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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IX


GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

VÍTHOR DOS ANJOS CABRAL

DA ORIGEM DO ESTADO MODERNO AO ESTADO DE


BEM-ESTAR SOCIAL E OS COMPROMISSOS DA
CONSTITUIÇÃO DE 1988

BARREIRAS-BA
2023
VÍTHOR DOS ANJOS CABRAL

DA ORIGEM DO ESTADO MODERNO AO ESTADO DE


BEM-ESTAR SOCIAL E OS COMPROMISSOS DA
CONSTITUIÇÃO DE 1988
Trabalho apresentado à Universidade do Estado da
Bahia, Campus IX, como requisito parcial para
aprovação na matéria de Direito Tributário.
Orientador: Professor Dr. Airton Pereira Pinto

BARREIRAS-BA
2023
1. DA ORIGEM DO ESTADO MODERNO AO ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
E OS COMPROMISSOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

A tributação tem sido uma característica dos sistemas políticos desde a


antiguidade. Civilizações antigas, como os egípcios, gregos e romanos, usavam
impostos para financiar suas atividades governamentais e projetos públicos. No
entanto, esses sistemas eram frequentemente opressivos e injustos, com a maior
parte do ônus tributário caindo sobre os estratos mais baixos da sociedade. No
Estado Romano, a tributação desempenhou um papel fundamental na sustentação
das atividades governamentais e na manutenção do Império; a tributação no Estado
Romano era complexa e variava em diferentes regiões do vasto Império. Além disso,
o sistema tributário romano desempenhou um papel importante na economia e na
estrutura social da época, e sua estrutura geral serve de base forte para entender os
princípios do Direito e da jurisprudência que sustentam o poder de tributar dos
Estados e um importante panorama organizacional dos tipos de tributação impostos,
sendo até a contemporaneidade um importante modelo de sistema tributário.
Após a queda de Roma e a reorganização da Europa, mais precisamente
durante a Idade Média, o sistema feudal prevaleceu. Os senhores feudais cobravam
tributos de seus vassalos, geralmente na forma de produtos agrícolas ou trabalho
forçado, em troca de proteção e acesso à terra. Essa forma de tributação era
altamente descentralizada e variava amplamente de uma região para outra. O
sistema tributário na Idade Média era significativamente diferente dos sistemas
tributários modernos e variava consideravelmente de uma região para outra, a
estrutura tributária era complexa e baseada em uma variedade de fatores. Ainda os
senhores feudais detentores de terras, concediam parcelas delas a servos em troca
de deveres adquiridos para com os soberanos. Os camponeses trabalhavam nessas
terras e pagavam impostos em forma de produtos agrícolas, como cereais, gado ou
serviços. Este tipo de escambo feudal dava-se pela ausência de uma moeda
circulante forte e única, marca de um período histórico anterior à ascensão
burguesa.
É com a ascensão histórica da burguesia, como muito bem observaram
eméritos sociólogos do século passado como Max Weber e Karl Marx, que o Estado
feudal se dissolve e cede espaço para o desenvolvimento do Estado burguês
comercial e produtivo, onde o sistema econômico predominante metamorfosear-se-á
em uma espécie de capitalismo primitivo. O Estado moderno como é definido
academicamente na contemporaneidade; com características como soberania, um
governo centralizado e a reivindicação do monopólio do uso legítimo da força,
começou a se desenvolver ne ínterim na Europa durante a Idade Média e a Idade
Moderna.
O declínio do feudalismo permitiu a centralização do poder nas mãos de
monarcas ou governantes. Em muitos países europeus, os monarcas começaram a
consolidar seu poder e buscar a centralização do governo. Monarcas absolutos,
como Luís XIV da França, afirmaram uma autoridade quase ilimitada sobre seus
territórios. Ainda mais, a formação do Estado moderno foi acompanhada pelo
desenvolvimento de um aparato burocrático eficiente, o que envolvera a criação de
instituições governamentais centralizadas, como exércitos permanentes, sistemas
de tributação e administração pública. Filosófica e historicamente pode-se identificar
que as ideias iluministas do século XVIII, sobre o pressuposto de promover a razão,
a liberdade individual e a igualdade, influenciaram o pensamento político e ajudaram
a moldar a estrutura dos governos modernos. Pensadores como John Locke,
Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau contribuíram para o desenvolvimento de
teorias políticas que enfatizavam os direitos individuais e o contrato social.
Estigmaticamente, a gênese do Estado Moderno está delineada por crises
políticas e grandes revoluções, das quais se destacam a Revolução Americana de
1775 e a Revolução Francesa de 1789, que tiveram um impacto significativo na
consolidação dos Estados modernos. Elas promoveram a ideia de governos
baseados em princípios democráticos e direitos individuais e geraram o terreno útil
para fomento dos ideais liberais que exerceriam enorme influência no
desenvolvimento das novas nações. Notáveis produtos deste período de
transformação político-econômica foram o nacionalismo, que enfatiza a identidade e
a unidade de uma nação, também desempenhou um papel crucial na formação dos
Estados modernos e o constitucionalismo que evidencia a importância de se prever
formalmente direitos e deveres ao povo cidadão como, por exemplo, a criação de
constituições escritas, como a Constituição dos Estados Unidos em 1787, esta
constituição ajudou a estabelecer limites claros sobre o poder do governo e os
direitos dos cidadãos.
Neste meio histórico surgem as teorias políticas de cunho liberal e a formação
dos primeiros Estados sustentados por essas ideias, como a França revolucionária e
as nações Norte Americanas. A teoria liberal-econômica, promovida por pensadores
como Adam Smith, Jean-Baptiste Say e David Ricardo, defendia a liberdade de
mercado e a propriedade privada. Estas ideais de raiz liberal e burguesa levaram ao
desenvolvimento de economias capitalistas baseadas na iniciativa privada e na
concorrência. Ao longo do século XIX, muitos países europeus adotaram princípios
liberais, estabelecendo constituições, sistemas representativos e sistemas legais
que supunham proteger os direitos individuais. O Estado liberal, portanto, teve sua
origem em um período de mudança social, política e intelectual, com a ênfase na
limitação do poder do Estado, proteção dos direitos individuais e liberdade individual
como princípios fundamentais.
Tendo então ascendido e tomado seu conhecido lugar na história da
civilização, o Estado Moderno formatou-se com algumas características
fundamentais que persistem até a atualidade na organização das nações soberanas
e também serviram de base para as determinações de ordem tributária e de
subsistência dessas nações soberanas. A própria soberania é uma característica
presente, o que significa que o Estado detém autoridade suprema sobre um território
e sua população. Um Estado soberano tem o poder de tomar decisões políticas,
econômicas, jurídicas e militares dentro de suas fronteiras sem interferência externa.
Outra característica importante e que separa o Estado Moderno das velhas
confusões de ordem geográfica feudal é a boa delimitação do território sobre o qual
um governo exerce o seu poder, ou seja, cada Estado moderno tem fronteiras
espacialmente definidas que delimitam seu território, essas fronteiras possuem
reconhecimento internacional e as outras nações não podem exercer sua influência
direta nesses territórios a elas alheios.
O Estado moderno normalmente tem um governo centralizado que exerce o
poder político e toma decisões em nome de todo o Estado. Isso pode incluir
instituições como um executivo, legislativo e judiciário, divisão de poderes já
anteriormente estabelecida nas ideias iluministas de Montesquieu. Ademais, tal
como surgira o Estado Moderno afirma a imperatividade de seu poder e a sua
legitimidade, o que significa que a autoridade do Estado é reconhecida e aceita pela
população. Este processo de legitimação do poder pode ser baseado em eleições
democráticas, tradições, uma constituição ou outros meios. No caso das repúblicas
e nações democráticas como o Brasil, a legitimação é garantida por sistema
eleitoral, respeitando a mais famosa afirmativa da Constituição Federal do Brasil que
é “Todo poder emana do povo”. Sendo assim, O Estado moderno reivindica o
monopólio legítimo do uso da força dentro de seu território. Isso significa que as
forças armadas e as forças policiais estão sob o controle do Estado e devem ser
usadas de acordo com suas leis e políticas, todas estas previstas em um sistema
legal e um sistema judicial para interpretar e aplicar a lei, incluindo assim tribunais
que resolvem disputas legais e garantem a justiça. Finalmente, é a cidadania é o
caráter de participação ativa que o Estado moderno confere ao seu povo, isto é, as
pessoas que vivem legalmente em seu território. Garante, portanto, direitos e
responsabilidades, incluindo o direito de votar e participar do governo para cada
cidadão. Dentro da série de obrigações cidadãs e direitos de imputação do Estado,
está a competência do governo tributar para financiar suas atividades e serviços, o
Estado moderno coleta, portanto, impostos e tributos de seus cidadãos e empresas
que operam dentro de seu território.
Os Estados modernos erigidos desde o século XVIII após as grandes
revoluções da indústria e do estabelecimento do capitalismo como sistema
econômico predominante do globo variaram seu modelo de organização e conduta
entre três grandes modelos político-econômicos chamados Estados liberais, Estados
neoliberais e Estados de bem-estar social. A começar pelos Estados liberais, como
já fora exposto anteriormente, baseiam-se nas ideias herdadas dos revolucionários
iluministas da liberdade individual e comercial e das teorizações econômicas da
escola de Adam Smith e David Ricardo.
O Estado liberal se caracteriza por uma série de traços distintivos que
refletem uma filosofia política centrada na limitação do poder estatal e na proteção
das liberdades individuais. Esta forma burguesa de Estado tende a promover uma
economia de mercado, na qual a produção, distribuição e troca de bens e serviços
são determinadas principalmente pelo mercado e pela iniciativa privada, com o
governo exercendo um papel limitado na regulamentação econômica, favorecendo a
livre concorrência e a propriedade privada. O sistema tributário liberal é uma
abordagem à tributação que se baseia em princípios políticos e econômicos
associados ao liberalismo clássico, enfatizando a limitação do governo na tributação
e no gasto público, promovendo a minimização da intervenção estatal na economia,
o que acarreta em uma série de riscos sociais. Os defensores do sistema tributário
liberal argumentam a favor de impostos baixos e simples, ou seja, significa que
preferem uma estrutura tributária que envolva poucos impostos e taxas, de
preferência de fácil compreensão e aplicação. Assim como, também, o sistema
tributário liberal também está ligado à limitação do gasto público. Os defensores
acreditam que o governo deve ser restrito em seus gastos, focando em funções
essenciais, como segurança nacional e proteção dos direitos individuais.
Os maiores problemas e riscos sociais que o Estado liberal oferecem são,
principalmente, a tendência à desigualdade social, pois embora defenda a liberdade
individual e a propriedade privada, a concentração de riqueza nas mãos de poucos
enquanto outros permanecem em situações precárias é característico das
contradições internas do sistema de capital financeiro, além de que, possuindo uma
estrutura tributária enxuta e pouco eficiente, o Estado liberal muitas vezes carece de
um sistema de proteção social abrangente, resultando em falta de assistência para
os mais vulneráveis da sociedade, como desempregados, doentes e idosos. No
entanto, se analisado sob uma perspectiva histórica, o mal mais irremediável do
Estado liberal é que as economias de mercado, com sua ênfase na competição e na
maximização do lucro, podem ser suscetíveis a crises financeiras e recessões, que
podem causar instabilidade e desemprego constantes. Foi justamente isso que
acarretou o enfraquecimento do sistema capitalista e do Estado liberal; o liberalismo
entrou em colapso após as grandes crises do século XX que assolaram as grandes
nações capitalistas como os Estados Unidos da América, o que acarretou numa
forçosa modificação do modelo econômico utilizado, alavancando a influência do
Estado e controlando as possibilidades da liberdade comercial e de mercado
desenfreada.
Surgiram neste ínterim de crises urge a figura de John Maynard Keynes,
economista inglês que procurar reformar a teoria social do Estado e adaptar um
sistema econômico compatível com a situação política e social das grandes nações
do pós-crises. Keynes desenvolveu a teoria econômica conhecida como
"Keynesianismo". Sua visão sobre a tributação estava inserida em seu quadro
teórico mais amplo, que se concentrava na intervenção governamental na economia
para estabilizar a demanda agregada e combater o desemprego durante recessões
econômicas do capitalismo liberal.
Keynes acreditava, por exemplo, que os impostos poderiam ser usados como
uma ferramenta importante para estabilizar a economia. Durante períodos de
recessão ou desaceleração econômica, ele argumentava que o governo deveria
reduzir os impostos para aumentar a renda disponível das famílias e incentivar o
gasto do consumidor, cumprindo assim uma função social. A preocupação social da
teoria keynesiana ainda revela apoio à ideia de impostos progressivos, nos quais as
taxas de imposto aumentam à medida que a renda do contribuinte aumenta,
promovendo uma redistribuição de renda e reduzindo as desigualdades sociais.
Além dos impostos, Keynes enfatizou a importância das despesas públicas
como um meio de estimular a demanda agregada e combater o desemprego. Ele via
os gastos públicos como um componente crítico da política fiscal para manter a
estabilidade econômica. É crucial salientar que a abordagem de Keynes à tributação
e à política fiscal foi desenvolvida em um contexto específico de sua época, marcado
pela Grande Depressão e pela necessidade de intervenção governamental para
combater o desemprego em massa. Suas ideias tiveram um impacto profundo nas
políticas econômicas e nas teorias fiscais do século XX e anteviram o surgimento
das teorias neoliberais de Estado e tributação.
O neoliberalismo é uma doutrina econômica e política que surgiu no século
XX e teve maior influência nas décadas de 1970 e 1980. É uma abordagem que
enfatiza a importância de mercados livres, iniciativa privada e limitação da
intervenção estatal na economia, surgira com o intuito de reformar certos vícios da
perspectiva liberal clássica. O surgimento do neoliberalismo está ligado à crítica ao
keynesianismo, que como fora explanado, enfatizava a intervenção governamental
na economia para combater o desemprego e a recessão. Os neoliberais
argumentavam que essa intervenção estatal frequentemente leva à inflação e a
distorções econômicas. Os neoliberais defendem princípios como o de que os
mercados livres e competitivos são a melhor maneira de alocar recursos e estimular
o crescimento econômico, a intervenção governamental na economia deve ser
reduzida ao mínimo possível, limitando regulamentações, controle de preços e
intervenções diretas em setores e reduções de impostos, especialmente para
empresas e indivíduos de alta renda, são frequentemente promovidas como uma
maneira de incentivar o investimento e o crescimento econômico, diferenciando-se
do liberalismo clássico no que diz respeito ao papel do Estado, ao nível da
intervenção do governo na economia. A perspectiva neoliberal tem alcance à nível
global, sendo frequentemente anexada ao fenômeno contemporâneo da
Globalização, do avante dos mercados de capitais e da crescente desigualdade
social entre as nações do globo.
Mesmo com a força das políticas neoliberais, as teorias de Keynes
restabeleceram a preocupação social no meio das discussões econômicas,
produzindo sempre um afastamento dos teóricos neoliberais, originaram-se as
perspectivas conhecidas como Estado de bem-estar social, está é uma abordagem
na economia e na teoria política que visa avaliar o bem-estar da sociedade como um
todo e oferecer orientações para políticas públicas que busquem melhorar esse
bem-estar. A teoria do bem-estar social busca entender como as escolhas
individuais afetam o bem-estar coletivo e como as políticas governamentais podem
ser usadas para promover o bem-estar geral da sociedade, o que implica melhorar a
qualidade de vida, a distribuição de recursos e oportunidades, e garantir que as
necessidades básicas das pessoas sejam atendidas.
A teoria do bem-estar social enfatiza a importância da equidade e da justiça
na distribuição de recursos e oportunidades. Ela busca reduzir as desigualdades
sociais e econômicas, garantindo que todos os membros da sociedade tenham
acesso a recursos essenciais. Além da equidade, a teoria do bem-estar social
valoriza a eficiência econômica. Isso significa alocar recursos de forma a maximizar
o valor total produzido pela economia, de modo que os recursos não sejam
desperdiçados. Foi importante para estabelecer um governo mais social e humano
em diversos países do globo que passaram a adotar medidas protetivas à
sociedade, legitimando a intervenção do Estado para garantir a seguridade social, a
preservação dos recursos naturais e a soberania do Estado de Direito.
No Brasil, a influência de todas essas constantes históricas é visível e
patente, sendo a nação brasileira, uma nação democrática americana formada
república em 1889 seguindo modelos de ordem positivista que em muito
espelhavam a grande república Norte Americana. O Brasil formou-se uma república
democrática de raiz constitucional, processo historicamente conturbado até uma
aparente estabilização em 1988, ano em que se estabelece uma nova constituição
que expande, no Brasil, as características do Estado que procura o bem-estar do
coletivo e o pleno desenvolvimento econômico, social e humano da nação. Isto é
uma reafirmação dos compromissos do Estado moderno para com a sociedade civil
como fora explanado anteriormente, reflexo das políticas originadas nos princípios
da Idade moderna e desenvolvidas ao longo dos séculos até as determinações do
Estado de Direito e bem-estar social.
Muitos autores e importantes juristas brasileiros se referem à Constituição de
1988 como a Revolução brasileira, justamente pelo seu caráter de afirmação social,
o planejamento de conferir ao povo direitos ao exercício real da cidadania, como
exemplo mais latente a regulamentação das relações de trabalho proporcionada
pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e a estruturação de um sistema
celetista organizado e justo para as contratações e relações de trabalho no Brasil,
conferindo ao povo trabalhador acesso a direitos como de remuneração justa, férias
remuneradas, 13° salário e outras medidas inexistentes nos estágios de infância da
civilização brasileira.
Em síntese, a Constituição de 1988 estabelece o Brasil como uma república
federativa, com três poderes independentes: o Poder Executivo, o Poder Legislativo
e o Poder Judiciário. Ela também define os direitos fundamentais dos cidadãos
brasileiros, incluindo direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade. Além disso, a Constituição aborda questões importantes, como a
educação, a saúde, o meio ambiente e a cultura. A Constituição de 1988 também
introduziu diversas inovações importantes, como o sistema de seguridade social,
que engloba a saúde, a previdência social e a assistência social, com o objetivo de
garantir o bem-estar da população; reconheceu os direitos dos povos indígenas à
suas terras e culturas, garantindo proteção especial a esses grupos, reforçou a
igualdade de gênero e proibiu a discriminação com base no sexo e ainda
estabeleceu princípios de proteção ambiental e responsabilidade ambiental.
Por esta extensa série de programas e compromissos garantidos pela
Constituição aos cidadãos a Constituição de 1988 foi batizada de “A Constituição
Cidadã”. Ela desempenhou um papel fundamental na construção de uma sociedade
democrática, justa e inclusiva no Brasil, e continua a ser a base do sistema legal e
político do país. Ela estabelece os princípios e valores pelos quais o Brasil se guia,
promovendo direitos fundamentais e proporcionando um arcabouço legal para o
funcionamento do Estado brasileiro.
A Constituição de 1988 do Brasil tem uma ligação significativa com a teoria do
Estado de bem-estar, embora o Brasil não seja tradicionalmente considerado um
Estado de bem-estar no mesmo sentido que países como Suécia, Noruega ou
Canadá. Pois esta constituição formalizou os compromissos do Governo Federal
com o bem-estar cidadão, embora a situação social do Brasil não seja um modelo de
Estado de bem-estar. Parte significativa dos problemas sociais que o Brasil enfrenta
em sua estrutura político-econômica tem raiz no descumprimento ou no afastamento
dos objetivos centrais previstos na Constituição. Um forte exemplo deste
desequilíbrio interno é a desigualdade social que assola os grandes centros urbanos
do Brasil e a comum falta de auxílio que os menos favorecidos enfrentam
constantemente dentro dos programas sociais, ou seja, enquanto a Constituição
supõe garantir a segurança, o bem-estar e o desenvolvimento dos programas de
seguridade pública, o povo não tem acesso real e as garantias previstas parecem
não ultrapassar a natureza das idealizações.
Uma das principais razões destes desequilíbrios e contradições internas é a
péssima alocação dos recursos públicos e os altos índices de corrupção no seio da
política brasileira, tal como um sistema tributário complexo e extremamente
dificultoso a trabalhos de análise e cálculo. Estas determinações exigem um
esmiuçar maior das características do sistema tributário e captação de riquezas
públicas pelo Estado.
O sistema tributário brasileiro é federativo, o que significa que a competência
para instituir e arrecadar impostos é compartilhada entre a União, os estados e os
municípios. Isso leva a uma complexa rede de tributos, com múltiplos níveis de
governo cobrando impostos. O Brasil possui uma variedade de impostos, incluindo
impostos federais, estaduais e municipais. Alguns dos principais impostos incluem o
Imposto de Renda, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o
Imposto sobre Serviços (ISS), o Imposto sobre Propriedade de Veículos
Automotores (IPVA) e o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
(IPTU). Alguns destes impostos, reproduzindo as conclusões de raiz keynesiana,
são progressivos, o que significa que a taxa de imposto aumenta com a renda. Isso
é destinado a tornar o sistema tributário mais equitativo, cobrando uma parcela
maior de impostos dos contribuintes de maior renda.
É um problema econômico que o Brasil enfrenta o fato de possuir uma das
cargas tributárias mais elevadas do mundo em relação ao tamanho da economia.
Isso afeta a competitividade das empresas e a renda disponível dos cidadãos, fora
que a complexidade do sistema tributário brasileiro e a quantidade de regras e
regulamentações podem criar uma burocracia significativa para as empresas e os
contribuintes individuais. Outras dificuldades de ordem fiscal são as evasões, muitas
pessoas e empresas preferem atuar informalmente ou ocultar suas ações
econômicas da lei para escaparem à tributação excessiva. Pois a alta carga
tributária acaba por impedir o crescimento econômico do país, o desenvolvimento
dos setores empresarial e produtivo e, consequentemente, limitando os índices de
empregabilidade e a disposição do Brasil em competir com seus produtos no
mercado internacional.
Toda esta série de problemas de ordem tributária acabam por dificultar a vida
do cidadão brasileiro, principalmente dos menos abastados que precisam enfrentar
inflações em alto índice, alteração constante no preço dos bens de subsistência,
aumento na cesta básica e insegurança do sistema financeiro nacional. A aparente
contradição é o produto da alta carga tributária não corresponder a uma melhora real
e significativa nos serviços públicos e nos programas sociais ofertados pelo Estado,
o que comprova a desorganização do sistema alocativo das riquezas coletas pela
tributação, ou seja, incompetência gerencial por parte dos governos participantes
nos entes da Federação.
No entanto, os desníveis e problemáticas socioeconômicas do Brasil não
limitam-se a estigmas no sistema tributário da Federação, na verdade, são de
caráter multifacetário. Muitos brasileiros não têm acesso adequado a serviços
básicos, como educação, saúde, saneamento básico e moradia. Isso perpetua a
pobreza e contribui para problemas sociais, como a criminalidade e a falta de
oportunidades, e certamente, A má gestão dos recursos públicos e a corrupção em
alguns níveis do governo limitam a eficiência na prestação de serviços públicos. Isso
resulta em serviços de baixa qualidade ou na falta deles. Para enfrentar esses
desafios e melhorar o acesso a serviços básicos, é necessário um esforço conjunto
que envolva investimentos em infraestrutura, melhoria na gestão pública, políticas de
combate à desigualdade, programas de capacitação de profissionais, iniciativas de
conscientização e ação governamental eficaz. Além disso, é fundamental garantir
que os direitos básicos dos cidadãos sejam respeitados e que o acesso a serviços
essenciais seja universal e equitativo.
É somente no identificar e no solucionar destes problemas patentes, nestes
vícios inerentes ao atual status quo da política brasileira, que será possível anexar o
Brasil no panorama das grandes nações humanamente desenvolvidas, plenamente
articuladas ao Estado de bem-estar social e a garantia do exercício real e efetivo da
cidadania de cada brasileiro. Este é o único método fidedigno para se cumprir os
compromissos erigidos pela Constituição de 1988. Está é a única e verdadeira
Revolução brasileira.

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