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HISTÓRIA DO DIREITO

História do Direito como ciência histórica.

Como ciência, a História do Direito descreve e revela, pesquisa, esclarece e explicita a vida
jurídica de um povo em todos os seus aspetos, detendo-se nas fontes, nos costumes, na
legislação que o rege, enfim, em todas as manifestações que resultam do conhecimento
dos factos ocorridos.
Aqui, os estudantes aprendem uma abordagem histórica da disciplina. Isso implica entender
como o contexto histórico, social, político e econômico influencia a formação e a
transformação do Direito. A disciplina busca reconstruir o passado jurídico de uma
sociedade, considerando fontes históricas e legais.

Os estudos da história do direito só começam a surgir em finais do século XVIII e meados


do século XIX, pela autoria de Friedrich Karl Vou Saviguy, este adverte para o facto de
termos de ver o direito como uma realidade histórica. Dada a necessidade de pôr fim às
injustiças dos senhores das terras surge o governo/pátrio, dando assim grande poder aos
legisladores do século XVIII.

• A tendência pró-civilista das Introduções ao Direito: a teoria geral do direito, preocupa-se,


sobretudo, com os problemas civis.
• Natureza cultural do Direito: O direito está sempre inserido na cultura, desta forma, é
necessário compreender a cultura para compreender o direito.
• Dimensão de normatividade: A norma é uma expectativa social estabilizada no tempo, o
direito afirma-se na violação da norma – sanção.
• Unidade na mutabilidade jurídica.
• Escola histórica do Direito: a escola do Direito foi uma escola de pensamento jurídico que
surgiu nos territórios alemães no início do século XIX e exerceu forte influência em todos os
países da tradição romano. Partia do pressuposto de que as normas jurídicas seriam o
resultado de uma evolução histórica e que a sua essência seria encontrada nos costumes e
nas crenças dos grupos sociais.

História do Direito como ciência jurídica.

Esse tópico explora a interseção entre a História do Direito e a teoria jurídica. Como
disciplina jurídica, a História do Direito não apenas narra eventos passados, mas também
analisa o impacto desses eventos nas estruturas legais e no pensamento jurídico. Isso
ajuda os estudantes a entender como o Direito é moldado pela história.

Objecto da História do Direito.

Aqui, os alunos discutem sobre o que exatamente a História do Direito Estudado. A história
do direito tem como objeto de estudo o próprio direito como indagação, tendo o historiador
do direito o papel de relatar o que efetivamente vigorou como direito, pois a história do
direito visa reconstruir as ordens jurídicas que vigoraram no passado, ou seja, os institutos
jurídicos e as fontes do Direito.
O historiador do Direito como indagador.

Este tópico enfatiza o papel ativo do historiador do Direito como um investigador. Os


estudantes aprendem uma abordagem crítica, a análise de fontes primárias e secundárias,
bem como a importância de questionar e contextualizar as informações históricas. O
objetivo é desenvolver habilidades de pesquisa e interpretação.

A indagação é a atividade dos historiadores. Devemos preservar um registo dos feitos do


Homem para a posterioridade. Contudo, História não é a mera apreensão de um dado, mas
a sua elaboração pelo agente cognoscente. Envolve criação para além da “ponderação,
cuidado e rigor” e refere-se à metodologia que o historiador se serve para analisar,
interpretar e descrever os factos históricos, bem como a todo o labor de investigação.
Indagação envolve um forte caráter epistemológico e de reconstrução.

A indagação histórica é indagatio – investigação cuidada


O historiador é um ingadator – o que reconstitui a verdade documentos históricos.

História como indagação


● Este conceito refere-se à abordagem ativa que os historiadores adotam ao estudar o
passado. A História não é simplesmente uma narrativa de eventos; é uma investigação
crítica baseada em perguntas. Os historiadores do Direito, ao adotarem uma postura
indagadora, buscam compreender as motivações, contextos e implicações das mudanças
jurídicas ao longo do tempo.

História do Direito é considerada uma ciência histórica

A História do Direito é considerada uma ciência histórica porque emprega métodos e


abordagens típicas das disciplinas históricas. Isso inclui a análise de fontes primárias, a
contextualização de eventos legais no ambiente mais amplo e a consideração das
mudanças ao longo do tempo. Os juristas que estudam a História do Direito procuram
entender como os leis e as instituições evoluíram.

História Narrativa
● A História Narrativa refere-se à apresentação de eventos históricos em forma de narrativa.
Os historiadores do Direito, ao adotarem uma abordagem narrativa, contam a história das
transformações de maneira envolvente, destacando causas e efeitos, bem como a
continuidade e a mudança ao longo do tempo.

História Pragmática
● A História Pragmática concentra-se nas práticas e instituições em suas manifestações
práticas. Ao estudar a História do Direito de maneira pragmática, os acadêmicos se
concentraram em como as leis eram aplicadas na prática, como as instituições jurídicas
operavam e como as normas legais afetavam a vida cotidiana.

História Genética
● A História Genética envolve a análise das origens e o desenvolvimento de uma ideia,
instituição ou prática ao longo do tempo. No contexto da História do Direito, uma
abordagem genética examinaria a evolução de concepções jurídicas, princípios legais ou
instituições desde suas origens até o presente. Isso pode incluir uma análise das
influências, mudanças e adaptações ao longo do tempo.

Ao considerar a História do Direito como História Genética, os estudiosos concentram nas


origens e no processo de formação das normas e instituições jurídicas, explorando como
esses elementos fundamentais do direito foram moldados e transformados ao longo das
eras. Essa abordagem oferece uma compreensão mais profunda das raízes e do
desenvolvimento das práticas legais.

Os mitos
Existem dois instrumentos de trabalho para um historiador do Direito:
• Autognose: para conhecermos a juricidade de um Povo é necessário conhecer esse povo.
• Mito: conhecer o que faz parte do imaginário de um povo

Qual é o papel do mito para a compreensão do Direito? É necessário conferir ao mito o


lugar que ele deve ocupar no pensar, no agir humano, o mito tenta-nos transmitir algo
(Mitocrítica).
Constituição como “repositório mítico” (Paulo Ferreira da Cunha): Os preâmbulos das
constituições são de grande carga mítica (“transformação revolucionária, início de uma
viragem histórica da sociedade português”, etc.)

Possibilidade de uma Mitologia Jurídica Portuguesa:


A noção de uma mitologia jurídica portuguesa sugere a existência de narrativas simbólicas
específicas que moldaram a compreensão do direito em Portugal. Isso pode incluir mitos
fundamentais, figuras mitológicas associadas ao direito ou narrativas que explicam a origem
e evolução das normas jurídicas no contexto português. Investigar essa possibilidade
envolveria a análise de textos legais, tradições jurídicas e elementos culturais que
desenvolveram para a formação da identidade portuguesa.

Análise mítica e constitucional presente nos preâmbulos constitucionais


Preâmbulo constitucional como discurso mítico:
• Mitos fundadores
Exemplo: O Preâmbulo da Constituição Portuguesa pode incorporar mitos fundadores que
remetem à história e às lutas pela independência, destacando eventos que moldaram a
identidade nacional
• Mitos de renovação-fundação
Exemplo: O mito de renovação-fundação pode ser evidente em passagens que celebram
momentos de mudança significativa, como uma revolução.
• Mitos e rituais de passagem

Preâmbulo da Constituição portuguesa


• Mito da Idade do Ouro – época ideal
Exemplo: Referências à justiça, igualdade e direitos fundamentais no Preâmbulo podem ser
interpretadas como expressões do mito da Idade do Ouro, destacando uma época ideal em
que tais valores foram realizados.

• Mito da utopia – sociedade ideal


Exemplo: O uso de termos como “liberdade”, “justiça” e “solidariedade” no Preâmbulo
sugere a criação de uma sociedade ideal, alinhando-se ao mito da utopia ao descrever uma
visão idealizada do futuro.

• Mito da fundação e renovação – revolução


Exemplo: O Preâmbulo pode invocar o mito da fundação e renovação ao fazer referências à
Revolução, destacando-a como um evento crucial na criação e renovação dos princípios
constitucionais que definem uma nação.

• Mito do inimigo e do salvador – Ditador/Salvador


Exemplo: Caso o Preâmbulo menciona um período de autoritarismo seguido por um
movimento de libertação, pode incorporar o mito do inimigo e do salvador, identificando o
ditador como uma figura negativa a ser superada e o movimento revolucionário como o
salvador que conduz à liberdade.

A marca mítica é, assim, forte e importante num povo e tem um efeito percursos nas
constituições materiais. “Cada ideologia pretende ser (inconscientemente ou não) um todo
organizado e coerente de mitemas, ou mitos, ou temas míticos, que renova e
inter-relacionados numa tradição mítica própria.”

Utopia como - Mito da Cidade Ideal:


A obra "Utopia" de Thomas More, escrita em 1516, apresenta uma visão utópica de uma
sociedade ideal. A Utopia pode ser considerada um mito da cidade ideal, explorando
concepções ideais de justiça, governo e sociedade. Através da análise desta obra, os
estudiosos podem examinar como as ideias utópicas de Mais influenciaram ou desafiaram
as normas legais e sociais de sua época, contribuindo assim para uma compreensão mítica
do direito.

Jusnaturalismo e Juspositivismo

Direito Natural: Princípios universais e absolutos, dito superior decorrente da própria


natureza das coisas e da natureza humana independentes da vontade do Homem. É a
instância de legitimação do direito positivo. Direito Positivo: Direito “posto” – fruto da
vontade humana – estabelecido pelo Homem de forma a satisfazer as necessidades do
coletivo a partir dos princípios, dos métodos, dos legados do Direito Natural.

O Jusnaturalismo é o conjunto de correntes de pensamento que difundiram o conceito de


direito natural. O direito é independente da vontade humana, existe antes mesmo do
Homem e acima das leis. Associado à ideia de justiça, é algo natural e tem como
pressupostos os valores do ser humano – conjunto de princípios jurídicos derivados da
natureza humana e da natureza das coisas. Reconhece duas instâncias legítimas
produtoras de regras: direito positivo e direito natural. Não rejeito o direito positivo, mas
legitima-o no direito natural.

Principais conceções do Jusnaturalismo:


• Cosmológica: vigente na Antiguidade Clássica
• Teológica: surgiu na Idade Média tem como fundamento jurídico a ideia da divindade como
um ser omnipotente, omnisciente e omnipresente
• Racionalista: surgido no seio das revoluções liberais burguesas do século XVII e XVIII,
tendo como fundamento a razão humana universal.

Juspositivismo: Surge na ascensão do direito enquanto ciência, o seu objeto de estudo


são as leis codificadas, deve-se purificar o Direito, afastando-o da moral e da metafísica.
Trata-se de uma corrente monista por considerar apenas a existência de uma instância
normativa ⟶ o direito positivo. Define que o Direito é somente fruto da vontade humana e
a única fonte de regras legítimas é a que passou pelo legislador (Direito Posto).
Reconhecendo a existência de princípios universais fundamentais, como a justiça,
considera que enquanto não forem positivados, não são direitos, mas apenas valores.
Opõe-se deste modo ao jusnaturalismo e a todos os pluralismos jurídicos.

Juspositivismos:

- Legalista/exegético:
• Escola de Exegese – nascimento no século XIX em consonância com o Código
Napoleónico em França.
• Identifica o Direito com as Leis – O Legalismo acredita na lei e apenas e só no que ela
dita. Define uma obediência cega às ordens, mesmo que sob a forma de leis injustas.

Historicista:
Intimamente ligado ao materialismo histórico marxista – Marx entendia que tal como o
Estado, também o Direito caminha para o seu desaparecimento. No seu estudo científico
Marx conclui que o processo histórico. Se explica pelos conflitos de classes, esses conflitos
são fruto da repartição desigual dos meios de produção – uns que controlam e outros que
30 nada têm.
O Direito serve as classes dominantes, logo, se deixarem de existir classes, deixa de haver
direito e deixa de haver história.

Sociológico:
Intimamente relacionado com os factos sociais. O Direito tem de acompanhar os progressos
sociais e de acordo com certos comportamentos que se vão generalizando, o Direito tem de
os incorporar e tornar legais. Isto leva à Falácia Natural: se uma sociedade se comporta de
uma certa maneira, o direito tem de ir atrás e legalizar todo e qualquer comportamento
generalizado. Independentemente se isso é benéfico ou moral.

Evolução histórica do Jusnaturalismo

A ideia do nascimento epistemológico do Direito, do ius redigere in artem (direito escrito


como arte), começa na Grécia, como vários aspetos da Civilização Ocidental, e surge ligado
à retórica. Porém, este legado grego de “pré-Direito” era ainda marcado por uma “síncrise
normativa”, em que o Direito era confundido com outras ciências e as normas não possuíam
natureza autónoma. Verificava se a necessidade do Direito se autonomizar. Essa
autonomização do Direito teve lugar em Roma, ainda sob inspiração helénica, dando-se o
corte epistemológico que permitiu a criação do Direito Romano – Ius Romanum. Afirma-se
que há um conjunto de princípios superiores às normas, pensamento que deriva da corrente
jusnaturalista e que defende a existência de uma ideia de justiça. O Direito tem,
precisamente, muito a ver com a Justiça. Assim, no sentido da criação do Ius Romanum,
foram definidas características externas e internas para uma lei com o objetivo de obter
justiça.

O pensamento jurídico romano era eminentemente prático, racional, entendia que o Direito
tinha como objetivos principais a realização social e a pacificação dos anseios humanos,
criando princípios de convivência claros e influenciando grande parte das sociedades
ocidentais com o seu sistema.

Para a construção do Ius Romanum, os Romanos serviram-se dos seus brocardos


jurídicos (“adágios”; “decantações de sabedoria de séculos em formas sintéticas”) como
fonte de Direito, da lei. No âmbito das características externas da lei, ficou definido que a lei
se deveria procurar na natureza, que a natureza prevaleça sobre a lei (jusnaturalismo). A lei
tem de ser uma estilização da Natureza. Por outro lado, a lei só pode versar sobre matérias
de relevância para a cidade, não podendo transformar-se na forma constante de dar ordens.
“Quanto mais leis, maior injustiça”.

Além das características externas das normas jurídicas, para haver lei é preciso que sejam
observadas as características internas. O que nos leva aos tria praecepta iuris, porque
uma lei injusta não é lei:

• Honeste Vivere – viver honestamente): significa que ninguém deve abusar dos seus
poderes, dos seus direitos. Leva à proibição tanto do abuso do direito como do abuso da
liberdade.
• Altere non laedere – não prejudicar terceiros / não ofender ninguém: trata-se de respeitar
os direitos dos outros, de não prejudicar terceiros.
• Suum cuique tribuere – atribuir o seu a seu dono: remete para uma atribuição de acordo
com as necessidades individuais de cada indivíduo. “O mais específico da arte atributiva do
Direito.”

Os Realismos jurídicos e a sua inserção nas diversas orientações Jusfilosóficas:


Realismo Jurídico Norte-Americano (Século XIX-XX): Define que a ciência jurídica deve
dedicar-se ao estudo do modo como a justiça é aplicada nos tribunais, sendo impossível
dedicar-se ao estudo do direito como sistema lógico. O direito legislado não é o mais
importante. Existem outros elementos extrajurídicos (como a etnia, aspetos sociais, a raça,
crenças) cujo valor que assumem na decisão dos magistrados é maior que o valor das leis.

Crítica: existe uma fundamental incerteza e indeterminação do mundo jurídico: como este
direito é apenas fruto da vontade humana, existe um pluralismo de resultados igualmente
legítimos

Realismo Jurídico Escandinavo: No realismo escandinavo há uma identificação do Direito


com a realidade empírico-sociológico. Procura encontrar as causas sociológicas na origem
dos factos sociais com que identificamos o Direito. Define o direito como uma realidade
social que deve ser estudada a partir daí.
Esta corrente introduz algo novo relativamente ao realismo norte-americano: o elemento
psicológico. Define que o Direito depende da interiorização psicológico da noção de
obrigatoriedade de certos comportamentos por parte dos indivíduos. Os tribunais, ao
sancionar determinados comportamentos, não seriam eficientes se as pessoas não
tivessem assumido a convicção psicológica de certas normas. Sem esta interiorização, o
Direito não seria uma ordem eficaz.

Perspectiva Psicologista da Escola de Upsala:


A Escola de Upsala, na Suécia, foi influente no desenvolvimento da teoria jurídica na
primeira metade do século XX. Uma das características dessa escola é uma perspectiva
psicológica, que busca entender o direito a partir de fatores psicológicos e sociais. Os
juristas dessa escola, como Axel Hägerström, argumentavam que as normas jurídicas
derivavam de juízos de valor e emoções compartilhadas pela sociedade. Em vez de se
concentrar em normas escritas, a Escola de Upsala explorou a natureza subjetiva do direito
e a influência da psicologia na formação das normas.

Concepção Sociologista Típica do Sistema da Common Law:


A Common Law é um sistema jurídico que se desenvolveu principalmente na Inglaterra e foi
influente em muitos países de tradição britânica, incluindo os Estados Unidos. A concepção
socióloga da Common Law destaca a importância da tradição, dos costumes e das decisões
judiciais na formação do direito. Nesse sistema, a lei é desenvolvida por meio da
investigação, ou seja, pelas decisões dos tribunais ao longo do tempo. Os juristas com uma
perspectiva socióloga do Common Law veem o direito como um reflexo das práticas e
valores sociais em constante evolução.

Importância da Jurisprudência como Fonte de Direito.

As sentenças e os pareceres judiciais interpretam a lei. Estas interpretações podem depois


ser citadas por outros tribunais ou autoridades como «precedentes» e/ou jurisprudência. A
influência da jurisprudência pode revestir especial importância em domínios que não sejam
cobertos, ou apenas parcialmente, pela legislação escrita aprovada por uma câmara
legislativa (como os parlamentos). Temos assim que em determinadas circunstâncias os
tribunais constituem também uma fonte de direito.

Em alguns países a jurisprudência é a principal fonte de direito e as decisões dos tribunais


superiores são consideradas normativas, ou seja, estabelecem normas que podem, e em
alguns casos devem, ser aplicadas para dirimir litígios semelhantes (designadas
«precedente vinculativo», especialmente nos países cujo ordenamento jurídico se baseia no
direito comum/common law). Em muitos outros países (especialmente os que seguem a
tradição civilista decorrente do direito romano), os tribunais não se encontram vinculados
por normas e princípios estabelecidos pela jurisprudência.

A importância da Grécia antiga para a jusfilosofia.


Os sofistas referem-se a um direito natural numa perspetiva diferente – definem que o
homem está no centro do universo, que tudo gira à sua volta – Jusnaturalismo
Antropocêntrico. Para os sofistas o direito não tinha a sua origem nos deuses, a sua fonte
era antes o ser humano. Definia-se que não era possível chegar a uma verdade plena e
absoluta, a verdade era relativa. Considerava-se justo aquilo que era bom e útil para a
sociedade. Aquilo que está excluído/fora do alcance da vontade humana identifica-se com a
natureza – a physis. O Jusnaturalismo já não é cosmológico, o que interessa verificar é
quais são as necessidades e interesses dos homens, já que eles são “a medida de todas as
coisas”

A superação do relativismo e do ceticismo dos sofistas em relação ao conhecimento, passa


pelo restabelecimento, pelo renascer da crença no potencial das virtudes da razão humana.
Sócrates identificava a razão com a moral, com a bondade e a verdade – se somos
racionais somos bons; a razão equipara-se à verdade. Vê o Estado não como fruto das
vontades particulares dos cidadãos, mas como um instrumento fundamental para o homem
desenvolver a sua natureza. O Estado é uma projeção da sua humanidade e da sua
racionalidade, logo é intrinsecamente bom – não há leis injustas.

Platão, discípulo de Sócrates procurou explicar como se desenvolve o conhecimento


humano através da sua doutrina das ideias: definiu que o processo de conhecimento se
desenvolve através da passagem progressiva entre o mundo sensível (mundo das ilusões
e das aparências) e o mundo inteligível (mundo das ideias). Numa primeira etapa são as
sensações ou impressões que temos sobre as coisas que formam o nosso conhecimento, é
um saber empírico que adquirimos através das nossas vivências/experiências. O verdadeiro
conhecimento só se adquire numa fase posterior quando ultrapassamos a esfera das
sensações e entramos na esfera da racionalidade, entramos no mundo inteligível – só é
possível entrar neste mundo mediante um esforço racional, científico e filosófico.

Aristóteles, discípulo de Platão introduz uma alteração na teoria das ideias: define que
a própria realidade não se limita a ser um espelho das ideias – ela tem as ideias. A essência
das coisas não está no mundo inteligível, mas sim no mundo empírico. Embora este
realismo epistemológico possa diferir da conceção de Platão, ambos partilham a mesma
ideia de moral, de justiça e de Estado. A ideia de Platão, Aristóteles bem como Sócrates
acerca do Estado é a mesma: ambos vêm o Estado como instrumento para desenvolver a
natureza dos homens e alcançar a felicidade. Neste sentido, mesmo que as leis sejam
injustas, devem ser respeitadas e não desobedecidas de forma a evitar a desarmonia.
Aristóteles faz a distinção entre justo legal (justiça particular) e justiça natural (justiça geral)

A distinção fundamental para a Filosofia do Direito entre Nomos e Physis.


A distinção fundamental entre "Nomos" e "Physis" é uma ideia central na Filosofia do
Direito, especialmente quando se analisa a tradição filosófica grega antiga. Os termos são
de origem grega e têm implicações significativas para a compreensão da ordem social,
política e jurídica.
● "Nomos" refere-se à lei, à convenção, às normas e instituições criadas pelos seres
humanos. Está associado à ideia de ordem social, legal e política construída pelo
homem. O Nomos é aquilo que é previsto por meio de acordos, leis e normas
criadas pela sociedade para regular a conduta humana. Na Filosofia do Direito, a
atenção ao Nomos destaca a importância das instituições e regras construídas pela
sociedade para a organização e governança.
● "Physis" refere-se à natureza, ao mundo natural e ao curso natural das coisas. É
associado aos elementos naturais e ao funcionamento intrínseco do universo. Na
Filosofia do Direito, o contraste com o Nomos destaca a diferença entre aquilo que é
estabelecido pelos seres humanos (leis, normas sociais) e o que é inerente à
natureza.

Trasímaco e Cálicles como representantes sofistas para Platão.


● Trasímaco (em "A República"):
Trasímaco é um personagem apresentado por Platão na obra "A República". Ele representa
uma perspectiva sofista sobre a justiça. Trasímaco argumenta que a justiça é determinada
pelo interesse próprio do governante ou da classe dominante, indicando que a justiça é, na
verdade, o que beneficia o mais forte. Essa visão é uma crítica à ideia tradicional de justiça
e ética.

● Cálicles (em "Górgias"):


Cálicles é outro personagem em um diálogo de Platão, especificamente em "Górgias". Ele
também está associado a uma perspectiva sofista e argumenta que a justiça convencional é
uma criação da sociedade fraca para controlar os mais fortes. Cálicles defende a ideia de
que os indivíduos mais poderosos devem seguir seus desejos e buscar o que é
naturalmente seu, rejeitando as noções tradicionais de justiça.

Ambos os personagens representam visões sofistas que desafiam as concepções


tradicionais de justiça e ética, mostrando que esses conceitos são relativos ao poder e ao
interesse próprio. Platão, ao apresentar essas perspectivas em seus diálogos, busca refutar
e superar essas ideias, defendendo uma visão mais idealista e absoluta da justiça em suas
obras. Esses diálogos são essenciais para entender a crítica platônica aos sofistas e a
defesa de suas próprias teorias éticas e políticas.

Críticas à definição de direito pelos juspositivistas:


• O Direito é uma realidade mais ampla que o Estado: não se trata apenas as normas que
surgem por via do Estado.
• Redundância entre normas e regras: parece que as normas e regras querem dizer a
mesma coisa. O direito não são apenas as regras, não se resume a leis criadas por um
legislador. Há outras fontes de Direito que não estão contempladas por essa definição.
• O Direito surge como único meio da pacificação social: há uma série de outras ordens
normativas/regulativas que contribuem para a paz social, como a moral, a religião.
• O que contra é a lei “preto no branco”: preocupações com a velocidade e veracidade
deixam para trás o mais importante a justiça

Ao longo da História houve situações que colocaram alguns embaraços ao


Juspostivismo:
Os julgamentos de Nuremberga e os Tribunais de Tóquio: a obediência cega às ordens,
mesmo que sob a forma de leis injustas, foi posta em causa juridicamente pelos tribunais na
II Guerra Mundial. Em Nuremberga e em Tóquio, julgam-se os vencidos por não se terem
negado a cumprir leis injustas. Contudo, a eles não competia ter em conta o conteúdo das
leis, mas apenas cumpri-las. Há valores que transcendem uma ordem jurídica positiva.

Promulgação da “Lei Seca”: Esta lei, promulga nos EUA, na primeira metade do século
XX, proibia a comercialização de bebidas alcoólicas – tem uma natureza jurídica inexistente.
Nas conceções jurídicas positivistas, qualquer ordem jurídica tem conteúdo desde que o
Estado tenha força para isso. Mesmo conteúdos que não tenham força jurídica como foi a
“lei seca” que não passava de uma lei moral.

O "Bonus Pater Familias" como centro da criação jurídica romana

O "Bonus Pater Familias" é uma expressão latina que significa "bom chefe de família". Na
tradição jurídica romana, esse conceito era central e desempenhava um papel importante
na organização da sociedade e na criação do direito. Aqui estão alguns aspectos
relevantes:

Chefe de Família e Paterfamilias:


● O "Bonus Pater Familias" referia-se ao chefe de família romano, conhecido
como "Paterfamilias". Era geralmente o homem mais velho e, legalmente,
possuía autoridade sobre os membros de sua família, incluindo esposa,
filhos, netos e escravos.

Pátria Potestas e Autonomia:


● O chefe de família exercia o que era chamado de "pátria potestas", ou poder
do pai, sobre os membros de sua família. Ele tinha autoridade quase
absoluta sobre seus filhos, incluindo o poder de vida e morte em certas
circunstâncias.

Responsabilidade Legal e Econômica:


● O “Bonus Pater Familias” também carregava uma responsabilidade legal e
econômica significativamente. Ele era responsável pelas dívidas familiares e
agia como representante legal da família em transações jurídicas. A sua
gestão sabia era vista como crucial para a estabilidade e a prosperidade da
família.

Importância na Criação do Direito:


● A figura do "Bonus Pater Familias" influenciou diretamente a criação do
direito romano, pois suas ações e decisões eram consideradas exemplares e
eram incorporadas aos costumes jurídicos. A autoridade do chefe de família
contribuiu para a formação de princípios legais e normas que moldaram a
sociedade romana.

A ideia de que a natureza prevalece sobre a lei muitas vezes está associada à
concepção da lei natural, o que sugere a existência de princípios éticos universais que
transcendem as leis humanas. A justiça seria derivada desses princípios.
A afirmação de que lei injusta não é lei enfatiza a ideia de que, em alguns contextos
éticos, uma lei que entra em conflito com princípios morais mais elevados pode não ser
considerada verdadeiramente legal. Esse ponto de vista sugere que a obediência à lei não é
automaticamente justificada se uma lei for considerada moralmente injusta.

Fase In Iure como responsabilidade do pretor.


A "fase in iure" refere-se a uma etapa do processo judicial no sistema jurídico romano, onde
as partes apresentaram seus argumentos perante o pretor (magistrado responsável pela
administração da justiça) antes do início do julgamento propriamente dito.
A expressão "in iure" significa "no direito" ou "diante do juiz" em latim. Durante uma fase in
iure, as partes apresentaram seus argumentos e evidências perante o pretor, que então
decidiram como o caso seria iniciado. Este processo tinha um caráter formal, e as partes
precisavam seguir certos rituais e procedimentos específicos.

Havia duas fases principais no processo apresentado ao pretor:

● In Iure Cognitio (Conhecimento no Direito):


Nesta fase, as partes apresentaram formalmente seus casos ao pretor, explicando suas
reivindicações e defesas. O pretor examinava as explicações e determinava os pontos de
controvérsia que primeiro foram resolvidos. Ele poderia então emitir uma “fórmula”, que era
um documento que delineava os pontos-chave da disputa e estabelecia como o caso
deveria progredir.

● In Iure Controvérsia (Controvérsia no Direito):


Após a emissão da fórmula, a fase seguinte envolve a resolução dos pontos de controvérsia
identificados. As partes continuaram conseguindo negociar ou buscar uma solução
amigável. Se não houvesse acordo, o caso obrigatório para a fase seguinte, conhecido como
"fase apud iudicem" (perante o juiz), onde o pretor encaminha as partes ao juiz para
julgamento.

O papel do pretor era, portanto, essencial na administração da justiça romana durante a


fase in iure. Ele não apenas facilitou a apresentação das alegações, mas também
desempenhou um papel na formulação da fórmula, que direcionou o curso subsequente do
processo. A fórmula estabelecia os termos da disputa e delineava as questões a serem
decididas pelo juiz.

A fase Apud Iudicem como tarefa do Iudex.

A fase "Apud Iudicem" no sistema jurídico romano referia-se ao momento em que o


processo era encaminhado do pretor para o juiz (iudex) para julgamento. Durante esta fase,
a decisão final sobre o caso seria tomada, e a responsabilidade principal recai sobre o
iudex. A expressão "apud iudicem" significa "perante o juiz" em latim.
Aqui estão alguns pontos-chave relacionados à fase "apud iudicem" e à tarefa do iudex:

● Nomeação do Iudex:
Após uma fase "in iure" perante o pretor, o caso foi encaminhado para o iudex, que seria um
particular escolhido para agir como juiz, frequentemente escolhido pelas partes envolvidas
no caso ou, em alguns casos, nomeado pelo pretor.

● Independência do Iudex:
Ao contrário do pretor, que tinha um papel ativo na condução do processo e na formulação
da fórmula, o iudex tinha um papel mais passivo e independente. A sua tarefa principal era
ouvir as alegações e evidências apresentadas pelas partes durante o julgamento e tomar
uma decisão final com base nessas informações.

● Decisão com Base na Fórmula:


A fórmula emitida pelo pretor na fase “in iure” continha os termos da disputa e delineava as
questões a serem decididas pelo iudex. Durante a fase “apud iudicem”, o iudex baseava sua
decisão nos elementos estabelecidos na fórmula.

● Função de Julgamento:
O iudex tinha a responsabilidade de avaliar as descrições e as evidências e interpretar e
aplicar o direito conforme estabelecido na fórmula. A sua função era agir como um julgador
imparcial e decidir a disputa com base nas normas legais e nos fatos apresentados.

● Flexibilidade no Procedimento:
O procedimento judicial o iudex era menos formal do que a fase “in iure”. Havia uma maior
flexibilidade, permitindo às partes apresentar suas alegações e evidências de maneira mais
livre. No entanto, o iudex ainda estava estipulado pelos termos da fórmula e pelas questões
legais em disputa.

A fase “apud iudicem” reflete a transição do processo do aspecto formal e processual da


fase “in iure” para a resolução substantiva da disputa. O iudex desempenhou um papel
crucial na determinação da justiça do caso e na aplicação da lei conforme previsto na
fórmula emitida pelo pretor. Esse sistema buscava equilibrar a formalidade com uma
abordagem mais flexível e adaptável à resolução das disputas legais.

Direito romano VS Direito grego

O processo jurídico romano possui características distintivas que o diferenciam do sistema


jurídico grego. Ambos os sistemas possuem raízes na cultura jurídica do mundo antigo, mas
com abordagens e práticas específicas relacionadas a vários aspectos. Aqui estão algumas
características distintivas do processo romano em relação ao grego:

● Oralidade vs. Escritura:


Uma das distinções fundamentais é a preferência romana pela oralidade em contraste com
a abordagem mais escrita dos gregos. Enquanto os gregos registravam frequentemente
suas leis e decisões por escrito, os romanos valorizavam o discurso oral durante o processo
judicial. Os debates e argumentos orais desempenharam um papel significativo nas fases
iniciais do processo romano.

● Papel do Jurisconsulto:
No sistema romano, os jurisconsultos (consultores jurídicos) desempenharam um papel
essencial na formação e interpretação do direito. Eles eram especialistas em questões
jurídicas e ofereciam orientação aos litigantes. O papel do jurisconsulto foi menos
proeminente na Grécia, onde a interpretação da lei muitas vezes recai mais diretamente
sobre os magistrados e legisladores.

● Fórmulas e Fases Processuais:


O sistema romano tinha um processo jurídico bem estruturado que envolvia fases distintas,
incluindo a fase "in iure" diante do pretor e a fase "apud iudicem" perante o juiz. A emissão
de fórmulas pelo pretor na fase “in iure” era uma característica única do sistema romano,
delineando as questões a serem decididas. Os gregos, por outro lado, não tinham uma
divisão formalizada entre essas fases e não utilizavam fórmulas de maneira semelhante.

● Adversarialismo Romano:
O sistema romano era mais adversário do que o grego. Isso significa que as partes tiveram
um papel mais ativo na apresentação de suas discussões e na condução do processo. A
fase "in iure" perante o pretor, onde as partes apresentaram seus argumentos, e a fase
"apud iudicem", onde as partes compareceram diante do juiz, refletiram essa abordagem
mais adversarial.

● Influência do Direito Natural:


O pensamento jurídico romano foi influenciado pelo conceito de direito natural,
especialmente nas formulações do ius gentium e ius naturale. A ideia de princípios de
justiça universalmente aplicáveis ​era uma característica marcante do pensamento jurídico
romano. Enquanto a Grécia também tinha considerações éticas em sua tradição jurídica, a
influência do direito natural foi mais proeminente no sistema romano.

O Cursus Honorum
O “Cursus Honorum” foi uma sequência de cargas políticas e militares que os romanos
aristocráticos buscavam como parte de sua carreira pública. Essa prática reflete a evolução
administrativa romana e a estruturação cuidadosa de papéis e responsabilidades dentro da
República Romana. Vamos examinar algumas das cargas mencionadas no contexto do
"Cursus Honorum":

● Questores (Questores):
Os questores eram os mais baixos na classificação do "Cursus Honorum". Eles eram
responsáveis ​pela supervisão financeira e administrativa. Inicialmente, eram encarregados
do tesouro e das finanças, mas ao longo do tempo, suas funções se expandiram para incluir
vários deveres administrativos.

● Édiles Curules (Edis Curuis):


Os edis curules eram responsáveis ​pela administração das construções públicas e das
festividades públicas. Eles tinham o dever de garantir a manutenção e a beleza das
estruturas da cidade, bem como de organizar eventos e festivais. Os ediles curules eram
eleitos pelos cidadãos e faziam parte do "Cursus Honorum" para aspirantes a cargos mais
altos.

● Pretores (Pretores):
Os pretores eram magistrados com poder judicial. Inicialmente, foram designados para
ajudar os cônsules em funções militares, mas ao longo do tempo, suas funções evoluíram
para incluir a administração da justiça em questões civis. Eles também podiam ser
encarregados de governar províncias romanas em nome dos cônsules.

● Cônsules (Cônsules):
Os cônsules eram os mais altos magistrados romanos. Havia dois cônsules eleitos a cada
ano, e eles serviam como os chefes do governo e do exército. Os cônsules tinham o poder
de veto um ao outro e presidiam o Senado e as assembleias. Esta era uma carga de grande
prestígio e importância no "Cursus Honorum".

● Censores:
Os censores eram responsáveis ​pelo censo e pelo registro da população e da riqueza. Eles
também exerceram autoridade moral, removendo ou adicionando nomes ao Senado com
base no comportamento moral dos senadores. Embora a carga não tenha feito parte do
"Cursus Honorum" no início, posteriormente, tornou-se uma etapa significativa para muitos
políticos

A romanização
A romanização da Península Ibérica foi um processo complexo que exemplifica a
colonização romana e teve impactos duradouros na região. A concessão da latinidade por
parte do imperador Vespasiano em 73 ou 74 dC é considerada crucial para compreender
essa transformação, muitas vezes sendo vista como mais significativa do que a concessão
da cidadania pelo imperador Caracala em 212 dC.

Concessão da Latinidade por Vespasiano:


● Importância da Latinidade:
Vespasiano concedeu o direito à latinidade aos habitantes da Península Ibérica,
conferindo-lhes uma forma de cidadania romana secundária. A latinidade permitia o acesso
a certos direitos legais e benefícios, mas não conferia plenos direitos de cidadania romana.
● Integração Social e Política:
A concessão da latinidade facilitou a integração social e política dos peninsulares ao
sistema romano, promovendo uma maior coesão dentro do Império. Fornecia uma base
para a participação em instituições romanas sem exigir uma assimilação completa.

Concessão da Cidadania por Caracala:


● Cidadania de Caracala em 212 dC:
O imperador Caracala concedeu a cidadania romana a todos os habitantes livres do Império
em 212 dC, uma medida conhecida como "Constitutio Antoniniana".
Essa concessão foi uma tentativa de fortalecer a lealdade dos súditos ao Império.
● Contexto e Relevância Relativa:
A concessão da cidadania por Caracala, embora ampla em sua aplicação, foi vista por
alguns como uma medida de natureza mais política e administrativa do que cultural.
A latinidade, por outro lado, estava mais ligada à identidade cultural e à preservação das
tradições locais.

Direito Romano
No contexto do direito romano, a cidadania era um status complexo e multifacetado, que
concedia diversos direitos e privilégios. Entre esses, destacaram-se quatro elementos
principais: "Ius Suffragii", "Ius Honorum", "Ius Commercii" e "Ius Connubii".

No âmbito do Direito Público:


● Ius Suffragii (Direito de Voto):
A conferência "Ius Suffragii" o direito de participar nas assembleias populares e votar nas
eleições.
Ter esse direito era fundamental para a participação ativa na vida política da República
Romana.
● Ius Honorum (Direito de Exercício de Cargas Públicas):
O “Ius Honorum” concede o direito de buscar e ocupar cargas públicas.
A capacidade de pleitear cargas políticas era um privilégio reservado aos cidadãos de
destaque e era uma extensão do "Ius Suffragii."

No âmbito do Direito Privado:


● Ius Commercii (Direito de Contrair Comércio):
O "Ius Commercii" refere-se ao direito de realizar transações comerciais e contrair
obrigações contratuais.
Esse direito era essencial para o engajamento nas atividades comerciais e econômicas.

● Ius Connubii (Direito de Contrair Matrimônio):


O “Ius Connubii” era o direito de contrair matrimônio legalmente reconhecido.
Esse direito envolve não apenas a questão do casamento em si, mas também a capacidade
de estabelecer relações familiares legítimas.

A diferenciação entre esses direitos no âmbito do Direito Público e Privado era uma
característica distintiva da cidadania romana. No entanto, é importante observar que a
posse de todos esses direitos não era automática para todos os cidadãos romanos.
Algumas distinções regionais e sociais podiam depender de quem tinha acesso a certos
privilégios.

Quanto aos latinos peninsulares, a situação era específica. Eles possuíam o "Ius Suffragii",
o que poderia participar nas eleições e nas assembleias populares. No entanto, não
possuíam o "Ius Honorum", o que os impedia de buscar ou ocupar certas cargas públicas.
No âmbito do Direito Privado, eles tinham o “Ius Commercii”, permitindo atividades
comerciais, mas não tinham o “Ius Connubii”, o que poderia impactar a natureza jurídica de
suas relações matrimoniais.

Legado do “Corpus Iuris Civilis”:


● O “Corpus Iuris Civilis” foi uma obra monumental que moldou o desenvolvimento do
direito na Europa e além.
● Durante a Idade Média, suas compilações foram redescobertas e se tornaram a
base para o renascimento do estudo do direito romano.
● O “Corpus Iuris Civilis” influenciou profundamente o desenvolvimento do direito civil
em muitos sistemas jurídicos modernos.

A obra é uma expressão significativa do esforço de Justiniano em consolidar e preservar a


tradição jurídica romana, além de fornecer um legado duradouro para a história do direito.
Vamos analisar as partes específicas do "Corpus Iuris Civilis":

Codex Justiniano (Código de Justiniano) - 534:


● O “Codex” foi promulgado em 534 e representa a primeira parte do “Corpus
Iuris Civilis”.
● É uma coletânea das constituições imperiais (decretos legislativos do
imperador) desde a época de Adriano até Justiniano.
● O “Codex” foi uma tentativa de sistematizar e simplificar as leis existentes,
eliminando redundâncias e contradições.

Digesta ou Pandectae (Digesto ou Pandectas) - 533:


● O "Digesto", compilado em 533, é uma coleção de textos legais selecionados
de juristas romanos clássicos.
● O objetivo era fornecer um manual acessível para estudantes de direito,
apresentando opiniões jurídicas e precedentes.
● A compilação foi realizada por uma comissão liderada por Triboniano e
incluiu contribuições significativas de juristas como Ulpiano, Paulo, e outros.

Instituições (Institutas) - 533:


● As "Instituições", também de 533, são um manual introdutório para
estudantes de direito.
● Baseado nas obras de Gaius, um jurista romano do século II, o “Institutiones”
abrange os princípios fundamentais do direito romano.
● Este texto serviu como base para o ensino do direito nas universidades e
teve uma influência na educação jurídica.

Novelas (Novelas) – 535 a 565:


● As "Novellas" consistem em novas leis promulgadas por Justiniano após a
conclusão do "Corpus Iuris Civilis".
● Essas novas leis foram adicionadas em várias etapas entre 535 e 565.
● As "Novellas" abordam questões que surgiram após as compilações iniciais,
ajustando e expandindo o corpo jurídico existente

Contribuição de Triboniano:
Triboniano, o ministro de Justiniano, desempenhou um papel fundamental na organização e
compilação do "Corpus Iuris Civilis".
Sua abordagem de reunir e sistematizar as leis existentes, juntamente com a criação de
manuais para estudantes, foi inovadora e teve um impacto duradouro na educação e na
prática jurídica.

O direito chinês e a perspectiva não monista do direito.

Alternância histórica entre as ordens normativas do li e do fá: na Antiga China era


extremamente desonroso resolver as questões por via judicial e ter de recorrer ao tribunal.
As pessoas deveriam resolver os seus litígios sozinhas através das regras sociais. O
direito chinês não é um direito religioso, está sim integrado numa concepção filosófica: o
Confucionismo (séc. V a.C. – Confúcio).

A História do Direito Chinês é a do eterno antagonismo entre duas noções/modelos de


Direito: Li e Fá.
• O li – crença nas virtudes naturais do homem: é o modelo mais importante e tradicional.
Diz respeito ao conjunto de usos ancestrais, regras de boa convivência que se impõe pela
ordem natural das coisas. Esta concepção desenvolve-se á luz do pensamento
confucionista e de uma conceção otimista da natureza humana.
• O fá – descrença na bondade natural do homem: a escola dos legalistas defende o
pessimismo da natureza humana, logo considera ser necessário adotar regras mais
rígidas que possuíssem sanções que mantivessem a organização social ao controlar o mau
instinto do homem.

Embora o confucionismo não tenha sido diretamente baseado em um ordenamento jurídico


codificado na China, suas ideias éticas e filosóficas sofreram uma influência na cultura, na
ética governamental e nas normas sociais, moldando indiretamente o desenvolvimento do
sistema jurídico chinês ao longo da história.

O Cristianismo e o direito.
A relação entre o cristianismo e o direito é marcada por uma profunda influência ética e
moral. Os ensinamentos cristãos, como os Dez Mandamentos, moldaram concepções de
justiça e ética. O desenvolvimento do direito canônico e as contribuições de pensadores
cristãos, como Santo Agostinho e Tomás de Aquino, influenciaram a filosofia jurídica
ocidental. A influência cristã na justiça, caridade e direitos naturais promoveu movimentos
sociais e contribuiu para a concepção moderna de direitos humanos. No entanto, a
influência do Cristianismo varia em diferentes culturas e períodos, e a separação entre
Igreja e Estado é uma característica significativa em muitos sistemas jurídicos
contemporâneos.

Santo Agostinho (354-430 dC)


Foi um influente teólogo e filósofo cristão, fez contribuições significativas para a
compreensão da relação entre o Cristianismo e o direito, especialmente no que diz respeito
aos conceitos de Lei Eterna, Lei Natural e Lei Positiva. Suas reflexões tiveram um impacto
experimental no pensamento cristão e na filosofia do direito. Vamos explorar esses
conceitos em Santo Agostinho:

● Lei Eterna:
A Lei Eterna, segundo Santo Agostinho, é a razão divina e eterna que governa toda a
criação. É a ordem divina estabelecida por Deus que permeia o universo e orienta a
conduta moral. A Lei Eterna é imutável e representa a vontade divina, operando como um
padrão supremo para a moralidade.

● Lei Natural:
A Lei Natural, para Santo Agostinho, está intimamente ligada à Lei Eterna. Ele via a Lei
Natural como a participação racional na Lei Eterna por parte das criaturas racionais,
especialmente dos seres humanos. A Lei Natural está inscrita nos corações das pessoas
por Deus e serve como uma orientação moral derivada da natureza humana. Agostinho
enfatizou que a verdadeira justiça e moralidade falharam na conformidade com a Lei
Natural.
● Lei Positiva:
A Lei Positiva, ou lei humana, é a legislação elaborada pelos seres humanos para regular a
sociedade. Santo Agostinho reconhecia a necessidade da Lei Positiva para manter a ordem
social, mas ele a via como derivada da Lei Natural. Ele argumentou que as leis humanas
justas deveriam refletir e estar em conformidade com a Lei Natural, pois apenas assim
seriam legítimas e verdadeiramente justas.

Relação entre as Leis:


Santo Agostinho enfatizava a abordagem dessas leis. A Lei Positiva deveria estar em
conformidade com a Lei Natural, que, por sua vez, derivava da Lei Eterna. Ele argumentava
que, se uma lei humana fosse compatível com a Lei Natural, seria injusta e não deveria ser
obedecida.

Papel da Graça Divina:


Agostinho também destacou o papel da graça divina na capacidade humana de
compreender e obedecer à Lei Eterna e à Lei Natural. A graça divina, segundo ele, era
necessária para fortalecer a vontade humana e permitir a conformidade com as leis divinas.

Esses conceitos agostinianos tiveram uma influência na teologia moral e na filosofia do


direito ao longo da história cristã. Eles também influenciaram pensadores posteriores,
incluindo Tomás de Aquino, que incorporou muitos desses princípios em sua própria síntese
da filosofia cristã e do pensamento jurídico.

Categorias jurídicas dos habitantes do Império Romano:


Cidadania Romana (Civitas Romana):
● Status mais elevado.
● Conferência amplos direitos e privilégios.
● Acesso total à justiça, participação política e proteção legal.
Latinitas (Status de Latim):
● Estatuto intermediário entre cidadania romana e não cidadania.
● Concede alguns direitos, como casamento legal, justiça e atividades
econômicas.

Peregrinos (Peregrinos):
● Estrangeiros sem cidadania romana ou latina.
● Condições legais mais limitadas, mas o direito romano aplicava-se em alguns
aspectos.

Deeditícios (Dediticii):
● Indivíduos ou comunidades que se tornaram ao Império sem resistência
militar.
● Inclui no sistema legal romano, com direitos variáveis.
Escravos (Servi):
● Sem personalidade jurídica.
● Considerados propriedade, sem direitos civis ou políticos.
● Algumas leis regulavam as relações entre mestres e escravos ao longo do
tempo.
A dicotomia entre Papado e Império como a mais relevante de toda a Idade-Média.

A dicotomia entre o Papado e o Império foi, de fato, uma das questões mais relevantes e
rigorosas durante a Idade Média, moldando significativamente a política, a religião e a
sociedade. Essa tensão entre a autoridade espiritual do Papado e a autoridade temporal do
Império Romano-Germânico persistiu ao longo dos séculos e teve implicações importantes.
Aqui estão alguns pontos-chave que destacam a relevância dessa dicotomia na Idade
Média:

Conflito de Autoridade:
A dicotomia representava o conflito fundamental de autoridade entre a esfera religiosa e a
temporal. O Papado afirmava sua autoridade espiritual e influência sobre os assuntos da
Igreja, enquanto o Império reivindicava autoridade política e governança secular.

Questões de Soberania e Jurisdição:


A questão central era quem tinha a autoridade suprema: o Papa, como representante da
Igreja, ou o Imperador, como governante secular. Isso levantou questões cruciais sobre
soberania e jurisdição, especialmente em relação às terras e à população sob o domínio
imperial.

Controvérsias sobre Nomeações e Investiduras:


Uma das questões mais destacadas foi a controvérsia das investiduras, um conflito sobre
quem tinha o direito de nomear e investir líderes eclesiásticos (bispos e abades) - o Papa ou
o Imperador. Isso refletiu a luta pelo controle sobre as instituições eclesiásticas e sua
influência.

Princípio do Duplo Poder (Papado e Império):


A teoria do "Duplo Poder" sugeria que tanto o Papado quanto o Império eram autoridades
divinamente ordenadas, mas em esferas separadas. No entanto, a prática muitas vezes
resultou em tensões e disputas sobre a supremacia.

Declínio do Império e Ascensão da Autoridade Papal:


À medida que o Império Romano-Germânico enfrentava desafios, incluindo invasões
bárbaras e fragmentação, o poder papal ganhava proeminência. Os papas desempenharam
papéis ativos na política, inclusive na coroação e deposição de imperadores.

Papado nas Cruzadas e no Sacro Império Romano-Germânico:


A dicotomia também influenciou eventos como as Cruzadas, onde questões de liderança
religiosa e secular se entrelaçaram. Além disso, o Sacro Império Romano-Germânico,
formado por Carlomano e Otão I, muitas vezes se viu em conflito com o Papado.

Influência nas Instituições Medievais:


Essa dicotomia moldou as estruturas de governo e as instituições medievais, com a
coexistência e conflito entre as autoridades papais e imperiais influenciando a divisão de
poderes e as dinâmicas políticas na Europa medieval.

A monarquia visigoda na Península Ibérica


As liberdades ibéricas tradicionais têm raízes históricas que remontam aos tempos da
monarquia visigoda na Península Ibérica. Vamos explorar a genese dessas liberdades, a
questão da sucessão do rei na monarquia visigoda, os concílios de Toledo e a legislação
visigoda:

1. Genese das Liberdades Ibéricas na Monarquia Visigoda:


- Durante o período da monarquia visigoda (séculos V a VIII), a Península Ibérica foi
governada pelos visigodos, um povo germânico.
- A influência romana e visigoda contribuiu para a formação de uma sociedade com
características próprias, onde começaram a emergir algumas liberdades e direitos.

2. Questão da Sucessão do Rei Visigodo:


- A monarquia visigoda enfrentou desafios em relação à sucessão real.
- A sucessão podia ser hereditária, mas também envolvia a escolha e aclamação pelos
nobres e líderes militares.

3. Concílios de Toledo:
- Os concílios de Toledo foram assembleias eclesiásticas realizadas em Toledo durante o
período visigodo.
- Esses concílios discutiam questões religiosas e, em alguns casos, também tinham
implicações legais e políticas.
- Alguns concílios visigodos abordaram a relação entre a Igreja e o Estado, influenciando
as políticas e leis da época.

4. Legislação Visigoda:
- A legislação visigoda, especialmente o Código de Eurico (Lex Visigothorum) e o
Breviário de Alarico, foi uma fonte importante de leis.
- Essas leis refletiam a fusão de tradições romanas e germânicas, buscando regular a
convivência entre os diferentes grupos étnicos e sociais.
- Os visigodos adotaram uma abordagem tolerante em relação às tradições locais e
costumes hispânicos pré-existentes.

5. Liberdades e Direitos Tradicionais:


- As liberdades ibéricas tradicionais na monarquia visigoda incluíam a participação dos
nobres na tomada de decisões, bem como a proteção dos direitos dos cidadãos locais.
- As leis visigodas buscavam conciliar tradições romanas, costumes locais e a influência
do direito germânico.

É importante notar que a liberdade e a estrutura política na monarquia visigoda eram


diferentes de concepções modernas de liberdade e democracia. A sociedade visigoda era
hierárquica, com distinções entre diferentes classes e grupos étnicos. As liberdades
estavam frequentemente ligadas ao status social e às tradições locais, sendo moldadas
pelas complexidades da sociedade da época.

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