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FACULDADE ALDEIA DE CARAPICUIBA

SANDRA APARECIDA ACACIO CUNHA

A MÚSICA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA


EDUCAÇÃO INFANTIL

Mauá
2016
FACULDADE ALDEIA DE CARAPICUIBA
SANDRA APARECIDA ACACIO CUNHA

A MÚSICA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA


EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada como exigência do curso


de Pós-Graduação para obtenção do título de
(Especialista em Psicopedagogia Institucional),
sob orientação do Professor Orientador.João
Tomaz de Oliveira.

Mauá
2016

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FACULDADE ALDEIA DE CARAPICUIBA
SANDRA APARECIDA ACACIO CUNHA

A MÚSICA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA


EDUCAÇÃO INFANTIL

APROVADA EM ______/______/______

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________
Prof. COORDENADOR

_______________________________________
Prof. MS
SUPLENTE
3
AGRADECIMENTOS

À Deus, pelo dom da vida e por ter me ungido todos os dias dessa
caminhada. Aos meus pais, que lutaram junto comigo para que este sonho se torna
realidade. Ao meu marido, por ter compreendido minhas ausências.Aos meus
amigos, pelas orações e pensamentos positivos para que eu pudesse alcançar meus
objetivos.
Dedico este trabalho com muito amor, à minha família, e as minhas amigas.

4
“ Ainda que cada nota tem seu tom, somente juntas fazem uma Música ”

André Mansur
5
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de conclusão de curso primeiramente a Deus que
iluminou meus caminhos e não me fez desistir do meu sonho, ao meu marido que
me apóia em tudo na minha vida, se não fosse por ele não teria conseguido concluir
este curso, ao meu filho que soube superar minha ausência com alegria e sabedoria.

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RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo analisar a literatura especializada
contidas em livros, revistas e sites, verificando qual a contribuição a aprendizagem
musical para a educação infantil e foi possível constatar que a música pode se um
instrumento de auxilio no trabalho pedagógico.
Ao respeitar o desenvolvimento da criança, reconhecendo-a com agente de
sua aprendizagem, o trabalho com músicas estimula a imaginação, criatividade,
favorecem o exercício da cooperação.

Palavras-chave: Música, Educação Infantil, Aprendizagem

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ABSTRACT
This study aimed to analyze the literature contained in books, magazines and
websites, checking what contribution learning music for children's education and it
was established that music can be an instrument of aid in pedagogical work.
By respecting the child's development, recognizing it with their learning agent,
working with music stimulates the imagination, creativity, favoring the exercise of
cooperation.

Keywords: Music, Early Childhood Education, Learning

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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - cantiga de roda.................................................................................................................... 17


Figura 2 - Imitando sons....................................................................................................................... 18
Figura 3 - Sons intrauterinos................................................................................................................ 21
Figura 4 - Sensibilidade aos sons......................................................................................................... 23
Figura 5 - Linguagem Musical.............................................................................................................. 33
Figura 7 - Possibilidades musicais....................................................................................................... 37

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 11

1. OBJETIVOS..................................................................................................................................... 13

1.1 OBJETIVO GERAL..................................................................................................................... 13

1.2 OBJETIVO ESPECÍFICO........................................................................................................... 13

1.3 JUSTIFICATIVA......................................................................................................................... 13

1.4 PROBLEMA................................................................................................................................ 14

CAPÍTULO I - MÚSICA: ASPECTOS CONCEITUAIS..........................................................................15

CAPÍTULO II - A MÚSICA COMO RECURSO PEDAGÓGICO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM


............................................................................................................................................................. 20

CAPÍTULO III - DESENVOLVIMENTO MUSICAL................................................................................36

3.1 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES DA CRIANÇA..............................38

3.2 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL E EMOCIONAL DA CRIANÇA.......................39

3.3 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO DA HABILIDADE MOTORA..........................................39

3.4 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO.................................................................40

3.5 JANELAS DE OPORTUNIDADES.............................................................................................41

3.6 A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM...........................................................43

CONCLUSÃO....................................................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS........................................................................................................ 45

ANEXO I - RELATIONS AMONG MUSICAL SKILLS, PHONOLOGICAL PROCESSING, AND EARLY


READING ABILITY IN PRESCHOOL CHILDREN................................................................................47

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INTRODUÇÃO

No presente trabalho analisamos literaturas especializadas em educação


relacionada à importância que a música tem no aprendizado de crianças que estão
na educação infantil.

A música nos traz alegria e tristeza, sensação de vitória, recordações e


saudades. A música é algo que nos toca. Sendo assim, a música possui um papel
fundamental no processo de socialização.

Brito (2003) nos fala que,

“É difícil encontrar alguém que não se relacione com a música [...]: escutando,
cantando, dançando, tocando um instrumento, em diferentes momentos e por
diversas razões. [...] Surpreendemo-nos cantando aquela canção que parece ter
“cola” e que não sai da nossa cabeça e não resistimos a, pelo menos, mexer os
pés, reagindo a um ritmo envolvente [...]”. (Brito, 2003, p31)

Para tanto, não é mero acaso que a música é empregada nos diversos
campos da atuação humana. Ela está presente em filmes, anúncios públicos,
telejornais, desenhos animados, programas eletrônicos e novelas, dentre outros. E
nos mais variados eventos, do baile de carnaval ao velório. A música está nas ruas,
praças, lojas, repartições públicas e privadas, supermercados, academias, escolas,
aeroportos, bares, lanchonetes, restaurantes, consultórios médicos, igrejas, etc.

Diante disso, a escolha do problema de pesquisa foi relacionada ao uso da


música no âmbito educacional, visto que apresenta diversas indagações que
precisam se esclarecidas, após entrar em contato com algumas bibliografias. Neste
contexto, o que a literatura vem trazendo sobre a importância da música na
aprendizagem das crianças na educação infantil passou a ser meu problema de
pesquisa.

O objetivo geral deste trabalho foi analisar a literatura especializada contida


nos sites, livros e revistas científicas verificando qual a contribuição da

11
aprendizagem musical para a educação e o objetivo específico foram identificar
algumas das publicações relacionadas à música.

O trabalho foi organizado apresentando o referencial teórico com base na


pesquisa bibliográfica que segundo Suzuki (2009, p. 38) “tem como finalidade a
busca de explicações para os problemas partindo das referências teóricas que já
foram publicados. Ela é desenvolvida a partir de materiais já elaborados, constituído
principalmente de livros e artigos científicos.

12
1. OBJETIVOS
1.1 OBJETIVO GERAL

Buscando obter elementos significativos para a melhor compreensão da


contribuição da música no processo de aprendizado infantil, o objetivo deste trabalho
é investigar e apontar os benefícios ou outros aspectos que a música proporciona ao
aprendizado na educação infantil.

A partir deste objetivo veremos o que foi, o que está sendo e pode ser feito
através da música com seus métodos e práticas dentro de uma multidisciplinaridade
a serem discutidos. Nos tempos de hoje é necessário a construção de uma
identidade musicalizada para manutenção e aprimoramento da nossa cultura.

1.2 OBJETIVO ESPECÍFICO

Os objetivos específicos é esboçar um pequeno histórico da educação infantil


em relação a presença ou ausência da música na grade de ensino. Pretende-se com
o trabalho mostrar que os ganhos, quando as teorias e práticas educativas estão
associadas a música.

1.3 JUSTIFICATIVA

A justificativa deste trabalho é apresentar aos profissionais da educação


infantil e a outros interessados um resumo de como uma ferramenta tão abrangente
e eficiente pode ser ignorada por profissionais da educação infantil. Como pode a
música sendo tão comum a todos estar ausente na grade de ensino.

Trabalhando como professora na APAE, num período de sete anos no ensino


fundamental, a música foi utilizada inúmeras vezes como ferramenta de ampliação
da eficácia da mensagem educacional aplicada. A utilização da a música, foi
significativamente positiva e proporcionou grandes resultados no ensino.

13
1.4 PROBLEMA

Não são poucos os casos onde o professor encontra dificuldades de


comunicar conteúdos que precisam ser absorvidos e processados que
posteriormente deverão apresentar resultados teóricos e práticos eficazes quanto ao
aprendizado.

Assim entendo que a prática pedagógica da educação infantil deve garantir


que a criança entenda e demonstre este entendimento de forma clara e convicta.
Porque não usar a música para alcançar este ponto?

14
CAPÍTULO I - MÚSICA: ASPECTOS CONCEITUAIS

Existem hoje diversas teorias e biografias que relatam a presença da música


na cultura humana aqui e no mundo. A linguagem musical vem sendo interpretada,
entendida e definida de muitas maneiras, dependendo do período e cultura,
resultante de um modo de pensar.

Brito (2003, p.26) a música tem sido interpretada como “[...] melodia, ritmo,
harmonia, [...] itens que estão muito presentes na produção musical dentre outras
possibilidades de organização do material sonoro”.

São considerados elementos fundamentais na música o som, vibrações


audíveis e regulares de corpos elásticos, que se repetem com a mesma velocidade,
como as do pêndulo do relógio. As vibrações irregulares são denominadas ruído; o
ritmo, efeito que se origina da duração de diferentes sons, longos ou curtos; a
melodia que nada mais é a organização de uma série de sons musicais e sucessão
rítmica e; harmonia, combinação dos ouvidos simultaneamente, é o agrupamento
agradável de sons.

Rosa (1990, p.19), reconhece a música como uma linguagem expressiva e as


canções são veículos de emoções e sentimentos, e podem fazer com que a criança
reconheça nelas seu próprio sentir.

Para a criança é importante atividades como cantar fazendo gestos, dançar,


bater palmas e pés, pois permitem que se aumente o senso rítmico, a coordenação
motora, sendo fatores importantes também para o processo de aquisição da leitura e
da escrita.

Na educação infantil a linguagem musical é um dos meios para alcançar bons


resultados sendo obtidos pela adequação das atividades, pela postura reflexiva e
crítica do professor, facilitando a aprendizagem, propiciando situações
enriquecedoras, organizando experiências que garantam a expressividade infantil.

Jeandot (1990, p.70), os educadores devem “[...] expor a criança à linguagem


musical e dialogar com ela sobre e por meio da música”. Significa que, é necessário
um estudo musical e explorar os elementos que o constituem explorando da mesma

15
forma, músicas de outras culturas e estilos uma vez que cada um contém sua
própria expressão musical. É de extrema importância uma pesquisa referente ao
contexto em que a criança se encontra e utiliza-lo como ponto inicial para
desenvolvimento deste método e assim encorajar atividades relacionadas com a
descoberta e com a criação de novas formas de expressão através da música.

O professor enriquece seu repertório musical criando e ampliando os


caminhos com diversos recursos como cd e materiais para a construção musical e
para ser explorado, observar o trabalho de cada criança e planejar atividades que
misturem músicas de diferentes povos, de diferentes épocas, de diferentes formas,
de diferentes compositores permitindo assim, conhecer melhor a nós mesmo e ao
outro – próximo ou distante. A criatividade é elemento capital para despertar a
motivação da criança levando-o a novas possibilidades de aprendizado e facilitando
as atividades educacionais.

Segundo Copland (1990):

“Todos nós ouvimos a música de acordo com nossas aptidões, variáveis,


sob certo aspecto, em três planos distintos: sensível, expressivo e
puramente musical, o que corresponde a ouvir, escutar e compreender.
Essa é a razão pela qual o professor deve respeitar o nível de
desenvolvimento em que a criança se encontra, adaptando as atividades de
acordo com suas aptidões e de seu estágio auditivo”. (COPLAND apud
JEANDOT, 1990, p.22)

Com isso é acentuado a importância do desenvolvimento de uma escuta


sensível nas crianças. O conceito musical favorece uma evolução e aumento do
conhecimento de aspectos musicais como origem e instrumentos utilizados;
profissionais que atuam e/ou conjunto que formam como orquestra, banda, coral e
outros; gêneros musicais como clássico, eletrônico, jazz, pop, popular, romântico e
muitos outros espalhados pelo mundo.

O simples ato de ouvir música ou aprender uma canção abre os olhos da


criança estimulando-o desenvolvendo o gosto pela atividade musical, e assim
atendendo as necessidades de expressão que passam pelas esferas afetiva,
estética e cognitiva. Conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil, volume 3 “[...] Aprender música significa integrar experiências que envolvem

16
a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais
elaborados”.

Ainda vemos no RCNEI que:

“É importante oferecer, também, a oportunidade de ouvir música sem texto,


não limitando o contato musical das crianças com a canção que, apesar de
muito importante, não se constitui em única possibilidade. Por integrar
poesia e música, a canção remete, sempre, ao contexto da letra, enquanto o
contato com a música instrumental ou vocal sem um texto definido abre a
possibilidade de trabalho com outras maneiras. As crianças podem perceber
sentir e ouvir, deixando-se guiar pela sensibilidade, pela imaginação e pela
sensação que a música lhes sugere e comunica. Poderão se apresentadas
partes de composições ou peças breves, danças, repertório da música
chamada descritiva, assim como aquelas que foram criadas visando a
apreciação musical infantil”. (RCNEI, 1998, p.65) .

Figura 1 - cantiga de roda

Pode-se a partir do ambiente familiar as atividades de exploração sonora


serem descoberta para então incidir a ambientes diferentes. Um exemplo de
atividades que o professor pode fazer é pedir para que as crianças fiquem em
silêncio e observem os sons ao seu redor, depois elas podem descrever desenhar

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ou imitar o que ouviram. Também podem fazer um passeio pelo pátio da escola para
descobrir novos sons, ou aproveitar um passeio fora da escola e descobrir sons
característicos de cada lugar.

Todavia, antes de oferecer às crianças um método, um instrumento em


escolas ou conservatórios, deve-se desenvolver o ouvir, a escutar, a percepção para
que ela possa descobrir, imitar, repetir os sons, isto é, construir seu conhecimento
sobre música, pois antes das regras musicais, deve vir à vivência, a familiaridade
com os sons e suas particularidades.

Figura 2 - Imitando sons

[...] “O ensino de música deve ser, desde o começo, uma força viva. [...] a
criança, muito antes de dominar as regras gramaticais, utiliza palavras com
fluência e formula frases já com entonação. A linguagem é, para ela, uma
coisa viva e, não, regras no papel. Deve-se educar o ouvido para que sejam
sentidas, perfeitamente, modulações e combinações sonoras diversas.
Deve-se deixar o aluno perceber a harmonia com seu próprio ouvido, antes
de se deparar com o ensino da mesma. O conhecimento das regras não
deve ser o objeto e, sim, uma necessidade a ser atendida em tempo
devido”. [...]. PAZ, 2000 p.16 e 17).

18
Educação Infantil significa o trabalho com linguagem musical, exploração dos
sons, resgate cultural, repertório musical da infância, conhecimentos esses que não
necessitam formação específica (musical) do educador.

Seu fim não é o de criar artistas, nem teóricos de música senão cultivar o
gosto pela mesma [...]. Todo mundo tem capacidade para receber
ensinamentos, pois sendo capaz de emitir esses sons para falar, pode emiti-
los também para cantar; assim como tem ouvidos para escutar palavras e
sons, também as terão para a música. Tudo é uma questão de educação e
método." (VILLA LOBOS, H. Presença de Villa-Lobos. 2ª. ed., Rio de
Janeiro: Museu Villa-Lobos, 1972, v.2, p. 85)

As atividades musicais realizadas na escola não visam à formação de


músicos, e sim, através da vivência e compreensão da linguagem musical,
possibilitar a abertura de canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções,
ampliando a cultura geral e contribuindo para a formação integral do ser.

19
CAPÍTULO II - A MÚSICA COMO RECURSO PEDAGÓGICO NO PROCESSO DE
APRENDIZAGEM

É incontestável a presença da música na vida do ser humano desde os


tempos mais antigos. Na pesquisa de povos antigos como Grécia, Israel, Roma e
outros, vemos a presença da música em diversos momentos como festas e rituais
de todos os tipos. Podemos vê-la em nascimentos e mortes, casamentos,
recuperação de doenças e também a encontramos em momentos de louvor a líderes
e em procissões reais.

[...] A música é uma das mais antigas e valiosas formas de expressão da


humanidade e está sempre presente na vida das pessoas. Antes de Cristo,
na Índia, China, Egito e Grécia já existiam uma rica tradição musical. Na
Antiguidade, filósofos gregos, consideravam a música como uma dádiva
divina para o homem [...] (FERNANDES, 2009, s.n.)

É típico notarmos a presença da música antes, durante e após a formação do


homem. Profissionais da saúde e profissionais da Educação entendem e
reconhecem que a música é um instrumento que deve ser utilizado em tratamentos
terapêuticos, pois os efeitos de seu uso são fundamentalmente sentidos pelos
pacientes/clientes.

A criança interage com os sons antes mesmo de seu nascimento, desde o


momento da concepção ela já é exposta aos sons intra-uterinos, a voz materna
também compõe material sonoro especial a referência afetiva para ela, daí a certeza
de que a música está presente desde antes do nascimento até a hora da morte do
ser humano. Os bebês e as crianças se interagem de forma permanente com os
diversos ambientes sonoros que o envolve e com a música, tendo que cantar e
dançar são atividades presentes na vida de quase todos os seres humanos, ainda
que de diferentes maneiras.

20
Figura 3 - Sons intrauterinos

O processo de musicalização das crianças começa prontamente, de forma


intuitiva, por meio do contato com toda a variedade de sons diários.

“As cantigas de ninar, as canções de roda, as parlendas e todo tipo de jogo


musical têm grande importância, pois é por meio das interações que se
estabelecem que os bebês desenvolvam um repertório que lhes permitirá
comunicar-se pelos sons; os momentos de troca e comunicação sonoro-
musicais favorecem o desenvolvimento afetivo e cognitivo, bem como a
criação de vínculo fortes tanto com os adultos quanto com a música”.
(BRITO, 1998, p.49)

A interferência da música no comportamento humano é tão real que


momentos históricos de diversos países foram retratados ou influenciados pela
música. Vemos isso na revolução francesa com a “ A Marselhesa” que foi composta
para estimular os soldados no combate. Não podemos deixar de lembrar da
explosão do Rock na década de 60. Outros fatos importantes que aconteceram na
história de nosso país fizeram com que autores e compositores, hoje mundialmente

21
conhecidos, usaram da arte, onde a música está inserida, como forma de protesto, o
que resultou no exílio de muitos. Vemos então a influência que a música tem no ser
humano, tanto para melhoria de sua saúde, comportamento e conscientização
quanto para sua decadência.

Estudos revelam que as pessoas portadoras de arritmias cardíacas após


contato com música clássica apresentaram melhoras significativas em sua
deficiência.

“Luciano Bernardi, pesquisador de medicina interna da universidade Pavia,


na Itália, afirma que a música pode induzir mudanças no sistema
cardiovascular. “Não é apenas a emoção que cria as mudanças
cardiovasculares, mas este estudo sugere que também que o oposto pode
ser possível, que as mudanças cardiovasculares podem ser a base para as
emoções de forma bidirecional, relata Bernardi”.

O estudo publicado no jornal ofthe American Heart Association, foi feito com
24 participantes, sendo 12 cantores experientes e 12 pessoas que não
possuíam quaisquer treinamentos musicais. Além disso, todas as pessoas
tinham idades, etnias e educações parecidas, uma vez que a diferenciação
desses fatores poderia gerar respostas diferentes.

Cinco faixas de música clássica e dois minutos de silêncio foram


apresentados às pessoas, que estavam sendo analisadas com
eletrocardiogramas e monitores para que fossem medidos itens como
pressão do sangue, fluxo arterial cerebral e respiratório e estreitamento dos
vasos sanguíneos na pele.

Os resultados foram interessantes. Os pesquisadores da Universidade


Pávia descobriram que conforme aconteciam um aumento gradual do
volume e intensidade nas músicas, os vasos sanguíneos das pessoas se
estreitavam, a pressão sanguínea subia, os batimentos cardíacos
ganhavam velocidade e amplitude da respiração aumentava. Em cada faixa
de música a porção do efeito foi proporcional à mudança no perfil musical.
Quando aconteciam os decrescendo ou as pausas de dois minutos em
silêncio, o corpo das pessoas relaxava, e todos os índices que haviam
crescido, diminuíam”. (DAUER, 2009, s.n.)

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Estes fatos apontam sobre a necessidade de trabalhar a música desde os
primeiros dias de vida, principalmente na educação, levando em conta que a
educação se dá não somente no âmbito escolar, mas em todos os ambientes em
que a criança está inserida.

Figura 4 - Sensibilidade aos sons

A partir de um contato mais amplo vai exigir também o aumento de


sensibilidade em que a criança tem com a música, os conhecimentos tornam-se
reais e contribui para um descobrimento do mundo a sua volta de uma forma
prazerosa. Suas relações sociais serão marcadas por este contato e sua cidadania
será desenvolvida através dos conceitos que inevitavelmente são passados através
das letras das canções.

Apresentar e dar oportunidade à criança de conhecer os vários ritmos e


gêneros musicais trará a esta criança a possibilidade de tornar-se um ser crítico
capaz de comunicar-se por meio da diversidade musical. A música também pode ser
usada na Educação Infantil com crianças de 5 a 6 anos em contribuição para o

23
processo ensino-aprendizagem. Utilizando seus vários níveis de alcance desde a
socialização até o gosto musical da criança.

“Meus alunos dificilmente terão a oportunidade de seguir uma carreira


musical nem terão acesso a instrumentos e cursos, pois vivem numa região
onde esse tipo de alimento cultural não é prioridade. Mas plantei uma
semente em cada um deles", conta a professora Daniela”. (FALZETTA,
2007 p.1)

A música vem ainda colaborar para a formação do individuo como todo. Por
meio da música, a criança penetrará num mundo letrado e lúdico. Observa-se seu
valor como eficaz instrumento, o qual deverá ser trabalhado e estimulado
provocando no educando possibilidades de criar, aprender e expor suas
potencialidades.

A música na educação pode envolver outras áreas de conhecimento como a


matemática quando marcamos um ritmo, temos que saber quantidade para
tocarmos. Além disso, há várias letras de músicas que nos ajudaram a facilitar a
aprendizagem de números, quantidade, classificação e seriação.

Jeandot (1997) traz o lúdico como um fator determinante na aprendizagem e


no desenvolvimento da criança, o ensino utilizando-se da música como forma lúdica
criaria ambiente gratificante e atraente, servindo como estímulo para o
desenvolvimento integral da criança. Por esta razão a música integra o âmbito do
universo lúdico e deve integrar as práticas pedagógicas com crianças. Segundo
Piaget (apud Jeandot, 1997, p.42).

Jeandot (1993) diz das habilidades que as crianças desenvolvem em relação


à música nas diferentes etapas do desenvolvimento infantil. A autora destaca para
cada idade um aspecto particular em relação à música, sendo que aproximadamente
em torno de:

24
“2 anos, a criança é capaz de cantar versos soltos, fragmentos de canções,
geralmente fora do tom. Reconhece algumas melodias e cantores. Gosta de
movimentos rítmicos em rede, cadeira de balanço, etc.;

3 anos, a criança consegue reproduzir canções inteiras, embora geralmente


fora do tom. Tem menos inibição para cantar em grupo. Reconhece várias
melodias. Começa a fazer coincidir os tons simples de seu canto com as
músicas ouvidas. Tenta tocar instrumentos musicais. Gosta de participar de
grupos rítmicos: marcha, pula, caminha corre, seguindo o compasso da
música;

4 anos, a criança progride no controle da voz. Participa com facilidade de


jogos simples, cantados. Interessa-se muito em dramatizar as canções. Cria
pequenas músicas durante a brincadeira;

5 anos, a criança entoa mais facilmente e consegue cantar melodias


inteiras. Reconhece e gosta de um extenso repertório musical. Consegue
sincronizar os movimentos da mão ou do pé com a música. Reproduz os
tons simples de ré até dó superior. Consegue pular em um só pé e dançar
conforme o ritmo da música. Percebe a diferença dos diversos timbres
(vozes, objetos, instrumentos), dos sons graves e agudos, além da variação
de intensidade (forte e fraca);

6 anos, a criança percebe sons ascendentes e descendentes. Identifica as


fórmulas rítmicas, os fraseados musicais, as variações de andamento e a
duração dos valores sonoros. Adapta palavras sobre ritmos ou trecho
musical já conhecido. Acompanha e repete uma sequência rítmica;

7 anos, a criança expõe e defende suas ideias. Ouve em silêncio,


acompanhando a melodia e o ritmo da música. Canta acentuando a tônica
das palavras. Bate as pulsações rítmicas com as mãos, enquanto o pé
acentua o tempo mais forte. Distingue ritmos populares – baião, rock,
samba, marcha, valsa –, expressando-se com o corpo, criando gestos
livremente, segundo esse ritmo. Produz pequenas melodias (compostas de
perguntas e respostas) segundo uma fórmula rítmica. Interpreta músicas
com expressão e dinâmica;

8 anos, a criança é mais rápida em suas próprias reações e também


compreende melhor as dos demais. Percebe e distingue com segurança os
elementos rítmicos, criando frases rítmicas;

9 anos, a criança adquire maior domínio de si mesma. Gosta muito de


conversar. É capaz de distinguir os elementos da música: melodia, ritmo,

25
harmonia. Percebe o fraseado musical. Lê, interpreta e responde a fórmulas
rítmicas;

10 anos, a criança facilmente cria sonoplastias para histórias e trilhas


sonoras para novelas. Canta a duas ou três vozes. Gosta de cantar, mas
não canções pueris. Escuta discos com entusiasmo, principalmente de
músicas mais tocadas na televisão e no rádio;

A partir de 11 anos, o entusiasmo é o traço mais característico. Facilmente a


criança perde sua própria identidade em função do grupo. As tarefas
coletivas a atraem. É a época de montar ópera, criar uma obra musical em
conjunto. Os debates, no nível analítico, aumentam. Ouve com facilidade
tanto a música popular quanto a clássica. Gosta muito de música
americana”. (JEANDOT, 1993, p. 63-64).

Entretanto, deve ser utilizada de forma contextualizada, desde que não perca
o trabalho da música com fins em si mesma. Esta deve facilitar o processo ensino-
aprendizagem, e também favorecer a criança ensinando-a a apreciar o valor de uma
peça musical, despertando então o gosto pela música e a aquisição de novos
conhecimentos, tornando-se assim um respeitável instrumento didático.

Trabalhar usando a música como ferramenta de apoio é com sem dúvida


estimulante, principalmente por ela dar condições de observar a percepção musical
das crianças e a sua melhora na sensibilidade, no raciocínio e em sua expressão
corporal.

Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, volume 3 –


Conhecimento de mundo que apresenta o eixo música destaca que linguagem
musical tem estrutura e características próprias, devendo ser considerada como:
produção, apreciação e reflexão.

Em relação às atividades com a música (como linguagem própria) há muitas


possibilidades: exploração do conceito de som e silêncio – com brincadeiras de
estátua; produção de vários tipos de sons com o corpo – arrastando os pés, batendo
as mãos nas diferentes partes do corpo, etc.. Estímulo ao desenvolvimento da
linguagem falada por meio de canções que utilizam a linguagem gestual; incentivo à
composição pelas crianças de uma melodia – a partir de uma letra criada pelo grupo;

26
incentivo à criatividade, concentração e memória pela imitação de sons criados
pelos colegas; a utilização de brinquedos de diferentes texturas, formas e tamanhos
que produzam sons diferentes: estímulos auditivos, visuais e motores por meio de
canções interpretadas com gestos; movimentos rítmicos, explorando todo o
esquema corporal e acompanhamento das músicas com palmas ou percutindo
algum objeto ao pulso da melodia; trabalho da percepção da pulsação com
movimentos corporais com os braços, mãos, pernas, pés, cabeça e tronco.

Não importa o ambiente que a criança esteja exposta, ela deverá ser
estimulada a prestar atenção aos sons que com certeza estão acontecendo e
quando possível identifica-los, relacionando-os e nomeando-os.

“Quando se trabalha a música com a criança de 5 a 6 anos é importante


lembrar que as estratégias adequadas não sejam somente fazer com que
ela escute música clássica, ou tenha qualquer habilidade motora em
executar técnica em algum instrumento, mas sim estabelecer a relação de
diversos sons e a qualidade de ser agradáveis ou desagradáveis”.
(MARSICO, 1982, p.77)

Podemos adicionar outras possibilidades para um trabalho de linguagem


musical na educação infantil como:

 Estímulo ao desenvolvimento do instinto rítmico (com ordens para andar,


correr, rolar, balançar);

 Marcação da pulsação com palmas e com os pés;

 Dramatizações simples como a imitação de animais (seus movimentos e


sons);

 Relacionamento do pulso musical à pulsação do coração, fazendo a criança


ouvir o coração do amigo, em repouso e depois correr;

 Apresentação de canções que sugiram movimentos de acordo com a


pulsação da música.

27
 Marcação de ritmo onde quatro batidas no tambor a cada compasso são para
correr, quando bater duas vezes para andar; noções de pulsação e
andamento (rápido/lento) – cantando uma música, dançando e batucando nos
instrumentos no andamento solicitado.

A respeito do trabalho explorando as características do som e propriedades


musicais, o educador pode empregar canções que façam referência aos diferentes
instrumentos musicais e vozes de animais, evidenciando o timbre. No trabalho pode
apresentar brincadeiras de identificação de duração, com execução de determinados
programas de acordo com o som produzido. Tratando-se de trabalho com
instrumentos musicais a sucata é uma alternativa eficaz para confeccioná-los além
de trazer as crianças o conceito de sustentabilidade.

A análise musical aproveitando diferentes estilos musicais corroboram que as


crianças aprendam a ouvir e comunicar seus sentimentos (alegria, tristeza, tensão,
amor, amizade, respeito, carinho), pois a música alimenta a alma e eleva o espírito.

Podemos dizer que as atividades listadas acima edificam na Educação infantil


e percebe-se que os educadores realizam atividades com música para para passar
novos conceitos e aumento de vocabulário.

“Ainda que esses procedimentos venham sendo repensados, muitas


instituições encontram dificuldades para integrar a linguagem musical ao
contexto educacional. Constata-se uma defasagem entre o trabalho
realizado na área da música e nas demais áreas do conhecimento,
evidenciada pela realização de atividades de reprodução e imitação em
detrimento de atividades voltadas à criação e à elaboração musical. Nesses
contextos, a música é tratada como se fosse um produto pronto, que se
aprende a reproduzir, e não uma linguagem cujo conhecimento constrói”.
(BRASIL, 1998, p.47)

Uma das questões a ser abordada com as crianças é: o que vem a ser a
música? Conforme A música é a linguagem que organiza som e silêncio, este deve
ser o primeiro conceito para elas sobre música. Som é tudo o que soa e tem
movimento, estamos cercados por estas expressões o tempo todo.
28
“No princípio, podemos supor, era o silêncio. Havia silêncio porque não
havia movimento e, portanto, nenhuma vibração podia agitar o ar – um
fenômeno de fundamental importância na produção do som. A criação do
mundo, seja qual for a forma que ocorreu, deve ter sido acompanhada de
movimento e, portanto, de som”. (O. KARAY APUD BRITO, 2008, p.17 e
18).

Não há razão, por exemplo, forçar a criança a entender, teoricamente, que a


música acontece no tempo e no espaço. Ela vai tomar consciência da linguagem
musical se conseguir ouvir e diferenciar sons, ritmos e culturas e saber que o som
pode ser grave ou agudo, em outras vezes curto ou longo ou forte ou suave. É
necessário a compreensão da música como linguagem e forma de conhecimento,
leva a ver a criança não como um ser inanimado e sim como alguém que interage o
tempo todo com o ambiente, organizando suas idéias e pensamentos.

Os primeiros anos de aprendizagem são propícios para que a crianças


comece a entender o que é linguagem musical, aprenda a ouvir sons e a reconhecer
diferenças entre eles. Todo trabalho a ser desenvolvido na educação infantil com
crianças deve buscar a brincadeira musical, aproveitando que existe uma
identificação natural da criança com a música. A atividade deve estar muito ligada à
descoberta e a criatividade.

Em uma visão cognitivista, o conhecimento musical inicia-se da interação com


o ambiente, através de experiências concretas, que aos poucos levam à abstração
(ROSA, 1990, p.15).

Paz (2000, p.14) aponta que todos os indivíduos são capazes de aprender os
ensinamentos da música, “pois sendo capaz de emitir [...] sons para falar, pode
emiti-los também para cantar; assim como tem ouvidos para escutar palavras e
sons, também os terão para a música. Tudo é uma questão de educação e método”.

O aprendizado através da música beneficia o desenvolvimento do gosto


estético e da expressão artística, promovendo o gosto e o ensino musical. Formando
o ser humano como uma cultura musical desde criança, estaremos educando
adultos capazes de usufruir a música, de analisá-la e de compreendê-la (ROSA,

29
1990, p.21). Então o conhecimento adquirido na linguagem musical segue o ser
humano ao longo da vida.

Para Borges (2003),

“Música é arte [...] seu papel na Educação Infantil é o de proporcionar um


momento de prazer ao ouvir, cantar, tocar e inventar sons e ritmos. Por este
caminho, envolve o sujeito como um todo, influindo, beneficamente, nos
diferentes aspectos de sua personalidade: suscitando variadas emoções,
liberando tensões, inspirando ideias e imagens, estimulando percepções,
acionando movimentos corporais e favorecendo as relações
interindividuais”. (Borges, 2003, p.115)

Com isso, a música contribui favoravelmente para tornar o ambiente escolar


mais alegre e propício ao aprendizado, uma alegria que seja vivida no momento
presente e isso é a dimensão essencial da pedagogia, e assim os alunos sejam
estimulados, compensados e recompensados por esse ambiente.

As atividades podem ser aplicadas com brincadeiras, jogos, histórias, danças,


bandinha rítmica (conjunto de percussão), canto e movimentos corporais. E através
da improvisação de ritmos e melodias, a criança desenvolve sua criatividade. O
primeiro passo objetiva estimular a socialização das crianças. Para isso, canções
que faz parte de sua herança musical são utilizadas como, por exemplo, Ciranda
cirandinha e Marcha soldado.

Paz (2000) nos mostra que a partir desses momentos,

[...] O professor começa a observar o senso rítmico de cada criança. Desde


os primeiros contatos, a criança é levada a cantar bonito e não a gritar.
Observando sempre a extensão das vozes infantis, o professor vai
acrescentando, aos poucos, outras músicas. (Paz, 2000, p. 99)

É relevante também desenvolver nas crianças o senso de ritmo, pois o mundo


que nos rodeia vive em abundância de ritmos evidenciados sob diversos aspectos:
no relógio, no andar das pessoas, no vôo dos pássaros, nos pingos de chuvas, na

30
batida do coração, numa banda, num motor, no piscar de olhos, em muitas
brincadeiras e em quase todos os trabalhos manuais.

[...] “percepção de mundo é multidimensional e simultânea. Aberta a todos


os canais, a criança pequena vive intensamente cada descoberta,
colocando-se por inteiro em cada situação. Quando brinca, e brinca com
toda a sinceridade, pinta, desenha, a criança explora sons, inventa músicas”
[...] (ROSA, 1990, p.22).

A música pode ser trabalhada em diversos campos da educação, como:


“Comunicação e Expressão, raciocínio lógico matemático, Estudos Sociais e
Ciências e Saúde”. (ROSA, 1990). Para alcançar essas áreas o educador usufruir de
atividades que contribuem para que o indivíduo aprenda a viver na sociedade,
abrangendo aspectos comportamentais como disciplina, respeito, gentileza,
civilidade, valores e aspectos didáticos, com a formação de hábitos específicos, tais
como os relativos a datas comemorativas, cores, números, noções de higiene, a
manifestações folclóricas, poesias relacionadas a habilidades: análise, síntese,
discriminação visual e auditiva, coordenação visual e motora.

Borges (2003, p.115) informa que “se a música for utilizada apenas com o
objetivo de ensinar conceitos matemáticos, reforçar hábitos de higiene,
cumprimentar ou despedir de visitantes ou anunciar o momento do lanche ou da
história, se estará desvirtuando a sua função primeira”. Isso porque, segundo Rosa
(1990),

“A presença da música nas datas comemorativas deve ser muito bem


analisada e adequadamente aproveitada, evitando que seja vista apenas
como recreação, passatempo ou demonstração superficial de um trabalho
realizado em classe. As festas comemorativas devem resultar de um trabalho
mais profundo, isto é, devem ser a culminância de outros objetivos
trabalhando com as crianças. Não convém ensinar uma canção sem
considerá-la como uma atividade ampla rica, abrangente e expressiva. As
músicas comemorativas constituem um recurso didático interessante e
dinâmico, pois através delas muitos assuntos podem ser trabalhados, com
integração de várias disciplinas. ” (Rosa, 1990, p. s.n.)

31
Recomenda-se que para crianças que estão na educação infantil que os
conteúdos relacionados ao fazer música devem ser trabalhados em situações
lúdicas, como já mencionado, fazendo parte do contexto global das atividades, pois
quando as crianças se encontram em um ambiente afetivo no qual o professor está
atento a suas necessidades, falando, cantando e brincando com e para elas,
adquirem a capacidade de atenção, tornando-se capazes de ouvir sons do meio.
Podem aprender com facilidade as músicas mesmo que sua reprodução não seja
perfeita.

Possibilitando que as crianças tenham muitas oportunidades, na instituição de


educação infantil, de vivência envolvendo a música, pode-se esperar que elas a
reconheçam e utilizem-na como linguagem expressiva, conscientes de seu valor e
meio de comunicação e expressão. Por meio da voz, do corpo, de instrumentos
musicais e objetos sonoros devem interpretar, improvisar, interessadas, também,
pela escuta de diferentes gêneros e estilos e pelas confecções de materiais sonoros.

Essas confecções de materiais sonoros podem ser feitas através de sucatas


pelas crianças na orientação do professor como: chocalho utilizando embalagens de
iogurte, garrafas de refrigerantes e copos descartáveis; reco-reco de PVC,
embalagem plástica de óleo ou bambu; tambores com latas de achocolatado, presas
a um barbante e as baquetas, varinhas ou lápis, entre outras. Com isso a criança
desenvolve a coordenação motora, criatividade, a concentração e habilidade
psicomotora. Explorando estes instrumentos construídos a partir de sucatas é
possível proporcionar noções básicas de música; despertar a percepção musical
individual e coletiva; proporcionar contato com outras culturas através das artes;
interação com o meio social; relacionar e compreender de forma lúdica o universo
científico presente nas artes.

Diante de recomendações de trabalhos e atividades a serem feitas com as


crianças é importante lembrar que,

“A educação musical exige um trabalho complexo quando envolve formação


de grupos, e isso é muito comum em quase todas as atividades musicais:
corais, banda, teatro, rodas e brinquedos cantados. O trabalho com grupos
é complexo, pois se deve preservar a expressividade de cada elemento
32
envolvido no trabalho e muitas vezes se torna difícil conciliar posturas
diferentes”. (ROSA, 1990, p.22).

Temos um outro formato de aprendizado onde a música favorece a


socialização no aprendizado. As atividades musicais de formato coletivo tendem a
um desenvolvimento da socialização, estimulando a compreensão, a participação e
a cooperação. Assim, a criança desenvolve o conceito de grupo. Além disso, ao
expressar-se musicalmente em atividades que lhe dêem prazer, ela demonstra seus
sentimentos, libera suas emoções, desenvolvendo um sentimento de segurança e
auto-realização.

Figura 5 - Linguagem Musical

Borges (2003) confirma a posição de alguns autores citados anteriormente,


quando diz a respeito da necessidade de recuperar a verdadeira função da música.
Ele diz que,

33
[...] “é preciso insistir quando à necessidade de se recuperar sua verdadeira
função. Isto só será possível na medida em que o professor for também
sensível à expressão musical. Não que precise ser um especialista em
música, ou saber tocar, necessariamente, algum instrumento. Porém,
deverá estar consciente de que, em contato com a música, a criança
poderá; manter em harmonia a relação entre o sentir e o pensar; proteger a
sua audição, para que não se atrofie diante do aumento de ruídos e da
desqualificação sonora do mundo moderno; habituar-se a isolar um ruído ou
som para dar-lhe sentido, especificidade ou perceber a beleza que lhe é
própria”. (Borges 2003, p.115)

É imprescindível da parte do educador uma sensibilidade à expressão musical


entendendo por meio deste o que está ou será transmitido para seus alunos como
também.

[...] “deve compreender a essência da linguagem musical, e, a partir de sua


própria experiência e de seu processo criador, facilitar, o contato da criança
com as diversas linguagens (plástica corporal, etc.). Deve propiciar
situações em que a criança pode olhar o mundo e se expressar. Olhar o
mundo é apreender e perceber significados em todas as coisas. Em
condições normais, a criança constrói a partir de seu significante,
transformando significados, compreendendo o mundo e percebendo-o de
uma forma peculiar. Constrói assim seu pensamento através da interação
com o ambiente e da compreensão das relações entre todas as coisas, aí
incluindo os sons, as canções, as diferentes manifestações em linguagem
musical”. (ROSA, 1990, p.18).

Qualquer que seja a abordagem escolhida em seu planejamento, o educador


não torne a música distante da realidade de vida das crianças. Como foi explanada
até o presente momento, a música utilizada como recurso pedagógico traz diversos
benefícios para o desenvolvimento da criança. Rosa (1990) diz ainda que a música
contribui,

[...] “para o desenvolvimento da coordenação visual e motora, da imitação


de sons e gestos, da atenção e percepção, da memorização, do raciocínio,
da inteligência da linguagem e da expressão corporal. Essas funções
psiconeurológicas envolvem aspectos psicológicos e cognitivos, que

34
constituem as diversas maneiras de adquiri conhecimento, ou seja, são a
operações mentais que usamos para aprender, para racionar. A simples
atividade de cantar uma música proporciona à criança o treinamento de uma
série de aptidões importantes. ” (ROSA, 1990, p.21).

A música movimenta, mobiliza, e por isso contribui para a transformação e


para o desenvolvimento. E segundo Wilhems (apud GAINZA, 1988, p.36-37).

Cada um dos aspectos ou elementos da música corresponde a um aspecto


humano específico, ao qual mobiliza com exclusividade ou mais
intensamente: o ritmo musical induz ao movimento corporal, a melodia
estimula a afetividade; a ordem ou a estrutura musical (na harmonia ou na
forma musical) contribui ativamente para a afirmação ou para a restauração
da ordem mental no homem”. (Wilhems apud GAINZA, 1988, p.36-37).

Contudo, “a música e sua ligação com outras áreas do conhecimento permite


múltiplas abordagens interdisciplinares [...] beneficiando tanto o processo
educacional como um todo, quanto favorecendo a aprendizagem da própria música”.
(ROMANELLI, 2009).

35
CAPÍTULO III - DESENVOLVIMENTO MUSICAL

“A mente da criança contém todos os estágios do futuro


desenvolvimento intelectual: eles existem já na sua forma
completa, esperando o momento adequado para emergir”
(VYGOTSKY, citado por Rego 2008 p.57).

Nos dias atuais vem crescendo o interessa por muitos pesquisadores quanto
a utilização da música em diversas áreas. Estes estudos vêm apresentando
resultados positivos com efeitos significativos para o desenvolvimento musical. Estes
efeitos têm sido discutidos de forma profissional e consistente em muitos países
europeus, nos Estados Unidos e no Canadá. Contudo em certos contextos como no
Brasil, as políticas educacionais públicas ainda não reconhecem as positivas
contribuições que os trabalhos realizados com música trazem para o processo do
desenvolvimento infantil. Pesquisas como a de Anvari e colegas em 2002 publicada
na revista Journal of Experimental Child Psyhcology volume 83 (pag. 111-120)
levantam questionamentos que direcionam à importância da música e como ela
influência o desenvolvimento; formas de estimulação desse desenvolvimento, fases
mais propícias para o início dessa atividade para a criança. Ainda acrescenta que,

[...]”a percepção musical tem uma relação estreita com o desenvolvimento


da leitura e com a consciência fonológica. Isto é, a habilidade que o ouvinte
tem de segmentar a fala em unidades menores e ainda assim reconhece-las
independentemente de variações em altura, tempo, timbre e contexto”.
(Anvari, S. H., L. J. Trainor, J. Woodside, & B. A. Levy, 2002).

Muitos destes estudos comprovaram que os primeiros anos de vida


influenciam uma grande parte do desenvolvimento geral das crianças. Neste tempo,
as crianças estão mais receptivas às aprendizagens cabendo aos educadores,
usufruir de meios que contribuam para o desenvolvimento infantil. Nesse sentido, um
aspecto importante do desenvolvimento humano diz respeito ao desenvolvimento
neurológico e a primeira infância é a fase mais rica para formação das sinapses –
36
conexões dos neurônios – que se formam como “pontes”, ampliando a capacidade
cerebral. A música nesse processo, segundo os estudos, é um dos estímulos mais
potentes para ativar os circuitos do cérebro.

Ilari (2003) relata a importância da música no primeiro ano de vida, tendo que,
nesse período a criança está em fase de grande desenvolvimento do cérebro e da
inteligência musical. A música, devido a suas características inerentes, colabora
também para o desenvolvimento de habilidades sociais, musicais e aquelas
relacionadas aos aspectos emocionais.

Destaca-se aqui a importância não apenas da música tocada com auxílio de


um aparelho, mas também o contato estabelecido entre mãe e a criança. Assim,
atos como cantar, murmurar ou assoviar fornece elementos sonoros e também
afetivos, através da intensidade do som, inflexão da voz, entonação, contato de olho
e contato corporal, que serão importantes para a evolução da criança no sentido
auditivo, linguístico, emocional e cognitivo. O mesmo ocorre também durante todo o
desenvolvimento infantil, pois através da música e de suas características
peculiares, tais como ritmos variados e estrutura de texto diferenciada, muitas vezes
com utilização de rimas, a criança vai desenvolvendo aspectos de sua percepção
auditiva, que serão importantes para a evolução geral de sua comunicação,
favorecendo inclusive sua integração social.

Figura 6 - Possibilidades musicais


37
Podemos observar que as crianças quando estão cantando, trabalham sua
concentração, memorização, consciência corporal e coordenação motora, porque ao
exercício de cantar ocorre naturalmente o desejo ou a sugestão para mexer o corpo
acompanhando o ritmo e criando novas formas de dança e expressão corporal.
Contudo, não se deve esperar que apenas durante o processo de escolarização se
estimule a criança. Deve-se, ao contrário, oferecer a ela sempre que possível um
leque variado de experiências musicais para que ela perceba diferenças entre os
estilos, as letras, a velocidade e os ritmos trabalhando assim a atenção e a
discriminação auditiva para permitir que faça escolham ou sugira repetições. Para a
autora a música torna-se um poderoso recurso educativo a ser utilizado na
Educação Infantil. É preciso que a criança crie o hábito de expressar-se
musicalmente desde os primeiros anos de sua vida, para que a música venha a se
constituir em faculdade permanente de seu ser, e representar uma importante fonte
de estímulos, de equilíbrio e de felicidade para criança.

3.1 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES DA CRIANÇA

Com o avanço das pesquisas e descobertas sobre as capacidades das


crianças, pesquisadores declaram que o desenvolvimento musical começa desde a
gestação e continua após o nascimento. Martins (2004) aponta que fetos a partir da
32ª semana da gestação prontamente dispõem de sua audição desenvolvida. Ilari
(2003) também relata a importância da música para o desenvolvimento do cérebro.
Cardoso e Sabbatini (2000), citados por Ilari “sugerem que a música pode constituir
um estímulo importante para o desenvolvimento do cérebro da criança” (2003 p.14).
Em geral, as atividades então desenvolvidas em aulas de musicalização, podem
auxiliar no desenvolvimento do cérebro, a cabo do educador pesquisar, planejar,
diagnosticar e ajudar a criança a desenvolver a inteligência musical e construindo
seu conhecimento de diversas formas de “fazer música”.

38
3.2 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL E EMOCIONAL DA CRIANÇA

O ato de cantar que além de contribuir para a musicalidade pode também,


influência de forma positiva na comunicação e interação. Quando canta ou envolvida
com papéis de interpretação sonora em coletividade, a criança sente-se integrada no
grupo e adquire a consciência de que seus conhecimentos são igualmente
importantes. Ela compreende a necessidade de cooperação com os colegas, para
chegarem ao objetivo comum. Quando a criança aprende música em grupo, torna-se
mais comunicativa e convive o tempo inteiro com regras de socialização. A criança
aprende há respeitar o tempo e a vontade do próximo; a criticar de forma
construtiva; a ter disciplina; a ouvir e interagir com o grupo.

Segundo Ilari (2003) a musicalização colabora para uma maior afetividade e


um melhor relacionamento entre a criança e seus pais ou responsáveis.

3.3 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO DA HABILIDADE MOTORA

Através do canto espontâneo ou dirigido, a criança faz movimentos gestuais


durante as canções, movimentos estes que possibilitam evolução em sua habilidade
motora, proporcionando momentos de prazer em família ou na sala de aula. Autora
como Ilari (2003) concorda que as canções de brincar incluindo as do folclore e
parlendas oferecem sugestões de movimentos corporais que propiciam benefícios
na coordenação motora e em outras habilidades como auditiva e visual.

O uso do canto acompanhado pelo gesto parece auxiliar no desenvolvimento


de diversos sistemas cerebrais, como os responsáveis pela orientação espacial e
motora, além de propiciar o desenvolvimento social, uma vez que a criança se
relaciona com outras crianças e adultos (ILARI, 2003).

Estas são conexões do cérebro que permitem a aquisição de movimentos,


comportamentos, percepções e habilidades. Para tocar um instrumento, ou realizar

39
uma série de jogadas de xadrez, são utilizadas conexões que permitem à criança
adquiri certas habilidades específicas (ILARI 2003).

As inúmeras possibilidades propostas pelas brincadeiras musicais permitem,


inclusive, trabalhar a musculatura dos braços, pernas, pés, mãos e dedos e este
aprendizado é necessário desde o primeiro ano de vida

3.4 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

O interesse pelo desenvolvimento cognitivo musical tem aumentado de forma


substancial nas últimas décadas devido a recentes descobertas no campo da
neurociência. Desde o nascimento até o décimo mês de vida a distinção entre
alturas, timbre e intensidades acontecem, tornando-se cada vez mais refinadas ao
passar do tempo. As preferências e memórias musicais também se dariam a partir
dessa época, por meio de processos imitativos e de impregnação, estando também
associado a inúmeras funções psico-sociais, como a comunicação e o
desenvolvimento da linguagem compreensiva e expressiva, por exemplo, ou
entretenimento (ILARI, 2003).

Quanto mais precocemente a criança ter contato com o mundo da música,


maior será a chance de assimilar novos códigos sonoros que a música pode
oferecer. Maior será o seu conhecimento armazenado na memória sonora, quanto
mais tipos de sons a criança ouvir, o que pode ser também ampliado se a criança
praticar um instrumento musical.

Pederiva e Tristão (2006) citam estudos de Straliotto (2001) que dizem que a
inteligência pode ser desenvolvida por meio da audição, pois cada código sonoro
representaria um espaço ativado no cérebro, com a finalidade de reter a informação.
O autor fala que os neurônios, que recebem as informações codificadas, após serem
ativados pelos códigos musicais, ficariam “abertos” para receberem conhecimento
de outros órgãos dos sentidos. E que a ativação dos neurônios seria ampliada à
medida que novos conhecimentos vão se somando por meio dos cinco órgãos do

40
sentido. O autor destaca que, maior será o conhecimento sonoro da pessoa quanto
mais sons diferentes ela ouvir, por estar utilizando uma área cerebral maior para
reter aquelas informações.

3.5 JANELAS DE OPORTUNIDADES

Um conceito habitualmente associado à teoria de Gardner, é o que os


neurobiólogos chamam de “janelas de oportunidades”. Essas janelas são, os
períodos em que as crianças parecem ter maiores facilidades para desenvolverem
cada tipo de inteligência. E é importante notar que o aprendizado não se limita ao
“período de abertura” de cada janela, ou seja, segundo Ilari (2003), todas as
inteligências podem ser estimuladas e desenvolvidas no decorrer da vida. Contudo,
e durante o período de “abertura” das janelas é que tal estimulação e
desenvolvimento se dão de forma mais eficiente. Abaixo podemos ver um quadro,
de acordo com a autora, demonstrando em destaques os períodos de maior abertura
de cada janela.

41
TABELA JANELA E OPORTUNIDADES
Períodos
Tipo de
Hemisféri de Desenvolvimento
Inteligênci Como estimular
o Abertura Cerebral/cognitivo
a
Janela
Aperfeiçoamento da
Dos 5 aos
coordenação motora;
Espacial Direito 10 anos de Melodias.
Percepção do corpo no
idade.
espaço.
Do
Conexões que
Linguística nascimento Musicais.
Esquerdo transformam sons em
ou verbal aos 10 anos
palavras com sentido.
de idade.
A partir dos 3 anos, as
Do áreas do cérebro que
nascimento dominam a coordenação Jogos musicais,
Musical Direito
aos 10 anos motora são muito identificação de sons.
de idade. sensíveis e já permitem a
execução musical.
Brincadeiras que
estimulam o tato, paladar
O cérebro desenvolve a e o olfato, mímica,
Do
Cinestésica capacidade de associação interpretação de
Esquerdo nascimento
corporal entre a visualização e o movimentos, jogos e
aos 6 anos.
ato de agarrar o objeto. atividades motoras
diversas com ou sem
objetos.
As conexões entre os Brincadeiras
circuitos do sistema demonstrações de afeto e
Do
límbico aumentam e se de limites, estímulo às
Interpessoa Lobo nascimento
tornam bastantes descobertas pessoais e
l e intrapes frontal à
sensíveis aos estímulos também ao
puberdade.
provocados por outros compartilhamento de
seres. objetos e ideias.
Do Estimular a percepção do
A conexão de circuitos
Lado nascimento ar, da água, da
Naturalista cerebrais transforma os
direito aos 14 temperatura através de
sons em sensações.
anos. jogos.
Desenhos,
A cognição é desenvolvida
representações, jogos,
Do através das ações da
Lobos atividades musicais,
Lógica- nascimento criança com os objetos do
parietas resolução de problemas
matemática aos 10 mundo, e suas
esquerdos simples em diversas
anos. expectativas em relação
áreas e estimulem o
aos mesmos.
raciocínio lógico.

Tabela 1 - JANELAS E OPORTUNIDADES (Ilari, 2003, p.13)

42
3.6 A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

Wolfe (2002) relata que música e falas são fundamentais similares, já que
utilizam o material sonoro, que são recebidos e analisados no mesmo órgão. Porém,
muitos fatores acústicos, apesar desta semelhança, são utilizados de diferentes
modos. Para Wolfe (2002) a codificação da informação percorre diferentes caminhos
e isto se dá porque a fala possui de modo frequente, um significado denotativo, o
que não acontece usualmente no caso de música, e que tanto os códigos musicais,
quanto o código da fala, que possuem diferentes elementos, podem percorrer
diferentes caminhos, possuir diferentes valores, e interpretado de diferentes modos
(citado por PEDERIVA e TRISTÃO 2006).

As autoras Simionato e Tourinho (2007) complementam essas informações


acrescentando que a criança aprende música de forma muito semelhante à que
aprende sua língua materna, isto é, pelo processo sequencial que se inicia com
audição, para posteriormente passar à fala propriamente dita. As autoras dizem que
este processo de aprendizagem da língua inicia-se com o balbucio, que também é
citado no processo de aprendizagem da música.

Outro autor citado pelas autoras acima, complementa ressaltando a influência


da música no aspecto da linguagem.

“Desde que nascemos já estamos predispostos aos sons, vocalizações e


melodias, nosso primeiro universo de linguagem; por isso, o contato precoce
com a música é capaz de favorecer positivamente o desenvolvimento de
nossas habilidades cognitivas, linguísticas e motoras”. (CÌCERO, citado por
SIMIONATO e TOURINHO, 2007, p.370).

Assim podemos perceber a importância da música para o desenvolvimento da


criança, pois ela usa a sonorização para desenvolver a linguagem, aprendendo
novas palavras.

43
CONCLUSÃO

Esta monografia possibilitou investigar a importância da música na educação


infantil. Podemos concluir que a música se encontra em vários lugares de formas
sonoras e até mesmo se encontra no silêncio, que desde antes do nascimento
temos contato com ela, que bem trabalhado se torna um instrumento precioso no
trabalho com crianças na educação infantil, pois possibilita atingir os objetivos de
diversos eixos de forma prazerosa.

44
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46
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processing, and early reading ability in preschool children. Journal of Experimental Child Psychology.
83, pag 111-130.

Abstract:

This study examined the relationship between phonological awareness, music


perception skills, and early reading skills in a population of 100 four and five year-old
children. The results showed that music skills correlated with both phonological
awareness and reading development. Hierarchical regression analyses indicated that
music perception skills contributed unique variance in predicting reading ability, even
after variance due to phonological awareness and other cognitive abilities (math, digit
span, and vocabulary) were accounted for. The study provides evidence that music
perception taps auditory mechanisms related to reading that only partially overlap
with those related to phonological awareness, suggesting that both linguistic and
nonlinguistic general auditory mechanisms are involved in reading.

Key Findings:

In this study, phonemic awareness is shown to have a strong relationship to musical


ability. Such findings suggest the auditory processing necessary for music perception
to be related to the auditory processing necessary for phonological awareness and,
ultimately reading. Furthermore, music perception is predictive of reading skill even
when the variance shared with phonological awareness is removed. Therefore, music
perception appears to be tapping auditory mechanisms related to reading skill that
only partially overlap with those related to phonological awareness. Auditory memory,
vocabulary, and mathematics are not shown to be involved in the relation between
music and reading. It is therefore still not understood (and open to future research
questions) which processing skills are associated with each, music perception,
reading, and phonological awareness.

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Significance of the Findings:

This research suggests that early skill with music might enhance reading acquisition
as well as other linguistic skills. For children who struggle with reading skills, music
interventions may help deficiencies in auditory processing that potentially underlie
reading problems.

Methodology:

The aim of the study was to examine the relation between musical processing
and phonological awareness in a large sample of young children, as well as to
examine how these factors are related to reading development. One hundred four
and five year-old children were recruited from schools and daycare centers in the
Hamilton-Wentworth region of Canada. The children were administered a battery of
tests over the course of five sessions: music tasks that focused on rhythm, melody,
and chord processing; a set of phonemic awareness tasks known to predict reading
success; and a standardized measure of early reading development (WRAT 3). First
explored were the relationships among the music variables and the relationships
among the phonological variables. Then, using ordered regression analyses, the
researchers examined whether musical variables predicted reading success, even
when the contribution from phonemic awareness had been taken into account. A final
analysis attempted to uncover some of the more general cognitive variables through
which music might influence reading development. Separate analyses were
performed in which digit span, vocabulary, and mathematical skill were separately
removed in the initial step of a hierarchical regression analysis to examine whether
music and/or phonemic awareness continued to predict reading.

Limitations of the Research:

Effects based on gender and racial/ethnic backgrounds are not included in this
analysis. Additionally, sampling procedures and demographics, including socio-
economic, and racial/ethnic background are not discussed; as a result, the findings of
this study may not generalize to all four and five year olds. Although the study cross-
referenced skills using many different evaluation methods, the researchers did not
indicate that they tested a control group and the identified correlation may be due to
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other variables. Last, this study is limited in that it was unable to identify specific
cognitive variables that may have a role in the link between music perception and
reading skills.

Questions to Guide New Research:

The set of underlying skills associated with phonemic awareness and music
perception remains an important topic for future research. New studies could address
a larger and more diverse population to determine if there is variance in results
across these groups of children. Along with these questions, longitudinal research
will provide valuable information regarding whether more sophisticated music and
reading skills continue to maintain a relationship.

Tradução:

RELAÇÕES ENTRE HABILIDADES MUSICAIS, PROCESSAMENTO FONOLÓGICO E


CAPACIDADE DE LEITURA PRECOCE EM CRIANÇAS PRÉ-ESCOLARES.

Anvari, S., Trainor, L., Woodside, J., Levy, B. (2002). Relações entre habilidades musicais,
processamento fonológico e capacidade de leitura precoce em crianças pré-escolares. Jornal de
Psicologia Infantil Experimental. 83 (2): 111-130.

Abstrato:

Este estudo examinou a relação entre a consciência fonológica, as habilidades de percepção musical
e as habilidades iniciais de leitura em uma população de 100 crianças de quatro e cinco anos. Os
resultados mostraram que as habilidades musicais se correlacionaram com a consciência fonológica
e o desenvolvimento da leitura. Análises de regressão hierárquica indicaram que as habilidades de
percepção musical contribuíram com uma variância única na previsão da capacidade de leitura,
mesmo após a variância devido à consciência fonológica e outras habilidades cognitivas (matemática,
intervalo de dígitos e vocabulário). O estudo fornece evidências de que a percepção musical utiliza
mecanismos auditivos relacionados à leitura que se sobrepõem apenas parcialmente àqueles
relacionados à consciência fonológica, sugerindo que tanto os mecanismos auditivos linguísticos
quanto os não linguísticos estão envolvidos na leitura.

Principais conclusões:

Neste estudo, a consciência fonêmica é mostrada para ter uma forte relação com a capacidade
musical. Tais achados sugerem que o processamento auditivo necessário para que a percepção
musical esteja relacionada ao processamento auditivo necessário para a consciência fonológica e, em

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última instância, para a leitura. Além disso, a percepção da música é preditiva da habilidade de
leitura, mesmo quando a variância compartilhada com consciência fonológica é removida. Portanto, a
percepção da música parece estar tocando mecanismos auditivos relacionados à habilidade de leitura
que se sobrepõem apenas parcialmente com aqueles relacionados à consciência fonológica. A
memória auditiva, o vocabulário e a matemática não se mostram envolvidos na relação entre música
e leitura. Portanto, ainda não é compreendido (e está aberto a futuras questões de pesquisa) quais
habilidades de processamento estão associadas a cada uma, percepção musical, leitura e
consciência fonológica.

Significado dos Resultados:

Esta pesquisa sugere que a habilidade precoce com a música pode melhorar a aquisição de leitura,
bem como outras habilidades linguísticas. Para as crianças que lutam com habilidades de leitura,
intervenções de música podem ajudar deficiências no processamento auditivo que potencialmente
subjazem problemas de leitura.

Metodologia:

O objetivo do estudo foi examinar a relação entre o processamento musical ea consciência fonológica
em uma grande amostra de crianças pequenas, bem como examinar como esses fatores estão
relacionados ao desenvolvimento da leitura. Cem crianças de quatro e cinco anos de idade foram
recrutadas em escolas e creches na região de Hamilton-Wentworth, no Canadá. As crianças foram
administradas uma bateria de testes ao longo de cinco sessões: tarefas de música que se
concentraram no ritmo, melodia e processamento de acordes; Um conjunto de tarefas de consciência
fonêmica conhecidas para prever o sucesso da leitura; E uma medida padronizada do
desenvolvimento da leitura precoce (WRAT 3). Foram exploradas pela primeira vez as relações entre
as variáveis musicais e as relações entre as variáveis fonológicas. Em seguida, usando análises de
regressão ordenada, os pesquisadores examinaram se as variáveis musicais previam o sucesso da
leitura, mesmo quando a contribuição da consciência fonêmica tinha sido levada em conta. Uma
análise final tentou descobrir algumas das variáveis cognitivas mais gerais pelas quais a música pode
influenciar o desenvolvimento da leitura. Realizaram-se análises separadas em que o intervalo de
dígitos, vocabulário e habilidade matemática foram removidos separadamente no passo inicial de
uma análise de regressão hierárquica para examinar se a música e / ou a consciência fonêmica
continuaram a prever a leitura.

Limitações da Pesquisa:

Os efeitos baseados em gênero e raça / etnia não são incluídos nesta análise. Além disso, não são
discutidos os procedimentos de amostragem e dados demográficos, incluindo os aspectos sócio-
económicos e raciais / étnicos; Como resultado, os resultados deste estudo podem não generalizar
para todos os quatro e cinco anos de idade. Embora o estudo cross-referenced habilidades usando
muitos métodos de avaliação diferentes, os pesquisadores não indicaram que eles testaram um grupo
controle ea correlação identificada pode ser devido a outras variáveis. Por fim, este estudo é limitado
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pelo fato de ser incapaz de identificar variáveis cognitivas específicas que possam ter um papel na
relação entre percepção musical e habilidades de leitura.

Perguntas para guiar a nova pesquisa:

O conjunto de habilidades subjacentes associadas à consciência fonêmica e à percepção musical


continua a ser um tópico importante para pesquisas futuras. Novos estudos poderiam abordar uma
população maior e mais diversificada para determinar se há variação nos resultados entre estes
grupos de crianças. Juntamente com essas perguntas, a pesquisa longitudinal fornecerá informações
valiosas sobre se a música mais sofisticada e as habilidades de leitura continuam a manter um
relacionamento.

Extraído http://www.artsedsearch.org/summaries/relations-among-musical-skills-
phonological-processing-and-early-reading-ability-in-preschool-children

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