovação irá ocorrer pela Câmara Municipal e será obrigatório para cidades
com mais de vinte mil habitantes, sendo que a propriedade urbana irá cumprir com sua
função social quando atender às exigências expressas no plano diretor.

Ainda, será facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área
incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano
não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento,
sob pena, sucessivamente, de (art. 182, , § 4º, CR/88): a) Parcelamento ou edificação
compulsórios; b) IPTU progressivo no tempo; c) Desapropriação com pagamento
mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal,
com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados
o valor real da indenização e os juros legais. É importante destacar que esta última hipótese
trata da desapropriação para política urbana, tendo função sancionatória. As demais
desapropriações comuns de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização
em dinheiro.

O art. 183 da CF prevê a usucapião especial urbana ao prever que aquele que possuir
como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-
lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

22.4. Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária

Para garantir o cumprimento da Política Agrícola e Fundiária, a Constituição estabelece


que compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o
177
imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real,
resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja
utilização será definida em lei (art. 184, caput, CR/88).

Nesse caso, as benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro e o


decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária,
autoriza que a União proponha a ação de desapropriação. Ainda, serão isentas de
impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis
desapropriados para fins de reforma agrária.

Entretanto, existem situações em que será inviável haver a desapropriação para fins
de reforma agrária (art. 185, CR/88), como é o caso da propriedade produtiva e da
pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não
possua outra. Ainda no que se refere à Reforma Agrária, a Constituição garante que os
beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de
domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de dez anos (art. 189, CR/88)

Por fim, existe a chamada usucapião constitucional, que está prevista no artigo 192
da CR/88. Irá beneficiar aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural,
não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua
família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Importante lembrar que os
imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

22.5. Sistema Financeiro Nacional

No que tange ao Sistema Financeiro Nacional, o artigo 192 da CR/88 garante que
aquele será estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a
servir aos interesses da coletividade, de modo a abranger as cooperativas de crédito,
devendo ser regulado por leis complementares.

Mapa Mental

178
Ordem
Econômica e
Financeira

Ordem Política Agrícola Sistema


Econômica e Política Urbana e Fundiária - Financeiro
Financeira Reforma Agrária Nacional

Setor Público -
Determinante
Estado como agente
normativo e regulador
da atividade econômica
Setor Privado -
Indicativo

179
c

Referências bibliográficas
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
VASCONCELOS, Clever. Curso de Direito Constitucional. 6ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019.

180
c

23. Ordem Social


Conforme nos ensina Pedro Lenza (2019), a Ordem Social, prevista nos artigos 193 a
231 da CR/88, materializa a ideia da Constituição Social, que assegura direitos
prestacionais que necessitarão de uma atuação positiva por parte do Poder Público.
Corroborando esse entendimento, Gilmar Mendes (2019) afirma que estes são direitos de
prestação em sentido estrito e influenciam na criação de procedimentos, de garantias
judiciais e de efetivação de políticas públicas para que possam ser implementados.

Conforme aduz André Ramos Tavares (2019), esses direitos sociais são conhecidos
como de segunda geração ou dimensão e necessitam de uma atuação positiva por parte
do Poder Público, que deverá atuar de maneira efetiva para garantir a implementação de
tais direitos e, com isso, garantir a Ordem Social. A Constituição Federal a divide em
capítulos, sendo eles: seguridade social, educação, cultura, desporto, ciência, tecnologia,
inovação, comunicação social, meio ambiente, família, criança, adolescente, jovem, idoso e
índios.

23.1. Da Seguridade Social

A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos


Poderes Públicos e da sociedade que serão destinados a assegurar os direitos relativos à
saúde, à previdência e à assistência social (art. 194, CR/88). Para tanto, a Constituição
Federal estabeleceu seus objetivos, sendo eles:

a) universalidade da cobertura e do atendimento;


b) uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações
urbanas e rurais;
c) seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; d)
Irredutibilidade do valor dos benefícios; e) equidade na forma de
participação no custeio; f) diversidade da base de financiamento,
identificando-se, em rubricas contábeis específicas para cada área, as
receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência
social, preservado o caráter contributivo da previdência social; g) caráter
democrático e descentralizado da administração, mediante gestão

181
c

quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos


aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.

A seguridade, que engloba a previdência, a saúde e a assistência, será financiada por


toda a sociedade de forma direta e indireta. Para tanto, haverá contribuições derivadas
dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 195,
CR/88). Além disso, incidirá a chamada contribuição social, que será cobrada do
empregador sobre a sua receita ou seu faturamento e sobre a folha de salário da pessoa
física que lhe presta serviços, mesmo que não haja vínculo empregatício. Também incidirá
sobre o trabalhador e demais segurados da previdência social, salvo os aposentados e
pensionistas do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Haverá essa incidência sobre
a receita de concursos de prognósticos (loteria) e sobre o importador de bens ou serviços
do exterior.

Para incentivar o cumprimento dos deveres constitucionais, caso uma pessoa jurídica
esteja em débito com a seguridade social, não poderá contratar com o Poder Público e
nem receber benefícios deste até que quite com suas obrigações (art. 195, § 3º, CR/88).
Em contrapartida, serão isentas da referida contribuição as entidades beneficentes de
assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei (art. 195, § 7º, CR/88).

Outra forma de incentivo é a aplicação de uma alíquota diferenciada para alguns


indivíduos que preencham os requisitos constitucionais, não aplicando as regras gerais da
contribuição social. Desse modo, o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais
e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades
em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a
seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da
comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei (art. 195, § 8º,
CR/88).

No que se refere às contribuições sociais, garante-se que estas somente poderão ser
exigidas após decorrido o prazo de noventa dias da data da publicação da lei que as houver
instituído ou majorado. Ainda, com o intuito de garantir a efetividade do sistema, nenhum
benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem
a correspondente fonte de custeio total (art. 195, § 5º e 6 º, CR/88).

182
c

Após o conhecimento das principais características da seguridade social, passa-se ao


estudo individualizado de cada um dos sistemas que a compõe, sendo eles a saúde (art. 196,
CR/88), a previdência (art. 201, CR/88) e a assistência (art. 203, CR/88).

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e


econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Desse modo, qualquer pessoa poderá ter acesso aos serviços da saúde pública, que é
universal, independentemente de qualquer contribuição ou de a pessoa ser estrangeira
ou de estar em débito com o Poder Público.

A execução do serviço de saúde não é exclusiva do Poder, pois também poderá ser feita
por terceiros particulares, sejam pessoas físicas ou pessoas jurídicas (art. 197, CR/88).
Desse modo, percebe-se que a assistência à saúde é livre à iniciativa privada, que poderá
participar de forma

Ainda, poderá haver um regime de previdência privada, de caráter complementar e


organizado de forma autônoma em relação ao RGPS. Além disso, será facultativo e baseado
na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, sendo regulado por lei
complementar. Ainda, é vedado o aporte de recursos a entidade de previdência privada pela
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações, empresas
públicas, sociedades de economia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de
patrocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal poderá
exceder a do segurado (art. 202, CR/88).

Por fim, passa-se ao estudo da assistência social, que, assim como a saúde, independe
da contribuição por parte do beneficiário, que será o indivíduo que possua deficiência ou
que seja idoso, desde que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção
ou de tê-la provida por sua família (art. 203, V, CR/88). O benefício será composto pela
garantia de um salário mínimo de benefício mensal àquele que preencher os requisitos
constitucionais.

As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos


do orçamento da seguridade social (art. 195, CR/88), além de outras fontes. Ainda, é
facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e
promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a

183
c

aplicação desses recursos no pagamento de serviço da dívida, de despesas com pessoal e


encargos sociais.

Por fim, salienta-se que as diretrizes que cabem à assistência social são (art. 204,
CR/88): a) descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas
gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas
estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; b)
participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das
políticas e no controle das ações em todos os níveis.

23.2. Da Educação, da Cultura e do Desporto

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, visa ao pleno


desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho (art. 205, CR/88). Dentre os princípios estabelecidos no artigo 206 da CR/88,
destaca-se a gestão democrática e a valorização dos profissionais da educação escolar,
garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por
concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas.

Ainda, cumpre destacar que, em razão da importância da educação para a sociedade, é


garantido que as universidades gozem de autonomia didático-científica, administrativa e
de gestão financeira e patrimonial, obedecendo o princípio de indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão. Salienta-se que é facultado às universidades admitir
professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei (art. 207, CR/88).

Para garantir o cumprimento de seu dever constitucional, os Estados deverão efetivar


(art. 208, CR/88):

a) A educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos


de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria;
b) Progressiva universalização do ensino médio gratuito;
c) Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
d) Educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;
e) Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,

184
c

segundo a capacidade de cada um;


f) Oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
g) Atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de
programas suplementares de material didático escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde;
h) O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo;
i) O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta
irregular, importa responsabilidade da autoridade competente;
j) Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-
lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola;

Sobre os mencionados programas suplementares, a Constituição garante que serão


financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos
orçamentários. Além disso, a educação básica pública terá como fonte adicional de
financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas na
forma da lei (art. 212, § 4º e 5 º, CR/88). Ainda, poderá haver destinação de recursos
públicos às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais
ou filantrópicas, desde que comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus
excedentes financeiros em educação e assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de
encerramento de suas atividades (art. 213, CR/88).

Ainda, é importante destacar que, conforme preceitua o artigo 209 da CR/88, o ensino é
livre à iniciativa privada, desde que haja o cumprimento das normas gerais da educação
nacional e a autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. Além disso, serão
fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, sendo que haverá o ensino
religioso, de matrícula facultativa, a ser prestado conforme os horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental, além de que será assegurada às comunidades
indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem (art. 210, CR/88).

Sobre a atuação dos entes federados no âmbito da educação, cumpre destacar algumas
diferenciações. Primeiramente, caberá à União organizar o sistema federal de ensino e o dos
Territórios e exercer a função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização
de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante
assistência técnica e financeira aos demais entes (art. 211, § 1º, CR/88), devendo aplicar o

185
c

mínimo de 18%, anualmente, da receita resultante dos impostos na área da educação, sendo
essa transferência realizada anualmente (art. 212, CR/88).
Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e
médio. Por outro lado, os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na
educação infantil (art. 211, § 3º e 2 º, CR/88, respectivamente). Tanto os Estados e o Distrito
Federal quanto os Municípios deverão aplicar o mínimo de 25% da receita resultante dos
impostos na área da educação, sendo essa transferência realizada anualmente (art. 212,
CR/88).
Por fim, a lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal (dez
anos), visando, dentre outros objetivos, à erradicação do analfabetismo e a
universalização do atendimento escolar (art. 214, CR/88). Cuidado com a diferença entre
os termos, pois as provas costumam confundir o candidato ao trocar as palavras erradicar e
reduzir, sendo que, no caso no analfabetismo, busca-se a sua erradicação e não somente a
sua redução.
Já a cultura será garantida pelo Estado, que irá assegurar a todos o pleno exercício
dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a
valorização e a difusão das manifestações culturais (art. 215, CR/88). Ainda, a lei
estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao
desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público.
Ainda, é importante destacar o artigo 216 da CR/88, que estabelece que constituem
patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: a) as formas
de expressão; b) os modos de criar, fazer e viver; c) as criações científicas, artísticas e
tecnológicas; d) as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais; e) os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

No que tange à cultura, é importante destacar que a Constituição tombou todos os


documentos e sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos (art. 216,
§ 5º, CR/88). Por fim, é facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo
estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida,
para o financiamento de programas e projetos culturais.

186
c

Por fim, destaca-se o desporto, que está previsto no artigo 217, caput, da CR/88 e dispõe
que é dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais. Para tanto, se
deve observar a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a
sua organização e funcionamento, bem como o tratamento diferenciado para o desporto
profissional e o não profissional. Além disso, deverá haver a destinação de recursos
públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos,
para a do desporto de alto rendimento.

No que se refere aos processos judiciais desportivos, a Constituição assevera que o


Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após
esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, sendo que a justiça desportiva terá o prazo
máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão final
(art. 217, §1º e §2º, da CR/88).

23.3. Da Ciência, da Tecnologia e da Inovação

A Constituição assevera que o Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento


científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação (art. 218, caput,
CR/88), sendo importante fazer uma diferenciação que poderá ser cobrada nas provas. Desse
modo, a pesquisa científica básica e tecnológica receberá tratamento prioritário do Estado,
tendo em vista o bem público e o progresso da ciência, tecnologia e inovação. Por outro lado,
a pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos problemas
brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.

No que se refere ao investimento que poderá ser realizado nas empresas que invistam
em ciência, em tecnologia e em inovação, a Constituição assevera que a lei apoiará e
estimulará as empresas que façam esse tipo de investimento e que pratiquem sistemas
de remuneração que assegurem ao empregado, desvinculada do salário, participação nos
ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu trabalho. Além disso, é facultado
aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades
públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica (art. 218, § 4 º e 5 º,
CR/88). Ainda, o Estado promoverá e incentivará a atuação no exterior das instituições
públicas de ciência, tecnologia e inovação (art. 218, § 7 º, CR/88).

Por fim, destaca-se que o mercado interno integra o patrimônio nacional e será
incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-estar

187
c

da população e a autonomia tecnológica do País. Para tanto, é necessário que haja


regulamentação através de lei federal (art. 219, CR/88).

23.4. Da Comunicação Social

A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob


qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o
disposto nesta Constituição (art. 220, CR/88). Além disso, competirá à lei federal regular as
diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza
deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua
apresentação se mostre inadequada, bem como estabelecer os meios legais que garantam
à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de
rádio e televisão que contrariem o disposto na Constituição.

No que diz respeito à propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas,


agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, deverá haver
sempre a advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso. Ainda no que diz respeito
à propaganda como um todo, cumpre destacar quer a publicação de veículo impresso de
comunicação independe de licença de autoridade, devendo haver a priorização de
finalidades educativas, culturais, artísticas, cultura nacional e respeito aos valores éticos e
sociais brasileiros.

É importante fazer uma diferenciação no que diz respeito à propriedade e à


responsabilidade editorial. Primeiramente, a propriedade de empresa jornalística e de
radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados
há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sede no País (art. 222, caput e § 1 º, CR/88). Já a responsabilidade editorial e as
atividades de seleção e direção da programação veiculada são privativas de brasileiros
natos ou naturalizados há mais de dez anos, em qualquer meio de comunicação social (art.
222, § 2 º, CR/88). Ainda, havendo alterações do controle societário dessas empresas,
será necessário haver uma comunicação ao Congresso Nacional.

Por fim, o artigo 223 da CR/88 estabelece que compete ao Poder Executivo outorgar e
renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de
sons e imagens, observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado,
público e estatal. Para tanto, deverá haver a apreciação do ato pelo Congresso Nacional,

188
c

sendo que a não renovação da concessão ou permissão dependerá de aprovação de, no


mínimo, dois quintos do Congresso Nacional, em votação nominal.

Ainda, cumpre destacar que o ato de outorga, ou renovação, somente produzirá efeitos
legais após deliberação do Congresso Nacional, sendo que o cancelamento desses antes
de vencido o prazo necessitará de decisão judicial. Por fim, é importante mencionar que o
prazo da concessão ou permissão será de dez anos para as emissoras de rádio e de quinze
para as de televisão.

23.5. Do meio ambiente

A Constituição Federal, em seu artigo 225, garante que todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. É importante fazer uma diferenciação
entre dois termos parecidos, mas que se referem a situações distintas.

É necessário que o Poder Público exija estudo prévio de impacto ambiental para a
instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do
meio ambiente, devendo haver a publicação desse estudo. Percebe-se, portanto, que não
é qualquer atividade e sim aquela que tenha potencial de gerar significativa degradação
ambiental (art. 225, IV).

Além disso, competirá ao Poder Público definir, em todas as unidades da Federação,


espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Ressalta-se que é
possível a criação desses espaços através de outras espécies normativas, o que se exige é
que a alteração e a supressão sejam realizadas através de lei em sentido estrito.

Caberá, ainda, fazer o controle da produção, da comercialização e do emprego de


técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o
meio ambiente (art. 225, §1º, V, CR/88).
A Constituição garante que serão indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas
pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas
naturais (art. 225, §5º, CR/88). Ainda, as usinas que operem com reator nuclear deverão
ter sua localização definida em lei federal, sem a qual não poderão ser instaladas (art. 225,
§ 5 º e 6 º, CR/88).
189
c

Por fim, o Congresso Nacional decidiu que não se consideram cruéis as práticas
desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o
§ 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial
integrante do patrimônio cultural brasileiro. Desse modo, em que pese a decisão do STF
em sentido contrário (STF. Plenário. ADI 4983/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
06/10/2016), esse tipo de atividade é permitido no país.

23.6. Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso

Sobre a família, a Constituição garante que aquela é a base da sociedade, tendo,


portanto, especial proteção do Estado (art. 226, caput, CR/88). Garante-se que o
casamento civil tenha sua celebração gratuita, sendo que o casamento religioso terá
efeitos civis desde que observe as disposições legais, podendo ser dissolvido através do
divórcio.

No que se refere à criança, ao adolescente e ao jovem, a Constituição (art. 227)


garante que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Será assegurada a idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho na


condição de aprendiz, além da garantia de direitos previdenciários e trabalhistas, sendo
que deverá haver o acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola (art. 227, CR/88).
Além disso, obedece-se aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
privativa da liberdade, sendo que o Poder Público deverá promover incentivos fiscais e
subsídios para o acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente, órfão
ou abandonado.

Cumpre destacar que serão penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos,


sujeitos às normas da legislação especial (art. 228, CR/88). Ainda, destaca-se que o plano
nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas do
poder público.

No que diz respeito ao idoso, os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os
pais na velhice, carência ou enfermidade (art. 229, CR/88). Além disso, os programas de
190
c

amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares, sendo que aos
maiores de 65 anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos.

23.7. Dos Índios

Por fim, no que se refere aos índios, a Constituição garante que serão reconhecidos aos
índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-
las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens (art. 231, CR/88).

É importante destacar que, apesar de a Constituição não garantir a propriedade, ela


garante, aos índios, a posse permanente das terras tradicionalmente ocupadas por eles,
cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes. Destaca-se que, segundo o STF, terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
são aquelas que eles ocupavam na data da promulgação da CF/88 - 05.10.1988 (STF. 2ª
Turma. RMS 29087/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão, Min. Gilmar
Mendes, julgado em 16/9/2014).

Ainda, o aproveitamento dos recursos hídricos, os potenciais energéticos, a pesquisa


e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com
autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes
assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei (art. 231, § 2º e 3 º,
CR/88).

É importante destacar que as terras supramencionadas são consideradas inalienáveis


e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis (art. 231, § 4º, CR/88). Nesse
sentido, é vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, se referendado
pelo Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua
população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional,
garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.

Por fim, serão considerados nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos
que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este
artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes,
ressalvado relevante interesse público da União. É o que dispõe o art. 231, § 6º, CR/88.

191
c

Mapa Mental

Seguridade Social

Educação, Cultura e
Desporto

Ciência, Tecnologia e
Inovação
Da Ordem Social
Meio Ambiente

Família, Criança,
Adolescente e Idoso

Índios

Aposentadoria pelo RGPS

Regra Rural
65 60
homem homem

60 55
mulher mulher

192
c

Educação

União Estados e DF Municípios

Ensino Ensino
Federal
Fundamental Fundamental

Territórios Ensino Médio Ensino Infantil

18% receita 25% receita 25% receita


impostos impostos impostos

193
c

Referências bibliográficas
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação,2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.

194
c

24. Disposições Constitucionais Gerais


O título IX é o último da Constituição e trata sobre as disposições constitucionais gerais
(art. 234 ao 250). As disposições constitucionais elencam situações específicas e algumas
até transitórias que deverão ser observadas no ordenamento jurídico brasileiro.

24.1. Conceito

As Disposições Constitucionais Gerais são normas jurídicas que possuem um elevado


grau de impessoalidade e de abstratividade e estão dispostas nos artigos finais da
Constituição Federal (arts. 234 a 250, CR/88).

Nesse sentido, referidas normas tratam sobre: encargos do pessoal e amortização da


dívida pelos entes federados; normas básicas que os Estados deveriam observar após o
advento da Constituição Federal de 1988; serviços notórios e de registradores;
fiscalização dos poderes; venda de combustíveis como o petróleo; financiamento do seguro
desemprego; contribuição compulsória dos empregadores; expropriação de
propriedades que sirvam para o cultivo de psicotrópicos e de trabalho escravo, dentre
outros temas.

A presente apostila não irá transcrever todos os artigos, sob pena de ter-se um material
extenso e repetitivo. Desse modo, é importante que o aluno faça uma leitura dos artigos 135
a 150 da CR/88, mesmo que esse tema não seja muito recorrente nas provas da OAB.
Destaca-se o artigo 236 que dispõe que os serviços notariais são exercidos em caráter
privado, por delegação do Poder Público. No que se refere aos serviços dos notórios e dos
registradores, vale ressaltar o entendimento recente do STF de que os transgêneros têm
direito a alteração de prenome e do gênero diretamente no registro civil, pela via administrativa
ou judicial, independentemente de procedimento cirúrgico e laudos de terceiros (ADI 4275,
Relator (a): Min. Marco Aurélio, Relator (a) p/ Acórdão: Min. Edson Fachin, Tribunal Pleno,
julgado em 01/03/2018).
Destaca-se, também, nas disposições constitucionais gerais, o artigo 243 da
Constituição Federal que prevê a desapropriação confiscatória (sem qualquer tipo de
indenização) de propriedades rurais e urbanas onde forem localizadas culturas ilegais de
plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo.
Apesar dessa previsão, Pedro Lenza (2019) e André Ramos Tavares (2019.), ao
disporem sobre os direitos individuais que estão previstos no artigo 5º da CR/88, garantem
195
c

que o direito à propriedade, como um direito fundamental, deverá ser garantido como regra.
Os Tribunais Superiores têm o entendimento de que a mencionada disposição constitucional
não será aplicada e, portanto, a propriedade será mantida, caso o interessado consiga
provar que não agiu com culpa e que não tinha conhecimento de que a sua propriedade
estaria sendo utilizada para esse fim.
Conforme dito, os referidos artigos possuem um acentuado caráter impessoal e
abstrato, de modo a traduzir diversos comportamento amplos que serão aplicáveis a
situações certas, mutáveis ou passageiras. No Brasil, todas as Constituições previram
disposições gerais, com exceção da Carta de 1937, que simplesmente enunciou o rótulo
“Disposições transitórias e finais”.

Mapa Mental

• Urbana ou Rural
Expropriação
Propriedade • Cultivo de substâncias
para Reforma psicotrópicas
Agrária ou • Trabalho escravo
Habitação
Popular
• Sem indenização
• Abrange toda a propriedade

196
c

Referências bibliográficas
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
VASCONCELOS, Clever. Curso de Direito Constitucional. 6ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019.

197
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25. ADCT

Os Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) são encontrados


em todas as Constituições brasileiras, exceto na de 1824. O ADCT é classificado como
um elemento formal de aplicabilidade da Constituição e é considerado como norma
integrante da Constituição (LENZA, 2019, n.p.).

25.1. Conceito

O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) pode ser conceituado como
um conjunto de regras que estabelecem disposições úteis para que haja a transição entre
um ordenamento jurídico antigo e um novo, de modo a providenciar uma espécie de
acomodação e de transição do pretérito e do atual direito edificado. (LENZA, 2019, n.p.).
Ainda, Gilmar Mendes pontua que a norma contida no ADCT é constitucional, tendo
o mesmo status jurídico das demais normas contidas ao longo da Constituição, podendo,
portanto, ser alterada por emenda constitucional (MENDES, 2019, n,p.).

25.2. Classificação das normas contidas no ADCT

Pedro Lenza, ao citar Raul Machado Horta, expôs que existem algumas categorias
das normas contidas no ADCT (LENZA, 2019, n.p.), podendo ser:

a) Exauridas: que já desapareceram em razão do implemento de alguma condição,


como é o caso da disposição presente no art. 4, § 4 º, CR/88, que aduz que os
mandatos dos, até então, Prefeitos, Vice-Prefeitos e Vereadores terminariam no
dia primeiro de janeiro de 1989;
b) Dependentes de legislação de Execução: necessitam de normas para que
possam ser plenamente eficazes, como é o caso do art. 10, § 1º, CR/88, dispondo
que, até que a lei venha a disciplinar o disposto no artigo 7 º da CR/88, o prazo da
licença paternidade seria de cinco dias;
c) Duração temporária expressa: o artigo 40 da CR/88, que manteve a Zona
Franca de Manaus por 25 anos a partir da promulgação da Constituição;
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d) Normas de Recepção: como exemplo, cita-se o artigo 34, § 5 º, CR/88, que afirma
que vigente o novo Sistema Tributário Nacional, ficaria assegurada a aplicação da
legislação anterior naquilo que não fosse incompatível com a nova Constituição;

e) Normas sobre benefícios e direitos: como é o caso do art. 53, CR/88, que
assegurou diversos direitos ao ex-combatente que tenha efetivamente participado
de operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial;

Assim, a tendência é que haja o natural exaurimento das normas do ADCT, visto
que, como disposições transitórias, têm como objetivo promover a transição do
ordenamento jurídico anterior com a nova ordem constitucional. Desse modo, quando
alcança seu objetivo, a referida norma terá sua eficácia exaurida, uma vez que já terá
cumprido com o seu papel.

Mapa Mental

Normas de Natureza
Constitucional

Emenda
ADCT Não inclui
Constitucional

Transitória Preâmbulo

Migrar de um
ordenamento jurídico
antigo para um novo

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Referências bibliográficas
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23ª edição. São Paulo. Saraiva Educação,
2019.
MENDES FERREIRA, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 14 ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.
RAMOS TAVARES, André. Curso de Direito Constitucional. 19ª edição. São Paulo. Saraiva
Educação, 2019.

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