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REPÚBLICA DE ANGOLA
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE ANGOLA
FACULDADE DE DIREITO E DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO
LIÇÕES DE INTRODUÇÃO AO
ESTUDO DO DIREITO
Obs:
1.Os textos em apreço, não visam afastar os manuais
obrigatórios, pois estes servirão, meramente, como apoio
daqueles.
2.Sendo textos provisórios e em evolução a
susceptibilidade de existir erros é manifesta, destarte os
estudantes deverão imediatamente comunicar o docente da
Cadeira sobre a ocorrência de tais factos.
PARTE I
CAPÍTULO I – PRELIMINARES
1.Advertência metodológica
O Direito que se avista aos estudantes, neste particular, além de exigir renovados
métodos de aprendizado, encontra-se robustecido por princípios e normas, que tutelam
os direitos da pessoa humana num sentido plural, impõem a ética nas relações, dão
prevalência ao social e atribuem ao Poder Judicial um papel activo na busca de soluções
equilibradas. Em sua constante mutação, a fim de acompanhar a marcha da história e
conectar-se aos avanços da ciência, o Direito pátrio, entretanto, por vários de seus
institutos, requer adequação à modernidade, desafiando, além da classe política e, em
primeiro plano, a comunidade de juristas - a quem compete presentear ao legislador os
paradigmas opcionais de leis. Pois, entendemos ser este, o quadro que se apresenta aos
iniciantes na aprendizagem da Ciência do Direito 1.
Sublinha-se que “os alunos chegam à Universidade vindos do Ensino
secundário, onde lhes é dada uma preparação de ordem geral, que só por si não lhes
permite, naturalmente, compreender o que no Direito há de específico. E, é com o
Direito que eles vão agora lidar. Precisam de penetrar nos seus segredos e no seu
espirito, mas a transição tem de fazer-se de forma gradual, para que não seja muito
brusca e perturbadora” 2.
1
Paulo Nader, Introdução ao Estudo do Direito, 36.ª Edição, Editora Forense, Rio de Janeiro ,
2014, pp. 34 ss.
2
“Trata-se de uma introdução ao Estudo do Direito em geral, introdução que é preparação, e não
de modo algum, antecipação”. Inocêncio Galvão Telles, Introdução ao Estudo do Direito, Volume I, 11.ª
Edição Coimbra Editora, Coimbra (reimpressão), 2014, págs. 11 ss.
3
Paulo Nader, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit.,pp. 34 ss.
3
4
Entre nós não é habitual fazer-se uma abordagem histórica sobre a inserção da disciplina em
apreço, na realidade portuguesa por exemplo, a disciplina de Introdução ao Estudo de Direito teve como
antecedente directo uma outra disciplina denominada “Princípios Fundamentais de Direito Civil”(… )
sobre essa matéria, por todos vide Nuno Sá Gomes, Introdução ao Estudo de Direito, JVS, Lisboa, 2001,
pp. 13 ss.
5
“Sob este enfoque Luiz Luisi reconhece a autonomia, que “deriva de seu fim específico: reduzir
o Direito a unidade sistemática”.Se tomarmos, porém, a palavra disciplina no sentido de ciência jurídica
devemos afirmar que a Introdução ao Estudo do Direito não possui autonomia; ela não cria o saber,
apenas recolhe das disciplinas jurídicas as informações necessárias para compor o quadro de
conhecimentos a ser apresentado aos acadêmicos”. Paulo Nader, Introdução ao Estudo do Direito, op.
cit.,p. 35.
6
Paulo Nader, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit.,pp. 36 ss.
4
3.Sociedade e Direito
12
In Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. p.15.
6
13
obterem melhores condições de vida . Deste modo, podemos admitir que o mundo
natural corresponde ao estado da natureza e o mundo cultural corresponde ao estado de
sociedade.
4. ORDEM SOCIAL
Neste plano, social, o homem é regulado pelas leis culturais em contraponto com
as leis físicas que o regulam enquanto ser natural, animal, isto é, um ser vivo
mensurável a outros seres vivos – em sede das leis físicas o homem não estabelece
relações sociais mas, é parte do universo tal como outros seres vivos, animais, vegetais
(...), ressalta, nesta neste particular, a sua qualidade de viver em estado de natureza,
isolado da sociedade, distante da ordem social.
plano das ideias. Destarte, as relações sociais devem, necessariamente, ser reguladas,
lato sensu, pela ordem social; pois, somente, esta última, pode garantir a paz,
felicidade, manutenção das relações sociais (...) 16.
Contudo, a ordem social assume várias dimensões que cumpre enunciar – ordem
religiosa, ordem do trato social, ordem moral e ordem jurídica.
Em sede deste sector , normativo, são incorporáveis a maior parte dos nossos
comportamentos, como a forma de vestir, saudar, outorgar presentes a certas pessoas em
16
A doutrina fala dos elementos da ordem social, assim, os elementos da ordem social são
basicamente dois: elementos de mero facto e elementos éticos normativos.
17
“As normas sociais não visam o mesmo fim e tão-pouco reagem da mesma maneira às
condutas que as não observem. Por essa razão, é importante distingui-las”. A. Santos Justo, Introdução
ao Estudo do Direito, op. cit. p. 18.
18
“Distinguem-se nela sectores as normas de cortesia, da moda, da deontologia profissional, da
higiene, (…)”. Nuno Sá Gomes, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. p. 28; A. Santos Justo,
Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 28 ss.
8
determinadas épocas, retribuir uma visita ou responder a uma saudação (...); as normas
de trato social apresentam algumas semelhanças com as normas jurídicas, pois, são
vinculativas e gozam de sanções e de coacção. Porém, existem aspectos que as
distinguem daquelas, assim, impõe-se referir que o Direito prevê e quantifica as sanções
que se aplicam a condutas determinadas, é, por essa razão, que interessa distinguir a
figura da “institucionalização da sanção” - mecanismo que tem sido vocacionado para
estabelecer a diferença entre o Direito e os usos sociais favorecidos de sanções e de
meios de coação indeterminados, informais e inorganizados 19.
19
Idem, p. 29.
20
Nuno Sá Gomes, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. p. 44.3423#$
21
“Têm origem não numa vontade concreta, mas em usos ou práticas sociais regularmente
observadas”. Idem, p. 28.
22
Impõem-se através da pressão exercida pelo grupo social a que se pertence e a sua
inobservância é punida com diversas sanções, como a perda de prestígio e de dignidade, o afastamento do
grupo (…). Idem, p. 28.
23
Como bem refere A. Santos Justo, “há quem entenda que as normas de trato social, também
reclamam uma boa intenção. Porém, se uma saudação amável não corresponde a verdadeira intenção de
saudar, não se violenta a norma de cortesia: quem saúda não é descortês, mas hipócrita”. In Introdução
ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 28 ss.
9
i) Critério teleológico
24
Vide Luís Cabral de Moncada, Filosofia do Direito e do Estado, II, Coimbra, 1966, pp. 134 ss;
Inocêncio Galvão Telles, Introdução ao Estudo do Direito, II, op. cit. pp. 41 ss e A. Santos Justo,
Introdução ao Estudo do Direito, pp. 19 ss.
25
Idem, p. 21.
26
Idem, p.21.
27
Idem, p.21.
10
28
“A moral diz: ama o teu próximo; mas não diz ao próximo: tens direito a esse amor. O Direito,
pelo contrário, diz ao devedor: “paga”; e voltando-se ao mesmo tempo para o credor, afirma: tens direito
a exigir esse pagamento”. Inocêncio Galvão Telles, Introdução ao Estudo do Direito, II, op. cit. pp. 41 ss.
29
A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, pp. 24 – 26; Luís Cabral de Moncada,
Filosofia do Direito e do Estado, II, Coimbra, 1966, pp. 134 ss.
11
relativos a destrinça das duas figuras em liça; porém, nenhum deles escapa de
cerradas críticas no campo doutrinário quanto ao mérito e demérito a que estão
associados. Por conseguinte, alinhamos com A. Santos Justos, asserçando que
“persistem, no entanto, alguns pontos valoritivos que sugerem fronteira: a
moral caracteriza-se pela autovinculação e pela importância primordial que
atribui às motivações das condutas; o Direito acentua a imposição heterónoma
das suas normas e os aspectos externos ou sociais da conduta humana
constituem o seu ponto de partida”(...) 30.
30
In Introdução ao Estudo do Direito, pp. 27 – 28.
31
A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, p. 19.
32
“A sua violação pode determinar a aplicação de sanções religiosas”. Idem, p. 21.
12
A ordem jurídica, o Direito, enquanto parte ordem social, pode ser definida
como o conjunto de normas, de natureza jurídica, que visam regular o comportamento
do homem numa determinada sociedade.
Nessa linha, impoõe-se, ainda, referir que, quanto a nós, a principal dificuldade
na concepção do Direito prende-se, fundamentalmente, na tendência de construir a
definição, da figura em exame, numa única perspectiva. Repara-se que alguns partem de
35
uma perspectiva etimológica , outros preferem associa-lo ao conceito de justiça,
33
Vide por todos, Inocêncio Galvão Telles, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp 23 ss;
Marcelo Rebelo de Sousa, Introdução ao Estudo do Direito, Lex, 2000, Lisboa, pp. 9; A. Santos Justo,
Introdução ao Estudo do Direito, p. 19; Mário Reis Marques, Introdução ao Estudo do Direito, Volume
I, 2ª Edição, Almedina, 2007, pp. 240 ss.
34
“Pratica-se um crime, por exemplo um homicídio (A mata B, utilizando uma arma), a que os
órgãos de comunicação social dão larga divulgação. Reclama-se justiça, e as entidades para tal
competentes (Polícia de Investigação Criminal ou Procuradoria), põem-se em movimento a fim de
descobrir o suspeito e ver se há fundamento para o acusar. Procede-se a investigações recolhem-se
indícios ou elementos que apontem quem é o criminoso, as circunstâncias em que praticou o crime, os
móbeis a que obedeceu a sua reprovável acção. Forma-se um processo que posteriormente é entregue ao
tribunal, para que se aprofundem as provas e o acusado”(...) In, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit.
pág. 23 ss.
35
Adlezio Agostinho, faz uma incursão de elevado relevo, pois traz a lume o instituto do Corpus
Iuris Civilis, referindo, em termos gerais, que aquele foi dividido em quatro partes relacionadas entre si:
Codex; Degesto; Institutiones e Novellae Constitutiones (...) in Curso de Direito Constitucional, op. cit.
pp. 25 ss.
13
outros, ainda, dão privilégio à conexão deste com a ordem jurídica - em sentido rigoroso
ou técnico. Deste modo, qualquer definição que, de forma unívoca, alinhar na direcção
exposta, padecerá, certamente, de um nível, maior, de cerradas críticas. Por isso,
aplaudimos, com ressalva em alguns pontos, a posição, definitiva sobre a matéria, do
Professor Santos Justo, de acordo com a qual “pode-se –à caracterizar o Direito
positivo, parte nuclear da ordem jurídica, como um conjunto de normas necessárias à
convivência humana que se inspiram e fundamentam na ideia de justiça e têm na
coercibilidade uma importante condição de eficácia” 36.
36
In Introdução ao Estudo do Direito, p. 36.
37
A tese monista deve-se, sobretudo, a KELSEN que caracterizou o Direito e o Estado como dois
aspectos diferentes mas inseparáveis da mesma realidade (...).A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do
Direito, pp. 33 – 35.
38
O pluralismo jurídico tem que ver com a tese nos termos da qual, o Direito não brota, apenas,
de fonte estadual mas, também, integra uma série de normas de outras proveniências (...) idem pp. 33 -
35; na mesma direcção vide Efigénia Clemente, O Pluralismo Jurídico Como Novo Paradigma de
Legalidade Numa Perspectiva Histórica, in Numero Especial, Revista da FDUAN, Luanda, 2014 pp. 205 ss;
Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, FDUAN ̸ FDUNL, Lisboa ̸ Luanda, 2014, pp.
492 ss; Paulino Lukamba, Direito Internacional Público, 3.° Edição, Escolar Editora, Lobito, pp.
51 ss; Fausto de Quadros, A Nova Dimensão do Direito Administrativo, Almedina, Coimbra,
2001, pp. 8 ss; João Mota de Campos, João Luiz Mota de Campos, Manual de Direito Europeu,
6. ° Edição, Coimbra Editora, Coimbra, pp. 287 ss.
39
A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, pp. 33 – 35.
14
5.1. Preliminar
O tema que, agora, nos propomos apresentar encerra capital importância para o
ensino do Direito, sobretudo, por constituir elemento basilar na construção da
consciência jurídica – crítica. Tal ensinamento, é susceptível de despertar ao cultor da
Ciência Jurídica competências favoráveis à censura das normas jurídicas – vendo-as
não apenas como monopolio do Estado mas sim, na sua dimensão plural; pois, impõe-se
a sua abordagem porque neste assenta o prelúdio de um debate estruturante, que tem
marcado incessantemente o pensamento jurídico de todos os tempos.
Bem, na esteira da doutrina as respostas têm assumido rumos distintos 41; assim,
enquanto alguns vêem, ao longo dos tempos, inclinando as suas posições para uma
perspectiva positiva outros, pelo contrário, costumam responder negativamente.
Contudo, será neste prisma que, no essencial, conduziremos a nossa abordagem inerente
ao tema de extraordinária relevância.
40
Idem, pp 34 – 35.
41
Inocêncio Galvão Telles, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 101 ss; A. Santos Justo,
Introdução ao Estudo do Direito, pp. 95 ss; Diogo Freitas do Amaral, História das Ideias Políticas,
Volume II, op. cit. pp. 13 ss; idem, in História das Ideias Políticas, Volume I, op. cit. pp. 85 ss.
15
42
No que toca a descomunicação, reitera-se que a perspectiva transcendente
fundamenta o Direito natural em Deus, ao passo que a concepção racionalista
43
fundamenta-o na razão humana . Em relação ao ponto de comunicação podemos
identificar várias conexões que as unifica designadamente, universalidade ou legaliddae
universal, imutabilidade, lei não escrita, fundamento e base ética normativa do Direito
positivo, posicionamento num plano superior em relação ao Direito positivo (...) 44. A
despeito do contacto e descontacto entre as concepções em análise, nem sempre o
respectivo tema assumiu o mesmo plano em todas as épocas. Pois o jusnaturalismo
transcendente notabilizou – se, com mais evidência, na Idade Média 45; ao passo que, o
jusnaturalismo racionalista, por outro lado, acentuou- se consideravelmente na Idade
Moderna.
Deus criou o mundo e dotou-o da lex aeterna que rege todos os seres (...); ainda na
esteira deste pensador, a summa teológica – obra mais importante e conhecida que lhe
deu jus ao título de chefe do catolicismo 47- apresenta a seguinte teoria: a lei eterna 48,
que é suprema (é de conhecimento exclusivo de Deus, que pode perceber a sua
plenitude), abaixo da qual estão a lei divina (parte da lei eterna revelada por Deus; é
formada pelos preceitos que Deus expressamente formulou para orientar a lei humana
sobre questões essenciais) e a lei natural (é a participação dos seres criados na razão
estabelecida pela lei eterna), e, num plano mais inferior, a lei humana (lei positiva
produzida pelo legislador) 49.
47
Transcrevemos Inocêncio Galvão Telles, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. p. 108.
48
“É a lei geral do Universo estabelecida por Deus para todos os Seres por ele criados. Se a lei
uma ordem da razão emanada do soberano que governa uma comunidade, então, como o mundo é
governado pela providência divina, toda a comunidade do universo se rege pela razão de Deus (...)”.
Diogo Freitas do Amaral, História das Ideias Políticas, Volume I, op. cit. pp. 13 ss.
49
Filipe Barbosa Garcia, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 20 ss.
50
Esta fase marca, assim, a decadência ou apagamento do jusnaturalismo transcendente . vide,
Inocêncio Galvão Telles, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. p. 109; A. Santos Justo, Introdução ao
Estudo do Direito, op. cit.p. 103.
51
Assim, na esteira de Hugo Gróssio, vide José de Oliveira Ascensão, O Direito Introdução e
Teoria Geral, op. cit. pp. 177 ss.
17
Não, não podemos aplaudir essa posição do nosso distinto Professor, pois não
obstante a tese subjacente a existência de um Estado totalitário a fim deste poder
52
Merece salientar com Santos Justos, que Gróssio segue o percurso aberto por Gabriel
Vázques ... “a fonte do Direito natural não está na Vontade nem na razão divina, mas na natureza
racional do homem”. In Introdução ao Estudo do Direito, p. 103.
53
Inocêncio Galvão Telles, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. p. 110; José de Oliveira
Ascensão, O Direito Introdução e Teoria Geral, op. cit. p. 177.
54
Inocêncio Galvão Telles, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. p. 110.
55
“PUFENDORF, jurista e historiador alemão, nascido em 1632 e faleceu em 1694, teve uma
vida de certo modo agitada. Ensinou na Universiddae de Heidelberg, onde foi para ele criada a primeira
cátedra de Direito natural e das Gentes (...)”. Idem, p. 110.
56
“TOMÁSIO (1665 – 1729), seguidor de PUFENDORF, orientou a filosofia para fins práticos,
combatendo o método escolástico e silogístico e esforçando-se por separar a Ciência da Teologia, (...)”.
Idem, p. 110.
57
In O Direito Introdução e Teoria Geral, op. cit. p. 176.
58
José de Oliveira Ascensão, O Direito Introdução e Teoria Geral, op. cit. p. 177.
18
59
“Se o Soberano ordena a um súbdito que se mate ou fira a si próprio, ou que nçao resista a
quem o agredir, ou que se abstenha de comida, ar, remédios ou qualquer outra coisa sem a qual não
possa viver, esse homem tem o direito de desobedecer (...)”. In História das Ideias Políticas, Volume I,
op. cit. pp. 381 ss.
60
“ Se é certo que com esse contrato os indivíduos renunciam a parte dos seus direitos,
também é certo que a função do Estado é justamente a de defendê-los – e aqui temos todas as
premissas do Estado liberal (...)”. In O Direito Introdução e Teoria Geral, op. cit. pp. 177 ss.
61
Inocêncio Galvão Telles, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 110 ss; José de Oliveira
Ascensão, O Direito Introdução e Teoria Geral, op. cit. pp. 177 ss; ao nosso ver merece, também,
destaque Ludwig Feuerbach, (1804 – 1872), nascido em Baviera, faz a sua formação universitária em
Teologia e Filosofia, sobre a sua contribuição vide a Essência do Cristianismo, 3. Edição, Fundação
Calouste Gulbenkian, (tradução de Adriano Veríssimo Serrão), Lisboa 2008, pp. 9 ss.
19
62
imperativa pelo Direito natural (...)” . Destarte, já parece pacífico que as normas
possam ser, devidamente, policiadas por um leque de princípios fundamentais,
admitindo-se a discussão sobre o posicionamento hierarquíco vigente nos várias
ordenamentos jurídicos; principalmente, para efeitos de resolução de litigios sociais.
Portanto, O Direito natural seria assim entendido como princípio norteador das normas
jurídicas 63.
62
José de Oliveira Ascensão, O Direito Introdução e Teoria Geral, op. cit. pp. 179 – 180; um dos
contributos do Professor em referência, no presente debate, tem que ver com o questionamento
atinente a fonte do Direito Direito natural; diz textualmente: não correcto correcto pretender que o
Direito natural é criado pela razão humana. A razão humana tem a função preciosa de instrumento para
descobrir um direito impresso na natureza... no essencial o autor demarca-se da tese do jusracionalismo
e abraço alguns laivos da escolástica. Com profundidade, idem, pp. 179 ss.
63
Mas essa constatação não pode siginificar que a norma jurídica, a ordem normativa de
produção estadual e costumeira, perdem valor se forem contrárias ao Direito natural. Afinal, em rigor, o
Direito natural não é revolucionário – como o entendiam os jusracionalista; nem conservador – na
matriz de Socrátes; mas sim um modelo jurídico que funda-se na defesa do princípio do mal menor. Em
termos mais evidente diríamos que o facto de defendermos a coerência do ordenamento jurídica
assente num pilar hierárquico em que o Direito natural ocupe o escalonamento primário, não implica
que aplaudimos a ilegitimidade imediata da norma jurídica que a contraria. Contudo, a nossa posição
prende-se na ponderação do caso concreto tendo sempre em atenção o respectivo princípio do mau
menor. Na mesma linha, idem, pp. 179 ss.
20
asserção, alude-se que não podemos restringir , somente, o positivismo numa pespectiva
negativa da metafísica e do Direito natural mais, também, integra-lo ao debate sobre a
simbiose entre as duas realidades. Parece-nos, que somente nesta direcção, evolutiva do
Direito natural, é compreensível a concepção legalista ou exegético do positivismo
reinante em França durante o século XIX 64.
5.5. Neopositivismo
6.1. Conceito
64
Sobre as concepções do Direito positivo, vide A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do
Direito, pp. 113 ss;
65
Idem, p. 113 ss.
66
A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pág. 36.
21
Nessa esteira, impõe-se ainda esclarecer os casos em que o sujeito de direito tem
o poder de exigir e os casos em que dispõe, simplesmente, da faculdade de pretender.
67
A maior parte dos autores preferem designar a questão por modalidades do Direito Subjectivo;
é neste sentido, em que Menezes Cordeiro, confronta os chamados direitos comuns dos direitos
potestativos. In Tratado de Direito Civil Português, I, Tomo I 3ª Edição, 2011, Almedina, pp. 335.
68
Ibidem, p. 46.
69
Alude-se os casos das obrigações naturais artigos 402.º e 403.º do CC. Ibidem, p. 46.
70
Ana Raquel Coxo/ Miguel Teixeira Camelo, Manual de Teoria Geral do Direito Civil, Polis
Editores, Luanda, 2016, pp. 204 ss; “consoante o efeito jurídico que tendem a produzir, os direitos
potestativos podem ser: constitutivos – cria-se uma nova relação jurídica (1550 CC). Modificativos –
modifica-se uma relação jurídica pré existente. E, extintivo – extingue-se uma relação jurídica anterior. A.
Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 46 – 47.
22
6.1.3. Classificação 72
“Os direitos subjectivos não esgotam o rol das situações jurídicas activas, isto é,
das situações que coloquem determinados efeitos na pendência da vontade do próprio
sujeito a quem elas assistam (…)” 73.
71
Ana Raquel Coxo/ Miguel Teixeira Camelo, Manual de Teoria Geral do Direito Civil, op. cit.
pp. 204 ss;
72
Sobre a classificação dos direitos subjectivos vide entre outros, Menezes Cordeiro, confronta
os chamados direitos comuns dos direitos potestativos. In Tratado de Direito Civil Português, op. cit. ,
pp. 335 ss; A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 46 – 47 e Ana Raquel Coxo/
Miguel Teixeira Camelo, Manual de Teoria Geral do Direito Civil, op. cit. pp. 204 ss.
73
Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil Português, op. cit. pp. 343 ss.
23
Nessa linha, a doutrina costuma apontar as seguintes figuras (que são afins ao
Direito subjectivo): expectativas, faculdades, poderes, poderes – deveres e os ónus 74.
8.Norma jurídica
8.1.Noção e estrutura
8.2.Características e classificação
9. Estado e o Direito
Assim, por um lado, há sectores da doutrina que associam esta com a Idade
Moderna, descurando para o efeito a antiguidade clássica e a Idade Média. pois,´´a
polis ateniense traduzida impropriamente por cidade –Estado, na verdade não foi senão
uma cidade - comunidade .Isto é, uma cidade sem Estado, onde a dimensão política do
homem consistia em viver na polis, uma pequena comunidade que vivia em koinomia
(...)``. Alude-se, ainda, que a instituição Estado, enquanto sociedade politicamente
organizada, é um produto recente legitimado pelo renascimento cuja formação e
generalização afiguram-se como fruto de uma longa evolução que começou no século
XVI e só ficou concluído no século XVIII 76.
74
A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 61 ss.
75
Ibidem, pp. 139 ss.
76
Paulino Lukamba, Direito Internacional Público, op. cit. pp. 102 ss; também, A. Santos Justo,
Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 85 ss.
24
Por outro lado, há vozes, na doutrina, que não alinham a perspectiva enunciada –
a despeito da respectiva manifestação revestir-se implicitamente. Assim, no quadro
desta segunda perspectiva, aflora-se que a sociedade politicamente organizada, Estado,
``é, na sua essência, igual à que existiu antigamente, embora com nomes diversos, mas
no fundo representando todas as sociedades políticas que, com autoridade superior,
fixaram as regras de convivência de seus membros``77.
79
Ora, já o chamado Estado Romano reunia várias características acessíveis aos
actuais Estados, dentre as quais podemos apontar as seguintes: “Passagem da pequena à
grande dimensão territorial; primeira noção de um poder político uno, pleno e forte
(imperium, potestas, magestas); evolução característica das formas de governo (da
monarquia à república, e desta ao império), extensão da cidadania a todos os habitantes
do império...inicio da problemática das relações entre a Igreja e o Estado (...)”.
Assim, impõe-se clarificar a nossa posição nos seguintes termos: houve em sede
da Antiguidade Clássica e da Idade Média sociedades politicamente organizadas, que
reuniam, em termos gerais, características mensuráveis aos modelos de Estado
concebidos na Idade Moderna – Estado oriental, Estado romano e, genericamente, o
designado Estado medieval 80.
80
Sobre a tese da existência da figura do Estado na Idade Média, por contraposição ao Professor
Jorge Miranda, vide por todos idem, pp. 59 ss.
81
In Direito Constitucional de Angola, FDUA, Luanda, Lisboa, 2014, p. 133.
82
Paulino Lukamba, Direito Internacional Público, op. cit. p. 103.
83
Sobre a atribuição da expressão Estado à Maquiavel, a doutrina, que aborda a questão, é vasta,
vide José Carlos Toseti Barruffini, Direito Constitucional I, op. cit. pp. 1 ss.; Raul Carlos Vasques
Araújo, Introdução ao Direito Constitucional, op. cit. pp. 85 ss.; Jorge Bacelar Gouveia, Direito
Constitucional de Angola, op. cit, pp. 129 ss.; Paulino Lukamba, Direito Internacional Público, op. cit.
pp. 102 ss; A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 85 ss; Diogo Freitas do Amaral,
História das Ideias Políticas, Volume I, op. cit. pp. 197 ss.
26
Curioso, ainda, é perceber como terá evoluído o conceito de Estado moderno 84.
84
Sobre a noção de Estado Moderno vide Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito
Administrativo, op. cit. pp. 62 ss.
85
Idem, p. 62.
86
Vide, Paulino Lukamba, Direito Internacional Público, op. cit. pp. 104 -105; Diogo Freitas do
Amaral, História das Ideias Políticas, Volume I, op. cit. pp. 351 ss.
27
via de uma delegação de poderes e não por alienação que deve-se a formação do Estado
87
.
ROUSSEAU, na sua celebre obra O Contrato Social (Du Contrat Social), apesar
de alinhar com HOBBES e LOCKE, quanto a precedência do estado da natureza ao
estado social demarca-se da aqueles, pois sustenta, no essencial, que o homem no estado
de natureza era feliz, livre, bom selvagem, fazia o que queria e tudo lhe corria bem (...);
mas em virtude da civilização, ou seja, por causa da invenção da agricultura e da
metalurgia deu-se azo a prevalência das desigualdades entre os homens, conflitos,
paixões e agressividade. E, os homens, que eram bons em sede do estado de natureza
tornaram-se egoísta, ambiciosos e maus.
Por conseguinte, “o homem, que é um animal racional, conclui que não pode
continuar a viver assim. Em vez de se combaterem e de se destruírem, os homens
decidem associar-se uns aos outros. Nasce o Estado, através do contrato social”88.
A nossa resposta, ainda, não pode ser afirmativa, pois o modelo de Estado que
89
persiste , hodiernamente, deve reunir, no essencial, traços característicos dos
protótipos de Estados existentes entre os séculos XVI à XX. E, os dados expostos
reflectem, apenas, a concepção de Estado até ao século XVIII; por conseguinte, deve-se
incluir traços subjacentes à Idade Contemporânea – esta fase inclui, em termos gerais,
os iluministas já referidos, as revoluções Americana e a Revolução Francesa, e, não
menos importante, o debate sobre o socialismo 90.
87
Conferir em Diogo Freitas do Amaral, História das Ideias Políticas, Volume II,
Almedina,1997 pp. 13 ss.
88
Idem, p. 62.
89
Pelo menos, na maioria dos Estados ocidentais ou de civilização ocidental.
90
Relativamente ao Estudo do socialismo, Diogo Freitas do Amaral, História das Ideias
Políticas, Volume II, Almedina,1997 pp. 117 ss.
28
- Actos legislativos da Assembleia Nacional, nos termos dos artigos 160.º a);
161.º b), c (…); 164.º; 165.º ; 166.º (...) CRA;
- Actos legislativos do Presidente da República, nos termos dos artigos 120.º e),
f), g), h), e i); 125.º e 165.º da CRA.
91
In, Direito Constitucional de Angola, Luanda/Lisboa, 2014, pp. 450 ss.
92
Ibidem, pp.450 ss; Marcy Lopes, A Sindicância Constitucional dos Actos Políticos, Almedina,
2016, pp. 159 ss.
29
foi concebido no plano político, bem como, executar e dar cumprimento as leis em
vigor.
94
Numa perspectiva pedagogicamente correcta, Diogo Freitas do Amaral ,
confronta a função administrava das outras funções do Estado:
93
Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, 3º Edição, Volume I, Almedina, 2006 pp.
44 ss.
94
In Curso de Direito Administrativo, 3º Edição, Volume I, Almedina, 2006 págs. 44 ss.
30
Estas duas funções do Estado têm inúmeros traços em comum, mas o que há de
interessante nesta sede, é o examine residente em distinguir os pontos que as
dissemelham.
A justiça tem por objectivo aplicar o direito aos casos concretos; ao passo que a
administração pública visa prosseguir interesses gerais da colectividade.
A justiça está acima dos interesses, é desinteressada, não é parte nos conflitos
que decide; ao passo que a administração pública defende e prossegue os interesses a
seu cargo, é interessada.
95
O Presidente da República e os Deputados a Assembleia Nacional são eleitos por sufrágios
universal, directo, secreto e periódico, nos termos da Constituição e da lei, Artigo 106º. CRA; o
Presidente da República é o chefe de Estado – materialização da função política, o titular do poder
executivo e Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas ( ambas concretizam a função
administrativa )vide artigo 108.º CRA; o PR, exerce o poder executivo, auxiliado por um Vice-Presidente,
Ministros de Estado e Ministros ( função administrativa ), vide nº2 do artigo 108º.CRA; ainda sobre as
função política, vide , as competências do PR, artigo 119.º , 121.º, 122.º, 123.º, 124.º. Relativamente, a
função administrava, vide essencialmente, o artigo 120.º da CRA.
96
Idem, págs. 44 ss.
31
Por último, cumpre salientar que a administração pública é exercida por órgãos e
agentes devidamente hierarquizados; ao passo que a justiça é exercida por juízes e
tribunais independentes (entre nós, artigo 179.º C.R.A ).
9. Símbolos do Estado 97
10.Conceito
97
Vide artigo 18.º da CRA.
98
José Alberto Viera, Direitos Reais de Angola, Coimbra Editora, Coimbra, 2013, pp. 13 ss.
32
alargamento das fontes: os testos tornavam-se infindáveis, sendo lenta e morosa a sua
apreensão 99.
99
Uma resposta para tal situação foi encontrada pelos humanistas – século XVI – e,
principalmente, pelo humanista francês (…). António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil
Português, I, Parte I, Tomo I, 3.ª Edição, Almedina, 2011, pp. 68 ss.
100
“Desapegado da realidade prática do Direito, o jusracionalismo postula a elaboração integral
de um novo sistema jurídico a partir das novas ideias. O jusracionalismo só vingou numa escala muito
moderada (…)”. José Alberto Viera, Direitos Reais de Angola, op. cit. pp. 13 ss.
101
“ Dando, como exemplo, certas leis, DESCARTES explica, no que agora nos interessa, a
superioridade do conhecimento unitário que, desenvolvido a partir de uma base bem determinada, seria
conduzido por um só critério. Transcrevemos Menezes Cordeiro, in Tratado de Direito Civil Português,
I, Parte I, Tomo I, 3.ª Edição, Almedina, 2011, pp.70 ss.
33
Interessante é também a posição de José Alberto Viera, ao ensinar que “no plano
do alcance do sistema jurídico, reconhece-se a insuficiência do mesmo não apenas para
prever mas também para resolver todas as situações da vida carenciadas de solução
jurídica, ou seja, que o sistema não é pleno, comporta lacunas e que não faculta uma
resposta para todas elas”107.
105
Este sistema é ojectivo na medida em que existe nas fontes de Direito e é portador das
normas jurídicas reguladoras das relações sociais de dada comunidade jurídica. Ibidem, p. 15.
106
A este sistema camamos sistema científico, por a sua actividade ser levada a cabo segundo
cânones científicos. Ibidem, p. 15.
107
“Por fim, o sistema é aberto. Quer a regulação normativa do sistema interno quer o sistema
científico ou externo trazem apenas dados provisórios, nunca imutáveis ou definitivos. As fontes de
Direito modificam-se, mesmo quando não são mexidas pelo legislador, e a ciência jurídica aporta
constantemente novos conhecimentos, num movimento dialéctico incessante no sentido da evolução do
Direito”. in Direitos Reais de Angola, Coimbra Editora, Coimbra, 2013, pp. 20 ss.
108
In Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 231 ss.
35
11.Ramos do Direito
109
Quanto a nós, somos de opinião que a dogmática não integra em rigor o sistema jurídico.
110
“estes três elementos relacionam-se numa unidade intrínseca que constitui o sistema
jurídico(...). Ibidem, pp. 232 – 233.
111
Rui Gomes da Silva/ Miguel Medina Silva, Teoria Gera do Direito Civil, Noções
Elementares, Âncora Editora, Lisboa, 2010, pp. 13 ss.
36
O critério em exame, por maioria de razão, não tem sido aplaudido pela doutrina.
Pois as normas jurídicas prosseguem simultaneamente interesses públicos e privados 113.
Nos termos deste critério, a distinção entre o Direito Público e Direito Privado
assenta no reconhecimento de que, em determinadas relações, as partes se encontram
112
Carlos Alberto B. Burity da Silva, Teoria Geral do Direito Civil, 2ª Edição, UAN, Luanda,
pp. 20 ss.
113
Com profundidade vide ibidem, pp. 21 ss; também, A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do
Direito, op. cit. pp. 231 ss.
114
Sobre os inconvenientes da predominância dos interesses vide ibidem, p. 236; também, Carlos
Alberto B. Burity da Silva, Teoria Geral do Direito Civil, pp. 22 - 23.
37
numa situação de desigualdade jurídica – poderes de autoridade que só uma das partes
possui. Pois, pertencem ao Direito público as normas jurídicas que disciplinam as
relações de subordinação; ao Direito privado cumpre disciplinar as relações jurídicas em
que os sujeitos se encontram numa posição de paridade.
Este critério tem merecido aplausos de grande relevo na doutrina. Porém, não o
perfilhamos pois, quanto nós, está vestido de alguns vícios. Pensa-se Nos casosem o
Direito público regula relações entre entidades numa relação de equivalência ou
igualdade – autarquias locais 115.
115
Sobre os argumentos de defesa deste critério vide A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do
Direito, op. cit. pp. 237 ss; no mesmo plano, vide Rui Gomes da Silva/ Miguel Medina Silva, Teoria
Gera do Direito Civil, Noções Elementares, op. cit. pp. 16 ss.
116
Carlos Alberto B. Burity da Silva, Teoria Geral do Direito Civil, pp. 24 ss.
38
Summo rigore, não tem havido uniformidade entre os estudiosos desta parcela
do Direito, no que tange a definição de Direito Internacional.
117
A arrumação apresentada é meramente exemplificativa.
118
Idem, pág. 26.
119
Nesta direcção, vide Jorge Miranda, Curso de Direito Internacional Público, 5ª Edição,
Principia, 2012, págs. 20 ss.
120
André Gonçalves Pereira /Fausto Quadros, Manual de Direito Internacional Público, op. cit.
págs. 28 ss; também, Jorge Bacelar Gouveia, Manual de Direito Internacional Público, 3ª Edição,
Almedina, 2012, págs. 30 ss.
39
“Mas este é também um critério com insuficiências: além de haver matérias não
internacionalizáveis, põe-se o problema prático – nalguns casos, intransponível – de
saber por onde passa a linha divisória que separaria, de harmonia com esse critério, o
Direito Internacional do Direito Interno” 122.
Apesar do mérito desta posição, somos de opinião que um critério assente nas
fontes de Direito Internacional deixa de fora elementos matérias que não podem ser
ignorados a favor dos componentes formais 124.
121
“Este critério, que foi desenvolvido por LE FUR, não teve, porém, nem aceitação doutrinária
nem utilização pelos tribunais internacionais. O Tribunal Permanente de Justiça Internacional, ao
pronunciar-se sobre a questão dos decretos tunisinos e marroquinos, no seu parecer de 7 de Fevereiro de
1923, reconheceu a impossibilidade de se encontrar uma fronteira nítida e definitiva entre as questões da
competência nacional e aquelas que interessam à Comunidade Internacional”. André Gonçalves Pereira
/Fausto Quadros, Manual de Direito Internacional Público, op. cit. págs. 28 ss
122
Transcrevemos, Jorge Bacelar Gouveia, Manual de Direito Internacional Público, op. cit.
págs. 30 ss.
123
André Gonçalves Pereira /Fausto Quadros, Manual de Direito Internacional Público, op. cit.
págs. 30 ss.
124
Para justificar o mérito desta posição os autores enunciados, trazem sobre a mesa a figura da
Comunidade Internacional, todavia os argumentos ali expostos, não são convincentes para mudarmos a
nossa posição. Idem, pág. 31 ss.
40
- O Direito Constitucional
128
Segundo Bacelar Gouveia , “a expressão constitucional surgiu em França e na
Itália, aquando da elaboração dos primeiros manuais que, nos respectivos contextos de
125
In Manual de Direito Internacional Público, 3ª Edição, Almedina, 2012, págs. 34-35.
126
Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, FDUA, Luanda, Lisboa, 2014,
págs.23 ss; Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo I, 9.ª Edição, Coimbra Editora, 2011,
pp. 11 ss; Maria Manuela Magalhães Silva/ Dora Resende Alves, Noções de Direito Constitucional e
Ciência Política, Rei dos Livros, Porto, 2011, pp. 11 ss.
127
Alexandre de Moraes, Direito Constitucional, Atlas Editora, São Paulo, 2003, pp. 29 ss.
128
In Direito Constitucional de Angola, FDUA, 2014, Luanda, Lisboa, 2014, pág. 24.
41
- O Direito Administrativo
129
Raul Carlos Vasques Araújo, Introdução ao Direito Constitucional Angolano, CEDP/ UAN,
2018, pp. 25 ss.
130
Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, I, pp. 12 ss.
131
In Direito Administrativo Brasileiro, S. Paulo: Malheiros Editores, 2014, p. 40.
42
Da nossa parte, manifestamos o nosso acordo a esta última, com reserva de que é
necessário ressaltar a expressão “ramo de Direito Público” 136.
132
In Direito Administrativo, Coimbra: Almedina, 1981, p. 25.
133
In Manual de Direito Administrativo, Coimbra: Almedina, 2010, I vol. p. 43
134
In Curso de Direito Administrativo, Coimbra: Almedina, 2012, I vol. p. 140; também, A.
Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 245 ss.
135
In Direito Administrativo, Luanda: Mayamba Editora, 2013, p.26.
136
Relativamente a posição do Professor Freitas do Amaral, gostávamos ver incluída de forma
expressa a expressão “ controlo da administração “ pelo que parece o faz implicitamente na sua definição.
In Curso de Direito Administrativo, Coimbra: Almedina, 2012, I vol. p. 140.
43
137
Ibidem, p. 140.
138
FEIJÓ, Carlos, PACA, Cremildo – Direito Administrativo, op. cit. p.30.
139
AMARAL, Diogo Freitas do – Curso de Direito Administrativo, op. cit. p. 139.
140
Por todos: ibidem, pp. 141 ss.
141
Caetano, Marcelo – Princípios Fundamentais do Direito Administrativo, Rio de Janeiro:
Almedina, 1977, pp. 18 ss.
44
parece ser pacífico mas avocar um regime distinto para um e outro é em nosso entender motivo de debate.
147
FEIJÓ, Carlos, PACA, Cremildo – Direito Administrativo, op. cit. pp.29 - 30; AMARAL,
Diogo Freitas do – Curso de Direito Administrativo, op. cit. pp. 139.142 ss.
46
Cumpre ressaltar que essas normas nem sempre foram consideradas como
normas jurídicas, houve tempo em que estas eram entendidas como simples normas
internas sem qualquer efeito jurídico externo. Assim, as normas orgânicas seriam
simplesmente normas internas dirigidas a organizar da melhor forma a estrutura da
Administração, mas com as quais os particulares não podiam beneficiar nem ser
prejudicados. “Hoje não é assim: as normas orgânicas são normas jurídicas e têm
eficácia externa, pelo que interessam (e muito) aos particulares”148.
“Há uma tendência moderna para equacionar estes prolemas de organização em
termos que suplantam, e muito, os simples aspectos internos de uma qualquer técnica
organizativa, e que colocam directamente questões fundamentais relacionadas com os
direitos e liberdades do cidadão, com os modos de estruturação do Poder e com a
própria concepção do Estado: é toda a problemática da participação dos cidadãos no
149
funcionamento da Administração e da descentralização do Poder” . Trata-se de uma
perspectiva que tem se afirmado inclusive no quadro jurídico – constitucional, pois,
parece –nos ser nessa direção em a Constituição refere “a Administração Pública é
estruturada com base nos princípios da simplificação administrativa, da aproximação
150
dos serviços às populações e da desconcentração e descentralização administrativas ”;
“a lei estabelece as formas e graus de participação dos particulares, da desconcentração
e da descentralização administrativas” 151(…).
2) Normas funcionais – nesta categoria integram aquelas normas que dizem
respeito ao modo de agir específico da Administração Pública, estabelecendo processos
de funcionamento, métodos de trabalho, tramitação a seguir, formalidades a cumprir,
148
Ibidem, p. 143; um exemplo de escola pode facilitar a compreensão: uma lei diz que a licença
de importação de arroz, por hipótese, é da competência do Ministro da Economia, ouvido o parecer do
Banco Nacional de Angola; suponhamos que, em vez de se limitar a dizer que dá parecer negativo àquela
importação, para que depois o Ministro, se assim o entender, recuse a licença, o BNA toma ele a decisão
de recusar a licença, e comunica directamente ao interessado que a sua importação foi recusada por
deliberação deste Banco. Saber se quem deve dar ou recusar as licenças de importação de arroz é o
Ministro da Economia ou é o BNA é uma questão de organização, é um problema de distribuição de
competência entre órgãos, mas tem a maior importância como problema de defesa dos direitos dos
particulares …ibidem, pp. 143 – 144.
149
Ibidem, p. 144.
150
N.º 1 do artigo 199.º da CRA.
151
N.º 2 do artigo 199.º da CRA.
47
152
etc. . Em resumo, podemos realçar que tratam-se de normas cuja natureza é
meramente processual 153.
3) Normas relacionais – são regras e princípios que regulam as relações entre a
Administração e outros sujeitos de direito no desempenho da actividade administrativa
– de gestão pública. Dizem respeito, as normas jurídicas de Direito Público que regulam
as relações estabelecidas entre a Administração Pública e outros entes jurídicos, quer
privados, quer públicos, no exercício da actividade que a lei coloca a seu cargo 154.
Amiúde, na doutrina tem predominado algumas posições destinadas a distinguir
as normas relacionais das outras já afloradas – orgânicas e e funcionais: “ai surgem
verdadeiras relações jurídicas”…155; “relação da administração e os particulares”… 156;
“são as mais importantes”… 157.
Vamos examinar as posições doutrinais mencionadas.
Começando pela ordem que figuramos, temos: “ai surgem verdadeiras relações
jurídicas”…; na esteira desta posição as normas relacionais em contraposto com as
normas orgânicas e funcionais subjazem verdadeiras relações jurídicas na medida em
que ambos os sujeitos – Administração e outra pessoa - estejam submetidos ao Direito e
vinculados entre si em termos de poder – dever. Será esta posição de aceitar sem
refutações? Em nossa opinião, carece de cerradas críticas.
Ora, aplaudir que as normas relações brotam verdadeiras relações jurídicas nos
termos exposto pode induzir – sobretudo os leigos – o interprete e o aplicador das
normas de Direito Administrativo num erro de perspectiva, pois prima facie, deixa a
percepção que as outras normas – orgânicas e funcionais – não são verdadeiras normas
152
FEIJÓ, Carlos, PACA, Cremildo – Direito Administrativo, op. cit. pp.29 - 30; AMARAL,
Diogo Freitas do – Curso de Direito Administrativo, op. cit. pp. 139 ss; também SOUSA, Marcelo
Rebelo de – Lições de Direito Administrativo, Lisboa: Lex, Volume I, 1999, pp. 56 ss.
153
Com maior desenvolvimento, ibidem, pp. 145 – 146; não queremos dizer que as normas de
natureza funcional ou orgânicas não contemplem em muitíssimos casos relações também: “mas estas
relações são orgânicas ou internas, isto, é põem em contacto dois órgãos da mesma pessoa colectiva, ou
órgãos e agentes dela”. CAETANO, Marcello – Manual de Direito Administrativo, op. cit. p. 43.
154
FEIJÓ, Carlos, PACA, Cremildo – Direito Administrativo, op. cit. p. 32.
155
Ibidem, p. 43.
156
SOUSA, Marcelo Rebelo de – Lições de Direito Administrativo, op. cit. p. 57.
157
AMARAL, Diogo Freitas do – Curso de Direito Administrativo, op. cit. p. 147.
48
163
Podemos arrolar no Decreto-Lei 16-A/96, de 15 Dezembro, inter alia, os a rts. 108.º, 119.º.
Por exemplo, o seu n.º1 diz que “o recurso tutelar tem por objectos actos administrativos praticados por
órgãos de pessoas colectivas públicas sujeitas à tutela e superintendência”. Neste sentido, pode aludir-se
ao art. 17.º do Decreto-Lei 9/03, de 28 de Outubro, porquanto, para efeitos de prestação de contas, diz
“anualmente, com referência a 31 de Dezembro de cada ano, serão submetidos aos órgãos competentes do
Ministério das Finanças, com conhecimento entidade tutela, o relatório anual de actividades, a conta anual
de gerência …”. Ibidem, pp. 29 ss.
164
Ibidem, p. 31.
165
Ibidem, pp. 31 - 32.
50
Por actos de gestão pública - actividade de gestão pública - quer-se referir uma
série de actos praticados pela administração sob égide do Direito Administrativo. Pois
fica excluído do âmbito deste ramo do Direito – Direito Administrativo – todas as
actividades desenvolvidas pela Administração sob égide do Direito Privado – Direito
Civil, Direito Comercial, Direito do Trabalho, etc 169.
166
Neste sentido, AMARAL, Diogo Freitas do – Curso de Direito Administrativo, op. cit. p.
147.
167
Na realidade portuguesa, parece não haver dificuldade em incluir o Tribunal de Contas na
estrutura da Administração Pública, como salienta Freitas do Amaral, “ o Tribunal de contas é um órgão
fundamental da Administração Pública no nosso País…”. In Curso de Direito Administrativo, op. cit.
p. 297. Entre nós, parece haver um rumo distinto vide Araújo, Raúl Carlos Vasques,Introdução ao
Direito Constitucional Angolano, Luanda: CEDP/UAN, 2018, pp. 271 ss.
168
Supra n.º 11.2.2.
169
AMARAL, Diogo Freitas do – Curso de Direito Administrativo, op. cit. pp. 149 - 151.
51
- O Direito Penal
170
“São actos de gestão privada os que se compreendem numa actividade em que a pessoa
colectiva, despida do poder público, se encontra e actua numa posição de paridade com os particulares a
que os respeitam e, portanto, nas mesmas condições e no mesmo regime em que poderia proceder um
particular, com submissão às normas de direito privado”. Ibidem, p. 150.
171
Ibidem, p. 151.
172
Com profundidade, António Francisco Sousa, Manual de Direito Administrativo Angolano,
op. cit. pp. 73 - 74.
173
A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 249 ss.
52
12. Noção
Ab initio, cumpre salientar que, a palavra fonte provém do latim, fons, fontis e
significa nascente de água. No âmbito da Ciência jurídica é empregada como metáfora,
inquirir sobre a fonte de uma regra jurídica – buscar o ponto pelo qual sai das
profundidades da vida social para aparecer na superfície do Direito 175.
O tema em apreço, fontes do Direito, não obstante ter perdurado ao longo dos
176
séculos, ainda, é hodiernamente objecto de muitas divergências . Põe-se em liça a
questão de saber, qual é o sentido com que se emprega a expressão sub judice – a
inquestionável verdade centra-se no facto de em sede da literatura jurídica, a expressão
ser usada numa multiplicidade de sentidos.
174
Com profundidade vide A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 260 ss.
175
Paulo Nader, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 148 ss.
176
Rigorosamente, não se sabe ao certo quem dentre os juristas mais conceituados quem dedicou
atenção ao respectivo estudo, contudo, a doutrina costuma apontar CÍCERO e num plano mais recente,
TITO LÍVIO. Sobre o assunto Vide A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 187 ss;
Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, op. cit. pp. 492 ss.
53
177
Assim, o Professor Burity da Silva , na esteira de Oliveira Ascensão, elenca
178
uma diversidade de sentidos, designadamente: sentido histórico , sentido instrumental
179 180
, sentido orgânico , sentido material ou sociológico181 e o sentido técnico jurídico
ou dogmático 182.
177
In Teoria Geral do Direito Civil, op. cit. pp. 31 ss.
178
Diz respeito as origens históricas de um dado sistema jurídico. Assim, é legítimo afirmar que
o Direito português é fonte do Direito angolano. Ibidem, p. 32.
179
Fala-se aqui de fontes de conhecimento, referentes aos textos onde se encontram as normas
jurídicas. Trata-se dos documentos que contêm os preceitos, daí a designação fontes cognoscendi (…).A.
Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 187 ss; Carlos Alberto Burity da Silva, Teoria
Geral do Direito Civil, op. cit. pp. 32 - 33.
180
Subjaz aos órgãos ou entidades com legitimidade para criarem Direito, entre nós, Assembleia
Nacional e o Presidente da República (…).Ibidem, p. 33.
181
“ São fontes do Direito os interesses, factores ou condicionamentos de ordem social que
determinam a produção e o conteúdo das prescrições jurídicas”(…). Ibidem, p. 34.
182
“São os modos de formação e de revelação das normas jurídicas” (…).Ibidem, p. 33.
183
Ibidem, p. 32.
184
A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 187 ss; Carlos Alberto Burity da
Silva, Teoria Geral do Direito Civil, op. cit. pp. 32 - 33.
185
Ibidem, p. 33.
54
186
Ibidem, p. 34.
187
Ibidem, p. 33.
188
As fontes históricas do Direito indicam à origem das modernas instituições jurídicas - a
época, local e as razões que ocasionaram a sua constituição. Paulo Nader, Introdução ao Estudo do
Direito, op. cit. p. 149.
189
“O Direito não é um produto arbitrário da vontade do legislador, mas uma criação que se lastreia
no querer social”. Ibidem, p. 150.
190
Dizem respeito aos meios de expressão do Direito, as formas pelas quais as normas jurídicas se
tornam conhecidas. Ibidem, p. 150.
191
Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, op. cit. pp. 493 ss.; também, Carlos
Alberto Burity da Silva, Teoria Geral do Direito Civil, op. cit. 34.
55
princípios jurídicos. As outras, as fontes materiais e mediatas, são tidas como relevantes
apenas no plano político, social, cultural e psicológico, mas que não incidem ao nível da
criação do Direito 192.
Com base nessa ordem, a doutrina costuma apresentar várias propostas para
193
estruturar as fontes do Direito, contrapondo - as em: imediatas e mediatas , Formais e
não formais194 e voluntárias e não voluntárias.
192
Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, op. cit. pp. 492 ss.
193
As fontes imediatas traduzem-se em disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais
competentes. As fontes mediatas a despeito de conterem mecanismos de revelação das normas jurídicas
servem somente para influenciar as fontes imediatas. Ibidem, pp. 493 ss; ainda sobre a noção de fontes
imediatas e mediatas vide José Alberto González, Código Civil Anotado, Volume, Quid Juris, 2011, pp.
18 – 19.
194
A distinção entre as fontes formais e as não formais ou matérias assenta no facto de as primeiras
terem que ver com o modo típico de formação e revelação das normas jurídicas ao passo que as
segundam traduzem tão só a ratio legis das respectivas fontes formais.
195
O essencial no quadro da arrumação das fontes do Direito, parece-nos, não incide sobre a
categoria previamente eleita mas sim, no significado que cada uma encerra no panorama da
sistematização da ordem jurídica angolana.
196
Isto não quer dizer que, em termos práticos, a opção por uma ou outra classificação, não faça
deslocar, determinada fonte do Direito, no quadro categórico em que se enquadra consoante ao
agrupamento adoptado. Contudo, o deslocamento de uma, determinada, fonte do Direito de uma órbita
para outra, não modificada o seu significado e a sua importância prática em sede do sistema jurídico em
que se insere.
56
jurisprudência e a doutrina (esta última, com a devida ressalva, já não integra as fontes
do Direito) 197.
Tem sido ponto assente na doutrina que cada ordenamento jurídico tem a
sublime legitimidade de fixar as suas fontes do Direito, porém, na tradição romana –
germânica, de matriz ocidental, em que o nosso sistema jurídico se insere impõe –se a
summa divisio, entre Direito público e o Direito privado.
Jorge Bacelar Gouveia, no quadro das respectivas censuras ao CC, alude que
estruturar as fontes do Direito com base no CC, “é uma maneira totalmente errada de
197
Sobre o tema vide, Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 208 – 211.
198
Tal distinção reveste, capital, importância em sede do Direito Administrativo. Assim, As
primeiras - heterovinculativas - são de cinco tipo : a Constituição; os actos legislativos; os actos
praticados no exercício da função política que, independentemente de terem ou não conteúdo normativo,
produza efeitos sobre a Administrativa pública. O conjunto de decisões dos tribunais – jurisprudência; e a
doutrina – teorias e opiniões formuladas por escrito, pelos teóricos da Ciência do Direito. As segundas -
auto vinculativas - são de dois grupos : os casos de Auto - vinculação unilateral, nesta sede, os mais
nótaveis são os seguintes: o regulamento administrativo; o acto administrativo constitutivo de posições
jurídicas subjectivas; o precedente administrativo, seja resultado de um acto administrativo anterior ou
um mero comportamento factual da administração; as directivas e a promessa. Carlos Feijó, / Cremildo
Paca, Direito Administrativo, op. cit. p. 34 ss.
199
Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, op. cit. pp. 492 ss.
200
Artigo 7.º da CRA.
201
Diogo Freitas do Amaral, Da necessidade de revisão dos artigos 1.º a 13.º do CC, in RFDUNL,
ano 1º, n º 1 de 2000, Lisboa, pp. 9 ss.; Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, op. cit.
pp. 495 ss.
57
ver o problema porque são várias as dúvidas que se detectam no ponto de partida que o
CC pretende fornecer neste domínio”. O conceituado Professor, resume as suas críticas
em três pontos essências:
I.A Lei
O que é a lei?
O homem, enquanto ser vivo rege-se pelas leis da natureza. É nesta perspectiva,
que se pode dizer que o universo está sujeito a leis e que todos os seres possuem as suas
próprias leis. Repara-se que a expressão lei, neste sentido, não está a ser empregue no
seu sentido técnico ou jurídico.
A palavra lei pode, ainda, ser utilizada num sentido jurídico referindo-se ao
conjunto de normas jurídicas que regem uma determinada sociedade, lei como sinónimo
de Direito, porém, mesmo assim a expressão se emprega num sentido amplo, pois
202
In Direito Constitucional de Angola, op. cit. pp. 496 ss.
203
Sobre a dimensão comum do Direito Civil, António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito
Civil Português, op. cit. pp. 55 ss.
58
abarca o sentido de todo acto normativo (mas já não um sentido muito amplo, pois
delimita-se ao jurídico afastando-se de outras ordens normativas).
- os actos constitucionais;
- os actos legislativos;
- os actos políticos;
- os actos administrativos.
Ora bem, em bom rigor a Constituição não é uma lei em sentido restrito ou
técnico. Pois resulta da função constitucional e não da função legislativa, isto é, a
legitimidade que o Estado tem para elaborar e aprovar uma Constituição, lhe subjaz o
exercício do poder constituinte 204.
Refere-se, nesta linha, ao estalão da ordem jurídica que se traduz num “acto de
poder público dotado de supremacia máxima na ordem jurídica estadual, regulando a
organização dos respectivos sistemas social, económico e político” 205.
204
Sobre o poder Constituinte vide J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da
Constituição, op. cit. pp. 73 ss; Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, op. cit. pp. 200
ss; Raúl Vasques Araújo, Introdução ao Direito Constitucional Angolano, pp. 47 ss.
205
Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, op. cit. pp. 165 ss.
59
A fase da iniciativa
A fase da instrução
Tem que ver com um segundo momento, traduz-se na reflexão sobre o sentido
contido na iniciativa, “sendo conveniente e também por vezes necessário obter
informações e opiniões suplementares para melhor legislar” 215.
212
J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, op. cit. pp. 871 ss;
213
A iniciativa legislativa distingue-se dos simples impulsos legislativos: «a decisão positiva do
Tribunal Constitucional de verificação da inconstitucionalidade por omissão; a decisão referendária
vinculativa (…)» . J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, op. cit. pp.
871 ss;
214
Explica-se pelo facto de a iniciativa legislativa ser desencadeada dentro da Assembleia Nacional –
pelos Deputados; ou fora da Assembleia, pelo Presidente da República ou pelos cidadãos. Artigo 167.º n.º
1 – 6.
61
Fase da aprovação
Fase da promulgação
A fase da eficácia
215
Vide Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, op. cit. pp. 165 ss. também,
artigos 178.º e ss da Lei 13/12, de 2 de Maio, Lei Orgânica do Regimento da Assembleia Nacional.
216
Artigos 191.º , 192.º e 196.º da Lei 13/12, de 2 de Maio, Lei Orgânica do Regimento da
Assembleia Nacional.
217
124.º e 228.º n.º 3 da CRA, e o artigo 201.º da Lei 13/12, de 2 de Maio, Lei Orgânica do
Regimento da Assembleia Nacional; a quem prefere a designação fase de controlo para referir-se a
mesma realidade, assim, J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, op. cit.
p. 877.
218
Artigo 125.º n. 1 da CRA; artigos 3º nº 1; 4.º n.º 1 e 2; da Lei n.º 7/14 de 26 de Maio, Lei sobre
da Publicações Oficiais e Formulários dos diplomas Legais; é nesta fase que cumpre destacar a figura da
Vacatio legis, traduz-se no tempo que decorre entre a publicação e a entrada em vigor da lei, considerado
necessário para que a lei possa ser conhecida. A. Santos Justos, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit.
p. 201; também artigo 4.º da Lei n.º 7/14 de 26 de Maio, Lei sobre da Publicações Oficiais e Formulários
dos diplomas Legais.
219
Sobre o tema ibidem, pp. 203 ss; devese ressaltar os as várias modalidades de revogação e
caducidade.
62
220
Sobre as normas corporativas por todos vide José Alberto González, Código Civil Anotado, op.
cit. pp. 17 ss.
221
N.º 2 do artigo 1.º do CC, segunda parte.
222
Artigo 13.º 1 e 2;
223
Joaquim da Silva Cunha / Maria da Assunção do Vale Pereira, Manual de Direito
Internacional Público, op. cit. pp. 89 ss
224
Ibidem, pp. 90.
63
- A teoria dualista; e
- A teoria monista.
225
Jorge Bacelar Gouveia, Manual de Direito Internacional Público, op. cit. pp. 407 ss.
226
Assim, Ibidem, pp. 408.
227
Paulino Lukanba, Direito Internacional Público, op. cit. p. 40.
228
Joaquim da Silva Cunha / Maria da Assunção do Vale Pereira, Manual de Direito
Internacional Público, op. cit. pp. 91 ss.
64
229
Alguns autores não assumem uma posição firme relativamente a esta tese, vide Jorge Bacelar
Gouveia, Manual de Direito Internacional Público, op. cit. págs. 407 e Paulino Lukamba, Direito
Internacional Púbico, 2ª Edição, Escolar Editora, Lobito, 2013, pp. 36-37.
230
Ibidem pp. 91 ss; entre nós o costume é equiparável à lei. Vide artigo 7.º da CRA.
231
“ No Direito Internacional existem normas que têm como destinatários indivíduos e no Direto
interno – dos Estados- a maior parte das normas do Direito público têm por destinatário o próprio
Estado”. Ibidem, p. 93.
232
Ibidem, pp. 93 – 94.
65
233
Jorge Miranda, Curso de Direito Internacional Público, 5ª Edição, Principia, 2012, p. 136; é
curioso trazer ao debate a figura da tese conciliatória, Albino Azevedo Soares, Lições de Direito
Internacional Público, 4ª Edição, Coimbra Editora, 1996, p. 70.
234
Paulino Lukanba, Direito Internacional Público, op. cit. p. 42.
235
Sob duas formas, uma radical – que implica a prevalência absoluta da norma internacional
sobre qualquer norma estadual; e a moderada – que apenas admite em certa medida, reconhecendo que o
Direito interno pode nalguns casos prevalecer ou que nele não deve o Direito internacional interferir.
Jorge Bacelar Gouveia, Manual de Direito Internacional Público, op. cit. p. 412 ss.
236
Ibidem p. 136.
237
Jorge Bacelar Gouveia, Manual de Direito Internacional Público, op. cit. pp. 407
238
Ibidem, pág. 412.
66
“Há matérias que são autêntica reserva de Direito Internacional, enquanto outras
só o não são se a própria ordem jurídica internacional delegar a competência nas ordens
jurídicas internas e, finalmente, a maior parte das matérias são de competência
concorrente entre o legislador interno e o legislador internacional. Estão no primeiro
caso as normas sobre vícios do consentimento, os princípios sobre a aquisição e perda
de território estadual, os princípios sobre interpretação dos tratados, as normas sobre as
condições necessárias para a criação do costume e para a conclusão de tratados, o
princípio pacta sunt servanda” 242.
De acordo com o Professor Jorge Miranda, “poderá dizer-se que a relação entre
normas de Direito interno e normas de Direito Internacional não se reconduz
forçosamente a uma relação de validade; a desconformidade entre lei interna e tratado,
por exemplo, não acarreta invalidade da lei, podendo acarretar simplesmente ineficácia
ou então a responsabilidade internacional dos Estados 243.
239
Jorge Miranda, Curso de Direito Internacional Público, op. cit. p. 136.
240
Jorge Bacelar Gouveia, Manual de Direito Internacional Público, op. cit. p. 407.
241
Albino Azevedo Soares, Lições de Direito Internacional Público, op. cit. p. 70
242
“Nenhuma ordem jurídica interna está apta a modificar unilateralmente estes princípios
constitucionais do Direito Internacional; se o fizer, ao acto ou norma em questão não poderá ser
reconhecido qualquer efeito. Por exemplo, será destituída de todo o efeito jurídico a declaração mediante
a qual um Estado diz ocupar o alto-mar”. Ibidem, p. 71 ss.
243
In Curso de Direito Internacional Público, op. cit. p. 136.
67
respectivas orientações do mesmo modo a valer no Direito Interno, mas a título de fonte
248
interna, e não já a título de fonte internacional . Isto implica, que as normas
internacionais só vigoram na ordem interna se convertidas em normas de Direito
interno.
248
Jorge Bacelar Gouveia, Manual de Direito Internacional Público, op. cit. pp. 416 ss.
249
Paulino Lukanba, Direito Internacional Público, op. cit. págs. 39-40; “ é o chamado sistema
da transformação, que às vezes se exprime pela simples ordem de execução”. André Gonçalves Pereira
/Fausto Quadros, Manual de Direito Internacional Público, op. cit. p.94.
250
Jorge Bacelar Gouveia, Manual de Direito Internacional Público, op. cit. p. 417.
251
Jorge Miranda, Curso de Direito Internacional Público, op. cit. pág. 138.
252
Paulino Lukanba, Direito Internacional Público, op. cit. pág.40.
253
Sobre a relevância do Direito Internacional no Direito de Angola, vide Jorge Bacelar Gouveia,
Manual de Direito Internacional Público, op. cit. págs. 396 ss.
69
Hoc sensu, se atermo-nos aos traços gerais da concepção monista com primado
no Direito Internacional parece ser legítimo concluir que o ordenamento jurídico
angolano, perfilhou esta última – tese monista com primado no Direito Internacional.
Tal como refere Paulino Lukamba, “há Estados como o nosso que acolheram o
sistema monista prevendo normas como o artigo 13.º par.1 da constituição de Angola
segundo o qual «o Direito Internacional Geral ou comum, recebido nos termos da
presente constituição, faz parte integrante da ordem jurídica angolana» que consagra
uma cláusula de incorporação automática do Direito Internacional Geral ou comum” 254.
O n.º 2, do artigo 13.º CRA, vem clarificar que todo acto normativo ou de outra
índole internacional devem necessariamente serem aprovados ou ratificados enquanto
vincularem internacionalmente o Estado angolano 255.
254
In Direito Internacional Público, 2ª Edição, Escolar Editora, Lobito, 2013, págs. 44 ss.
255
“Os tratados e acordos internacionais regularmente aprovados ou ratificados vigoram na
ordem jurídica angolana após a sua publicação oficial e entrada em vigor na ordem jurídica internacional
e enquanto vincularem internacionalmente o Estado angolano”. Nº 2, artigo 13.º da CRA; vide também
artigos 26.º nº2; 121.º c); e 161.º k) e l). todos da CRA.
70
Do nosso ponto de vista, antes de tomar uma posição a respeita desta querela
torna-se imperioso ponderar as seguintes figuras: organizações internacionais – em
particular a ONU; o Estado e o Direito – quer na sua perspectiva interna, quer na
perspectiva internacional.
É necessário ter uma percepção, clara, sobre a noção de cada uma destas figuras,
em termos doutrinais.
Somos de parecer que foi nesta direcção, em que o poder constituinte instituiu a
supremacia das normas internacionais em relação ao Direito interno. Pois, confirma o nº
2 do artigo 26.º da CRA, ao dispor que “ os preceitos constitucionais e legais relativos
aos direitos fundamentais devem ser interpretados e integrados de harmonia com a
declaração Universal dos Direitos do Homem, a Carta Africana dos Direitos do Homem
e dos Povos e os tratados internacionais sobre a matéria, ratificados pela República de
Angola.
256
Está subjacente uma relação institucional – entre órgãos, não podemos falar de superior
hierárquico ou inferior hierárquico.
257
Mas a relação de coordenação é sobretudo institucional ou administrativa.
258
Rigorosamente, os actos normativos em apreço não se apresentam como fontes de Direito, mas
merecem a designação de actos normativos em sentido lato.
71
IV. Jurisprudência
Porém, nem sempre é assim, “pode haver casos em que a jurisprudência surge
equacionada no contexto de uma específica fonte de Direito, ao transcender os limites
de cada caso concreto e individual e, assim erigindo-se a orientação geral” 262.
259
Artigo 125.º CRA; artigo 3.º da Lei n.º 2/ 10 de 25 de Março , Lei sobre da Publicação e
Formulários dos diplomas Legais.
260
A. Santos Justos, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 206 ss; José Alberto González,
Código Civil Anotado, op. cit. p. 18.
261
“Os juízes são independentes no exercício das suas funções e apenas devem obediência à
Constituição e a lei”. N.º 1 do artigo 179.º da CRA. Nesta perspectiva, a jurisprudência não é fonte do
Direito. Pois os tribunais superiores não têm de julgar como o fizeram juízes de tribunais inferiores; os
juízes não têm de julgar como o fizeram já os juízes do mesmo nível hierárquico; os juízes não têm de
julgar consoante eles próprios já fizeram; os órgãos judicias inferiores não têm de julgar conforme o
fizeram já tribunais superiores (. ..) Carlos Alberto Burity da Silva, Teoria Geral do Direito Civil, op. cit.
p. 53.
262
Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, op. cit. p. 515.
72
263
É nos termos expostos, em que sobressai o instituto do assento , tal como
estabelece o artigo 2.º do CC. “ nos casos declarados na lei, podem os tribunais fixar,
por meio de assentos, doutrina com força obrigatória geral” 264.
V. A DOUTRINA265
O COSTUME
263
Em Portugal, depois da eliminação dos assentos, somente são fontes do direito os acórdãos do
Tribunal Constitucional que declaram a inconstitucionalidade ou ilegalidade de normas e os acórdãos dos
tribunais administrativos que declaram, com força obrigatória geral, a ilegalidade de regras
administrativas. Quanto a nós impõe –se um exame cerrado a fim de examinar se fa sentido a
manutenção dos assentos como fontes do Direito; e aferir-se a natureza das decisões de
inconstitucionalidade do tribunal constitucional (…). A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito,
op cit. pp. 206 – 208.
264
Sobre a materialização deste poder normativo geral vide artigos 668.º , 669; artigo 763 n.º 1 e 2;
também, Carlos Alberto Burity da Silva, Teoria Geral do Direito Civil, op. cit. pp. 53 ss.
265
No quadro da doutrina maioritária a doutrina já não é tida como fonte de Direito, porém algumas
vozes de grande relevância no estudo do Direito defendem a manutenção desta como fonte de Direito.
sobre o assunto, vide A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op cit. pp. 208 ss; Carlos Alberto
Burity da Silva, Teoria Geral do Direito Civil, op. cit. pp. 57 ss.
266
Diogo Freitas do Amaral, Manual de Introdução ao Direito, Volume I, pp. 427 ss.
73
Os usos
267
Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, op. cit. pp. 510 ss. É de tudo
conveniente afastar o costume das figuras afins: “os usos – são práticas continuadas, mas que não
dispõem de qualquer valor jurídico normativo; as tradições – são comportamentos habituais, em
correspondência das feições históricas – culturais; as praxes – são comportamentos rotineiros,
desprovidos de juridicidade, ainda que possam beneficiar a eficiência dos serviços da Administração
Pública; as cortesias – são hábitos de ao e simpática convivência humana, com vinculatividade.
normativa, mas no âmbito da Ordem de Civilidade, não no foro daa Ordem Jurídica”. Ibidem, pp. 515 ss;
entre nós vide artigo 7.º da CRA, reconhecendo efectivamente o costume como fonte de Direito, no
ordenamento jurídico angolano.
268
Apoiando-se em Baptista Machado, A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op cit. pp.
208 ss; o CC, consagra de forma dispersa alguns princípios desta índole: artigos 9.º , 10.º; ss. de resto a
CRA, não é alheia a esta perspectiva, vide artigos 1.º e 2.º .
74
A equidade
Em rigor, a equidade não se traduz numa fonte do Direito, pois não se traduz,
nunca, em normatividade objectiva. pode servir como critério de decisão por
afastamento das critérios legais. “Pode acontecer assim por autorização legal ou por
acordo das partes. Mas o acordo das partes só é valido se respeitar a relações
disponíveis, como o são na generalidade das relações patrimoniais” 270.
Essa matéria pode ab initio, revestir alguma complexidade, mas o segredo para a
sua compreensão prende-se numa dupla perspectiva.
269
O uso apenas é fonte de Direito desde que: não contrarie a boa fé; para ele a lei faça remissão
particular (…); por exemplo, os usos da empresa constituem fonte de direito, não podendo, contudo,
prevalecer sobre normas legais de regulamentos do trabalho (…). Sobre essa matéria, vide José Alberto
González, Código Civil Anotado, op. cit. pp. 21 ss; também, artigo 3.º do CC.
270
Carlos Alberto Burity da Silva, Teoria Geral do Direito Civil, op. cit. pp. 57 ss.
271
In Código Civil Anotado, Volume I, op. cit. pp. 22 – 23.
272
Apresentamos uma perspectiva, jurídico administrativa que entendemos revestir alguma
particularidade em sede do referido ramo de Direito, porém, em lições posteriores poderemos adoptar
uma posição mais equilibrada à diversidade dos ramos do Direito.
273
Vide Os artigos 125.º,126.º e 165.º todos da CRA.
75
a) A Constituição;
b) Os tratados internacionais;
c) A lei e o costume (em paridade);
d) Os regulamentos administrativos;
e) As normas profissionais e as normas técnicas.
c) - Constituição;
274
In Curso de Direito Administrativo, op. cit. pp. 65 ss.
275
Os princípios fundamentais de direito, transcendem o direito positivo e são válidos de per si
num Estado de Direito porque representam postulações eliciadas da própria ideia de direito. Estes,
vigoram na ordem jurídica, independentemente de serem albergados na Constituição ou na lei. JUSTO, A.
Santos - Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 190 ss.
276
N.º 2 do 26.º da CRA; a expressão chave no preceito enunciado parece-nos ser esta: “ser
interpretados e integrados de harmonia e ratificados”(...). Também, o artigo 6.º da CRA.
277
Vide nessa perspectiva GOUVEIA, Jorge Bacelar - Direito Constitucional de Angola, op.cit.
p. 525.
278
Esta questão ( ao nosso ver ) não tem uma resposta directa na CRA, apesar de admitir-se que
os artigos 6.º e 23.º da carta magna em referência, tocarem no assunto implicitamente. Por essa razão
preferimos remeter - com intuito de uma compreensão exaustiva sobre a matéria - à doutrina; maxime,
76
CAPÍTULO V – OS CÓDIGOS
33.Noção de código
9.Interpretação
9.1.Noção
281
Paulo Nader, Introdução ao Estudo do Direito, 36.ª Edição, Forense, Rio de Janeiro, 2014, pp.
213 ss.
idem, pp. 214.
282
Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil Português, I, Tomo I, op. cit. pp. 149 ss; também,
283
A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 323 ss.
78
9.2. Modalidades
Apegando - nos a doutrina mais autorizada, ao nosso ver, sobre a matéria, sub
judice, existem dois tipos de interpretação: a interpretação autêntica e a interpretação
doutrinária 284.
9.3.1.Interpretação autêntica
competência relativa da Assembleia Nacional, isto é, as matérias cujo regime subjaz aos
direitos, económicos, sociais e culturais, nos termos gerais dos artigos 28.° n.2, 76. ° a
88. ° e 165. ° todos da CRA. Assim, por exemplo, pode acontecer que em determinado
momento a Assembleia Nacional aprove, em sede da sua competência relativa, uma lei
que, a posteri no plano prático, se manifeste imprecisa ou pouco clara e, por essa razão,
susceptível de despontar dúvidas, mas ao invés de ser esta última a proceder o devido
esclarecimento, técnico jurídico, é ao Presidente da República, com o mesmo
fundamento legal, a quem venha incidir a responsabilidade para clarificar o diploma ou
os preceitos, menos claro, do respectivo diploma. Por conseguinte, podemos afirmar,
sem receio, que em algumas matérias o órgão que dimana a lei interpretativa além de
posicionar-se no mesmo plano hierarquico em relação ao que emanou a lei interpretada
pode, também, revestir uma natureza distinta no quadro da figura da separação de
poderes – sublinha-se que em sede da lei em sentido amplo o mais notável é um órgão
posicionado num plano superior emanar as leis interpretativas e os outros, os órgãos
inferiores, dimanarem as leis interpretadas.
9. 3. 2. Interpretação doutrinal
A interpretação doutrinal é aquela que é feita por qualquer pessoa, nquer seja
técnico quer seja leigo em matérias jurídicas. Diz respeito a interpretação feita por
qualquer pessoa seja jurisconsulto, juiz, jurista ou executor de um acto administrativo,
em obediência aos preceitos duma metodologia exacta 287.
287
“Compreende, portanto, a interpretação jurisdicional ( feita pelo tribunal no âmbito de um
processo), a interpretação administrativa (a cargo da administração Pública), a interpretação particular e a
interpretação doutrinal (…)” A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 326 ss.
80
I. Elemento Literal
289
Nuno de Sá Gomes, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 261 ss; A. Santos Justo,
Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 326 ss.
81
II.i. Histórico
Assim, para o alcance deste objectivo a doutrina tem apontado três pilares
subsumíveis à constituição do elemento em enunciação, nomeadamente: trabalhos
preparatórios, precedentes normativos e a figura da occasio legis.
290
Vide Galvão Teles, Nuno Sá Gomes, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 261 ss; A.
Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 326 ss.
291
José Alberto González, Código Civil Anotado, op. cit. pp. 29 ss.
82
A lei é um meio para satisfação das necessidades da vida social, razão bastante
para o intérprete sindicar o objectivo social que se pretende atingir. O
I.Interpretação declarativa
292
Sobre os mecanismos de resolução de conflitos ou concurso de normas, Vide Jorge Bacelar
Gouveia, Direito Constitucional de Angola,
293
Vide Nuno Sá Gomes, Introdução ao Estudo de Direito, op. cit. pp. 264 – 265; Santos Justo,
Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 339 ss; José Alberto González, Código Civil Anotado, op.
cit. pp. 29 ss. Adlezio Agostinho, Curso de Constitucional, AAFDLEditora, Lisboa, 2019, pp. 226 ss.
83
Como refere Santos Justos, “assim o vocábulo culpa pode entender-se no sentido
de imprudência ou negligência (mera culpa), ou dolo (sentido restrito) e de
reprovabilidade ou imputação do facto ao agente que envolve a mera culpa e o dolo
(sentido lato)” 294.
294
In Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 340 – 341.
295
“O legislador disse menos do que queria, e por isso, o sentido literal é estendido até coincidir
com o espirito da lei”. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 341 - 342 ss
84
III.Interpretação enunciativa
A interpretação enunciativa ocorre sempre que da lei se retire uma norma que
dela resulta apenas implicitamente 297. Nesta sede, a interpretação, deixa de revestir uma
perspectiva estática para assumir um quadro dinâmico, isto é, vai mais longe e procura
desenvolver o teor dos preceitos legais em todas as suas possíveis rédeas. É neste plano,
por exemplo, que a doutrina costuma referir que “quem tem direito ao mais tem direito
ao menos (…)” 298.
296
José Alberto González, Código Civil Anotado, op. cit. pp. 29 ss.
297
Ibidem, pp. 30 ss.
298
Inocêncio Galvão Telles, Introdução ao Estudo do Direito, ; Santos Justo, Introdução ao
Estudo do Direito, op. cit. pp. 341 - 342 ss; Marcelo Rebelo de Sousa/Sofia Galvão, Introdução ao
Estudo do Direito, Lex Editora, Lisboa 2000, pp. 78 ss.
85
10.Integração
10.1.Preliminares
10.2. Lacuna
Por lacuna entende-se o silêncio legislativo (lato senso) atinente à certa situação
da vida que reivindica solução jurídica. Consiste na falta de uma norma jurídica que
permite resolver uma situação da vida social que exige uma solução jurídica.
A lacuna, propriamente dita, distingue-se de algumas figuras que lhe são afim.
Neste plano, devem ser afastados as chamadas regras ajurídicas (normas religiosas, de
trato social, e outras que apesar de regularem o comportamento do homem na
sociedade, o fazem numa perspectiva não jurídica), as cláusulas gerais e, não menos
299
In Introdução ao Estudo do Direito,
86
300
Assim, por exemplo, não consubstancia uma situação de lacuna o facto de não existir
regulação jurídica para as relações entre padrinhos e afilhados (…). Marcelo Rebelo de Sousa/Sofia
Galvão, Introdução ao Estudo do Direito, op. cit. pp. 78 ss.
301
O operador do Direito exerce uma actividade intelectual a fim de encontrar uma solução
jurídica para uma lacuna.
302
Ibidem, pp. 76 ss.
87
neste caso específico, uma omissão que reclama solução jurídica. A questão da vida,
facto social relevante para o Direito, não encontra acolhimento no ordenamento jurídico
em vigor, seja em relação a letra ou ao espirito. Há, na realidade, uma situação da vida
que reclama solução jurídica, todavia, ao sindicar os preceitos e os princípios
normativos que constituem o ordenamento jurídico, infere-se existir uma omissão em
relação ao facto que se coloca – questão esta, que deverá ser preenchida mediante as
técnicas permissíveis pela ciência jurídica.
Não, o recurso a analogia, “n.º1 do artigo 10.º” não constitui o meio exclusivo
para resolver casos omissos, pois na falta deste, o intérprete – aplicador tem
legitimidade para accionar o pautado no n.º 2 do mesmo preceito – “a situação é
resolvida, segundo a norma que o próprio intérprete criaria se houvesse de legislar
dentro do espirito do sistema”.
50.solução
Bibliografia Básica
89
Justo, A. Santos
Bibliografia complementar
Gomes, Nuno Sá
Otero, Paulo