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Bibliografia:
ALMEIDA COSTA, Mário Júlio, História do Direito Português, 5ª edição, Almedina, 2012
FIGUEIREDO MARCOS, Rui Manuel de, A Legislação Pombalina, Almedina
FIGUEIREDO MARCOS, Rui Manuel de, A História do Direito e o seu Ensino na Escola de Coimbra, Almedina
Eduardo Figueiredo 2013/2014
Introdução
Define-se História do Direito como a disciplina que descreve e explica as instituições e a vida jurídica
do passado, nos seus múltiplos aspetos normativos, práticos, científicos e culturais. Porém esta não se
confunde com o direito atual historicamente estudado, ou seja, com a análise do passado estrito do direito
que vigora nos nossos dias. É importante atentar também na história das instituições e princípios jurídicos
já abolidos e inexistentes na atualidade.
A orientação tradicional considera que a história do direito estuda a evolução dos sistemas jurídicos,
enquanto elemento aglutinador dos fenómenos jurídicos de cada época, ao longo do tempo e a sua
transformação. Realça-se assim o aspeto de disciplina histórica. A consideração através de um ângulo
jurídico salienta a sua utilidade para o jurista moderno, enquanto que, se partirmos de uma vertente mais
histórica, se adquire uma visão geral do homem e da sociedade. Estas duas perspetivas completam-se.
O interesse pela história do direito remonta ao século XVI e ao movimento humanista que considerava o
ius romanorum como apenas “mais um direito de muitos”. Porém, só alcança estatuto científico no século
XIX, quando se adota um método histórico-crítico. Na segunda metade do século XIX, a ciência histórica
chega mesmo a pretender assimilar a ciência jurídica, pois com a Escola Histórica “o passado não teria
apenas um valor pedagógico (…) mas um autêntico valor ontológico.”.
A contemplação do direito deve ser feita culturalmente, vinculando-o à realidade social e procurando
“erguer a história do direito até a um cume, onde conseguisse avistar a realidade jurídica na sua autêntica
integridade”.
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da fórmula específica que assume em determinado momento histórico. Podemos falar de uma perspetiva
virada para o futuro.
A perspetiva histórica que estuda as instituições e os princípios jurídicos no seu passado, investigando
os seus precedentes e as causas da juridicidade do direito atual.
Quanto ao objeto e conteúdo, a história do direito tem três áreas fundamentais que representam outras
subdisciplinas relacionadas, mas suscetiveis de estudo autónomo. São elas:
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Crítica: só a história interna constitui autêntica história do direito, já que a história externa se trata de
uma história da civilização. Modernamente, criou-se um novo alcance ao conceito: história do direito é o
ramo da história jurídica que se ocupa das instituições e a história externa incide sobre as fontes de direito
do passado. Contudo, há quem continue a considerar esta distinção desadequada pois não esgota o objeto
da história do direito.
O método monográfico consiste numa análise da linha evolutiva das diversas instituições, consideradas
por si mesmas, sem a preocupação de avaliar as influências e interdependências, no mesmo ciclo histórico,
de umas em relação às outras. É usado no estuda da história especial e interna.
Vantagem: evita a desvantagem supramencionada.
Desvantagem: não consente o confronto das diversas instituições dentro do mesmo período histórico.
A ciência do direito comparado tem procurado reconduzir as várias ordens jurídicas atuais a alguns
sistemas ou famílias, reconhecendo-se a existência de vários direitos. Torna-se, assim, possível definir a
convergência dos diversos direitos em famílias e aproximá-los ou contrapô-los, de acordo com certos traços
de natureza substancial ou formal. Há quatro grandes sistemas jurídicos/famílias que têm sido apontadas:
a) Família romano-germânica: família na qual se incluem as ordens jurídicas da maior parte dos países
do Ocidente europeu continental, bem como as do que destes derivam, como a América Latina.
b) Família do Direito Comum (Common Law): Maioritariamente jurisprudencial e também designada de
anglo-americana.
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c) Família dos direitos socialistas: Abrange os anteriores ordenamentos dos países do leste europeu.
d) Família dos direitos religiosos e tradicionais: Nos primeiros incluímos o direito muçulmano, judaico
e hindu; nos segundos alguns direitos orientais e africanos.
O direito português integra-se na família do direito romano-germânico. Importa referir dois elementos:
o romano e o germânico. Deve-se, ainda, acrescentar o cristão.
a) Elemento Romano: Ocupa uma posição de relevo, estando nos alicerces da consciência jurídica
europeia contemporânea. O direito romano foi estudado desde a sua criação e a sua presença e
influência é significativa nos tempos modernos. Os romanos contribuíram para uma compreensão
espiritual do direito e a ideia de que ele se traduz numa criação do estado.
b) Elemento Cristão: Forneceu à consciência jurídica europeia valores muito significativos, primeiro
sobre a influência exercida sobre o direito romano e, mais tarde, pelo surgimento de uma ética
social cristã que tem vindo a modelar a consciência jurídica europeia.
c) Elemento Germânico: Trouxe uma compreensão específica ao direito europeu que determinou as
mudanças de onde partiram as formações estatais da Idade Média. É relevante o contato entre as
conceções e instituições romanas e outras provenientes do Volksrecht. («Direito Popular Alemão»)
6. Plano da exposição
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Estas ideias chegaram a Portugal numa época já tardia. O Iluminismo português revela influências
italianas. Destaca-se o contributo de Verney com a criação da obra “Verdadeiro método de estudar” que
atingia muitos aspetos da mentalidade portuguesa da época e dos diversos ramos do ensino em Portugal.
Quanto à Faculdade de Leis e de Cânones aconselha o método expositivo sintético-compendiário, indicando
o estudo do direito nacional e da sua história, bem como outras disciplinas que proporcionem uma conceção
viva da realidade social.
Procede-se a várias transformações no ensino universitário, nomeadamente no sector jurídico,
começando a lecionar-se direito pátrio e respetiva história. O Compêndio Histórico (1771) criou um
programa para a disciplina e exigia a criação de um compêndio elementar da disciplina a realizar pelo
professor. O primeiro foi criado por Mello Freire, considerado o fundador da história do direito português.
Destaca-se a Academia Real das Ciência (Caetano do Amaral, Anastácio de Figueiredo…) e Universidade de
Coimbra (coletânea de fontes e compilações de assentos dos tribunais superiores) e seus contributos.
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Primitivos habitantes do Lácio com várias regalias e direitos.
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Habitantes das províncias a quem a latinidade foi concedida como privilégio. Tinham alguns direitos, como o de votar
nos comícios e o ius comercii. Todos os latinos podiam vir a ver reconhecida a cidadania romana se desenvolvesse
alguns cargos no senado local ou cúria.
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Escravos libertos, sem direitos de cidadania.
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Fontes do Direito: Predominam as leis relativas à fundação de colónias e de municípios. (ex: Tábuas de
Aljustrel) Destacam-se, ainda, éditos e decretos de magistrados, senatusconsultos e constituições imperiais.
Instituições Jurídicas: O Direito Romano não foi todo integralmente recebido e aplicado, mesmo depois de
generalizada a cidadania. Vigorou um Direito Romano Vulgar com uma estrutura menos complexa e mista
que o Direito Romano Oriental. Levantam-se, ainda hoje, vários problemas quanto a este processo de
vulgarização do Direito Romano. Fala-se de um fenómeno cultural generalizado. Esta vulgarização tem dois
traços fundamentais: descaraterização do sistema romano clássico e revitalização dos direitos locais ou
regionais.
As invasões
Foram uma infiltração lenta impulsionada por várias causas: motivos de índole económica (falta de
meios de subsistência), caráter guerreiro e aventureiro desses povos e a decadência económica,
institucional e política do Império Romano. Agrupavam-se em comunidades económico-agrárias – Marca. Só
depois das invasões surgiram os primeiros Estados germânicos, em geral monarquias eletivas.
Durante a sua migração através do império mantiveram os seus costumes jurídicos, não os impondo as
comunidades romanizadas e vigorando o princípio da nacionalidade de direito. Verifica-se uma coexistência
de organizações político-administrativas. A persistência do direito romano levou à sua fusão com o direito
germânico.
Fontes do Direito dos Estados Germânicos: Há vários modos de formação e revelação das normas jurídicas,
textos e monumentos que as continham e órgãos criadores. Há também vários documentos de aplicação do
direito, que celebraram atos jurídicos concretos.
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Ciência do Direito
As escolas do direito romanas entraram em decadência, mas existiram inúmeros juristas de valor e
muita literatura jurídica do período visigótico. Destaca-se Santo Isidoro, bispo de Sevilha. Teve grande
impacto no desenvolvimento do direito canónico e da organização política em torno da ordem divina da
criação, ideia que despontará no surgimento da Respublica Christiana.
Prática Jurídica
Grande parte das fontes históricas perdeu-se no tempo, sendo que pouco documentos chegaram até
nós. Resta-nos o recurso a formulários, como as Fórmulas Visigóticas – conjunto de quarenta e seis fórmulas
descobertas num códice da Catedral de Oviedo – e as Fórmulas de Holkham.
Fontes do Direito Muçulmano: O direito muçulmano tinha uma natureza confessional, não havendo
distinção entre religião e direito. Na sua chegada à Península, o direito muçulmano estava ainda em
formação e a criação do direito não oferece autonomia substancial relativamente à revelação divina. As
principais fontes eram o Alcorão e a “Sunna”.
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O Alcorão é o conjunto de revelações de Alá que os fiéis recitam e que foram feitas a Maomé. Contém
vários ensinamentos de caráter religioso, moral e jurídico.
A “Sunna” é a conduta pessoal de Maomé conhecidos pela tradição oral e mais tarde compilados. São
recebidos de forma implícita.
A necessidade levou a que se criassem fontes complementares do direito maometano: Consenso
unânime da comunidade e a ciência do direito, sem perder de vista o nexo religioso. Foram criadas várias
escolas. Os cristãos foram obrigados a converter-se ao Islamismo e os segundos, mediante um pagamento
de imposto de capitação, podiam conservar o seu credo. Quem mantivesse o seu credo no cristianismo,
seria considerado moçárabe. O direito islâmico também os influenciava.
A Reconquista
Destaca-se a falta de unidade jurídica e a importância do direito consuetudinário e de decisões
judiciais que o esclareciam e enunciavam. Foram criadas amplas compilações de foros e costumes e até
forais, caraterizando-se este sistema jurídico de consuetudinário e foraleiro.
Elemento Primitivo – Surgem dúvidas quanto à influência exercida pelas instituições primitivas na
formação do direito peninsular medieval, em grande parte graças à incógnita que se mantém acerca das
condições da sua existência.
Elemento Romano – A permanência de um direito romano vulgar. É um elemento primacial na época.
Elemento Germânico – Influência do direito dos povos germânicos, em especial visigótico (Com o código
visigótico).
Elemento Cristão e Canónico – Indiretamente, influenciará o direito peninsular através da legislação
romana posterior a Constantino.
Elemento Muçulmano – Influência reduzida da natureza confessional do direito islâmico e a autonomia
jurídica e judicial de que gozaram os indivíduos que se mantiveram cristãos.
Elemento Hebraico – Contributo do direito hebraico por meio de influências cristãs e muçulmanas.
Elemento Franco – Influências na região do Nordeste da Península, graças à proximidade desse Estado
transpirenaico.
Surgimento de Portugal
Alexandre Herculano considerava que a terra portucalense constituía o dote de D.Teresa, revestindo a
natureza de senhorio hereditário. Assim, a origem de Portugal devia-se a um título jurídico e não a uma
subordinação política ao Estado Leonês cuja independência se deveu a uma rebelião vitoriosa. Paulo Merêa
refletiu sobre esta posição e considera que a concessão da terra portucalense era uma doação de senhorio
hereditário, com vínculo de vassalagem. A verdade é que o enigma da natureza jurídica da concessão da
terra portucalense só desapareceu com o conhecimento do ato que a formalizou.
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I – Código Visigótico
Permanece como fonte do direito ainda durante todo o século XII. É frequente a sua citação em
documentos do território português, quer anteriores à fundação da nacionalidade, quer posteriores. Umas
vezes trata-se de invocações formais ou genéricas do código visigótico; outras vezes aduz-se o respetivo
conteúdo de modo mais ou menos preciso ou com alterações sensíveis. Tanto era utilizado pelas
reminiscências eruditas ou fórmulas routineiras dos juízes e dos tabeliães, que não traduziam verdadeira
aplicação dessa fonte, como por serem testemunhos de vigência efetiva dos seus preceitos.
Constituía, porém, o único corpo de legislação geral capaz de servir de lastro jurídico comum ou ponto
de referência dos povos peninsulares, para efeitos supletivos. A partir do séc. XIII começam a escassear as
referências a este código por virtude da sua perda de autoridade, conforme se desenvolviam os precitos
consuetudinários locais e surgia uma legislação oficial eficaz de índole romano-canónica.
Esta fonte do Direito permaneceu em Leão e Castela, sendo que no séc. XIII assistimos a uma
revitalização que lhe deu o nome de Fuero Juzgo, sendo tomado como estatuto municipal.
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II – Leis dimanadas de Cúrias ou Concílios reunidos em Leão (1017), Coiança (1055) e Oviedo (1115)
Discute-se se estas assembleias se tratam de cortes extraordinárias ou de concílios. A Cúria, filiação da
Aula régia visigótica, era um órgão auxiliar do rei que tinha um caráter iminentemente político. Das
reuniões extraordinárias ou plenárias da Cúria resultou mais tarde a instituição de Cortes. (A diferença é
que estas últimas, os representantes do clero, povo e nobreza tinham a iniciativa de propor assuntos a
apreciação e decisão: os chamados agravamentos, artigos ou capítulos.).
Os Concílios caraterizavam-se pela sua natureza eclesiástica. Todavia, como os altos dignatários da
igreja também participam nas cúrias, também os concílios eram, por vezes, convocados pelo rei e nele
colaboravam leigos.
Para as distinguir, há que considerar a entidade convocante, as matérias versadas e a sanção canónica
ou régia das decisões que se tomam. Falamos de Cúria de Leão e Concílio de Coiança e Oviedo. Presume-se
que as normas resultantes destas assembleias tiveram aplicação no nosso país, encontrando-se em
cartulários portugueses e sendo as leis de Oviedo juradas por D,. Afonso Henriques.
Alexandre Herculano adota uma posição muito restrita que considera que forais são os diplomas que
conferem existência jurídica a um município, indiciada que seja por uma qualquer magistratura própria e
privativa. Deste mínimo requisito, sobe, na sua divulgada classificação, até aos documentos onde a
orgânica concelhia se estrutura, de forma perfeita, considerando que sem ele, pelo contrário, se está em
face de meras cartas de povoação ou contratos agrários coletivos.
Distingue concelhos rudimentares (Tinham um magistrado administrativo ou fiscal, mas não um juiz);
concelhos imperfeitos (tinham um magistrado judicial nomeado pelo senhor ou assembleia de vizinhos, mas
a organização concelhia não é definida no foral); concelhos perfeitos (Têm vários juízes com funções
jurisdicionais plenas e a organização municipal está definida no documento.).
Paulo Merêa defende que importa não ligar valor excessivo à questão das magistraturas municipais,
manifestação visível, mas muitas vezes serôdia, duma formação concelhia. Não resta dúvida de que a ideia
municipal podia existir antes que se verificassem aquelas magistraturas, enquanto, por outro lado, se
observa que pequenas povoações com juiz de sua eleição não eram havidas como concelhos.
Quanto ao conteúdo, os preceitos dos forais tendem a disciplinar as seguintes matérias: liberdades e
garantias das pessoas e dos bens dos povoadores; impostos e tributos; imunidades coletivas; serviço militar;
ónus e formas de provas judiciais, entre outros. Incluem-se, essencialmente, normas de direito público.
IV – Costume
Era a principal fonte do direito privado, prosseguindo alinha das normas consuetudinárias leonesas. Era
utilizado um conceito de costume muito amplo, abrangendo todas as fontes de direito tradicionais que não
tinham caráter legislativo. Era a denominação genérica em que se incluíam sentenças da Cúria Régia,
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depois designadas de costumes da corte, de juízes municipais e de juízes arbitrais, isto é, nomeados por
acordo das partes, cujas decisões se tornavam precedentes vinculativos, assim como pareceres de juristas
consagrados.
II - Forais
Devido À escassez de leis gerais, abundam fontes do direito local. Durante os primeiros reinados
concederam-se muitos forais e cartas de povoação. As preocupações de conquista e de povoamento das
terras que se reconduziam ás de defesa contra as investidas serracenas e ameaças leonesas, determinaram
a necessidade conceder essas cartas de povoação e forais. Até Afonso III foram as principais fontes do
direito português.
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com instituições primitivas. O Direito hispânico da reconquista cristã era o resultado de uma amálgama de
camadas jurídicas sobrepostas, aos quais se juntaram preceitos do chamado direito romano vulgar,
influências canónicas que se verificaram mercê da legislação romana posterior a Constantino, costumes
germânicos e influências árabes e ainda outras influências como a franca, não esquecendo os aspetos
económicos, políticos e sociais do tempo.
No âmbito do direito privado importa falar da ação dos tabeliães que criavam contratos, não existindo
preceitos gerais individualizadores dos vários estatutos. São estas escrituras tabeliónicas que modelam os
vários negócios jurídicos. A autonomia, definição e disciplina destes só se verificou com o renascimento do
direito romano e renovação do direito canónico.
Foram as traves mestras da vida económica e social medieval. Antes das influências romanas, tais
contratos surgiam como um conjunto de negócios inominados e sem contornos rigorosos. Ao procurar-se a
individualização destes contratos, tornou-se necessário equacionar, caso a caso, a forma jurídica com a
respetiva finalidade económica que as partes tinham em vista.
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CONTRATOS DE CRÉDITO – Surgem, depois dois contratos, com uma importante função de crédito ou
financeira, aos quais a proibição canónica de usura não foi estranha.
COMPRA E VENDA DE RENDAS (Censo Cognitivo) PENHOR IMOBILIÁRIO
O proprietário de um prédio, carecido de capitais, Transferência da posse de um terreno pelo
cedia a uma pessoa que deles dispusesse, em proprietário devedor ao credor durante um período
compensação de uma determinada soma para de tempo mediante o pagamento de uma quantia de
sempre recebida, o direito a uma prestação capital O capitalista usufruía de frutos nesse
monetária anual imposto como encargo sobre esse período.
prédio.
As finalidades da transferência da posse são: uma
Assim, o proprietário cede o direito a uma forma de remuneração do capital e garantia de
prestação monetária anual imposta como encargo pagamento, m ais forte que o ónus real.
sobre o prédio, que fica com o ónus real, quem
troca da entrega imediata, pelo outro, de uma Diferenças em relação à compra e venda de rendas:
certa quantia de capital. Pode haver remissão do o proprietário fica desapossessado do terreno,
ónus, com devolução do capital. fornece uma garantia maior do que a fruição do
terreno e permite a aplicação do capital a curto
O negócio representava uma forma de investimento prazo.
que teve função análoga ao empréstimo com juros,
sem que fosse abrangido pela proibição de usura, ao
menos em termos tão radicais.
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Fatores Económicos:
• Aumento da população que contribuiu para o êxodo rural, lançando as potencialidades da nascente
economia citadina, como o seu caráter monetário, industrial e comercial. Tudo isto densificava os
problemas de direito.
11.3. Renascimento propriamente dito do Direito Romano com a Escola de Bolonha, dos
Glosadores ou Irneriana
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• Fundação de Universidades
Nos séculos XII e XIII dá-se a criação progressiva de universidades, onde se cultivavam os ramos do
saber que constituíam o ensino superior. Figurava neles o direito canónico e o direito romano renascido.
Surgem, primeiramente, como Estudos Gerais em ligação á ideia de ecumenismo do Império e do Papado.
Mas Estudo Geral não era só a instituição aberta a escolares das mais diversas proveniências, mas também o
local onde um conjunto de professores ensinava todas ou algumas das disciplinas científicas mais
importantes e o benefício de conferir aos diplomados capacidade de lecionar em qualquer parte do mundo
cristão.
O nome de Universidade surge depois, tendo o sentido de corporação de mestres e escolares,
refletindo o sentido de solidariedade profissional em que se baseou a formação das grandes corporações de
artes e ofícios. Assim, trata-se da instituição que reúne, com autonomia jurídica, os profissionais do
estudo.
As causas do surgimento das universidades são: progresso geral do saber, novas conceções sobre
ciência e o crescimento do fenómeno da formação.
Classificação Tripartida do surgimento das Universidades:
(1) As primeiras surgiram espontaneamente, partindo da evolução e corporatização de pequenas
escolas pré-existente, monásticas, diocesanas ou municipais. Assim sucedia sempre que um mestre
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local se notabilizava pelo seu ensino e criava discípulos numa certa área científica. Destacam-se
Bolonha, Paris e Montpellier – todas nascidas consuetudinariamente.
(2) Desmembramento ou separação de uma outra. Este processo encontrava-se facilitado pela grande
notabilidade que possuíam as universidades medievais, em consequência dos reduzidos meios de
que dispunham. Não tinham grandes materiais, nem edifícios próprios, sendo fácil a sua deslocação
para outros locais, quando se agudizassem os conflitos entre estudantes e burgueses. Passada a
crise, não raro, uma parte dos mestres e dos escolares recusava-se a regressar à sede originária.
Destaca-se a universidade de Cambridge e a de Pádua.
(3) Universidades criadas por iniciativa de um soberano, normalmente sem terem atrás de si o prestígio
de uma tradição firmada. Só através da confirmação pontifícia, tais universidades eram elevadas ao
plano das outras e os respetivos graus académicos adquiriam valor universal. Destaca-se a
universidade de Nápoles e Toulouse.
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esses diplomados ensinar por toda a Cristandade sem exigência de novo exame. Até ao séc. XVI, a sede da
Universidade deambulou entre Lisboa e Coimbra, reconhecendo-se, porém, à ciência do direito um grande
prestígio, lucro e poder.
Evolução
As primeiras utilizações da dialética aristotélica remontam aos fins do século XIII na escola de Orleans,
com Revigny e Belleperche. Os novos esquemas de exegese dos textos legais são acompanhados de um
esforço de sistematização das normas e dos institutos jurídicos muito mais perfeito que o dos Glosadores
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A Opinião Comum
Com os Comentadores surgiram novas instituições e disciplinas que não tinham raiz nas categorias do
direito romano, como o direito comercial e marítimo, o direito internacional privado, etc… Através dos seus
comentários, pareceres e monografias, os juristas destas escolas criaram a literatura jurídica cujo prestigio
se difundiu pela Europa adiante. Ao longo da segunda metade do séc. XV verifica-se o declínio dos
Comentadores. O método escolástico conduziu à estagnação e repetição de argumentos e de autores.
Esgotaram-se as potencialidades desta escola graças au abusivo uso do princípio da autoridade e do excesso
de casuísmo. Estes juristas limitaram-se a enumerar e citar, a propósito de cada problema, não só todos os
argumentos favoráveis e desfavoráveis a determinada solução, mas também a lista de autores num e noutro
sentido.
A opinião comum era considerada a exata, isto é, o sentimento ou parecer generalizado das pessoas, do
vulgo, abrangendo a opinião dos doutores. Porém, depois passou a falar-se da opinião da doutrina. A
propósito da formação e eficácia da opinião comum dos doutores surgem problemas básicos da sua
identificação com a verdade ou com a mera probabilidade, o do número de doutores exigido para a
respetiva fixação (critério quantitativo), o da prevalência destes, atendendo à categoria cientifica (critério
qualitativo) ou o da conjugação de ambas as orientações numa maioria qualificada (critério misto).
13.2. Noção
Direito Canónico é o conjunto de normas jurídicas que disciplinam as matérias de competência da
Igreja Católica. Fala-se de um direito eclesiástico, apesar de esta expressão ser equivoca. Com origem no
oriente, a palavra cânones foi usada, em sentido amplo, para abranger todas as regras de direito canónico.
Numa expressão mais restrita só abrangia os cânones conciliares. Decretos ou cartas decretais eram as
epístolas pontifícias, isto é, as normas jurídico-canónicas de direta iniciativa dos Papas. Quanto ao modo
de formação das normas:
(1) Fontes de Direito Divino – Sagrada Escritura (Antigo e Novo Testamento) e Tradição. A Igreja
apenas propõe ou interpreta declarativamente. A Tradição são os ensinamentos e preceitos de
Jesus Cristo não consignados por escrito, mas só transmitidos oralmente.
(2) Fontes de Direito Humano – Costume, Decretos e decretais dos pontífices romanos; as leis ou
cânones dos concílios ecuménicos; diplomas emanados de todas as autoridades eclesiásticas
infra-ordenadas; concórdias e concordatas; doutrina e jurisprudência integradas pelas obras dos
canonistas e decisões de jurisdição eclesiástica e normas jurídicas civis canonizadas.
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Decretistas e Decretalistas
São epístolas pontifícias que surgem como normas jurídico-canónicas provenientes da direta iniciativa
dos papas. Decretos são determinações do Papa por conselho de bispos sem necessidade de ter sido
consultado, sendo um ato da sua própria iniciativa. Nas decretais, o Papa decide, com ou sem conselho de
bispos, mas perante a consulta de terceiros, respondendo perante esta.
Perante uma disputa nuclear da época entre o Império e a Igreja, pela jurisdição espiritual e temporal,
cabia aos canonistas a tarefa de atualização normativa do direito da Igreja e da interpretação e aplicação
desses preceitos. A construção do direito canónico teve lugar mediante o emprego sucessivo da
metodologia dos glosadores e dos comentadores. Se os canonistas se dedicassem à glosa ou comentários dos
Decretos eram chamados de decretistas; se tratassem das Decretais, eram chamados de decretalistas.
Os peninsulares que se deslocavam aos centros italianos e franceses de ensino do direito eram na sua
maioria eclesiásticos, orientando-se sobretudo para o estudo do direito canónico, a par do direito romano.
É longa a lista dos decretistas e dos decretalistas com o cognome de hispanos.
Também se operou uma divulgação dos textos de direito canónico, através de múltiplas cópias e
traduções. Ainda se destaca a importância das universidades, como o Estudo Geral Dionisiano.
Ainda se tem de referir a aplicação judicial do direito canónico aplicado quer por tribunais
eclesiásticos, como por tribunais civis e seculares. Há uma organização judiciária da Igreja, ao lado da
organização judiciária do estado.
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Assim, este direito era o ordenamento jurídico próprio dos tribunais eclesiásticos, fixando-se a sua
competência em razão da matéria e da pessoa. Há certas matérias que pertenciam à jurisdição canónica,
como matrimónio. Para além disso, há pessoas que só podiam ser julgadas por tribunais da igreja, como os
clérigos. A evolução foi no sentido de limitar a outorga do foro eclesiástico.
Nos tribunais civis, a opinião generalizada é a de que este vigorou como fonte imediata prevalecente
sobre o direito nacional graças a uma decisão de Afonso II na Cúria de Coimbra em 1211. Passou, depois a
fonte subsidiária que intervinha na ausência de fonte de direito pátrio.
15. Fontes do Direito Português desde os meados do século XIII até as ordenações
Referimo-nos às fontes anteriores ás ordenações afonsinas, que marcam a indicada autonomização
progressiva em face ás ordens jurídicas dos outros Estados Peninsulares.
(a) A legislação geral transformada em expressão da vontade do monarca. Publicação e entrada em vigor
da lei.
A partir de Afonso II, patenteia a supremacia de leis gerais, apesar de estas não constituírem de
imediato o principal repositório do direito vigente. Era ainda o costume o grande lastro jurídico da época,
apesar da lei – decretos, ordenações, cartas e posturas – ter predomínio entre os modos de criação de
novos preceitos.
A receção do direito romano justinianeu favoreceu a atividade legislativa do monarca; o
desenvolvimento da legislação geral fomentou a divulgação dos preceitos do direito romano e do direito
canónico que nela deixaram sinais marcantes. O surto legislativo resultou do reforço de autoridade régia,
procurando alicerçar-se os poderes públicos da marca na esfera executiva, legislativa e judicial. Inicia-se
o caminho da centralização política e da unificação do sistema jurídico. Destaca-se a figura do rei na
criação do direito, passando a lei a ser manifestação da sua vontade e sua atividade normal.
Inicialmente, com os primeiros reis portugueses, a promulgação dos diplomas gerais era raro, exigindo
a convocação da cúria. Desde Afonso III a lei é um modo corrente da formação do direito que é elaborada
sem suporto político das cortes.
Quanto à sua entrada em vigor e publicação, não existia um regime fixo. As leis eram manuscritas e
reproduzidas através de cópias, após registo dos documentos na chancelaria régia. Esta apenas surgia com
mecanismo de fiscalização da autenticidade das leis e de elementos de prova do direito em vigor.
Utilizavam-se os tabeliães para dar publicidade aos diplomas legais, através da leitura pública, exigindo-
se, ainda, o registo dos textos legais a outras entidades, nomeadamente as que tinham de aplica-los. A
aplicação da lei era imediata, podendo verificar-se casos com uma vacatio legis mais ou menos extensa.
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que tinham normas a observar para o futuro, eram autênticas leis, apenas diferindo dos diplomas
elaborados pelo rei pelo processo de formação. A publicidade verificava-se através de cópias.
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O Livro das Leis e Posturas engloba preceitos de vários reis, mas não tem o propósito de coordenar a
legislação, pretendendo apenas coligi-la. Conclui-se isso pela ausência de um plano sistemático e da
repetição de alguns textos.
As ordenações de D. Duarte são uma coletânea privada que pertenceu à biblioteca de D. Duarte, que
lhe acrescentou um índice e um discurso sobre as virtudes do bom julgador. Compreende as leis de Afonso II
a D. Duarte. Tem mais leis e menos repetições que a compilação anterior. Os diplomas estão dispostos por
reinados.
ORDENAÇÕES AFONSINAS
Foi criada como uma coletânea do direito vigente com vista a evitar as incertezas derivadas da grande
dispersão e confusão das normas, com graves prejuízos para a vida jurídica e a administração da justiça. D.
João I encarregou João Mendes, corregedor da corte, de preparar a obra pretendida. Porém, a morte de
ambos foi pouco tempo depois e foi D. Duarte que continuou os trabalhos preparatórios, confiando-os a Rui
Fernandes. Foi o Infante D. Pedro, regente na menoridade de Afonso V, que incitou o jurista a dedicar-se
ao trabalho, que foi concluído a 28 de Julho de 1446 na Villa da Arruda. O projeto foi depois submetido a
uma comissão constituída pelo seu autor, o Dr. Lopo Vasques, Luís Martins e Fernão Rodrigues que o
publicaram a título de Ordenações, em nome de Afonso V, entre 1446 e 1447.
Torna-se difícil a determinação da data da sua entrada em vigor, por não haver práticas definidas no que
toca à publicidade e início a vigência dos documentos. Além disso, não se usava a imprensa, sendo morosa a
realização de cópias manuscritas, para além de ser um processo muito dispendioso. A impreparação técnica
dos magistrados e dos intervenientes na vida jurídica não foi um fator favorável. A generalização só se
verificou a partir da segunda metade do século XV, graças ao facto de estas não apresentarem alterações
profundas.
Fontes utilizadas: Procuraram sistematizar a atualizar o direito vigente, utilizando-se nelas leis gerais,
resoluções régias, concórdias, concordatas, bulas, inquirições, costumes gerais e locais, estilos da corte e
de tribunais superiores; normas extraídas das obras castelhanas, do direito romano e canónico, aludindo-se
ao direito comum.
Sistematização e conteúdo: Influências das Decretais de Gregório IX. Estão divididas em 5 livros, cada um
com títulos, rúbricas e parágrafos. Todos os livros têm um proémio.
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LIVRO I: 72 títulos – regimentos dos vários cargos públicos, do governo, justiça, fazenda e exército.
Tem conteúdo jurídico-administrativo.
LIVRO II: 123 títulos heterogéneos - bens da igreja, direitos do rei, jurisdição dos donatários,
estatuto dos judeus e mouros. Tem uma natureza política e constitucional.
LIVRO III: 128 títulos, trata do processo civil, incluindo o executivo.
LIVRO IV: 112 títulos, ocupando-se do direito civil substantivo – obrigações, coisas, famílias,
sucessões.
LIVRO V: 121 títulos, direito e processo criminal.
Importância: São uma síntese do trajeto desde a fundação da nacionalidade e mais aceleradamente
a partir de Afonso III, afirmando e consolidando a autónoma do sistema jurídico nacional no contexto
peninsular. As ordenações posteriores pouco mais fizeram que atualizar as ordenações afonsinas. Trata-se
de uma obra muito meritória na época, apesar de não oferecer uma disciplina jurídica tendencialmente
completa. Estas estão ligadas á luta pela centralização sendo uma coletânea jurídica equilibrada nas várias
tendências do tempo e que autonomiza o direito do Reino face ao direito comum que surge hoje como
fonte subsidiária. São fundamentais para o conhecimento das instituições jurídicas da época.
Edição: Estas não foram publicadas durante a vigência. Só nos fins do século XVIII, a UC promoveu a
edição impressa, exaltando-se os estudos históricos do direito pátrio. Foi Lui Correia da Silva que realizou o
seu prefácio. Não houve um exemplar com os cinco livros completos, chegando a encontrar-se alguns erros
e omissões nas cópias. A edição crítica surgiu em 1782 e foi revista em 1984.
ORDENAÇÕES MANUELINAS
Logo em 1505, as ordenações afonsinas foram reformadas, já que o rei D. Manuel encarregou três
juristas da época (Rui Boto, Rui da Grã e João Cotrim) para procederem à atualização das ordenações do
reino, alterando, suprimindo ou acrescentando o que entendessem necessário. Os motivos que levaram a
monarca a tomar tal decisão foram: a introdução da imprensa, impondo-se levar à tipografia a coletânea
jurídica básica do país, facilitando a sua difusão. Para mais, D. Manuel, quis ligar o seu nome a uma
reforma legislativa de vulto. Surgiram exemplares do livro I e II das Ordenações, em 1512 e 1513, mas a
edição integral só chegou em 1514, considerando-se que já antes havia edições dos cinco livros impressos.
Levanta-se dúvida, porém, se houve um único ou textos diferentes cometidos a dois impressores.
Demasiado preso à coletânea afonsina, os trabalhos continuaram, só se verificando uma edição
definitiva em 1521. A fim de evitar confusões, uma carta régia de 1521 impôs que só restassem as versões
mais atualizadas das ordenações.
Edição: Enquanto estiveram em vigor, foram alvo de várias edições. Após a sua substituição, estas
ainda conheceram uma edição universitária em 1797 para investigação histórica.
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Na compilação que obteve força vinculativa, em vez de uma transcrição das leis e assentos,
procedeu-se a um resumo ou excerto da sua essência. A esta síntese foi atribuída a mesma autoridade e foi
revista. Os preceitos resumidos valiam com o sentido que se continham na versão sintética. A preocupação
de fidedignidade dos extratos indicava o caminho para solucionar as dúvidas interpretativas que surgissem.
Conteúdo: Tem seis partes: (1) ofícios e oficiais régios, (2) jurisdições e privilégios, (3) as causas,
(4) os delitos, (5) a fazenda real, (6) matérias diversas. Cada parte tem títulos, cujos preceitos se designam
de leis. As leis mais extensas têm vários parágrafos.
Edição: A edição “prínceps” de 1569 foi a única realizada durante a vigência da Coleção de Leis
Extravagantes de Duarte Nunes do Lião. Apenas conheceria outra edição no século XVII, pela UC. A versão
de 1987 traz algumas notas úteis de uso pessoal, escritas pelo próprio autor.
ORDENAÇÕES FILIPINAS
Impunha-se uma reforma profunda das Ordenações Manuelinas, por não realizarem a transformação
jurídica que o seu tempo reclamava. A elaboração das novas ordenações coube a Filipe I, em cujo reinado
se tomaram várias providências relevantes na esfera do direito. Há um possível aproveitamento político da
urgência de coordenação e modernização do corpo legislativo que permitiu Filipe I demonstrara pleno
respeito pelas instituições portuguesas e empenho em atualizá-las dentro da tradição jurídica do país.
Os trabalhos preparatórios das ordenações Filipinas iniciam-se entre 1583 e 1585, criadas por Jorge
de Cabedo, Afonso Vaz Tenreiro, Duarte Nunes do Lião, entre outros. Foram concluídas em 1595 e
receberam aprovação por lei ainda nesse ano, mas que não chegou a produzir efeito. So no reinado de
Filipe II, em 1603 é que iniciaram a sua vigência.
Edição: Tiveram múltiplas edições, sendo a primeira em 1603. Uma outra foi feita pela UC em 1773
– edição vicentina. Destaca-se a edição dada à estampa no Brasil em 1870, por iniciativa de Cândido de
Almeida. Esta edição que assegurou a fidedignidade do texto vem acompanhada de várias anotações muito
úteis à investigação.
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Publicação e início da vigência da lei: Nas ordenações afonsinas não há normas sobre o sistema de
publicação das leis, nem com a disciplina do cargo de chanceler-mor. As ordenações manuelinas atribuem
ao chanceler mor, tanto a publicação das leis na chancelaria da corte, como o envio dos translados
respetivos aos corregedores das comarcas. D. João III determina que a publicação na corte deve ser feita no
próprio dia da emissão das leis. As Ordenações Filipinas repetiram o preceito.
Durante algum tempo, a prática era a da transcrição dos textos legais. Com a invenção da imprensa, a
difusão foi maior e as tiragens eram reduzidas, tornando-se obrigatória mais tarde, chegando a existir uma
folha em que se publicavam os novos diplomas.
Em 1518 determina-se que a lei teria eficácia em todo o país decorridos três meses sobre a sua
publicação na chancelaria e independentemente de serem publicadas nas comarcas. Transitou para as
Ordenações Manuelinas, mas reduziu o período de vacatio legis para 8 dias quanto à Corte. Os restantes
diplomas não submetidos à chancelaria régia tinham início de vigência imediata aquando da publicação. As
ordenações filipinas não introduziram alterações. A partir de 1749, com o Ultramar, determina-se que as
leis só tinham obrigatoriedade nos territórios ultramarinos uma vez publicadas nas cabeças das comarcas.
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imperativa para os casos futuros que fossem análogos. Surgem os assentos da casa da suplicação como
jurisprudência obrigatória. (É um antecedente à questão dos assentos do STJ) A casa da suplicação era o
tribunal superior do reino.
A casa do cível era uma segunda instância para conhecer os recursos das causas cíveis de todo o país,
ressalvadas as sentenças proferidas no local onde se encontrasse a corte e cinco léguas em redor, cuja
apelação iria ao tribunal da corte. Para descentralizar os tribunais de recurso, Filipe I mudou este último
para o Porto – Nova Casa da Relação do Porto, que funcionava como tribunal de segunda e última instância,
quanto ás comarcas do norte, em matéria crime; em matéria cível, se a causa ultrapassasse certa alçada,
admitindo recursos para a Casa da Suplicação. Mantinha-se uma certa subalternidade entre a Relação do
Porto e a Casa da Suplicação. Os desembargadores da Relação do Porto também exigiram o direito de
proferir assentos normativos, gerando confusões. A Lei da Boa Razão de 1769 estabeleceu que só os
assentos da Casa da Suplicação teriam eficácia interpretativa.
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Ordenações Manuelinas e Filipinas: Deixa-se de referir a distinção entre problemas jurídicos temporais
e espirituais, apenas se consagrando o critério do pecado que fornecia o único limite à prevalência
subsidiária do direito romano sob o direito canónico, qualquer que fosse a natureza do caso omisso.
Ordenações Manuelinas e Filipinas: Preserva-se a sua precedência, mas estabelece-se o requisito de que
a opinião comum dos doutores não contrariasse essas fontes. O fato da lei colocar a communis opinio como
filtro da Glosa de Acúrsio e da Opinião de Bártolo levou à interpretação de que aquela constituía uma fonte
de direito subsidiário a verificar antes da Glosa e da Opinião.
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Aparecimento
A eclosão desta nova diretriz deve-se ao progresso do humanismo renascentista e a decadência da obra
dos Comentadores, a partir do séc. XV. Assiste-se a um uso rotineiro do método escolástico. A partir de
certa altura, os Bartolistas limitam-se a amontoar nos seus escritos uma série interminável de questões,
distinções e citações de autores precedentes. A impreparação e menosprezo dos comentadores quanto à
história provocaram a sua censura pelos espíritos cultos da época. O direito romano começa a encarar-se
com uma das várias manifestações da cultura clássica. Foram os juristas desta escola os que iniciaram o
estudo crítico das fontes romanas.
Porém o humanismo não deve ser entendido como um simples movimento dominado pela filologia e
investigação erudita das normas de direito romano, devendo entendê-lo como abrangendo as correntes
espirituais e intelectuais, racionalistas e individualistas, que definem esse período.
Este desenvolveu-se sob diversas tendências, desde as filológico-críticas, orientadas para o estudo e
reconstrução dos textos clássicos, até à que reivindicava a liberdade e autonomia do jurista na exegese da
lei.
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16.7.2. Civilistas
Aplicaram-se ao estudo do direito romano e a sua obra carateriza-se por uma equilibrada posição entre
as duas correntes dominantes além-fronteiras. Destaca-se Manuel da Costa, Aires Pinhel e Heitor
Rodrigues.Numa semi-heterodoxia situam-se Pedro Barbosa e Francisco de Caldas Pereira (-Comentadores-)
e Eduardo Caldeira e João Altamirano (-Humanismo-). No campo do direito comercial e marítimo destaca-se
Pedro de Santarém, cuja obra adquire fama europeia.
16.7.3. Canonistas
Dedicavam-se ao estudo do direito canónico, que tinham uma expressão universitária paralela à do
direito romano. Destacam-se Doutor Navarro, Bartolomeu Filipe, Fernando Paes, entre outros que deixaram
obras valiosas.
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O seu estudo começa a predominar no século XII, numa antecipação ao ensino universitário. Há três
categorias de obras inspiradas na ciência do direito comum: a dos comentários ás Ordenações e leis
extravagantes; a das que se ocupavam da exposição e resolução de casos concretos, reais ou figurados; as
que versavam da prática forense e notarial. Os autores designam-se de comentadores, casuístas e praxistas.
Para além disso, também se produziram estudos monográficos do direito português, sobre a forma de
tratados sistemáticos – tratadistas. Ainda se destacam os repertórios enquanto obras que indicavam
normas, arestos e referências doutrinais pertinentes para determinado tema.
Comentadores: Manuel Barboso e Agostinho Barbosa, mas também Manuel Pegas e Manuel da Silva, com
uma obra extensíssima.
Casuística: Foi o ramo mais cultivado. As obras do género recebiam os títulos de decisões, consultas ou
alegações, nelas se coligindo casos concretos, extraídos de arestos dos tribunais superiores, de consultas a
advogados famosos ou imaginados pelos seus autores, com indicação de conclusões em forma de soluções
preferíveis. Destacam-se Jorge de Cabedo ou Gabriel Castro.
Praxistas: Gregório Caminha, Manuel Castro e Manuel Ferreira.
Tratadistas: Valasco, Francisco Pinheiro ou Gabriel Castro.
Autores de Repertórios: Tinham enorme importância prática, facilitando o conhecimento da
jurisprudência e da doutrina, destacando-se Duarte Nunes do Lião e Manuel Castro.
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Existência de duas faculdades: a de Leis (Estudo do Corpus Iuris Civilis) e a de Cânones (Estudo
do Corpus Iuris Canonici)
Faculdade de Cânones compreendia sete cadeiras, destacando-se as duas de Decretais, uma de
Decreto e uma de Sexto.
Faculdade de Leis com oito cadeiras, cada uma sobre uma parte do Corpus Iuris Civilis.
Sistema de ensino era de raiz escolástica, vivendo-se sob um império de autores consagrados,
que definiam a opinião comum.
Verifica-se alguma abertura ao Humanismo Jurídico, adversas ao predomínio da autoridade. Há
uma maior liberdade de interpretação do jurista. Mas este surto foi fugaz e desapareceu
rapidamente após o século XVI, regressando os rumos bartolistas.
16.9. Os antecedentes da Segunda Escolástica – A Primeira Escolástica.
Na idade média, as questões tocantes ao direito natural tinham sido tratadas pelos teólogos que haviam
estudado a sua relação com a vontade divina. Assim surgiram duas posições distintas da Primeira
Escolástica:
Voluntarismo: Seguido de Duns de Escoto e Guilherme de Ockan que viam o direito natural
como resultado das decisões concretas e individuais da vontade divina. Ou seja, o direito
natural só o é, porque assim Deus o quis – deriva da vontade divina.
Idealismo: é a orientação Tomística que entende que Deus sancionou o Direito natural porque
nesse direito existe uma verdade racional eterna. O direito natural era direito
independentemente da vontade divina. O direito existiria mesmo que Deus não existisse. É esta
perspetiva que se desenvolve numa fase posterior.
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destaca-se Jerónimo Osório – com uma obra reveladora de uma formação humanista sólida e desenvolvida
em torno da justiça e do direito racional -, João Salgado de Araújo – que aderiu por inteiro ao tema da
legitimidade da sobernais, embora com limitada força criativa.
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ordenamento vigente ao lado dessas práticas suscetiveis de serem utilizadas. A atenção conferida ao direito
pátrio e à sua história foi dos maiores contributos desta corrente. O usus modernus consubstancia-se,
assim, numa escola de orientação teórico prática ligada à disciplina da vida concreta. No nosso país, tende-
se a identificar o usus modernus com a penetração do jusracionalismo no universo jurídico português.
c) Jurisprudência Elegante
O século XVI é século do humanismo jurídico francês. No século seguinte, na Holanda, desponta a
escola da Jurisprudência elegante, cujo nome adveio da preocupação de rigor das formulações jurídicas e
dos cuidados da expressão escrita dos seus adeptos. Desatcam-se Voet, Noodt que estudaram o direito
romano dentro do método histórico-crítico. Esta jurisprudência também assumiu uma orientação prática,
combinando as finalidades dos usus modernus com as tendências do humanismo jurídico.
d) Iluminismo
Foi a que mais influenciou o Pombalismo, sendo também chamada de época das luzes ou da Ilustração.
Abrange todo o século XVIII, desenvolvendo-se sobre a égide das monarquias absolutas que configuravam o
“Despotismo Iluminado ou Esclarecido”. O Iluminismo foi um movimento voltado para as grandes
construções cosmológicas e metafísicas que se alternam invariavelmente com as de sentido antropológico e
experimentalista. No centro surgia, assim, o homem, julgando-se senhor do seu destino, hipertrofiando-se a
razão e o racionalismo. Assim aconteceu em todos os domínios ético, social, político, económico…
Desenvolve-se um sistema naturalístico das ciências do espirito, alicerçando-se na natureza e tendo a sua
validade aferida pela razão do individuo humano – ou seja, por uma razão subjetiva e crítica.
Ao nível da filosofia jurídica e política, o iluminismo desenvolve uma teoria individualista e liberal que
fundamenta a compreensão do direito do Estado. Na base colocam-se os direitos naturais e originários do
individuo. Acabam por se tirar as consequências do Renascimento e do jusnaturalismo que se acentuava,
assim como as influências das guerras religiosas e das várias revoluções liberais.
O Iluminismo não foi um movimento homogéneo. Na frança destaca-se o enciclopedismo com
Montesquieu, Rousseau, Voltaire, etc… Na Alemanha, surge o Classicismo e fundação de universidades,
destacando-se Herder, Goethe, Pufendor, Wolff… Em Espanha e Portugal desenvolve-se a filosofia moderna
com renovações científicas, pedagógicas e laicização e reforma das instituições. Destaca-se Verney,
influenciado pelo italiano Muratori.
e) Humanitarismo
Destaca-se ao nível do direito penal e do tratamento penitenciário, sendo derivado do Iluminismo e
grandemente influenciado por Montesquieu, Voltaire, Beccaria e Filangeri.
Quanto ao conteúdo do direito penal, este desvincular-se-ia de todos os preceitos religiosos, reduzindo-
se à função de tutela de valores e interesses gerais necessários à vida coletiva. Afirmava-se a ideia de
necessidade ou utilidade comum como critério delimitador do direito penal. Assim, atualizaram-se as
penas, passando as sanções criminais a ter como fundamento uma ideia de prevenção e defesa da
sociedade, procurando evitar futuras violações da lei criminal, intimidando e reeducando o delinquente
(prevenção especial) e intimidando a generalidade das pessoas (prevenção geral).
A ação preventiva do direito penal devia respeitar a dignidade da pessoa humana, exigindo-se
proporcionalidade na pena e gravidade do delito e substituindo as penas corporais ou infamantes pela pena
de prisão. A sanção traduzia-se agora na limitação da liberdade humana, o bem mais valioso de todos.
Quanto ao processo penal, cabe assinalar sobre a contraposição entre os modelos acusatório e
inquisitório: do século XIII ao século XVIII, ocorre uma prevalência acentuada do processo oficioso em
confronto com o processo iniciado por iniciativa das partes; depois, após a análise iluminista dos problemas
da justiça criminal, começa uma época de grande importância para o processo penal, observando-se o
trânsito de uma estrutura inquisitória para um processo de inspiração acusatória.
Mello Freire foi o principal representante destas conceções do direito penal substantivo e adjetivo, em
Portugal.
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VII – Proibiu-se que as Glosas de Acúrsio e a opinião de Bártolo fossem alegadas e aplicadas em juízo,
assim, como a opinião comum dos doutores. Tal deve-se pelas imperfeições jurídicas a elas atribuídas, pela
falta de conhecimentos históricos e das normas de direito natural e divino.
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Mello Freire ainda se destaca na tentativa de reforma das ordenações realizada nos finais do século
XVIII. Identificou-se com o usus modernus, conhecendo a bibliografia estrangeira mais expressiva. A
dispersão das matérias versadas prejudicou um pouco a profundidade da sua análise. Atribui-se-lhe, porém,
o papel de precursor do direito penal moderno – marcado pelo iluminismo e humanitarismo. Os seus escritos
forma o alicerce do ensino, da literatura jurídica e vida prática da época.
Nos começos do século XIX, também se destacam Ricardo Nogueira e Francisco Sampaio ou António
Santos – grande opositor do projeto de reforma do direito público de Mello Freire. A literatura jurídica da
época circunscreveu-se aos claustros da universidade. No ramo da vida forense, destaca-se Manuel de
Almeida e Sousa e a sua obra extensa. Menos vasta e apurada é a obra de Joaquim Pereira e Sousa que se
ocupou da processualística e direito penal. Fora do ensino universitário cabe referir Vicente da Costa que
revela grande conhecimento das codificações estrangeiras, destacando-se os seus trabalhos com vista á
elaboração de um Código Civil. Foi muito influenciado por Bentham.
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Resumidamente:
(1) Identifica o direito com a lei e esta com o Code Civil – lei como expressão da volonté génerale.
(2) A interpretação deve procurar a vontade do legislador – sentido literal da lei e método lógico
gramatical. O juiz é a mera boca que pronuncia a lei que atua através do silogismo subsuntivo.
(3) Inexistência de lacunas. – Suficiência da lei prescrita no Código. Este será sempre a solução,
bastando o acesso à analogia legis. Senão é porque o caso pertence ao espaço livre do direito.
Críticas:
(1) A simples observação do direito positivo não basta e alei cumpre sempre função inovadora.
(2) Não deve excluir-se a especulação ideal da justiça, pois uma atitude passiva perante o produto
histórico implica a negação do progresso jurídico.
(3) A consciência popular é uma expressão mítica que não corresponde à realidade
(4) Incoerência na substituição do estudo do direito germânico pelo direito romano.
(5) Os juristas foram, em geral, romanistas e consideravam o direito romano protótipo de todos os
direitos, o que contrasta com a máxima desta escola segundo a qual cada povo teria um espirito
próprio.
(6) Incongruência entre o programa e o resultado, aceitando a existência de um direito independente
de uma consciência coletiva.
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jurídico sociológico que reduz os fatores juridicamente relevantes a condições psicológicas e sociais para os
submeter a um tratamento empírico-sociológico.
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outras disposições extraídas de vários códigos. Assim, o ciclo do direito privado português inicia-se por volta
do século XVIII, revolvendo-se e modificando-se o património jurídico de fundo escolástico que até aí
vigorava: primeiro pela jusracionalismo e depois pela corrente individualista. Destaca-se a grande ação
criadora da jurisprudência e da doutrina que, sob pretexto do preenchimento de lacunas, introduziram
grandes alterações ao direito pátrio. A sua tarefa inovadora e de substituição iniciava-se logo na
interpretação das normas das Ordenações ou leis avulsas, defendendo a reforma de muitos desses textos,
até com propostas de soluções antagónicas. Destaca-se o exemplo do direito testamentário, afeiçoando o
direito pátrio aos novos rumos do pensamento jurídico. Surge um terreno adequado a uma síntese oficial do
direito privado, nascendo o código Civil de 1 de Julho de 1867.
18.7. As Codificações
Durante o século XIX, verifica-se um importante movimento codificador por toda a Europa, com a
elaboração de amplos corpos legislativos unitários, obedecendo a uma orgânica mais ou menos científica e
que condensavam as normas relativas aos ramos básicos do direito, já então individualizados. Este é um
processo complexo que implica uma análise dos objetivos da codificação e centralização jurídica. Não lhe
faltaram opositores e críticas por parte da Escola Histórica. Embora o movimento revele denominadores
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comuns, importa não esquecer as condicionantes específicas que este conheceu a respeitos dos vários
ramos do direito. Há várias famílias de Códigos, como, p.e., o Código Civil francês e o Código Civil alemão
(BGB). Ao nível do código penal, referem-se: o Code Penal francês, o Código Penal Bávaro e o código Penal
Prussiano.
As antigas anteriores coletâneas de direito correspondiam a períodos se síntese ou estagnação da
criatividade jurídica. O objetivo básico era o da organização de repositórios atualizados do direito vigente.
Os Códigos modernos procuram ser inovadores, realizando uma transformação jurídica, superando-se
também a ideia de existência de compilações globalizantes do direito. Agora, o movimento codificador,
muito influenciado pelo jusracionalismo e pelo iluminismo havia de estabelecer a nova ordem decorrente
do direito natural racionalista. Logo se segue uma diferença nos países em que o movimento codificador foi
patrocinado pelo Despotismo esclarecido ou mesmo pelas ideias das Revoluções liberais, onde se afirmara a
ideia de que o direito seria criado exclusivamente pelo poder legislativo. Entrava-se no positivismo legalista
que trouxe a ideia de que nenhum problema podia resolver-se fora do espirito consubstanciado nos novos
códigos, enquanto sistemas acabados que continham a disciplina da totalidade das relações sociais. A
passagem para o positivismo tornou-se óbvia, identificando-se o direito com a lei e negando-se ao julgador
a função de criar o direito, que se transformava num mero autómato do silogismo judicial. Prestava-se
culto À certeza e segurança do direito, havidas como valores fundamentais.
I – Direito Comercial
O primeiro código Comercial surge em 1833 com Ferreira Borges como resposta à dispersão legislativa e
incertezas jurisprudenciais. Encontra-se dividido em duas partes: (1) comércio terrestre e (2) comércio
marítimo. Nelas se incluem normas de direito mercantil substantivo e outras normas processuais, de
organização judiciária e até direito civil. Teve influências do Código comercial francês, italiano e espanhol
quando ao direito comercial substantivo.
É uma obra satisfatória, mas com algumas críticas:
(1) Excessivo apego à legislação anterior que levou a que se esquecessem soluções evoluídas para que o
direito comparado já apontava.
(2) Uma certa proxalidade, traduzida em exageradas definições e qualificações.
(3) Inclusão de normas processuais e de organização judiciária e de direito civil.
Não era um código muito virado para o futuro, mas teve o mérito de desenvolver a instituição e
compreensão do direito comercial. As deficiências de origem do Código levaram a uma revisão do Código
em 1888, por Veiga Beirão. Insere-se na linha das codificações mercantis e tem grande tendência
objetivista, passando o DC a abranger os atos de comércio em si. Porém, podemos falar um sistema misto,
entre a conceção objetivista e subjetivista, já que não se omitem regras especiais para os comerciantes
também. Este ainda está em vigor, mas profundamente alterado e com muita legislação avulsa. O sistema
misto também se encontra superado pela ciência comercialista.
II – Direito Administrativo
Surge em torno da procura de um critério para dividir o território em circunscrições administrativas e
do exercício do contencioso administrativo. Após a instauração do regime liberal, destaca-se a ação de
Mouzinho da silveira, sendo que o primeiro código administrativo só surge em 1836 com a revolução
setembrista, criado por Manuel da silva Passos.
Esse código foi mais tarde substituído pelo Código Administrativo de 1842, por Costa Cabral, de feição
centralizadora. De acordo com as vicissitudes politicas, multiplicaram-se os vários códigos administrativos,
sendo o código de 1936 o que vigora hoje, baseado num projeto de Marcello Caetano. ~
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que os tempos exigiam. Intentam-se novos esforços codificadores no sentido de dar respostas às
necessidades e exigências do tempo, porém, vários projetos entretanto criados não obtiveram consagração
legislativa. Teve importantes alterações com a Reforma Penal e das Prisões em 1867 e 1884.
Segue-se o Código Penal de 1886 como consolidação legislativa do anterior. Só em 1982 se promulgou,
porém, um novo Código Penal, para o substituir.
IV – Direito Civil
Assentou num projeto de António Luís de Seabra, sendo aprovado por Carta de Lei a 1 de julho de
1867. O desejo de reforma do nosso direito privado era já anterior da época jusracionalista. As várias
tentativas anteriores de codificação, apesar de fracassadas, proporcionaram à ciência jurídica portuguesa o
amadurecimento de soluções e o apuramento técnico que a obra carecia.
O nosso Código civil afastou-se da divisão orgânica das codificações da época, procurando que o código
português gravitasse em torno do sujeito ativo da relação jurídica, sendo um código individualista,
sistematizado em quatro partes: (1) Capacidade civil, (2) Aquisição de direitos, (3) Gozo e exercício de
direitos e (4) ofensa dos direitos e sua reparação. O Código afirma-se como fundado no jusnaturalismo
racionalista e no individualismo liberal de que Seabra era adepto. Assim, reconhece este ideal liberal do
individualismo – “Cada um trata de si” - e integrou-o no código com moderação, com grande senso prático e
um grande apego à moralidade e à justiça.
Um dos temas mais controversos foi o da criação do casamento civil. O Código Civil foi recebido com
aplausos graças à sua perfeição, tanto na sistematização, como na linguagem (destaca-se a intervenção de
Herculano na redação definitiva). Foi realizado sem transtornos nem mudanças bruscas e não é uma cópia
do modelo francês. Assim, satisfez, em medida razoável a utilidade, certeza e estabilidade que o ambiente
da época exigia.
Porém, são apresentados certos defeitos que se prendem pelo facto (1) de ter sido criado por um só
homem e de um (2) excesso de originalidade, resultando daí disciplinas pouco felizes e dúvidas e omissões.
Com o passar do tempo, as insuficiências do Código foram-se agravando – pela falta de consagração de
novas figuras jurídicas ou pela quebra de unidade entre a regulamentação do código e legislação posterior-,
impondo-se uma urgente revisão, só realizada em 1966.
V – Direito Processual
A história do direito adjetivo não teve a mesma perseverança nos domínios civil e penal. A pura
vocação de instrumentalidade surge no direito penal de modo a garantirem-se os fins mais elevados da
rodem jurídica e a segurança e tranquilidade dos direitos dos cidadãos. ´
O primeiro código de Processo Civil surge em 1876, com a prevalência de um princípio dispositivo,
vendo-se o processo como um instrumento ao serviço dos particulares, os quais podiam conduzi-lo
consoante os seus interesses, tendo o juiz uma atitude passiva. O tribunal não pode realizar a justiça
material. Mais tarde, várias reformas culminam numa reunião da generalidade das normas adjetivas de
direito privado num só código: Código de Processo civil de 1939.
Em Processo penal, vigorou durante largo tempo a novíssima Reforma Judiciária e outros diplomas
avulsos. Tínhamos um sistema de tipo acusatório. As ideais liberais também se manifestaram neste campo
com a afirmação da passividade do juiz, do princípio dispositivo… Para mais, determina-se a
inadmissibilidade da prisão preventiva e consagra-se um sistema de legalidade da prova… O Código Penal
Português seria criado em 1929, consagrando uma feição inquisitória.
18.8. O Costume
O Lei da Boa Razão constituiu um momento decisivo para o declínio do costume. Por toda a europa se
assistiu a este declínio do costume apesar da Escola Histórica proclamar as suas virtudes contra o primado
da lei e das codificações.
O Código civil de 1867 remeteu o costume para o quadro das fontes mediatas e indiretas, isto é , sem
força própria, valendo apenas quando o legislador o admitisse. Recusa-se, assim, a vigência autónoma do
costume “contra legem” e “praeter legem”. Em certos domínios, como o direito internacional público,
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várias cadeiras de direito civil, público, comercial e criminal, introduzindo-se, ainda, economia política e
medicina legal.
Estabeleceram-se várias disciplinas, introduziram-se novos métodos e criaram-se vários compêndios. Os
primeiros tempos da Faculdade de Direito foram movimentados e marcados pela afinação de um plano de
estudos, procurando-se uma medida adequado para o direito romano e para o direito canónico e acolhendo
o estudo de outras matérias que os progressos jurídicos e pedagógicos iam aconselhando.
No seio da civilística destaca-se Correia Telles e Coelho da Rocha, com a sua obra “Instituições” que se
destaca por tão bem se enquadrar no espírito da época e porque correspondia ao impulso que os estudos
civilisticos assumiram após a unificação dos cursos jurídicos. Destacam-se ainda os comentários de José Dias
Ferreira ao nosso Código Civil. No Direito Comercial destaca-se Ferreira Borges, pela elaboração do nosso
primeiro Código Comercial, que se afirma como cadeira universitária. Em matéria de direito penal destaca-
se Henriques da Silva. Só após 1911, o direito processual se torna uma cadeira autónoma, destacando-se o
contributo de Dias da Silva e Alberto dos Reis. Por fim, no seio do direito internacional privado, destaca-se
Machado Villela.
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DIREITO PRIVADO
As transformações no âmbito do direito privado da Primeira República foram marcadas pela intenção de
aumentar a responsabilidade familiar e social.
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Direito da Família
(1) Admissibilidade da dissolução do casamento por divórcio que podia ser pedido por um ou ambos os
cônjuges – litigioso ou por mútuo consentimento.
(2) Casamento torna-se um contrato puramente civil, sendo a certidão do registo civil o único meio de
prova de casamento contraído na República. O Código de Seabra já tinha previsto o casamento
civil, mas admitiu que o casamento católico subsistisse.
(3) Conceção alargada de filiação, já que todos os filhos ilegítimos podiam ser perfilhados, à exceção
dos incestuosos. O matrimónio legitimava sempre os filhos nascidos antes dele.
(4) Defesa dos menores em perigo moral, desamparados e/ou delinquentes.
(5) Admissibilidade do regime de separação de pessoas e bens por mútuo consentimento. , mantendo o
bom nome e reputação dos cônjuges.
Direito Sucessório
(1) Consagração de “legitima”, isto é, a porção de bens que o testador não podia dispor, visto que a lei
a destinava aos herdeiros em linha reta descendente ou ascendente. Em principio, tal porção
representava metade dos bens do testador, com a exceção de não haver descendentes diretos, caso
em que a legitima consistia na terça.
DIREITO PÚBLICO
As dimensões politico-constitucionais do republicanismo saído da Constituição de 1911 acolhem o
princípio da soberania nacional e o regime representativo. O Parlamento da Primeira República – Congresso
– era bicameral.
O ideário republicano veio constitucionalizar um elenco de direitos fundamentais que giravam em torno
das liberdades públicas dos cidadãos, como a garantia do habeas corpus, a liberdade de consciência, de
religião e de culto, controlo judicial da constitucionalidade das leis e possibilidade existência de direitos só
materialmente fundamentais.
A presidência de Sidónio Pais, de 1917 a 1918, assumiu uma filosofia política dissonante, alterando a
Constituição através de decretos eleitorais. Destacam-se as seguintes medidas:
(1) Estabelecimento do principio do sufrágio universal, que apenas se traduziu num avanço no sentido
da universalidade, já que os homens, com mais de 21 anos e residentes no território nacional
podiam votar.
(2) Constitucionalização do pluralismo social, através do princípio da representação especializada.
(3) Presidencialização do regime, através da eleição direta e uninominal do Presidente da República.
O atentado que vitimou sidónio Pais pôs um fim ao constitucionalismo sidonistas e colocou em pleno
vigor a Constituição de 1911. Destaca-se a atenção dada ao direito colonial, passando as colónias a gozar,
sob fiscalização da metrópole, de autonomia financeira e de descentralização. Reconheceu-se, ainda, o
princípio da especialidade do direito colonial.
Direito Penal
A legislação penal da Primeira República assumiu uma patente de cariz ideológico e político.
(1) Multiplicaram-se as leis da amnistia, com um notório conteúdo.
(2) Retirou-se o caráter punitivo aos crimes contra a religião, contra a segurança interior do Estado e
contra o exercício dos direitos políticos.
(3) Criminalizaram-se condutas ofensivas contra a República.
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(4) Definiu-se o caráter e extensão da responsabilidade penal dos membros do poder executivo pelos
atos praticados no exercício das respetivas funções. Uns crimes davam lugar a degredo temporário
e outros puniam-se com prisão maior celular.
(5) Repressão da mendicidade e da vadiagem, por se detetarem nas situações ociosas eventuais focos
de criminalidade.
(6) Principio do trabalho obrigatório em todos os estabelecimentos penais, de acordo com as aptidões
físicas e mentais dos condenados e o meio em que iriam viver quando retomassem a liberdade.
Acreditava-se que o trabalho era um fator de regeneração.
Edificou-se durante a década de 30 e apresenta várias fontes jurídicas matriarcais, como o Ato Colonial
de 1930, o Estatuto do Trabalho Nacional de 1933, a constituição de 1933, etc… Este recusava a lógicva do
liberalismo individualista e do parlamentarismo democrático pelo seu antinacionalismo e pela fragilização
do Estado a que estes conduziam.
O Corporativismo do Estado estava presente no artigo 1º do Estatuto do Trabalho Nacional, que
afirmava que a Nação constituía uma unidade moral, política e económica, cujos fins e interesses
dominavam os dos indivíduos e dos grupos que a compunham. A conceção unitarista da Nação conduzia ao
primado do bem comum, considerado superior a todos os bens particulares dos indivíduos.
A Nação portuguesa era ainda uma unidade económica, afirmando-se um autêntico princípio da
solidariedade de interesses: a concorrência cedia lugar à colaboração, sendo que a organização corporativa
estruturava-se em forma de pirâmide – na base, surgiam os sindicatos e grémios; num plano intermédio, os
sindicatos da mesma profissão agrupados em federações regionais e nacionais, assim como os grémios
agrupados desse mesmo modo; no vértice da pirâmide, as corporações, como organizações unitárias das
forças de produção que representavam integralmente os interesses do estado. Ao Estado, para além de
instalar o sistema corporativo, cabia-lhe ainda vigiar o seu funcionamento. O Estado novo é o paradigma do
corporativismo.
DIREITO PRIVADO
Na esfera do direito privado, as mudanças ocorreram num plano muito pouco ambicioso. Porém,
destaca-se a Reforma do Código Civil operada em 1930 e que teve por inspiração um projeto de António
Pinto Mesquita. Esta reforma não pretendia desrespeitar a estrutura do velho Código de Seabra, tendo uma
vertente meramente prática, procurando esclarecer dúvidas, preencher lacunas, suprir deficiências e
adaptar os preceitos legais às novas condições económicas e sociais. O projeto de reforma procurava vencer
o desconcerto jurisprudencial em que os tribunais se encontravam.
A FDUC adotou uma atitude de distanciamento do projeto de reforma do código civil pois não se
compreendia porque não se levava a cabo uma alteação profunda e vasta do código civil. A reforma
fragmentária do código era, na opinião da FDUC, muito inconveniente e perigosa.
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Foi a um professor De Coimbra, Vaz Serra, que o lançamento legislativo dos trabalhos de elaboração de
um projeto de revisão geral do Código Civil foi incumbido. Pretendia-se transmitir ao direito privado uma
feição social. Havia novas figuras jurídicas que não encontravam ainda o seu reconhecimento e, em muitos
institutos, verificava-se um rompimento de sentido unitário entre a regulamentação contida no Código e o
rumo que lhes imprimiram leis posteriores. Este já estava tão alterado por leis especiais que perdera, em
larga medida, a característica de um verdadeiro Código.
Ao longo dos anos 20, um conjunto de professores de Coimbra e Lisboa envolveram-se na feitura de um
novo Código civil, concluído em 1966, ditando este um conjunto de mensagens culturais e jurídicas da
época em que se integrava.
Encontrava-se dividido em: (1) Parte Geral, (2) Direito das Obrigações, (3) Direito das Coisas, (4) Direito
da Família e (5) Direito das Sucessões. Esta divisão é influenciada pela pandectistica alemã, traduzindo
bem a receção do plano sistemático do Código Civil alemão.
Este Código era inspirado na filosofia de reação contra o positivismo legal, patente no recurso escasso
de cláusulas gerais e na integração de lacunas. Acolheu ainda, o cariz social do direito, procurando lograr
um ponto de equilíbrio entre a liberdade individual e as exigências do bem da comunidade. Destacam-se,
desde logo, as limitações à autonomia da vontade em diversos contratos e a função social da propriedade.
A introdução mais importante foi a do abuso do direito (art. 334º C.C.). Este Código teve um estilo mais
sóbrio e de elegante simplicidade, para as quais contribuíram as revisões de Paulo Merêa.
No âmbito das relações da família e direito sucessório, procurou-se um fortalecimento da instituição
familiar, nomeadamente com o reconhecimento da adoção; substituição do regime da comunhão geral dos
bens, como regime supletivo no casamento, pela simples comunhão de adquiridos; Imposição do regime de
separação absoluta de bens no caso de os cônjuges serem pessoas de idade avançada ou de um deles ter já
filhos legítimos e a conceção do poder paternal como dever funcional.
Apesar de tudo, mantiveram-se alguns princípios tradicionais das vocações hereditárias. Este Código
integra uma conceção orgânica de sociedade civil que respeita a pessoa humana e consagra a supremacia
do bem comum sobre os interesses dos indivíduos e as apetências dos grupos.
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registo civil. Para quem confessasse outra religião que não a católica, o casamento civil era,
porém, obrigatório.
(2) Separação dos regimes jurídicos entre oc assamento civil e o casamento católico.
(3) Impossibilidade de dissolução do casamento católico por divórcio, o que gerou grande controvérsia.
Esta só terminou em 1975, quando se estabeleceu que o dever dos católicos não pedirem divórcio
era um simples dever de consciência.
DIREITO PÚBLICO
As alterações legislativas ao direito público que foram mais relevantes foram introduzidas pelo ministro
Manuel Rodrigues: (1) criação da Ordem dos Advogados, (2) Nova lei de imprensa, (3) Revisão da
organização judiciária, (4) reforma no domínio do direito processual, (5) regime jurídico das
incompatibilidades com o exercício de funções públicas, (6) Sustentação legislativa da independência do
poder judicial e (7) disciplina transparente na nomeação dos juízes.
A Constituição do Estado Novo foi a única a recorrer a plebiscito nacional como forma de exercício do
poder constituinte. Acolheu o princípio da representação orgânica, reconhecendo os elementos estruturais
da Nação, instituindo-se uma Câmara Corporativa que dava pareceres influenciadores do processo
legiferante, integrando representantes de interesses administrativos e das atividades corporativamente
organizadas.
Institucionalizou-se um executivo estável e independente do órgão legislativo. A Assembleia Nacional
estava confinada à aprovação das bases gerais dos regimes jurídicos e à ratificação de diplomas
governamentais. O Chefe de Estado era eleito diretamente pela Nação e com o poder de nomear ou demitir
o presidente do conselho de ministros. Verificava-se a inexistência de um sistema partidário, devendo
existir, no lugar de partidos, associações naturais – União Nacional.
Ao abrigo dos sobressaltos parlamentares e partidários, a prática política do Estado Novo caminhou para
um semipresidencialismo do Primeiro-ministro. Os direitos fundamentais experimentaram um desvio
orgânico-corporativo, com um relevo diminuto dos direitos políticos.
Na senda da Constituição de Weimar, verifica-se uma constituição económica no texto de 1933, com
vários princípios orientadores da vida económica marcada pelo intervencionismo estatal.
No seio do Direito Colonial, destaca-se o ato Colonial de 1930, com uma conceção unitarista nas
relações entre a metrópole e as colonias. Vingara, porém, o principio da especialidade do direito colonial.
Direito Fiscal
A Reforma fiscal foi levada a cabo pelo professor Teixeira Ribeiro:
(1) Reforma completa dos grandes impostos diretos, desenhando-se uma estrutura plural de impostos
diretos.
(2) O espetro dos impostos parcelares cobria o universo das diversas espécies de rendimentos de
produção: imposto profissional (rendimento), imposto de capitais (juros), contribuição predial
(rendas), imposto sobre a indústria agrícola (lucros). É criado, agora, um imposto sobre as mais-
valias.
(3) Foi criado um imposto complementar, que atendesse à situação económica da pessoa tributada.
Teve um significado reduzido.
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execução de penas privativas de liberdade tinham um valor intimidativo ou de prevenção e (3) readaptação
social do delinquente – carater reeducativo e corretivo.
Assim, adotou-se um sistema progressivo para o reingresso do preso na vida social dividido em quatro
fases de progressiva integração e ainda se encarou a dualidade entre penas e medidas de segurança como
modos diferentes de repressão e de prevenção do crime, criando duas grandes classes de edifícios: uns para
aplicação das penas (culpa) e outros das medidas de segurança (perigosidade).
O Professor Manuel Cavaleiro de Ferreira iniciou um surto de reformismo penal, através de remodelação
do processo penal, em 1945. Assim, distingue-se a acusação do julgamento, pois a cumulação das duas
funções nas mãos do juiz, ao exercer em pleno a sua função policial e de acusação pública, afetariam a sua
imparcialidade. O exercício da ação penal foi concedido ao Ministério Público como órgão do estado. Este
individuo ainda regulou o instituto do Habeas Corpus, eliminando a ilegalidade da ofensa e preenchendo o
seu fim próprio.
Com a Reforma de 1954, Cavaleiro de Ferreira procura adaptar o velho Código Penal de 1886 à Reforma
Prisional de 1936, abandonando-se o caráter de fixidez das penas e definindo um critério geral de
graduação das penas, que oscilariam entre um limite mínimo e máximo e dependeriam da culpabilidade do
delinquente.
A última reforma antes de 1974 foi a Reforma de 1972, com o professor Almeida Costa, e motivada pela
Revisão Constitucional de 1971. Esta reforma foi no sentido de humanizar a legislação penal e processual
penal, através da (1) abolição da medida de segurança de internamento, (2) alteração dos preceitos sobre
início, duração e extinção das penas e medidas de segurança, (3) inserção no código de Processo Penal da
regulamentação do habeas corpus de Cavaleiro Ferreira e (4) regulamentação da instrução, preparatória e
acusatória, acusação e defesa.
Década de 80
Verifica-se um autêntico surto codificador, de vários códigos que já se encontravam em processo de
gestação.
(1) Código Penal de 1982 gerou dissonâncias sobre os alicerces filosóficos e a convicção de um
certo reformismo abstrato, enquanto desligado da realidade do país.
(2) Código das Sociedades Comerciais de 1986, relativo ao direito das sociedades.
(3) Alterações no sistema fiscal português, com a criação de um imposto geral sobre o consumo –
IVA –, imposto sobre o rendimento de pessoas singulares – IRS –, imposto sobre o rendimento de
pessoas coletivas – IRC – imposto municipal sobre imóveis – IMI.
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Direito Administrativo (1) Alterações do código Administrativo de 1936 quanto ao regime das
autarquias locais e do contencioso administrativo.
(2) Em 1977, consagrou-se um dever genérico de fundamentação dos
atos administrativos desfavoráveis, permitindo o controlo judicial
do exercício dos poderes discricionários~
(3) Criação do Primeiro Código de Procedimento Administrativo em
1991 – robustecimento das garantias aos particulares e inovação do
direito de audiência prévia.
(4) Reforma do contencioso administrativo de 2002, PRACE em 2006 e
novo regime de contratação pública de 2008.
Direito do Trabalho (1) Disciplina do contrato de trabalho e regulamentação ou
contratação coletivo.
(2) Proibição dos despedimentos sem justa causa
(3) Liberdade sindical, direito à greve, estabilidade ao emprego e
intervenção das organizações dos trabalhadores na empresa.
(4) Aprovação do Código do Trabalho em 2003, que foi substituído por
um novo em 2009 graças ao crescimento económico e à
competitividade empresarial.
(5) Criação de um código de Processo de Trabalho em 1999, após
outras tentativas falhadas de emanar um código estável.
Direito Bancário (1) Importância das matérias de defesa do consumidor e de proteção
do meio ambiente.
Direito de Autor (1) Criação do código do direito de Autor de 1966. Mais tarde, da mera
proteção do direito de autor estendeu-se aos direitos conexos.
(2) No século XXI, o aprofundamento da proteção dos direitos de autor
decorre da transposição de diretivas comunitárias que ajustam tais
direitos À nova realidade tecnológica.
Direito Civil (1) Criação do Regime do Arrendamento Urbano em 1990.
(2) Criação do registo predial
(3) Liberalização do notariado através do Estatuto de 2004.
Direito adjetivo (1) Reformas de ação executiva e reformas dos recursos
(2) Reentrada no direito português dos julgados de paz
(3) Assistência judiciária para a efetivação prática dos princípios da
igualdade perante a justiça.
(4) Progressiva afirmação e realização do principio constitucional do
acesso ao direito e aos tribunais, estendido até a regiões
transfronteiriças.
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