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INTRODUÇÃO

1. Conceitos de Historia e de Direito


Defendem alguns autores que a História estuda o passado e as realizações
socialmente relevantes, encara os acontecimentos pelo visível. Para se poder iniciar o
estudo da História do Direito é necessário, antes de mais nada, saber o que é o Direito.
Quanto a sua definição o Direito entende-se sob duas vertentes, a objectiva e a
subjectiva.

Sob ponto de vista Objectivo, o Direito é o conjunto de normas que regulam a


convivência entre os homens numa comunidade. Essas normas ou regras constituem
um ordenamento jurídico e deste facto não varia de pessoa por pessoa. Aqui entende-
se o Direito como ciência jurídica escrevendo-se sempre em maiúscula.

Por exemplo: A constituição da República, lei do trabalho etc

Enquanto no sentido Subjectivo, o direito entende-se como a faculdade que a ordem


jurídica atribui a uma pessoa de exigir, fazer ou não fazer.

Por exemplo: Quando se exige uma divida, o direito ao salário, etc.

O vocábulo Direito pode ser entendido sob varias vertentes e existe muitas posições
defendidas por vários autores, no entanto as diferentes acepções do termo serão
aprofundadas ao longo da cadeira de Introdução ao estudo de Direito.

Dadas as considerações básicas acima, podemos definir a Historia de Direito como


sendo a disciplina Jurídica que se dedica ao estudo ou análise das várias
transformações que a Ciência do Direito conheceu. Ela visa fazer compreender como o
Direito se formou e se desenvolveu pelas diferentes épocas históricas e civilizações.

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1.1. Finalidades

►  Oferecer um elemento geral de cultura;

► Esclarecer o passado: levantar as fontes (cartas, actos processuais, textos de leis,


contratos, escritos antigos etc.), restituir sua forma original, descobrir sua proveniência,
interpretá-las e reconstituir o direito vigente no período estudado.  

  ►    Conhecer a origem e o desenvolvimento de um direito para poder conhecê-lo na


sua forma posterior;

 ► Servir como instrumento de interpretação do direito vigente;

   ► Conhecer as normas antigas, não para imitá-las, mas como estudo que auxilia a
redacção e o estabelecimento de novas normas.

 ►     Identificar os elementos de direito anterior que sobrevivem às transformações


sociais, fundamentando, modificando ou contaminando os novos direitos.

  ►    Conhecer as instituições jurídicas no seu contexto político, económico e social,


assim como as ideias jurídicas presentes no sentimento jurídico dos diversos grupos
sociais (de populares, dominantes, políticos, discriminados, sábios, comerciantes e
outros).

  ►  Refinar o conhecimento do jurista actual enquanto artista, dando-lhe a conhecer os


meios técnicos pelos quais os juristas anteriores, por sua própria actividade, auxiliaram
na definição de rumos sociais relevantes. Estas actividades dos juristas do passado,
quando reveladas pelo estudo de seus estilos, de seus métodos, de suas
sistematizações e interpretações, de suas funções sociais assumidas, aumentam a
experiência do jurista moderno e, frequentemente, são resgatadas para a adopção de
posturas inovadoras. Resgatar parte do passado, apesar da aparente contradição, é
aumentar as oportunidades de o jurista reflectir sobre o presente, para transformá-lo.

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►  Impedir os efeitos negativos do conservadorismo. As disciplinas e a prática do


direito são movidas em grande parte pela tradição. Uma sentença ou uma causa pode
ser habilmente preparada com o uso das ferramentas tradicionais, com a citação dos
autores renomados. Um texto jurídico, quando “bem acompanhado” pela citação de
autores reconhecidos, goza da presunção de que está certo. Pretender repensar o
direito a cada pequena actividade jurídica é, sob certo aspecto, uma aventura, pois põe
em risco a própria causa, ou a própria opinião – a qual, se nova, não foi
suficientemente aprovada pela comunidade científica, nem se mostrou coadunada com
todos os ramos do saber conexos (por exemplo, uma nova interpretação de uma regra
civil pode, por falta de estudo mais aprofundado, ferir um princípio constitucional ou da
teoria geral do direito). As tradições se mantêm ora por comodismo, ora por crença, ora
por paixões, conforme os juristas sejam mais práticos, idealistas ou eruditos. As
conclusões de um jurista não podem ser apressadas. Devem ser contrastadas com a
tradição jurídica para não repetir os erros anteriores, ou para não “descobrir”, com
desperdício de tempo e de esforços intelectuais, o que há muito já estava descoberto.
O conservadorismo é uma força motriz do direito. Quando necessário, a melhor forma
de superá-lo é conhecê-lo. Compreender a tradição é parte da história do direito, como
também o é criticá-la e acompanhá-la no contexto das sociedades. A história do direito,
enfim, combate o comodismo, fundamenta ou destrói as crenças e impede que a
erudição dificulte o diálogo académico e a renovação do conhecimento jurídico.

Os historiadores do direito, a quem não compete fazer teoria geral da história, nem
teoria geral do direito, têm a missão de mergulhar nos factos passados, com os
experimentados olhos do presente, para suscitar tudo aquilo que julgar relevante para
agir no seu presente. Como visto, o conservadorismo é próprio das disciplinas do
direito, seja em razão do apelo da prática jurídica, seja pela necessidade de
compreensão de uma extensa sequência de conceitos técnicos que a comunidade
científica acolheu.

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Assim, apresentamos uma breve introdução da cadeira de História de Direito que, à


maneira moçambicana, é desenvolvida para o enriquecimento de conhecimentos
académicos pelos estudiosos de direito nomeadamente, estudantes, magistrados,
assessores jurídicos, conservadores, diplomatas, entre outros.

1.2. Visão geral da disciplina:

A História do Direito moçambicano, uma cadeira eminentemente jurídica, tem como


objectivos: conhecer a evolução histórica do Direito moçambicano; analisar
criticamente os processos sociais e políticos que determinam a configuração de um
certo paradigma do Direito; revelar a origem e as transformações do Direito
moçambicano; complementar a formação do profissional de Direito, permitindo-lhe
analisar o presente jurídico com o conhecimento do passado e, assim, melhor
perspectivar o futuro.

2. Carga horária

A carga horária total da disciplina é de 48 horas, sendo: 30 de contacto e 18 de estudo


individual.

Tabela 1

Unidade Tema/conteúdo Carga horária


Contacto Estudo
1 O Direito antes da colonização Portuguesa ------- 05 01
2.O Direito durante o encontro colonial ------- 05 01
3.A independência nacional e o Direito ------- 08 04
4.A Hegemonia do neoliberalismo e a ------- 09 05
ascensão do paradigma neoliberal do Direito
na II República.

2.1. Métodos de ensino-aprendizagem


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Os conteúdos da disciplina de História do Direito Moçambicano são leccionados em


aulas teóricas e teórico-práticas recorrendo-se aos métodos expositivo, participativo e
palestras. São promovidas e estimuladas as apresentações de temas nas aulas
teórico-práticas e a participação em painéis de discussão ou mesas redondas.

2.2. Avaliação

A avaliação será formativa, contínua e sistemática abrangendo todas as actividades


desenvolvidas pelos estudantes, incluindo testes escritos e trabalhos de pesquisa.
Também serão levados em consideração a frequência, a participação nas aulas e o
envolvimento nas actividades a serem desenvolvidas no âmbito da disciplina. Salientar
que quatro horas estão reservadas a dois testes escritos programados para o
semestre.

3. UNIDADES TEMÁTICAS

3.1. O Direito antes da colonização portuguesa

3.1.1. A natureza social e cultural do direito

O poder político e o Direito

Poder político é a possibilidade coercitiva que o Estado possui para obrigar a fazer ou
não fazer algo, tendo como objectivo o bem público.

O poder político nas democracias é essencialmente a vontade da maioria através do


governante.

Alguma doutrina entende que não existe poder político nas ditaduras, visto que a força
em si é apenas uma das condições e não a causa essencial, portanto num Governo
totalitário o acto de coação é aplicado sem visar o bem público.

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Antes de impor a ordem, o poder político tem como razão principal, formular essa
ordem.

Ai aparece a necessidade de criação do Direito para regular determinados


comportamentos. Princípios de numerus clausus

o Dentro do âmbito da ciência, o poder político tem causas sociais e


psicológicas, que não necessariamente estão isoladas uma da outra,
mas que podem interagir entre si.

Causas sociais e psicológicas do poder

 O fato do homem viver em sociedade e exposto a sentimentos como amor e


ódio, geram a necessidade da ordem por meio de uma autoridade coercitiva, de
outro modo haveria sempre a justiça individual.

 Mesmo actividades lícitas podem gerar ocasiões ilícitas. No momento em que


um sujeito sai com o seu carro e passa do limite de velocidade, ele estaria
criando uma ocasião ilícita, ao colocar a si e a outros em perigo.

Condições do poder

 Força: Veículo de coação;


 Consentimento da maioria do grupo social, por plena convicção persuasão
(instigação ou indução);

A linguagem do poder

 O poder é expresso por meio de palavras, estas são necessárias para a


compreensão e obediência das normas de actividade social editadas pelo poder.

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 Quando o poder visa realmente o bem público, a sua linguagem é elegante


(aprimorada, não arrogante), clara e sóbria ou moderada.

 A linguagem do poder deve ser objectiva e persuasiva ou convincente.

Existe uma relação muito estreita e complexa entre o poder político e o direito. É que
por um lado, a organização do grupo humano que subjaz a uma determinada
comunidade é o resultado do exercício do poder político

Por outro lado, nos grupos humanos que se pretendem organizados, existe a
necessidade de normas ou regras que possam ser utilizadas como padrões de conduta
pelos indivíduos que os compõe e estes vão ser produzidos através dos mecanismos
do Direito que são detidos e exercidos pólo poder político.

Por um lado, o poder político é um poder juridicamente enquadrado a sua titularidade, é


juridicamente definido, o seu objecto é juridicamente delimitado e o seu exercício é
juridicamente regulado.

Por outro lado, o poder político é criador de regras de conduta social dotadas de
coercibilidade. É criador de regras de direito ou regras jurídicas.

As regras jurídicas existentes numa determinada comunidade permitem saber ou, pelo
menos, ter a fundada expectativa de saber:

- Quais é que são os comportamentos autorizados ou que não são proibidos.

- Quais é que são os comportamentos que podem vir a ser presumivelmente adoptados
por terceiros nas relações com os outros?

Nos grupos humanos organizados contemporâneos, essas regras são criadas por
órgãos especializados do poder político. Daqui resulta uma enorme importância da Lei
como fonte de Direito e uma contrapartida e crescente desvalorização do costume. O
mesmo não se passa, no entanto, na comunidade.
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 Sociedade e Estado

O que é sociedade?

O termo sociedade possui vários sentidos

Sentido Histórico;

Sentido Técnico;

Sentido sociológico.

Sociedade Histórica – refere-se a fase da História da Humanidade

Ex. Sociedade Primitiva; esclavagista; feudal, capitalista, etc

Sentido técnico ou jurídico – conjugação de esforços de duas ou mais pessoas para


explorarem um determinado ramo de negocio.

Ex. Sociedade comercial.

Sentido sociológico – sistema de interacções que se estabelecem entre homens que


ocupam um determinado espaço geográfico numa certa época histórica.

Ex. Sociedade moçambicana, japonesa, académica, etc.

A sociedade vem em primeiro lugar e depois aparece o Estado.

Sociedade definida como sistema de relações que se estabelecem entre os membros


de um agregado humano numa certa época histórica.

Estado – laço jurídico político (povo, território, poder político).

O poder político pode ser:

Estadual – Exercido pelos Estados;

Entra estadual – Autarquias locais;

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Supra estadual – Organizações Internacionais.

 Cultura

Conceito – refere-se a um circuito socialmente organizado de produção, circulação e


consumo de bens simbólicos em particular obras artísticas e bens materiais e
imateriais1 do património cultural. É tudo o que o ser humano elabora e produz
simbólica e materialmente falado.

Existe uma relação de complementaridade entre os indivíduos e a sociedade. O social


é já instituído mas o sujeito é também instituinte do social.

Contudo, o colectivo sempre ultrapassa os sujeitos que são substituíveis e substituídos.


O direito surge para regular comportamentos.

3.1.1.2. Conceito sociológico 2 de direito3

O direito é um facto social que se manifesta como uma das realidades observáveis na
sociedade, é um fenómeno social. Assim como a língua, a religião, a cultura, etc. que
surgem nas inter relações sociais destinando se a satisfazer as necessidades sociais.

 Características das normas de conduta:

Em virtude estas normas serem abrangentes ou vincularem a todos, são por isso
chamadas normas universais ou genéricas. São também abstractas porque não se
referem a casos concretos mas sim a casos hipoteticamente considerados.

- Obrigatoriedade - a sua violação implica sanção.

 Origem das normas de conduta

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Que não é formado de matéria, incorpóreo, impalpável, etc.
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Conjunto de normas impostas por grupos sociais.
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Conjunto de normas impostas pelo Estado.
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Esta é uma questão discutida, havendo aqueles que entendem serem as normas de
origem divina, outros entendem que são fruto da razão, da consciência colectiva do
Estado. Para a sociologia jurídica, as normas de direito emanam do grupo social

Conceito sociológico de Direito:

Conjunto de normas de conduta universais, abstractas, obrigatórias, impostas pelo


grupo social, destinadas a disciplinar as relações externas dos indivíduos;

Conceito de Direito

Preferimos remeter os estudantes à leitura das seguintes obras, das quais puderam
extrair ideias de vários autores sobre o conceito de Direito:

Reale, Miguel e a Teoria Tridimensional do Direito, Lições preliminares de direito, 26ª


Edição, revista, São Paulo, Saraiva, 2002.

Kelsen, Hans e a teoria Pura do Direito, Introdução à problemática científica do direito,


2ª revisão da tradução, São Paulo Editora revista dos Tribunais, 2002.

Kelsen, Hans, Teoria Geral do Direito e do Estado, 3ª Edição, São Paulo, 1998.

3.1.1.3. Ordem social, controlo social e coesão social

 A ordem social apresenta duas partes:

Componente fáctica ou ôntica – é o ser, é o que fazemos no nosso dia a dia.

A componente ôntica é constituída por todas as actividades que o membro da


sociedade realiza (estudar, andar, divertir, etc);

Componente normativa ou de ôntica – constituída pelas normas que moldam o


nosso comportamento (usos, normas do Direito natural, trato social, normas religiosas,
normas jurídicas, etc.)

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A constituição, as leis, regulamentos, normas de conduta são feitos para que exista
ordem social, isto é, é para que o Estado esteja em ordem e que haja o triunfo dos
interesses do Estado sobre os interesses individuais.

Significa a existência de consenso na sociedade, somente através do mínimo de


consenso o entre os indivíduos é que a sociedade é possível.

 Controlo social

Consiste nos meios e processos pelos quais um grupo ou uma sociedade obtêm
conformidade dos seus meios às suas expectativas. Desta forma, as pessoas são
levadas a cumprir os seus papéis de modo separado.

Os mecanismos de controlo social são necessários para assegurar que os


comportamentos individuais se mantenham dentro dos limites estabelecidos ou
tolerados pela ordem social.

Qualquer sociedade e organização estão organizadas segundo um sistema de normas,


instruções e valores perante os quais actuam em conformidade.

Resumo:

 Ordem social

- É feito através de Leis para regular comportamentos;

 Controlo social

Autocontrolo dos indivíduos – significando interiorização das normas;

Controlo externo – pressão social.

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 Coesão social
 - A ordem social, controlo social criam a coesão social.

3.1.1.4. A organização social e cultural da sociedade tradicional

Este sub tema está dividido em duas partes:

A primeira parte é reservada ao estudo em grupo, fundamentalmente, analizar-se-


ão as etapas da organização dos povos antes da ocupação colonial mormente a
divisão do actual Estado moçambicano em pequenos Estados tais como o Estado
de Mwenemutapa, Gaza, Marave, Afro islâmicos da costa, Estados Militares do Vale
do Zambeze, entre outros. Pretendemos com esta análise descobrir se havia ou não
o exercício do poder político nestes Estados e como era exercido. Igualmente tirar
algumas ilações sobre a existência do pluralismo jurídico no território que hoje se
chama Moçambique.

A segunda parte singir-se-á ao estudo da sociedade tradicional onde urge ates de


mais responder as seguintes questões:

 O que era afinal a autoridade tradicional;

 Qual era o seu grau de inserção nas comunidades;

 Quais eram as suas bases de sustentação;

 Qual era a percepção das comunidades em relação ao seu papel real junto às
Comunidades e;

 Até onde poderíamos falar em legitimação ou imposição da Autoridade


tradicional.

Para desenvolver estas cinco perguntas e, quiçá, encontrar as possíveis respostas,


temos que destacar antes de mais o papel do Chefe tradicional.

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A autoridade tradicional sempre esteve presente do ponto de vista de existência e de


função no seio das suas diferentes comunidades – obedecia sempre uma hierarquia
económica (pagamento do tributo) e hierarquia simbólica (a prestação de reverencia a
um chefe maior e estabelecimento de alianças entre chefes através do casamentos).

Havia igualmente noutras regiões uma hierarquia baseada no chamado dono da terra –
normalmente referia-se a quem chegasse em primeiro lugar desde que também fosse
militarmente o mais forte.

Diferentes tipos de chefias

 Chefe da terra

Este simbolizava a ligação entre os seres vivos e os mortos e para com os seres ainda
por nascer.

Outro tipo de chefia referia-se a grandes e pequenos chefes que respectivamente


exerciam o poder nas suas linhagens. A linhagem implicava naturalmente a existência
de uma entidade territorial, ela estava territorialmente localizado e todos os seus
membros tinham um ancestral (antepassado) comum. Enquanto o Clã, traduzindo por
exemplo uma entidade sócio cultural comum (mitos, tabus, etc), não estava
territorialmente localizado.

 A questão da legitimidade do poder tradicional

É preciso destacar que onde o poder tradicional estava enraizado e legitimado pelas
comunidades não existiam conflitos e onde não estava legitimado havia sempre
conflitos e lutas – onde está legitimado existe ordem social; há um exercício do poder.

O conselho jurídico

Constitui um grupo permanente nas comunidades mas está sempre em funcionamento


mesmo quando parece não haver necessidade. Tinha como função, garantir a ordem
social e a sua reposição caso ela seja violada.

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O conselho jurídico pela sua importância e papel que desempenhava era sempre aceite
pelas comunidades como parte da cultura estando nele representados homens e
mulheres.

Em respeito aos dois tipos de linhagens: matrilinear e patrilinear, este dado era tão
importante porque marcava diferença nas pessoas que faziam parte do conselho
jurídico.

Na linhagem matrilinear:

O conselho jurídico era composto por um grupo de pessoas, membros da comunidade,


cuja descendência é definida pela filiação materna dado que o seu antepassado
comum era uma mulher.

Na patrilinear, o conselho jurídico era composto por um grupo de pessoas, membros da


comunidade, cuja descendência era definida pela filiação paterna. Acontecia assim
porque o antepassado comum a todos na patrilinhagem era um homem.

Tanto na linhagem matrilinear e patrilinear, bem como na diversidade de Estados que


compunham o território que hoje chama-se Moçambique, havia uma estrutura comum
de resolução de conflitos que para além do conselho jurídico tinha a seguinte
composição:

 O chefe tradicional

Representava a autoridade tradicional, era o detentor do poder

 O conselho de anciãos

Os mais velhos que faziam parte dos conselheiros do chefe tradicional.

 Os médiuns ou os curandeiros

Aqueles que recebiam os espíritos e entendiam da cura do corpo e do espírito;

 O conselho familiar
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Com as pessoas mais velhas e importantes da família.

A função de cada um variava da gravidade do conflito não sendo imperioso que todos
os litígios fossem dirimidos pelo chefe tradicional.

A não legitimação da autoridade tradicional propiciava o surgimento de conflitos

A questão da legitimação da autoridade tradicional era crucial dentro das comunidades,


esta não-aceitação podia resultar da falta de capacidade destas pessoas de resolver os
problemas da comunidade.

Estas pessoas não eram reconhecidas por todos os membros da comunidade para
ocupar estas funções.

A questão dos tabus

Os tabus por regras eram normas sagradas e invioláveis, qualquer violação tinha como
consequência uma crise social que afectava mais de uma pessoa e manifestava-se
através de conflitos dentro da família. Estes conflitos eram resolvidos mediante uma
cerimónia conhecida por todos e que a comunidade aceita e realiza como parte da sua
cultura. Esta cerimónia varia de uma comunidade para outra em função das diferenças
culturais.

Na zona sul por exemplo, dentre outras proibições, não era permitido dois irmão
realizarem relações sexuais com a mesma mulher porque entedia-se que quando
morresse um deles o outro não podia participar no funeral sob pena de também morrer
no mesmo instante;

Na zona norte, uma mulher menstruada não podia salgar comida porque entendia-se
que ela e as pessoas que iriam comer teriam anemia.

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Pese embora fossem regras rígidas, havia que se atrevesse a violá-las. Assim, a
violação de um tabu seguia-se uma cerimónia de purificação. Esta cerimónia variava de
tabu para tabu

Os tabus até hoje são um meio de regular os comportamentos. São um instrumento


para o estabelecimento da ordem social

Como conclusão, entendemos que apesar de haver multiplicidade de etnias trazendo


consigo a diversidade cultural, havia pluralismo jurídico antes da ocupação colonial em
Moçambique, olhando para a forma como de região em região eram resolvido os
conflitos.

3.2. O Direito durante a colonização portuguesa

3.2.1. A conferência de Berlim e a partilha de África

Tema reservado seminário, onde os estudantes irão ler diversa bibliografia inerente a
esta matéria bem como consulta a internet para, na verdade, descobrir os reais
interesses dos Europeus em dividir um continente alheio – África. Após a partilha de
África, seguiu-se um período de implantação do Estado colonial.

3.2.1. A implantação do Estado colonial

No período de implantação colonial efectiva no território de Moçambique, cujo impulso


histórico pode ser definido a partir da histórica conferencia de Berlim que teve lugar
entre os dias Novembro de 1884 e Fevereiro de 1885, em que uma das principais
decisões assentou na premissa de dominar e administrar os territórios efectivamente,
assistiu se ao fenómeno, recorrendo às palavras de Cristina Nogueira da Silva, se
apelida de “encontro colonial” entre o Estado colonizador cm os colonos e com os
povos nativos e destes entre si e que “produziu, na sua origem sistemas jurídicos
híbridos, cujas fronteiras não foram fixadas de forma linear e cujas hierarquias se
mantiveram, por muito tempo em aberto”.
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O colonialismo constituiu num processo legal, transnacional e que teve a suposta


missão de expandir a civilização superior europeia para as populações colonizadoras,
consideradas primitivas, selvagens ou atrasadas, mas que encobria, de facto,
objectivos associados à obtenção de matéria-prima e mão-de-obra para as plantações,
minas e fábricas ao serviço das potências colonizadoras. Por seu turno, o colonialismo
quase sempre envolveu a transferência de códigos e instituições de uma sociedade
para outra bem como para elaborar e fazer e fazer aprovar legislação dirigida a
distinguir e descriminar racialmente as populações.

A suposta missão civilizacional está patente, a título de exemplo no artigo 2 do acto


colonial aprovado pelo decreto – lei nº22465 de 11 de Abril de 1933, segundo o qual “É
da essência orgânica da nação portuguesa desempenhar a função histórica de possuir
e colonizar domínios ultramarinos e de civilizar as populações indígenas que neles se
compreendam, exercendo também a influencia moral que lhe é adstrita pelo padroado
do oriente”.

Adelino Torres diz que nos que o conceito de civilização encontra-se, assim, fortemente
associado à ideia de que as colónias e respectivas populações nativas se beneficiam
ampla e profundamente do encontro colonial, o qual contribuiu para mudar o rumo da
sua história. A civilização foi, portanto, perspectivada como uma beness ou mais-valia
para os povos que se encontravam em estádios culturalmente atrasados em relação às
nações europeias.

Em Moçambique, a montagem do sistema colonial tem um importante marco histórico –


a aprovação da carta orgânica da província de Moçambique, através de um decreto de
23 de Maio de 1907, do então Ministro da Marinha e do Ultramar, Aires de Ornela,
poucos anos antes da queda da Monarquia. Este instrumento jurídico trouxe vincada a
diferenciação do tratamento jurídico dos europeus e dos indígenas. Alias, decorre do
mesmo a criação da secretaria de negócios indígenas (SNI), entidade a qual competia
administrar a organização da justiça indígena, regulamentar os deveres dos régulos e
outras actividades gentílicas, providenciar a codificação dos usos e costumes cafreais,

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determinar e fixar terrenos que deveriam ficar exclusivamente reservados para os


indígenas, organizar o fornecimento de trabalhadores indígenas para os serviços
públicos e particulares, entre outros.

Há seis importantes características que gostaríamos de destacar em relação à política


colonial portuguesa, especialmente em relação a Moçambique, no que diz respeito à
relação como modo de vida das populações locais:

1. O pluralismo jurídico na era colonial


2. A rede das lideranças locais;
3. O estatuto jurídico das populações locais;
4. O trabalho forçado;
5. A codificação dos direitos costumeiros
6. A terra e os recursos naturais ao serviço do Estado colonial.

As seis características a seguir analisadas contribuíram sobremaneira na questão do


acesso a terra e aos recursos naturais, norteando significativamente os padrões e
normas de uso e aproveitamento das riquezas naturais existentes no então Estado
colonial de Moçambique, lançando, inclusivamente, algumas das bases e linhas que
caracterizaram as etapas seguintes na evolução histórica, designadamente a seguir à
independência.

3.2.1.2. O pluralismo jurídico na era colonial

Uma questão que se levanta naturalmente no domínio do presente tema é a de saber


até que ponto o sistema colonial conviveu com a enorme e diversidade de instâncias e
direitos costumeiros das populações locais de Moçambique. A resposta a esta pergunta
conduz-nos à percepção do pluralismo que se desenhou ao longo do período de
ocupação colonial efectiva.

Neste aspecto, segundo Cristina Nogueira da Silva, o pluralismo jurídico no período


colonial constitui “um projecto no qual o Estado colonial se assumiu como pólo
ordenador da diversidade, com a correspondente missão de fixar não apenas as regras
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reguladoras do funcionamento dos sistemas jurídicos plurais, como também os


estatutos jurídicos das populações neles envolvidas, face à ordem jurídica
hegemónica”.

As populações locais, note-se, foram em termos jurídicos, consideradas até a fase


última do colonialismo, como “nativas ou indígenas”, como que de pessoas de nível
inferior se tratassem. O colonialismo assentou em um postulado rácico ainda que
juridicamente não tenha ganho contornos expressos como na África do Sul
“Apatrtheid”.

Neste domínio, importa realçar que para alcançar um controlo efectivo do vasto
território da então colónia de Moçambique, mais tarde província Ultramarina bem como
das populações, Portugal precisou de contar com as instancias e direito local, pelo
menos enquanto não reunisse as condições humanas, materiais e financeiras
necessárias à padronização política, económica, social, cultural e religiosa do império
colonial português. O exemplo mais paradigmático foi efectivamente a aprovação do
código civil português (Código de Seabra), aprovado por carta de Lei em 01 de Julho
de 1887 que foi tornado extensivo ao espaço colonial, incluindo Moçambique em 1869,
através do Decreto de 18 de Novembro de 1869, ressalvando-se os usos e costumes
das populações indígenas que não se opusessem à moral e à ordem pública.

O preâmbulo do Decreto nº 12533 de 27 de Novembro de 1926, que promulga o


Estatuto político, civil e criminal dos indígenas de Angola e Moçambique, disse o
seguinte: “Não se atribuem aos indígenas, por falta de significado prático, os direitos
relacionados com as nossas instituições constitucionais. Não submetemos a sua vida
individual, doméstica e pública se assim é permitido dizer, às nossas leis políticas, aos
nossos códigos administrativos, civis, comerciais e penais, à nossa organização
judiciária. Mantemos para eles uma ordem jurídica própria do estatuto das suas
faculdades, da sua mentalidade de primitivos, dos seus sentimentos, da sua vida sem
prescindirmos de os ir chamando por todas as formas convenientes à elevação cada
vez maior, do seu nível de existência”.

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Silva Cunha, procurando justificar a dicotomia de sistemas jurídicos com base em


critérios de ordem cultural, refere, numa das suas obras, que “só quando as
populações a que se aplica este Direito evoluírem, superando a sua actual situação
cultural, é que poderá acabar com a distinção entre os sistemas jurídicos por se
regerem não indígenas… tudo o que se faça antes deste momento no sentido da
unificação é prematuro, precipitado e perigoso e está condenado a falhar porque os
factos necessariamente se sobreporão ao que for legislado”.

3.2.1.3. A rede das chefias locais

As diversas experiências de colonizações revelaram um importante aspecto em


comum: o uso dos chefes locais ou tradicionais para garantir uma administração
colonial efectiva, controlar as suas gentes, fornecer mão-de-obra e assegurar o
pagamento dos diversos tributos fixados. No entanto, tal expediente constitui uma
espécie de remédio encontrado pelos estados colonizadores para suprir eventuais
carências financeiras e humanas no esforço de cobertura geográfica dos territórios
ultramarinos. Dai que, mesmo no modelo colonial britânico de administração indirecta,
no qual as autoridades tradicionais gozavam de um espaço de intervenção
relativamente maior em relação às suas congéneres sob jugo das administrações
coloniais francesa e portuguesa, a perspectiva foi sempre a de reduzir
progressivamente a dependência das lideranças locais, bem como d reduzir os
poderes, à medida que a administração colonial reforçava a sua capacidade de
controlo e gestão dos territórios e suas gentes.

Focando o caso de Moçambique, uma característica importante no sistema de


administração colonial português foi o estabelecimento de uma rede de chefias locais
cruciais ao cumprimento dos desígnios de controlo efectivo de um território ultramarino
em dimensão descomunalmente superior ao do Estado colonizador, e em que, na
quase totalidade dos casos, os funcionários coloniais tiveram que se confrontar com
enormes constrangimentos de ordem financeira, visto que os cofres da metrópole se

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mostraram reticentes de disponibilizarem os montantes necessários ao controlo


efectivo da colónia de Moçambique

Exercícios.

Orientação dos estudantes para realizarem trabalho investigativo sobre as seguintes


matérias.

 Estatuto jurídico das populações locais no período da ocupação portuguesa;

 A codificação dos direitos costumeiros e;

 A hibridez jurídica,

3.3. A independência nacional e o Direito

Pretendemos neste capítulo demonstrar até que ponto o Direito estava organizado no
período pós independência fundamentalmente na vigência da primeira constituição da
Republica popular de Moçambique de 1975.

3.3.1. O Direito revolucionário na 1ª República

3.3.1.1. A relação entre o Direito Estadual e o Direito costumeiro tendo como


enfoque a Constituição de 1975.

A 25 de Junho de 1975 na Cidade de Maputo, actual Capital de Moçambique, foi


proclamada pelo presidente da FRELIMO, a Independência total e completa da
República Popular de Moçambique. Fruto da insurreição armada desencadeada no
território moçambicano durante uma década, culminaria com os acordos de Luzaka
na Zâmbia e a aprovação da Primeira Constituição política na Praia do Tofo – Cidade
de Inhambane.

Nesta óptica, para analisar a evolução do sistema jurídico – político, far-se-á


respeitando três etapas.

Primeira etapa: período entre 1974/1975


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Para abordarmos este período, interessa-nos revisitar o período muito antes da


Independência, sobretudo, o período que imperava o regime do indiginato.

Neste período, o indígena era regido por através de usos e costumes locais. Esta
política surge pelo facto de o Governo Português, através de várias tentativas
fracassadas de eliminar o Direito Costumeiro, tendo optado por codificá-lo. Este
processo seria um reconhecimento expresso de que as comunidades locais deviam
ser regidos pelo Direito costumeiro não obstante os Portugueses e os Assimilados
tivesse o Direito Positivo da metrópole.

A independência nacional, antecedida pelo Governo de transição, trouxe muitos


ganhos para o povo moçambicano, um dos quais os moçambicanos passaram a ser
considerados Cidadãos4.

Isto só não bastava, era necessário estabelecer um sistema de justiça que


respeitasse os anseios dos moçambicanos com vista a justificar as razões da
insurreição armada. Para a organização do complexo sistema de Justiça era preciso
estabelecer prioridades tendo em conta a escassez dos recursos, isto é, só seria
possível através dos seguintes objectivos:

 O período de transição devia ser feito de forma ordeira e pacífica e no


respeito aos acordos estabelecidos;

 Alcançar a médio e longo prazo a criação de instrumentos adequados a


adoptar de forma gradual para que o País tenha recursos humanos
indispensáveis ao seu desenvolvimento;

 As reformas deviam ser graduais para garantir o funcionamento pleno das


instituições herdadas.
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O artigo 26 da Constituição da República Popular de Moçambique, aprovada pelo Comité Central a 20 de Junho
de 1975, no capítulo dos Direitos e Deveres fundamentais dos Cidadãos, estabelece que todos os Cidadãos da
República Popular de Moçambique gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres,
independente da sua Cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social
ou profissão. Proíbe igualmente prejudicar a harmonia social criando divisões ou situações de privilégios com base
na cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, etc…
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Deste modo, foram adoptadas providências legislativas destinadas a reprimir todo e


qualquer acto que pusesse em causa a paz social e o progresso económico de
Moçambique como indicam os seguintes decretos:

 Decreto – Lei nº8/74 – Que punia a propagação da informação falsa ou


tendenciosa susceptível de alterar a ordem ou tranquilidade pública;

 Decreto-Lei 116/75 - Que permite a intervenção do Estado nas Empresas


Privadas;

 Decreto-Lei 2/75 – Que visava a formação de especialistas diplomados nos


vários ramos de Direito em ordem a colmatar o progresso abandono de quadros
na magistratura Judicial e do Ministério Público;

 Decreto 27/75 que autoriza a nomeação de indivíduos com mais de 21 anos


como inspectores e Subinspectores da Polícia judiciária.

Esta e outra legislação permitiram que houvesse transição com algum sucesso do
Sistema de Administração colonial para o sistema eminentemente moçambicano.

Segunda etapa: 1975 a 1978 Período de pós independência e da reforma de


organização judiciária

Este período teve como objectivos bases a revolução do aparelho do Estado com
forma de garantir o desenvolvimento das zonas rurais em todos os sectores de
actividade do Estado; destruir as estruturas do passado como condição do triunfo da
revolução.

O primeiro objectivo foi possível através da criação das aldeias comunais visto que
eram vistas como solução para as forças colectivas de produção e iriam igualmente
melhorar as condições de vida do próprio cidadão. Dizia-se ser a forma de garantir o
fornecimento dos meios materiais, técnicos e científicos que o partido e o governo se

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esforçariam por disponibilizar. Para a concretização deste desiderato o legislador


instituiu o artigo 11 da Constituição da República Popular de Moçambique, segundo o
qual, “o Estado encoraja os camponeses e os trabalhadores individuais a organizarem-
se em formas colectivas de produção, cujo desenvolvimento apoia e orienta”.

O Governo de Moçambique através da política tendente a proteger a maioria


desfavorecida, elimina as forças económico-sociais que favoreciam as minorias, para
evitar a centralização da riqueza e instruir um planeamento central administrativo forte.

Na área da justiça, viu-se que perante o período colonial os tribunais eram apenas o
privilégio da minoria e a linguagem judiciária não era acessível para todos, só seria
compreensível pelos profissionais especializados e os processos primitvos adoptados
no período colonial não seriam para a reeducação dos delinquentes e da sua
integração na sociedade. Assim, foi decidido que deviam se elaborar novas leis que
servissem de instrumentos de unidade nacional e de defesa da revolução.

1978/1992 O apogeu e declínio da revolução

A fase da implementação das assembleias do povo e da adopção da Lei da


Organização judiciária (Lei 12/78) correspondeu o apogeu do regime socialista que
teve como a construção do projecto socialista em Moçambique. Isto tudo corre depois
da realização do III Congresso da FRELIMO.

Para o desenvolvimento deste capítulo realizamos seminários tendo como base as


Lições deixadas pelos Professores Boaventura de Sousa santos e Carlos Trindade na
sua obra “Conflitos e transformações sociais: uma paisagem das justiças em
Moçambique”

3.4. A hegemonia do neoliberalismo A II República

Neste capítulo, abordaremos a ascendência do neoliberalismo a partir de 1990, período


em que foi aprovada a segunda Constituição. Este momento é crucial para a história
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do Direito moçambicano sabido que Moçambique desde a independência nacional,


concretamente, a partir do III congresso da FRELIMO, adopta o regime socialista que
só veio romper em 1990 com a aprovação da segunda Constituição.

Este processo tem antecedentes a partir dos quais se assenta a ascendência do


capitalismo nomeadamente: A queda do muro de Berlim, hegemonia do neoliberalismo
e o papel do direito na nova ordem mundial; O programa de reajustamento estrutural; a
Constituição de 1990 e a organização judiciária de 1992 e de 2007.

Este tema é reservado para seminários onde os estudantes com a orientação do


docente discutirão as matérias aqui contidas e extrair-se-ão as respectivas conclusões.

Conclusão

Ao longo do semestre percorreram-se diversas etapas da história do direito


moçambicano. Não foi necessária muita reflexão para aferir que a História do Direito
está intrinsecamente ligada com a História de um povo, está intrinsecamente ligada
com a cultura e com a identidade de um povo.

Se olharmos para a evolução dos povos a partir dos primeiros Estados antes da
Colonização portuguesa, extraímos com facilidade a conclusão segundo a qual havia
sim a prática do direito uma vez este fazer parte da cultura a pesar de ser Direito de
natureza consuetudinária ou costumeiro e, pelo facto de cada Estado praticar à sua
maneira, em respeito aos usos e costumes locais, que, é necessário acreditar que
variavam de região para região.

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As restantes etapas nomeadamente, durante a colonização portuguesa, e depois a


Independência nacional, há manifestação clara duma tendência de superiorização do
Direito Positivo em relação ao Direito consuetudinário. Esta tendência começa com a
colonização portuguesa, mormente à fase da importação do Direito positivo da
metrópole e a consequente desvalorização dos costumes locais, facto que não de
consumou devido a profunda inserção do costume nas populações locais, alias, foi bem
claro que o Direito da metrópole servia apenas aos portugueses e assimilados
enquanto o Direito costumeiro era reservado aos indígenas já considerados como tal a
partir de 1930 com a provação do acto colonial.

Já um pouco depois da Independência nacional, a FRELIMO igualmente ensaiou


medidas para sufocar o Direito costumeiro ao eliminar a figura de autoridade local, um
centro por excelência de resolução de conflitos, este poder demonstrou ser muito forte
acabando por ser reconhecido. Na actualidade existem tribunais comunitários criados
pela Lei n º 4/92, de 6 de Maio que julgam conflitos na base do Direito costumeiro.
Acreditamos que este pequeno apontamento apenas apresenta pequena indicação não
podendo ser considerado por si só conclusivo na medida em que a Ciência jurídica é
dinâmica, há contudo espaço para comentários e criticas para o bem da academia.

4. Bibliografia

CORVO, João de Andrade (1883) Estudos sobre as Províncias Ultramarinas, Academia


Real das Ciências de Lisboa;
GARRETT, Thomaz de Almeida, Administração Colonial, 1º Volume, Editora o Autor,
Porto;
SANTOS, Boaventura de Sousa e João Carlos Trindade (2000) Conflito e
transformação social: uma paisagem de justiça em Moçambique, Centro dos Estudos
Africanos;
ULRICH, Ruy Ennes (1908) Ciência e Administração Colonial, Volume I, Introdução,
Imprensa Universitária, Coimbra;

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VASQUES, Sérgio (2004) Legislação Económica de Moçambique, Almedina;

Legislação:
a) Constituição da República Popular de Moçambique de 1975;
b) Constituições da República de Moçambique de 1990 e 2004;
c) Lei n º 12/78, de 2 de Dezembro, Lei da Organização Judiciária;
d) Lei n º 4/92, de 6 de Maio, Lei dos Tribunais Comunitários;
e) Leis 10/92;
f) Lei nº 24/2007.

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