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A teoria da história: A função do Direito na dinâmica

evolutiva das sociedades e na formulação das narrativas históricas

Natany Moreno Teles

Prof. Dr. Homero Chiaraba Gouveia.

Universidade Estadual de Santa Cruz

Bacharelado em direito (2° semestre matutino) – História e Direito

18 / 09 / 2023

Resumo
Este paper examina a interseção entre o ordenamento jurídico e o processo evolutivo
das sociedades, bem como sua influência na construção de narrativas históricas.
Argumenta-se que o sistema jurídico desempenha um papel preponderante na
estruturação e na regulação das sociedades com o transcorrer do tempo. A análise se
concentra na maneira pela qual as normas jurídicas espelham os valores culturais,
políticos e sociais, moldando o comportamento humano e as estruturas sociais.
Adicionalmente, explora-se como as mudanças no sistema jurídico ao longo da
história podem ser empregadas como ferramentas para rastrear o desenvolvimento
das sociedades e suas metamorfoses. Considera-se como as decisões judiciais, os
códigos legais e as constituições como reflexos dos desafios e das aspirações de
diferentes períodos temporais, bem como como esses registros legais são utilizados
na construção das narrativas históricas. Conclui-se que o sistema jurídico não é
meramente um espelho da sociedade, mas também um agente propulsor de sua
evolução, desempenhando um papel fundamental na formação das narrativas
históricas que moldam nossa compreensão do passado e do presente. Este paper traz
à tona a complexa relação entre o sistema jurídico e a história, sublinhando a
importância de uma análise crítica dessa interação para uma compreensão mais
profunda da sociedade humana.

Palavras-chave: Direito; História; Sociedade; Sistema Jurídico; Dinâmica Evolutiva


das Sociedades; Narrativas históricas
Introdução

A teoria da história desempenha um papel fundamental na compreensão da


evolução das sociedades e na construção das narrativas históricas que moldam nossa
visão do passado. Dentro deste contexto, uma questão fundamental que tem intrigado
historiadores e estudiosos das ciências sociais surge: qual é a função do Direito nessa
dinâmica evolutiva das sociedades e na formulação das narrativas históricas? Esta
interrogação estimula a reflexão sobre como o Direito, como sistema normativo e
regulatório, influencia o curso da história e como as interpretações históricas são
moldadas por ele. Esta pesquisa busca explorar profundamente essa temática entre
Direito e história, considerando obras fundamentais como "O Direito na História", "A
História das Instituições" e "Escrever História do Direito: Reconstrução, Narrativa ou
Ficção?" como guias para o aprofundamento desse tema complexo.

A hipótese que norteia esta investigação é a de que o Direito exerce uma


influência substancial na evolução das estruturas sociais, políticas e econômicas, e
que suas transformações ao longo da história estão intrinsecamente ligadas às
mudanças nas sociedades desempenhando um papel essencial na construção das
narrativas históricas. Além disso, acreditamos que as narrativas históricas que
contamos são fortemente influenciadas pela forma como o Direito é entendido e
interpretado ao longo do tempo. Portanto, argumentamos que uma compreensão
profunda dessa relação entre Direito, sociedade e narrativa histórica é fundamental
para uma análise histórica mais completa e precisa.

A justificativa para este estudo reside na importância de compreender como o


Direito atua como uma força dinâmica na história das sociedades e como essa
compreensão pode enriquecer nossa capacidade de construir narrativas históricas
mais ricas e informadas. Além disso, o estudo pode fornecer dicas valiosas para a
formulação de políticas públicas, para a interpretação de eventos históricos e para a
compreensão das relações entre o Direito e a sociedade. É crucial abordar essa
temática, uma vez que o Direito desempenha um papel central em nossas vidas e na
estruturação das sociedades.

Os objetivos desta pesquisa incluem analisar as teorias e conceitos


relacionados ao papel do Direito na evolução das sociedades, examinar de que forma
as narrativas históricas são construídas em torno do Direito, e avaliar as diferentes
abordagens apresentadas em obras-chave, como "O Direito na História," "A História
das Instituições," e "Escrever História do Direito: Reconstrução, Narrativa ou Ficção?".
Ao alcançar esses objetivos, almejamos contribuir para uma compreensão mais
profunda e crítica da relação entre o Direito e a história, bem como suas implicações
para a nossa compreensão do passado e do presente.

1. Desenvolvimento

1.1 Contextualização Histórica do Direito

O presente texto exposto concentra-se na trajetória evolutiva do direito ao longo


da história, com especial ênfase nas antigas civilizações, notadamente a grega e a
romana. Delimita-se a discussão em torno do papel preponderante desempenhado
pelas cidades na administração da justiça e na formulação das normas jurídicas.
Adicionalmente, faz-se uma análise das distinções substanciais que caracterizam o
direito nas sociedades antigas em contraste com suas manifestações
contemporâneas, destacando, em particular, a ressurgência e adaptação contínua do
direito romano ao longo do transcurso temporal.

Essa visão geral do direito antigo, incluindo o direito romano, serve para
marcar as essenciais diferenças entre o que hoje chamamos direito e o que
foi o direito de civilizações já desaparecidas. De fato, de alguma forma,
inseridos que estamos na orbita da civilização ocidental, é claro que a
herança romana nos chegou, assim como algo da herança grega. Apesar
disso é bom lembrar que o direito romano só nos chega porque foi
“redescoberto” e verdadeiramente “reinventado” duas vezes na Europa
ocidental: a primeira vez nos séculos XII a XV e a segunda vez no século XIX,
respectivamente pelos juristas da universidade medieval, glosadores e
comentadores, e pelos professores alemães que tentavam a unificação
jurídica nacional. Como toda “volta” histórica, as redescobertas do direito
romano foram um uso não previsto historicamente para decisões, sentenças
e instituições. (O Direito na História_José Reinaldo de Lima Lopes p. 15-16)

1.2 Instituições como Pilares da Sociedade

António Manuel Hespanha tece a tese das instituições que seria alternativa ao
passado jurídico, destacando das abordagens tradicionais e da dogmática jurídica.
Ele contextualiza que tanto as fontes do direito que envolve o processo
evolutivo das normas, tanto a dogmática jurídica que está centrada na evolução das
doutrinas e das terminologias adotadas pelos juristas tem o caráter de excluir o direito
de outras questões da vida social tais como: a economia, a cultura, a política e as
tradições, afirmando veementemente que a ordem jurídica é a vontade do legislador,
da construção dos juristas, tornando esse ciclo restrito.
Em contraponto, sua tese da história das instituições vai contra essa
perspectiva e argumenta que o direito e a realidade social são umbilicalmente ligados.
Ela defende que o direito regula a vida nas sociedades, tem uma interação direta com
outros valores, como a etiqueta, a moral e a religião solucionando conflitos sociais e
trazendo equilibro a sociedade.
Sociólogos como Hauriou e Durkheim, afirmam que as instituições jurídicas são
parte integralista da realidade social, que elas não podem ser desvinculadas.

1.3 Abordagens na Escrita da História do Direito

Michael Stolleis, renomado historiador que está amparando nosso texto, em


seu livro “Escrever História do Direito: Reconstrução, Narrativa ou Ficção?” irá elencar
diferentes abordagens questionando a metodologia utilizada pelos historiadores do
direito ao assumirem a função de escrever o passado jurídico. Pautas essenciais
foram levantadas sobre como a histórica jurídica foi pesquisada, a maneira a qual
documentaram esses estudos e respectivamente, como o apresentavam. Ele explorou
três métodos principais: reconstrução, narrativa e ficção.
Na abordagem de reconstrução há um rigor ao analisar as fontes históricas,
tais como: decisões judiciais, documentos legais e tratados jurídicos. Os historiadores
que tendem para essa linha se esforçam com precisão as ideias e eventos do passado
jurídico. Sua principal característica é a objetividade.
No método narrativo da história do direito, vemos a criação de uma narrativa
com coesão e envolvente que fala do desenrolar do desenvolvimento do direito ao
transcorrer do tempo. Os historiadores que seguem esse método fazem uma seleção
e organização dos eventos históricos, narrativa esta que pode incluir personagens,
conflitos, trazendo uma perspectiva contextualizada do passado do direito.
A abordagem fictícia (embora menos comum), como o próprio nome sugere,
permite liberdade criativa na escrita do passado jurídico. Aqui, os historiadores
exploram a possibilidade de usar elementos fictícios para preencher espaços vagos
nas fontes históricas, ou para ilustrar de forma mais simples dilemas e conceitos
jurídicos. Eles usam como ferramentas diálogos imaginários, cenários hipotéticos e
interpretações abstratas da história do direito para criar histórias ilusórias, ou até
mesmo eventos históricos, isso nos traz um passado jurídico criativo e dinâmico.
2. Considerações finais
Em suma, este paper fornece uma profunda e reflexiva exploração da
confluência presente entre o ordenamento jurídico, a construção das narrativas
históricas e a evolução das sociedades. Foram abordados diversos tópicos relevantes
que explicitaram essa complexa relação explicitando a vasta influência do sistema
jurídico tanto na estruturação, quanto na regulação das sociedades com o transcorrer
do tempo, destacando que as normas jurídicas não somente regulam as relações
humanas, como molda ativamente o comportamento humano e as estruturas sociais.

Compreender a relação entre o sistema jurídico e a história trará uma


compreensão mais profunda da sociedade humana, influenciando como assimilamos
o passado e o presente.

Esta pesquisa sendo melhor aprofundada e com maiores e melhores fontes de


conhecimento pode oferecer inspirações de grande valia para a formulação de
políticas publicas que podem aprimorar o direito.

Referências bibliográficas

HESPANHA, António Manuel. História das instituições: épocas medieval e moderna. Coimbra:
Almedina. 1982. Introdução.

LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história: lições introdutórias. 2000. Capítulo 1.

STOLLEIS, Michael. Escrever história do direito: reconstrução, narrativa ou ficção? Editora


Contracorrente, 2020.

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