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CONSTITUCIONAL NO BRASIL
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Sumário
NOSSA HISTÓRIA..................................................................................................... 2
1 - A ideia de Império e a fundação da Monarquia ................................................. 3
1.1 - Sacerdócio e Imperium ............................................................................... 3
2. Os projetos políticos de um grande império ........................................................ 5
3. O poder do império civil ...................................................................................... 7
4. Os fundamentos de um novo poder político ......................................................... 12
5 - A articulação político-institucional de um monarca constitucional para o império do
Brasil (1826-1831) ................................................................................................... 14
6 - Império do Brasil - Primeiro Período - D. Pedro I (09.01.1822 - 07.04.1831) ..... 21
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NOSSA HISTÓRIA
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1 - A ideia de Império e a fundação da Monarquia
Constitucional no Brasil (Portugal-Brasil, 1772-1824).
O texto pretende avaliar esta hipótese, tomando como centro de seu exame a ideia
de império civil, que consideramos uma noção principal para a reorganização político-
administrativa do reino de Portugal em fins do século XVIII, e que foi depois reativada
no período da independência dos seus domínios na América, na década de 1820,
particularmente na constituição do Império do Brasil. Mas as alterações políticas nas
colônias europeias nas Américas não parecem mostrar uma simples aplicação
daquela teoria ou do iluminismo europeu. A fundação das novas instituições políticas
no reino independente do Brasil supõe considerar tanto a recepção de textos sobre
direito natural (autores cujo renome não alcançou nossos dias) quanto à reativação
de princípios da antiga monarquia portuguesa. Pretendemos acompanhar aquela
recepção e esta reativação através de um exame atento das redefinições sobre a
ideia de império civil, de 1772 (ano da reforma do ensino superior em Portugal) até
1824 (data em que entra em vigor a Constituição do Império do Brasil). Identificamos,
na migração desta ideia, três momentos diferentes.
Num primeiro momento, havia alguns pontos cruciais a partir dos quais se concebiam
o poder político e a sociedade no reino português, em meados dos Setecentos. Uma
concepção de poder político como imperium já era defendida em textos do período,
sustentada na distinção medieval entre o que caberia ao ministério religioso e ao
poder civil, nos termos de uma oposição entre o sacerdócio e o império civil. É o que
observamos num teólogo que se tornou expressivo nos anos 1780: Antonio Ribeiro
dos Santos, cuja obra De Sacerdotio et Imperio se inseria nesta discussão . Para
Ribeiro dos Santos, o ministério eclesiástico envolvia o culto religioso e a orientação
para um fim espiritual. Em contrapartida, “o sumo poder do imperante civil é o direito
absoluto de moderar e dirigir, indistintamente, as ações de todos os membros dos
seus corpos políticos, em prol da utilidade comum dos cidadãos”. Ribeiro dos Santos
insiste na separação entre o poder espiritual e o político, em que a competência de
um não pode negar a do outro.
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Na década de 1760, uma reforma administrativa procurou reforçar o poder régio,
durante a regência de D. José I (1750-1789), e excluir uma jurisdição eclesiástica.
Defendia-se o poder régio em termos da sua concepção como um poder de imperium
– caracterizada pela oposição às funções eclesiásticas, mas enfatizando a
supremacia do poder monárquico. Esta defesa foi ratificada na reforma dos cursos
jurídicos, em 1772, através da adoção de um manual de direito natural de Carlo de
Martini, que concebia a sociedade como produto de necessidades, que se
congregava em pactos sociais e cuja manutenção caberia ao império civil. Este era
um poder próprio do monarca, que o exercia como um direito de fazer leis, direito
também de inspecionar a conduta dos clérigos, além de procurar animar o comércio
e as ciências. O jurista afirmava ainda que este império civil teria por objetivo
promover a segurança e a quietude do Estado, através do qual seriam satisfeitas
aquelas necessidades últimas dos homens.
A partir da afirmação do poder régio em termos desta noção de império civil, poder-
se-ia muito bem indicar uma diminuição do poder temporal da Igreja e a compreensão
da política fora das categorias teológicas, neste final do século XVIII, na monarquia
portuguesa. Então, a Igreja foi retirada do centro da política, tanto pela restrição da
jurisdição religiosa – dos foros privilegiados aos membros das ordens e clérigos, que
os colocavam fora da jurisdição régia – quanto das reflexões políticas (passando a
predominar o estudo dos tratados de direito natural, particularmente os dos alemães).
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Notamos, contudo, um maior entrelaçamento da política com a religião nas
concessões de comendas das ordens religiosas. Se os procedimentos devocionais
(procissões, missas) eram propostos, desde o século XVI, como um meio privilegiado
de exercício da sujeição política, no reinado de D. Maria I, a devoção exercita-se mais
do que antes na ação política. As concessões de honrarias tornam-se o
reconhecimento por um desempenho público que se apresenta como exercício de
uma devoção a Deus. Então, as Ordens religiosas de San Tiago, da Espada e de
Cristo promovem o exercício do amor de Cristo, simbolizadas na insígnia com
emblema do Sagrado Coração de Cristo, enquanto prática civil de devoção. Destarte,
o valor de devoção fica acentuado nas condecorações monárquicas, que são
concedidas em reconhecimento a serviços prestados ao regente. E o reinado de D.
Maria I dá início a um culto religioso através do Estado: a obediência política resulta
em amor a Deus. Assim, durante o reinado de D. Maria I, o Estado torna-se mais
religioso em seu funcionamento e em seus fins, pois a promoção das virtudes cristãs
se daria pelo desempenho das funções públicas. Alterou-se, portanto, a relação entre
devoção e sujeição política, pois, se na antiga noção de império cada uma delas
remetia a uma dimensão distinta (Igreja e império civil), agora elas se superpõem na
noção de império civil.
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Tais formulações seriam repensadas em outro lugar e sob novas condições, no início
do século XIX, com a transferência da Corte para a América portuguesa. Em 1808,
Portugal foi invadido por tropas francesas, levando à transferência do príncipe-
regente e sua Corte para a América portuguesa. O Estado-maior português teve de
se reorganizar na cidade do Rio de Janeiro. E a Corte imigrada precisou de recursos
financeiros, providos pelos negociantes imigrados ou nativos da província do Rio de
Janeiro. Os créditos para a nobreza e o auxílio param aos cofres públicos são
conferidos em troca de títulos, concessões de monopólios (por exemplo, contratos de
arrecadação de impostos) e isenções. Compõe-se uma Corte, nas terras do Brasil,
formada por uma nobreza imigrada, burocratas de alto escalão, serviçais e
negociantes. Esta nova Corte terá no Rio de Janeiro a sede do Reino do Brasil – novo
estado político, criado em 1815, que reúne as províncias portuguesas na América.
Falar em império evoca agora o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, bem
como os projetos políticos pensados para esta união de reinos sob o controle único
da coroa portuguesa, formulados dentro daquela nova Corte, ou mesmo fora dela.
Tais projetos propõem reformas político-administrativas que permitam a alguns
grupos (portugueses nativos do Brasil, ou imigrados vinculados aos primeiros) ampliar
a sua força política dentro do regime monárquico, redirecionando a atuação do Estado
sobre a dinâmica econômica.
Destacamos aqui dois projetos políticos que operam com a ideia de império, e que
foram formulados por grupos específicos em busca de ampliação de sua força
política. Há uma primeira ideia: a de um império luso-brasílico, um grande reino
português com sede no Brasil. Trata-se da concepção de um estado fundamentado
na manutenção do princípio de unidade das províncias e dos reinos em torno da
monarquia e da dinastia regente (com sentimento de pertencimento à nação lusa, um
sentimento de identidade), mas com autonomia do Reino do Brasil e direitos iguais
deste aos de Portugal: uma concepção da cidadania e do “sistema representativo”,
pensados em termos da noção de “povo”, tal como aparecia na monarquia portuguesa
Setecentista, em que o “povo” era a aristocracia local. Os cidadãos eram os “homens
bons”, os que tivessem grandes possessões locais, eventualmente títulos, e cuja
ascendência não fosse impura (isto é, judaica); e a representação dos “povos” fazia-
se por meio de petições. Este projeto requisitava o direito de voto sem liberação da
esfera pública, sem tornar a participação política extensiva a muitos. Tais proposições
foram expostas por membros de um grupo formado por nobres imigrados (como
Tomás Antônio Vilanova Portugal), altos burocratas (José Egídio Álvares de Almeida
– o Barão de Santo Amaro – José da Silva Lisboa, Quintella e Lobato), membros de
famílias ricas e poderosas (como José Carneiro Leão, Fernandes Viana, Manuel
Jacinto Nogueira da Gama e José Joaquim Carneiro de Campos). Muitos eram nobres
ou burocratas que alcançaram títulos, cargos ou riquezas na regência do príncipe
regente D. João, a partir da sua transferência para o Rio de Janeiro.
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autonomia como “independência política” e “soberania política” do Reino do Brasil,
ainda que não significasse o rompimento político com o Reino de Portugal: a ligação
manter-se-ia sob um único governo. Porém, esta autonomia supõe a primazia do
poder legislativo e o fortalecimento do mercado interno. São propostas expostas por
fazendeiros e negociantes do Rio de Janeiro (como Gonçalves Ledo, João Alves Silva
Porto e Manuel Joaquim Silva Porto, Manuel dos Santos Portugal) ou membros da
Corte joanina no Brasil (como José Clemente Pereira e o padre Januário da Cunha
Barbosa).
Uma reflexão sobre o poder político em termos de imperium já havia sido retomada
quando da formulação da concepção de império civil, no final do século XVIII, em
Portugal, para pensar o poder régio como supremo. Consideramos que, agora, a ideia
de um império civil luso-brasílico redefine o campo de atuação próprio do Estado
português (em torno de uma função administrativa) e reorganiza o espaço público
(admitindo a participação política, mas conforme certas definições de cidadania).
Recupera-se daquela reflexão anterior a definição de um poder político supremo.
Reafirma-se também a função reguladora do poder político: inspetor das condutas
particulares, promotor das atividades comerciais e agrícolas. Mas começa a alterar-
se a origem deste poder, com a inclusão do conceito de cidadão.
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O terceiro momento no qual podemos apreender a migração da ideia de império é o
período que vai do segundo semestre de 1822 a março de 1824. Envolve o esforço
de depositar o poder político do Reino independente do Brasil no príncipe-regente D.
Pedro – que o rei D. João VI havia deixado no Brasil como seu lugar-tenente, quando
do retorno a Portugal. Os partidários de um projeto de governo constitucional, como
José Clemente Pereira, haviam pressionado para a convocação de uma Assembleia
Constituinte no Brasil, que veio a ser convocada pelo príncipe-regente em junho de
1822. Nos meses seguintes, os dois grupos acima citados uniram-se em torno da
pessoa do príncipe-regente D. Pedro para nele depositar a legitimidade da
independência política do Brasil. O governo do reino independente subsiste durante
algum tempo no confronto entre os projetos políticos de uma monarquia soberana
(proposta pela Câmara de deputados de São Paulo e levada adiante por José
Bonifácio, já então ministro do governo do príncipe) e de um governo constitucional
(defendido pelo presidente da Câmara do Rio de Janeiro, José Clemente da Cunha).
A aclamação de D. Pedro I como Imperador do Brasil, em 22 de outubro de 1822,
expõe este confronto de projetos: de um lado, D. Pedro agradece ao povo, reunido
no Paço, pelo “título” que lhe concede; de outro, José Clemente declara que a
“vontade do povo” o havia aclamado para governar o reino independente. O título de
imperador é presente a ser agradecido para um, eleição para o governo do novo
Estado para o outro. Em torno do título disputa-se o tipo de governo político:
monárquico ou representativo. O discurso de José Clemente afirma o princípio de
soberania popular, um governo de caráter representativo (por alusão aos
representantes das Câmaras municipais). De seu lado, José Bonifácio e o grupo ao
redor de D. Pedro coordenam a supremacia do poder político do novo Imperador,
supremacia que exclui a participação política popular (alegando a legitimidade
hereditária do príncipe-regente). Nos termos deste último grupo é que se compôs o
cerimonial de sagração de D. Pedro, em que poderemos observar como ele se reporta
àquela ideia de império civil, definida em Portugal, já o vimos, nos fins do século XVIII.
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constitucionais – contrastante com a imagem setecentista do rei-salvador do reino e
da alma de seus súditos, conforme a ideia de imperium utilizada naquela época.
Não é apenas o fato de D. Pedro I estar vestido com o uniforme militar que permite
aludir à imagem do rei-soldado, mas também as insígnias que levava consigo,
permitindo compor a cena do Imperador indo para a batalha, “marchando à sua frente
com a tábua da Lei em uma mão, e noutra com a vara da Justiça”, isto é, a
Constituição e o cetro – conforme o sermão de Frei Sampaio. Evidentemente, há um
anacronismo nesta figuração, pois D. Pedro, durante o cerimonial, não estava
segurando a Carta numa das mãos, já que esta só viria a ser redigida posteriormente.
Porém ela surgiu simbolicamente no juramento, momento central do cerimonial,
quando a fórmula do juramento lhe atribui a função de defesa da Carta. Daí se afirma
que o poder político do imperador está fundamentado não somente nela; ele o traz
consigo no exercício de seu poder. Observamos que D. Pedro sustém um bastão
durante a cerimônia (o cetro imperial), que não é idêntico ao cetro real de D. João VI
– com a forma de um pequeno bastão curto, símbolo tradicional do poder régio em
Portugal. O de D. Pedro I assemelhase, isto sim, ao báculo, ao cajado dos bispos,
indicador da função pastoral daquele que guia os povos para a salvação das almas.
Sampaio ressalta tal semelhança logo no início do sermão da sagração: como Cristo,
na imagem do Bom Pastor, o imperador está disposto a dar sua vida por aqueles que
conduzem. Sampaio ressalta também o dom do Imperador: sua eleição pela
Providência para reinar sobre o Império do Brasil. Ora, se a coroa imperial não tem a
forma tradicional de coroa régia, assemelha-se, porém, à mitra, barrete usado pelos
bispos como insígnia do poder de jurisdição no bispado, que foi concedido como um
dom, um poder ofertado pela Providência. O báculo e a mitra são insígnias daquele
que detém um poder de reger e julgar derivado da Providência divina e que se
exerceria com propósito de salvação espiritual dos homens. Destacamos, assim,
algumas remissões formais entre as insígnias episcopais e as imperiais, que o sermão
de Sampaio estabelece direta ou indiretamente. Isto é feito para afirmar outro poder
de salvação, exclusivo do Imperador: a defesa dos direitos constitucionais.
Ressaltamos, com estas comparações entre as insígnias imperiais e as episcopais,
que é preciso refletir um pouco mais cuidadosamente sobre a articulação entre a
dimensão política e a religiosa efetuada na cerimônia de sagração de D. Pedro I.
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adquire caráter sagrado (pois está posto na Lei de Deus) e valor político, pois é centro
de unidade e defesa dos direitos constitucionais. Desta maneira, o poder político de
D. Pedro fundamentará sua autoridade nos próprios princípios de uma razão natural
– aos quais a redação da Constituição deve igualmente submeter-se – como também
na soberania divina, a que todo ser vivente e criatura de Deus está
incondicionalmente sujeito.
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sujeição prestado a D. João VI, no cerimonial de sua aclamação, em 1818. Neste
último, os súditos ocupavam um papel desprovido de poder e decisão, em que a
obediência era uma obrigação.
No caso da sagração de D. Pedro, trata-se de restringir o poder que cabe a cada um,
pelo respeito a condições normativas (deveres e lei estabelecidos conforme o “direito
natural e das gentes”), cabendo ao Imperador o papel de velar pela observância da
lei, de uma legislação cuja legalidade estava fundamentada nestes absolutos
princípios jus naturalistas. A origem do poder político do imperador é anterior e
superior ao seu exercício de qualquer poder institucional: a vontade divina e a do
povo. Concebe-se o poder político como ilimitado, mas não propriamente o poder do
Imperador, já que este se insere agora numa distribuição constitucional dos poderes.
Aquele poder ilimitado e esta distribuição exigem uma obediência à lei e à
Constituição, que se admite como sendo garantida pelo Imperador, feito instrumento
daquelas vontades. O ponto importante é justamente esta função instrumental do
poder imperial, pelo qual o imperador adquire um papel principal na monarquia
constitucional: garantia de existência do regime monárquico, porque fiador e
mantenedor da legalidade constitucional. Além disto, o cerimonial da sagração vincula
a razão natural com a obediência absoluta. A monarquia constitucional seria um
regime que reteria estes elementos numa Assembleia Legislativa e num monarca. O
que procuramos ressaltar é que se trata agora de uma obediência política apenas
exercida pelo conhecimento dos deveres, não mais por uma exigência alheia à razão
dos homens. Mudou, portanto, a natureza do cerimonial político, mesmo ao fazer uso
de procedimentos religiosos. Com a coroação de D. Pedro I fez-se um uso moderno
do procedimento antigo da sagração, para constituir uma sujeição política
fundamentada na razão universal do Homem. E a existência de um poder de império
(um poder superior e vigilante) legitima-se na Constituição (expressão da vontade
racional e soberana da nação) e no respeito a que lhe impõe o trono: tais são os
fundamentos de uma monarquia constitucional. Isto nos permite afirmar que a
monarquia brasileira apresenta-se como um império da lei, nesta primeira década de
1820.
Trata-se de uma ideia de império que teria contribuído para fundamentar o título do
novo Estado independente do Brasil, no qual o poder político governante é um poder
superior, vigilante e promotor de riquezas: um poder de império que se manifesta na
dimensão legal como expressão de uma vontade soberana e racional. Esta ideia de
império supõe, assim, um Estado de Direito, em que haveria Direito porque a ordem
legal se fundamentaria numa vontade superior (tanto divina quanto popular). E o
exercício deste poder de império desdobra-se como um poder legal e constitucional,
que, ao mesmo tempo, vela pelo respeito desta ordem legal e se expressa na
Constituição. A sagração é o momento em que este poder temporal de império é
concedido a D. Pedro, quando também se caracteriza sua origem naquela vontade
superior.
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supremo do novo regente, e o poder representativo não poderia desautorizar o poder
e o governo de D. Pedro. Retoma-se aqui a concepção de um poder político como
um império civil; não simplesmente pelo título, mas por ser um poder supremo na
dimensão humana, instituído por direito divino.
A repressão que se abateu sobre este segundo grupo – com o exílio de Ledo e
Clemente, e a eliminação de grupos que davam respaldo a Ledo (não aceitavam a
separação de Portugal, as discriminações eleitorais e as feições das relações
mercantis) – não extirpou o projeto de um governo representativo, pois a Assembleia
Constituinte já fora convocada. Consideramos mesmo que não se deu a vitória
unânime de um projeto político sobre o outro, de um projeto de monarquia sobre o de
um governo representativo. As reuniões da Assembleia durante o ano de 1823
formularão os termos jurídicos da nova sociedade civil e dos poderes políticos,
inclusive a autoridade do Imperador. Foi preciso admitir a liberdade política dentro do
novo governo, mas também coordená-la com o princípio de um poder supremo,
depositado na pessoa do monarca.
Em nosso entender, esta ideia de império civil não é propriamente um projeto político
de um grupo (de Ledo ou de José Bonifácio), mas uma concepção de poder político
– que é retomada por aqueles projetos. Por um lado, reporta-se a um poder definido,
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em fins do século XVIII, em termos de um direito divino e de pressupostos jus
naturalistas. Por outro, a uma concepção que foi reelaborada nos anos 1820 para
confrontar uma ampliação das liberdades políticas. Daí uma concepção de império
civil que fundamenta o poder político no Império do Brasil, que podemos caracterizar
em três pontos.
Tão grande ameaça só pode ser contida por um poder imenso, além dos limites
estabelecidos pela lei ordinária, pela constituição e mesmo pelos direitos individuais.
Sobre este ponto, há uma diferença fundamental entre o projeto de 1823 e o código
de 1824. O primeiro projeto estabelece um predomínio do poder político do legislador
(portanto, na Assembleia), que sanciona leis, e da própria Carta Constitucional,
independentemente da autorização do poder executivo ou da determinação de que
tipos de projetos de lei cabem ao Imperador, aos deputados ou aos senadores (Arts.
114 e 121 do projeto).
Mas, poderíamos perguntar poder excepcional sobre o quê? Seguimos então para o
segundo ponto: a ideia de império civil como um poder dedicado à salus populi. Por
um lado, ele visa o “bem da sociedade”, que foi identificado com o Império. Há muito
tempo, o Estado tinha estabelecido as principais condições para este poder atuar
sobre o populus e, portanto, agora, pela Constituição de 1824, o princípio de
conservação do Estado está vinculado ao de preservá-lo através de um conjunto de
prescrições do direito civil. Este mesmo enunciado (“salvação do Estado”) era
facilmente encontrado, anos antes, a propósito da monarquia portuguesa. Mas, então,
numa monarquia, o princípio de conservação poderia ser estabelecido, fazendo-o
voltar para a própria pessoa do rei. Assim, toda a ação do Estado convergia para
reforçar o poder político do monarca – é o que denominamos, em outro lugar, de
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“princípio circular do poder”. Contudo, a questão, agora, é como conservar um
Estado, cujo governo político é representativo, isto é, inclui a participação efetiva de
vários indivíduos (os
“cidadãos”) e poderes divididos (executivo, legislativo e judiciário), que se distinguem
da pessoa do rei e do poder real.
Por outro lado, o poder de salus populi atua como governo e polícia da sociedade,
atento a suas variações no tempo e às diferentes partes que o constituem. Se a
metáfora do corpo social vigora neste início de século XIX, talvez seja porque ela
determine com precisão o problema do governo como uma tentativa de dar conta da
dimensão pública segundo o modelo moral. As ações e a razão universal são
aproximadas neste modelo, e a lei, como um preceito de conduta, torna-se um
instrumento comum a ambas, sendo que a razão é a via interna pela qual se dirige a
conduta ou a ação política e que permite igualmente estabelecer a obediência. Mas
este modelo permite apoiar ainda uma hierarquia entre os indivíduos que exercem o
poder político do Estado e os que não podem dele participar, a qual se define no
mérito e no esclarecimento, pelo serviço prestado ao Estado e pelo discernimento da
razão política, tanto para produzi-la como legislador quanto para obedecer a ela como
cidadão. Contudo, não há mais uma distância entre aquele que exerce algum poder
político sobre os outros, e aquele que está isento de algum tipo de controle das
condutas. Enfim, aquela metáfora do corpo não é mais tomada como simples analogia
funcionalista (segundo a qual apenas um concebe as ordens e os demais executam),
porque o corpo social depende agora de uma ética para ser também o lugar de
exercício do poder político: a moderação das paixões aparece como uma nova função
do governo político.
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se a opor uma barreira contra as agressões do poder em 1829. (ARMITAGE, 1981,
p.194)
O balanço feito por John Armitage sobre o caráter da Câmara dos Deputados, em sua
História do Brasil, publicada em 1836, foi de tal forma convincente que ainda hoje, em
pleno século XXI, encontram-se ecos de suas palavras em muitas das reflexões feitas
sobre o papel desempenhado pela Câmara dos Deputados no decorrer do Primeiro
Reinado, desde a abertura dos trabalhos legislativos no dia 06 de maio de 1826 até
o encerramento da sessão anual legislativa de 1830. De tal forma que se tornou
corrente, na historiografia dedicada a este período, vislumbrar, nas primeiras sessões
da Assembleia Geral Legislativa, deputados fracos e vacilantes que temiam um
desfecho igual ao da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823 (SOUSA,
1988, p.211; HOLANDA, 1997, p.399; CERVO, 1981, p.31-32. PEREIRA, 2010,
p.171, 203). Contudo, notase que, se por um lado eram cautelosos (RIBEIRO;
PEREIRA, 2009, p.154), na medida em que evitavam ferir os brios de dom Pedro I,
por outro, souberam, com muita habilidade, conduzir os trabalhos legislativos de
forma a elaborar uma crítica severa e ininterrupta aos rumos tomados e aos objetivos
traçados pela política imperial brasileira até aquele momento
(LOPES, 2003, p.208; DOLHNIKOFF, 2005; DANTAS, 2008, p.9-67) e propor
estratégias para se construir, a partir do texto constitucional, um papel viável ao
imperador de acordo com os anseios das diversas províncias brasileiras.
Na leitura dos Anais do Parlamento Brasileiro: Câmara dos Srs. Deputados e dos
Anais do Senado do Império do Brasil, perscrutam-se os meandros pelos quais o
papel a ser exercido pelo Imperador foi tecido através do discurso legislativo, muito
mais do que pré-determinado pelo texto constitucional. A criação de um poder
moderador (aliado ao executivo), de forma a limitar a atuação do legislativo (forte nas
experiências constitucionais de Cádis e de Lisboa – de acordo com HESPANHA,
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2004, p.102, “o poder real [moderador] visava, antes de mais, a contenção do
legislativo”), não impediu os deputados (representantes da Nação, eleitos e
temporários) e os senadores (representantes da Nação, eleitos e vitalícios) de
questionarem as medidas adotadas pelo imperador à frente dos poderes que lhe
foram reservados. Cumpre lembrar que, na arquitetura constitucional do Império do
Brasil, destacam-se dois grandes títulos: o quarto, dedicado ao poder legislativo, e o
quinto, consagrado ao imperador – no qual foram instituídos os poderes moderador e
executivo. Foi do diálogo estabelecido entre os representantes desses três poderes
– legislativo moderador e executivo –, no espaço da Assembleia Geral Legislativa
que, a partir do texto constitucional, mas nele não se esgotando, construiu-se a
arquitetura político-institucional do Estado recémemancipado. Nas câmaras do corpo
legislativo se canalizavam os anseios, as dúvidas, os questionamentos e as
expectativas da Nação soberana em torno de qual seria o melhor governo e a melhor
administração do Império em construção. Tratava-se, portanto, de um fórum de
debate privilegiado, no qual afloravam as diversas concepções de monarquia
constitucional em curso naquele momento.
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Ao assim procederem no decorrer dos debates legislativos travados durante o reinado
de dom Pedro I, e obtidas diversas conquistas legais, em 1831 vislumbrou-se na
abdicação do imperador – no dia 07 de abril – a possibilidade de se manter o sistema
de governo monárquico hereditário constitucional representativo instituído pela
Constituição Política do Império do Brasil outorgada pelo monarca em 1824, a
despeito da revolução em curso naquele ano. De um lado, ao mesmo tempo em que
o primeiro imperador – português de nascimento – retornava para Portugal, deixava
seu filho – nascido no Brasil – como elo de continuidade dinásticoinstitucional. De
outro, possibilitava às câmaras da Assembleia Geral Legislativa concluir o trabalho
interrompido por ocasião da dissolução da Assembleia Geral Constituinte e
Legislativa de 1823: o texto constitucional de 1824 tornar-se-ia, de certa forma – pela
aprovação do Ato Adicional de 1834 e pela lei de interpretação de 1840 –
representativa da Nação representada nas duas câmaras do corpo legislativo. Ao
assim procederem, legitimou-se, perante os Brasis, o texto outorgado em 1824. E,
frente aos diversos horizontes de expectativas de uma monarquia constitucional
possível, articuladas no período em análise, um pacto político-institucional foi tecido
de forma a possibilitar a manutenção desse sistema de governo até a instituição da
República em 1889 (DOLHNIKOFF, 2005).
Por outro, no plano jurídico, era igualmente uma novidade o ensino do Direito
Nacional (Pátrio) (LOPES, 2004, p.124-125; p.148). Nesse momento, ao passo em
que se afirmava uma nova ideia de soberania, relacionada à Nação, articulava-se
uma nova concepção de Direito tendo em vista os Estados nacionais em construção
no século XIX. Desse modo, não apenas novas concepções de lei, legitimidade e
legalidade estavam em construção no debate legislativo (FERNÁNDEZ SEBASTIÁN;
FRANCISCO FUENTES, 2002), como também, no início do século XIX, o Direito
Público, o qual abarca tanto o Direito Constitucional quanto o Administrativo, ainda
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estava em fase de delimitação teórico-conceitual (ROSANVALLON, 1994; LOPES,
2004; SLEMIAN, 2006).
Além disso, para perscrutar o debate politico no Império do Brasil em sua primeira
década, deve-se considerar, além da transformação no saber jurídico
supramencionado, o fato de os cursos jurídicos terem sido criados, nesse Estado
nacional em construção, apenas em 1827 (as aulas tiveram início em 1828). Ou seja,
há uma particularidade no debate travado, durante o Primeiro Reinado, nas duas
câmaras da Assembleia Geral do Império do Brasil: a presença de uma geração
formada, sobretudo em Coimbra, dentro dos valores iluministas e intimamente
vinculada ao espaço atlântico (VARGUES, 1997; MAIA, 2002; ARAÚJO, 2003;
NEVES, 2003).
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o nascente Império do Brasil, há poucos trabalhos a ele dedicados. No decorrer da
última década, foram desenvolvidas pesquisas relacionadas às origens e ao
funcionamento do poder moderador, as quais ampliaram a reflexão sobre esses
temas em nossa historiografia (BARBOSA, 2001; AMBROSINI, 2004; OLIVEIRA,
2006 e 2009; LYNCH, 2007). No entanto, não houve interesse direto da historiografia
tanto em relação ao papel desempenhado pelo monarca enquanto chefe do poder
executivo – competência por ele exercida juntamente com a de delegado privativo do
poder moderador, quanto às relações estabelecidas entre ambos os poderes
exercidos sob a chefia do imperador, com ou sem o referendo ministerial. No que se
refere à utilização do discurso parlamentar como fonte de pesquisa, no decorrer da
última década, foram desenvolvidos trabalhos que propuseram uma metodologia para
a abordagem desse discurso político. Dentre os temas tratados por essa nova
historiografia, a qual utiliza o discurso parlamentar como fonte, destacam-se questões
da política externa (PEREIRA, 2007); da construção e exercício da cidadania
(RIBEIRO, 2002; PEREIRA, 2010); da Constituição (SLEMIAN, 2006), e do
contrabando e da escravidão (RODRIGUES, 2000; PARRON, 2009).
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mostra o quanto apenas a partir da ação e da prática política é que se compreende a
dinâmica de uma sociedade em transformação. Outro aspecto importante de sua
pesquisa é a preocupação em entender a política, a partir do que ocorria em ambos
os lados do Atlântico, tendo em vista o mundo lusobrasileiro comum por ela abordado.
No entanto, em sua obra, deve-se relativizar a interpretação por ela dada em relação
às permanências do Antigo Regime na cultura política da independência (NEVES,
2003, p.414418), de forma a sublinhar em demasia a conjuntura política da
Restauração (e da ideia política de um Império Luso-brasileiro) no curso dos
acontecimentos.
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6 - Império do Brasil - Primeiro Período - D. Pedro I (09.01.1822 -
07.04.1831)
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22.05.1822 - Em Lisboa, nas Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação
Portuguesa, o deputado Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (SP),
irmão de José Bonifácio, estando com a palavra, ao ser interrompido pelas galerias
quando fazia veemente defesa do Brasil, Império do Brasil - Primeiro Período - D.
Pedro I (09.01.1822 - 07.04.1831) declara: "Eu não sei quem tenha pela lei a ousadia
de perturbar-me. Os cidadãos das tribunas devem saber que reis, quando elegem os
seus representantes, são, neste lugar, súditos: aqui lhes cumpre todo o sossego:
escutar e calar". Prova, com isso, ser o verdadeiro líder parlamentar das bancadas
de representantes brasileiros, defendendo com o risco da própria vida, com brilho e
altivez, todos os interesses do Reino do Brasil. Interrompido, redobrava com ardor a
sua fala.
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07.09.1822 - Sítio do Ipiranga, província de São Paulo. O príncipe regente D. Pedro
de Alcântara proclama a separação do Brasil do Reino de
Portugal: "Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade
do Brasil. Brasileiros, a nossa divisa de hoje em diante será 'Independência ou Morte!
' Estamos separados de Portugal!".
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05.01.1823 - No Rio de Janeiro, o ministro e secretário de Estado dos
Negócios do Império e Estrangeiros, José Bonifácio de Andrada e Silva (SP), expede
a Decisão de Governo nº 2, que "dá providências para se reunirem quanto antes na
cidade do Rio de Janeiro os deputados da Assembleia Geral, Constituinte e
Legislativa do Império do Brasil". Estas instruções são "para os governos provinciais
facilitarem todos os meios precisos para o transporte de seus representantes à Corte
do Império do Brasil, com a possível brevidade".
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pelo rei D. João VI, declarando "em vigor as leis tradicionais", pondo fim à vigência
da Constituição de 1822. Nesse mesmo mês são concluídos os trabalhos de
preparação da nova Carta Constitucional. O rei decide convocar para junho as "Cortes
tradicionais", que acabam por não se reunir por vários fatores, mas principalmente
pelas tentativas de revolta militar miguelista [D. Miguel, irmão de Pedro I], tentando
forçar a abdicação do rei e estabelecer uma regência a favor da rainha "humilhada",
D. Carlota Joaquina.
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projeto é de teor liberalizante e de contenção do poder do monarca. Todos os grandes
princípios das liberdades constitucionais, todas as novas conquistas do sistema
representativo estão ali proclamadas e consagradas. Entre outros, monarquia
constitucional, divisão do Estado em três poderes e a Assembleia Geral constituída
de duas salas: a sala de deputados (eletiva) e a sala dos senadores (vitalícia). Cada
legislatura deverá durar quatro anos, e cada sessão legislativa, quatro meses. O
projeto desarma o soberano, não lhe concedendo o poder moderador, nem tão pouco
o direito de dissolver a Câmara dos Deputados.
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12.11.1823 - Doze horas e quarenta minutos. A tropa imperial cerca todo o edifício da
Assembleia e são colocadas peças de artilharia nas entradas das ruas adjacentes. A
Assembleia Geral, Constituinte e Legislativa é dissolvida por decreto do imperador D.
Pedro I após a leitura do documento no Plenário da Casa. Os constituintes, por
prudência, retiram-se, sem protesto. Ao deixarem o prédio, alguns são presos por
ordem do monarca e depois desterrados. Este foi o primeiro golpe de Estado ocorrido
no Brasil. Outros acontecerão ao longo de sua história, para infelicidade da Nação.
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Monroe, onde é defendida a tese "a América para os americanos"). O governo
brasileiro é o primeiro em nosso continente a aderir a essa declaração, em janeiro de
1824.
11.03.1824 - O imperador D. Pedro I expede decreto que "jura e manda jurar o Projeto
de Constituição Política do Império do Brasil, datado de 24 de fevereiro, e designa
para esta solenidade o dia 25 de março".
26.03.1824 - O imperador D. Pedro I expede decreto que "torna sem efeito o decreto
de 17 de novembro de 1823 sobre as eleições de deputados para a Assembleia
Constituinte e manda proceder à eleição dos deputados e senadores da Assembleia
Geral Legislativa do Império do Brasil e dos membros dos Conselhos Gerais das
Províncias".
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02.07.1824 - Em Recife, Pernambuco, tem início a "Confederação do Equador",
movimento nacionalista com organização republicana e revolucionária. Inspira-se
diretamente na Independência Americana (1776) e na Revolução Francesa (1789),
ambas as expressões do Iluminismo europeu e de seu rebento político, o Liberalismo.
Estabelecendo uma república federativa e democrática nas províncias do Norte,
espera seus líderes criar as condições necessárias para promover a união futura não
só da "América portuguesa", mas de todo o continente ao sul da última província
brasileira. Envida forte apelo em prol da adesão das províncias vizinhas para a
formação de um regime republicano como o existente nos Estados Unidos da
América. O protesto se dirige ao autoritarismo imperial e denuncia, também, o
abandono das províncias, com o poder central atento apenas aos problemas da área
fluminense. Resumem em uma só frase os princípios sobre os quais se assenta a
legitimidade do poder: "As Constituições, as leis e todas as instituições humanas são
feitas para os povos e não os povos para elas". O ideólogo do movimento, principal
conselheiro e publicista é o frade carmelita Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo
Caneca, que já havia participado da Insurreição Pernambucana de 1817. A
divulgação das ideias dos revolucionários e a adesão popular em heroicas brigadas
combatentes ganham contornos de inconformismo social e alastra-se pelo Nordeste.
O imperador reage, e o movimento dura de julho a novembro. As Comissões Militares
são instaladas e os principais líderes são condenados à morte, em processos rápidos
e sumários.
02.12.1825 - No Rio de Janeiro, nasce o futuro imperador do Brasil, D. Pedro II, sétimo
filho e terceiro varão do imperador D. Pedro I e da imperatriz D. Maria Leopoldina. É
batizado com o nome de Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano
Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e
Habsburgo. Foi ele herdeiro do trono desde o berço, pois seus dois irmãos mais
velhos já haviam falecido antes de completarem um ano. No dia 2 de agosto de 1826,
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o menino Pedro é reconhecido oficialmente como herdeiro presuntivo do trono
brasileiro.
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instalação da Assembleia Geral a mesma não é realizada no dia 3, conforme manda
o artigo 18 da Constituição Política do Império do Brasil.
03.06.1826 - O deputado José Clemente Pereira (RJ) apresenta o projeto de lei que
"estabelece as bases para o projeto de Código Criminal". Na sessão do dia 9, o
projeto é enviado à Comissão de Legislação, Justiça Civil e Criminal. Na sessão do
dia 1º de agosto é lido o parecer da comissão. Foi sobre as disposições desse projeto
e de outro, apresentado pelo mesmo autor a 16 de maio de 1827, e mais o projeto do
deputado Bernardo Pereira de Vasconcelos (MG), apresentado a 04 de maio de 1827,
que se formulou o Código Criminal do Império do Brasil, considerado um dos maiores
monumentos legislativos do Brasil independente.
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civil portuguesa entre liberais e absolutistas (miguelistas). Em 1828, após a vitória, D.
Miguel I proclama-se rei absoluto de Portugal, abolindo os decretos de D. Pedro IV,
incluindo a Carta Constitucional.
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