Você está na página 1de 21

lOMoARcPSD|36050591

HISTÓRIA DO DIREITO
Introdução
NOÇÕES PRELIMINARES – HISTÓRIA E DIREITO
Noção de História do Direito: Define-se história do direito como a
disciplina que descreve e explica as instituições e a vida jurídica do
passado, nos seus múltiplos aspetos normativos, práticos, científicos
e culturais, quer os precedentes do que ainda hoje é direito vigente
(direito atual historicamente estudado), quer as figuras jurídicas que
se viram superadas ou abolidas. Considera-se que a História é a
mestre da vida pois estuda os factos passados, na medida em que se
estudasse o presente era dogmática, se estudasse o futuro era
filosófica, mas como estuda o passado é chamada de História.
A História do direito como ciência histórica – classifica a história em
narrativa (pura discrição dos factos e personagens passadas),
pragmática (procura extrair do passado, ensinamentos para
orientação dos homens) e genética (compreensão dos factos/ideias e
das instituições do passado na sua sequência ou dependência
orgânica.
A História do direito como ciência jurídica – três aspetos: o técnico
(presente), o filosófico (futuro) e o histórico (passado).

Objeto da História do Direito: Objeto de estudo da História do


Direito são conhecer as fontes de direito, em contexto técnico
jurídico, ou seja, o costume, a lei, a doutrina e a jurisprudência que
ajuda a diferenciar as diferentes famílias de direito. Quanto ao objeto
a História do Direito compreende três áreas fundamentais:
 A história das fontes: A expressão “fontes de direito” assume
diversos significados na terminologia jurídica, podendo ser tomada
em cinco aceções principais:
 Sentido filosófico: Fundamento da validade ou obrigatoriedade do
direito. Prende-se diretamente com a História da Filosofia do
Direito.

 Sentido político: Órgãos criadores do direito. Trata-se da História do


Direito Político e Constitucional.

 Sentido técnico-jurídico ou formal: Modos de formação e de


revelação do direito (cuja perfeição se relaciona com o grau de
cultura e de civilização dos seus destinatários). Averigua se o
direito de um povo, em certo momento histórico, derivou da lei, do
costume, da jurisprudência ou da doutrina.

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

 Sentido material ou instrumental: Textos ou diplomas em que o


direito se contém (e respetiva elaboração e técnica, que permitem
refletir o ambiente jurídico dos ciclos históricos em que surgiram).

 Sentido sociológico: Fatores que representam a causa próxima da


génese e do conteúdo concreto das normas jurídicas.
 A história das instituições: Estuda o direito tal como se
encontra configurado nas normas jurídicas das diferentes épocas e
averigua se, na prática, essas instituições são (ou não) efetivamente
adotadas e vividas. Hoje em dia, as normas contidas nos diplomas
legais coincidem fundamentalmente com os preceitos jurídicos. Entre
os povos antigos verificava-se um esforço dos legisladores para
estabelecer a observância de normas jurídicas inovadoras, enquanto
a população demonstrava uma enorme resiliência, dado o apego
relativamente às instituições tradicionais. Vamos estudar as várias
instituições como a família, a propriedade, o Estado, etc.
 A história do pensamento jurídico: Ocupa-se da atividade
científica, cultural e prática que acompanha o direito durante as
várias épocas. Reporta-se à teleologia, à formação e à atitude mental
do jurista na sua tarefa de intermediação entre o universo das normas
e dos valores jurídicos e a vivência dos mesmos nas situações
concretas. Vamos estudar as várias escolas que estudaram o direito
até aos nossos dias (escola de Bolonha, Itália, Coimbra, etc).
Classificações da história do direito: História externa e
história interna do direito – História Interna: história do direito
ocupa-se dos sistemas jurídicos que vigoraram no passado em todos
os seus aspetos. História Externa: tem como objeto o estudo dos
fatores meta jurídicos de ordem política, social, económica, religiosa,
etc, que exerceram influencia na formação do direito das várias
épocas. História geral e história espacial do direito – História
geral: pertence fornecer uma visão do conjunto do direito de cada
época, uma apreciação global dos sucessivos sistemas jurídicos.
História espacial: dedica-se ao estudo monográfico e pormenorizado
das várias instituições.

A metodologia da História do Direito: São vários os métodos


possíveis de utilizar na exposição da história do direito. Identificamos
o método monográfico, o método cronológico e o método
histórico-jurídico. Método monográfico: Análise da linha evolutiva
das diversas instituições, consideradas de per si, sem preocupação de
avalisar as influências e interdependências, no mesmo ciclo histórico,
de umas em relação às outras (utilizado no estudo da história

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

espacial do direito). Método cronológico: consiste em expor uma visão


de conjunto de diversos temas, das várias realidades, situadas nos
períodos históricos que se vão sucedendo (utilizado no estudo da
história geral do direito). Método histórico-jurídico: determina a
escolha, dentro de uma realidade (exemplo: eleições dos
governantes), de um assunto preciso a estudar, identificando o
instituto jurídico em causa (direito de sufrágio).

Enquadramento do direito português: É reconhecida a existência


de uma grande variedade de direitos, que se traduz em conjuntos de
normas distintas umas das outras. Embora notórias as especificidades
características de uma determinada ordem jurídica, é possível,
analisando os conceitos, as técnicas e os princípios que orientam
cada uma delas, agrupá-las em sistemas/famílias. Salientam-se,
desta forma, quatro grandes sistemas jurídicos que têm sido
apontados como predominantes no mundo contemporâneo:
 Família romano-germânica: da qual fazem parte o direito
português, as ordens jurídicas dos restantes países do Ocidente
europeu continental e as da América Latina. O direito forma-se
especialmente por via legislativa e prevalece uma importante
componente doutrinal.

 Família do direito comum (common law) ou do direito


anglo-americano: prevalecente no Reino Unido e nos EUA.
Apresenta uma feição judicial e jurisprudencial, com a regra do
precedente judiciário a assumir enorme importância visto que,
uma vez criado por um tribunal superior, tem de ser seguido pelos
restantes. Aproxima-se da família romano-germânica quanto aos
princípios e soluções adotados, mas é, em termos técnicos, muito
diferentes desta.

 Família dos direitos religiosos: que integra os direitos


muçulmano, hebraico e hindu e a família dos direitos
tradicionais: que inclui alguns direitos orientais e africanos,
bastante primitivos e baseados na pura tradição dos povos, na
repetição costumeira.

 Família dos direitos socialistas: que abrangeu sobretudo os


anteriores ordenamentos dos países do Leste europeu até aos
anos 80 do século XX.
Para compreender a génese e o processo evolutivo da família
romano-germânica – na qual se enquadra o direito português –,
importa salientar os três elementos em que assenta este sistema:

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

 O elemento romano: ocupa uma posição de relevo por estar nos


alicerces da consciência jurídica europeia contemporânea.
Estudado desde o século XII pelas sucessivas escolas europeias,
marcou a atividade legislativa, a ciência e a prática jurídicas. Em
suma, transmitiu as conceções jurídicas fundamentais;
 O elemento germânico: legou determinadas compreensões a
nível social e político que contribuíram para modelar a formação
dos Estados Europeus na Idade Média. Conferiram aos povos
germânicos um novo sentimento de vida, por via do contacto das
conceções e instituições romanas com outras provenientes do
direito popular germânico;
 O elemento cristão: modelou a consciência jurídica europeia
com a transmissão de valores bastante significativos, através da
influência exercida sobre o direito romano durante a sua última
fase evolutiva.

Primeira parte
História do Direito-Peninsular
PERÍODO DAS ORIGENS – ÉPOCA DOS POVOS PRIMITIVOS

Iniciamos a exposição da história do direito peninsular com uma


referência ao sistema anterior à dominação romana – chamado
período primitivo ou ibérico
Período primitivo ou ibérico: Origens do direito situam-se na
época pré-histórica, significa que delas não se sabe quase nada.
Sistema anterior à dominação romana, pautado pela ausência de
unidade étnica, linguística, cultural, religiosa, política, económica ou
jurídica. Existia uma reconstituição muito fragmentária e insegura das
instituições e uma escassez de fontes. Não existia nesta altura um
direito único, que tenha vigorado uniformemente em todo o território.
Era o direito dos povos iberos, celtas e fenícios que habitavam a
Hispânia.
(Século III a.C., na antiga Península Hispânica): Antes da presença
romana, a Península Ibérica era a casa de uma vasta diversidade de
povos (grupos de base familiar alargada) – este conceito
desenvolveu-se, posteriormente: Família > Clã > Tribo que tinham
como características:
 Não saber da existência de outros povos, no geral (alguns sabiam)
 Religião (cada grupo tinha uma religião, rudimentar e diversa)
 Respeito pela estrutura hierárquica (Supremacia do ancião)
 Segurança do grupo

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

Povos anteriores à conquista romana: São os chamados de povos


autóctones que ocupavam a Península no século III a.C. quer dizer,
antes da dominação romana. Também existia o interesse das
colonizações estrangeiras.
 Principais povos autóctones:
 Tartéssios: Segundo Estrabão, o povo mais culto e adiantado da
Península, o que significava que possuíam um modo de vida mais
aproximado dos padrões culturais greco-latinos. Possivelmente já
conheciam a escrita. Dentro deste povo, destacavam-se os
Turdetanos, antigo povo da Hispânia, que habitavam a
Turdetânia. Com fama de pacíficos porque facilmente foram
dominados pelos Cartagineses e porque se romanizaram
rapidamente.

 Iberos: Na orla oriental, expandindo-se para o interior nas atuais


regiões da Catalunha e Aragão. Pertenciam à raça ibera por
exemplo os Cântabros que se encontravam fixados nas montanhas
do oriente das Astúrias e Santander.

 Celtas: eram povos da antiguidade que se distribuíram pela


europa ocidental no segundos e primeiro milénios a.C. habitando
desde a Turquia até às ilhas Britânicas. Alguns estudos negam a
sua presença na Península apesar das fontes antigas.

As viagens marítimas ligaram os povos autóctones da Península aos


povos estrangeiros.
 Colonizações Estrangeiras – colonizadores mais importantes que
contribuíram para o progresso cultural e económico dos povos
indígenas, foram os: Fenícios, os Gregos e os Cartagineses.
 Fenícios: constituíam um povo de comerciantes e navegadores da
ásia menor que conseguiu, nos séculos IX a VIII a.C. a hegemonia
mercantil do Mediterrâneo. Com as melhores embarcações da
Antiguidade, fundaram várias colónias ao longo da costa ao
estabelecer feitorias para o aumento do comércio. Os Fenícios
criam as primeiras feitorias comerciais de caráter semi-
permanente no litoral da Península Ibérica. Comercializavam
madeira (para construções), azeitonas, vinho e tecidos.

 Gregos: os primeiros contactos remontam ao século VII a.C. com


objetivos comerciais e criação de colónias nas Ilhas Baleares, e no
Mediterrâneo.

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

 Cartagineses: Cartago, antiga colónia fenícia, tornou-se numa


das mais ricas e poderosas da época e disputou com os gregos e
com os romanos o poder comercial mo Mediterrâneo. Desde o
século VI a.C. que se estabeleceram em Ibiza e teriam instalado
um porto e arsenal na zona de Portimão. Em 220 a.C. ocupavam a
atual Andaluzia e o litoral peninsular do Sudoeste até ao tejo,
tendo facilmente dominado os Turdetanos. A sua presença terá
marcado o Ocidente em especial durante a Segunda Guerra
Púnica.

Direito Peninsular Pré-Romano: O direito ibérico era


consuetudinário, a principal fonte de direito era o costume herdado
dos antepassados, variando de tribo para tribo. Quem aplicava o
direito era o patriarca familiar ou o chefe da tribo. Não existia um
direito único que vigorasse uniformemente em todo o território. O
direito era sagrado e revelado pela tradição, os deveres religiosos são
juridicamente exigíveis, a tradição era santificada e de absorvência
obrigatória. Supõe-se que os Turdetanos já teriam algumas leis
escritas ditadas por um rei lendário e semi-divino. Pouco se sabe
sobre o direito que regia os povos da península, mas acredita-te que
tinham algumas penas violentas.

PERÍODO ROMANO

A conquista da Península pelos Romanos: Os Romanos tiveram


uma longa presença na nossa península. Aconteceram em duas
fases distintas: uma fase de conquista, que termina com o domínio
dos territórios cantábricos e ástures (expulsão dos Cartagineses e de
extrair o máximo possível de riqueza das sucessivas regiões) e uma
fase de romanização, quer dizer, de progressivo conhecimento e
assimilação, pelos povos autóctones, da forma de vida/cultura/direito
dos Romanos (Romanos tinham a preocupação de fazer participar os
habitantes da península da sua civilização/instituições políticas e
administrativas e do seu direito).

A Romanização da Península: O Povo estrangeiro chega com


intenções de domínio (processo de romanização: económico, social,
jurídico). Os romanos chegam, e passam a mandar. A aplicação
do direito romano não é sempre igual e esta ligada ao modo de
conquista. O início da conquista romana significou o fim da pré-
história na Península Ibérica porque, pela primeira vez, uma
sociedade possuidora da palavra escrita interferia de forma

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

sistemática na região. A presença romana na península ibérica


começa em 218 a.C. e a pacificação definitiva das tribos celtiberas só
fica concluída nos finais do século I, permanecendo a sua autoridade
ate cerca de 409 a.C. A romanização, que significa a adoção dos
costumes, cultura e leis romanas, só começa nessa altura. O processo
de romanização não é homogéneo. Mais cedo ou mais tarde os povos
acabavam por esquecer os seus próprios idiomas e adotam a língua
latina do invasor (romanos). Em Roma, à semelhança do que ocorria
noutras cidades da antiguidade, e de acordo com o sistema de
personalidade do direito, só o cidadão romano (o civis), gozava
plenamente da proteção da ordem jurídica romana – proteção
jurídica dos civis caracterizava-se pela concessão de alguns direitos
fundamentais. Ao estrangeiro (os peregrinus), seria aplicável,
em princípio o seu direito nacional. Roma atribui aos povos
vizinhos conquistados a cidadania romana, embora não plenamente –
A classe dos latini. Daí resulta a denominação da latinidade (Ius Latii)
à semi-cidadania romana. Nos primeiros tempos na PI, a tendência
era para os povos indígenas viverem segundo as suas normas
jurídicas. À medida que a assimilação progride, Roma vai conceber a
cidadania e a latinidade a certas cidades ou pessoas poderosas. O
Imperador Vespasiano concede a latinidade a todos os povos da PI. O
Imperador António vai conceber a cidadania romana a todos os
habitantes livres do império romano. Com esta medida, o direito
romano era idêntico em todo o Império com as fontes de direito que
existiam em Roma. Na prática, surge o direito romano vulgar
(aplicação local das regras do Direito Romano criado em Roma).

Organização Política e Social: Organização Política – Estado-


tribo: grande família e a relação entre inter-sujeitos é feita através da
consanguinidade. Estado-cidade: ligação histórica e cultural
(expansão mais separada).
Regime Político: Monarquias hereditárias. República aristocrata:
eleições entre elites, universo de eleitores elegíveis escassos.
Organização Social – Classes sociais: Mulheres e homens livres.
Nobreza e clientes (contrato de necessidade para com o patronato)
Como se estabelece a clientela? Firma-se com atos simbólicos
como o beijo na boca (ponto de contacto com o divino –
demonstração religiosa) Servos e escravos (escravos no período
clássico é fruto da circunstância, escravo de guerra, por exemplo –
descendência de escravatura não existe. Qual a diferença de
escravo e servo? Servo tem personalidade jurídica, pode deixar
testamento, pode ter família com autorização) mas n decide por si
sem consciência jurídica enquanto o escravo é propriedade, sem
personalidade jurídica.

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

Pessoas fora do grupo são estrangeiros, mesmo aceites pelo grupo


não possuem a sua proteção em caso de ataque. Este estatuto muda
através da clientela concedida por um membro do grupo, ou seja,
caso este faça alguma atividade em prol de algum membro do grupo
este adquire a sua proteção (quase como a vassalagem). Fontes de
direito: Direito consuetudinário, de cariz ético-religioso; lei escrita em
verso para melhorar memorização.

A formação de Roma: A cidade de Roma, que significa força, em


grego, terá sido fundada, provavelmente, em 753 a. C, segundo os
estudos de Varrão (116-27 a. C.). De acordo com a lenda, a seguir à
queda de Troia (século XII a. C.), o troiano Eneias ter-se-ia fixado junto
ao rio Tibre, onde se casou com uma filha do rei Latino. Da sua
descendência, surgiram, três séculos mais tarde, os irmãos Amúlio e
Numitor. Este foi afastado do trono pelo seu irmão mais novo. E para
que não houvesse descendência, Amúlio fez com que filha do seu
irmão Numitor, Reia Sílvia, se tornasse Vestal. Um dia, segundo a
versão mais corrente da lenda, a jovem vestal terá ido buscar água
para um sacrifício a um bosque sagrado, junto ao rio Tibre, quando foi
seduzida (para outros, apenas assediada) por Marte, deus romano da
guerra, que a engravidou, tendo nascido desta união proibida dois
gémeos, Rómulo e Remo. Amúlio, temeroso que estas crianças
viessem futuramente a destroná-lo, ordenou que as pusessem, fora
dos seus domínios, num cesto (ou expostas, noutra versão) junto ao
Tibre. Assim, as crianças foram abandonadas junto à colina do
Palatino, onde depois nasceria Roma. O rio, em vez de as levar para o
mar, milagrosamente, depositou-as num lugar seco, onde seriam
descobertas por uma loba, que os criou, juntamente com as suas
crias, na sua gruta, no Lupercal. Os gémeos cresceram e voltaram a
Alba; mataram Amúlio, colocaram Numitor no trono e foram criar um
novo reino. Rómulo viu 12 pássaros de bom augúrio num ritual e
coube-lhe dar o nome à nova cidade: Roma. Celebraram os rituais
com um touro e uma novilha brancos puxando um arado.
Envolveram-se em lutas e Rómulo matou o irmão. Em seguida,
precisavam de mulheres para povoar os poucos hectares da nova
cidade e organizou uma festa para que convidou o povo vizinhos, os
Sabinos (ou quirites), com o seu rei Tito Tácio, e roubaram-lhes as
mulheres. Começou uma guerra entre os dois povos. Acabaram por
governar em acordo e da fusão das duas tribos, latinos e sabinos,
ficou o nome de romanos quirites. De uma aldeia a um conjunto de
aldeias, a cidade de Roma vai tornar-se uma enorme metrópole, como
o grande centro do Império romano que chaga a ocupar
geograficamente desde o norte da Inglaterra à Turquia, incluindo o
Norte de África, com uma densidade populacional inimaginável.

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

A IMPORTÂNCIA DO DIREITO ROMANO PARA O DIREITO


PORTUGUÊS: A história do direito romano perdura durante 22
séculos: Ocidente: VIII a.C. a V d.C.; Império Romano do Oriente – XV;
Renascimento do Direito Romano no Ocidente – XII.
A recessão do direito romano efetua-se no extremo ocidental da
Península Ibérica em duas fases: Num primeiro momento, o direito
romano é aplicado na PI pela chegada e conquista das legiões
romanas. Trata-se de uma receção inicial, pela conquista e em
seguida pela concessão da latinidade e depois da cidadania romana.
É o ius commune de então (direito comum). O direito romano não se
aplicou em todas as regiões da mesma forma, ou seja, misturou-se
com os costumes e hábitos locais criando assim o direito romano
vulgar. Devido à queda do império do ocidente, o império
desmembra-se e perde o seu funcionamento. Surgem então diversos
reinos formados a partir da ocupação do território pelos povos
bárbaros (Suevos, Visigodos, Francos, etc). O direito romano pré-
justinianeu nunca desaparece por completo, mas já não tem uma
força de autoridade única. Continuara a unidade do império romano
do oriente até ao século XV e aí se formara o direito justinianeu. Num
segundo momento, o direito romano volta a ser aplicado na europa
com o renascimento do direito romano. Uma segunda receção
que significa a aceitação do direito romano justinianeu. No século XII,
em Bolonha, desenvolvem-se os estudos de direito romano
justinianeu, devido às descobertas de Irnério dos textos de direito
justinianeu que se tinham perdido, com isso a ciência jurídica passa a
estar ligada ao Corpus Iuris Civilis. Através desta receção, estudo e
nova aplicação, o direito romano conhece uma segunda receção e
volta a ser ius commune na europa medieval. Ius commune significa
direito romano, o direito das compilações justinianeias concebido
como direito vigente. É o direito romano-canónico.
Escolas de direito romano: Escola dos Glosadores, utilizando o
método da glosa, com Irnério e Acúrsio. Escola dos Comentadores,
utilizando o método escolástico. Escola Humanista, regresso ao
passado com uma nova metodologia. O humanismo jurídico traz uma
nova orientação para o direito. Usus Modernus Pandectarum, uma
escola de juristas cuja atenção vai mais para o direito pátrio do que
para o direito romano.

Organização Política em Roma: Monarquia 753 a.C., República


Romana 510 a.C., Principiado 27 a.C. e Império 284.
Direitos dos cidadãos Romanos: Cidadãos completos – direito
de contrair o casamento; direito de propriedade; direito de voto;
direito de aceder a cargos públicos. Cidadãos incompletos – cives

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

sine suffragio cidadania sem sufrágio, gozavam dos direitos civis, mas
não dos políticos; libertini, direitos civis limitados.

FONTES DE DIREITO ROMANO: A expressão “fontes de direito” dá-nos


desde logo a ideia de lugares onde nasce ou se forma o direito
objetivo, mas está expressão não é sempre usada com o mesmo
sentido, ou seja, é uma expressão que traduz diversos significados.
Temos as fontes de direito em sentido sociológico, causal ou genético;
fontes de direito em sentido material ou instrumental; fontes de
direito em sentido político ou orgânico e por último, temos as fontes
de direito em sentido técnico-jurídico onde se encontra presente os
modos de formação e revelação do direito objetivo, sabermos como
funciona o direito vigente numa determinada comunidade histórica e
para isso temos de conhecer as principais fontes do direito romano:
Costume: (direito não escrito) ponto de partida civilizacional. Não
desaparece. Quando se quer falar das regras dessa altura, elas são
descritas. O juiz vai ser conhecedor dos costumes, mas torna-se
perigoso, uma vez que o juiz é capaz de pender mais para o lado dos
privilegiados (pois, devido aos seus conhecimentos, podem ser
capazes de se defender/ melhor o que querem dizer face aos não
privilegiados).
Lei: Tendo em conta este descontentamento, a lei acaba por ser
resultada de reivindicações (escravidão de dívidas e proibição de
casamentos mistos) da plebe para tornar a lei conhecida > lei escrita
é uma garantia de segurança. A lei surge como fonte de direito no
século V a.C., sendo um marco histórico: Leis das XII Tábuas.
Encontramos os mesmos institutos jurídicos do Código Civil na Lei das
XII Tábuas, ou seja, o direito atual encontra um paralelo em leis
previstas no direito romano a.C. O que demonstra um grau de
desenvolvimento jurídico notável por parte dos romanos, assim como
um pragmatismo nato relativamente ao funcionamento da vida social.
Lei das XII Tábuas  Primeira lei Romana escrita
Plebiscito: Decisões dos plebiscitos que passaram a obrigar a plebe e,
mais tarde, a ter força de lei. Posteriormente com o aumento da sua
importância acaba a distinção entre plebiscito e lei, a 287 a.C. a partir
da Lei Hortênsia, uma vez que essa lei começa a ser aplicada a todos.
Senatusconsultos: Uma vez que Senado (representa as famílias mais
antigas de Roma) foi o órgão que mais tempo se manteve no poder
devido ao prestígio possuiu funções consultivas, financeiras e
algumas legislativas. Tais funções acompanharam as mudanças de
regime político e adaptaram-se sempre, mantendo-se através dos
tempos. O Senatusconsultos era o nome das consultas, função

10

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

consultiva, dadas pelos magistrados sobre direito, eram uma fonte


verbal de direito descritiva.
Éditos dos Magistrados: Alguns funcionários tem o poder de criar leis
que passam a escrito e se tornam fontes de direito. Com a passagem
a escrito e continuidade de aplicação formam uma nova ordem
jurídica “ius honorarium”.
Constituições imperiais: A concentração de poderes no imperador
leva a que tudo o que ele queira se torne lei. A vontade do
Imperador é lei. Como ele é o único que faz as leis, as restantes
perdem importância. Todas as fontes de direito provêm do Imperador.
Jurisprudência Romana: Fonte de direito mediata porque o Imperador
assim o ordena. Juristas = jurisconsultos (nome que vem da consulta
jurídica) respondem a perguntas sobre o direito emanado pelo
Imperador. Importante macro legislativo que consagrou a
jurisprudência foi a Lei das Citações mandada elaborar por Teodósio
II.

AS GRANDES COMPILAÇÕES DE DIREITO ROMANO: O Código


Gregoriano e o Código Hermogeniano foram as primeiras
compilações de direito Romano. Mais tarde, já em 438, surgiu a
primeira coletânea oficial, o chamado Código Teodosiano, por
Teodósio II, Imperador Romano do Oriente. Tratava-se de uma
compilação monumental no domínio do direito, tornando-se assim o
fundamento do direito civil moderno.
Mais tarde, o imperador Justiniano, do Império Romano do Oriente,
sobe ao poder durante o século VI a.C. O grande objetivo de
Justiniano era atualizar o código existente (modificar, acrescentar e
retirar leis uma vez que tem de evoluir consoante a época). Era a
codificação das leis Romanas, pois naquela época havia apenas um
código que já se encontrava muito desatualizado, era o código
Teodosiano do século V. Havia muitas outras leis que estavam a
vigorar, mas que não estavam incluídas neste código. Surgiu,
portanto, a necessidade de apresentar soluções para as situações que
se apresentavam e que não se encontravam positivadas no código
existente. Face a esta situação, Justiniano criou uma comissão de dez
membros para elaborar uma compilação de todas as leis em vigor em
Roma. Tribonianus era um jurisconsulto de grande valor que pertencia
a essa comissão onde Justiniano o designou para organizar uma
compilação que abrangesse as constituições imperiais, os princípios
fundamentais da ciência do direito e uma parte para os estudantes.
Tribonianus conseguiu concluir os trabalhos do Codex Vetus 529, que
visava atualizar o Código do Imperador Teodósio, em relativamente
pouco tempo. Justiniano começa então a pensar “se isto era um

11

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

trabalho complicado e foi feito muito rapidamente, então vamos criar


mais compilações”. E assim o foi. Posteriormente, surgiu o Digesto.
Era a primeira grande compilação de Justiniano sobre Iura e tratava
de questões como por exemplo a justiça e o direito, etc (opiniões
jurídicas de alguns jurisconsultos com opiniões vinculativas). É o que
atualmente dominamos de jurisprudência. Além dessas duas
compilações, o Imperador mandou fazer, mais ou menos
simultaneamente com o Digesto, um manual de estudo do direito,
que substituísse os velhos manuais, no sentido da restauração da
cultura jurídica da época clássica. Também este trabalho foi dirigido
por Triboniano. A esta compilação foi-lhe atribuída o nome de
Institutas e ficou pronta antes do Digesto (ambos foram publicados
em 533). Durante todo este processo, o Codex Vetus tinha-se
desatualizado em consequência do grande número de constituições
imperiais que Justiniano publicara. Impunha-se então um novo código
que além de incluir as constituições posteriores, também deveria
ocultar as contidas no Codex Vetus que tivessem sido revogadas ou
alteradas. O trabalho foi elaborado em menos de um ano e publicado
em 534 e como fontes principais foram utilizadas o Codex Vetus, as
constituições imperiais de Justiniano, etc. A este foi-lhe atribuído o
nome de Código Justinianeu, que se encontrava dividido em doze
livros. Após a publicação do Código de 534, o Imperador continuava a
legislar, e foram publicadas numerosas constituições que resolviam
questões sobre o direito público e o direito eclesiástico. Estas
restantes constituições foram agrupadas num volume designado por
Novelas e decorreram entre 535 e 565. Mais tarde, a partir do século
XI, as compilações de direito Justinianeu vêm a ser estudadas na
Europa Ocidental, e com exceção do “Codex Vetus”, vêm a formar um
corpo homogéneo de coletâneas jurídicas a que se dá o nome de
“Corpus Iuris Civilis” (corpo do direito civil).
Leis avulsas – fora de uma compilação, lei separada, solta e a junção
delas são novelas.
Leis extravagantes – lei extra, também fora de uma determinada
compilação.
Palavra código nos romanos é apenas um livro  Livros chamam-se
Codex.

PERÍODO GERMÂNICO

A decadência - Os cargos públicos, não funcionam na mesma


maneira, o exército está mais fraco. Invasões Bárbaras - Povos
diferentes, povos não romanos que são forçados a avançar e acabam

12

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

por atacar os territórios do Império Romano. Os romanos não têm as


forças necessárias para os afastar e assim começa a decadência do
império romano do ocidente. O império romano teve um grande
desenvolvimento através destas fontes de direito. O imperador já não
conseguia tomar conta do território todo, então dividiu o império. Os
“não romanos” não tinham a mesma maneira de pensar, isso
provocou a decadência (as coisas já não funcionavam da mesma
maneira) do lado de dentro. Do lado de fora há outros acontecimentos
que provocam ataques de povos ao império do território romano,
povos que estavam lá longe, começam a vir para ocidente, e vamos
assistir áquilo que chamamos as invasões bárbaras (povos não
romanos, alguns deles são forçados a avançar) e atacam o Império.
Há povos que ameaçam as fronteiras do Império Romano e começam,
pouco a pouco, a ocupar os territórios que antes eram territórios
Romanos.
A partir do séc.15, há povos que ameaçam as fronteiras do império
romano e começam pouco a pouco a ocupar territórios que antes
eram dos romanos. Na Península Ibérica, falamos de quatro povos:
Os Alanos; Os Suevos (são os primeiros povos que se instalam na PI, e
formam um reino; Os Vândalos e os Visigodos (avançam em 415 e
passam a dominar toda a PI, formando um Reino Visigodo onde vão
encontrar o Direito Romano aplicado localmente e vão assimila-lo
também, estes povos conquistadores trazem direito novo, o direito
germânico, por isso é que o nosso sistema de direito é direito
romano-germânico. Já usam o direito codificado, já fazem leis
próprias, e já fazem compilações dos seus próprios direitos. A última
compilação chama-se código visigótico e vai permanecer até ao
século 15.
Visigodos conquistaram o reino suevo, ficando os visigodos a
governar  territórios pequenos mais fáceis de conquistar
relativamente ao império romano. O direito romano era
misturado/adaptado com o direito local - Vulgarização. Direito romano
nunca é aplicado nas providências de forma pura, mas sim misturado
com as normas locais e é esse direito que permanece porque as
populações já estão habituadas – O direito romano é assimilado pelos
povos conquistados, este direito era chamado direito romano
vulgar.
 Estes povos conquistadores, trazem direito novo  direito
germânico. Mas eles próprios assimilaram o direito romano que se
aplicava antes. O direito romano vai continuar, mas vai se misturar
com o direito germânico, daí chamar-se direito romano-germânico,
(direito que vai ser aplicado na Península Ibérica).

13

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

Sistema que contou com o contributo fundamental dos povos


germânicos, com destaque para os Suevos e os Visigodos,
nomeadamente através de preceitos consuetudinários de cariz
popular, das Leis dos Bárbaros, do Código Visigótico de 654 (produto
do cruzamento de influências romanas, germânicas e canónicas). (
Fontes de direito e Compilações da Monarquia Visigótica: A
Monarquia Visigoda era uma Monarquia eletiva, ou seja, é uma
monarquia cujo chefe de Estado ou monarca é eleito por votação e
tem cargo vitalício. As ambições pelo trono visigótico geraram lutas
armadas e isso originou que os descendentes de Vitiza (que
pretendiam o trono visigótico) pedissem auxílio às tropas
muçulmanas. Em 711, o exército árabe avançou para a PI derrotando
toda a oposição e ocupando Toledo estabelecendo um território
chamado al-Andalus. Compilações de direito visigodo: Até ao século
V, o direito visigodo era de origem consuetudinária. Mas quando os
Visigodos se fixaram na Gália, perdendo o nomadismo e em contacto
com a civilização Romana, o direito consuetudinário tornou-se
insuficiente. Entre os séculos V e IX surgem então leis escritas:
Código Teodoriciano – leis de influência romana que seriam aplicadas
aos próprios galo-romanos, com preterição das duas leis  tese da
territorialidade; Código de Eurico – 1ª obra importante de codificação,
era uma mistura de direito romano e visigodo com o objetivo de os
harmonizar  tese da personalidade (aplicava-se aos visigodos);
Breviário de Alarico – fora da sequencia visigótica, como uma
compilação subsidiaria para que os litigantes pudessem invocar os
textos compilados em juízo  tese da personalidade (aplicava-se aos
hispano-romanos); Código Revisto de Leovigildo – atualizar o código
de Eurico, a revisão consistiu na correção ou alteração de algumas
leis. Desconhece-se o texto original deste código  tese da
territorialidade; Código Visigótico – última compilação do direito
visigodo, sofre influência do direito romano e vai permanecer até ao
séc. XVI. A igreja é a única que se mantém após a queda do império
romano do ocidente.
Estes povos foram convertidos ao catolicismo  tese da
territorialidade.

PERÍODO DA ALTA IDADE MÉDIA

Fase do domínio muçulmano – invasão muçulmana: Os


visigodos pediram ajuda aos muçulmanos para os auxiliarem na
guerra e, por conseguinte, ficaram na Península Ibérica em 711,
conquistando-a em 7 anos, porque o poder político estava concluído
(monarquia = poder absoluto). Os muçulmanos chegaram à europa

14

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

em 711 através da conquista da Península Ibérica e com eles


trouxeram outro direito, o direito muçulmano. O direito muçulmano
tem características muito próprias, características que põem em
causa a sua aplicação territorial, isto porque, na altura, ainda exista a
lógica utilizada no Império Romano de que o direito se aplica
conforme a qualidade das pessoas. O sistema jurídico só se aplicava a
pessoas com determinadas características, ou seja, a quem era
muçulmano e a quem seguisse a religião muçulmana, o que
dificultava a sua aplicação. Os muçulmanos param a sua conquista
nas Astúrias porque há um grupo que consegue evitar essa conquista
e a passagem para frança também não foi facilitada. Não conseguem
aplicar o direito muçulmano cá porque as pessoas neste território
eram cristãs. Os muçulmanos na época praticavam a tolerância
religiosa, havendo só duas religiões: Cristianismo e o judaísmo porque
ambas tem uma origem comum em relação ao islamismo, e dessa
forma os muçulmanos toleravam essas religiões (poder político dos
muçulmanos). O direito muçulmano só se aplicava a quem seguisse a
religião muçulmana, uma vez que havia tolerância religiosa com
os cristãos. Os cristãos, continuaram a funcionar com a sua religião
e devido a isso não era possível a aplicação do direito muçulmano
(para as populações cristãs vão permanecer as fontes de direito
anteriores: o direito visigótico – através do código visigótico; o direito
romano vulgar através dos costumes e o direito canónico). Os
habitantes da Península Ibérica continuaram a sua vida e a sua fé e
daí a importância da igreja que se vai manter dessa forma (todas as
fontes de direito anteriores) durante 7 seculos. Os muçulmanos
permanecem na Península Ibérica desde 711 até 1492.
Com a Reconquista, o sistema jurídico adquiriu um caráter
consuetudinário e foraleiro (ainda que em certos casos relevassem as
decisões judiciais, que fixavam ou esclareciam o costume e
enunciavam preceitos ínsitos na consciência coletiva). O direito desta
época era bastante rudimentar, fruto das peculiares circunstâncias
vividas, nomeadamente as permanentes necessidades militares e a
ausência de um poder central forte. Considerava-se primacial o
elemento romano, contudo foram igualmente importantes os
elementos cristão e canónico, muçulmano e hebraico (ambos com um
reduzido significado).

A FASE DA RECONQUISTA CRISTÃ


Na PI, desde o século VIII verificava-se um movimento habitualmente
denominado de reconquista cristã, contra o domínio islâmico e a
religião do Islão. Foi um processo lento e irregular, na qual ficou
conhecido como as Cruzadas do Ocidente. A presença muçulmana na
PI, enquanto governantes, iniciou-se em 711 e terminou apenas em

15

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

1492, com a derrota do reino de Granada. EM 722 o Reino Cristão


das Astúrias regista a conquista contra os muçulmanos, numa batalha
liderada por Pelágio e que inicia o primeiro acontecimento da
Reconquista Cristã, tendo como objetivo a recuperação de território
da Península Ibérica aos mouros. A conquista aconteceu ente 711 e
715 e apenas restou um núcleo cristãos. Essa reconquista foi
conhecida como a Cruzada do Ocidente. Com o avanço do território,
formam-se vários reinos cristãos a que chamamos de Reinos
Neogóticos como o Reino de Leão, Reino de Oviedo (primeiro
reino neogótico), Reino de Portugal, etc. Nestes reinos as
monarquias eram hereditárias, diferente da visigótica onde o rei era
eleito. Vivia-se uma pluralidade de ordenamentos jurídicos, para as
populações cristãs vão permanecer as fontes de direito anteriores, o
direito visigótico, o direito romano vulgar através dos costumes e o
direito canónico. O código visigótico de 654, vai continuar a ser
aplicado e daí a sua a importância, ele vai prevalecer pelo menos até
ao século XVI (direito Romano + direito Germânico + direito
canónico). Com a conquista de territórios vem a necessidade de
repovoamento, são políticas de povoamento que asseguram o
domínio territorial, e as terras conquistadas eram atribuídas ao clero e
à nobreza para serem administradas.
Houve o aparecimento de novas fontes de direito, sendo elas, as
cartas de foral (direito local e só obriga as pessoas desse local) são
documentos que resultam do contexto da reconquista, e documentos
claramente jurídicos que continham informações, do tipo, a quem
cabe as terras, qual o direito e deveres dos habitantes, entre outros.
FORAIS: cartas de feira  cartas de povoação  cartas de foral –
direito local (ditam as regras de funcionamento de um local); surge
com a preocupação do povoamento de terras; resulta no regime
jurídico da posse das terras; primeira fonte de direito que surge na
reconquista e perdura até 1832, século XIX
É neste contexto que vai nascer o Reino de Portugal.
O DIREITO CANÓNICO E A SUA IMPORTÂNCIA: O direito canónico teve
um significado muito valioso no quadro histórico do sistema jurídico
português que se prolonga até aos tempos modernos. Entende-se por
direito canónico o conjunto de normas que disciplinam as matérias da
competência da Igreja Católica. Designam-se decretos ou cartas
decretais as epístolas pontifícias, ou seja, as normas jurídico-
canónicas da direta iniciativa dos Papas

Decadência do direito romano, acentuado com a lei da boa


razão e com a reforma da Universidade e os estudos de
direito: Direito Romano pretendeu interpretar a expressão das

16

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

Ordenações Manuelinas declarando que as normas de Direito Romano


só serão aplicáveis quando, caso a caso, se mostrem concordantes
com a boa razão. E ser conforme à boa razão equivalia a
corresponder aos princípios de direito natural ou de direito das
gentes. Porém, em matérias políticas, económicas, mercantis e
marítimas, dever-se-ia recorrer às leis das Nações civilizadas da
Europa (direito estrangeiro), que seriam as nações cristãs (excetuava
a Turquia), e não ao Direito Romano, que, pela sua antiguidade, se
revelava inadequado à disciplina destes domínios, onde enormes
progressos se consideravam, entretanto, alcançados. O critério era
um tanto vago, mas em 1772, os Estatutos da Universidade fixaram
um conjunto de regras destinadas a aferir a boa razão dos textos
romanos no ensino e na atividade dos Tribunais. Aponta-se ao
intérprete o critério prático de averiguar do uso moderno das leis
romanas nas Nações que habitam a Europa.

SURGIR DAS UNIVERSIDADES MEDIEVAIS:


A evolução do Direito Português em Portugal, seguia novos rumos, a
partir dos séculos XII e XIII, por força do conhecimento do Direito
Romano clássico e da reflexão sobre ele. Desta receção do Direito
Romano clássico muito se beneficiou quanto ao rigor e
aperfeiçoamento das construções jurídicas, mas essa receção
também diminui antigas liberdades. Os imperadores, na base do
Império Romano, viram no Direito Imperial um apoio válido da sua
política e dos seus confrontos com a Igreja. Foi com a escola de
Bolonha que a obra jurídica do imperador Justiniano passou a ser
estudada em termos sistemáticos e divulgada com amplitude, o que
terá ficado a dever-se, sobretudo às descobertas de Irnério, que muito
contribuiu para que uma pequena escola se tivesse transformado na
prestigiosa universidade de Bolonha. A universidade como
instituição que elabora e mantém vivos os conhecimentos de
ordem teórica é uma criação europeia, surgida na Idade Média
e designada stadium generale. As universidades dos séculos XII e
XIII apresentam uma importante caraterística comum, gozam de
completa autonomia institucional que se traduz numa independência
absoluta, para efeitos jurídicos e administrativos. A universidade é
dotada de personalidade própria, governa-se a si própria, organiza o
seu ensino. Os reis e os papas interferem na vida da
universidade para lhe dar existência e depois para a cumular de
privilégio ou regalias. Embora seja verdade que ela está colocada ao
serviço da comunidade cristã, da Igreja de Roma como aceitação de
um ideal ou norma de vida. O direito subsidiário está previsto nas
três Ordenações portuguesas (Afonsinas de 1446, Manuelinas de
1521 e Filipinas de 1603). Por direito subsidiário, deve entender-se
aquele que é utilizado nos casos que o direito comum não contempla,
17

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

ou seja, naquilo que podemos designar lacuna do ordenamento


jurídico. O caráter incompleto do ordenamento jurídico obrigava
constantemente a recorrer às fontes subsidiárias. O direito
subsidiário assume então um papel de excecional relevo como
elemento de aproximação cultural entre povos, fazendo com que os
respetivos ordenamentos jurídicos mantenham entre si uma harmonia
muito mais acentuada. As grandes fontes de direito subsidiário
caraterizam-se por ser o direito romano renascido, por exemplo a
Glosa de Acúrsio e o Comentário de Bártolo, são ambas obras
resultantes do seu estudo.

AS UNIVERSIDADES PORTUGUESAS:
O que é a Universidade? Espaço onde se transmite e adquire
conhecimento, fruto da investigação/produção científica e diversidade
ideológica. Universidade de Bolonha foi a primeira da Europa.
Universidade de Lisboa foi a primeira de Portugal  Surgem segundo
bula do Papa / Surgem pela necessidade de formatar o conhecimento.
Mestre é aquele que tem conhecimento, capacidade de o adquirir e
ensinar.
1288 – Petição ao Papa, assinada pelo Clero, onde se solicita a
autorização para estabelecimento de um Estudo Geral e Lisboa e para
as despesas serem suportadas pelo Clero. Pedido fundamentado em
duas razões: estimular a ciência e a religião, criar um centro de
cultura como estímulo. A bula papa veio 2 anos mais tarde.
março de 1290 – Concedida uma Carta de Privilégios por D. Dinis à
Universidade que a torna, essencialmente, uma fundação régia (e que
pressupõe uma formação entre 88 e 90, antes da bula papal)
agosto de 1290 – Bula papal a autorizar confirma o ensino de:
cânones; leis; medicina e artes.
Autonomia das Universidades:
Estatutos: Característica comum a todas as universidades do século
XII e XIII – autonomia institucional – personalidade própria,
autogoverna-se, organiza o seu ensino. Rei e o Papa interferem na
Universidade para a criar e para cumular privilégios e regalias. A
partir do século XIII vai perdendo independência, subordinando-se ao
poder real.
Estatutos Manuelinos: início do século XVI, interferência régia na
Universidade acentua-se. Finais do século XV, D. Manuel concede
Estatutos à Universidade (nomeia e contrata professores). D. João III
faz algumas alterações aos Estatutos Manuelinos, 1537. É pedida uma
reforma, em 1544.

18

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

Estatutos Filipinos: Reforma surge nos chamados Estatutos Velhos,


1597/98. Duas faculdades – cânones e leis. Ensino em latim, cursos
de seis anos, método de leitura e comentário sumário pelos
professores. Criada a Universidade de Évora, 1559. D. João IV
reconfirma os Estatutos Filipinos em 1653. Expulsão dos jesuítas do
reino, 1759. Consequência – encerramento das suas escolas e
colégios, assim como da Universidade de Évora (não havia
professores pois estes eram maioritariamente jesuítas).
Estatutos Pombalinos: ou Estatutos Novos, 1772. Duas faculdades
novas – matemática e filosofia natural. Faculdade de Leis – oito
disciplinas – uma subsidiária (História Civil dos Povos e do Direito
Romano e Português), duas elementares, 3 sintéticas (duas de Direito
Romano e uma de Direito Pátrio – história jurista de Portugal, um
jurista tinha de ter conhecimento da história), 2 analíticas (Direito
Romano e Pátrio). Faculdade de Cânones – sete disciplinas.

UNIVERSIDADES PORTUGUESAS NA ATUALIDADE


Assim, até 1910, em Portugal existiu apenas a universidade de
Coimbra. Em 1911 foram fundadas pelo Estado as universidades do
Porto e de Lisboa e apenas em 1973 em restantes localidades como
Minho, Aveiro ou Évora.
Hoje, a Universidade é um conceito evolutivo que deve ser
fundamentalmente a partir da investigação, envolve a educação de
pessoas. Ora, a educação, quer aos seis anos de idade quer no ensino
universitário, deve preparar-nos para o estar vivo, em todas as
vertentes desse entendimento. Surgiu em Portugal a remodelação do
ensino superior resultante do chamado Processo de Bolonha. As
universidades são os verdadeiros atores principais.

O CONDADO PORTUCALENSE
A Reconquista Cristã decorre na Península Ibérica e o Reino de
Leão foi auxiliar nessa Reconquista. D. Henrique casa com D.
Teresa ficando com as terras do Condado Portucalense, em 1096,
por ocasião do seu casamento. Desse casamento nasce Afonso
Henriques, querendo transformar o Condado Portucalense num reino
independente. O D. Afonso Henrique só começou a exercer o seu
poder quando foi aceite como rei pelo Papa, tornando-se, deste modo,
um reino independente em 1139. Em 1179, foi lhe concebido o
domínio de todas as terras conquistadas aos sarracenos e confirmou
a proteção da Santa Sé para defesa da integridade do reino pela bula
Manifestis probatum, com isto também se passou se a integrara como
um reino independente, na comunidade cristã. A única autoridade

19

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

que se manteve foi da igreja, como o Papa. A continuação da ideia de


formação de novos reinos de Península Ibérica, seja por conquista aos
mouros, seja por divisão de reino existentes.

O MOVIMENTO CODIFICADOR PORTUGUÊS (vários códigos):


O objetivo do movimento codificador era reunir todas as leis, mas
de uma forma sistematizada, ou seja, começamos a arrumar as
regras de acordo com o assunto. Existem três palavras que explicam
como são estas compilações: sistemáticas, sintéticas e científicas,
quer dizer que, a reunião num livro das leis no século XIX acontecem
de acordo com o assunto em causa e por uma determinada ordem, há
uma lógica. A diferença é que as leis anteriores não eram bem
explicitas, havia dificuldades em entender o que a lei queria
transmitir, agora queriam que as leis fossem claras e curtas, daí
serem sintéticas. Estas eram também científicas devido à evolução
das ideias, das novas ideias do século XIX.
Não oferece dúvida, até pela cronologia, que, entre nós, foram as
ideias da Revolução Francesa que impulsionaram, logo depois da
implantação do Liberalismo, a atividade codificadora. O primeiro
código em Portugal surge apenas em 1833, o chamado Código
Comercial, isto por si só já nos explica o que aconteceu com o
liberalismo, a existência de constituições escritas era uma
necessidade política, o objetivo era que o Estado deixa-se de ter um
poder político centralizado absoluto e passe-se a ter um
funcionamento político através da limitação de poderes. Este foi
também o primeiro código porque no liberalismo, os interesses
dominantes eram sem dúvida os interesses comerciais. A burguesia
era detentora do poder económico, e a primeira preocupação foi a
organização do funcionamento do comércio.

NOVAS IDEIAS SOBRE O ESTADO E A SOCIEDADE: Reconhecimento de


direitos individuais naturais do homem e do cidadão; Garantias de
liberdade e igualdade essencial de todos os homens; Soberania
popular; Governo representativo – sufrágio universal; Princípio da
separação de poderes – legislativo, executivo e judicial; Sistema
constitucional e sistema parlamentar (conceitos como base
fundamental do Estado e necessários do governo representativo) –
monarquia constitucional e monarquia parlamentar. Constituição
escrita como lei fundamental do reino e como limitação do exercício
dos poderes do Rei.

O MOVIMENTO CODIFICADOR NO DIREITO CIVIL:

20

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)


lOMoARcPSD|36050591

O primeiro Código Civil Português teve como base um projeto da


autoria de António Luís de Seabra (uma figura típica do
liberalismo) e foi aprovado em 1 de julho de 1867. Ideologicamente,
o Código de Seabra assenta no jus naturalismo racionalista (ideia de
que a lei é a principal fonte do direito, exemplo: usucapião) e no
individualismo liberal (tudo gira à volta do homem, exemplo: o facto
de não haver lugar para o abuso do poder). Apesar do Código Civil
Português ter acabado com a insegurança jurídica, ele também
possuía defeitos de nascença por ter sido feito por um homem só,
António Luís Seabra quis fazer o código sozinho. Outro demérito foi a
propriedade horizontal e o abuso do direito não estarem previstos no
código. Este cessa toda a vigência que ainda restava das ordenações
filipinas.

PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA NO SÉCULO XIX:


1822 – 1ª CONSTITUIÇÃO LIBERAL PORTUGUESA
Primeira constituição liberal, Demo liberal em 1822. É muito
importante para o direito português, foi a primeira lei fundamental e
foi elaborada por cortes constituintes (assembleia). O iluminismo foi
um movimento filosófico e intelectual que aconteceu entre os séculos
XVII e XVIII na Europa. Os pensadores iluministas defendiam as
liberdades individuais e o uso da razão (única fonte de direito, o
racionalismo). A lei da boa razão surge no reinado de D. José,
resultado da abundante atividade legislativa do seu ministro, o
Marquês de Pombal, e tinha como princípio a tradução das
ideias do racionalismo aplicado ao direito. As convulsões sociais
são muitas, acontece uma mudança enorme do absolutismo para o
constitucionalismo demo-liberal onde muitas pessoas não estão de
acordo e continuam a defender as ideias do absolutismo (isto
significa guerra no Reino). O Rei D. João VI aceitou a constituição e
jurou-a, perdendo muitos dos seus poderes régios, mas a mulher, a
Rainha Carlota Joaquina, não aceitou e o filho herdeiro também
não aceitou. Em termos políticos isto começa a provocar muitos
problemas, o que origina a Revolução Civil (vigência constitucional).
Entretanto em 1826 morre o Rei D. João VI e aqui surge um grande
problema, pois o filho herdeiro, D. Pedro, não se encontra cá, está no
Brasil e declarou independência de uma Colonia contra o Reino de
Portugal. Outro problema é que o segundo filho, D. Miguel, tinha sido
expulso do reino devido à revolução que provocou. D. Pedro é
candidato ao Reino de Portugal, mas abdica do torno em favor da sua
filha, D. Maria II. Mas D. Miguel é aclamado Rei de Portugal. É a
resposta à Lei Fundamental e declarado a D. Pedro como usurpador
(aquele que se apodera de algo que não lhe pertence). Então D. Pedro
abdica o título de Imperador do Brasil e regressa a Portugal para

21

Descarregado por Inês Ornelas (inesornelas98@gmail.com)

Você também pode gostar