Você está na página 1de 1

Direito Constituicional

25 de setembro de 2023 15:41

MATRIZES HISTÓRICAS DO CONSTITUCIONALISMO MODERNO - EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRITÂNCIA, AMERICANA E FRANCESA

O constitucionalismo britânico é diferente de todos os outros do mundo inteiro. É o primeiro constitucionalismo, tendo surgido antes do séc.XIV, ou seja, durante a Idade
Média, o que se revela particularmente fora do comum, tendo em conta o contexto europeu absolutista da época marcado pela brutalidade para com as populações.
No séc. XIII, o Reino Unido avançou com a inclusão de um conjunto de direitos fundamentais que servem de base para aquilo que temos na nossa constituição, tais como
direitos de liberdade pessoal, liberdade de acesso à justiça, liberdade de circulação, etc. Todos estes eram aplicados na magna carta.
Para além desta atribuição e aplicação dos direitos, outra característica surpreendente era o funcionamento de um parlamento já nesta altura que funcionava e que era a
base do sistema de governo britânico. Os juízes eram a base do sistema judicial britânico e eram o complemento daquilo que era decidido em parlamento. Conclui-se que os
britânicos tinham um sistema constitucional avançado e muito próprio para a altura que se distinguia daquilo que ocorria no resto da Europa continental.
Podemos identificar como caracteristicas base do constitucionalismo britânico:
• A sua criação baseada na tradição e no pragmatismo mas também na revolução e na reforma.
• Os seus principais agentes serem o rei e o parlamento, sendo que no que diz respeito ao parlamento é de notar a supremacia da lei porque no Direito Inglês um dos
princípios mais importantes é a soberania do parlamento.
• A sua finalidade de expansão da liberdade.

É na atualidade que se verificam maiores perturbações no constitucionalismo britânico, devido a grandes mudanças no sistema eleitoral, à interação entre órgãos de
sobernia e ao BREXIT.

• Periodifcação: periodo monarquico ate sec 17, periodo aristocratico de 1638 até a primeira grande reforma eleitoral, periodo democratico.

Apesar de terem um constitucionalismo muito marcado, os britânicos não possuem constituição. De facto, a constituição britânica tem características muito especificas e é
bastante particular: ela não existe no formato físico e escrito, mas sim de forma histórica e costumeira. É histórica pois decorre da tradição que se sedimentou ao longo dos
anos no Reino Unido; é não escrita pois não foi reduzida a um texto; no entanto, as pessoas conhecem as regras em que ela foi baseada, ela baseia-se em normas
costumeiras mas também em convenções institucionais, em práticas que são repetidas sempre e em que o povo acredita, pois há, para ele, uma convicção de
obrigatoriedade. Por exemplo, o monarca tem de dar posse àquele primeiro ministro pois é isso que decorre das normas em vigor e isso não deixa de ocorrer por as normas
não estarem escritas. Há, no entanto, documentos escritos que têm algumas destas normas (magna carta de 1215, por exemplo) que regulam matérias constitucionais, leis
do parlamento que regulam matérias que poderiam estar num documento, que noutras localizações seriam consideradas constituições.
O constitucionalismo, no Reino Unido, teve uma evolução e progresso lentos, admitindo a lei enquanto instrumento essencial e o parlamento enquanto órgão soberano.

CONSTITUCIONALISMO NORTE AMERICANO


O constitucionalismo aparece em segundo lugar, com a revolução americana, em 1774, como reação a uma decisão do parlamento inglês de impor novos impostos às
colónias.
A revolução americana decorre da matriz britânica e é uma reação face a decisões do parlamento britânico.
Trata-se de um processo constituinte que dura cerca de 15 anos (1774-1789) começando com uma guerra entre as colonias e a coroa britânica, dando a origem a dois
congressos em que num deles é declarada a independência, sendo criada depois uma confederação e, em 1789, dá-se a entrada em vigor a constituição americana.
Trata-se de um processo rápido, reativo e de rutura, que dá origem à independência de um novo estado, passando por três momentos: colonial, republicano e federal.
São importados do constitucionalismo britânico bases como a soberania do parlamento e os direitos dos cidadãos, dando origem a algo diferente do que faz o direito
inglês. A novidade decorre da forma como é o povo que define quais são os seus direitos e as regras que definem o poder político.
Por a constituição, proclamada pelo povo, ser superior a tudo o resto; houve a necessidade de criar órgãos que fiscalizassem a conformidade dos atos do poder político com
a constituição. Por isso, para além das funções já adquiridas pelos tribunais, estes tinham agora que fiscalizar também o poder político.

A constituição é que disciplina o poder político dando origem a uma consequência, absolutamente importante e inovadora no constitucionalismo americano: se a
constituição proclamada pelo povo é superior a todos os outros atos, inclusivamente do parlamento, então o parlamento está abaixo da constituição. Sendo assim, os atos
do parlamento que não estão conforme a constituição são inválidos, pelo que são criados órgãos para fiscalizar o conformidade dos atos do poder politico com a
constituição. É atribuído aos tribunais essa função: fiscalizar a constitucionalidade das leis através da justiça constitucional.

A constituição americana é: escrita, em sentido formal; rígida; sintética; enriquecida pelo costume e pela jurisprudência. Escrita em sentido formal pois está num texto, no
sentido instrumental, e está individualizada (os seus atos jurídicos estão separados uns dos outros), tem força e forma próprias. Rígida pois exige para a sua alteração uma
maioria de aprovação superior à da generalidade das leis. Sintética pois apenas tem 7 artigos.
Verifica-se, atualmente, a impossibilidade de acordo entre os dois partidos, o que leva à impossibilidade de revisão e alteração da constituição. Sendo de difícil alteração,
dá mais relevância à interpretação que os tribunais fazem da lei, pelo que, a única forma de adapta la aos problemas atuais, é fazê-la passar por uma evolução na sua
interpretação e aplicação. O facto de ser pequena e rígida dá origem a certos problemas e certas limitações, relativamente ao que poderia ser a modernização do seu
entendimento.

Por sua vez, o constitucionalismo francês é mais recente e inicia-se com a revolução francesa, que visava romper verdadeiramente com o regime absolutista da época que
era socialmente estratificado e no qual se verificavam fortes contrastes sociais, ou seja, tinha por objetivo uma rutura total do regime.
Visava-se estabelecer os direitos dos cidadãos, um contrato social novo, estabelecer um parlamento que resultasse da vontade geral através do exercício do poder
constituinte do povo e a proclamação de uma constituição que atribuísse a soberania ao povo.
Trata-se do primeiro constitucionalismo Europeu Continental e o exercício do poder constituinte francês, sendo fundacional para Portugal, teve contributos muito
importantes dos constitucionalismos britânico e norte americano.
O constitucionalismo francês tem, no entanto, particularidades. Ao contrário do que ocorre no E.U.A., a constituição não surge como lei superior e fundamental que se
impõe sobre a ordem política. A lei surge instrumento da vontade do parlamento que, por sua vez, surge como expressão da vontade geral e popular. Só recentemente é que
surgiram mecanismos de fiscalização da conformidade com a constituição.
Em contraste com os constitucionalismos anteriores, mas em linha com o que ocorre na europa continental e na tradição europeia, na qual ocorrem frequentemente
revoluções, em França há várias constituições, sendo que estas não são estáticas e quase permanentes, com apenas algumas alterações. A última é de 1958.

DC Página 1

Você também pode gostar