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História do Direito
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Contextualização
Há duas disciplinas que se dedicam a todas as áreas do saber: a história e a
filosofia. São comuns a todas as áreas do saber porque o seu objetivo de
incidência é a totalidade da existência humana, enquanto as outras disciplinas
estudam apenas áreas sectoriais. O direito regula e estuda as normas e regras
que regem a vida em comunidade e também a história surge como um ramo
autónomo.
História do Direito
▪ Disciplina que descreve e explica o Direito do passado nos seus
múltiplos aspetos, i.e., qual foi o passado do direito.
▪ Isto engloba duas vertentes: estudo do direito atual numa perspetiva
histórica (historicamente estudado, ou seja, os precedentes do direito
que permanece na atualidade), e o estudo do direito, das figuras do
direito, que já tenham sido superadas ou abolidas (i.e., o que foi direito
no passado e hoje em dia já não é).
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Sistemas/Famílias do Direito
▪ Cada ordem jurídica tem as suas especificidades. Contudo, uma análise
dos conceitos, técnicas e princípios de cada ordem jurídica permite
verificar uma convergência dos diversos direitos, em famílias ou
sistemas jurídicos, dada a proximidade dos seus traços característicos.
▪ Isto é, apesar das especificidades, há ordens jurídicas que têm traços
característicos próximos e, portanto, ao analisá-las vemos que são
ordens jurídicas próximas e que podem ser agrupadas no mesmo
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Fontes de Direito
1. Código visigótico:
▪ Compilação de preceitos datada de 654, fortemente influenciada pelo
DR anterior ao CIC (justinianeu) e que vigorou no reino visigótico.
▪ Continuou durante o período da reconquista e chegou a vigorar até à
independência de Portugal.
▪ Durante o seculo XII o código visigótico mantém-se em vigor na área
geográfica correspondente ao reino de Portugal.
▪ É frequente a sua citação em documentos da época e por isso é legítimo
concluir que durante esse período ainda foi fonte de direito usada no
reino português.
▪ Desde o início do século XIII essas referências começam a desaparecer
e, portanto, deixa de ser utilizado, i.e., deixa de ter vigência como fonte
de direito.
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▪ Cartas de povoação:
▪ Numa primeira fase temos as cartas de povoação, que são as
mais antigas, anteriores aos forais
▪ Eram um instrumento jurídico rudimentar em que o rei, o senhor
da terra ou uma entidade eclesiástica, relativamente à terra sob
o seu domínio, dirigia-se em termos abstratos para se fixar
naquela terra mediante a adesão às condições que estavam
naquele documento.
▪ Isto era tanto para terras despovoadas como também para
núcleos populacionais já instalados, mas em que se queria atrair
mais mão-de-obra (era quase um convite).
▪ Forais:
▪ Numa segunda aparecem-nos diplomas locais que eram mais
desenvolvidos: os forais.
▪ Embora seja difícil a distinção entre cartas de povoação e forais,
porque não existiu uma queda de continuidade entre uma e
outra sendo uma evolução impercetível, podemos dizer que os
forais eram mais complexos.
▪ Era um diploma concedido pelo rei, por um senhor laico ou por
uma entidade eclesiástica, a uma determinada terra/localidade
sob a qual tinham o seu domínio.
▪ Este diploma continha as regras que disciplinavam as relações
entre os habitantes e a entidade que outorgava e concedia o foral
ou até as relações dos habitantes entre si.
▪ Este visava disciplinar a vida social daquela localidade.
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4. Costume
▪ O costume regulava todos os domínios jurídicos, embora no direito
público já houvesse os forais que tiravam alguma exclusividade ao
costume.
▪ Era a fonte mais importante de direito na época, muito especialmente
no direito privado.
▪ Os costumes herdados da monarquia leonesa mantiveram-se no reino
de Portugal após a independência.
▪ Convém, contudo, ter em atenção que, quando se fala em costume
neste período, nos referimos a um costume em sentido muito amplo.
▪ Este abrange quer o costume em sentido rigoroso (prática constante e
reiterada pelos membros de uma determinada comunidade,
acompanhada de uma convicção de obrigatoriedade), quer também
ainda todas as fontes de direito tradicional sem carácter legislativo.
▪ Ou seja, além do costume em sentido rigoroso, abrangia ainda as
decisões judiciais (a jurisprudência – atividade dos tribunais –
nomeadamente, as sentenças da cúria régia e, até, sentenças de juízes
municipais e arbitrais e, ainda, doutrina, com pareceres de juristas
consagrados), ou seja, fontes de direito tradicional sem caráter
legislativo.
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3. Concórdias e concordatas
▪ Eram acordos celebrados entre o rei e as autoridades eclesiásticas.
▪ Estamos a falar de uma época em que o poder central (reis) era fraco e
a Igreja era uma instituição fortíssima – era a maior proprietária de terras
e a mais rica.
▪ Devido à mentalidade da época o poder espiritual era notório e,
portanto, com o poder régio fraco e com o forte poder da igreja havia
frequentes conflitos entre os dois poderes.
▪ Estes acordos visavam, então, pôr fim ou evitar estes conflito,s através
do reconhecimento mútuo de deveres e obrigações entre o rei e a
igreja.
▪ Concórdias: quando esses acordos eram celebrados pelos reis e pelas
entidades eclesiásticas nacionais;
▪ Concordatas: quando eram celebrados entre o rei e o Papa (hoje em
dia mantém-se entre os Estados e a Santa Sé).
Sistema jurídico
▪ Era marcado por um direito de base consuetudinária, onde o costume
regulava grande parte da vida social e em que as fontes (cartas de
povoação e forais) tinham grande importância na regulação do direito
público.
▪ Por isso, referimos que o direito português tinha uma base
consuetudinária e foraleiro.
▪ A vida jurídica era regulada pela atividade jurídica do quotidiano, pelo
empirismo, pela experiência jurídica que ia surgindo – não havia um
corpo de normas que se pudesse indicar como reguladora dos
institutos jurídicos.
▪ Para saber como se praticava o direito tem de se recorrer ao que ia
saindo da atividade dos tabeliães (atualmente têm funções iguais aos
notários); o que ia sendo criado pelos tabeliães quanto a contratos e
negócios jurídicos (antes do corpus iuris civilis não se pode falar de um
corpo jurídico).
Assumiu grande importância neste período um conjunto de contratos que
foram traves-mestres da vida económico-social nesta reta final da idade média.
Alguns eram contratos de exploração agrícola e outros contratos de crédito.
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1. Enfiteuse;
2. Complantação
1. Enfiteuse
▪ Através da enfiteuse, o proprietário de um prédio (terreno), o senhorio,
concedia a um agricultor a exploração de um terreno com carácter
vitalício ou hereditário.
▪ O agricultor era conhecido como foreiro ou enfiteuta.
▪ O foreiro ou enfiteuta ficava obrigado a fazer um aproveitamento
diligente da terra, ou seja, a cultivá-la de forma cuidadosa para dar o
maior rendimento possível.
▪ Ficava também obrigado a pagar ao senhorio uma prestação anual,
denominada de foro ou cânon, que consistia numa parte dos frutos
produzidos na terra.
▪ Juridicamente entendia-se que havia aqui um desmembramento da
propriedade, ou seja, do domínio, que acabava por ficar dividida.
▪ Para o senhorio ficava o domínio direto e para o enfiteuta ficava o
domínio útil. Ambos eram vistos com partes do domínio pleno.
▪ O domínio direto era o direito de receber a prestação anual e o domínio
útil era a posição jurídica do enfiteuta, que tinha a obrigação de cultivar
o prédio e de pagar a prestação anual ao senhorio.
▪ Atentamos que isto é uma divisão jurídica e não física. O prédio tinha
de ser todo cultivado pelo enfiteuta de qualquer forma. Simplesmente,
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2. Complantação
▪ Contrato através do qual o proprietário de um prédio concedia a sua
exploração a um agricultor, para que o agricultor fertilizasse esse
terreno.
▪ Portanto, tratava-se de um contrato que incidia muito especialmente
sobre terrenos que estivessem por cultivar.
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Contratos de crédito
Os contratos de crédito também tiveram grande importância económico-
social neste período da individualização.
▪ Tinham também a terra como objeto mas, apesar disso, têm uma
finalidade primordial de financiamento ou de conceção de crédito.
▪ No fundo, a terra acaba por ser uma forma de se alcançar a conceção
de financiamento ou de crédito.
▪ Veremos dois tipos de contratos de crédito.
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Exemplo:
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2. Penhor imobiliário
▪ Contrato através do qual uma pessoa recebia de outra uma
determinada quantia de dinheiro e em contrapartida cedia-lhe um
prédio.
▪ O prédio só seria restituído ao seu proprietário após o pagamento da
dívida.
▪ A pessoa que tinha cedido o dinheiro e que ficava com o prédio ia
desfrutando do prédio. Era frequente estabelecer que esse desfrute ia
amortizando a dívida e, portanto, como quem tinha concedido o
dinheiro já tinha tido algum desfrute do prédio, depois já lhe teria que
ser restituído uma menor quantia uma vez que já teria compensado
através do desfrute do prédio – através do seu uso e da colheita de fruto
que o prédio produzisse.
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O método escolástico vai ganhando forma ao longo do tempo. No séc. XII apresenta
já a estruturação em que assenta a fisionomia perfeita que alcançou no séc. XIII e
que acabou por constituir o género literário típico das obras dos grandes doutores.
ANTÓNIO ALBERTO VIEIRA CURA, O método escolástico - Algumas notas
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Direito Comum
▪ O direito comum é o produto da receção do renascimento do direito
romano e da renovação do direito canónico.
▪ Foi o sistema jurídico que constituiu a base da experiência jurídica
europeia desde o século XI e XII até ao século XVIII.
▪ Tem como elemento essencial o direito romano justinianeu, i.e., o
direito romano contido nas coletâneas do CIC.
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1. Lei
▪ Nesta época a legislação geral assume grande importância.
▪ A legislação dos reinos é abundante e as leis passam a ser o principal
modo de formação de direito novo, de preceitos novos. Até então, o
costume tinha prevalência na criação jurídica. Agora, na criação de
preceitos novos o costume perde essa relevância a favor da legislação
dos monarcas. Não quer isto dizer que o costume parou de ser uma
fonte importantíssima, mas na criação de novas regras jurídicas é a lei
que tem primazia.
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2. Resoluções régias
▪ Eram providências emitidas pelo rei em resposta aos agravamentos que
lhe eram apresentados nas cortes pelos representantes das três classes
sociais.
▪ Nas cortes, os representantes dirigiam ao rei petições e reclamações,
solicitando-lhe que tomasse providências para resolver determinado
problema.
▪ A resposta que o rei dava a esses agravamentos eram as chamadas
resoluções régias. Se continham normas para o futuro,
substancialmente seriam leis. A diferença é que as leis são emitidas pelo
monarca por sua própria iniciativa e as resoluções são tomadas a
pedido dos representantes.
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3. Costume
▪ Apesar de manter uma grande importância na época, perde para a lei a
primazia na criação de normas jurídicas novas.
▪ Por outro lado, estamos num período de centralização da criação
jurídica (o rei chama a si a criação jurídica – o que se vê no surto
legislativo que ocorre nesta época). Esta ideia de centralização jurídica
tem reflexos na conceção de costume.
▪ O costume, por influência das conceções romanísticas que penetravam
na época, passa a ser visto como expressão da vontade do monarca.
▪ A vigência do costume nesta época é justificada não só como consenso
do povo, mas também como vontade do rei.
▪ O costume seria também vontade do monarca, mas uma vontade tácita,
i.e., se o monarca não promulgou uma lei que revogasse o costume é
porque tacitamente o aceitava.
▪ Assim, a lei seria a vontade jurídica expressa do monarca e o costume
passa a ser visto como uma vontade jurídica tácita do monarca.
4. Forais
▪ A importância dos forais na disciplina da vida das comunidades
manteve-se e ainda foram emitidos vários forais nos reinados de D.
Afonso III e de D. Dinis.
▪ A partir do reinado de D. Afonso IV não se outorgaram mais forais,
apesar de que os que já existiam continuaram a vigorar com grande
importância.
5. Foros, costumes ou estatutos municipais
▪ Também eram, tal como os forais, compilações de direito local, ou seja,
regulavam a vida social numa determinada comunidade.
▪ Por um lado, são diplomas muito mais extensos e completos do que os
forais. Aliás, em Espanha, a distinção entre foros/costumes e forais
corresponde às designações “fueros extensos” e “fueros breves”,
respetivamente.
▪ Também podiam ser concedidos aos municípios e por vezes eram
organizados por iniciativa do próprio município.
▪ Tinham um conteúdo muito mais abrangente que os forais: além de
normas de direito político e administrativo, de direito penal e de
processo penal (direito público que se encontrava igualmente nos
forais), também se encontram normas de direito privado (algo que não
acontecia nos forais), nomeadamente, relativamente a contratos,
direitos reais, direito da família e direito das sucessões.
▪ Para a elaboração dos foros ou costumes, recorreu-se a diversas fontes
prévias, nomeadamente, preceitos consuetudinários, jurisprudência,
doutrina, normas anteriores criadas pelo próprio município.
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Ordenações Manuelinas
Elaboração:
▪ Em 1505, o Rei D. Manuel I encarregou uma comissão de juristas de
proceder à atualização das ordenações do Reino.
▪ O processo legislativo e trabalhos preparatórios tiveram várias
vicissitudes, inclusivamente, chegou-se a resultados que não
agradaram e até houve instruções expressas para destruir os
exemplares desses resultados que não agradaram.
▪ Só em 1521, ano da morte do rei D. Manuel I, se terminaram as novas
ordenações. O ano de 1521 ficou conhecido como a data das
Ordenações Manuelinas.
▪ Resolveu-se substituir as Ordenações Afonsinas pelas Ordenações
Manuelinas por dois motivos fundamentais:
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Ordenações Filipinas
Elaboração:
▪ As Ordenações Manuelinas não foram uma obra particularmente
inovadora, sendo que em grande parte seguiram as Ordenações
Afonsinas.
▪ Havia um sentimento de que as Ordenações Manuelinas precisavam de
ser reformadas e atualizadas e quem vai determinar essa reforma é D.
Filipe I.
▪ Este era um monarca politicamente muito astuto e, sabendo que havia
necessidade de uma reforma das ordenações, mandou fazê-la. Com
isso, quis demonstrar o seu respeito pela autonomia de Portugal.
▪ Os trabalhos preparatórios foram iniciados entre 1583-85, mas o
trabalho só ficou concluído em 1595.
▪ Todavia o início de vigência só se dá em 1603, já no reinado do Rei D.
Filipe II.
Sistematização e conteúdo das Ordenações Filipinas:
▪ Manteve-se a sistematização anterior, a divisão e o conteúdo e
procurou-se uma pura revisão atualizadora das Ordenações
Manuelinas, sem grandes alterações.
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2. Glosa de Acúrsio
▪ Era a segunda fonte subsidiária a que se devia de recorrer.
▪ Se não se encontrasse disciplina para o caso omisso nem no direito
romano, nem no direito canónico, devia ser aplicada a glosa de Acúrsio.
3. Opinião de Bártolo
▪ Em terceiro lugar, recorria-se à opinião (trabalhos e comentários) de
Bártolo, ainda que outros doutores tivessem opiniões diferentes.
4. Resolução do monarca
▪ Se nestas fontes ainda não se conseguisse disciplina para o caso omisso,
devia recorrer-se ao rei. Este proferiria uma resolução que valeria de
futuro para todos os casos semelhantes.
▪ Também se devia recorrer à resolução do monarca quando o caso
omisso, não envolvendo matéria de pecado e não tendo disciplina nos
textos de direito romano, tivesse soluções diferentes por um lado no
direito canónico e por outro na Glosa de Acúrsio e na opinião de
Bártolo.
Tratava-se de uma aplicação hierarquizada destas fontes! Deve recorrer-se a
estas pela ordem.
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Humanismo jurídico
▪ O humanismo jurídico é uma corrente da ciência jurídica europeia que
foi o reflexo, no mundo do direito, dos ideais do renascimento,
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▪ Assim sendo, podemos dizer que há, ao longo dos séculos XVI e XVII,
uma contraposição entre humanismo e bartolismo, ou seja, entre o
humanismo jurídico resultante dos ideais da renascença e o legado da
escola dos comentadores ainda da idade média. Assim se fala de um
debate entre “mos galicus” e “mos italicus”, ou seja, um debate entre a
metodologia jurídica dos humanistas e o modo italiano, das escolas
italianas (glosadores e comentadores).
▪ Não se pode dizer que o humanismo tinha conseguido prevalecer de
imediato sobre o bartolismo, porque os humanistas tinham um
programa teórico que exigia uma preparação científica muito rigorosa,
muito pormenorizada ao nível linguístico e histórico e isso não era
atrativo para rotina forense, para a prática dos tribunais.
▪ As metodologias dos comentadores que queriam acima de tudo retirar
dos textos romanos soluções para os casos concretos: eram de muito
mais fácil aceitação perante os operadores do direito.
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▪ Por isso, podemos dizer que o “mos galicus” não teve aceitação
generalizada durante os séculos XVI e XVII. Teve adeptos e a sua
influência, mas o cerne da prática jurídica continuou dominado pela
herança dos comentadores.
▪ Em Portugal, após a instalação definitiva da Universidade em Coimbra,
no período seguinte a essa instalação, houve um certo florescer dos
ideais humanistas no estudo do direito. Contudo, isso não passou dos
meados do século XVI e, na segunda metade do século XVI, pode-se
dizer que o bartolismo, o legado dos comentadores, tinha sido de novo
perfeitamente assumido e sem haver uma vitória dos ideais do
humanismo jurídico. Portanto, Portugal é um exemplo desta
incapacidade humanística de se afirmar como alternativa ao
bartolismo. Mesmo em França o humanismo jurídico nunca se impôs
completamente.
Segunda Escolástica
▪ Desenvolveu-se nos séculos XVI e XVII, na Península Ibérica, uma
corrente do pensamento jurídico que ficou conhecida como Segunda
Escolástica, Escola Espanhola ou Escola Peninsular do Direito
Natural, que procedeu a uma importante reflexão filosófico-jurídica
sobre o direito e o Estado, em face da conjuntura do tempo que se vivia.
▪ Fala-se em Escola Espanhola do Direito Natural, mas talvez se devesse
falar de Escola Peninsular do Direito Natural, porque também houve
autores portugueses importantes que para ela contribuíram.
▪ A base na segunda escolástica foi a escolástica medieval e o
pensamento de São Tomás de Aquino, à luz dos quais a segunda
escolástica e os seus autores identificaram os princípios fundamentais
de uma ordem de direito natural inspirada em Deus.
▪ Essa ordem jurídica superior era o modelo pelo qual se aferia a validade
do direito positivo, isto é, a validade do direito efetivamente vigente.
▪ A segunda escolástica foi um movimento jus naturalista, partindo do
centro do pressuposto da existência de uma ordem jurídica superior,
que continha as exigências abstratas de justiça e de correção.
Contributos da Segunda Escolástica
▪ A especulação filosófica sobre o direito e o Estado levada a cabo pelos
teólogos juristas da segunda escolástica trouxe contributos muito
relevantes à teoria do estado, ao direito penal, ao direito privado e ao
debate de problemas, como a usura e sua legitimidade, ou seja,
legitimidade do empréstimo de dinheiro a juros e o preço justo (a
chamada “laesio enormis”: a lesão enorme) ou seja, quando o preço da
coisa vendida se afastasse mais de metade do valor considerado justo.
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▪ Divide-se em 3 épocas.
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absurdo, Deus não existisse, o direito natural seria o mesmo, dado esse
caráter de verdade eterna e racional. Está preparada, portanto, a cisão
entre a ideia de direito natural e a ideia de Deus.
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3. Jurisprudência elegante
▪ No século XVI, cresceu em França o humanismo jurídico – a corrente
que foi o reflexo da renascença do direito.
▪ No século XVII, as ideias humanistas passam a ter o seu centro na
Holanda, devido às perseguições religiosas que os jurisconsultos
humanistas da escola culta sofreram, uma vez que muitos deles
aderiram ao protestantismo e foram fortemente perseguidos em
França. Por esta razão, muitos deles fixaram-se nos Países Baixos, onde
continuaram os seus estudos jurídicos com base nos pressupostos
humanistas.
▪ Chama-se jurisprudência elegante porque os seus autores tinham uma
grande preocupação no rigor das formulações jurídicas e na correta
expressão escrita. Por isso, de algum modo qualificando o seu estilo,
ficaram conhecidos como os jurisconsultos elegantes.
▪ Entenda-se que esta jurisprudência elegante, apesar da sua inspiração
humanista, não deixou de também revelar influência do usus modernus
pandectarum, especialmente nas suas preocupações práticas.
▪ Portanto, podemos dizer que a jurisprudência elegante de algum modo
é uma mescla entre humanismo jurídico e usus modernus pandectarum.
4. Iluminismo
▪ Corrente cujo nome se deve à ideia de que os seus representantes eram
iluminados, porque tinham recebido as luzes da razão.
▪ Marca o século XVIII e tem as suas raízes mais profundas no próprio
humanismo jurídico, com aquele seu espírito de liberdade individual e
que depois é acentuado e está muito presente nas conceções do jus
naturalismo racionalista.
▪ No fundo, o iluminismo acaba por ser o culminar desse movimento
progressivo de ênfase do espírito individual e da razão humana.
▪ Vai ter uma concessão individualista liberal do direito e do Estado, que
tem no seu centro os direitos originários e naturais do indivíduo. É aqui
que surge a ideia dos direitos fundamentais, ou seja, direitos inatos que
nascem com qualquer indivíduo e que são a base de qualquer sistema
jurídico que não podem ser postos em causa – a ordem jurídica tem que
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5. Humanitarismo
▪ É uma corrente derivada das ideias do iluminismo, mas cujo objeto de
incidência é o direito penal e o tratamento penitenciário, ou seja, o
tratamento dos reclusos das cadeias.
▪ Teve nomes muito importantes como Montesquieu e Voltaire em França
e Beccaria e Filangieri na Itália.
▪ Não se deve confundir humanitarismo com humanismo jurídico. O
humanismo jurídico é uma corrente do pensamento jurídico do século
XVI e que foi a faceta da renascença no mundo do direito. O
humanitarismo, por sua vez, é um movimento do século XVIII derivado
do iluminismo e que tratou especificamente das questões penais.
Aspetos básicos que marcaram o humanitarismo:
▪ Conteúdo do próprio direito penal: no entender do humanitarismo o
direito penal devia desvincular-se da religião, não devia ter qualquer
pressuposto religioso e devia apenas tutelar os valores necessários à
vida coletiva. Ou seja, na visão humanitarista, a religião era uma questão
íntima/individual, só dizia respeito a essa pessoa. Não há qualquer
interesse social em punir quem não siga os preceitos religiosos. Isto é
um corte com o direito penal que vinha da idade média e de grande
parte da idade moderna, que estava bem presente nas nossas
ordenações.
▪ Finalidade das penas: para os humanitaristas, a ideia ético-retributiva
subjacente à aplicação de uma pena criminal, ou seja, o castigo de um
facto passado não faz sentido. Para eles, a finalidade da punição
criminal deve ser preventiva, ou seja, não é para castigar o que se
passou no passado, mas sim para evitar que se volte a repetir aquela
conduta no futuro e, consequentemente, evitar futuras violações das leis
criminais. Esta ideia de prevenção tem duas vertentes: prevenção geral
(no sentido de intimidar a generalidade das pessoas) e prevenção
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Literatura Jurídica
▪ A orientação compendiária que os estatutos pombalinos da UC tinham
estabelecido – os professores deviam elaborar manuais para as cadeiras
que lecionavam – não foi bem sucedida, pois apenas os manuais de
Mello Freire foram aprovados.
▪ Os manuais aprovados de Mello Freire foram um respeitante à história
do direito pátrio (por isso se diz que este é o pai da História do Direito
Português), outro relativo às instituições de direito pátrio e, ainda, um
manual autónomo de instituições de direito criminal (em que Mello
Freire demonstra influência das doutrinas humanitaristas).
▪ Mello Freire foi o autor que marcou profundamente esta época. Foi um
autor típico do usus modernus pandectarum.
▪ Na falta de compêndios aprovados, escritos por professores das
faculdades, recorreu-se a manuais de professores estrangeiros,
especialmente, italianos e alemães.
Novo Código
▪ Foi uma tentativa de reforma das Ordenações Filipinas.
▪ Apesar de ter este nome “novo código”, isto não passou de uma
tentativa, não se materializou em qualquer diploma legislativo.
▪ Em finais do séc. XVIII vigoravam ainda as Ordenações Filipinas –
portanto, um diploma legislativo que já estaria a caminhar para os seus
200 anos. Este tinha sido um diploma que se limitou a ser uma revisão
das Ordenações Manuelinas que, por sua vez, tinham sido uma reforma
das velhinhas Ordenações Afonsinas de 1446-47. Deste modo, temos
aqui um diploma legislativo que estava já rodeado de um contexto
histórico que lhe era adverso.
▪ A época do iluminismo nada tem a ver com uma velha consolidação
jurídica, ainda de sabor medieval.
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Época do Individualismo
▪ Foi marcada pelo liberalismo político e económico, tendo início com a
Revolução Liberal de 1820.
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As codificações
▪ O fenómeno da codificação marcou fortemente essa época.
▪ Até aos séculos XVIII e XIX, as grandes coletâneas de direito, como o
Corpus Iuris Civilis, a Glosa de Acúrsio e as Ordenações, eram obras
que pretendiam apenas compilar o direito vigente, do qual eram meras
consolidações.
▪ A partir do século XVIII, por influência jusracionalista e iluminista,
elaborou-se corpos legislativos unitários, que pretendiam organizar
científica, sistemática e autónomamente os ramos básicos do direito
(como o direito civil, penal, comercial...).
▪ Essas codificações modernas passaram a não ter um objetivo de pura
compilação, como era anteriormente: os códigos modernos têm um
propósito de transformação social futura.
▪ Assim, sistematicamente organizado, o direito começou a identificar-se
com a lei e qualquer problema jurídico era resolvido dentro do sistema
legal através de uma dedução lógica do sistema ao caso concreto. Isso,
então, logicamente contribuiu para a consolidação do positivismo
jurídico, com a identificação entre direito e lei.
Movimento codificador português
▪ O movimento codificador português iniciou-se em 1833, com o
Código Comercial. Este código foi o primeiro código em sentido
moderno em Portugal. Ficou também conhecido como “Código
Ferreira Borges”, uma vez que assentou no trabalho do Visconde de
Ferreira Borges.
▪ Este Código Comercial era dividido em duas partes: comércio terrestre
e comércio marítimo. Incluiu não só normas de direito comercial
substantivo, mas também normas processuais, normas de organização
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