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Como se articularam as forças políticas no Império, desde o processo de

emancipação ao período regencial e quais suas principais posições.

De acordo com Dias (1986), as forças políticas se articularam a partir dos conflitos de
interesses entre as classes agrárias, nativistas de tendência liberal e os comerciantes
portugueses apegados à política protecionista e os privilégios de monopólio. As forças
de transformações provêm de pressões externas e do quadro internacional. Houve um
processo interno de ajustamento ao enraizamento de interesses portugueses, sobretudo
o processo de interiorização da metrópole no Centro-Sul da Colônia, ressurgiram-se
os setores mais conservadores do reino contra a política do príncipe regente que
aferrados aos seus direitos antigos, contribuíram para mais dificultar a devastação
causada pela guerra na vida econômica do país. As tensões internas e inerentes ao
processo de reconstrução e modernização de Portugal, viriam a exacerbar cada vez
mais as divergências de interesses com os portugueses no Brasil. A vontade de se
constituir e sobreviver como nação civilizada europeia nos trópicos, foi talvez uma
das principais forças políticas modeladoras do império.
A nova Corte, dedicada à consolidação de um império no Brasil que deveria servir de
baluarte ao absolutismo, não conseguiria levar a bom termo as reformas moderadoras
de liberalização e reconstrução que se propôs a executar no Reino, aumentando as
tensões que vão culminar na guerra do Porto que por sua vez, fez difundir aspirações
de liberalismo constitucional na colônia. Os conflitos gerados pela incompatibilidade
entre o absolutismo e a política mercantilista da coroa e as pressões do novo
liberalismo econômico, oriundo do amadurecimento do capitalismo industrial da
Inglaterra, foram sem dúvidas a chave-mestra a desencadear as forças de
transformações no período.
As tradições da colonização portuguesa e o afã de integração e conquista de recursos
naturais delineiam a imagem do governo central forte, necessário para neutralizar os
conflitos da sociedade e as forças de desagregação internas.

Conforme Ribeiro e Pereira (2009), O Povo e a Tropa saudaram a formação de uma


Constituinte que redefiniu os rumos políticos do império luso-brasilero, buscando
uma forma de viver a liberdade que levasse a satisfação das necessidades e felicidade.
Nos pródromos do Brasil independente e no período de construção do Estado Imperial
conviviam propostas liberais e antidemocráticas. Discutiam-se a legitimidade e a
soberania, lutou-se para colocar em prática aspectos do direito natural que levaram a
discussão do que convencionou chamar posteriormente de direitos civis. No Primeiro
Reinado também existiu confrontos entre um projeto mais subordinado à Inglaterra e
outro que procurava maior autonomia em relação àquele país. O povo foi ator político
fundamental na trama do Primeiro Reinado, tanto por meio de revoltas ou burburinhos
quanto usando mecanismos formais, como petições, queixas e representações.
Segundo Basile (2009), os liberais moderados e exaltados, facções políticas com
projetos de linhas de ação distintas, formaram um bloco de oposição a d.Pedro. Mas a
frágil e estratégica aliança entre os dois grupos não resistiria, as consequências de seu
grande feito, o espírito inicial de congraçamento, logo deu lugar a tensões e conflitos
decorrentes das diferenças marcantes entre as duas facções.
Os moderados se situavam ao centro do campo político imperial apresentavam-se
como seguidores dos postulados clássicos liberais, almejavam e conseguiram
promover reformas político-institucionais para reduzir os poderes do imperador,
conferir maiores prerrogativas à Câmara dos Deputados e autonomia ao Judiciário, e
garantir direitos a observância dos direitos, sobretudo os direitos civis de cidadania
previsto na Constituição, instaurando uma liberdade "moderna" que não ameaçasse a
ordem imperial. À direita do campo, adeptos de radical liberalismo de feições
jacobinistas, matizadas pelo modelo de governo americano, estavam os exaltados que
buscavam conjugar princípios liberais clássicos com ideais democráticos; pleiteavam
profundas reformas políticas e sociais, como a instauração de uma república
federativa, a extensão da cidadania política e civil a todos os segmentos livres da
sociedade, o fim gradual da escravidão, relativa igualdade social e até uma espécie de
reforma agrária. Um terceiro grupo concorrente organizou-se logo no início da
Regência, os chamados caramurus, estes posicionados à direita do campo e alinhados
à vertente conservadora do liberalismo, tributária de Burke, eram contrários a
qualquer reforma na Constituição de 1824 e defendiam monarquia constitucional
firmemente centralizada, nos moldes do Primeiro Reinado, em casos excepcionais
chegando a nutrir anseios restauradores. Na terceira legislatura, salvo por poucas
exceções, não havia em geral, identidades políticas bem definidas, foi período de
transição entre as antigas facções e as que começaram a se esboçar a partir de 1835: o
Regresso e o Progresso. Na quarta legislatura as tendências políticas ficarão mais
definidas, com a polarização entre regressistas e progressistas. Parlamento, imprensa,
associações, manifestações cívicas e movimentos de protesto ou revolta constituíram
os instrumentos principais de ação política no período regencial. Através da agenda
política e reformas liberais visavam eliminar ou minorar resíduos todos como
absolutistas do Primeiro Reinado. Uma das questões mais urgentes era as relações de
força entre o Executivo e o Legislativo, no dia 14 de junho de 1831 foi sancionada a
Lei de Regência, invertendo a relação de forças vigentes, fortalecendo o poder dos
deputados em detrimento dos regentes. A reforma do aparelho repressivo do Estado,
que tinha o Exército, a Polícia e a Justiça como peças principais. Foi instituído em
1827 os juízes de paz. Uma das medidas de impacto da Regência foi a criação da
Guarda Nacional, que se tornou um instrumento importante de articulação entre os
poderes central e local, converteu-se em força política usada pelo governo na
repressão às revoltas, mas também protagonizaram vários desses movimentos. A
medida para conter a força política do Exército foi a drástica redução do efetivo
militar, a Guarda Nacional supriu o espaço deixado por esse corte. O prosseguimento
da reforma do sistema judiciário constituiu a grande obra jurídica dos moderados.
Além de instituir o Júri e ampliar os poderes dos juízes de paz, o código do processo
introduziu o habeas corpus e criou a figura do juiz municipal. O ato adicional
completou a série de reformas liberais realizadas pela Regência Trina Permanente,
que ajudaram a remover parcela significativa dos resíduos "absolutistas" do Estado
Imperial, identificados pela forte centralização política e administrativa. Mas muitos
almejavam mudanças mais radicais na organização política. Esses projetos e outros
demonstram que a agenda política regencial foi uma das mais diversificadas e ricas
durante todo o império, evidenciam também que o alcance das reformas preconizadas,
ao menos pelos exaltados, ia muito além do que foi concretizado e mesmo do que
chegou a figurar no Parlamento. A reforma do Código do Processo Criminal
estabelecia rígida hierarquia de cargos e funções, centralizando toda a estrutura
jurídica e policial do império, portanto, restaram aos juízes de paz as funções que
tinham antes do Código do Processo. Chama-se de Regresso por supostamente
pretender restabelecer a ordem político- institucional vigente antes das reformas.
Defendia uma monarquia constitucional centralizada, com concentração de poderes
no Parlamento. Em oposição ao Regresso achavam-se os partidários do Progresso,
que dariam origem ao Partido Liberal. Enquanto "ordem" era o lema principal dos
regressistas que receavam a anarquia, "liberdade" era o dos progressistas que temiam
o despotismo. Os progressistas desejosos de tomar o poder, articularam um golpe para
antecipar a maioridade do imperador.

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