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FUNDAÇÃO PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS - FUPAC

FACULDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS DE TEÓFILO OTONI

RESENHA CRÍTICA DO LIVRO DOS DELITOS E DAS PENAS DE CESARE


BECCARIA

Gleyber Conceição Martuchele do Amaral,


Graduando em Direito, Faculdade
Presidente Antônio Carlos de Teófilo Otoni,
Curso de Direito, História e Teoria do
Direito, 1° período, Teófilo Otoni, Brasil e E-
mail: gcma.martuchele@gmail.com

1. Introdução

Na segunda metade do século XVIII, influenciado pelos valores e ideais


iluministas, o criminologista e economista italiano Cesare Beccaria (1738-1794)
tomou notório conhecimento no âmbito do direito penal por contrapor, de forma
profundamente reflexiva, a esfera punitiva de Direito na Europa, instituída pelas
formas de governo daquele tempo, levantando questionamentos como um todo a
respeito da ordem social vigente.
O referido período também conhecido como o “Século das Luzes”, em alusão
às discussões filosóficas iluministas difundidas na Europa Ocidental, representa um
marco histórico para o pensamento e as transformações sociais que se sucederam
das reflexões propostas por Beccaria e outros importantes pensadores da época.
Inspirado nas concepções filosóficas que alicerçaram o iluminismo, Beccaria
expõe no livro “Dos delitos e as penas”, um conjunto de ideias que repercutem,
atualmente, os fundamentos do direito penal.

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2. Desenvolvimento

Na obra intitulada “Dos delitos e das penas”, Beccaria apresenta duras


críticas ao sistema judiciário Europeu que, para ele, não infligia as leis de forma
igualitária e justa, emergindo daí, indagações que propiciaram a reflexão a respeito
do papel daquele que legisla e aquele que faz cumprir a lei, bem como o que
determina as penas com base nos delitos e suas dimensões.
Inicialmente, no primeiro capítulo, já são apontados importantes
questionamentos que revelam, sucintamente, aquilo que o autor pretende discorrer:
os fundamentos e as finalidades da pena e a conduta daqueles que têm o poder de
aplicar as leis.
Recorrendo aos recursos da retórica, Beccaria sustenta a ideia de que “as leis
são as condições sob as quais homens independentes e isolados se uniram em
sociedade”, exauridos pelos conflitos que privam a liberdade, buscam instituir
ferramentas que garantam não só convivência pacífica entre os indivíduos, mas
que lhes asseguram o gozo da liberdade em prol de um bem comum. Essas
ferramentas, as leis, deveriam ser fundamentadas e aplicadas afastando-se
quaisquer privilégios advindos da posição social do ser humano, do sentimento de
impunidade.
Em diversos trechos da obra, observa-se a defesa do princípio de que os
direitos individuais não se sobrepõem aos direitos coletivos, assim como, as
liberdades individuais não podem ferir as universais.
O autor manifesta, de forma evidente, o pensamento de que as punições
condicionadas aos excessos e exageros, cujo argumento baseia-se na
necessidade de promover a segurança e estabelecer a ordem, são, por si só,
injustas por natureza. Além disso, propõe-se que o emprego de quaisquer esforços
violentos ou ilegitimamente persuasivos para obtenção da verdade, desqualifica os
fins para os quais as leis foram instituídas.
No decorrer da obra, o autor traz à tona um tema ainda debatido no atual
cenário político ao defender que “a pena de morte não se apoia, assim, em nenhum
direito”. Para ele, trata-se de “uma guerra declarada a um cidadão pela nação, que
julga a destruição desse cidadão necessária ou útil”. Subsequentemente,
argumenta-se que esse recurso punitivo ao longo dos séculos não tem sido eficiente
para coibir o acometimento de crimes hediondos.
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Seguindo essa conjectura, Beccaria sustenta a ideia de que uma pena justa,
deve instituir meios compatíveis ao delito cometido, de tal maneira a conduzir o
homem a não praticar o ato ilícito novamente.

3. Considerações Finais

A obra “Dos delitos e das penas” pode ser considerada atemporal,


considerando que as ideias expostas em suas diminutas páginas, foram de enorme
contribuição para a consolidação daquilo que configurou, posteriormente, o direito
penal. Tais ideias transcendem e se perpetuam no tempo, tendo o pressuposto de
que ainda são e serão discutidas em diferentes épocas e contextos sociais, não se
limitando apenas ao âmbito jurídico devido ao seu caráter moral.
No âmbito do direito penal, as reflexões que emergem do contexto histórico
social europeu, no século XVIII, em relação a aqueles que concebem ou os que
infligem as leis, bem como as condutas éticas e morais, permitem-nos estabelecer
comparações cronológicas a respeito da evolução do direito e suas implicações para
a sociedade atual.
Pelo exposto, esse livro pode ser incorporado às referências de leitura
obrigatória aos discentes do curso de ciências jurídicas, no entanto, não se limitando
apenas a essa área. Aos amantes da literatura, filosofia e sociologia, o texto traz
consigo questionamentos que conduzem o leitor à reflexão crítica sobre diversos
aspectos das relações entre o homem e o meio em que vive, no estabelecimento de
normas de conduta para uma convivência pacífica, além das formas de instituir as
penas e punições para aqueles que infringem as leis.

4. Referências Bibliográficas

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 2. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1999. Tradução J. Cretella Jr. e Agnes Cretella. Disponível em:
http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17502/material/
BECCARIA,%20C.%20Dos%20delitos%20e%20das%20penas.pdf. Acesso em: 25
fev. 2022.

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