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O Constitucionalismo:
2.1. Os períodos Constitucionais: com o constitucionalismo formal surge a concretização normativa de vários princípios, como
os direitos dos cidadãos e as liberdades pessoais, a divisão e a limitação de poderes do Estado, passando o governo a ser
baseado no consentimento.
Períodos constitucionais em que se pode dividir a história do movimento constitucional:
I – Constituições Liberais e Censitárias: surgem com os movimentos liberalistas e são Constituições revolucionárias, resultam em
grande número de revoluções e da vitória de uma determinada facção social, que ganha poder e autoridade.
Começam a consagrar os direitos fundamentais dos cidadãos e a assentar a organização do poder político na divisão mecanicista
dos poderes em que, por via de regra, os órgãos têm competências próprias e exclusivas.
O cidadão passa a ter capacidade eleitoral activa e passiva, ou seja, dispõe de capacidade para eleger e para ser eleito conforme
a posse de determinados bens. O sufrágio é censitário, já que a capacidade eleitoral está dependente da posse de determinados
bens (geralmente os proprietários de terras). A primeira Constituição portuguesa (de 1822) é um marco no constitucionalismo
liberal.
II – as Cartas Constitucionais, outorgadas pelos monarcas, nascem do reforço do poder do Rei, e determinam um reforço dos
seus poderes mas continuam a prever, formalmente, as liberdades individuais, que são já dados adquiridos, ex.: a Carta
Constitucional portuguesa de 1826; e as Constituições Pactícias, são sempre negociadas, ex.: em Portugal a Constituição de
1838, que vigorou ininterruptamente até 1842, já que para a sua feitura ocorreram negociações entre os vintistas (1822) e os
cartistas (1826).
III – Constituições parlamentares: surgem na 2.ª metade do século XIX, quando os parlamentos se tornam a sede do poder
político, começando a normativizar as liberdades sociais e a surgir com alguma expressão alguns partidos políticos estruturados.
IV – Democracias frágeis e suas Constituições: período que decorre durante os primeiros 30 anos do séc. XX e está intimamente
ligado à 1.ªGuerra Mundial. É essencialmente neste período que se alarga o sufrágio censitário e passa a consagrar-se o sufrágio
masculino geral. A nossa Constituição de 1911 é deste período e tem o seu processo de vigência na pendência da Guerra de
1914-1918, existindo uma grande instabilidade política.
V – Constituições autoritárias: período que decorre na Europa essencialmente antes da 2.ª Guerra Mundial com a instauração
de regimes ditatoriais e autoritários no Velho Continente. Ex.: Constituição Portuguesa do Estado Novo de 1933.
VI – Constituições democráticas e sociais: surgem sobretudo com o post – 2.ª Guerra Mundial e são dominados por três
requisitos:
→maior rigor na delimitação dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, vinculando igualmente entidades privadas e
públicas;
→estabelecimento de mecanismos em regra jurisdicionais de controlo dos actos normativos do Estado e dos órgãos de poder; e
→consagração efectiva, de um conjunto de direitos de carácter económico, social e cultural, alargando-se através deles os
direitos a prestações do Estado.
Algumas destas Constituições definiam e normatizavam as principais regras respeitantes à organização económica do Estado.
A Constituição de 1976, que sobre um reflexo da legitimidade revolucionária emergente do 25 de Abril, é claramente
representativa das Constituições democráticas e sociais, já que garante não só os direitos, liberdades e garantias fundamentais
como também introduz mecanismos de controlo dos actos normativos e um conjunto amplo de direitos económicos e culturais;
ex.: direito ao trabalho e à segurança social.
VII – Famílias Constitucionais: caracterizadas pelo processo de descolonização e em que os novos Estados, principalmente os
africanos, vão ser influenciados no seu processo constituinte por dois aspectos em regra contraditórios.
Em primeiro lugar, a necessidade de consagrar constitucionalmente o poder político emergente do processo de independência,
o que significa que é em regra de cariz militar, dominado pela estrutura militar do movimento de libertação e em regra
monopartidário.
Em segundo lugar, a manutenção de uma lógica formal de relativa separação de poderes e de uma nítida manutenção ao nível
da sociedade civil do sistema jurídico da antiga colónia.
2.2. Direito Constitucional Comparado – Breves Referências: a alguns dos aspectos do constitucionalismo contemporâneo: do
britânico, do norte-americano, que é, no fundo uma adaptação bem sucedida daquele e para o qual é um quadro de referência,
do francês, do italiano, ex.: de regionalismo e do alemão, que consagra um regime de chanceler.
A Experiência Constituicional Britânica:
1.ª fase – a da Magna Charta, que foi outorgada em 1215 pelo rei João I, também conhecido como “João Sem Terra”, e
confirmada ao longo da História Inglesa. A Magna Charta verdadeiramente é mais um tratado de deveres do monarca para com
os seus súbditos, impedindo o exercício do poder absoluto e ficando a vontade do monarca sujeita ao princípio da Legalidade.
Este documento é o primeiro grande marco no qual se faz a enunciação de direitos dos cidadãos face à Coroa e onde se
delimitam as formas de lançamento de impostos.
2.ª fase – a da Revolução Inglesa, com grandes alterações políticas que ocorrem no séc. XVII, é considerada uma fase de
transição. Esta fase reflecte a luta entre o Rei e o Parlamento, entre os defensores do rei Carlos I de Inglaterra e os defensores
da primazia do parlamento liderados por Oliver Cromwell. Em 1653, a radicalização chega à proclamação da República por
Cromwell. Desta fase resultam dois marcos jurídicos fundamentais:
– A Petição dos Direitos de 1628; e
– A Declaração de Direitos (Bill of right’s) de 1689
3.ª fase – a contemporânea do constitucionalismo britânico, que se inicia provavelmente com a sedimentação do sistema
parlamentar. Existe depois uma fase de transição e que é de conflito entre a realeza e o Parlamento. Nos princípios do séc. XX,
deu-se a reformulação do Parlamento, com a Lei sobre o Parlamento de 1911, que é de novo revisto em 1949, passando a

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Câmara dos Lordes a ter um papel secundário e ganhando predominância a Câmara dos Comuns. Será a partir deste momento
que começa a sedimentar-se o sistema parlamentar de Gabinete, em que ao Monarca, pedir a dissolução da Câmara e a
convocação de novas eleições.
As principais características da Constituição Britânica, é uma Constituição:
1.ºmaterial e não consta de a qualquer texto escrito, mas contém normas escritas, como a Magna Charta;
2.ºconsuetudinária – em que o vício de inconstitucionalidade não assume as características que são comuns nas Constituições
formais, já que a questão da inconstitucionalidade apenas poderá resultar de confrontos entre um novo regime e um anterior e
afectar a estrutura do sistema político;
3.ºconstituída segundo um sistema jurídico específico, baseado em realidades e fontes de Direito que estruturam o sistema
jurídico ango-saxónico;
4.ºflexível, já que pode ser alterada a todo o momento tendo em conta a sua base jurídica;
5.ºque integra os princípios, as instituições e os processos que o conjunto dos juristas e a jurisprudência foram encontrando ao
longo da História britânica e que assentam nas lutas contra a arbitrariedade e pelo exercício do poder;
6.ºestas lutas desenvolveram a estrutura dos direitos fundamentais e reforçaram o papel do juiz no sistema político britânico.
As principais instituições são: a Coroa; o Monarca; o Parlamento; o Gabinete (Governo); e os Tribunais.
A Coroa – é a fonte de toda a autoridade política é a «ficção» da unidade do poder. É símbolo da livre associação formada pelos
povos constitutivos da comunidade britânica das nações e o conjunto das outras instituições deliberam, votam ou actuam como
se fosse a coroa a deliberar, a votar ou a actuar (dai as expressões comuns de Governo de Sua Majestade, Oposição de Sua
Majestade, Tribunais de Sua Majestade e Embaixador de Sua Majestade);
O Monarca – é o primeiro servidor da Coroa e só tem dois poderes próprios:
–o poder de decretar a dissolução do Parlamento; e
–o poder de nomear o Primeiro-Ministro
Tudo o resto necessita de referenda ministerial, nascendo aqui esta figura, para que o Rei nunca erre e porque o Governo é
responsável pelos actos que pratica em nome do Rei. Para além disso, o Monarca tem o direito de ser consultado, de encorajar e
de avisar.
O Gabinete (Governo) – é composto pelo Primeiro-Ministro, líder do partido que domina a Câmara dos Comuns, pelos seus
Ministros e Secretários, mas este não é um órgão colegial, já que o Gabinete, enquanto tal, não tem a característica da
colegiabilidade, não havendo em rigor a figura do Conselho de Ministros. O Governo tem vários tipos de funções:
–governativa, definida anualmente no «discurso da coroa» proferida pelo Monarca, mas elaborada pelo Primeiro-Ministro, em
que se descrevem as linhas gerais de actuação do Governo;
–político legislativa, traduzida quer nas propostas apresentadas à Câmara dos Comuns quer na aprovação de diplomas
autorizados.
O Parlamento, é bicamaral-dois tipos de Câmaras: a dos Lordes e a dos Comuns e tem 3 funções: a Legislativa; a de Fiscalização
política; e a Judicial.
A Câmara dos Comuns é eleita por um período de 5 anos; havendo a possibilidade de o Primeiro-Ministro desencadear a sua
dissolução apresentando a competente proposta ao Monarca.
A Câmara dos Lordes é presidida pelo Lorde Chanceler e é constituída por vários tipos de Lordes:
–os Lordes espirituais;
–os Lordes temporais;
–os Lordes hereditários;
–os Lordes vitalícios; e
–os Lordes eleitos.
A partir do início do séc. XX e com as reformas de 1911 e 1949, os poderes das Câmaras dos Lordes foram substancialmente
reduzidos e, hoje em dia, esta Câmara perdeu a prevalência no sistema político britânico.
Quanto aos membros da Câmara dos Comuns são eleitos por círculos uninominais e por maioria relativa. As competências da
Câmara dos Comuns manifestam-se através do exercício de competência legislativa e de fiscalização política. A Câmara é
presidida pelo Speeker, que assume um estatuto de imparcialidade em relação aos partidos representados na Câmara.
Até ao princípio do século XX o sistema partidário girava ao redor de dois partidos: o Partido Conservador e o Partido Liberal. A
partir de meados do séc. XX o Partido Trabalhista assumiu a posição de partido de relevo do sistema partidário, alternando, no
exercício do poder governativo, com o Partido Conservador. O sistema é bipartidário, já que dois partidos têm 90% dos
mandatos, sendo os restantes repartidos por pequenos partidos. Para além destes partidos, os grupos de pressão e de interesse
têm uma influência importante já que actuam como verdadeiros lobbies, o que demonstra a autonomia da sociedade civil face
ao Estado.
A experiência constitucional britânica gerou uma família constitucional própria. Alguns exemplos desta experiência podem ser
encontrados na experiência constitucional americana através da elaboração formal de textos limitativos da autoridade dos
governantes, da consagração de assembleias representativas e na consagração de amplos direitos do cidadão. Por outro lado o
constitucionalismo britânico influenciou a organização dos sistemas políticos da Europa Continental, sobretudo durante os sécs.
XVIII e XIX, «exportando» o conceito do Governo representativo. Foi decorrente da experiência constitucional inglesa que,
durante a segunda metade do séc. XIX, se consagraram em muitos sistemas político-constitucionais o parlamento, como a sede
de poder por excelência, e as Câmaras parlamentares bicamarais. Após a Guerra Mundial de 1939- 1945, o conjunto dos novos
países que se tornaram independentes utilizaram parte do sistema político britânico como foi o caso da Constituição da Índia, de
1950, que, apesar de ser uma República, edificou um sistema onde o primeiro-ministro tem predominância, ou o caso da
Constituição de Israel, de 1949.

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A Experiência Constitucional Americana: é uma experiência sem rupturas e consubstanciada num único texto aprovado em
1787, que foi sendo sujeito ao longo da História a um conjunto de emendas e aditamentos; é uma Constituição:
→formal simultaneamente rígida quanto aos procedimentos inerentes à sua revisão;
→flexível, tendo em conta a sua estrutura, apenas consta sete artigos e foi sendo aplicada quer pelo sistema político quer pelo
sistema judicial, tendo em conta a evolução no tempo e no espaço da própria realidade e dos ideais políticos.
→que representa ao nível da organização dos poderes políticos, uma estrita separação das funções estaduais, recebendo e
acolhendo as contribuições teóricas do liberalismo inglês e a estrita separação de poderes dos teóricos franceses,
designadamente de Montesquieu.
→que ao nível do funcionamento do sistema político, pressupõe uma necessária colaboração dos poderes, o que implica uma
análise do texto constitucional em paralelo com a análise de funcionamento do próprio sistema. Quanto à organização dos
poderes políticos, ela estratifica-se nos três poderes tradicionais.
O Constitucionalismo americano recebe a influência da experiência político-constitucional inglesa de onde brota essa separação.
O poder legislativo é atribuído ao Congresso, que vai ser, no entanto, a expressão de um tipo de Estado composto – uma
federação. A federação de Estados federados, que têm uma estrutura, organização, Constituição e ordem jurídica próprias e que
resolveram, no Congresso de Filadélfia, atribuir ao Estado federal um conjunto de competências e atribuições.
Nasce, assim, a figura da Federação norte-americana, que pressupõe uma autonomia jurídico-política e uma efectiva separação
de estruturas orgânicas e políticas, embora sujeitas à Coordenação entre o poder federal e o poder federado.
Esta nova entidade – A Federação – vai implicar uma ruptura com o tipo de parlamentarismo inglês, já que este era de base
aristocrática. Agora o novo parlamento (americano) – o Congresso – vai dispor de uma legitimidade directa dos cidadãos da
Federação que tem a sua própria representação num órgão denominado Câmara dos Representantes e uma legitimidade
estadual na outra Câmara – o Senado – que é a expressão da vontade dos Estados, que estão numa posição de igualdade
jurídica.
No sistema americano o parlamento é bicamaral. Existe uma câmara que é a expressão da população – a Câmara dos
Representantes – e uma outra que traduz a expressão da igualdade dos Estados – o Senado. O congresso tem o conjunto dos
poderes legislativos e financeiros, por constituinte e de controlo do executivo e da Administração.
Por outro lado, o congresso tem poder de fiscalização de actividades dos serviços públicos federais e da própria Administração,
poderes que se concretizam através de comissões de inquérito, e também o poder de desencadear processos que podem
afectar a manutenção do exercício de um determinado titular de cargo político através da figura do impeachement.
A Câmara dos Representantes e o Senado constituem o Congresso, que é o órgão que detém em exclusivo o poder legislativo. A
Câmara dos Representantes é a expressão do conjunto dos cidadãos e é constituída por membros eleitos em cada um dos
Estados da União de acordo com critérios de representação que têm em conta o número de eleitores. O Senado tem 100
senadores, já que resulta da eleição de 2 senadores por cada Estado.
Quanto ao poder executivo e governativo cabe ao Presidente, que, como o sistema é presidencialista, acumula as tradicionais
funções de Chefe de Estado e também as de chefe do Executivo, se bem que a estrutura do poder governativo, no sistema
americano, não seja a de um verdadeiro órgão colegial, já que o Governo não funciona como colégio ou em conselho, mas sim,
uma estrutura cujo pólo político fundamental é o Presidente.
O Presidente dos EUA é eleito por sufrágio indirecto, já que o processo de eleição passa por um conjunto de fases até à
designação final do novo Presidente.
O terceiro poder é o judicial, que opera a nível federado, já que cada um dos Estados tem uma ordem jurídica e
necessariamente uma organização judiciária próprias e que opera a nível federal, com uma hierarquia de tribunais inerente a
essa organização a nível da Federação. O órgão de cúpula é o Supremo Tribunal Federal, que é constituído por 9 juizes
vitaliciamente nomeados pelo Presidente, mediante acordo do Senado, e tem fundamentalmente competência, em 1º lugar,
para conhecer em primeira instância dos litígios em que sejam partes ou estejam implicados Estados estrangeiros ou um
determinado Estado da União, mas também é competente para julgar em última instância os recursos dos Tribunais federais e
dos Supremos Tribunais dos Estados federados.
A Experiência Constitucional Francesa: o momento revolucionário de 1789 marcou a ruptura com o ancien regime e o início de
um período conflitual ao nível das legitimidades políticas e das concepções das formas de governo. Foi o resultado de um
processo político que, entre 1789 e a sedimentação da experiência napoleónica, serviu de referência ao conjunto do
constitucionalismo continental europeu.
O período inicial da Revolução Francesa, entre 1789 e 1793, foi um período conflituante, marcado por disputas ideológicas, pela
queda do Rei, pela implantação da Revolução e por um período de terror. Foi durante este período inicial do constitucionalismo
francês que surgiu a primeira Constituição francesa, de 1791, que consagrou o princípio da soberania nacional e uma assembleia
nacional eleita por um período de dois anos.
O conflito que surgiu imediatamente a seguir à aprovação da Constituição de 1791 fez com que esta seja a primeira de um
conjunto de Constituições revolucionárias, que têm como padrão de referência a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e
do Cidadão de 26 de Agosto de 1789, declaração que culmina com o processo revolucionário iniciado em Maio desse ano.
Segue-se a Constituição de 1793. Podemos afirmar que nesta Constituição não existe verdadeiramente separação de poderes.
Teve uma curta vigência, pois logo em 1795, surgiu uma outra Constituição revolucionária que consagrava o parlamento
bicamaral e um órgão executivo denominado directório.
Um segundo período é o das Constituições napoleónicas, onde existe uma influência da liderança de Napoleão, a primeira das
quais é a Constituição de 1799, que consagra um sistema político à semelhança do sistema romano dos cônsules, um sistema de
governo cesarista, com a utilização dos módulos de organização política do Império Romano, sendo que a figura dos Consulados
é um exemplo consagrado na Constituição de 1799 tal como as formas de consagração do direito positivo, através da

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normativização do estatuto do Cônsul vitalício e a instituição de um consulado, composto por três cônsules, um senado, um
Conselho de Estado, um Tribunado e um Corpo Legislativo. A segunda constituição é de 1802 e foi nela que Napoleão se
proclamou cônsul vitalício. Em 1804, surgiu a Constituição Imperial, que marcou o controlo efectivo do poder por parte de
Napoleão, e em que o senado passou a ser de inteira nomeação do Imperador.
Um outro ciclo despertou no final da experiência napoleónica quando surgiram as Cartas Constitucionais.
Em 1814, deu-se o começo da Monarquia limitada francesa e a consagração das Cartas Constitucionais. Foi o restabelecimento
da monarquia, com a consagração da figura do Rei, a quem foi atribuído um poder moderador, e o começo da atribuição de
competências ao Parlamento, se bem que este continuasse bicamaral.
O sistema constitucional francês é, ao contrário do sistema inglês, um sistema formal, mutável, dependendo das alterações
políticas que motivam alterações constitucionais. Por outro lado, esta foi uma experiência que teve ciclos governativos que
passaram por um sistema de governo parlamentar, um sistema de governo de assembleia e um sistema de governo pessoal.
Mas foi, igualmente, uma experiência que serviu de referência a outras experiências constitucionais, sedimentando no
continente europeu essa forma de governo.
Como vimos, a história constitucional francesa é repleta de episódios sucessivos de grande instabilidade política. Em 1958, foi
aprovada a Constituição da V República francesa que pretendia gerar um sistema parlamentar racionalizado. Mais tarde, dá-se
uma nova transformação do sistema de eleição do PR, que passa a ser eleito, por sufrágio directo e universal, por um período de
7 anos e assumindo o poder, tipicamente governativo, de presidir ao Conselho de Ministros.
O sistema de governo é hoje semi-presidencial, mas em que o pensador presidencial é claramente evidenciado, em detrimento
dos outros sistemas semi-presidencialistas europeus, que tendem a ser de pendor parlamentar.
3. A Experiência Constitucional Portuguesa – Breves Referências:
As Constituições são aprovadas pelos parlamentos, Cortes ou Assembleias, e as Cartas Constitucionais são outorgadas pelos
monarcas.
A nossa experiência constitucional formal consubstancia-se em seis Constituições: três monárquicas e três republicanas. Ao
contrário das Constituições monárquicas (excepto a Constituição de 1838, que vigorou continuadamente entre 1838 e 1842,
momento em que entrou em vigor, de novo, a Carta Constitucional), as Constituições republicanas tiveram períodos contínuos
de vigência.
3.1. As Constituições Monárquicas: portuguesas sofrem a influência e a tensão do:
–elemento democrático, que está no cume da Revolução Liberal e que tem a sua materialização na Constituição de 1822 e
também na Constituição compromissória ou pactícia de 1838, negociada entre as Cortes e a monarca D. Maria II, ou seja, entre
vintistas e cartistas;
–elemento aristocrático, representado na Carta Constitucional de 1826 e cuja expressão é a Câmara do Pares, constituída por
elementos nomeados vitalícia ou hereditariamente; e
–elemento monárquico, cuja experiência é a consagração do poder moderador na Carta Constitucional de 1826, que era a chave
de toda a organização política e que fazia do monarca um «árbitro» em relação a todos os outros órgãos e poderes.
As Constituições monárquicas sofreram com as rupturas do sistema político português assumidas em clivagens entre miguelistas
e liberais, cartistas e vintistas ou seja, absolutistas e liberais.
A Constituição de 1822: foi uma Lei Fundamental que consagrou um governo representativo clássico ou liberal e teve como
fonte inspiradora a Constituição espanhola de Cádis de 1812. A primeira Constituição portuguesa delimitou o nosso país como
um Estado composto através de uma união real de Estados entre Portugal e o Brasil; e para além disso, consagrou a divisão
mecanicista de poderes admitindo os três poderes:
–legislativo – atribuído a uma única câmara designada de Cortes;
–executivo – atribuído ao Rei e aos seus secretários de Estado;
–judicial – atribuído aos juizes.
Esta Constituição censitária foi a que vigorou menos tempo e teve uma vigência descontínua: vigorou entre 1822 e 1823 e entre
1836 e 1838.
A Carta Constitucional de 1826: foi a Constituição portuguesa que vigorou mais tempo, embora passando por várias alterações,
que se denominaram Actos Adicionais, com três períodos de vigência distintos, sofrendo directas influências externas,
designadamente da Constiuição brasileira de 1828; assim, teve: um primeiro momento de vigência entre 1826 e 1828, um
segundo entre 1834 e 1836, e um terceiro a partir de 1842 até à implantação da República.
Foi a Constituição portuguesa que consagrou um quarto poder – o poder moderador –, para além dos tradicionais poderes. Este
novo poder moderador, teorizado por Benjamim Constant, colocava o Rei como «árbitro» do sistema político em relação a todos
os restantes.
Por outro lado, a Carta Constitucional foi uma Constituição que sofreu as influências da tese aristocrática, implícita nas
concepções políticas da época e intimamente relacionada com a consagração do bicameralismo e a instituição da Câmara dos
Pares, cujos membros eram nomeados pelo Rei, hereditária e vitaliciamente, existindo ainda uma Câmara representativa dos
cidadãos eleita por sufrágio censitário, que era a Câmara dos Deputados.
A Constituição de 1838: vigorou ininterruptamente entre 1828 e 1842 e era uma Constituição pactícia, pois resultava de um
acordo entre as Cortes e a monarca D. Maria II, traduzindo um compromisso entre as duas correntes que, desde 1834, discutiam
a liderança no sistema político e formal português, já que entre, 1834 e 1836, havia vigorado, pela 2.ª vez, a Carta Constitucional
de 1826 e, entre 1836 e 1838, havia vigorado, pela segunda vez, a Constituição de 1822.
A anteceder a entrada em vigor da nova Constituição acentuou-se o confronto claro entre as correntes vintistas e as correntes
cartistas, respectivamente, com um pendor mais liberal e democrático e um pendor mais monárquico, aristocrático ou
absolutista. A Constituição de 1838 tentou ser a síntese destas duas correntes.

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Em 1842, foi restabelecida a Carta Constitucional, permanecendo em vigor até 1910, aquando da implantação da República,
sendo, portanto a Constituição que estava em vigor à data da Revolução republicana de 5 de Outubro de 1910.
3.2. As Constituições Repúblicanas:
Em 1885, ocorreu a Conferência de Berlim, com a partilha de África, e, em 1890, surgiu o Ultimatum inglês. Pela sua aceitação
este ultimato desencadeou um conjunto de reacções anti-monárquicas, cujo primeiro marco foi a Revolução de 31 de Janeiro de
1891, que se traduziu na primeira revolta portuguesa republicana importante no sistema político vigente. Todos estes
elementos internos e externos desencadearam a Revolução de 5 de Outubro de 1910, revolução essa que assentou em vários
elementos fundamentais, como a laicização do Estado, a secularização dos cemitérios, a ilegalização das ordens religiosa e, entre
outros aspectos, a consolidação do municipalismo.
Depois da implantação da República, em 1910, vigoraram até aos nossos dias, três Constituições: as Constituições republicanas,
que traduziram momentos de ruptura com as ordens juridicamente predecessoras, todas elas consequência de revoluções ou
golpes militares; a Constituição de 1911, em virtude da implantação da República e consequente exílio do último monarca
português – o Rei D. Manuel II – e da família real portuguesa; a CRP de 1933, que resultou em parte do golpe de 28 de Maio de
1926 e consagrou o regime autoritário do Estado Novo, e a CRP de 1976, consequência directa da Revolução de 25 de Abril de
1974.
A Constituição republicana de 1911: a CRP de 1911 consagrou um sistema de governo parla-mentar de assembleia, traduzido
num bicameralismo consubstanciado numa Câmara de Deputados e Senado em que o Presidente da República era eleito por
ambas as Câmaras do Congresso da República, não podendo ser reeleito e podendo ser destituído pelo mesmo Congresso.
Esse sistema de governo parlamentar traduzia-se na insusceptibilidade de o Presidente da República dissolver o Congresso da
República e mesmo na insusceptibilidade de exercer o direito de veto, valendo até o silêncio como acto de promulgação, o que
significava que o sistema para ser eficaz pressupunha o funcionamento de maiorias no Congresso e a estabilidade governativa, o
que nunca foi conseguido.
A Constituição de 1911, apesar de prever a sua revisão de 10 em 10 anos sofreu várias revisões; o seu regime vigorou até 28 de
Maio de 1926, data em que ocorreu um golpe militar, que deu início a um período de ditadura militar.
A Constituição do Estado Novo de 1933: o movimento constitucional de 1933 e do chamado Estado Novo surgiu com o golpe
militar de 28 de Maio – 1926 e manteve-se até 25 de Abril – 1974
Em 1928, ocorreu a eleição por sufrágio directo do PR Óscar Fragoso Carmona e começou a ganhar relevo no âmbito do
Ministério das Finanças António de Oliveira Salazar, que, no início dos anos 30, resolve formar um conselho Político Nacional
encarregado de elaborar uma proposta de Constituição sujeita a plebiscito nacional. É desta forma que surge a Constituição de
1933, que é influenciada formalmente pela Constituição alemã de Weimar (1919) e pelas experiências e sistemas políticos
europeus da época.
A Constituição de 1933 consagrou um sistema que formalmente a sede do poder se encontrava no PR, que era, inicialmente,
eleito por sufrágio universal e directo. Era uma típica Constituição semântica – a Constituição real não coincidia com a
Constituição formal, ex.: no sistema político a sede real do poder não residia no chefe de Estado mas, sim, no Presidente do
Conselho.
Assim, os direitos, liberdades e garantias, apesar de formalmente consagrados a nível constitucional, eram limitados na sua
concretização prática. A falta de correspondência entre a Constituição real e a formal acentuou-se com a revisão constitucional
d 1959 após as eleições presidenciais que praticou Humberto Delgado. Essa revisão constitucional alterou o modo de eleição do
PR que passou a ser feita de forma indirecta, isto é, por um colégio eleitoral restrito.
Conclusão: a Constituição de 1933 foi semântica, pois a constituição real não correspondia à Constituição formal,
designadamente, em matéria de direitos, liberdades e garantias.
A Constituição da República Portuguesa de 1976: é claramente representativa das Constituições democráticas e sociais, já que
garante não só os direitos, liberdades e garantias fundamentais como também introduz mecanismos de controlo dos actos
normativos e um conjunto amplo de direitos sociais, económicos e culturais, ex.: o direito ao trabalho e à segurança social.
É uma Constituição revolucionária com uma legitimidade peculiar emergente da Revolução de 25 de Abril de 1974, porque o
MFA celebrou com as principais forças partidárias dois Pactos, onde se definiam os principais aspectos da organização do poder
político, o que significa que a Assembleia Constituinte, dotada de poder constituinte originário, estava vinculada, no âmbito da
organização do poder político, designadamente ao 2.º Acordo Constitucional. Este Acordo combinou duas legitimidades: a
representativa, típica de uma democracia representativa ocidental, e simultaneamente uma legitimidades revolucionária.
A actual Constituição é, claramente, uma Constituição compromissória, tal como a maioria das restantes Constituições post-
revolucionárias, como a de Weimar, a espanhola de 1978 e a italiana de 1947. Era, segundo alguns autores, na sua versão
originária, uma Constituição bastante longa, com preâmbulo de 312 artºs, alguns com natureza meramente administrativa e
quasi regulamentar.
Os compromissos que se revelam ao longo do texto constitucional resultam de certas alianças, ou convergência, entre as
diferentes forças com representação parlamentar para:
–implantação da democracia política e para implantação dos direitos, liberdades e garantias – PS, PPD e CDS;
–opção pelo socialismo – PS, PPD e PCP;
–aspectos colectivistas – PS e PCP;
–o sentido personalista – PPD e CDS.
Traços importantes dos diversos partidos que participaram na feitura da nova Constituição, assim:
– PS – direitos sociais, autogestão e planificação democrática da economia;
– PPD – valorização do Parlamento, garantias jurisdicionais autonomias regionais e locais;
– PCP – nacionalizações, reforma agrária e organizações populares de base;

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– CDS – recepção formal da Declaração Universal dos Direitos do Homem e da iniciativa privada.
Para além da nova Constituição ter sofrido influências interna, em resultado dos circunstancionalismos históricos
contemporâneos à aprovação do texto constitucional, sofreu também influências externas, ou seja, podemos verificar que o
legislador constituinte optou por soluções já desenhadas em outros modelos ou experiências constitucionais estrangeiras.
Importa agora analisar sucintamente o processo constituinte como sequência de diferentes fases, que vieram determinar a
aprovação da Constituição de 1976, que actualmente nos rege.
Este processo, iniciou-se com a Revolução de 25 de Abril de 1974 (levada a cabo pelos militares portugueses através do MFA) e
concluiu-se com a nova Constituição da República Portuguesa de 1976, que veio a ser aprovada a 2 de Abril e que entrou em
vigor a 25 de Abril daquele ano.
O MFA foi o movimento liderante da revolução e o seu programa, que inicialmente era um documento interno apenas do
movimento, rapidamente se transformou num acto externo de referência e de natureza quasi constitucional, passando a ser
tido como um «acto padrão» para a actuação dos diferentes Governos provisórios, entretanto nomeados ao abrigo da
legitimidade revolucionária, e, também, para os restantes órgãos que surgiram com a revolução.
Dentro do MFA, existem várias clivagens ideológicas, mas acabou por vencer, com o movimento de 25 de Novembro, a corrente
que tinha uma concepção política mais moderada e não extremista.
O primeiro órgão de soberania reconhecido com este atributo foi a Junta de Salvação Nacional, composta por militares, sendo
dotado de uma legitimidade revolucionária, o que permitiu que, desde logo, esta Junta assumisse poder constituinte e
aprovasse algumas Leis Constitucionais. A JSN foi extinta pela Lei Constitucional n.º 5/75, de 14 de Março, em consequência do
golpe de 11 de Março de 1975, sendo que esta Lei veio instituir um novo órgão que representaria o próprio MFA – O Conselho
da Revolução.
Como se tratou de uma revolução militar mas que visava a devolução do poder político à sociedade civil, a Assembleia
Constituinte viria a ser eleita democraticamente, por voto universal e directo, tendo em vista, exclusivamente, a elaboração da
nova CRP, que foi negociada entre os revolucionários e os partidos políticos, que surgiram e que logo se começaram a
institucionalizar.
Daí o período de transição que ficou consagrado para permitir que os «feitores» da revolução acompanhassem de perto a
institucionalização do processo democrático «revolucionário».
Assim, o que constava como núcleo essencial e exclusivo do Regimento da AC era a aprovação de uma nova Lei Fundamental,
padrão de conformidade e parâmetro de todo o ordenamento jurídico português, ou seja, uma nova Constituição.
A Constituição de 1933, que vigorou durante o Estado Novo (cfr. Lei Constitucional n.º 3/74, de 14 de Maio), continuou em vigor
naquilo em que não contrariasse os novos valores surgidos da Revolução de 25 de Abril de 1974, nomeadamente os princípios
constantes do Programa do MFA, que assumiu, como atrás referimos, uma natureza quasi constitucional e os princípios
consagrados nas novíssimas Leis Constitucionais, entretanto aprovadas. E na eleição para a Assembleia Constituinte previa-se
que a falta não justificada perante o juiz de comarca determinaria a inelegibilidade para a Assembleia Legislativa e para os
órgãos dirigentes de qualquer pessoa colectiva pública, durante um ano após a eleição para a Assembleia Constituinte.
A nova Constituição, após a entrada em vigor, desempenhou uma função estabilizadora da vida pública nacional, mas, em
resultado dos vários circunstancialismos em que se desenrolou todo o processo constituinte, acarretou desde o início um debate
à sua volta assumindo contornos, em certos momentos, de relevo quase dramático.
Permitiu que alguns dos Governos que se seguiram a 25 de Abril de 1976 encontrassem no texto constitucional um justificativo
para não levar à prática medidas que à época urgiam. É evidente que as grandes discussões giraram em torno da Constituição
económica e sobre alguns limites materiais de revisão constitucional e sua natureza.
As Plataformas de Acordo Constitucional: o Direito Constitucional ou Político está em grande parte dependente de factos e
circunstancialismos políticos, e é uma referência essencial para a elaboração de uma Teoria Geral do Estado.
Como vimos, a Assembleia Constituinte veio a ser eleita democraticamente para elaborar exclusivamente um texto jurídico
dotado de valor constitucional, mas o circunstancialismo político veio a demonstrar a necessidade de assinatura prévia de duas
Plataformas de Acordo Constitucional que foram subscritas pelos novos partidos políticos e pelos militares do MFA.
A 1.ª Plataforma de Acordo Constitucional: previa, durante o período de transição, ou seja, até à entrada em vigor da nova CRP,
os seguintes Órgãos de Soberania:
– O Presidente da República – que presidia por inerência ao Conselho da Revolução e era o Comandante Supremo das Forças
Armadas. As suas funções estavam limitadas ao Conselho da Revolução e os Conselheiros que o integravam tentaram garantir a
existência de um Presidente da República militar. De entre as suas competências salientamos o poder de escolher o Primeiro-
Ministro, dissolver a Assembleia Legislativa e promulgar os actos legislativos;
– O Conselho da Revolução – que seria o conselho consultivo do Presidente da República, dotado de competência legislativa e
política. Era o órgão de controlo político e jurídico, pois fiscalizava a constitucionalidade das normas;
– O Governo – que era dotado de competência para legislar através de DL. Tinha 2 limites ao exercício da sua competência
legislativa: a competência do Conselho da Revolução e a da Assembleia Legislativa. O Governo integrava ministros de confiança
das Forças Armadas;
– A Assembleia Legislativa – que era concebida à imagem dos parlamentos democráticos. Tinha como limitação à sua
competência as atribuições do Conselho da Revolução, mesmo em matéria legislativa e fazia parte do colégio eleitoral para
eleição do Presidente da República;
– A Assembleia das Forças Armadas – que era composta por 240 militares que faziam parte do colégio eleitoral para a eleição do
Presidente da República;
– Os Tribunais – a quem competia a justacomposição dos litígios.

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O primeiro pacto, que se traduziu na 1.ª Plataforma de Acordo Constitucional, não chegou a produzir efeitos devido, em grande
parte, a causas políticas estruturais que impediram a sua concretização e o seu desenvolvimento. Com o 25 de Novembro de
1975, o Grupo dos Nove ordenou a governação que se fizera até aí e manifestou o seu desacordo com muitas das decisões
políticas seguidas, não estando, nomeadamente, de acordo com o caminho da sociedade para o socialismo. Este nove membros
das Forças Armadas opunham-se aos extremismos da tendência dominante – de socialismo popular oriental. Após o 25 de
Novembro, este grupo de esquerda moderada levou à revogação do primeiro pacto MFA/Partidos.
Neste novo quadro político de moderação, uma nova Plataforma veio a ser negociada, o que permitiu a redução significativa da
participação dos militares na vida política nacional.
A 2.ª Plataforma de Acordo Constitucional: com a assinatura da nova Plataforma de Acordo Constitucional deixou de consagrar-
se como órgão de soberania a Assembleia do MFA, estabelecendo-se, assim, um novo quadro de organização política do Estado.
Os órgãos de soberania durante o período de transição passariam a ser:
– Presidente da República;
– Conselho da Revolução;
– Assembleia Legislativa;
– Governo; e
– Tribunais
Além disso, a previsão da eleição indirecta do Presidente da República, por um colégio eleitoral restrito, passou a eleição directa
através do sufrágio universal, directo e secreto.
O Conselho de Revolução continuou a dispor de três funções:
– Conselho consultivo do Presidente da República;
– Garante do regular funcionamento das instituições democráticas e da CRP, podendo pronunciar-se, por iniciativa própria ou a
solicitação do PR, sobre a constitucionalidade dos diplomas;
– Político-legislativa, atento o facto de o Conselho da Revolução assumir, nos termos da 2.ª Plataforma de Acordo
Constitucional, poderes polítoco-legislativos em matéria militar.
Ainda no âmbito do Conselho da Revolução era prevista a criação de uma Comissão Constitucional que integrava juristas e que o
assistia no âmbito da fiscalização da constitucionalidade, exercendo-a, contudo, com os tribunais em matéria de fiscalização
concreta.
Quanto à definição da responsabilidade política do Governo: «O Governo é politicamente responsável perante o Presidente da
República e perante a Assembleia Legislativa».
O período de transição fixou-se em 4 anos.
Era esta 2.ª Plataforma que se encontrava em vigor aquando da eleição da Assembleia Constituinte e que tinha a missão
exclusiva de aprovar a nova Lei Fundamental.
O poder e o processo constituintes: o órgão dotado do importante poder constituinte apenas pode aprovar, rever ou alterar a
CRP. No primeiro caso, o poder constituinte é originário e só admite limitações suprapositivas ou consentida, sendo que nos
restantes é secundário ou derivado e está balizado pelos limites consagrados pelo legislador constituinte originário.
Desta forma, as estruturas titulares de poder constituinte dispõem da faculdade de auto-organização e auto-ordenação política,
sem influências externas que não resultem de princípios suprapositivos ou outros por esta consentidos. O poder constituinte é,
por isso, livre e discriccionário. Depois da fixação da nova organização política ficam instituídos os novos poderes constituídos
que resultam do exercício da faculdade constituinte que os estabelece bem como as fronteiras que balizam as suas actuações.
No caso português, o poder constituinte manifestou-se, em 1976, através de uma Assembleia Constituinte que aprovou o
principal texto jurídico português – a nova CRP. Assim,
1ª fase, teve a ver com a iniciativa – com a apresentação de projectos de Constituição. Apresentados em Junho de 1975 pelos
partidos políticos, conforme a sua ideologia, podendo encontrar-se marcos orientadores em cada um dos diferentes projectos:
–CDS: direitos inalienáveis da pessoa humana; pluralismo e liberdades democráticas; solidariedade social e valorização da
iniciativa privada; reabilitação do trabalho e abolição da condição proletária; supremacia e primado do trabalho sobre o capital.
– MDP/CDE: empenho do Povo português com o MFA na sua dinâmica e apoio revolucionário.
– PCP: orientação idêntica à do MDP/CDE; a defesa de uma aliança entre o MFA e o movimento popular de massas a caminho de
uma sociedade socialista com a apropriação dos meios de produção.
– PS: a defesa e construção do socialismo, só que divergia nos meios em relação ao PCP, ou seja, estes objectivos deveriam ser
alcançados pelo meio pluralista e com respeito pela vontade popular. O socialismo caracteriza-se no exercício do poder
democrático pelos trabalhadores no quadro da colectivização progressiva dos meios de produção e de um regime de
Democracia política com vista à instalação de uma sociedade sem classes.
– PPD: propunha o respeito pela dignidade da pessoa humana e pretendia o fim do autoritarismo dos governantes.
–UDP: propunha a classe operária como força e motivo das transformações revolucionárias. Defendia a repressão severa dos
inimigos o Povo português e as mais amplas liberdades de organização e iniciativa revolucionárias.
2.ª fase, foi nomeada uma comissão para dar parecer sobre a sistematização a seguir para a nova Constituição.
3.ª fase, compreendia um debate na generalidade sobre os diferentes projectos apresentados.
4.ª fase, foi nomeada uma comissão para elaborar pareceres sobre matérias específicas.
5.ª fase, procedeu-se ao debate e votação final de cada título da CRP com base nos projectos dos partidos políticos e nos
pareceres elaborados pela comissão parlamentar. Exigia-se que mais de metade dos Deputados votassem para a Assembleia
poder aprovar um determinado artigo, ou seja, pelo menos 126 Deputados (eram 250). De seguida, foi nomeada uma comissão
para reunião de capítulos e respectiva harmonização por títulos e redacção final. E, por fim foi aprovada, em Plenário, a versão
originária da CRP de 1976.

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A Lei Fundamental veio a ser aprovada com base nos compromissos assumidos entre os partidos políticos, com votos contra do
CDS, constando do DAC a justificação do seu voto, onde se afirma que a nova CRP aprovada era «(...) uma amarra socialista das
forças temporariamente maioritárias (...)» e que não criava uma norma de identidade e unidade nacional. No entendimento
deste partido político o compromisso estava desequilibrado para o lado da esquerda e a nova CRP consagrava artigos que não
possibilitavam que a Constituição motivasse a unidade nacional e previa determi-nados princípios que representavam uma
intervenção de tendências meramente conjunturais.
A estrutura da Constituição e seus princípios fundamentadores:
– Preâmbulo – mantém-se inalterado desde a versão originária da CRP ajudando à interpretação do seu conteúdo;
–Princípios fundamentais (arts. 1.º a 11º da CRP) – encontramos vários princípios como: constitucionalidade dos actos, a
definição do Estado português como referência para a sua posição na comunidade internacional; consagração do sufrágio
universal, igual, directo, secreto e periódico, como forma de o Povo exercer o poder político. No caso português, afirma-se
ainda, cfr. art. 1º, que Portugal é uma república soberana baseada na dignidade da pessoa humana e, o n.º 2 do art. 16º refere
que a Declaração Universal dos Direitos do Homem deve ser considerada na interpretação e na integração dos direitos
fundamentais constitucionalmente previstos;
– Parte I – Direitos e deveres fundamentais (artºs 12º a 79º, da CRP) – encontramos princípios de: universalidade; igualdade, um
dos mais importantes princípios da nossa Constituição e um dos princípios basilares do novo Estado de Direito, o que significa
que todos os cidadãos são iguais perante a lei, não podendo existir discriminações ou privilégios em função do sexo, raça,
religião, convicções políticas, entre outros; equiparação nacionais/estrangeiros (art. 15º, n.º 1, com excepção do n.º 2, por outro
lado, o art. 16º consagra uma interessante auto-limitação em matéria de interpretação e integração de lacunas, pois o n.º 2 do
referido art. 16º consagra a relevância da Declaração Universal dos Direitos do Homem, não porque resulte de norma de Direito
internacional Público mas porque se prevê como auto-limitação e não hetero-limitação); proibição do excesso; e
proporcionalidade conjuntamente com o princípio da necessidade;
–Parte II – Organização económica (artºs 80 a 107º, da CRP) – algumas destas normas ultrapassam o mero estatuto e são
normas programáticas, que se relacionam com a intervenção do Estado na vida económica;
–Parte III – Organização do poder político (artºs 108 a 276º da CRP) – Parte constituída por normas estatutárias que estabelecem
as regras jurídicas sobre a titularidade do exercício do poder político. O movimento constitucional foi uma conquista
designadamente do Liberalismo e as Leis Fundamentais submetem o poder político a regras jurídicas, daí que as primeiras
Constituições sejam estatutárias. Daqui resultam algumas regras importantes como o princípio da competência, em Direito
Público, onde os órgãos só exercem as competências previstas na lei. Os artºs 108º e 110º estabelecem, a titularidade do poder
político, afastada origem divina do poder, e, como vivemos numa democracia representativa, o povo não exerce directamente o
poder político, antes elege órgãos para o exercício do poder. Ao longo da Parte III está subjacente o carácter representativo dos
órgãos de soberania e a interdependência entre os mesmos;
– Parte IV – Garantia e revisão da Constituição (artºs 277º a 289º) – consagram-se os regimes jurídicos dos vários processos de
fiscalização da constitucionalidade das normas bem como as regras específicas de revisão constitucional;
– Disposições finais e transitórias (artºs 290º a 296º da CRP).
O «arrumo» e a sistematização da nossa Constituição obedecem a um critério essencialmente personalista, em primeiro lugar,
vêm expressos os direitos fundamentais e só depois a organização económica, assim se distinguindo das antigas Constituições,
que integravam a família socialista. Nestas, 1.º, teríamos a parte económica e só depois viriam consagrados os direitos dos
cidadãos de acordo com as premissas do Marxismo-Leninismo e das doutrinas e teorias delas emergentes.
Os princípios estruturantes da CRP são aqueles que nos demonstram os valores suprapositivos que o legislador constituinte teve
em conta na elaboração do texto constitucional. Por regra, a doutrina constitucional aponta dois grandes princípios que
considera serem estruturantes e que se encontram patentes na nossa Constituição na sua versão originária. Estes princípios são:
–o democrático, é um princípio organizatório definidor do estatuto ou processo do poder político e que consiste na opção por
uma ordem democrática assente nos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e estruturalmente pela descentralização
político-administrativa;
–o socialista, que a nossa CRP era predominantemente ideológico e que estabelecia um programa de transformação da
sociedade, já que se procurava ir ao encontro de uma sociedade sem classes através da colectivização dos principais meios de
produção.
Ambos encontravam manifestações ao longo do texto constitucional, mas nos dias de hoje, o princípio socialista deixou de ser
considerado um princípio estruturante da nossa Lei Fundamental.
Os diferentes tipos de Constituições:
–Constituições flexíveis, que são revistas como qualquer lei ordinária e se distinguem delas somente no seu objecto e conteúdo,
já que regula a estrutura e o exercício do poder político, mas não consagram limites à sua revisão ou estes são muito ténues;
–Constituições rígidas, que são as que estabelecem limites normativos muito fortes ao seu processo de revisão e se distinguem
das outras fontes de Direito pela forma e pela força jurídica das suas garantias de revisão, já que os limites existem e
impossibilitam a sua revisão;
–Constituições semi-rígidas, que são aquelas que comportam limites à revisão constitucional, mas cuja revisão é admissível em
determinados momentos e respeitados os vários limites.
A nossa Constituição é, segundo grande parte da Doutrina, uma Constituição semi-rígida porque pode ser revista, mas em
condições diferentes das leis ordinárias, pois existem limites temporais, processuais ou formais, materiais e circunstanciais (art.
284º e ss. da Constituição), ou seja, o nosso texto constitucional pode ser revisto verificados certos requisitos. Não é um texto
fixo e inalterável. Quando exercido o poder da revisão constitucional surge uma Lei Constitucional.

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Existem outros critérios que permitem distinguir os conceitos de Constituição em sentido material, quando se atende ao
conteúdo das normas, de Constituição em sentido formal, sempre que se atende à posição das normas constitucionais face às
demais normas jurídicas. As constituições formais são um conjunto de normas formalmente qualificadas de constitucionais e
revestidas de força jurídica superior á de qualquer outra norma, enquanto que nas Constituições materiais a substância e o
conteúdo reforçado resultam da natureza do conteúdo das normas e em caso algum este conjunto de normas se fundamenta
em outra norma do mesmo ordenamento.
A nossa Lei Fundamental, como vimos resultou de negociações multilaterais levadas a cabo entre os vários partidos políticos e o
MFA e o poder de revisão constitucional foi atribuído, pela Assembleia Constituinte, à Assembleia da República.
Uma Constituição é um acto formal e solene emanado por uma assembleia constituinte e só pode ser alterada através de um
procedimento próprio e especial.
A nossa CRP consagra diferentes tipos de limites quanto à possibilidade de revisão constitucional: os limites temporais; os
formais; os materiais e os circunstanciais, consagrados nos artigos 284º, 285º, 288º e 289º da CRP.
A revisão constitucional de 1982: foi a primeira revisão ordinária à CRP. A 2.ª Plataforma de Acordo Constitucional previa que a I
Legislatura teria a duração de quatro sessões legislativas e que somente na II Legislatura a Assembleia da República poderia
assumir poderes constituintes derivados ou secundários e rever o texto constitucional.
A entrada em vigor da lei de revisão constitucional acarretaria o fim do período de transição.
O processo de revisão constitucional inicia-se, com a apresentação dos projectos a 23 de Abril de 1981, e conclui-se com a
aprovação em 12 de Agosto de 1982, da Lei Constitucional n.º 1/82, de 30 de Setembro. Para tal, deram-se as seguintes fases:
– apresentação dos projectos (foram apresentados 5 projectos de revisão constitucional);
– criação de uma comissão eventual especializada para sistematização dos projectos;
– discussão e votação na especialidade;
– votação final global pelo plenário da Assembleia da República (votaram a favor todos os partidos políticos, com excepção do
PCP e da UD, tendo-se abstido o MDP/CDE);

Os projectos apresentados foram:


– o projecto da ASDI (mais tarde retirado, pois a ASDI integrou-se na FRS);
–o projecto da AD, que incluía os Deputados do PPD, CDS e PPM, pretendia reduzir a componente presidencial do sistema do
governo, redistribuindo os poderes do Conselho da Revolução, de modo a não privilegiar o Presidente da República;
–o projecto da FRS, que incluía o PS, a ASDI e a União de Esquerda para a Democracia Socialista, apontava para a redução global
dos poderes do Presidente da República, fazendo igualmente a redistribuição das competências do Conselho da Revolução, de
modo a não beneficiar o Presidente da República;
–o projecto do MDP/CDE e o projecto do PCP, que procuravam não se afastar da Constituição inicial, sendo que o do MDP
repartia os poderes do Conselho da Revolução de modo a não prejudicar o Presidente da República.
A AD e a FRS pretendiam atenuar a componente presidencial do sistema de governo enquanto que o MDP/CDE e o PCP
pretendiam o inverso.
Foi essencialmente uma revisão política, pondo fim à intervenção dos militares na vida política, nomeadamente com a extinção
do Conselho da Revolução, que era um dos órgãos de soberania, e consequente distribuição das competências deste órgão
pelos restantes órgãos do Estado.
De forma genérica, podemos afirmar que a revisão constitucional de 1982 reduziu o normativo constitucional para 300 artigos,
em vez dos 312 anteriormente existentes, mas manteve a estrutura e a sistematização constitucional por que havia optado o
legislador constituinte de 1976.
As principais alterações sofridas pelo texto constitucional, introduzidas pela Lei Constitucional n.º 1/82, de 30 de Setembro. Em
síntese, são:
1.ªeliminação de certas expressões ideológicas introduzidas pela conjuntura revolucionária de 1974/1976 referentes ao
socialismo, embora esta eliminação fosse aprofundada em 1989, aquando da 2.ª revisão constitucional. Não podemos esquecer
que um dos princípios estruturantes do nosso normativo constitucional, a par do princípio democrático, era precisamente o
princípio socialista.
2.ªaperfeiçoamento dos direitos fundamentais, sendo alterado o regime dos artºs 18º e 19º da CR, de maneira a reforçar as
garantias dos particulares;
3.ªevolução da CR no sentido de uma economia pluralista, embora com pleno significado em termos formais com a revisão
constitucional de 1989. Sendo a III Parte – Organização do Poder Político, a mais afectada.
4.ªo poder do PR de dissolução da Assembleia da República passou a ser livre e discricionário, sujeito apenas a formalismos
prévios de audição dos partidos políticos e de parecer do Conselho de Estado (art. 136º, al. e), verificados os pressupostos
previstos no art. 175º), anteriormente, exigia-se o parecer favorável do Conselho da Revolução, art. 136º, al. e));
5.ªa demissão do Governo ficou sujeita à necessidade de assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas (artºs
136º, al. g), 198º, n.º 2);
6.ªa criação de referendos a nível local (art. 241º, n.º 3);
7.ªextinção do Conselho da Revolução, visto que era para vigorar somente durante o período transitório previsto para quatro
anos, o que só viria a acontecer no ano de 1982, assim se pondo termo à participação e à intervenção políticas das Forças
Armadas (cfr. art. 145º e ss. da CRP);
Com a revisão constitucional de 1982 e a extinção do Conselho da Revolução, a legitimidade democrática e representativa
suplantou, em grande medida, a chamada legitimidade revolucionária ao nível da organização do poder político.
A revisão constitucional de 1989: foi a segunda revisão constitucional ordinária que sofreu a CRP de 1976.

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O novo texto da CRP, após a revisão constitucional de 1982, passou a prever que a Assembleia da República só poderia assumir
poderes constituinte passados cinco anos da data da publicação de qualquer lei de revisão. Como sabemos, a última Lei
Constitucional a ser publicada foi precisamente a que deu origem à 1.ª revisão constitucional e que data de 30 de Setembro de
1982. Assim, observados os limites temporais previstos no normativo constitucional, pôde o processo iniciar-se em Outubro de
1987, sendo em tudo idêntico ao que se verificou em 1982.
O início do processo deu-se com a apresentação do projecto do CDS, em 17 de Outubro de 1987, e terminou em 8 de Julho de
1989, com a publicação da Lei Constitucional n.º 1/89, de 8 de Julho, que havia sido aprovada em 1 de Junho e que entrou em
vigor 30 dias após a sua publicação.
A primeira fase deu-se, com a apresentação dos diferentes projectos de revisão constitucional: 7 apresentados pelos grupos
parlamentares (CDS, PCP, PS, PSD, ID, PEV e PRD) e 3 apresentados por Deputados isoladamente.
Na segunda fase foi constituída uma comissão eventual, que se dividiu em duas subcomissões. Esta comissão teve, basicamente,
as seguintes funções:
i)seriação das alterações constantes dos projectos com vista à sua sistematização;:
ii)discussão das alterações; e
iii)votação meramente indiciária das alterações no âmbito da comissão, sem carácter vinculativo.
No decurso do processo conducente à revisão constitucional foi negociado um Acordo de revisão constitucional extra-
parlamentar, celebrado entre os dois maiores partidos políticos, o PSD e o PS, que foi assinado a 14 de Agosto de 1988,
permitindo a aceleração de todo o processo de revisão, nomeadamente facilitando alcançar a maioria de dois terços dos votos
necessários à aprovação do decreto de revisão constitucional.
Este acordo desenvolveu-se em três partes:
I–no âmbito dos direitos fundamentais, onde se versavam, entre outras, matérias como a AACS, o regime do tempo de antena e
a regulamentação do direito à greve;
II–no âmbito da Constituição económica, previa-se a eliminação do princípio da irreversibilidade das nacionalizações, a
obrigação da elaboração de uma lei-quadro das (re)privatizações; a substituição do Título da Reforma Agrária por outro mais
amplo de política agrícola, bem como ficou acordada a simplificação dos planos, e
III–no âmbito da organização do poder político previa-se a criação das leis orgânicas com carácter reforçado, a introdução do
referendo nacional, um novo processo de regionalização, previsão da Administração Pública aberta, com obrigatoriedade de
esta dar resposta aos cidadãos, e uma diminuição do número dos Deputados.
Numa outra fase deu-se o debate e a votação do Plenário, e por fim, a votação final global do texto do decreto de revisão, em 1
de Junho de 1989. Nesta votação votaram a favor os Deputados do PSD, PS, PRD, CDS e contra os Deputados do PCP, PEV E ID.
Quando analisámos a primeira revisão constitucional, afirmámos que foi uma revisão eminentemente política, com a extinção
do Conselho da Revolução e a consequente redistribuição das suas competências pelos restantes órgãos de soberania.
A segunda revisão assumiu outros contornos e foi claramente uma revisão à Constituição económica, embora não se tenha
esgotado nestes aspectos, podendo desde logo verificar-se a tentativa de eliminação das expressões de natureza ideológica,
«imagem de marca» do nosso texto constitucional, e uma redução no seu normativo. Mas como dissemos, foi uma revisão que
incidiu essencialmente na parte económica da CRP.
A revisão constitucional de 1992: foi a terceira revisão constitucional e resultou da aprovação da Lei Constitucional n.º 1/92, de
25 de Novembro.
A exigência desta revisão constitucional deveu-se a compromissos assumidos, pelo país, no âmbito das Comunidades Europeias
e que exigiam a assinatura do Tratado de Maastricht. A revisão constitucional de 1992 foi, de todas a menos extensa e deveu-se
exclusivamente ao desejo dos governantes da época de ratificação do novo Tratado da União Europeia.
A revisão constitucional de 1997: foi a 4.ª e foi também facilitada em virtude da celebração de um acordo entre o PS e o PSD no
âmbito parlamentar, o que permitiu a aceleração do processo de revisão constitucional e a obtenção da maioria necessária para
aprovação das alterações constitucionais, que conduziram à aprovação da Lei Constitucional n.º 1/97, de 20 de Setembro, que
entrou em vigor em 5 de Outubro desse ano.
A nova Lei Constitucional introduziu:
–no âmbito da estrutura normativa deu-se um aperfeiçoamento com a extensão do conceito de leis de valor reforçado. Embora
a distinção entre o conceito de leis de valor reforçado e de leis ordinárias de valor reforçado já não apresente grande significado,
mantêm-se a distinção (art. 112º, n.ºs 2 e 3, da actual CRP);
–quanto ao referendo nacional passou a estar previsto no art. 115º da CR e adaptou-se aos desejos de referendar questões que
anteriormente eram de consulta proibida, possibilitando-se igualmente a iniciativa popular indirecta e sujeitando a vinculação
do referendo à participação de mais de 50% dos eleitores;
–quanto à eleição do Presidente da República e à legitimidade eleitoral activa, passou a possibilitar-se o voto dos cidadãos
eleitores residentes fora do território nacional (art. 121º CRP);
– o chefe de Estado passou a poder enviar mensagens às Assembleias Legislativas Regionais como sucede com a Assembleia da
República (artº 133º, al. d));
– criação da figura do referendo regional, existente até à data (artºs 134º, al. c) e 232º, n.º 2);
– diminuição do número de Deputados passando para 180 a 230 (art. 148º);
– consagração de círculos uninominais nas eleições p/ a Assembleia da República (artº 149º, n.º 1);
– aumento do n.º das leis orgânicas (art. 166º, nº 2)
– consagração da possibilidade de iniciativa legislativa popular (art. 167º)
– alteração da designação do instituto da recusa de ratificação para apreciação parlamentar de actos legislativos (art. 169º);

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–a sessão legislativa e o período normal de funcionamento da Assembleia da República passaram a iniciar-se em 15 de Setembro
(art.º 174º, nºs 1 e 2);
– extinguiram-se os tribunais militares, (art. 209º), que passaram a existir apenas em tempo de guerra (artº 213);
– o mandato do Procurador-Geral da República passou a ser limitado a um período de seis anos (artº 220º, nº 3);
– o mandato dos juizes do Tribunal Constitucional passou a ser de nove anos e não é renovável (artº 222, nº 3);
– ainda no que diz respeito às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, é de salientar o facto de se ter integrado pela
primeira vez uma enumeração aberta de matérias que foram consideradas de interesse específico para as autonomias regionais
(art. 228º) e que estavam consideradas nos respectivos Estatutos Político-Administrativos.
A revisão constitucional de 2001: 5.ª revisão constitucional prendeu-se, sobretudo, com a aceitação da jurisdição do Tribunal
Penal Internacional decorrente do Estatuto de Roma. Por outro lado, pela primeira vez, foi constitucionalizada Língua
Portuguesa como língua oficial (artº 3º, da Lei Constitucional n.º 1/2001, de 12 de Dezembro). Desta forma, o art. 11º, n.º 3 da
CRP, passou a prever o Português como língua oficial do país.
Outras alterações ao texto constitucional prenderam-se com questões de reciprocidade e cooperação no domínio judiciário. Em
conclusão, esta revisão constitucional, tal como tinha acontecido em 1992, não foi muito extensa e tinha objectivos muito
precisos.
A revisão constitucional de 2004: foi a 6.:ª revisão a que foi sujeito o texto da CR de 1976 e foi aprovada pela Lei Constitucional
de 1/2004, de 24 de Julho.
A alterações constitucionais prenderam-se essencialmente, com questões relacionadas com a nossa participação na União
Europeia; com a extinção da AACS; com a consagração da figura do referendo regional; com a possibilidade de a lei determinar
limites à renovação sucessiva de mandatos dos titulares de cargos políticos executivos; com a alteração da designação dos
Ministros da República para Representantes da República; com a alteração da designação de assembleias legislativas regionais
para Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas.
Por fim, importa afirmar que a aprovação da Lei Constitucional n.º 1/2004, de 24 de Julho seguiu de perto os procedimentos
especiais previstos na CRP e no RAR.
A revisão constitucional de 2005: a revisão constitucional aprovada pela Lei Constitucional nº 1/2005, de 12 de Agosto, foi a 7.ª
revisão constitucional que incidiu sobre o texto da CRP de 1976 e que fixou, por ora, o seu articulado. Esta revisão constitucional
esteve intimamente relacionada com a possibilidade de se referendar o novo Tratado da União Europeia, tendo para isso sido
aprovado um novo articulado para o agora art. 295º da CRP.

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