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Após leitura atenta do documento 11 (páginas 82-83) e do documento 23 (página 93) do

Manual, responda às seguintes questões:


1) Identifique três características que distinguem a Constituição de 1822 da Carta
Constitucional de 1826.
2) Explique os motivos/intenções que estão na origem das novas características da Carta
Constitucional de 1826.

1) A primeira característica que distingue a Constituição de 1822 da Carta


Constitucional de 1826 é quem a promulga. Enquanto que a Constituição de 1822
foi elaborada pelas Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação
Portuguesa e depois promulgada pelo rei D. João VI , a Carta Constitucional de
1826 é promulgada pelo rei D.Pedro IV("Dom Pedro, por Graça de Deus Rei de
Portugal, dos Algarves (...) Faço saber a todos os meus súbditos que sou servido
decretar, dar e mandar jurar imediatamente pelas três Ordens do Estado a Carta
Constitucional abaixo transcrita”) Sendo então a Carta Constitucional o contrário
das Constituições que são aprovadas pelos representantes do povo seria de
esperar uma recuperação do poder real e dos privilégios da nobreza (“Garante a
nobreza hereditária e suas regalias”).
A separação dos poderes na Constituição de 1822 é mais eficiente uma vez que o
poder legislativo reside nas Cortes com dependência da sanção do rei; o poder
executivo está no rei e nos secretários de estado, que o exercitam debaixo da
autoridade do rei e o poder judicial reside nos juízes (“nem as Cortes nem o rei o
poderão executar em caso algum”). Na Carta Constitucional a separação dos
poderes é posta em causa quando o poder moderador compete ao rei, podendo
este nomear os pares, convocar Cortes, suspender magistrados, conceder
amnistias, perdões e vetar, a título definitivo, as resoluções das Cortes (“Art.13.º- O
poder legislativo compete às Cortes com a sanção do rei (...) Art.71.º- O poder
moderador é a chave de toda a organização política e compete privativamente ao
rei, como chefe supremo da Nação, para que incessantemente vele sobre a
manutenção da independência equilíbrio e harmonia dos mais poderes
políticos.”)
Outra característica que distingue a Constituição da Carta Constitucional é a
composição das Cortes, na primeira as Cortes são onde a verdadeia soberania
residia e são constituídas por uma Câmara única, sendo os seus deputados
legalmente eleitos e representantes da Nação (indivíduos do sexo masculino,
maiores de 25 anos, que soubessem ler e escrever), (“Art 105.º- A iniciativa direta
das leis somente compete aos representantes da Nação juntos em Cortes.
Podem, contudo, os secretários de Estado fazer propostas, as quais, depois de
examinadas por uma comissão das Cortes, poderão ser convertidas em projetos
de lei”). Na Carta Constitucional as Cortes compunham-se por 2 câmaras, sendo a
Câmara dos Deputados eleita através do sufrágio indireto, por individuos do sexo
masculino, que tivessem pelo menos uma renda líquida anual de cem mil réis
(“Art.63.º- As nomeações dos deputados para as Cortes Gerais serão feitas por
eleições indiretas, elegendo a massa dos cidadãos ativos, em assembleias
paroquiais, os eleitores de província, e estes os representantes da Nação.(...)
Art.65.º- São excluídos de votar nas assembleias paroquiais (...) os que não tiverem
de renda líquida anual cem mil réis, por bens de raiz, indústria, comércio ou
empregos). Os membros da Câmara do Pares são nomeados a título vitalício e
hereditário (alta nobreza; alto clero; o príncipe real e os infantes).
Mas a diferença que é, provavelmente, a mais notada é o reconhecimento dos
direitos e dos deveres do indivíduo, que na Carta Constitucional, ao contrário da
Constituição de 1822 (“ Art.1.º- A Constituição política da Nação Portuguesa tem
por objetivo manter a liberdade, segurança e propriedade de todos os
Portugueses”), são colocados em segundo plano, no final do diploma (“ Art.145.º- A
inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos portugueses, que tem
por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, é garantida pela
constituição do Reino, pela maneira seguinte: Ficam abolidos todos os privilégios
que não forem essencial e inteiramente ligados aos cargos por utilidade pública; É
garantido o direito de propriedade em toda a sua plenitude (...) Garante a nobreza
hereditária e suas regalias”).
Podemos dizer então, que a carta constitucional representava um manifesto
retrocesso relativamente à Constituição de 1822.

2) D. João VI morre a 10 de Março de 1826 o que resulta num problema de


sucessão, uma vez que o seu filho mais velho, D. Pedro, era imperador do Brasil e o
mais novo, D. Miguel encontrava-se exilado em Viena de Áustria depois dos seus
feitos em defesa do absolutismo. Acabou por ser a sua filha mais velha, D. Isabel
Maria, que ficou encarregue do Governo do país, no entanto esta considera que
deve ser D. Pedro a herdar o trono e consequentemente D.Pedro é nomeado
monarca, mas não querendo abdicar do seu reinado no Brasil, D.Pedro outorgou
um novo diploma constitucional ( Carta Constitucional de 1826) e abdica os seus
direito à coroa portuguesa a sua filha mais velha, D. Maria da Glória, de 7 anos,
esta teria de celebrar esponsais com seu tio D. Miguel que ao regressar a Portugal
juraria o cumprimento da Carta Constitucional e, de imediato, assumiria a
regência do reino de Portugal e a função de lugar-tenente de D. Pedro.
Portanto a Carta Constitucional é mais moderada e conservadora pois D. Pedro
queria manter a paz; evitando a desunião da sociedade portuguesa, e apesar de
não ter tido o efeito desejado, a carta representava um compromisso entre os
liberais defensores da Constituição de 1822 e os absolutistas (daí a salvaguarda
dos poderes da alta nobreza e a alta hierarquia religiosa, que eram os principais
apoiantes do miguelismo/absolutismo).
Sintetizando, D.Pedro outorga a Carta Constitucional com a intenção de impedir o
que ocorreu quando a Constituição de 1822 foi implementada, ao atacar e
eliminar os privilégios de cariz económico e espiritual suscitou ódios das grandes
ordens que engrossaram as fileiras da contrarrevolução absolutista.

Lúcia Jorge
nº12 11ºLH1

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