Você está na página 1de 45

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Direito Constitucional II

Sempre que se formava uma Constituição mais democrática, em Portugal, ela caia logo.
A Constituição atual justifica-se pela análise das Constituições anteriores.

Constituição de 1822
Elaborada e decretada por assembleia constituinte, assim como a de 1911 e a de 1976.
1838 – Elaborada e aprovada por assembleia constituinte e submetida a sanção real.
1933 – Elaborada pelo Governo e objeto de plebiscito.
1826 – De origem não revolucionária, escrita e outorgada pelo rei.
Preparada entre janeiro de 1821 e setembro de 1822 pelas Cortes Gerais Extraordinárias e
Constituintes. O rei tem de a aceitar e de a jurar, sem nenhuma participação constitutiva na
sua feitura.
• Precedida de preâmbulo, assim como a de 1911 e a de 1976, ou seja, as revolucionárias.
• Variável extensão do articulado
• Assente na organização política, à volta dos poderes do estado e dividem-se em títulos
sem coordenação entre si
• Referências ao povo, território e poder político ou soberania
• Tratamento da forma de estado e da forma de governo
• Enumeração direitos fundamentais e regras sobre o seu exercício, as suas garantias e a
sua suspensão em estado de necessidade
• Regras sobre as relações da igreja e do Estado
• Regras sobre a participação política dos cidadãos, nomeadamente através das eleições
• Regras sobre os órgãos de soberania e outros criados pela constituição
• Regras sobre as autarquias locais e divisão administrativa do território
• Preceitos dobre as Forças Armadas
• Preceitos sobre as finanças públicas
• Regulamentação da revisão constitucional
• Regras sobre a garantia da constitucionalidade

Características:
1. Constituição monárquica hereditária
2. Liberdade de expressão
3. Direito de sufrágio (individual)
4. Direito à educação
5. Direito de acesso a cargos públicos
6. Instituições representativas
7. Pluralidade de órgãos políticos, havendo sempre um chefe de estado (rei ou PR) e uma
assembleia
8. Tribunais entre o poder do estado ou os órgãos de soberania, a par dos órgãos políticos
9. Garantia da existência de concelhos ou municípios e dos seus órgãos representativos,
10. Princípio da igualdade jurídica
11. Existência de religião oficial do estado

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

12. Estado unitário


Parlamento:
1. Unicameral
2. Plenitude da competência legislativa
3. Conselho de Estado, Câmara corporativa e Conselho de Revolução
“A história do parlamentarismo constitucional português começa com a Constituição de 1822,
aprovada na sequência da Revolução Liberal de 1820. Será interessante, no entanto, referir
alguns dos seus antecedentes.

A ideia e Assembleia Parlamentar enquanto órgão de representação nacional – por oposição à


conceção de cortes tradicionais, representando as três Ordens do Reino: Clero, Nobreza e
Povo – chega a Portugal no início do século XIX, com as invasões francesas. É neste contexto
que surge a primeira referência a umas cortes constitucionais na chamada súplica de
Constituição de 1808.
O documento foi apresentado pelo tanoeiro José de Abreu Campos, um dos representantes do
povo à Junta dos Três Estados (comissão delegada das Cortes do Reino) e tratava-se de um
projeto de petição dirigida a Napoleão, onde se pedia a outorga de uma Constituição.
Neste projeto constitucional de um grupo de afrancesados (simpatizantes das ideias da
Revolução francesa) estavam já claramente expressos princípios tão caros ao liberalismo
como o da igualdade perante a lei, a salvaguarda da liberdade individual de culto, a justiça
fiscal "sem exceção alguma de pessoa ou classe", a liberdade de imprensa e a instrução
pública.
Preconizava-se o princípio da divisão tripartida dos poderes (influência de Montesquieu), em
que o poder judicial deveria ser independente e o poder executivo assistido por um Conselho
de Estado e que não podia "obrar senão por meio de ministros responsáveis".
Com a Revolução de 1820, procurou-se que alguns destes princípios fossem assumidos como
linhas de orientação política, intenção indiciada, desde logo, pela vontade de convocação de
cortes constituintes com vista à elaboração de uma Constituição escrita, como se pode
constatar na proclamação lida a 24 de Agosto por um dos comandantes da tropas que fizeram
o pronunciamento militar no Porto.
A Junta Provisional, então constituída, organizou as eleições para as Cortes.
É nas Cortes Gerais, Extraordinárias, e Constituintes que elaboraram a Constituição de 1822,
que devemos procurar as raízes históricas da Assembleia da República.

Os representantes da nação foram eleitos através do sistema eleitoral consagrado na


Constituição liberal espanhola de Cádis de 1812, apenas com algumas adaptações à realidade
portuguesa.
Tratava-se de um sufrágio indireto em que se deveriam formar juntas eleitorais de freguesia,
de comarca e de província. Os cidadãos maiores de 25 anos (nalguns casos os maiores de 21
anos) com emprego, ofício ou ocupação útil, elegiam representantes que, por sua vez,
escolhiam os eleitores de comarca (freguesia). Estes reuniam-se na capital da província e

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

elegiam os deputados às cortes constituintes, os quais não podiam ser menores de 25 anos, à
razão de um por cada trinta mil habitantes.
Todo este intrincado processo eleitoral das primeiras eleições portuguesas ficou concluído no
dia de Natal de 1820.
Esta assembleia constituinte, embora com a incumbência primeira de elaborar uma
Constituição, designou desde logo um novo governo, a Regência, substituindo a Junta
Provisional do Governo Supremo do Reino, que tinha dirigido o país desde o triunfo da
revolução. Legislou igualmente de forma soberana sobre os mais variados assuntos de
natureza política, económica e social e impôs ao Rei D. João VI o seu regresso do Brasil –
onde se havia refugiado com a corte após as invasões francesas - para prestar juramento das
Bases da Constituição.
Instituiu-se, assim, o primeiro sistema de governo parlamentar controlado por uma
assembleia que viria a aprovar, em 23 de setembro, a Constituição de 1822.
Na Constituição de 1822 ficaram consagrados os princípios ligados aos ideais liberais da
época: princípios democrático, representativo, da separação de poderes e da igualdade
jurídica e respeito pelos direitos pessoais.

"A Nação Portuguesa é representada em Cortes" assim começa o primeiro artigo do Título
III. "A soberania reside essencialmente na Nação. Não pode, porém, ser exercida senão pelos
seus representantes legalmente eleitos", ou seja, pelos deputados das Cortes, a quem cabe
exclusivamente fazer a Constituição, sem dependência de sanção do Rei.
As Cortes de 1822 eram formadas por uma só câmara, eleita por um período de dois anos, por
sufrágio direto, secreto e sem caráter universal, já que não podiam votar, entre outros, os
menores de 25 anos (com algumas exceções referentes aos militares ou a cidadãos casados
com mais de 20 anos), as mulheres, os "vadios, os regulares e os criados de servir".
Para se ser eleito deputado era necessário poder-se sustentar através de "renda suficiente,
procedida de bens de raiz, comércio, indústria ou emprego".
Os três poderes políticos - legislativo, executivo e judicial - são rigorosamente independentes
e o poder legislativo é atribuído às Cortes em exclusivo, embora sujeito à "sanção Real",
instituto semelhante ao da promulgação das leis.
O Rei, assistido pelos Secretários de Estado, detinha o poder executivo. Dispunha também de
veto suspensivo (devolução ao parlamento de um ato legislativo para reapreciação), podendo
devolver às Cortes determinado diploma uma só vez. Bastava uma nova aprovação do primitivo
texto, pela mesma maioria parlamentar, para haver obrigatoriedade de promulgação, estando
previsto um processo de promulgação tácita para os casos de decurso dos prazos ou de recusa
de assinatura.
Nas suas relações com o poder legislativo o Rei não tinha o poder de dissolver o parlamento.
A iniciativa de lei pertencia em exclusivo aos deputados, através de projetos de lei, podendo,
no entanto, os Secretários de Estado apresentar propostas de lei que, depois de examinadas
por uma comissão das Cortes, poderiam ser convertidas em projetos de lei.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

A sessão legislativa durava três meses consecutivos, prorrogáveis por apenas mais um, a
pedido do Rei ou por deliberação de dois terços dos deputados presentes.
Naturalmente que este primado do parlamentarismo não agradava aos partidários do
absolutismo e com a revolta militar conhecida por Vila-Francada, em maio de 1823, começa a
derrocada da primeira experiência liberal em Portugal.
A 2 de Junho de 1823 reúnem-se pela última vez as Cortes do vintismo, aprovando uma
Declaração e protesto "contra qualquer alteração ou modificação que se faça na constituição
do ano de 1822". Dois dias depois, é assinada pelo Rei uma Carta de lei defendendo a
necessidade de reforma da Constituição.
D. João VI chega a convocar os três estados do Reino (clero, nobreza e povo), para se
reunirem em cortes nos moldes do antigo regime.
A Constituição de 1822 teria, na sequência da Revolução do Setembrismo, em 1836, uma curta
e quase simbólica segunda vigência, de 10 de setembro de 1836 a 4 de abril de 1838, data do
juramento da Constituição de 1838.”

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Carta Constitucional de 1826

Depois da morte de D. João VI, em abril de 1826, D. Pedro IV outorga a Carta


Constitucional, onde ficam instituídas as Cortes Gerais, compostas pela Câmara dos Pares
(vitalícios) e pela Câmara dos Deputados; nomeia 72 pares do Reino para constituir a 1.ª
Câmara e determina a realização de eleições nos termos da Carta, vindo a abdicar, pouco
tempo depois, na sua filha, a futura Rainha D. Maria II.

A Carta Constitucional consagra, como representantes da Nação, o Rei e as Cortes


Gerais e procura um compromisso entre os ideais liberais expressos na anterior Constituição
e as prerrogativas reais.
A Carta estatuiu um sistema bicameralista para as Cortes Gerais, sendo a Câmara dos
Pares composta por membros vitalícios e hereditários, nomeados pelo Rei, sem número fixo, a
que acresciam Pares por direito próprio, em virtude do nascimento ou do cargo.
A 2.ª Câmara, designada por Câmara dos Deputados, passa a ser eleita por sufrágio
indireto e censitário. Nas eleições primárias, em que se elegiam os Eleitores de Província, não
se atribuía direito de voto, entre outros, aos menores de 25 anos (idade que poderia baixar
para 21 anos, em casos pontuais) e aos "que não tiverem de renda líquida anual cem mil réis",
mantendo-se as incapacidades eleitorais ativas previstas na Constituição de 1822.
Os Eleitores de Província deviam possuir uma renda mínima de duzentos mil réis.
Para se ser eleito deputado subia-se a exigência de renda mínima para quatrocentos mil réis.
O período da legislatura passa para quatro anos, tendo a sessão legislativa a duração de
três meses prorrogáveis pelo Rei.
O poder legislativo continua a pertencer às Cortes, mas a Carta Constitucional atribui
ao Rei um poder de veto efetivo, sanção real, com efeito absoluto.
Esta alteração, relativamente ao estatuído na Constituição de 1822, é uma das
consequências da adoção, pela Carta Constitucional, da teoria dos quatro poderes: o
legislativo, o executivo, o moderador e o judicial. O poder moderador, neutro, pertenceria ao
rei enquanto "Chefe Supremo da Nação". (Este poder surge com os ideais de Benjamin
Constant).
A iniciativa legislativa, direito de proposição, pertencia indistintamente às duas
Câmaras ou ao poder executivo, ainda que indiretamente.
O Rei, no exercício do seu poder moderador, passa a ter o poder de dissolver a Câmara dos
Deputados.
A Carta Constitucional deixou de vigorar em maio de 1828, data em que D. Miguel
convocou os três Estados do Reino que o aclamaram rei absoluto.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Teria mais dois períodos de vigência: de agosto de 1834 (data da saída de D. Miguel do
país) até à Revolução de Setembro de 1836 (que, como vimos, restaurou a Constituição de
1822 até à aprovação da Constituição de 1838) e de janeiro de 1842 até outubro de 1910.
Durante o último período de vigência da Carta Constitucional, de janeiro de 1842 (data
do golpe de estado de Costa Cabral) até à implantação da República, em 5 de outubro de 1910,
o texto constitucional sofreu alterações através dos Atos Adicionais de 1852, 1885, 1895-
1896 e 1907, os quais implicaram importantes mudanças no modelo parlamentar.
O Ato Adicional de 1852, aprovado na sequência do triunfo do movimento Regenerador
que afastou Costa Cabral do governo, estabelece a eleição direta dos Deputados por todos os
cidadãos com um mínimo de cem mil réis de renda, baixando assim o censo na capacidade
eleitoral ativa. Para se ser eleito Deputado mantém-se a exigência de quatrocentos mil réis
de renda líquida. Aos possuidores de títulos literários, a determinar pela lei eleitoral, além de
se baixar para 21 anos a idade mínima para votar e ser eleito, era dispensada a prova do
censo.
Leis ordinárias, entretanto, publicadas, vieram alargar, sucessivamente, o âmbito da
capacidade eleitoral, designadamente a Lei de 8 de maio de 1878 que considera como
possuidores da renda mínima para votar, todos os chefes de família e os alfabetizados.
Com o Ato Adicional de 1885 - um dos poucos textos constitucionais aprovados sem que
tivessem ocorrido previamente movimentos revolucionários ou de rutura política - a
legislatura passou novamente para três anos com o intuito de se "amiudar a consulta ao país,
dando assim mais autoridade e prestígio à câmara dos deputados". Limitou-se a 100 o número
de pares vitalícios nomeados pelo Rei e estabeleceram-se pares eletivos e temporários em
número de 50, mantendo-se os pares por direito próprio. Este Ato Adicional regulamentou
também o direito do Rei de dissolver a Câmara dos Deputados e a parte eletiva da Câmara dos
Pares, limitando este poder apenas aos "casos em que o exigir o bem do Estado".
O Ato Adicional de 1895-1896 compõe-se de dois textos legislativos: o Decreto de 25
de setembro de 1895 que, aprovado pelo governo com as Cortes dissolvidas, alterou a Carta
sem respeitar as normas nela prevista para a sua revisão e a Carta de Lei de 3 de abril de
1896 que incorporou, em parte, as alterações daquele Decreto.
Foram suprimidos os pares eletivos, passando a Câmara dos Pares a ser composta por
um número máximo de 90 membros vitalícios nomeados pelo Rei, para além dos pares por
direito próprio ou por direito hereditário.
A Carta de Lei não foi, no entanto, tão longe nos poderes do Rei como o Decreto de
1895, o qual lhe dava, enquanto poder moderador, a possibilidade de promulgar Decretos com
força legislativa, caso não houvesse acordo entre as duas Câmaras na elaboração de medida
legislativa. A solução para estas situações era a possibilidade de qualquer das Câmaras poder
pedir a convocação de uma reunião conjunta, em Cortes Gerais, para votar sem qualquer
discussão.
O último Ato Adicional, decretado em dezembro de 1907, voltou a alterar a composição
da Câmara dos Pares, suprimindo o número fixo de pares nomeados pelo Rei (não há número
fixo).

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Constituição de 1838

Compromisso entre os princípios representativo-monárquico e monárquico.


As cortes elaboram o texto, mas a Rainha aceita livremente, não é obrigada a aceitar.

Poder legislativo
Artigo 36 – Sistema bicamaral – Câmara dos Senadores – eletiva e temporária (não pode ser
controlada pelo rei – (artigo 58) e Câmara dos Deputados (esta já ele controlava).

Poder Executivo:
Rei perde o poder moderador, voltamos a ter a divisão tripartida do poder.

Artigos 81º e 82º – mudança univocamente estética.

Rei pode adiar as Cortes e, assim, não há eleições.

Em 1842 a Constituição cai e ressurge a Carta Constitucional de 1826, com uma nuance
– o governo autonomiza-se do rei e detém o poder executivo, começando a sair o Rei da
equação. Mantinha, ainda assim, a competência de nomear os ministros, não conseguia era
delinear a linha política, que se transferia para Governo.
O governo que chegou a 1910 consumia os poderes executivo e legislativo.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Constituição de 1911

A 1.ª República inicia-se com a proclamação da República a 5 de outubro de 1910 e acaba com
o Golpe de 28 de maio de 1926 que dissolve o Parlamento e governa em ditadura militar.
Após a Revolução Republicana de 5 de outubro de 1910, tornou-se necessário elaborar uma
Constituição que estabelecesse os fundamentos do novo regime político.

A Assembleia Nacional Constituinte foi eleita num sufrágio em que só houve eleições em cerca
de metade dos círculos eleitorais. Não havendo mais candidatos do que lugares a preencher
em determinada circunscrição eleitoral, aqueles eram proclamados "eleitos" sem votação.

O sufrágio universal foi afastado, tendo votado apenas os cidadãos alfabetizados e os chefes
de família maiores de 21 anos.

Tratou-se de um sufrágio onde, pela primeira vez, se utilizou o método da representação pro-
porcional de Hondt na conversão dos votos em mandatos, embora apenas nas cidades de Lis-
boa e Porto.

Além da elaboração e aprovação da Constituição, concluída a 21 de agosto de 1911, a


Assembleia Constituinte discutiu e aprovou projetos de lei sobre os mais variados assuntos,
confirmou os poderes do governo provisório, acompanhou e fiscalizou a sua atuação, assu-
mindo assim poderes que a tornam no primeiro parlamento da República, protagonista principal
de um sistema de governo parlamentar.

Após a aprovação da Constituição, a Assembleia Nacional Constituinte elegeu o primeiro


Presidente da República, Manuel de Arriaga, por sufrágio secreto, e transformou-se no Con-
gresso da República, desdobrando-se na Câmara dos Deputados e no Senado, nos termos pre-
vistos nas disposições transitórias do texto constitucional de 1911.

Os 71 senadores foram assim eleitos de entre os deputados constituintes, maiores de


30 anos, num sistema de eleição por listas, de forma a procurar assegurar a representação de
todos os distritos. Os restantes 152 membros da Assembleia Constituinte constituíram a Câ-
mara dos Deputados.

Congresso eleito por sufrágio direto

O mandato desta duas Câmaras terminou com a eleição, em 1915, do Congresso da Re-
pública nos moldes previstos na Constituição.

No domínio da organização do poder político

Os principais princípios orientadores

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

• Princípio republicano (art. 1º)

Derrubada a monarquia, a adoção do regime republicano constitui uma sequência lógica.


A legitimidade monárquica de direito divino é assim substituída por uma legitimidade republi-
cana laica assente na soberania nacional.

• Princípio da soberania nacional (art. 5º)

O texto constitucional de 1911 reconhece também ele o princípio da soberania nacional,


embora a entidade ‘Nação’ seja cada vez menos entendida no sentido liberal burguês e cada
vez mais num sentido democrático. Sintomáticos da democratização do regime são o alarga-
mento do catálogo dos direitos fundamentais e a consagração do referendo, ainda que apenas
o de âmbito local.

• Princípio representativo

Apesar de não positivada de forma expressa, a opção por um regime representativo re-
sulta clara do primeiro texto constitucional republicano. A consagração do referendo local e
administrativo não desmente esta opção fundamental na medida em que não interfere com a
ação política.

• Princípio da separação de poderes (art. 6º)

O princípio da separação de poderes, enquanto princípio incontornável num Estado de


Direito, não poderia deixar de estar presente no texto da nova constituição — uma vez mais
numa versão mais flexível (razoável interdependência entre os poderes) que rígida (autonomia
acentuada entre os poderes).

O poder executivo é partilhado pelo presidente da República e pelos Ministros (art.


36º). Em relação ao primeiro, é curioso assinalar que durante os trabalhos da assembleia
constituinte se chegou a discutir se deveria ou não ser consagrada a figura do Presidente da
República. Apesar de se ter optado pela sua consagração, foi-lhe concedido um papel bastante
apagado. A sua eleição era indireta. Efetivamente, ele era eleito pelo Congresso — podendo
de igual modo ser por ele destituído através de resolução fundamentada e aprovada por 2/3
dos membros do Congresso ou por força de condenação por crime de responsabilidade (arts
38º, 1 e 46º). De acordo com o texto originário da Constituição não podia dissolver as câmaras
e não dispunha de poder de veto. Mais tarde, e por força da revisão de 1919-21, passou a po-
der, em certos casos, dissolver as câmaras legislativas. Em relação ao Ministério, determi-
nava-se que de entre os Ministros haveria um nomeado pelo Presidente da República que ocu-
paria o cargo de Presidente do Ministério, responsável não só pelos negócios da sua pasta,
mas também pelos de política geral (artº. 53º).

No domínio dos direitos fundamentais

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

A primeira Constituição da República marca o regresso aos princípios liberais de 1820-1822,


nomeadamente a consagração do sufrágio direto na eleição do parlamento, a soberania da Na-
ção e a separação e divisão tripartida dos poderes políticos.

A primeira constituição republicana possui um catálogo de direitos fundamentais ainda


muito marcado pelo individualismo liberal. Efetivamente, um número considerável dos direitos
fundamentais aí consagrados são ainda direitos de defesa do indivíduo contra o Estado. Ao
lado desta influência liberal, divisa-se também a presença do ideário republicano neste domí-
nio dos direitos fundamentais. Encontramos, por um lado, a consagração da proibição da pena
de morte, do direito de habeas corpus (pode ser requisitado por qualquer pessoa física que
sofrer (ou se achar na iminência de sofrer) violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e
vir em decorrência de ilegalidade ou abuso de poder), da liberdade de religião e culto. Por ou-
tro lado, é instituído um igualitarismo jurídico-político, com a consequente extinção dos títu-
los nobiliárquicos. É de assinalar a instituição de uma cláusula aberta ou de não tipicidade dos
direitos fundamentais, ou seja, admite-se a existência de direitos fundamentais fora da cons-
tituição.

Apesar do impulso humanista presente no ideário republicano, constata-se uma pre-


sença muito modesta dos direitos sociais (basicamente reduzidos à obrigatoriedade e à gra-
tuitidade do ensino primário elementar).

Artigo 3º (a lei é que determina o verdadeiro conteúdo dos direitos fundamentais,


não é a lei)

• 8 – Se uma lei tirar a liberdade a uma ordem religiosa (expropriações), essa lei
não seria inconstitucional, porque a Constituição autorizou.

• 13, 14

• 25 – Direito de propriedade, salvo as limitações estabelecidas.

A Constituição de 1911 afastou o sufrágio censitário, não tendo, no entanto, consagrado o su-
frágio universal, nem dado a capacidade eleitoral às mulheres, aos analfabetos e, em parte,
aos militares. Só em 1918, com o decreto nº 3997, durante a ditadura de Sidónio Pais, se alar-
gou o sufrágio a todos os cidadãos do sexo masculino maiores de 21 anos. Contudo, este alar-
gamento só duraria um ano, com a reposição do antigo regime de incapacidades regulamentado
por lei especial, para a qual remetia o articulado constitucional.

O Congresso da República tinha uma estrutura bicameral, sendo formado pela Câmara dos De-
putados e pelo Senado para as quais não se podia ser eleito com menos de 25 e 35 anos respe-
tivamente.

A iniciativa de lei pertencia indistintamente aos deputados ou senadores, ou ao governo ex-


ceto quanto a projetos de lei versando determinadas matérias, previstas no texto constituci-
onal, da competência exclusiva da Câmara dos Deputados (reserva de matéria).

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

O poder legislativo pertencia exclusivamente ao Parlamento, sem a possibilidade de veto por


parte do Presidente da República, sendo mesmo prevista uma forma de promulgação tácita no
caso de o Chefe de Estado não se pronunciar no prazo de 15 dias.

• À Câmara dos Deputados cabia a iniciativa de criação de impostos, a organização das


Forças Armadas, a revisão constitucional, etc. (art. 23º).

• Ao Senado cabia, entre outras coisas, a aprovação das propostas de nomeação dos go-
vernadores e comissários da República para as províncias do ultramar (art. 25º). O
Congresso reunia quatro meses por ano (art. 11º), embora a sessão pudesse ser prorro-
gada por vontade expressa das duas câmaras (em sessão conjunta). Para além das com-
petências legislativas, as câmaras dispunham ainda de outras funções. Entre elas, des-
tacam-se as funções eleitorais (eleição do Presidente da República secreto e por 2/3
das duas câmaras— art. 38º) e o controlo político do Ministério (arts 51º e ss).

O Congresso elegia o Presidente da República, podendo igualmente destituí-lo (através de re-


solução fundamentada e aprovada por 2/3 dos membros do Congresso ou por força de conde-
nação por crime de responsabilidade (arts 38º, 1 e 46º)), sem que o Presidente tivesse, na
versão original da Constituição, o direito de dissolver as duas câmaras (influência da Consti-
tuição da Suíça).

Sistema Parlamentar de Assembleia/ atípico por o Presidente não ter poder de dissolução,
nem de veto, e o Congresso ter poder de destituição.

Só mais tarde, com a revisão constitucional de 1919, foi atribuído ao Presidente da República
o poder de dissolução, condicionando-o à prévia audiência do Conselho Parlamentar.

O governo era politicamente responsável perante o Congresso, tendo a obrigação constitucio-


nal de assistir às suas sessões.

A legislatura, na Câmara dos Deputados, dura três anos e, no Senado, seis anos, devendo ha-
ver renovação de metade dos membros do Senado cada vez que se verificassem eleições ge-
rais para a Câmara dos Deputados

A sessão legislativa tinha a duração de quatro meses, prorrogáveis por deliberação do Con-
gresso.

Fiscalização da Constitucionalidade: artigo 63 – se ninguém disser nada o juiz não pode fa-
zer nada, tem de aplicar a lei que é inconstitucional

• Artigo 38 – decisão quanto ao PR – autoridade emanada do Congresso, logo não o pode


dissolver. A verdadeira legitimidade está no Congresso.

Sistema atual é misto; consagra elementos difusos e concentrados. Hoje, artigo 204 da
CRP.

Congresso com competências que até então tinham sido do executivo

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Artigo 26 – parágrafo 24: sancionar regulamentos do governo, coisa que nunca existiu na
nossa história.

- Parágrafo 16: suspensão das garantias sem limites

Os condicionalismos políticos resultantes da Revolução de 1910 levam a que o único partido


representado na Constituinte seja o Partido Republicano Português. Das diversas formações
políticas que deste irão emergir destaca-se o Partido Democrático, que viria a ser dominante
nos anos seguintes, embora outros como o Partido Evolucionista e o Partido Unionista tives-
sem uma consistência estatutária relevante.

O Partido Democrático é o vencedor sistemático das eleições para o Congresso da República


(com exceção das que se realizam em 1921) e assume uma presença dominante na administra-
ção do Estado, limitando o acesso ao poder de outras forças partidárias, a não ser em coliga-
ções efémeras. A dinâmica do sistema de governo é perturbada pela dificuldade do Partido
Democrático em estabelecer alianças amplas no Parlamento e satisfazer exigências sociais
prementes, resultantes da alteração da vida económica e social trazida pela participação de
Portugal na primeira Guerra Mundial. Vão-se gerando movimentos de contestação nas margens
do regime, onde começam a surgir apelos à regeneração nacional. Em 5 de Dezembro de 1917
triunfa uma revolta militar chefiada por Sidónio Pais, com o apoio do Partido Unionista, que
instaura uma ditadura militar.

Um Decreto de 1918 previa, em parte, a adoção de um sistema de governo presidencialista.


Constituiu-se o Partido Nacional Republicano (mais tarde designado por Nacionalista), vence-
dor das eleições ao Congresso em 1918, onde se manteve uma forte minoria de monárquicos e
católicos. Depois do assassinato de Sidónio Pais, em 1918, seguiu-se uma grave crise política
em que se defrontaram Republicanos e Monárquicos. O controle da situação pelos Republica-
nos só vem a dar-se em março de 1919, enfrentando graves problemas económicos e sociais a
nível nacional e internacional. A década de 20 é marcada por sucessivas alterações de go-
verno, rivalidades entre as alas esquerda e direita do Partido Democrático, o receio contra os
apoiantes do anarquismo e do bolchevismo, uma crescente simpatia do Exército pelas soluções
autoritárias. A ditadura viria a ser instaurada na sequência do movimento militar de 28 de
maio de 1926 que dissolveu o Parlamento.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Constituição de 1933 - Intervencionista

Conjuntura Histórica

A I República Portuguesa (1910-1926) revelara-se «um regime falhado1» na qual


se verificara uma preponderância do Partido Republicano. A década de 1920 era
delineada por sucessivas alterações de governo que confluíam num crescente marasmo
político. Para os apoiantes da República esta havia traído os seus desígnios. O
autoritarismo ganhava terreno. Ansiava-se uma resposta que estatuísse o país a nível
económico (a crise financeira com a entrada na Grande Guerra agravara-se) e político.
Na sociedade portuguesa o descontentamento revelava-se atroz, e para piorar, os
republicanos haviam demonstrado um laicismo profundo num território enraizado no
catolicismo. Neste cenário de fracasso, o golpe de Estado de 28 de maio de 1926 viria
a pôr termo à primeira experiência republicana em Portugal.
O golpe de Estado partira de Braga, vindo depois a descrição da «lenta marcha sobre
Lisboa»: o General Gomes da Costa entrava na capital comandando uma fração
significativa de tropas, sendo que, por essa altura havia estabelecido um triunvirato com
dois oficiais da Marinha – José Mendes Cabeçadas e Armando Ochoa – homens com uma
mentalidade mais democrática do que o primeiro «e muitos membros da elite republicana
viam-nos como os seus salvadores». O objetivo central da ditadura militar imposta era a
construção de um Estado capaz de governar com um poder executivo forte, para que a
Nação fosse capaz de se regenerar. Acontece que, «a amálgama e a heterogeneidade
que concorriam no golpe militar (…) depressa fizeram os seus efeitos», isto é, o
marasmo político que persistiu dentro das paredes da ditadura (19261933), entenda-se,
graças à participação de todas as correntes políticas e ideológicas na sublevação do
Exército. Os governos continuavam a suceder-se, Portugal continuava à espera de uma
solução. Gomes da Costa e Mendes Cabeçadas poucos meses depois de triunfarem no
golpe de 28 de maio eram afastados. Os militares republicanos democráticos
revoltavam-se, sendo vencidos devido «mais às hesitações e desconexão entre os
militares republicanos e democratas do Porto e de Lisboa do que à solidez e apoio
popular da ditadura militar» - o que sublinha que uma vez mais o republicanismo não se
autoconcretizava por não ter uma implantação sólida nem uniforme no país, e, para ferir
ainda mais a conjuntura, demonstrou-se «incapaz de democratizar o sistema político».
Em 1928 com o General Óscar Carmona como Presidente da República, a Constituição
republicana de 1911 era afastada, embora só ficasse sem efeito após a promulgação de

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

uma nova constituição. Passou-se a governar legislando através de decretos com força
de lei até abril de 1933 – período em que finda a Ditadura Militar.
Após Carmona ser eleito, António de Oliveira Salazar, professor de Coimbra com uma
educação de base clerical e que havia rejeitado o cargo para o qual o voltavam a
convidar, era investido de excecionais poderes ao tomar posse como ministro das
Finanças: tudo o que respeitasse a dinheiros públicos, a despesas ou receitas,
orçamentos dos ministérios, departamentos e organismos do Estado estavam dependentes
de si. Salazar representava uma secção de direita, integrando o Partido Católico,
representando um conservadorismo reservado e não militante, provido de uma amplitude
intelectual de que outras correntes careciam1– ora, este vulto era o quadro de
referência a que se aspirava, viabilizando a firmeza de um Estado. Porém, existia ainda
quem continuasse a ponderar que aquele seria um regime de transição (a ditadura
militar) para uma república reformulada e expurgada dos seus vícios. Todavia, o ministro
das Finanças passaria também a ser ministro interino das Colónias, o que deixava bem
«claro que seria um regime de rutura» com a I República. Autointitulando-se
antiparlamentar, antidemocrático, anti partidário e anti-liberal15, o Estado Novo surgia
(1933-1974) sucedendo à ditadura militar imposta em 1926.
Em 1931 criava-se o Conselho Político Nacional para formulação do plano constitucional
que viria a ser apresentado a 28 de maio de 1932 através da imprensa, encetando-se
um debate público: os liberais falam numa «Ditadura Constitucionalizada» e de uma
«Ditadura do Executivo» em que as liberdades eram então subjugadas por uma
organização corporativista da sociedade. Em 1933, Vicente de Freitas (apoiante do 28
de maio) oficializava a oposição liberal entregando um autêntico contraprojeto
constitucional - críticas que pesariam na redação final do novo texto constitucional.
Neste contexto crítico a nível nacional em que a oposição ao novo regime era suprimida e
internacional em que o legado deixado pela Grande Guerra era perigoso, o Estado Novo
português pretendia-se como uma alternativa ao capitalismo liberal ocidental e ao
socialismo. Revogando o direito às suas colónias no Ato Colonial, conciliava «a opinião
nacionalista portuguesa em torno de Salazar (…)20». «O Estado e a nação tinham, pois
de se reconciliar, de uma forma nunca antes conseguida desde (…) 1820/21» numa
Constituição delineada face às necessidades de um regime que tinha diante de si uma
Nação carenciada de um Estado, o qual havia sabido conquistar o apoio do Exército.
«Sob uma crise social aguda, os homens optaram pelo caminho mais fácil: transigiram na
liberdade em nome da ordem».

Constituição de 1933

Sistema representativo simples de chanceler, onde há uma concentração de poderes no


Chefe de Estado apesar de existir uma pluralidade de órgãos governativos, dependendo
quer a Assembleia Nacional quer o Governo (que ele nomeia livremente). E sistema de
Chanceler, porque o PR efetivamente não governa, está acompanhado de um Governo com
competência própria e não pode agir sem o Presidente do Conselho de Ministros, que

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

referenda quase todos os seus atos e perante o qual politicamente todos os Ministros
respondem.
No é um puro sistema de Chanceler porque os Ministros intervêm na função legislativa
(aprovando ou assinando os decretos-leis) e na função política (referendando atos do PR)

«A história constitucional portuguesa, assim como a da maioria dos países latinos, é feita de
ruturas», sendo que a Constituição de 1933 não seria exceção: a sua origem remonta ao golpe
de Estado de 28 de maio de 1926, como vimos, sendo que vem a encontrar o seu fim noutro
golpe de Estado, a revolução de 25 de Abril de 1974.
É característico o corporativismo como forma de organização social, política e económica
seria a essência desta Constituição, à «qual se ajustam elementos finalísticos por influência
do integralismo lusitano, da doutrina da Igreja, do socialismo catedrático e ainda da
Constituição de Weimar». Claramente, a Constituição de 1933 receberia influências fascistas
– todavia, o salazarismo seria um mundo à parte destes.
Para uma melhor interpretação desta Constituição aprovada em plebiscito (forma de
legitimação autoritária, condicionando a vontade popular), (sendo o voto obrigatório e
contando as abstenções como votos concordantes) a 19 março de 1933, temos de recorrer aos
fundamentos ideológicos do Estado Novo. Um regime que rejeitava as tendências políticas
dominantes no país desde 1820 e que fazia uma leitura do passado e do futuro de carácter
nacionalista, todavia «a mobilização constante da população como os Estados fascistas o
faziam era uma aberração para Salazar». Pretendia-se refletir na nova Constituição os corpos
sociais ativos: a família, a paróquia, o município e a corporação económica – demonstrando
como «a máquina política do século XIX não podia funcionar no século XX».

Direitos Fundamentais

O termo “direitos fundamentais” remete para algo inerente à própria noção de pessoa,
pois são direitos básicos de cada pessoa. São direitos essenciais do cidadão, os quais
dependem das circunstâncias de cada época e lugar. A expressão “direitos fundamentais” foi
introduzida na Constituição de Weimar.
Na Constituição de 1933 podemos seguir, no art.º 8.º, uma lista de direitos que se
referem essencialmente a direitos de liberdade e garantias, influenciados pelas anteriores
Constituições, mas também, e talvez com maior importância, pela já referida Constituição
Republicana de Weimar.
Inclui-se nesta constituição o termo “liberdades ‟, em acrescento aos direitos e garantias
“referidos em anteriores Constituições. A inclusão deste novo termo no art.º 8.º tem relação
direta com a liberdade de crenças e práticas religiosas, de expressão de pensamento, de
ensino e a de reunião e associação nele mencionada. Ao nível do regime, manteve-se também a
cláusula aberta dos direitos fundamentais, iniciada pela Constituição de 1911. Segundo o
professor, Marnoco e Sousa estes direitos remetem para direitos públicos individuais que se
dividem em políticos e não-políticos.
Os direitos básicos contidos no art.º 8.º, podem ser resumidos em direito à vida e à
integridade pessoal, ao bom nome e reputação, à integridade moral, de liberdade de crenças e

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

práticas religiosas, de expressão de pensamento, de ensino, de trabalho, de indústria, de


comércio, de reunião e de associação.
Algumas garantias do artigo 8.º são também adereçadas, das quais destacaremos o
ponto nº 11, que se refere a garantias de direito penal, onde se estabelece a não existência de
pena de morte, apenas “em caso de beligerância” com outro país. No ponto 8º está presente a
“garantia de não ser privado nem preso, exceto no previsto pela Constituição. Outras
garantias que se referem à segurança pessoal respeitam à inviolabilidade de domicílio e de
correspondência (nº 5). Fora do art.º 8.º existem garantias respeitantes, à função judicial
(art.º 117.º, art.º 121.º, art.º 124.º) e à propriedade (art.º 65.º e art.º 69.º).
Estabeleceremos agora algum foco, de forma exemplificativa, em direitos específicos.
Direitos como o direito de propriedade, de transmissão de bens em vida ou morte e ao não
confisco dos mesmos bens. Já nos direitos políticos, existe o direito de petição e de
representação para defesa do interesse geral. Será importante referir liberdades expressas
para além do art.º 8.º, como o direito dos pais à educação dos filhos.
Em relação aos Direitos sociais, podemos encontrar o direito ao trabalho, ou o direito
ao salário familiar. Dentro destes aspetos de ordem social podemos perceber que o Estado
não previa o associativismo político pois careceu de legislação complementar. Aqui verifica-se
uma inspiração na doutrina novecentista de Frédéric Le Play. Combinava-se o indivíduo como
membro familiar e como trabalhador de modo a “atender à sua inserção territorial”. Viragem
para uma conceção corporativa do Estado e da sociedade.
Na matéria de ordem económica institui-se a economia corporativa, uma cooperação
económica e de solidariedade entre os fatores que se relacionam com propriedade, capital e
trabalho. A Lei Fundamental em causa originou uma nova fase de Constitucionalismo
Português, precisamente, criando os Direitos Económicos, Sociais e Culturais.
Na matéria do ensino, está presente o dever de frequentar e fazer frequentar o ensino
básico, onde “o ensino ministrado pelo Estado é independente de qualquer culto religioso, não
o devendo, porém, hostilizar”.
No plano das relações entre Estado e religião, restabeleceu-se a normalidade, segundo
um regime de “separação cooperativa”, “separação em relação à Igreja Católica e a qualquer
outra religião ou culto praticado dentro do território português”. Gouveia Bacelar afirma que
não existe uma sistematização de uma religião oficial.
Outro ponto que a Constituição trata são os deveres fundamentais, dos quais será
necessário fazer uma distinção entre preceitos limitativos da autoridade jurídica dos
cidadãos e preceitos que os subordinam a deveres. Em relação ao primeiro, de destacar o
art.º 5.º, § 2º, que proíbe qualquer privilégio e discriminação de nascimento, de raça, sexo,
religião e condição social. Já no segundo, de destacar o dever da imprensa de inserir, em
assuntos de interesse nacional, as notas oficiosas enviadas pelo governo (art.º 21.º), e por fim,
o art. 54º onde se estabelece a obrigação de serviço militar.
Estavam já previstos pela Constituição limites destes direitos fundamentais, mas o
mais importante de referir é a Cláusula Constitucional e limitação legal das liberdades
públicas. Esta disposição estabelecia que” Leis especiais regularão o exercício da liberdade de
expressão, do pensamento, de ensino, de reunião e de associação, devendo, quanto à primeira,

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

impedir preventiva ou repressivamente a perversão da opinião pública na sua função de força


social [...]”.
Aqui percebemos que muito do que atrás foi estabelecido acaba por alterar o sentido do
texto e o seu objetivo final.
Neste sentido há que analisar o tom “democrático” dos direitos, garantias e liberdades
dos cidadãos (art.º 8.º), os quais nunca foram formalmente proibidos, mas, do mesmo modo,
não se fizeram acompanhar das correspondentes e essenciais normas de regulamentação,
acabando por ficar prejudicados a nível do efeito prático. Ora, este é um elemento que
caracteriza o Estado Novo enquanto regime autoritário. Não proíbe. Condiciona. Algo que é
oposto aos ideais de regimes totalitários, onde a proibição se justifica em função do objetivo
final do Estado. Jorge Miranda, no respeitante ao Estado Novo, fala de um “[...] carácter
autoritário que não se converteu totalitário, em virtude da limitação da soberania pela moral
e pelo direito”.

Poderes de Estado

Após a revolução de 28 de maio de 1926 as forças armadas assumiram o governo,


concentrando em si todos os poderes, incluindo os de Chefe de Estado e do Parlamento. O
Congresso foi dissolvido e a constituição de 1911 deixou de vigorar sendo publicadas diversas
leis, havendo quem defenda que continuou a vigorar. O governo passou a legislar sendo o
Presidente eleito por sufrágio direto.
A Constituição assenta no princípio de que a soberania reside na Nação (art.º 71.º), e
tem como órgãos o Chefe de Estado, a Assembleia Nacional, o Governo e os Tribunais.

O Presidente da República é eleito pela nação e pode ter maior ou menor intervenção
nos órgãos públicos, mas essa intervenção é por vezes exercida por intermédio do Presidente
do Conselho, Chefe do Governo ou alguém da sua confiança para a orientação da política
interna e externa.
O tomo de posse realiza-se no dia em que termina o mandato anterior.
O Presidente eleito tomará posse dentro dos trinta dias seguintes ao da sua
proclamação. O Presidente da República tem como competência nomear o Presidente do
Conselho e demiti-lo (artigo 81.º) por livre decisão da sua vontade e sem necessidade de
referendo (artigo 82.º) A ligação entre o Governo e o Chefe do estado estabelece-se através
do Presidente do Conselho, o qual deve entregar-lhe todas as informações necessárias e dele
receber as indicações convenientes.
O Presidente da República pode sempre mandar reunir o Concelho de Ministros para
recolher diretamente as informações necessárias. Compete ainda ao Presidente da República
indultar/atenuar e comutar penas (art.º 81.º) o que permite de certo modo corrigir as
sentenças proferidas em matéria criminal pelos tribunais. A comutação consiste em mudar
uma pena mais grave para menos grave.

Para assistir e aconselhar o chefe do estado no exercício das suas atribuições, criou-se
o Conselho de Estado, este é constituído por cinco membros natos e dez conselheiros

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

vitalícios. Os membros natos são os Presidentes do Conselho da Assembleia Nacional, da


Câmara Corporativa e do Tribunal de Justiça e o Procurador-Geral da República. Os
conselheiros vitalícios são homens públicos de superior competência, nomeados pelo Chefe do
Governo.

A Assembleia Nacional é composta por noventa deputados, eleitos por sufrágio direto
para um mandato de quatro anos. As competências da Assembleia Nacional assumiam-se
bastante vastas, mais no foro legislativo do que da fiscalização política, embora com uma
funcionalização limitada a sessões com duração anual de três meses inadiáveis. Compete à
Assembleia Nacional fazer leis, interpretá-las, suspendê-las, revogá-las e ter conhecimento
das contas de cada ano económico, as quais serão apresentadas como relatório no Tribunal de
Contas.
É da competência da Assembleia Nacional autorizar o Governo a cobrar as receitas e a pagar
as despesas públicas.

Não fazendo parte do órgão de soberania, não configura uma situação bicameralista, a
Câmara Corporativa apenas possui competências consultivas. É composto pelas autarquias
locais que detêm funções sociais, administrativos, culturais e morais. As vagas na Câmara
Corporativa são preenchidas pela forma como forem designados os subsídios (artigo102.º).
Compete à Câmara Corporativa relatar e dar parecer por escrito sobre todas as propostas ou
projetos de lei que forem presentes à Assembleia Nacional antes de ser, nesta, iniciada a
discussão (art.º103º).

O Governo é constituído pelo Presidente do Conselho e pelos Ministros, além do


Subsecretário do Estado. Competia ao Governo elaborar os decretos, regulamentos e
instruções para uma boa execução das leis, que só entravam em vigor através da autorização
da Assembleia Nacional (artigo 108.º). O Presidente do Conselho responde perante o
Presidente da República pela política geral do Governo, coordena e dirige a atividade de todos
os Ministros, que perante ele respondem politicamente pelos seus atos (artigo 107.º).

Os tribunais desempenhavam a função judicial, organizada por tribunais ordinários e


por tribunais especiais.
Os tribunais ordinários são: o Supremo Tribunal de Justiça, os tribunais de segunda instância
nos distritos judiciais do continente, ilhas adjacentes e das colónias.

Revisões:

1945: abertura à participação política de organismos corporativos


1959: chefe de estado passa a ser eleito por sufrágio indireto em colégio eleitoral restrito
1971: reconhecimento da religião católica

Ato Colonial:

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

O ato colonial vem proclamar para o país uma função histórica essencial de possuir,
civilizar e colonizar territórios ultramarinos (art.º 2.º). Os outros estados não podem adquirir
nenhuma porção dele, salvo para estabelecimento da representação consular. Este processo
define assim o quadro jurídico-institucional de uma política para os territórios sob o domínio
português. O ato colonial e a carta orgânica do império colonial português reforçaram os
princípios legais estabelecidos em 1926, estes documentos foram pensados como sendo uma
espécie de constituição para os territórios além-mar e tinham como característica principal o
ultranacionalismo. Foi através desses diplomas que os territórios ultramarinos passaram a ser
considerados integrantes dos “impérios coloniais”, cuja administração deveria estar
centralizada pelo governo de Lisboa. De acordo com o ato colonial, a metrópole e as colónias
formariam uma “comunidade e solidariedade natural” nas suas relações económicas.
Apesar do artigo 26º do Ato Colonial, assegurar que as colónias possuíam
descentralização administrativa e autonomia financeira, na prática a autonomia financeira foi
extinta e o orçamento geral passou a depender da aprovação do Ministro das Colónias,
segundo o princípio do equilíbrio de contas. O Estado garante a produção e defesa dos
indígenas das colónias, conforme os princípios de humanidade e soberania. As autoridades
coloniais impedirão e castigarão conforme a lei todos os abusos contra a pessoa e bens dos
indígenas. Estas medidas tinham por intuito silenciar assim as reivindicações internacionais
sobre os abusos do trabalho nativo.
A constituição de 1933 veio, assim, a instaurar em Portugal uma Ditadura Militar que
ficou conhecida como Estado Novo, ou seja, um regime político autoritário em que está
assente a ideia de ordem baseada no tradicionalismo, no antiparlamentarismo, cuja base
seriam os municípios regionais.

Conclusão

A Constituição de 1933 incorpora um pensamento autoritário que veio a emergir desde


a imposição da Ditadura Militar de 1926 até à edificação do Estado Novo, que encontra os
seus alicerces neste texto constitucional. O contexto histórico em que surge a Constituição é
assinalado como um momento atribulado em que o Estado e a Nação precisavam urgentemente
de encontrar um equilíbrio entre si – falemos então na descrença de grupos sociais face a um
governo instável que havia deixado a I República comprometida. A via que assegurava a
organização da esfera pública pareceria então ganhar terreno em prol da configuração de um
Estado forte que tratasse de uma Nação fragilizada pelas causas que viemos a analisar. Mas
mais importante ainda, a Constituição de 1933 inaugurava um novo mundo dentro da história
portuguesa, e, no teatro da Constituição teríamos, então, o palco do poder.
Esta Constituição continha uma complexidade equilibrada entre os seus artigos, o foco
deverá apontar que, de facto, muita da velha ordem liberal sobrevivia neste texto, estando
«apenso o Ato Colonial». Não podemos perder de vista que a versão final revela uma influência
dos persistentes republicanos conservadores, que desejavam preservar «tanto quanto
possível a velha ordem republicana e deter a direita radical». Estamos diante do instrumento
da vontade de Salazar, que instaurava um poder autocrático do Presidente do Conselho de

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Ministros «e, apesar de haver muitas garantias de direitos civis e políticos, todas elas
estavam sujeitas a uma série de restrições» exploradas pelo poder executivo. A cada
cedência que se permitia existia sempre uma condição que a subvertia, e, portanto, seria um
texto em constante mutação.
A Constituição de 1933 seria um documento incontornável na perspetiva daquilo que
viria a forjar a orgânica do Estado Novo, um regime que se ergue com o intuito de um Estado
forte, acompanhando o cenário da época da emergência dos autoritarismos. Um regime que
prevalece num período onde as soluções eram escassas, e que só é desmantelado não após a
morte da principal figura, mas sim, quatro anos depois. O que por si só demonstra a quase
exclusiva força política que um regime autoritário tinha. O Estado Novo foi uma solução que
rapidamente passou a problema, um problema com quarenta anos de idade e que teve um fim
que nada teve de inesperado.

Em aula:

Artigo 122º – controlo da fiscalidade dos diplomas, por todos os tribunais- redação
própria do atual 204º. Há uma limitação: inconstitucionalidade orgânica – aquela por violação
de normas de competência – um órgão exerce uma competência que não é sua. Se o governo
legislasse quando não podia os tribunais não podiam ver isso.

Tribunais superiores controlavam os inferiores. Este controlo judicial a própria


declaração declarava - artigo 119º - lei pode responsabilizar livremente um juiz.

Artigo 116º - não se podem criar tribunais especiais (quando há um crime cometido pela
oposição o governo quer punição e cria um tribunal especial para essa mesma finalidade) salvo
contra a segurança do Estado (a ditadura).

Tribunal Plenário: juiz era a pessoa que o governo tivesse determinado

Controlo do exercício dos direitos fundamentais (perigosos para a própria ditadura) –


artigo 8º
Leis especiais vão regular o exercício das liberdades.

Todos os estados totalitários têm um caráter controlador – não é só a força, é preciso


formatar as pessoas pela mente desde cedo (Platão/Rousseau).

Estado novo autoritário ao invés de totalitário – artigo 4º. Um estado totalitário na


prática não aceita subordinação, nem sequer a deus, e ausência total de liberdades, não
permite qualquer esfera de liberdade pessoal. O autoritarismo permite que as pessoas, na
esfera privada, resolvam a sua vida, não permite é serem contra o Estado.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Artigo 122 – inconstitucionalidade orgânica e formal não podia ser controlada pelos
juízes, só pela AR
Inconstitucionalidade formal – violação de regras procedimentais ou de forma (quando
uma lei afeta os trabalhadores os sindicatos têm de ser ouvidos. Quando não é ouvido a lei
pode cair.
Inconstitucionalidade orgânica – violação de normas de competência, das competências
dos órgãos.
Inconstitucionalidade material- violação de normas substantivas da constituição
(violação de direitos fundamentais, violação de princípios fundamenais como a dignidade da
pessoa humana, igualdade…)

Outra forma de controlo dos juízes (artigo 218º - juízes inamovíveis, como forma e os
pressionar). Supremo Tribunal nomeado pelo Ministro da Justiça, e o primeiro controla os
outros.
Tribunal especial – juiz nomeado pelo Governo para julgar casos que atentassem contra a
segurança do estado. A sentença já estava pré-determinada. E assim o governo controlava
todo o poder judicial.
Se a lei deixasse os diretos fundamentais intactos era inconstitucional.

Preponderância do poder executivo: causas


Económica – em comum com a de 1976. É uma constituição programática. Repleta de
normas de intervenção do Estado sobre a economia. O objetivo, de ambas, é criar um
Estado de bem-estar. Salazar considerava que era melhor aumentar a carga fiscal com
o fim de ajudar as pessoas. É preciso um executivo forte e ágil.

Parte política do Governo


Criação de um eixo entre o chefe de estado e chefe de governo. Sistema político
liderado por esse eixo, com preponderância do ditador. Parlamento totalmente minimizado,
perdendo toda a sua importância.
Salazar não tinha a certeza se não passaria a Presidente da República, o que acabou por
não acontecer. A constituição deu amplos poderes aos dois para o ditador conseguir controlar
o regime, independentemente da posição onde estivesse.

Em relação ao PR
Eleição presidencial direta – artigo 77 – mandato longo para não estar dependente de
ninguém.
Controlava a AR, tal como acontece hoje – artigo 81/6 – poder de dissolução e
adiamento (hoje já não) – artigo 81/5.
Artigo 81/1 e artigo 106. Poder absoluto do PR para escolher o seu Governo.
• Presida as reuniões do Conselho de Ministros, e não o presidente do mesmo.

Quanto ao Presidente do Conselho de Ministros:


Assembleia nunca pode afastar o Governo.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Governo da exclusiva confiança do Presidente – artigo 111.


Um governo legislador (decretos ditatoriais) – artigo 108/2 – formas de poder
governar.
Quando a assembleia estava reunida o governo apresentava um diploma para
autorização. Parágrafo 3.
• Governo legislava quando não podia- inconstitucionalidade orgânica.
• A partir de 1945 já não há cláusula de urgência, o governo passa a poder, oficialmente,
decretar decretos-leis.
Atualmente, leis e decretos leis têm igual valor.

Salazar instituiu uma competência, do Governo sobre o PR, referenda ministerial, a fim de
garantir a centralidade do governo.

Controlo Governo sobre a Assembleia Nacional:


• Estado sem partidos, só união nacional, só podia apresentar lista os deputados da união,
escolhidos pessoalmente Salazar.
No artigo 89º, parágrafos 1 e 2 – responsabilidade e possibilidade de retirada do
mandato

Hoje quem escolhe os deputados?


O líder do partido, que forma a lista. Quando conseguir maioria absoluta, os deputados
sabem que devem o seu lugar ao PM, quando se comportam de maneira desconforme alvo
igualmente de “sanção” – confeção das listas partidárias.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Constituição de 1976
I. A REVOLUÇÃO DE 1974 E A CONSTITUIÇÃO
O processo que havia de conduzir à Constituição de 1976 partiu da ideia de direito invocada
pela revolução de 25 de Abril de 1974.
Com efeito, das proclamações difundidas no próprio dia 25 de Abril de 1974 e do programado
movimento revolucionário, o "Movimento das Forças Armadas" logo constou o anúncio público
da convocação, no prazo de doze meses, de uma Assembleia Nacional Constituinte, a eleger
por sufrágio universal, direto e secreto, e se estabeleceu que uma vez eleitos pela Nação a
Assembleia Legislativa e o novo presidente da República "a ação das Forças Armadas seria
restringida à sua missão específica de defesa da soberania nacional".
De harmonia com a ortodoxia constitucional democrática, o Movimento das Forças Armadas
propunha–se a devolver o poder ao povo num prazo relativamente curto; e nisto se distinguia
de quase todas as revoluções militares do nosso tempo. Deveria ser o povo, através da eleição
dos deputados à Assembleia Constituinte, a determinar o sistema político e económico–social
em que desejaria viver – porque "a vontade do povo é o fundamento da autoridade dos pode-
res públicos e deve exprimir–se através de eleições honestas a realizar periodicamente por
sufrágio universal e igual, com voto secreto..." (artigo 21, no. 3, da Declaração Universal dos
Direitos do Homem, também invocada logo na noite a seguir à revolução).
Mas o processo que se desenrolaria até à Constituição —e que duraria dois anos— viria a ser
marcado por uma turbulência sem precedentes na história portuguesa, derivada de condicio-
nalismos de vária ordem (descompressão política e social imediatamente após a queda dum re-
gime autoritário de 48 anos, descolonização dos territórios africanos feita em 15 meses após
ter sido retarda da 15 anos, luta pelo poder logo desencadeada) e traduzida, a partir de certa
altura, num conflito de legitimidades e de projetos de revolução.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Dessas circunstâncias resultariam uma Constituição elaborada muito sobre o acontecimento,


simultaneamente sofrendo o seu influxo e reagindo e agindo sobre o ambiente político e so-
cial; o confronto ideológico em que a Assembleia Constituinte se moveu; e a índole de compro-
misso —de "compromisso histórico"— do texto votado, indispensável em face do pluralismo
partidário surgido e projetado numa Assembleia Constituinte, em que nenhum partido tinha
maioria absoluta.
II. CARÁCTER GERAL E SISTEMA DA CONSTITUIÇÃO
Portugal havia conhecido até 1974–1976 dois grandes períodos na sua história constitucional:
de 1820 a 1926, o período liberal, com as Constituições de 1822, 1826 e 1838 (em monarquia),
e de 1911 (após a proclamação da república); e o período autoritário, de 1926 a 1974, com a
Constituição de 1933.
A Constituição de 1976 é a mais vasta e a mais complexa que todas as Constituições anterio-
res – por receber os efeitos do denso e heterogéneo processo político do tempo da sua for-
mação, por aglutinar contributos de partidos e forças sociais em luta, por beber em diversas
internacionais ideológicas e por refletir a experiência político–constitucional do país.
Ela tem como grandes fundamentos a democracia representativa e a liberdade política. Admi-
tia, no entanto, no texto inicial, a subsistência até à primeira revisão constitucional de um ór-
gão de soberania composto por militares, o Conselho da Revolução. Por outro lado, consigna os
resultados de certas decisões económicas que (de direito ou de facto) se efetuaram nos dois
anos de revolução e aponta para um objetivo de transformação social a atingir, a que deu o
nome de "transição para o socialismo" e, depois de 1989, "democracia económica, social e cul-
tural".
É uma Constituição–garantia e, simultaneamente, uma Constituição prospetiva. Tendo em
conta o regime autoritário derrubado em 1974 e o que foram ou poderiam ter sido os desvios
de 1975, é uma Constituição muito preocupada com os direitos fundamentais dos cidadãos e
dos trabalhadores e com a divisão do poder. Mas, surgida em ambiente de repulsado passado
próximo e em que tudo parecia possível, procura vivificar e enriquecer o conteúdo da demo-
cracia, multiplicando as manifestações de igualdade efetiva, participação, intervenção, sociali-
zação, numa visão ampla e não sem alguns ingredientes de utopia.
A sistematização de um texto constitucional (como a de qualquer texto legal) não se reduz a
mera questão técnica. É, sobretudo, questão de ordem política e axiológica. E, em face da sis-
tematização adotada em 1976, torna–se incontestável a opção pelo pensamento constituciona-
lista, liberal e democrático, em contraste com as conceções marxistas: os direitos fundamen-
tais vêm antes da organização económica.
O elemento subjetivo afirma–se na parte I: a pessoa perante a sociedade e o Estado, o pri-
mado dos direitos da pessoa na ordem constitucional.
Para além da influência de diversas correntes ideológicas, a comparação permite descobrir
afinidades com Constituições diversas de países estrangeiros. As regras gerais sobre direi-
tos, liberdades e garantias em parte reproduzem as que constam da Constituição de Bona.
São as Constituições da Itália e alemã, ambas do pós-guerra e dos pós–fascismo, que mais se
aproximam da nossa na enumeração dos direitos, liberdades e garantias.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Contudo, nos direitos económicos, sociais e culturais torna–se palpável alguma parecença com
Constituições de influência marxista.
A nacionalização de empresas nos sectores básicos da economia, sem ser inédita em Consti-
tuições próprias do Estado social de direito, está revestida de uma acentuação anticapitalista
aí desconhecida.
A institucionalização dos partidos tem paralelo nas Constituições italiana, alemã e francesa,
entre outras.
A conceção do presidente da República e das relações entre governo e parlamento vem dos
países de parlamentarismo racionalizado e de semipresidencialismo.
A subsistência do Conselho da Revolução aparenta–se ao papel das Forças Armadas na Turquia
nos primeiros anos de vigência da Constituição de 1961.
A Comissão Constitucional tem algo de similar aos tribunais constitucionais e ao Conselho
Constitucional francês. O provedor de justiça equivale ao ombudsman nórdico. As autonomias
regionais estão na esteira da Constituição italiana. As organizações populares de base corres-
pondem grosso modo às organizações sociais de Leste e às instituições sociais de base da Re-
volução peruana de 1968. A fiscalização da inconstitucionalidade por omissão terá certa afini-
dade como artigo 377 da Constituição jugoslava.
Não pouco abundantes, muito naturalmente, se bem que menos fortes no plano das opções de
fundo, são os traços das Constituições portuguesas anteriores que perduram. A Constituição
de 1976 restaura a legalidade democrática, reafirma a democracia política (liberal, plura-
lista), reabre o Parlamento, mas não repõe a ordem liberal individualista; o seu intervencio-
nismo social e económico, mesmo se de rumo oposto, só pode cotejar–se como da Constituição
de 1933; e não faltam os institutos que ou vindos de longe ou vindos de 1933 são recebidos ou
consagrados.
Mas a Constituição de 1976 ostenta algumas marcas de originalidade (ou de relativa originali-
dade):
— Não só no dualismo de liberdades e garantias e de direitos económicos, sociais e culturais,
mas também no enlace entre eles, operado, designadamente, pelo artigo 17.
— Na constitucionalização de novos direitos e da vinculação das entidades privadas pelos di-
reitos, liberdades e garantias.
— Na receção formal da Declaração Universal dos direitos do Homem enquanto critério de
interpretação e integração das normas sobre direitos fundamentais.
— Não só na proclamação do direito ao ambiente, mas também na atribuição ao cidadão amea-
çado ou lesado da faculdade de pedir a cessação das causas de violação e a respetiva indemni-
zação.
— No desenvolvimento emprestado à matéria da comunicação social e na constitucionalização
dos direitos dos jornalistas.
— Na proibição do lock–out.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

— No apelo à participação dos cidadãos, associações e grupos diversos nos procedimentos le-
gislativos e administrativos; ou seja, à democracia participativa.
— No tratamento sistemático prestado às eleições, aos partidos, aos grupos parlamentares e
ao direito de oposição.
— Na redobrada preocupação comos mecanismos de controlo recíproco dos órgãos de poder e
na constitucionalização do ombudsman (o provedor de Justiça).
— Na coexistência de semipresidencialismo a nível de Estado, sistema de governo parlamen-
tar a nível de regiões autónomas e sistema diretorial a nível de municípios.
— No sistema de fiscalização da constitucionalidade, com as quatro vias referidas, e no ca-
rácter misto de fiscalização concreta, com competência de decisão de todos os tribunais e
recurso, possível ou necessário, para a Comissão Constitucional, primeiro, e depois para o Tri-
bunal Constitucional.
— Na extensão da norma definidora de limites materiais de revisão constitucional.
Os constituintes pretenderam ainda construir uma organização económica muito original, con-
jugando o princípio da apropriação coletiva dos principais meios de produção, um socialismo
autogestionário e a iniciativa privada. A realidade do país, as revisões constitucionais e a inte-
gração comunitária viriam mostrar que só poderia subsistir-se entendida como economia mista
ou pluralista, algo diferente, mas não oposta ao modelo de Estado social europeu.

IV. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS


As notas básicas do tratamento dos direitos fundamentais na Constituição são as seguintes:
a) A prioridade dentro do sistema constitucional e o desenvolvimento da regulamentação, com
princípios gerais comuns às grandes categorias de direitos previstos.
b) A extensão do elenco, sem se excluírem outros direitos provenientes de convenção inter-
nacional ou de lei.
c) A perspetiva universalista, exibida no princípio da equiparação de portugueses e estrangei-
ros, nas garantias da extradição e da expulsão, na previsão do estatuto do refugiado político
e, após 1982, no respeito dos direitos do homem como princípio geral das relações internacio-
nais.
d) A preocupação tanto de enumerar os direitos quanto de definir o seu conteúdo e fixar as
suas garantias e as suas condições de efetivação.
e) A contraposição entre direitos, liberdades e garantias e direitos económicos, sociais e cul-
turais, com colocação em títulos separados.
f) A previsão entre os direitos, liberdades e garantias não só dos direitos clássicos, mas tam-
bém de direitos novos, como as garantias relativas à informática, o direito de antena e a
objeção de consciência.
g) A colocação da propriedade, não já a par das liberdades, mas sim dentre os direitos econó-
micos, sociais e culturais.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

h) A inserção da iniciativa económica privada, até 1982, na parte II, relativa à organização
económica e, a partir de 1982, no título de direitos económicos, sociais e culturais; e o apoio
dado à iniciativa cooperativa.
i) O aparecimento como direitos fundamentais de direitos dos trabalhadores e das suas orga-
nizações.
V. O SISTEMA DE GOVERNO
O sistema de governo de 1976 foi moldado com a preocupação maior de evitar os vícios inver-
sos do parlamentarismo de assembleia da Constituição de 1911 e da concentração de poder da
Constituição de 1933, e tendo como pano de fundo a situação institucional pós-revolucionária.
O ponto mais delicado dizia respeito ao lugar do presidente da República, às suas competên-
cias e ao seu modo de eleição. Ele não devia ser um presidente meramente representativo,
nem um Chefe de Estado equivalente ao do regime autoritário, nem tão pouco (o que contrari-
aria a tradição constitucional portuguesa) um presidente chefe do Poder Executivo. Mas
tanto poderia ser um presidente arbitral, embora com capacidade de intervenção efetiva, no
âmbito de um parlamentarismo racionalizado, como um presidente mais forte, regulador do
sistema político, de tipo semipresidencial.
Optou–se pela segunda alternativa, desde logo, pela necessidade de compensar ou equilibrar o
Conselho da Revolução, que iria subsistir durante alguns anos. E ainda por mais duas razões:
pela dificuldade de instauração de um governo parlamentar após 50 anos sem Parlamento de-
mocrático e pela prefiguração de um modelo misto pela lei constitucional provisória de 1974
(com presidente da República, governo e um Conselho de Estado, que fazia as vezes de assem-
bleia).
Acrescia o modo de eleição, que não podia deixar de ser a eleição por sufrágio direto e uni-
versal e por maioria absoluta. A sua reivindicação fazia parte desde 1958–1959 do património
das reivindicações democráticas em Portugal. Só ela daria ao presidente da República sufici-
ente legitimidade para presidir ao Conselho da Revolução e, se fosse caso disso, para se lhe
impor. Ela serviria de contraponto de unidade em face da eventual dispersão parlamentar re-
sultante do princípio da representação proporcional – decorrente este, por seu turno, de uma
exigência de garantia do pluralismo e de integração numa sociedade tão dividida como se
apresentava a portuguesa.
Sobre tudo isto formara–se um consenso difuso na Assembleia Constituinte, nos principais
partidos e na opinião pública nos últimos meses de 1975 e nos primeiros de 1976. E estas ori-
entações viriam a ser consagradas no texto constitucional.
Os aspetos fundamentais a considerar eram estes:
a) Órgãos políticos de soberania – presidente da República, Conselho da Revolução, Assem-
bleia da República, Governo e Tribunais.
b) Atribuição ao presidente da República, também presidente do Conselho da Revolução, so-
bretudo de poderes relativos à constituição e ao funcionamento de outros órgãos do Estado e
das regiões autónomas, do poder de promulgação e veto e do poder de declaração do estado
de sítio ou do estado de emergência sob consulta do Conselho de Revolução.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

c) Condicionamento dos principais atos do presidente da República pelo Conselho da Revolu-


ção.
d) Sujeição a referenda ministerial apenas de certos atos do presidente da República.
e) Atribuição à Assembleia da República, parlamento unicameral, sobretudo do primado da
função legislativa e de funções de fiscalização do Governo e da Administração pública.
f) Consideração do Governo como o órgão de condução da política geral do país, sendo o Con-
selho de Ministros presidido pelo presidente da República apenas a solicitação do Primeiro–
Ministro.
g) Eleição direta do presidente da República, com candidatos propostos por grupos de cida-
dãos e em data nunca coincidente com a da eleição dos Deputados.
h) Exigência de maioria absoluta para a eleição do presidente da República.
i) Eleição dos Deputados à Assembleia da República segundo o sistema proporcional e o mé-
todo de Hondt e com candidaturas reservadas aos partidos.
j) Duração diferenciada do mandato presidencial – cinco anos – e da legislatura – quatro anos
e inelegibilidade do presidente para terceiro mandato consecutivo e durante o quinquénio sub-
sequente a segundo mandato consecutivo.
l) Incompatibilidade das funções de deputado e de membro do governo.
m) Sujeição da Assembleia da República a dissolução pelo presidente da República, verifica-
dos certos requisitos, designadamente parecer favorável do Conselho da Revolução.
n) Formação do governo por ato do presidente da República "tendo em conta os resultados
eleitorais", seguido da apreciação do seu programa pela Assembleia da República.
o) Responsabilidade política do Governo perante ambos os órgãos (PR e Assembleia da Repú-
blica), não sendo, porém, necessária a confiança positivamente afirmada (pelo menos, da As-
sembleia) para que ele subsistisse, e bastando a não desconfiança explícita, exceto quando
fosse o próprio Governo a pedir um voto de confiança.
p) Proibição de dissolução da Assembleia da República por efeito de rejeição do programa do
Governo, salvo no caso de três rejeições consecutivas (artigo 198, no. 2) e, em contrapartida,
dissolução obrigatória quando a Assembleia houvesse recusado a confiança ou votado a cen-
sura ao governo, determinando por qualquer destes motivos a terceira substituição do go-
verno.
Vale a pena fazer uma comparação com a V República francesa.
Entre as semelhanças contavam–se a conceção do presidente como órgão dinamizador das ins-
tituições e a do governo como órgão de condução da política geral do país, o poder de dissolu-
ção do Parlamento, a tipicidade dos atos sujeitos a referenda e a eleição presidencial direta.
As diferenças apresentavam–se, porém, mais significativas:
a) Em Portugal, o governo respondia tanto perante o presidente como perante o parlamento e
o primeiro–ministro podia ser demitido pelo presidente; não em França, juridicamente (mas
politicamente sim, salvo em período de "coabitação").

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

b) Em França, o presidente preside ao Conselho de Ministros e nomeia os funcionários civis e


militares; em Portugal só podia e pode presidir ao Conselho de Ministros a pedido do pri-
meiro–ministro (o que assegura uma mais completa separação entre os dois órgãos).
c) Em França, o presidente tem poder de decisão de referendo e pode tomar medidas extra-
ordinárias em estado de necessidade; não em Portugal.
d) Em Portugal, existia um órgão de condicionamento do presidente da República; não em
França.
e) Em França, o mandato presidencial era (em 1976) de sete anos e admite–se a reeleição in-
definida; em Portugal era e é de cinco anos e com limites à reeleição.
A diversidade não impedia a qualificação do sistema português como semipresidencial, tendo
em conta o conhecido carácter heterogéneo destes sistemas.
VI. AS REGIÕES AUTÓNOMAS E O PODER LOCAL
Um dos aspetos mais inovadores e interessantes da Constituição de 1976 encontra–se na con-
sideração da democracia como democracia descentralizada, particularmente no âmbito da
descentralização territorial.
Com efeito, ela proclama, entre os "princípios fundamentais", o da autonomia das autarquias
locais e o da descentralização democrática da administração pública e erige os Açores e a
Madeira em "regiões autónomas dotadas de estatutos político–administrativos próprios"; in-
clui a autonomia das autarquias locais e a autonomia político–administrativa dos Açores e da
Madeira entre os limites materiais da revisão constitucional; salienta como um dos fins da au-
tonomia destas regiões "a participação democrática dos cidadãos"; e declara que "a organiza-
ção democrática do Estado compreende a existência de autarquias locais").
O Estado Português continua unitário, sem embargo de ser também descentralizado – ou seja,
capaz de distribuir funções e poderes de autoridade por comunidades, outras entidades e
centros de interesses existentes no seu seio. Descentralizado na tríplice dimensão do regime
político–administrativo dos Açores e da Madeira, do poder local ou sistema de municípios com
outras autarquias de grau superior e inferior e ainda de todas aquelas medidas que possam
caber na "descentralização democrática da administração pública".
Não se adotou uma regionalização política integral do país. Um regime político–administrativo
só se entendeu justificado para os Açores e para a Madeira, em face dos condicionalismos ge-
ográficos, económicos e sociais e das "históricas aspirações autonomistas das populações in-
sulares". No Continente previu–se apenas a criação de regiões administrativas – previu–se a
criação, mas não se criaram desde logo, ao contrário do que sucedeu com as regiões autóno-
mas.
Mas todos os elementos característicos do Estado regional estão presentes na Constituição.
As regiões autónomas, como entidades políticas que são, gozam de extensos poderes e direi-
tos, uns definidores do âmbito essencial da autonomia e traduzidos na prática de atos pró-
prios para a prossecução de "interesse regional", outros correspondentes à participação em

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

atos do Estado; têm garantias constitucionais adequadas para os defender; além disso, e so-
bretudo, dispõem de órgãos de governo próprio – uma assembleia regional eleita por sufrágio
universal e um governo perante ela responsável, em moldes de sistema parlamentar.
E esta é a primeira vez na história portuguesa que o Estado, o poder central confere faculda-
des substancialmente políticas a órgãos locais com titulares representativos das respetivas
populações.

VII. A FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE


Poucas Constituições manifestam tão vincadamente como a de 2 de abril de 1976 a preocupa-
ção de garantia e procuram tão minuciosa e completamente dar–lhe resposta. Devido, porém, à
subsistência do Conselho da Revolução até à primeira revisão constitucional, não pôde o legis-
lador constituinte estabelecer unicamente a regra da fiscalização jurisdicional, conforme
postulariam os puros princípios constitucionais. Assim como, em virtude da participação do
Conselho na função de garantia e da tradição de fiscalização difusa, não pôde encarar decidi-
damente a hipótese da criação de um tribunal constitucional.
A Constituição manteve o controlo difuso vindo da Constituição de 1911 e criaria o primeiro
órgão específico de controlo, a Comissão Constitucional, embora ao Conselho da Revolução
coubesse, entre outras competências, a de declaração de inconstitucionalidade de normas ju-
rídicas com força obrigatória geral. Em 1982, na primeira revisão constitucional, a Comissão
daria lugar a um Tribunal Constitucional e este ficaria com todos os poderes até então assu-
midos pelo Conselho da Revolução, entretanto extinto.
O sistema português caracteriza–se por três notas principais:
1) a pluralidade de modalidades de controlo – de inconstitucionalidade por ação e por omissão,
concreto e abstrato, preventivo e sucessivo;
2) a conjugação do controlo concreto e do controlo concentrado;
3) a extensão, em certos termos, do regime de fiscalização de constitucionalidade à fiscaliza-
ção de legalidade (por violação de leis de valor reforçado) e à fiscalização da conformidade
de normas legislativas com normas de convenções internacionais.
Aos tribunais em geral compete apreciar a conformidade com a Constituição das normas apli-
cáveis aos casos que tenham de decidir; mas, verificados certos pressupostos, é possível ou
necessário recorrer para o Tribunal Constitucional. Quer dizer: ao contrário do que sucede na
quase totalidade dos países europeus, os tribunais portugueses, todos eles, não só conhecem
como decidem das questões de inconstitucionalidade; mas, se lhes cabe assim a primeira pala-
vra na fiscalização concreta, a última cabe ao Tribunal Constitucional, por via de recurso (e
não por via de incidente).
Quanto à fiscalização abstrata – preventiva e sucessiva de inconstitucionalidade por ação e
por omissão – ela compete, exclusivamente, ao Tribunal Constitucional, sob iniciativa do presi-
dente da República, de outros órgãos do Estado e das regiões autónomas e de certo número
de Deputados. A norma deixa de existir no ordenamento, é completamente afastada.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Na fiscalização concreta, o Tribunal Constitucional julga só para o caso concreto, embora, se


julgar inconstitucional três vezes a mesma norma, possa ser desencadeado um processo de
fiscalização abstrata. Nesta, se a decisão for positiva, a declaração de inconstitucionalidade
tem força obrigatória geral e em princípio ex tunc, ressalvando–se, porém, sempre os casos
julgados.
Fiscalização da constitucionalidade
ARTIGO 277.º
(Fiscalização preventiva da constitucionalidade)
1. Todos os decretos remetidos ao Presidente da República para serem promulgados
como lei ou decreto-lei ou que consistam na aprovação de tratados ou acordos internaci-
onais serão simultaneamente enviados ao Conselho da Revolução, não podendo ser pro-
mulgados antes de passarem cinco dias sobre a sua receção no Conselho.
ARTIGO 278.º
(Efeitos da decisão)
1. Se o Conselho da Revolução se pronunciar pela inconstitucionalidade de qualquer di-
ploma, o Presidente da República deverá exercer o direito de veto, não o promulgando
ou não o assinando,
2. Tratando-se de decreto da Assembleia da República, não poderá ser promulgado sem
que a Assembleia de novo o aprove por maioria de dois terços dos Deputados presentes.
3. Tratando-se de decreto do Governo, não poderá ser promulgado ou assinado.
ARTIGO 279.º
(Inconstitucionalidade por omissão)
Quando a Constituição não estiver a ser cumprida por omissão das medidas legislativas
necessárias para tornar exequíveis as normas constitucionais, o Conselho da Revolução
poderá recomendar aos órgãos legislativos competentes que as emitam em tempo razoá-
vel.
ARTIGO 280.º
(Inconstitucionalidade por ação)
1. São inconstitucionais as normas que infrinjam o disposto na Constituição ou os princí-
pios nela consignados.
2. As normas inconstitucionais não podem ser aplicadas pelos tribunais, competindo ao
Conselho da Revolução declarar a sua inconstitucionalidade com força obrigatória geral,
nos termos dos artigos seguintes.
ARTIGO 281.º
(Declaração da inconstitucionalidade)
1. O Conselho da Revolução aprecia e declara, com força obrigatória geral, a inconstitu-
cionalidade de quaisquer normas, precedendo solicitação do Presidente da República, do

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Presidente da Assembleia da República, do Primeiro-Ministro, do Provedor de Justiça,


do Procurador-Geral da República ou, nos casos previstos no n.º 2 do artigo 229.º, das
assembleias das regiões autónomas.
2. O Conselho da Revolução poderá declarar, com força obrigatória geral, a inconstitucionali-
dade de uma norma se a Comissão Constitucional a tiver julgado inconstitucional em três ca-
sos concretos, ou num só, se se tratar de inconstitucionalidade orgânica ou formal, sem
ofensa dos casos julgados.
VIII. AS SUCESSIVAS REVISÕES CONSTITUCIONAIS
8.1. A Assembleia da República, é o órgão competente para alterar a Constituição, por maioria
de dois terços dos deputados em efetividade de funções, observados certos requisitos tem-
porais e procedimentais e no respeito dos limites materiais correspondentes aos princípios
estruturantes fundamentais. Não é possível – a Constituição exclui–o expressamente – refe-
rendo de revisão.
De 1976 até hoje sucederam–se sete revisões constitucionais, das quais três bastante vastas
(as de 1982, 1989 e 1997) e quatro, relativamente curtas, mas de grande significado, ligadas
a tratados internacionais (as de 1992, 2001, 2004 e 2005).
Globalmente, assinalaram a primeira revisão:
a) A redução das marcas ou expressões ideológicas–conjunturais vindas de 1975 e, em parti-
cular, a supressão das referências ao socialismo em todos os artigos, salvo no 2 (a ponto de se
poder questionar se o socialismo tinha ou conservava, doravante, qualquer sentido autónomo).
b) O aperfeiçoamento dos direitos fundamentais e a clarificação da Constituição económica
em linha de economia pluralista.
c) A extinção do Conselho da Revolução e o termo das funções políticas das Forças Armadas.
d) Em conexão com essa extinção, o repensar das relações entre o presidente da República, a
Assembleia da República e o Governo, com reflexos no sistema político, e a criação de um Tri-
bunal Constitucional.
e) A criação de um órgão consultivo do presidente da República, o Conselho de Estado, e do
Conselho Superior de Defesa Nacional, e uma completa reformulação do Conselho Superior da
Magistratura.
A segunda revisão constitucional centrou–se na organização económica, se bem que tenha
abrangido outras matérias.
Os seus pontos fundamentais foram:
a) Supressão quase completadas menções ideológicas–proclamatórias que ainda restavam após
1982.
b) Aprofundamento de alguns direitos fundamentais, mormente os dos administrados.
c) Supressão da regra da irreversibilidade das nacionalizações posteriores a 25 de abril de
1974, e, em geral, aligeiramento da parte da organização económica.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

d) Reformulação parcial do sistema de atos legislativos, com criação de uma categoria de leis
reforçadas pelo procedimento, as leis orgânicas.
e) Introdução do referendo político a nível nacional, embora em moldes muito prudentes.
f) Modificação de três das alíneas do artigo 290 (agira 288) sobre limites materiais da revi-
são constitucional.
A assinatura em 7 de fevereiro de 1992, em Maastricht, de um tratado institutivo de uma
"União Europeia" conduziria a uma terceira revisão da Constituição de 1976, tendo em conta a
desconformidade de algumas das suas cláusulas com normas constitucionais.
Viria a ser uma revisão paralela à efetuada em outros países comunitários (com relevo para a
França e para a Alemanha) e, diferentemente das anteriores, só afetando muito poucos arti-
gos (conquanto não pouco importantes). Sem ela não seria possível ratificar o tratado.
No artigo 7o. da Constituição (sobre relações internacionais), aditou–se um no. 6, dizendo:
"Portugal pode, em condições de reciprocidade, com respeito pelo princípio da subsidiariedade
e tendo em vista a realização do princípio da coesão económica e social, convencionar o exer-
cício em comum dos poderes necessários à construção da união europeia".
Consagrou–se a possibilidade de atribuição, em condições de reciprocidade, de capacidade
eleitoral a cidadãos de países membros da União Europeia residentes em Portugal na eleição
de Deputados por Portugal ao Parlamento Europeu.
Alterou–se o preceito sobre o Banco de Portugal para permitir a adoção da eventual moeda
única europeia.
Passou a prever–se a competência do Parlamento para "acompanhar e apreciar" a participação
de Portugal no processo de união europeia, à qual corresponde a obrigação do Governo de lhe
prestar, em tempo útil, as informações necessárias para esse efeito.
Por outro lado, passou a distinguir–se entre revisão constitucional ordinária e revisão consti-
tucional extraordinária – aquela efetuada ao fim de cinco ou mais anos após a última revisão
ordinária e esta podendo realizar–se a todo o tempo por as sunção de poderes de revisão por
quatro quintos dos Deputados em efetividade de funções.16
Uma quarta e novamente longa revisão constitucional realizar–se–ia em 1996 e 1997, explicada
em nome da necessidade de revitalização do sistema político.
Em síntese, traduzir–se–ia em:
a) Desenvolvimento da matéria dos direitos fundamentais e das correspondentes incumbên-
cias do Estado.
b) Relativa acentuação do papel da iniciativa privada dentro da organização económica.
c) Desconstitucionalização de vários aspetos do sistema político (cidadãos eleitores do presi-
dente da República, composição e sistema eleitoral da Assembleia da República, órgãos execu-
tivos locais, regiões administrativas).
d) Reforço de mecanismos de participação dos cidadãos (participação no planeamento urbanís-
tico, referendos nacionais, regionais e locais, iniciativa popular, possibilidade de círculos uni-
nominais, candidaturas independentes às eleições locais).

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

e) Desenvolvimento dos poderes das regiões autónomas (no plano legislativo, tributário, admi-
nistrativo e europeu), bem como das autarquias locais.
f) Aumento dos poderes formais da Assembleia da República e aumento do número de maté-
rias que exigem maioria qualificada de aprovação.
g) Reforço do Tribunal Constitucional (com novas competências relativas aos partidos e às as-
sembleias políticas e maiores garantias de independência dos juízes).
A semelhança do que acontecera em 1992, também em 2001 foi desencadeado um processo de
revisão constitucional por causa de um tratado: o tratado constitutivo do Tribunal Penal In-
ternacional assinado em Roma em 1998 (Quinta).
A Constituição foi revista para permitir a ratificação desse tratado, visto que, algumas das
suas cláusulas eram ou poderiam ser consideradas, discrepantes de diversas normas constitu-
cionais. E, por isso, se adotou uma fórmula genérica (no novo artigo 7o., no. 7) semelhante à
adotada já noutros países. "Portugal pode, tendo em vista a realização de uma justiça interna-
cional que promova o respeito pelos direitos da pessoa humana e dos povos, aceitar a jurisdi-
ção do Tribunal Penal Internacional, nas condições de complementaridade e demais termos
estabelecidos no Estatuto de Roma".
Mas a revisão de 2001 tocou também (agora diferentemente do que sucedera em 1992) em
matérias respeitantes à União Europeia, à língua portuguesa, e às garantias de inviolabilidade
do domicílio e ao direito à greve de agentes de forças de segurança.
Na perspetiva da chamada "Constituição europeia" e ainda antes não só da assinatura do res-
petivo tratado, mas também da conferência intergovernamental em que ele seria aprovado (!),
o Parlamento efetuaria uma sexta revisão constitucional.
O ponto–chave foi o aditamento de um no. 4 ao artigo 8o. do seguinte teor: "As disposições
dos tratados que regem a União Europeia e as normas emanadas das suas instituições, no
exercício das respetivas competências, são aplicáveis na ordem interna, nos termos definidos
pelo direito da União, com respeito pelos princípios fundamentais do Estado de direito demo-
crático".
Além disso, houve alterações a respeito da entidade reguladora da comunicação social, um
grande alargamento dos poderes legislativos regionais, e a formalização da regra da limitação
do número de mandatos admitido aos titulares de cargos políticos executivos.
Por último, ainda por causa da integração europeia, em 2005 efetuar–se–ia uma sétima revisão
constitucional.
Em geral, o referendo em Portugal – por razões históricas, de receio de manipulações plebis-
citários – não versa diretamente sobre as leis e os tratados; num primeiro momento, o povo
decide se deve ou não ser aprovada esta ou aquela lei ou este ou aquele tratado; e depois, o
órgão competente, vinculado pelo resultado, aprova ou não aprova. Mas no caso dos referen-
dos relativos à União Europeia passou agora a estabelecer–se (em disposição transitória do
texto constitucional) que a decisão referendária tem efeitos diretos, sem necessidade dessa
mediação.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

IX. AS REVISÕES CONSTITUCIONAIS E O SISTEMA DE GOVERNO


A primeira revisão constitucional levou a uma reponderação do sistema de governo em face da
extinção do Conselho da Revolução.
O presidente da República até então não estava autorizado a dissolver o Parlamento sem a
concordância do Conselho da Revolução, agora a dissolução passou a ser livre, salvo parecer
não vinculativo do Conselho de Estado e certas restrições circunstanciais: não se quis ou não
se pôde fazer do Conselho de Estado um sucessor do Conselho da Revolução. O contraponto
disto seria uma cláusula limitativa da faculdade de demissão do governo, de modo a atalhar a
concentração de poder: ele, doravante, só pode ser demitido quando tal se torne necessário
para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas.
Estas alterações e outras não contendem com a natureza semipresidencial do sistema, já que
a dupla responsabilidade política não é seu requisito necessário. O que importa é o presidente
da República continuar sendo um órgão político ativo, apto a tomar decisões autónomas frente
ao Parlamento e ao governo.
O sistema português tornou–se em 1982 ainda mais diferente do francês, na medida em que
se reforçou a separação entre o presidente e o governo, ou entre "presidir" e "exercer o Po-
der Executivo" – sem embargo de se ter explicitado o dever geral de informação do governo
[artigo 204, no. 1, alínea c)]. Em contrapartida, ficaram mais claros os contornos dos poderes
institucionais do presidente – liberto do condicionamento vindo do Conselho da Revolução – em
especial os poderes de garantia e de controlo político.
A Constituição não exige a aprovação parlamentar do programado Governo, apenas a sua apre-
ciação; e só ocorrerá votação se até ao termo do debate for proposta uma moção de rejeição
(pela oposição) ou uma moção de confiança (pelo governo). Dispensa–se, pois, a necessidade de
formação de Governos maioritários – difícil ou impossível, em certas circunstâncias, devido ao
sistema de representação proporcional.
Uma solução como esta faz avultar o papel do presidente da República, como fiel agora da
funcionalidade do sistema no momento constitutivo do Governo quando não haja maioria de
partido ou de coligação pré-eleitoral. Todavia, ao contrário do que poderia recear–se, daí não
resultou – pelo menos, até hoje – a nomeação de "Governos do presidente" semelhantes aos de
determinada fase da Alemanha de Weimar (afastado que estava, à partida, o modelo gaullista,
em virtude da separação pretendida e sempre verificado, entre a eleição presidencial e a par-
lamentar).
As revisões constitucionais de 1989 e de 1997 aumentaram, de certo modo, os poderes do
presidente da República, por causadas leis orgânicas (em relação às quais o veto político só
pode ser ultrapassado por maioria de dois terços) e por causados referendos nacionais e regi-
onais (dependentes de convocação pelo presidente).
Cabe ainda registar os seguintes dados de facto:
a) Apesar de os partidos não terem o poder jurídico de apresentação de candidaturas, eles
sempre têm interferido, e em grau crescente, na eleição presidencial.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

b) Nenhum partido só por si conseguiu fazer eleger um presidente, o que, para além do apoio
de outro ou outros partidos, tem realçado a participação individual de cidadãos e permitido ao
presidente, uma vez eleito, agir livre de compromissos partidários.
c) Tem havido extrema variabilidade e sucessíveis mutações nos apoios partidários.
d) As maiorias presidenciais nunca coincidiram com a situação parlamentar – ou por serem
mais largas que as bases parlamentares dos Governos (entre 1976 e 1979 e entre 1991 e
2002), ou, por se verificar oposição ou conflito entre o presidente e as bases parlamentares
do Governo (entre 1979 e 1985) ou, simplesmente, por se verificar distinção das maiorias (en-
tre 1986 e 1991 e após 2002).
e) Em suma, tem–se conseguido realizar a intenção dos constituintes de não simultaneidade
não só cronológica, mas também política entre a eleição presidencial e a parlamentar.

X. O PAPEL DA JURISPRUDÊNCIA CONSTITUCIONAL


Ao longo destes 30 anos de vigência da Constituição de 1976, o papel da Comissão Constituci-
onal, primeiro, e do Tribunal Constitucional, depois, não consistiu apenas na defesa das nor-
mas constitucionais contra violações por ação ou por omissão. Consistiu, além disso, na cons-
trução operada sobre elas (não raro, sem apoio doutrinal externo) e na definição das modali-
dades da sua irradiação para a ordem legislativa.
Em qualquer país, a jurisprudência constitucional – sejam quais forem as conceções e os méto-
dos de interpretação –não pode deixar de ser pela natureza das coisas, uma jurisprudência
muito ativa. Em Portugal, teve ainda de o ser mais, em consequência, por um lado, da nova vida
de muitos dos institutos e, por outro lado, do carácter compromissório da Constituição de
1976 e da delicadeza das situações pós-revolucionárias. Afastando–se quer de leituras maxi-
malistas quer de leituras minimalistas —que, umas e outras, teriam feito soçobrar o sistema
— a jurisprudência constitucional conseguiu traçar uma linha média, de concordância prática,
com soluções equilibradas e exequíveis.
E não poucos dos pareceres e acórdãos (e não poucas das declarações de voto que os acompa-
nham) distinguem–se –independentemente de se concordar ou não com as respetivas posições
– por uma profundidade de análise e por um rigor argumentativo não comum noutros tribunais
superiores portugueses.
Graças à jurisprudência constitucional e ao progresso da consciência cívica, a Constituição de
1976 tornou–se uma verdadeira Constituição normativa, que se impõe à lei e a todos os de
mais atos do poder público.
Entre os contributos mais positivos da jurisprudência constitucional avultam:
— A densificação do princípio da dignidade da pessoa humana (em matérias como a do mínimo
económico de existência e de punição do lenocínio).
— A densificação do Estado de direito, através dos princípios da proporcionalidade e da segu-
rança jurídica.
— A explicitação de garantias dos arguidos em processo penal.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

— O entendimento dado ao ensino religioso nas escolas públicas.


— A afirmação de um princípio de não retrocesso social (a propósito do serviço nacional de
saúde e do rendimento mínimo garantido).
— O tratamento dos direitos dos estrangeiros.
— O desenvolvimento do direito urbanístico
— O desenvolvimento do direito eleitoral.
Em contrapartida, há alguma timidez nos acórdãos sobre o princípio da igualdade. E são sus-
cetíveis de controvérsia os que têm versado sobre a interrupção voluntária da gravidez, os
referendos, a reservada Administração e os limites do poder dos Parlamentos ou a autonomia
legislativa regional.
Requeria um estudo à parte aprofundar e concretizar estes pontos.
XL. O DESENVOLVIMENTO CONSTITUCIONAL
A Constituição continua sendo, após sete revisões, após a entrada de Portugal para as Comuni-
dades e para a União Europeia e após tantas transformações registadas no país e no mundo, a
mesma Constituição que em 1976 foi decretada pela Assembleia Constituinte – por que uma
Constituição consiste, essencialmente, nunca é demais frisar, num conjunto de princípios e
menos num conjunto de preceitos.
Foram modificados dezenas e dezenas de artigos e houve inflexões, formais ou reais, de sen-
tido, mas permaneceram os princípios cardeais identificadores da Constituição – os princípios
sintetizados na ideia de Estado de direito democrático (preâmbulo e, também a seguir a 1982,
artigos 2o. e 9o.).20
Em primeiro lugar, as sensíveis modificações relativas aos órgãos políticos de soberania da
primeira revisão não destruíram a identidade do sistema de governo; e as restantes altera-
ções sofridas pela parte III —desde o referendo às regiões autónomas e ao poder local—
destinaram–se (melhor ou pior) à sua viabilização.
Em segundo lugar, as alterações da parte III, conquanto bem mais profundas, tão pouco ex-
cederam o projeto compromissório e pluralista da Constituição económica, tal como sempre o
interpretámos. Subsistem os direitos dos trabalhadores e das suas organizações. O estatuto
da iniciativa privada não apagou o favorecimento da iniciativa cooperativa e a garantia institu-
cional de autogestão (artigos 61, 85, 94, no. 2, e 97). Continuam a ser admitidas a apropriação
pública e a planificação (artigos 80, alíneas “d” e “e”, 81, alínea g, 83 e 91 e ss.]. As reprivati-
zações devem observar regras formais e materiais (artigo 296). Subsistem, conquanto atenu-
adas, as normas de vedação de sectores básicos à iniciativa privada (artigo 86, no. 3) e de eli-
minação dos latifúndios (artigo 94, no. 1).
Em terceiro lugar, quanto à revisão constitucional de 1992, o que seja a União Europeia não se
antolha claro e, de todo o modo, por ora, é um sistema sui generis de relações e instituições,
que não atinge o núcleo da soberania estatal. Nem o artigo 7o., no. 6, prevê transferência ou
renúncia de raiz de poderes nela compreendidos, apenas de legação do seu exercício, a con-

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

vencionar com respeito pelos princípios da reciprocidade e da subsidiariedade. E, quanto à re-


visão de 2004, o artigo 8o., no. 4 reitera como limite insuperável de aplicação do direito da
União Europeia na ordem interna portuguesa o respeito dos princípios fundamentais do Es-
tado de direito democrático – quer dizer, da Constituição material portuguesa.
Por último, as modificações introduzidas no artigo 290 (hoje artigo 288), corroborando a tese
que há muito sustentávamos da revisibilidade de cláusulas expressas de limites materiais de
revisão, não representam também senão benfeitorias e atualizações. O princípio da coexis-
tência de sectores é —e já era em 1976— mais significativo do cerne da Constituição do que a
apropriação coletiva; a modificação respeitante ao planeamento é pouco mais que verbal; a
participação das organizações populares de base no exercício do poder local, aliás pratica-
mente sem efetividade, terá sido tão só um limite material de segundo grau, e essas organiza-
ções ou associações de moradores não desaparecem do texto constitucional.
Uma Constituição que perdura por um tempo relativamente longo vai–se realizando através da
congregação de interpretação evolutiva, revisão constitucional e costume secundum, praeter
e contra legem. Contudo, pode também acontecer que, noutros casos, o desenvolvimento da
Constituição se efetue em períodos mais ou menos breve, principalmente através da sobrepo-
sição dos mecanismos de garantia da constitucionalidade e de revisão, sob o influxo da reali-
dade constitucional.
O desenvolvimento constitucional não comporta a emergência de uma Constituição diversa,
apenas traz a reorientação do sentido da Constituição vigente. De certo modo, os resultados
a que se chega ou vai chegando acham–se contidos na versão originária do ordenamento ou nos
princípios fundamentais em que assenta; e ou se trata de um extrair das suas consequências
lógicas ou da prevalência de certa interpretação possível sobre outra interpretação igual-
mente possível.

Em aula:

Três “D´s”

Transição vs. Revisão (revisão formal que respeita a constituição material).

Norma percetível (imperativa e tem de ser imediatamente aplicada) vs. programática.

Comissão Constitucional ajuda o Conselho de Revolução, sendo a última palavra a do


segundo quando estivesse em causa fiscalização concreta.

TC, hoje, é a soma do Conselho de Revolução com a Comissão Constitucional, em termos


de fiscalização.

Dignidade e democracia como valores basilares da Constituição.

Democracia condicionada. Vinculação da mesma ao socialismo.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Soberania do povo e MFA como garante do processo revolucionário e aliança com um


povo, exercendo em conjunto a soberania – dupla legitimidade e dupla soberania da
constituição. Legitimidade democrática e popular e legitimidade revolucionária e socialista.

Conselho de Revolução, representante do MFA, como órgão de soberania a par da AR.


Cláusula militar, como Presidente da República. Os militares indicam os candidatos e o
povo escolhe. O Presidente da República preside ao Conselho da Revolução, para unir as duas
legitimidades.

Artigo 10º - Constituição económica – os meios são das pessoas – socialismo

Artigo 82º - lei determina as questões na nacionalização e socialização. Se forem ricos então
ficam sem os bens, não havendo lugar a indemnização.

Artigo 83º - Nacionalizações como conquistas irreversíveis.

Artigo 91º - planificação da economia pelo Estado. Há iniciativa privada, mas tem de se
subordinar ao funcionamento do plano.

Artigo 97º

Artigo 16º nº2 - direito de propriedade declarado segundo a declaração universal

Artigo 308º - nem todo o povo pode participar na democracia. Alguns tinham indignidade
cívica – restrição ao princípio democrático.

Artigo 309º - retroatividade. Condenava as penas das pessoas que tinham tido funções na
PIDE. Era condenado por efeito da lei. O tribunal só tinha de observar o nome, nada dizia.
Não era uma condenação por sentença, mas sim por lei. A isto chama-se Lei Sentença.

Artigo 310º - quem perdia o emprego perdia-o mesmo, segundo a constituição.

Artigo 292º (atual) – marca de totalitarismo dentro da constituição. Conceção de Rousseau.


Constituição atual próxima materialmente da de 1911, mas a nível de sistema de governo da de
1933.

Sistema (e) Governo /Político

No sistema político temos duas legitimidades, sendo que o PR fazia a ponte entre os
dois.
Artigo 124º - eleição do PR.
Artigo 129º – maior legitimidade do PR devido à maioria absoluta. É o que permite afetar o
governo, vetar (artigo 139º) sendo suspensivo… impondo-se.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Artigo 136º – poder de dissolução da AR. Hoje dissolve-a, quando quiser, dentro de limites
temporais.
Artigo 136º alínea f) – escolha do primeiro ministro – o limite era a avaliação política do PR.
Hoje não pode ignorar o resultado das eleições.
Artigo 193º- dupla responsabilidade política – Governo responsável pelo PR e pela AR
Artigo 195º – quando o governa vai à AR já é governo, ainda que de gestão, o PR elege-o, e só
depois vai prestar contas à Assembleia.
Artigo 195º nº4 - A rejeição do programa do Governo exige maioria absoluta dos Deputados
em efetividade de funções.
Há muitos casos em que o programa do governo não é votado. Entra em funções normal
não havendo voto nenhum. Não precisa do parlamento a seu favor, só não o pode ter contra si.
Artigo 198º - minimização do parlamento.
Artigo 201º - governo tem liberdade de legislar
Artigo 142º - O conselho da revolução era o tribunal constitucional – controlava a fiscalização
da inconstitucionalidade.
Artigo 146º - força obrigatória geral – força para destruir de forma geral e abstrata uma lei.

Criado o Conselho de Estado, como órgão consultivo do PR, e o Tribunal Constitucional.

Hoje, o princípio socialista desapareceu.

Constituição atual:

Parte primeira divide os direitos fundamentais em duas categorias: sociais e os direitos de


liberdade (aplicabilidade direta pelo juiz, não precisa da lei (artigo 18º)).
As restrições dos direitos de liberdade são só por lei. Inconstitucional.
Reserva de lei no artigo 18º/2 – só há restrição de direitos liberdades e garantias por ato
legislativo. Essa lei é aprovada pela Assembleia da República ou do Governo autorizado pela
AR – 165º 1/B. Situação em que há exceção da regra geral que o Governo pode legislar quando
quiser., estamos perante uma matéria reservada.

Mais situações de reserva de lei onde só a lei pode intervir: artigo 103º nº2 – só a lei é que
pode criar impostos.

Ideia de proporcionalidade – o necessário indica a mesma. Não podem existir leis individuais.
Têm de revestir carater geral. Não há leis medida (casos concretos). Não há também
retroatividade.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Artigo 17 - análogos.

Processos Tribunal Constitucional:


Artigo 280 (remissão para a lei do tribunal constitucional – LTC – artigo 70º– processos de
fiscalização concreta. Recorrer em caso de decisão inconstitucional.
Fiscalização concreta – TC e tribunais na generalidade – artigo 204º. Quando se suscita esta
questão a parte prejudicada pode recorrer aos tribunais superiores até chegar ao último
tribunal (Tribunal Constitucional) (artigo 280º).

Processos de fiscalização abstratos: exclusivo do TC


Fiscalização preventiva (278/279) – antes da norma entrar em vigor, e por isso tem de ser
antes da promulgação do diploma. Tem como objetivo evitar que uma norma viciada chegue a
produzir qualquer efeito. Nas RA quem promulga não é o PR, mas sim o representante da
República, que é quem assina os diplomas. Pode fazer o mesmo que o PR – mandar para o TC).
Sucessiva abstrata (281/282) – norma já entrou em vigor e agora um conjunto de entidades
podem pedir ao TC que remova a norma do ordenamento. Declaração com retroatividade, Ex
tunc. Existem, contudo, exceções (Ex: casos julgados).
(Se o processo preventivo é mais eficaz porque é que alguém (PR) quereria esperar pela
fiscalização sucessiva? -juízo do PR)
Segundo JST “O PR muitas vezes não é um especialista em direito e pode nem
encontrar/ponderar a possibilidade de que haja uma inconstitucionalidade da lei (mesmo
tendo assessores é complicado).
Além disso, pode não querer que a lei seja declarada inconstitucional (motivos políticos).
Além disso, de 4 em 4 anos tens um novo PR que pode enviar para fiscalização sucessiva e
assim há mais probabilidade de se "apanhar" inconstitucionalidades. No entanto, acho que não
é prática o PR requerer fiscalização sucessiva. Tipicamente é o Ministério Público, salvo erro,
após decisões de inconstitucionalidade em sede de fiscalização concreta (no âmbito de
processos nos tribunais do dia a dia)”.
Omissão (283º) – verificação de existe inconstitucionalidade. Mas nada pode fazer. É um
processo que não é muito utilizado.

Parte terceira da Constituição – começa no artigo 108º

Artigos 108º-119º: normas gerais. São aquelas que regulam toda a vida constitucional de
Portugal.
Artigo 110º - lista dos órgãos de soberania. Permite distingui-los dos constitucionais. Os
constitucionais não enunciados na soberana não o são porque não manifestam a soberania
portuguesa (Camaras municipais, justas de freguesia, conselho de estado...)
Matéria que diz respeito aos órgãos de soberania fica protegida por uma reserva de
constituição – artigo 110º nº2. (lei orgânica aprovada por maioria no parlamento. Diz que o PR
popular podia ser objeto de proclamação nacional. PR é eleito. Antes de violar a necessidade
de eleições, viola a reserva de constituição. Lei não pode passar a estabelecer casos
excecionais.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Artigo 111º nº2 - proibição de delegação dos poderes noutros órgãos a menos que a
constituição e a lei autorizem (órgãos constitucionais).
Artigo 112º atos legislativos em Portugal: enumera os atos existentes - tipicidade dos atos
legislativos - é também uma reserva de constituição. Os outros são subtipos.
Artigo 112 nº1 o que caracteriza um ato legislativo, em Portugal, é o órgão/competência, a
forma do ato e o procedimento. Estes três elementos dizem respeito aspetos meramente
formal. A constituição portuguesa decidiu que caracteriza os atos legislativos por tipos
formais, ignorando o seu conteúdo. Nada impede que existam as leis medida – atos legislativos
que resolvam problemas concretos. Lei medida só é constitucional quando a lei diz que tem de
ser geral e abstrata. Em geral não ocorre.
Artigo 112º nº2: igual hierarquia entre lei e decreto-lei. Não significa que um decreto lei não
possa estar dependente de uma lei (decreto lei de desenvolvimento sujeito à lei de bases).
Artigo 112º nº3: Leis de valor reforçado – valor que se impõe às outras, que têm de respeitar.
Leis orgânicas (remissão artigo 166º nº2; 168ºnº5 – lei orgânica votada por maioria absoluta)
Artigo 164º - matérias de reserva absoluta do parlamento, as quais algumas são orgânicas.
Leis orgânicas tem valor reforçado – como é importante, não é só o PR que pode desencadear
fiscalização absoluta para o TC, também PM e 1/5 dos deputados – artigo 278º nº4. –
EXCEÇÃO – SÓ NAS LEIS ORGÂNICAS.
Leis de maioria 2/3 - Remissão 168º nº6, também tem valor reforçado.
Artigo 116º nº3 – generalidade como votação simples.
Artigo 112º nº4 - esclarece que a legislação regional não vale nem menos nem mais que a
nacional, atos legislativos valem o mesmo. Tem é um âmbito territorial diferente. O regional é
para a região, contudo há coisas que não podem fazer, coisas que a constituição reserva para
os órgãos nacionais.
Muitas vezes a região não legisla sobre uma matéria e então aplica-se o direito nacional - Há
uma supletividade do direito do estado - 228º nº2 o estatuto é que diz quando a região pode
legislar. O estatuto não pode afetar uma reserva do parlamento. O TC desconfia do que as
regiões fazem (medo da independência), sempre que tem dúvida diz sempre que a região não
pode legislar, vai até ao 112º nº4 - três requisitos para haver legislação regional: interesse
região, estar no estatuto e não ser reservado aos órgãos soberania.
Artigo 112º nº5: reforça a tipicidade dos atos legislativos, a lei não pode criar outros (ex:
governo regional não pode legislar em determinados casos). A lei não pode indiretamente dar
poder legislativo a outros atos (lei diz que a solução é “A”, mas que ato inferior pode
estabelecer outra – ex – universidades obrigadas a oferecer pc – ato legislativo, no entanto
por razões financeiras pode criar normas em sentido criado).
A lei pode não regular a matéria e deixa que o ato inferior a regule. (as universidades podem
oferecer pc aos alunos em condições) – deslegalização – matéria deixa de ser regulada por lei.

Há leis ilegais, porque não valem todas o mesmo.


Ilegalidade: quando há um ato legislativo intermédio. Não é atentado diretamente contra a
constituição. (ex: lei viola orçamento de estado. Todas as leis têm de respeitar o orçamento
de estado.
Artigo 280º nº2 – a:

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Artigo 281º nº1 B:

Artigo 278º - não fala da legalidade.


Maioria da doutrina diz que não pode haver fiscalização preventiva da ilegalidade, uma vez
que não esta escrito na constituição. Então o presidente deve fazer um veto político.
Obs: o veto sobre o governo é absoluto, sobre o parlamento é suspensivo.

Artigo 113º: em geral a constituição diz como cada órgão é eleito, mas as vezes pode não
dizer alguma coisa. Se não houver norma especial, vai-se à geral (órgão que a constituição diz
que não é eleito, vai-se a regra geral)
Artigo 113º/5 – PROPORCIONALIDADE (ter em atenção a casos que apareça o sistema
uninominal, estaríamos perante uma violação da proporcionalidade).

Artigo 116º nº3 – (não conta as abstenções) maioria simples. Maioria de aprovação.
Artigo 116º nº2 – quórum – membros que têm de estar. Maioria de deliberação/quórum.
Artigo 119º - atos a ser publicados. Consequência de ser não ser aplicado quando devia –
ineficácia jurídica.

A partir do 120º - regras de órgãos específicos:

Presidente – assembleia – governo – tribunais – órgãos de soberania.


Criação – funcionamento – extinção (como perda de mandato, por exemplo) – competência (no
final).
Artigo 136º é importante (PR)
Artigo 161,164 (reserva absoluta) 165 (reserva relativa) são importantes (AR) – matérias mais
utilizadas. 165º nº2
Depois vêm os que não são de soberania.

Dúvidas:8
Existência de inconstitucionalidades parciais
RA – governo não pode legislar nada específico das RA, a menos se o interesse nacional
prevalece sobre o regional.

Ver sempre primado do poder do Estado vs. princípio da autonomia regional. Se a região não
legisla - supletividade do Direito do Estado.

278º/1 -regra geral – todas as leis


278º/4 – exceção – leis orgânicas

Na lei orgânica o PR não pode promulgar nos primeiros oito dias.

Lei de autorização mediante uma proposta de lei.

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Equiordenação: competência distinta, mas ao mesmo nível (AR não vai estipular sobre o
tratamento dos jardins de lisboa, mas sim a assembleia municipal).

169º fiscalização de natureza política.


162ºA (por meio de revogação por ex).
Político vs. validade quanto à AR
Cada órgão como 1º controlador da sua atividade.

Referenda:
Relativa aos atos do rei (1822) rei não era responsabilizado por ser chefe do estado, então
quem respondia era outrem, o ministro, que então decide.

1911: para controlar PR ao qual todos tinham desconfiança.

1933: formalmente a constituição dava o poder ao Presidente. Atos sujeitos a referenda.

Há leis que são de valor reforçado específico (lei de bases; de autorização).

Uma coisa inconstitucional não se torna constitucional.

Existe inconstitucionalidade superveniente (lugar da mulher na sociedade).

Inconstitucionalidade superveniente (só é inconstitucional a partir do dia em que a norma


inconstitucional e incompatível com a lei) vs. inconstitucionalidade originária (ex tunc – nunca
vale).

Pós eficácia de normas constitucionais: quando uma norma de uma constituição anterior pode
vigorar hoje. A norma de uma constituição que já não existe prolonga a sua vida nos diplomas
criados ao seu abrigo.
Um diploma é inorganicamente constitucional tem der ser analisado a luz da constituição que
vigorava nesse momento (requisitos formais e orgânicos, não constitui a material).

Na parte material, avalio ao abrigo da atual constituição.

Aplicável a constituição atual, mas há conexão com anteriores.

ARA – confirmação sempre por maioria absoluta porque não têm leis orgânicas.
Não pode confirmar um veto jurídico porque não é um órgão de soberania vs. defesa do
princípio democrático (optar pela primeira).

Níveis de densidade da reserva da AR

198/1 c – competência exclusiva - só o governo desenvolve (PO)

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

DIREITO CONSTITUCIONAL II | Simão Fino

Você também pode gostar