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DIREITO CONSTITUCIONAL I – BARROSO, Luis Roberto

CONSTITUCIONALISMO = grandes mudanças a partir da metade do séc. XX, principalmente para


o Brasil, com o advento da Constituição de 1988

Década de 1980/1990 – era comum a ênfase e a especialização em outros ramos do Direito –


visão POSITIVISTA

CAP I – CONSTITUCIONALISMO – TEORIA DA CONSTITUIÇÃO

I – Surgimento do ideal constitucional e seu desencontro histórico

Evolução: força >> Autotutela > família > tribos > sociedade primitiva

Povos antigos > surgem as 1ªs Leis: inicialmente morais e depois jurídicas

LEIS >> reprimem a barbárie

>> disciplinam as relações interpessoais

>> protegem a propriedade

As primeiras leis marcam o início do processo civilizatório: 1as civilizações – Egito, Babilônia,
Pérsia. ----- Hebreus: monoteísmo, lei assume dimensão simbólica > Ato Divino: Deu e povo
escolhido

Síntese sumária: “a cultura ocidental, em geral, e a jurídica, em particular, têm sua matriz ética
– religiosa na teologia judaico cristã e seu fundamento racional-legal na cultura greco-romana.

Termo Constitucionalismo: data de pouco mais de 200 anos. Associado aos processos
revolucionários francês e americano.

Mas as ideias centrais remontam à Antiguidade Clássica > Polis Grega – Séc. V. a.C

Pensamento filosófico >>> Sócrates (470-399 a.C)

>>> Platão (427 – 347 a.C)

>>> Aristóteles (384 – 322 a.C)

Significado de Constitucionalismo: limitação de poder e supremacia da lei (Estado de Direito,


rule of de law, pechsstaat) > documento político denominado CONSTITUIÇÃO > nem sempre é
necessário
REINO UNIDO não tem Constituição escrita

Ditaduras: Ex. América Latina, podem ter > mas não tem os atributos que lhe confiram
LEGITIMIDADE > a adesão voluntária e espontânea de seus destinatários

ESTADO CONSTITUCIONAL >>> 1) Limitações materiais: valores básicos e


direitos fundamentais intocáveis

3 ordens de limitação de >>>>> 2) Estrutura Orgânica: funções de legislar,


administrar e julgar – a órgãos distintos e
independentes e c/ controle recíproco

poderes >>>> 3) Limitações processuais: órgãos do poder


devem agir c/ fundamento na lei e no devido
processo legal > mecanismos de controle da
constitucionalidade nos Estados

II – Da Antiguidade Clássica ao início da Idade Moderna

ATENAS > primeiro grande precedente de limitação de poder político – governo de leis e não de
homens – e de participação de cidadãos nos assuntos públicos

Esse é o berço do ideal constitucionalista e democrático

Origem da a) divisão das funções estatais entre diversos órgãos

b) separação entre o poder secular e a religião

c) existência de um sistema judicial

d) supremacia da lei, criada por um processo formal e adequado, válida para


todos

ROMA – c/ implantação da República em 529 a.C – limitação de poder e Lei das XII Tábuas

Porém >> com a tomada de poder pelos generais > Império 29 a.C, o constitucionalismo
desaparece da sociedade ocidental por mais de 1000 anos, até o fim da Idade Média

PERÍODO FEUDAL – relação suserano / vassalo – feudo autossuficiente – desaparecimento de


um poder central que estabelecia o direito. Pluralismo jurídico. Direito Canônico / Direito
Comum (resgate do direito Romano).

ESTADO MODERNO – Início do Séc XVI - absolutista

Conceito de Soberania – Jean Bodin e Hobbes

Locke e Revolução Inglesa – a soberania se transfere para o Parlamento

Rousseau e Revolução Francesa e Americana > a soberania passa nominalmente para o povo
II – CONSTITUCIONALISMO MODERNO E CONTEMPORÂNEO

1. Experiências precursoras do constitucionalismo liberal e seu estágio atual

1.1. Reino Unido

Meados do SEC. X – reinos anglo-saxões unificados sob o reino da Inglaterra

1066 – invasão NORMANDA – introduzidas as instituições feudais – desembocou na forma


política dos BARÕES – impuseram ao rei JOÃO SEM TERRA, em 1215 a MAGNA CHARTA

SÉC. XIII – Parlamento começa a ganhar força – convocado pelo rei e por ele controlado

composto por aristocratas e clérigos, representantes da baixa aristocracia e da burguesia urbana

FINAL DO SÉC. XIV – Monarquia estável, estado protestante e potência naval

SÉC. XVII – lançadas as bases para o CONSTITUCIONALISMO MODERNO, em meio à turbulência


institucional resultante da disputa de poder entre a monarquia absolutista e a aristocracia
parlamentar

ABSOLUTISMO INGLÊS – era frágil se comparado com o europeu continental.

Conflito com o Parlamento: James I (1603) e Charles I (1625) – reis não contavam com exército
permanente, burocracia organizada e sustentação financeira própria

1628 – Parlamento submeteu o rei ao PETITION OF RIGHTS – c/ limitações de seu poder

➢ início de longo período de tensão política e religiosa (católicos X protestantes)


➢ Guerra civil – 1642-1648 – execução de Charles I (1649 e implantação da República
(1649-1658) por Cromwell.
➢ Morte de Cromwell – restauração monárquica c/ Charles II em 1660
➢ Filho, James II – tentou retomar absolutismo e foi derrubado – Revolução gloriosa
➢ Guilherme (Willian) de Orange – casado com Mary, assume
➢ regime de SUPREMACIA DO PARLAMENTO com poderes limitados – BILL OF RIGHTS
(1689)

FRUTO DE LONGO AMADURECIMENTO HISTÓRICO com raízes tão profundas que o regime inglês
pode prescindir de uma CONSTITUIÇÃO ESCRITA

A REVOLUÇÃO INGLESA projetou um modelo que, ao lado da Francesa, influencia grande parte
do mundo – liberalismo inglês
SEC XXI – poder no Reino Unido > INSTITUIÇÕES: PARLAMENTO, COROA E GOVERNO

PARLAMENTO – SUPREMACIA > princípio constitucional maior (não a supremacia da


Constituição)

Diferente dos países que adotam CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE de atos legislativos

Parlamento tem o poder de indicar e destituir o 1º MINISTRO; que por sua vez, pode dissolver o
PARLAMENTO e convocar eleições

ÓRGÃO DE CÚPULA DO PODER JUDICIÁRIO – formalmente inserido na CÂMARA DOS LORDES


(Lords of Appeal in Ordinary ou Law Lords) – dotado de independência e garantias.

A PARTIR DE 2008 – transformações no P. JUDICIÁRIO

Constituição inglesa >> I – CONVENÇÕES; e II – LEIS CONSTITUCIONAIS

CONVENÇÕES – são práticas consolidadas ao logo dos séculos sobre o exercício do poder
político. Ex. Papéis do Primeiro Ministro, do Gabinete e do Monarca

LEIS CONSTITUCIONAIS – são atos do Parlamento que têm natureza constitucional não em razão
da forma de votação, mas do seu conteúdo, por lidarem com matérias afetas ao poder político
e aos direitos fundamentais. Ex. MAGNA CHARTA, PETIÇÃO DE DIREITOS E A DECLARAÇÃO DE
DIREITOS

ÚLTIMAS 2 DÉCADAS – intensificou-se a produção legislativa do parlamento – progressivo


processo de transformação do direito constitucional inglês em direito legislado.

CONSTITUIÇÃO INGLESA – considerada FLEXÍVEL – pois não fundada em direito legislado, pode
ser modificada por ato do Parlamento. Decorre do PRINCÍPIO DA SUPREMACIA PARLAMENTAR,
conceito-base da democracia de Westminster.

DIMENSÃO – POSITIVA – O parlamento pode criar e revogar qualquer lei

NEGATIVA – nenhuma lei votada pelo Parlamento pode ser afastada ou


invalidada por outro órgão
PORTANTO, não há uma LEI SUPERIOR à vontade do Parlamento, consequentemente, não existe
controle de constitucionalidade.

VIRADA DO SÉC. XX P/ XXI – 2 mudanças substantivas. PARLAMENTO APROVA:

i) HUMAN RIGHTS ACT – 1998 – incorporou ao direito inglês os direitos previstos na Convenção
Europeia de Direitos Humanos;

ii) Constitucional Reform Act (2005) – reorganizou o P. Judiciário dando-lhe autonomia em


relação ao Parlamento e criando uma Corte Constitucional

HRA – inovação: permitir a declaração de incompatibilidade, no caso concreto; entre 1 lei e os


Direitos Fundamentais previsto no novos estatuto/declaração, não anula a lei, nem vincula as
partes no processo, produz efeito político de revelar ao Parlamento que seu ato é contrário aos
direitos humanos.

1.2. EUA

SÉC XVII – consta leste da América do Norte – início do povoamento. Primeira Colônia foi
Virgínia, fundada em 1606 por uma CIA de comércio international.

Massachussets – puritanos – implantar comunidade religiosa

Maryland – católicos – perseguidos na Inglaterra

Pennsylvania – quakers

Georgia – endividados

Meados do SEC XVIII > iniciaram os conflitos com a coroa, lealdade abalada, antes havia uma
razoável autonomia para as colônias.

Beneficiaram-se da tradição inglesa do poder contido e institucionalizado.

Tinham Legislativo e Poder Judiciário locais

Conflito surge por imposições tributárias e restrições às atividades econômicas e ao comércio

Tensão DÉC. 1760 – agravada p/ STAMP ACTI (1765), pelo Massacre de Boston (1770), e o Boston
TEA PARTY (1773).

Inglaterra impôs sanções e transferiu ao Canadá as Terras ao Norte do Rio Ohario

Culminou no:

PRIMEIRO CONGRESSO CONSTITUCIONAL – 1774 – marco do início da reação organizada das


Colônias à Coroa Britânica.
1775 – 2º CONGRESSO CONTINENTAL – já em estado de guerra – funcionou até 1778 – palco das
principais decisões que selariam o futuro da revolução americana

➢ Deliberou a criação do um exército organizado – Comandado por George Washington


➢ ex-colônias – estimuladas a adotar Constituições escritas
➢ comissão para elaborar a DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA – redator principal Thomas
Jefferson, assinada em 04/07/1776 pelos membros do Congresso. Esse documento é
MARCO na história das ideias políticas >> 13 Colônias independentes ainda como
estados distintos.

GUERRA PERDUROU ATÉ 1781 – ratificados Articles of Confederation (aprovada 1778)

Confederação frágil – não havia um executivo central, nem um Judiciário Federal, Congresso s/
poderes para instituir tributos, ou regular o comércio entre os Estados.

CONVENÇÃO DA FILADÉLFIA – 14/05/1787 – converteram a Confederação em CONVENÇÃO


CONSTITUCIONAL

➢ membros destacados: Washington, Benjamim Franklin, James Madison (4º presidente


– 1809-1817)
➢ 1787 – texto aprovado pela Convenção, pronto p/ser submetido à ratificação dos
Estados
➢ 1ª CONSTITUIÇÃO ESCRITA DO MUNDO MODERNO:
➢ > proclamava a independência das colônias;
➢ > superação do modelo monárquico;
➢ > implantação de um modelo constitucional fundado na separação de poderes, na
igualdade (c/escravidão) e na supremacia das leis (rule of the law). P/preservar a
autonomia dos Estados c/ governo central > modelo de Federação > 2 níveis de poder:
federal e estadual

Declaração de Direitos – introduzida só em 1791 (c/ 10 emendas) – escravidão abolida somente


c/a 13ª emenda em 1864/1865.

BIIL OF RIGHTS – declaração de direitos que já constavam nas Constituições de vários Estados:
liberdade de expressão, religião, reunião e direito ao devido processo legal e a um julgamento
justo

Consolidada a Independência dos EUA – expandiram o território ao longo do SEC XIX

1861/1865 – Guerra Civil – libertação dos escravos: Guerra da Secessão


Constituição tem 7 longos artigos: 1º Poder Executivo; 2º Poder Legislativo; 3º Poder Judiciário;
4º Relação entre Estados e a Federação; 5ª Emendas à Constituição; 6ª Supremacia da
Constituição e das leis; 7º ratificação da Constituição pelos Estados

Modelo de Separação de poderes em um Estado Republicano, sob um regime Presidencialista

Após 200 anos – somente 27 emendas

Modelo jurídico dos EUA fundado na Common law – importante atuação dos tribunais.
Constituição tem plasticidadade.

Presidente da República, principal liderança política e chefe da Administração Pública,


mandato de quatro anos, admitida uma reeleição.

Escolha por via indireta do voto de delegados partidários designados por cada um dos Estados,
de acordo com o voto popular ali manifestado.

Chefe supremo das Forças Armadas

Com a aprovação do Senado, nomeia os principais agentes públicos do país:os juízes federais e
os ministros da Suprema Corte, inclusive designando seu presidente (o Chief Justice).

Poderes normativos (rules, regulations e Executive orders)

No processo legislativo> envia projetos e exerce o poder de veto à legislação aprovada pelo
Legislativo.

Presta, periodicamente, informações ao Congresso acerca do estado da União e sujeita-se à


destituição mediante impeachment, em casos de traição, suborno ou outros crimes graves.

Poder Legislativo > Congresso, sistema bicameral: Câmara dos Representantes e o Senado.

A Câmara > 435 membros, sendo a representação de cada Estado proporcional ao número de
seus habitantes, mandato de dois anos, pelo sistema majoritário distrital.

Senado representa os Estados, cada com dois senadores> total de cem, mandato de seis anos.
Senado é presidido pelo Vice-presidente da República > deliberação final acerca dos tratados
firmados pelo Poder Executivo.

Os projetos de lei aprovados em uma casa legislativa são submetidos à outra.

Competências legislativas da União são limitadas e se encontram expressas na Constituição.

Estados exercem os poderes remanescentes, a maior parte da legislação que rege o dia a dia das
pessoas é estadual: normas de direito penal, comercial, contratos, responsabilidade civil,
sucessões etc.

Congresso desempenha, também, amplas competências de investigação e fiscalização.


Poder Judiciário: A história do direito constitucional americano é contada pelas decisões da
Suprema Corte, órgão supremo do Poder Judiciário, composto por nove membros (Justices).
Como intérprete maior da Constituição > trajetória é marcada por avanços e recuos, prudências
e ousadias, ativismo e autocontenção.

A brevidade do texto constitucional e suas cláusulas gerais e abertas deram à Suprema Corte um
papel privilegiado na interpretação e definição das instituições e dos valores da sociedade
americana.

Coube-lhe, dentre outras tarefas, (i) definir as competências e prerrogativas do próprio


Judiciário, do Legislativo e do Executivo; (ii) demarcar os poderes da União e dos Estados dentro
do sistema federativo; (iii) estabelecer o sentido e alcance de princípios fluidos, como devido
processo legal (procedimental e substantivo) e igualdade perante a lei; (iv) assegurar liberdades
fundamentais, como a liberdade de expressão, o direito de privacidade e o respeito aos direitos
dos acusados em matéria penal; (v) traçar os limites entre a atuação do Poder Público e da
iniciativa privada em matéria econômica; (vi) fixar standards para o controle de
constitucionalidade, levando em conta o conteúdo das leis apreciadas, garantir o direito de
casais do mesmo sexo se casarem. A despeito de seu prestígio e sucesso, a Suprema Corte viveu
momentos de dificuldades políticas, teve algumas linhas jurisprudenciais revertidas por via de
emenda constitucional e proferiu decisões que mereceram crítica severa.

Sem embargo de sua indisputada relevância histórica, Marbury v. Madison (1803) foi uma
decisão pragmática de sobrevivência política da Suprema Corte. Ao considerar inconstitucional
a lei que lhe dava competência para julgar o caso, evitou o confronto com o Presidente Thomas
Jefferson. Não é desimportante assinalar que Jefferson obtivera do Congresso, onde detinha a
maioria, a suspensão do funcionamento da Suprema Corte no ano de 1802, bem como
ameaçava com impeachment os juízes que votassem contra ele. Em 1936, em meio a intensa
disputa com o Presidente Franklin Roosevelt, o Executivo enviou ao Congresso o denominado
court packing plan, pelo qual seria aumentado o número de juízes da Suprema Corte, com o
intuito de atenuar sua oposição às políticas do New Deal. A inovação não foi aprovada, mas a
Corte recuou na sua jurisprudência restritiva às leis de proteção do trabalho, como visto na nota
anterior. (Nota 76)

Enfim, o modelo americano deve ser visto como uma situação especial, não um paradigma,
passou por uma construção histórica e não pode ser transposto simplesmente para outros
países.

FRANÇA

O absolutismo se consolida no período de influência do cardeal Richelieu, durante o reinado de


Luís XIII, vindo a ter sua expressão simbólica mais marcante em Luís XIV (1643-1715), a quem se
atribui a frase-síntese dessa era: “L’État c’est moi”. Seu sucessor, Luís XV (1723-1774), foi
contemporâneo do Iluminismo e do início da superação histórica da teoria do direito divino dos
reis.
Revolução Francesa >> papel simbólico arrebatador no imaginário dos povos da Europa e do
mundo que vivia sob sua influência – deu sentido à palavra Revolução como um novo sentido
da história de um povo (antes x depois).

Converteu o Estado de absolutista para liberal / sociedade não mais feudal e aristocrática, mas
burguesa

A hora era da burguesia, mas em 14.07.1789 – os pobres saíram as ruas e derrubaram a Bastilha.
Saíram da escuridão pela primeira vez, desafiando a crença de que miséria era destino, não
consequência da exploração e dos privilégios das classes dominantes.

Nobreza não queria renunciar aos seus privilégios gerais > crise acarretou a convocação da
assembleia dos Estados Gerais (composta por 1º Estado nobreza, 2º clero e o 3º restante da
sociedade), como cada classe representava um voto, a hegemonia estava garantida aos
privilegiados.

Porém, as demais classes – 3º Estado – rebelou-se contra esse critério, autoproclamou-se


Assembleia Nacional e em seguida Assembleia Constituinte.

1ª Fase: reformas antiaristocráticas, que incluíram: a) a abolição do sistema feudal; b) a


promulgação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789); c) a elaboração de
uma nova Constituição, concluída em 1791; d) a denominada constituição civil do clero. Fim do
antigo Regime, pretendia criar uma monarquia constitucional e parlamentar.

Revolução passaria por diversas fases.

República: governo da Convenção (1792-1795). Após período do Diretório (1795--1799). O


sucesso militar nas campanhas externas deram ensejo à ascensão do exército e de seus generais,
Napoleão Bonaparte, em novembro de 1799, o golpe de Estado conhecido como 18 Brumário,
exerceu o poder como cônsul, ditador e imperador, em 1814 derrota em batalha, abdicou.

Restauração monárquica de 1814-1815, mas o Antigo Regime estava derrotado, o mundo não
era mais o mesmo.

Após, unificação da Itália e da Alemanha, exacerbação dos diversos nacionalismos – séc. XIX e
XX até culminar nas Guerras Mundiais.

Instituições políticas e ao constitucionalismo, consolidaram-se valores como o sufrágio


universal, a soberania popular, a separação de Poderes, a proteção dos direitos individuais, com
ênfase nas liberdades públicas, na igualdade formal e na propriedade privada. Consumava-se a
conquista do Estado pela burguesia, que conduzira o processo revolucionário do primeiro ao
último ato, salvo durante o breve intervalo jacobino. Com o Estado liberal burguês, o poder
econômico e o poder político celebravam sua aliança definitiva, até aqui inabalada.

Fase atual: Quinta República, institucionalizou um sistema de governo semipresidencialista,


fundado na soberania popular, na separação dos Poderes e nos direitos individuais, tal como
inscritos na Declaração de 1789 e complementados pelo Preâmbulo da Constituição de 1946.
Após a aprovação do Tratado de Maastricht, em 7 de fevereiro de 1992, a Constituição foi
emendada para disciplinar o ingresso da França na União Europeia. Até a virada do século,
haviam sido aprovadas treze emendas ao texto original.

Poder Executivo é compartilhado entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro. O


Presidente é o chefe de Estado, sendo eleito para um mandato de sete anos, por sufrágio direto
e universal, exigida maioria absoluta. Titulariza um elenco expressivo de competências, que
incluem a nomeação do Primeiro-Ministro, a presidência do Conselho de Ministros, a
possibilidade de dissolução da Assembleia Nacional, o comando das Forças Armadas e a
negociação de tratados. Já o Primeiro-Ministro é o chefe do governo e da administração, sendo
responsável perante o Parlamento e detendo, dentre outras atribuições, competência para
formular a política nacional, propor projetos de lei, dar cumprimento às leis, exercer o poder
regulamentar e nomear agentes públicos civis e militares. O sistema enseja uma preponderância
do Presidente da República, como ocorreu com De Gaulle, Pompidou e Giscard d’Estaing. Sob a
presidência de François Mitterrand (1981-1995), no entanto, o partido do Presidente, que era o
socialista, em mais de uma ocasião deixou de ter maioria no Parlamento, o que deu causa à
nomeação de um Primeiro-Ministro de partido de oposição a ele. Essa convivência de
governantes de partidos opostos, que voltou a ocorrer sob a presidência de Jacques Chirac,
eleito em 1995, recebe o nome de cohabitation.

Poder Legislativo: Parlamento, com-posto de duas câmaras, a Assembleia Nacional e o Senado.


Os deputados da Assembleia Nacional, em número de 577, são eleitos por voto direto, para um
mandato de cinco anos, salvo a hipótese de dissolução. O Senado, cuja principal função é a
representação das coletividades territoriais, é composto de 521 membros, eleitos
indiretamente, para um mandato de nove anos. Os parlamentares têm imunidade material e
processual. Cabe ao Parlamento votar as leis, cuja iniciativa pertence concorrentemente a seus
membros e ao Primeiro-Ministro. Embora os projetos de lei sejam submetidos a cada uma das
Casas, sucessivamente, é nítida a preponderância da Assembleia Nacional, que detém a última
palavra no processo legislativo e é o órgão perante o qual se promove a responsabilização
política do governo. Quando ela adotar uma moção de censura ou quando desaprovar o
programa ou uma declaração de política geral, o Primeiro-Ministro deverá apresentar a
demissão do governo ao Presidente da República.

Poder Judiciário – pouco destaque, a Constituição trata mais como um departamento


especializado, do que como um verdadeiro Poder.

Cabe ao Presidente da República garantir “a independência da autoridade judicial” –


desconfiança histórica com o Judiciário.

A ele sempre foi vedado apreciar atos do Parlamento ou do governo. Foram criadas, assim, duas
ordens de jurisdição totalmente distintas: a) a jurisdição judicial, em cuja cúpula está a Corte de
Cassação; e b) a jurisdição administrativa, em cujo topo está o Conselho de Estado, com
atribuição de julgar, em última instância, os litígios entre os particulares e o Estado ou qualquer
outra pessoa pública.

Duas instituições típicas do constitucionalismo francês: Conselho de Estado e Conselho


Constitucional.

O Conselho Constitucional exerce competências de órgão eleitoral e de juiz constitucional (juge


constitutionnel), ao qual devem obrigatoriamente ser submetidas as leis orgânicas e os
regimentos das assembleias parlamentares.

Lei Constitucional n. 2008-724, de 23 de julho de 2008 (Lei de Modernização das Instituições da


V República) inovou no controle de constitucionalidade exercido pelo Conselho Constitucional.
Introduzida modalidade de fiscalização de constitucionalidade a posteriori – isto é, após a
promulgação e vigência da lei –, mais próximo ao dos tribunais constitucionais europeus. Nessa
linha, o novo art. 61.1 da Constituição passou a permitir que o Conselho de Estado ou a Corte
de Cassação submetam ao Conselho Constitucional a discussão acerca da constitucionalidade
de uma lei que, alegadamente, atente contra direitos e liberdades garantidos pelo texto
constitucional.

ALEMANHA: SEGUNDA METADE DO SÉC. XX

Após a derrota na Segunda Guerra e os julgamentos do Tribunal de Nuremberg, foi promulgada


a Lei Fundamental da República Federal da Alemanha, em 23 de maio de 1949

Reafirmação dos valores democráticos, enuncia os direitos fundamentais logo em sua abertura,
com foco nos tradicionais direitos de liberdade, como a inviolabilidade corporal, a liberdade de
locomoção, de expressão e de consciência, dentre outros. O art. 1º diz respeito à proteção da
dignidade da pessoa humana, considerada inviolável. Não há previsão clara de direitos sociais,
mas a sua existência tem sido reconhecida, sobretudo com base na cláusula do Estado Social,
aliada à eficácia irradiante dos direitos fundamentais e à teoria dos deveres de proteção.

Em certas áreas, como educação, existe a previsão da atuação do Estado, reputando-se a


atividade privada como claramente subsidiária e dependente de aprovação e supervisão estatal.

A Lei Fundamental adotou a forma de Estado federal.

Repartição de competências entre União e Estados inspirou a Constituição de 1988.

Forma de Governo: República Parlamentar, organizada sob o princípio da supremacia da


Constituição.

Divisão clássica da Separação dos Poderes.

Poder Legislativo organiza-se em duas câmaras, a saber:

a) o Parlamento Federal (Bundestag), órgão da representação popular, é a principal casa


legislativa; seus membros são eleitos pelo voto direto e o número de cadeiras pode sofrer ligeira
alteração de eleição para eleição, girando em torno de 600 deputados;

b) o Conselho Federal (Bundesrat) é o órgão de representação dos Estados; seus membros são
nomeados (e destituíveis) pelos governos estaduais, em número proporcional à população.

Sistema eleitoral é o distrital misto, no qual o eleitor tem dois votos simultâneos: o primeiro é
dado a um candidato que concorre no distrito, em uma eleição pelo sistema majoritário,
realizada no âmbito de cada circunscrição eleitoral; e o segundo dado a um partido, em lista
fechada, em uma eleição proporcional.

Poder executivo: dual, presidente e primeiro ministro.

Poder Judiciário, a Constituição assegura a independência dos juízes, submetidos apenas ao


Direito (LF, art. 97), embora a supervisão administrativa do Poder Judiciário seja exercida
primariamente pelo Ministério da Justiça, no plano federal e nos Estados. A regra geral, extraída
da Constituição e reproduzida em lei federal, é a competência estadual, quer na chamada
jurisdição comum, quer nas Justiças especializadas (Administrativa, Financeira, Trabalhista,
Social). No entanto, a própria Constituição estrutura cinco tribunais federais superiores,
encarregados da uniformização das decisões em cada uma das áreas em que se divide a
jurisdição. São eles:
–o Tribunal Federal (Bundesgerichtshof);

–o Tribunal Federal Administrativo (Bundesverwaltungsgericht);

–o Tribunal Federal Financeiro (Bundesfinanzhof);

–o Tribunal Federal Trabalhista (Bundesarbeitsgericht);

–o Tribunal Federal Social (Bundessozialgericht).

O controle de constitucionalidade é exercido de forma concentrada. No plano federal, pelo


Tribunal Constitucional Federal (Bundesverfassungsgericht), cujos membros são eleitos, em
igual proporção, pelo Parlamento e pelo Conselho Federal; nos Estados, pelos Tribunais ou
Cortes Constitucionais estaduais (Landesverfassungsgerichte). A existência do Tribunal
Constitucional Federal é prevista expressamente na Lei Fundamental (art. 92), que institui
algumas de suas competências (art. 93) e disciplina sua composição (art. 94).

Não funciona como corte de cassação ou revisão dos tribunais inferiores.

As principais competências do Tribunal Constitucional Federal alemão incluem:

a) o controle abstrato de constitucionalidade, que tem por objeto a discussão em tese de norma
federal ou estadual impugnada em face da Lei Fundamental. A legitimação para suscitar essa
modalidade de controle é extremamente restrita, limitando-se ao Governo Federal, aos
Governos estaduais e a pelo menos 1/3 (um terço) dos membros do Parlamento. O controle
abstrato tem sido utilizado com parcimônia na prática constitucional alemã;

b) o controle concentrado de constitucionalidade. Na Alemanha, ao contrário do que ocorre no


Brasil, o controle de constitucionalidade em relação à Lei Fundamental é concentrado em uma
corte constitucional. Assim, caso qualquer juízo ou tribunal, no exame de um caso concreto,
admita a arguição de inconstitucionalidade de uma lei federal, deverá suspender o processo e
encaminhar a questão constitucional para ser decidida pelo Tribunal Constitucional Federal;

c) o julgamento da queixa constitucional (Verfassungsbeschwerde), notadamente nas questões


envolvendo violação de direitos fundamentais por autoridade pública. Podem ser impugnados
por essa via decisões judiciais, administrativas e até atos legislativos. A maior parte dos pedidos
é apresentada contra decisões de tribunais. A queixa constitucional responde pela grande
maioria dos casos apreciados pelo Tribunal Constitucional Federal alemão.

Nos últimos anos, com a retração da Suprema Corte americana, fruto de uma postura mais
conservadora e de autocontenção, o Tribunal Constitucional Federal alemão aumentou sua
visibilidade e passou a influenciar o pensamento e a prática jurisprudencial de diferentes países
do mundo.

CONSTITUCIONALISMO DO SÉC. XIX

Como se constata da narrativa empreendida neste capítulo, o Estado moderno se consolida, ao


longo do século XIX, sob a forma de Estado de direito. Na maior parte dos países europeus, a
fórmula adotada foi a monarquia constitucional. O núcleo essencial das primeiras constituições
escritas é composto por normas de repartição e limitação do poder, aí abrangida a proteção
dos direitos individuais em face do Estado.
A noção de democracia somente viria a desenvolver-se e aprofundar mais adiante, quando se
incorporam à discussão ideias como fonte legítima do poder e representação política. Apenas
quando já se avançava no século XX é que seriam completados os termos da complexa equação
que traz como resultado o Estado democrático de direito: quem decide (fonte do poder), como
decide (procedimento adequado) e o que pode e não pode ser decidido (conteúdo das
obrigações negativas e positivas dos órgãos de poder).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. Luís Roberto


Barroso

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