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Assembleia Constituinte de 1823

Os meses que sucederam a Independência foram marcados pela busca do


reconhecimento da nossa liberdade. Os Estados Unidos foram os primeiros a fazer tal
reconhecimento, pois temiam a influência inglesa na América Latina. Portugal foi o último
a reconhecer e, para isso, exigiu o pagamento de uma indenização de dois milhões de
libras esterlinas.

Outra medida para consolidar a independência e criar um arcabouço jurídico no Império


brasileiro foi a elaboração de uma Constituição. Para isso, em 1823, foi instalada no Rio
de Janeiro a Assembleia Nacional Constituinte. Cada província enviou seus
representantes.

Na abertura dos trabalhos da Constituinte, Dom Pedro I, já coroado imperador do Brasil,


disse: “Espero, que a Constituição, que façais, mereça a Minha Imperial Aceitação, seja
tão sábia, e tão justa, quanto apropriada à localidade, e civilização do Povo Brasileiro”.
Isso já demonstrou a sua vontade em ter o máximo de poder em suas mãos e uma ameaça
à Assembleia, pois a escrita da nova Constituição brasileira deveria seguir as vontades do
imperador.

Dom Pedro I, influenciado por José Bonifácio de Andrade e Silva, defendia a formação de
um grande império que garantisse a unidade territorial brasileira, evitando a
fragmentação ocorrida na América Espanhola. Para isso, ele queria mais poderes, no
intuito de evitar rompimentos e pacificar as províncias em torno do poder central, no Rio
de Janeiro. Esse autoritarismo vindo do imperador despertou a oposição dos brasileiros,
que queriam maior liberdade de ação política. Além disso, Dom Pedro I, além de querer
mais poderes, começou seu reinado privilegiando portugueses.

Os constituintes, então, iniciaram seus trabalhos, e um dos temas em destaque foi


justamente o poder do imperador. Definiu-se a tripartição dos poderes, ou seja, a
instalação dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, independentes e harmônicos
entre si. No entanto, Dom Pedro I se sentiu incomodado e decidiu fechar a Constituinte.
O Brasil recém-independente ainda mantinha resquícios da imposição de ordens vindas
de um monarca absolutista.

Constituição outorgada x promulgada

Uma Constituição é promulgada, quando é elaborada por representantes dos eleitores,


e seu texto é discutido e votado pelos constituintes, sendo assinada pelo chefe do
governo, que jura o seu cumprimento. Se a Assembleia de 1823 não tivesse sido fechada
por Dom Pedro I, a primeira Constituição brasileira teria sido discutida por representantes
dos eleitores, votada e assinada pelo imperador, que faria o juramento do seu
cumprimento. Contudo, a primeira Constituição brasileira que foi promulgada foi apenas
a de 1891, a primeira do período republicano.

Dizer que uma Constituição foi outorgada é o mesmo que dizer que ela foi imposta por
um soberano absolutista ou por um chefe de governo autoritário. O texto constitucional
de 1824 foi elaborado por uma comissão de legisladores escolhidos pelo governante e
não foi submetido a nenhuma discussão e nem votação.

Logo após a outorga do governante, a Constituição já entrou em vigor. Além da


Constituição de 1824, outra que também passou pela outorga de um governante
autoritário foi a Carta de 1937, que vigorou durante a ditadura do Estado Novo de Getúlio
Vargas (1937-1945).

Características da Constituição de 1824

A Constituição de 1824
vigorou no Brasil durante todo o período imperial até a Proclamação da República, em
1889.
A Constituição de 1824 estabeleceu no Brasil uma monarquia constitucional hereditária e
representativa. As províncias não teriam autonomia e seriam governadas por pessoas
indicadas pelo imperador. A capital do Império continuou sendo o Rio de Janeiro.

Ela também definiu os poderes que regeriam o Império, a saber:


• Executivo: era exercido pelo Imperador, que deveria nomear os presidentes
das províncias.

• Legislativo: bicameral, formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado.


Os deputados eram eleitos por voto censitário, indireto e baseado na renda
do eleitor. Já os senadores eram indicados pelo imperador.

• Judiciário: os juízes eram nomeados pelo imperador, tinham cargos vitalícios,


mas poderiam ser suspensos por sentença do próprio imperador.

• Moderador: poder de uso exclusivo do imperador, que poderia intervir nos


demais poderes, dissolver assembleias legislativas, nomear juízes, bem como
editar e vetar leis.

Além disso, a Carta constitucional de 1824 determinou que religião oficial do Império
brasileiro seria a católica, mas as outras religiões poderiam praticar seu culto, de forma
doméstica. Foi estabelecido o regime de Padroado, no qual o imperador tinha o direito
de nomear bispos e outros integrantes da hierarquia eclesiástica do Brasil.

Outra determinação foi o voto censitário, que seria indireto e dividido em duas fases: os
eleitores que comprovassem determinada renda anual teriam direito de escolher seus
representantes, que, por fim, elegeriam os deputados e senadores.

• Principais mudanças causadas pela Constituição de 1824

A principal mudança causada pela Constituição de 1824 foi a formação de uma


monarquia constitucional hereditária, governada por um imperador absolutista e que
tinha um poder único para si, o Moderador, podendo interferir no exercício dos outros
poderes. Ao contrário do que havia pensado o filósofo iluminista Montesquieu, criador
dos Três Poderes, no Brasil todos os poderes estavam nas mãos do monarca absolutista.

Entre a Constituinte de 1823 e a Constituição outorgada em 1824, nota-se o abandono


dos ideais iluministas que regeram a Assembleia Constituinte, como a limitação dos
poderes do imperador, para a instituição de uma Carta que dava amplos poderes a Dom
Pedro I, inclusive o poder de destituir o Parlamento.

Acesse também: 25 de março — Dia da Constituição

Resumo sobre a Constituição de 1824

• A Assembleia Constituinte de 1823 foi criada para elaborar a primeira


Constituição brasileira, mas foi fechada por Dom Pedro I, porque os
constituintes eram contrários a dar mais poderes a ele.

• Com o fechamento da Assembleia Constituinte, Dom Pedro I outorgou a


Constituição de acordo com a sua vontade, ou seja, garantindo amplos
poderes para si.
• A Constituição de 1824 instalou o Poder Moderador, o voto censitário, o
catolicismo como religião oficial do Estado, entre outras medidas.

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