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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Ciências Jurídicas


Faculdade de Direito do Recife
Teoria da Constituição
Professora: Ciani Sueli das Neves
Monitores: Kamilly Batista e Lucas Pereira
ASSUNTOS PARA A PRIMEIRA PROVA DE
TEORIA DA CONSTITUIÇÃO:

1. (HISTÓRIA) DAS CONSTITUIÇÕES


BRASILEIRAS;
2. TEORIA DAS CONSTITUIÇÕES;
3. PODER CONSTITUINTE;
4. CLASSIFICAÇÕES DAS CONSTITUIÇÕES.
1. História das
Constituições Brasileiras
CONSTITUIÇÃO DE 1824
A Constituição de 1824 [(Ou
Constituição da Mandioca) estabelecia
que somente brasileiros com renda
anual similar a 150 alqueires de
mandioca é que poderiam votar. Essa
proposta azedou definitivamente as
relações do imperador com o partido
brasileiro.]
Constituição de 1824: outorgada em 25 de
marco de 1824 e foi, dentro de todas, a que
durou mais tempo (65 anos [de 1824 até
1889]), tendo sofrido considerável influência da
francesa de 1814. Foi marcada por forte
centralismo administrativo e político, tendo em
vista a figura do Poder Moderador,
constitucionalizado, e também por unitarismo e
absolutismo.
Características:
• Governo: monárquico, hereditário, constitucional e representativo.
Tratava-se de forma unitária de Estado, com nítida centralização político-
administrativa [Art. 3º, Constituição de 1824];
• Território: As antigas capitanias hereditárias foram transformadas em
Províncias, que, por sua vez, poderiam ser subdivididas As províncias
eram subordinadas ao Poder Central e tinham um presidente, nomeado
pelo Imperador e que poderia ser removido a qualquer tempo em nome
do bom serviço do Estado [Art. 2º, Constituição de 1824];
• Dinastia Imperante: A do senhor D. Pedro I, Imperador e Defensor
Perpétuo do Brasil [Art. 4º, Constituição de 1824].
[Art. 3º, Constituição de
1824].
Art. 3. O seu Governo é
Monarchico Hereditario,
Constitucional, e
Representativo.
[Art. 2º, Constituição de
1824].
Art. 2. O seu territorio é dividido em
Provincias na fórma em que
actualmente se acha, as quaes
poderão ser subdivididas, como
pedir o bem do Estado.
[Art. 4º, Constituição de
1824].
Art. 4. A Dynastia Imperante é
a do Senhor Dom Pedro I
actual Imperador, e Defensor
Perpetuo do Brazil.
• Religião Oficial do Império: Católica Apostólica Romana. Todas as outras
religiões eram permitidas com seu culto doméstico, ou particular, em
casas para isso destinadas, não podendo, contudo, ter qualquer
manifestação externa de templo [Artigos 5º, 103, 106 e 141, Constituição
de 1824.]
• Capital do Império brasileiro: A cidade do Rio de Janeiro foi a capital do
Império brasileiro de 1822 a 1889. Com o Ato Adicional n 16, de
12.04.1834, a cidade do Rio de Janeiro foi transformada em município
neutro ou município da Corte, entidade territorial para a sede da
Monarquia. O município neutro apresentava importantes características:
o relacionamento direto com o poder central, ao invés da submissão ao
poder da Província do Rio de Janeiro.
[Artigos 5º, 103, 106 e 141, Constituição de
1824.]
Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser
a Religião do Imperio. Todas as outras Religiões serão
permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para
isso destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo.
Art. 103. 0 Imperador antes do ser acclamado prestará nas
mãos do Presidente do Senado, reunidas as duas Camaras, o
seguinte Juramento - Juro manter a Religião Catholica
Apostolica Romana, a integridade, e indivisibilidade do Imperio;
observar, e fazer observar a Constituição Politica da Nação
Brazileira, e mais Leis do Imperio, e prover ao bem geral do
Brazil, quanto em mim couber.
Art. 106. 0 Herdeiro presumptivo, em completando
quatorze annos de idade, prestará nas mãos do
Presidente do Senado, reunidas as duas Camaras, o
seguinte Juramento - Juro manter a Religião Catholica
Apostolica Romana, observar a Constituição Politica da
Nação Brazileira, e ser obediente ás Leis, e ao
Imperador.
Art. 141. Os Conselheiros de Estado, antes de tomarem
posse, prestarão juramento nas mãos do Imperador de -
manter a Religião Catholica Apostolica Romana; observar
a Constituição, e às Leis; ser fieis ao Imperador;
aconselhal-o segundo suas consciencias, attendendo
sómente ao bem da Nação.
• Organização dos Poderes: Seguindo a idéia de Benjamim Constant não se adotou a
separação tripartida de Montesquieu. Isso porque, além das funções legislativas, executiva
e judiciária, se estabeleceu a função moderadora [Art. 10º].
• Poder Legislativo: Exercido pela Assembléia Geral, com a sanção do Imperador, que, por
sua vez, era composta de duas câmaras: Câmara do Deputados e Câmara de Senadores, ou
Senado. A Câmara dos Deputados era eletiva e temporária; a de Senadores, vitalícia,
sendo os seus membros nomeados pelo Imperador dentre uma lista tríplice enviada pela
província . [Art 10º; Art 13; Art 179, XXX; Art 179, XXXV]
• Eleições para o Legislativo: Indiretas. [Art 43; Art 90; Art 91; Art 97]
• Sufrágio: Censitário, ou seja, baseava-se em determinadas condições econômico-
financeira de seus titulares (para votar e ser votado) votado) [Capítulo VI].
[Art. 10º, da Constituição de
1824].
Art. 10º. Os Poderes Politicos
reconhecidos pela Constituição do
Imperio do Brazil são quatro: o Poder
Legislativo, o Poder Moderador, o Poder
Executivo, e o Poder Judicial.
[Art 10º; Art 13; Art 179, XXX, XXXV; da
Constituição de 1824].
Art. 10º. Os Poderes Politicos reconhecidos pela Constituição do Imperio do Brazil são quatro: o
Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo, e o Poder Judicial.
Art. 13. O Poder Legislativo é delegado á Assembléa Geral com a Sancção do Imperador.
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a
liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela
maneira seguinte.
XXX.. Todo o Cidadão poderá apresentar por escripto ao Poder Legislativo, e ao Executivo
reclamações, queixas, ou petições, e até expôr qualquer infracção da Constituição, requerendo
perante a competente Auctoridade a effectiva responsabilidade dos infractores.
XXXV. Nos casos de rebellião, ou invasão de inimigos, pedindo a segurança do Estado, que
se dispensem por tempo determinado algumas das formalidades, que garantem a liberdede
individual, poder-se-ha fazer por acto especial do Poder Legislativo. Não se achando porém a esse
tempo reunida a Assembléa, e correndo a Patria perigo imminente, poderá o Governo exercer esta
mesma providencia, como medida provisoria, e indispensavel, suspendendo-a immediatamente que
cesse a necessidade urgente, que a motivou; devendo num, e outro caso remetter á Assembléa, logo
que reunida fôr, uma relação motivada das prisões, e d'outras medidas de prevenção tomadas; e
quaesquer Autoridades, que tiverem mandado proceder a ellas, serão responsaveis pelos abusos,
que tiverem praticado a esse respeito.
[Art 43; Art 90; Art 91; Art 97, da Constituição
de 1824].
Art. 43. As eleições serão feitas pela mesma maneira, que as dos
Deputados, mas em listas triplices, sobre as quaes o Imperador escolherá o
terço na totalidade da lista.
Art. 90. As nomeações dos Deputados, e Senadores para a Assembléa
Geral, e dos Membros dos Conselhos Geraes das Provincias, serão feitas
por Eleições indirectas, elegendo a massa dos Cidadãos activos em
Assembléas Parochiaes os Eleitores de Provincia, e estes os
Representantes da Nação, e Provincia.
Art. 91. Têm voto nestas Eleições primarias
I. Os Cidadãos Brazileiros, que estão no gozo de seus direitos
politicos.
II. Os Estrangeiros naturalisados.
Art. 97. Uma Lei regulamentar marcará o modo pratico das Eleições, e o
numero dos Deputados relativamente á população do Imperio.
[Capítulo VI, da Constituição de 1824].
CAPITULO VI.
Das Eleições.
Art. 90. As nomeações dos Deputados, e Senadores para a Assembléa Geral, e dos Membros dos Conselhos Geraes das Provincias, serão feitas por Eleições indirectas, elegendo a massa dos
Cidadãos activos em Assembléas Parochiaes os Eleitores de Provincia, e estes os Representantes da Nação, e Provincia.
Art. 91. Têm voto nestas Eleições primarias
I. Os Cidadãos Brazileiros, que estão no gozo de seus direitos politicos.
II. Os Estrangeiros naturalisados.
Art. 92. São excluidos de votar nas Assembléas Parochiaes.
I. Os menores de vinte e cinco annos, nos quaes se não comprehendem os casados, e Officiaes Militares, que forem maiores de vinte e um annos, os Bachares Formados, e Clerigos de Ordens
Sacras.
II. Os filhos familias, que estiverem na companhia de seus pais, salvo se servirem Officios publicos.
III. Os criados de servir, em cuja classe não entram os Guardalivros, e primeiros caixeiros das casas de commercio, os Criados da Casa Imperial, que não forem de galão branco, e os
administradores das fazendas ruraes, e fabricas.
IV. Os Religiosos, e quaesquer, que vivam em Communidade claustral.
V. Os que não tiverem de renda liquida annual cem mil réis por bens de raiz, industria, commercio, ou Empregos.
Art. 93. Os que não podem votar nas Assembléas Primarias de Parochia, não podem ser Membros, nem votar na nomeação de alguma Autoridade electiva Nacional, ou local.
Art. 94. Podem ser Eleitores, e votar na eleição dos Deputados, Senadores, e Membros dos Conselhos de Provincia todos, os que podem votar na Assembléa Parochial. Exceptuam-se
I. Os que não tiverem de renda liquida annual duzentos mil réis por bens de raiz, industria, commercio, ou emprego.
II. Os Libertos.
III. Os criminosos pronunciados em queréla, ou devassa.
Art. 95. Todos os que podem ser Eleitores, abeis para serem nomeados Deputados. Exceptuam-se
I. Os que não tiverem quatrocentos mil réis de renda liquida, na fórma dos Arts. 92 e 94.
II. Os Estrangeiros naturalisados.
III. Os que não professarem a Religião do Estado.
Art. 96. Os Cidadãos Brazileiros em qualquer parte, que existam, são elegiveis em cada Districto Eleitoral para Deputados, ou Senadores, ainda quando ahi não sejam nascidos, residentes ou
domiciliados.
Art. 97. Uma Lei regulamentar marcará o modo pratico das Eleições, e o numero dos Deputados relativamente á população do Imperio.
• Poder Executivo: A função executiva era exercida pelo Imperador Chefe do Poder
Executivo, por intermédio de seus ministros de Estado. Em um primeiro momento, para
continuar no poder, os Ministros não dependiam da confiança do Parlamentarismo.
Contudo, a partir da abdicação do Trono por D Pedro I, em 7 de abril de 1831, durante a
fase da Regência (que durou 9 anos, durante a menoridade de D. Pedro II, que contava
apenas com 5 anos de idade, tendo existido 4 Regências) e, em seguida, graças ao espírito
moderado de D. Pedro II, o segundo Imperador do Brasil, assumiu o trono aos 15 anos de
idade, em 18 de julho de 1841, contribuiu para a paulatina instituição do parlamentarismo
monárquico no Brasil durante o segundo reinado. O parlamentarismo se consolidou com a
criação do cargo de Presidente do Conselho de Ministros pelo Decreto 523, de 20.07.
1847, segundo o qual D. Pedro II escolhia o Presidente do Conselho e este, por sua vez,
escolhia os demais ministros que deveriam ter a confiança dos Deputados e do Imperador,
sob pena de ser dissolvido (alguns chegam a denominá-lo um parlamentarismo as
avessas, já que o Presidente do Conselho, que equivaleria ao Primeiro Ministro da
Inglaterra, era escolhido pelo Imperador e, portanto, a este subordinado e não ao
Parlamento). Parlamento) [Art 37; 53; 55; 83, IV; 84; 102; 132; 148; 179, XXX.]
[Art 37 , da Constituição de 1824]
Art. 37. Tambem principiarão na
Camara dos Deputados
I. O Exame da administração
passada, e reforma dos abusos nella
introduzidos.
A discussão das propostas, feitas
polo Poder Executivo.
[Art. 53 , da Constituição de 1824]
Art. 53.O Poder Executivo exerce por
qualquer dos Ministros de Estado a
proposição, que lhe compete na
formação das Leis; e só depois de
examinada por uma Commissão da
Camara dos Deputados, aonde deve ter
principio, poderá ser convertida em
Projecto de Lei.
[Art. 55 , da Constituição de 1824]
Art. 55. Se a Camara dos Deputados
adaptar o Projecto, o remetterá á dos
Senadores com a seguinte formula - A
Camara dos Deputados envia á
Camara dos Senadores a Proposição
junta do Poder Executivo (com
emendas, ou sem ellas) e pensa, que
ella tem logar.
[Art. 83, IV, da Constituição de 1824]
Art. 83. Não se podem propôr, nem
deliberar nestes Conselhos Projectos.
IV. Sobre execução de Leis,
devendo porém dirigir a esse respeito
representações motivadas á Assembléa
Geral, e ao Poder Executivo
conjunctamente.
[Art. 84 , da Constituição de 1824]

Art. 84. As Resoluções dos


Conselhos Geraes de
Provincia serão remettidas
directamente ao Poder
Executivo, pelo intermedio do
Presidente da Provincia.
[Art. 102 , da Constituição de 1824]
CAPITULO II.
Do Poder Executivo.
Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus Ministros de Estado.
São suas principaes attribuições
I. Convocar a nova Assembléa Geral ordinaria no dia tres de Junho do terceiro anno da Legislatura existente.
II. Nomear Bispos, e prover os Beneficios Ecclesiasticos.
III. Nomear Magistrados.
IV. Prover os mais Empregos Civis, e Politicos.
V. Nomear os Commandantes da Força de Terra, e Mar, e removel-os, quando assim o pedir o Serviço da Nação.
VI. Nomear Embaixadores, e mais Agentes Diplomaticos, e Commerciaes.
VII. Dirigir as Negociações Politicas com as Nações estrangeiras.
VIII. Fazer Tratados de Alliança offensiva, e defensiva, de Subsidio, e Commercio, levando-os depois de concluidos ao conhecimento da Assembléa Geral, quando o interesse, e
segurança do Estado permittirem. Se os Tratados concluidos em tempo de paz envolverem cessão, ou troca de Torritorio do Imperio, ou de Possessões, a que o Imperio tenha direito,
não serão ratificados, sem terem sido approvados pela Assembléa Geral.
IX. Declarar a guerra, e fazer a paz, participando á Assembléa as communicações, que forem compativeis com os interesses, e segurança do Estado.
X. Conceder Cartas de Naturalisação na fórma da Lei.
XI. Conceder Titulos, Honras, Ordens Militares, e Distincções em recompensa de serviços feitos ao Estado; dependendo as Mercês pecuniarias da approvação da Assembléa,
quando não estiverem já designadas, e taxadas por Lei.
XII. Expedir os Decretos, Instrucções, e Regulamentos adequados á boa execução das Leis.
XIII. Decretar a applicação dos rendimentos destinados pela Assembléa aos varios ramos da publica Administração.
XIV. Conceder, ou negar o Beneplacito aos Decretos dos Concilios, e Letras Apostolicas, e quaesquer outras Constituições Ecclesiasticas que se não oppozerem á Constituição;
e precedendo approvação da Assembléa, se contiverem disposição geral.
XV. Prover a tudo, que fôr concernente á segurança interna, e externa do Estado, na fórma da Constituição.
[Art. 132 , da Constituição de 1824]

Art. 132. Os Ministros de


Estado referendarão, ou
assignarão todos os Actos do
Poder Executivo, sem o que
não poderão ter execução
[Art. 148 , da Constituição de 1824]

Art. 148. Ao Poder Executivo


compete privativamente empregar
a Força Armada de Mar, e Terra,
como bem lhe parecer conveniente
á Segurança, e defesa do Imperio.
[Art. 179, XXX , da Constituição de 1824]
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos
dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade,
a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela
Constituição do Imperio, pela maneira seguinte.
XXX.. Todo o Cidadão poderá apresentar por
escripto ao Poder Legislativo, e ao Executivo
reclamações, queixas, ou petições, e até expôr qualquer
infracção da Constituição, requerendo perante a
competente Auctoridade a effectiva responsabilidade dos
infractores.
• Poder Judiciário: O denominado Poder Judicial era independente e
composto de Juízes e Jurados. Os Juízes aplicavam a Lei; os Jurados
pronunciavam sobre os fatos. Aos juízes de direito era assegurada a
vitaliciedade (os juízes de direito serão perpétuos, só podendo
perder o lugar por sentença, não se lhes assegurando, contudo, a
inamovibilidade). O Imperador podia suspendê-los por queixas que
lhe eram feitas. Para julgar as causas em segunda e última instância,
nas províncias do império, foram criadas as Relações. Na Capital do
Império foi estabelecido, como órgão de cúpula do Judiciário, o
Supremo Tribunal de Justiça, composto de juízes togados,
provenientes das Relações das Províncias e pelo critério da
antiguidade. [Art 151; Art 179, XII].
[Art 151 , da Constituição de 1824]
Art. 151. O Poder Judicial
independente, e será composto de
Juizes, e Jurados, os quaes terão logar
assim no Civel, como no Crime nos
casos, e pelo modo, que os Codigos
determinarem.
[Art 179, XII, da Constituição de 1824]
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e
Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por
base a liberdade, a segurança individual, e a
propriedade, é garantida pela Constituição do
Imperio, pela maneira seguinte.
XII. Será mantida a independencia do Poder
Judicial. Nenhuma Autoridade poderá avocar as
Causas pendentes, sustal-as, ou fazer reviver os
Processos findos.
• Poder Moderador: Sem dúvida, foi o mecanismo que serviu
para assegurar a estabilidade do trono do Imperador durante
o reinado no Brasil. Afonso Arinos destaca que o criador da
ideia de Poder Moderador, Benjamin Constat, sofreu
influência de Clermont Tonerre. O Imperador, que exercia o
Poder Moderador, no âmbito do legislativo, nomeava
senadores, convocava a Assembléia Geral Legislativa,
dissolvia a Câmara dos Deputados, convocando
imediatamente outra, que a substituía. No âmbito do
Executivo, nomeava e demitia livremente os Ministros de
Estado. E por fim, no âmbito do Judiciário, suspendia os
Magistrados. [Art. 98; Art. 101; Art. 142]
[Art. 98 , da Constituição de 1824]
Art. 98. O Poder Moderador é a chave de
toda a organisação Politica, e é delegado
privativamente ao Imperador, como Chefe
Supremo da Nação, e seu Primeiro
Representante, para que incessantemente
vele sobre a manutenção da Independencia,
equilibrio, e harmonia dos mais Poderes
Politicos.
[Art. 101, da Constituição de 1824]
Art. 101. O Imperador exerce o Poder Moderador
I. Nomeando os Senadores, na fórma do Art. 43.
II. Convocando a Assembléa Geral extraordinariamente nos intervallos das
Sessões, quando assim o pede o bem do Imperio.
III. Sanccionando os Decretos, e Resoluções da Assembléa Geral, para que tenham
força de Lei: Art. 62.
IV. Approvando, e suspendendo interinamente as Resoluções dos Conselhos
Provinciaes: Arts. 86, e 87.
V. Prorogando, ou adiando a Assembléa Geral, e dissolvendo a Camara dos
Deputados, nos casos, em que o exigir a salvação do Estado; convocando
immediatamente outra, que a substitua.
VI. Nomeando, e demittindo livremente os Ministros de Estado.
VII. Suspendendo os Magistrados nos casos do Art. 154.
VIII. Perdoando, e moderando as penas impostas e os Réos condemnados por
Sentença.
IX. Concedendo Amnistia em caso urgente, e que assim aconselhem a
humanidade, e bem do Estado.
[Art. 142, da Constituição de 1824]
Art. 142. Os Conselheiros serão ouvidos em
todos os negocios graves, e medidas geraes da
publica Administração; principalmente sobre a
declaração da Guerra, ajustes de paz,
nogociações com as Nações Estrangeiras,
assim como em todas as occasiões, em que o
Imperador se proponha exercer qualquer das
attribuições proprias do Poder Moderador,
indicadas no Art. 101, à excepção da VI.
• Tentativa frustrada de se instalar o Estado federativo
durante o Império: A regência permanente, em nome do
Imperador D. Pedro II, tendo em vista os poderes de reforma
atribuídos pela Lei de 12.10.1832, nos termos do artigo 1º da
Lei n. 16 de 12.08.1834 (Ato Adicional) criou as chamadas
Assembleias Legislativas Provinciais, com considerável
autonomia. Contudo, contrariamente ao interesse de
determinados segmentos, não se conseguiu acabar com o
Poder Moderador, nem com o absolutismo reinante,
especialmente a partir do advento da Lei n 105 de
12.05.1840, chamada Lei de Interpretação, que restabeleceu,
fortemente, a ideia centralizadora e a figura do Poder
Moderador.
Resumo da Constituição de 1824
CONSTITUIÇÃO DE 1891
Constituição de 1891 [(Ou Constituição
da República dos Estados Unidos do Brasil),
foi a segunda constituição do país e a
primeira do Brasil República, marcando a
transição do regime monárquico para o
republicano.]
Constituição de 1891: A Assembleia Constituinte foi eleita em
1890. Em 24 de fevereiro de 1891, a primeira Constituição da
República do Brasil (a segunda do Constitucionalismo pátrio) e
promulgada, sofrendo pequena reforma em 1926 e vigorando
até 1930. A Constituição de 1891 teve por relator o Senador
Rui Barbosa e sofreu forte influência da Constituição norte-
americana de 1787, consagrando o sistema de governo
presidencialista, a forma de Estado Federal, abandonando o
unitarismo e a forma de governo republicana em substituição
à Monarquia.
Características:
• Forma de Governo Federativa e regime representativo:
Nos termos de seu artigo 1º da Constituição de 1891, a
Nação brasileira adotou, como forma de governo, sob o
regime representativo, a República Federativa,
proclamada em 15 de novembro de 1889. Declarou,
ainda, a união perpétua, e indissolúvel das antigas
Províncias, transformando-as em Estados Unidos do
Brasil e vedando, assim, a possibilidade de secessão
(qual seja separação, segregação do pacto, federativo)
• Distrito Federal - Capital do Brasil, tendo por sede a cidade do Rio de Janeiro: Nos
termos do artigo 2º da Constituição de 1891, o antigo Município Neutro (Rio de Janeiro,
que era a sede do Poder Central do Império) foi transformado em Distrito Federal,
continuando a ser a Capital da União, enquanto não cumprida a determinação contida no
artigo 3º da Constituição de 1891, com a seguinte previsão: fica pertencendo a União, no
planalto central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será
oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital Federal. Efetuada a
mudança da Capital, o atual Distrito Federal passara a constituir um Estado) Nesse
sentido, o artigo 1º da Primeira Lei Orgânica do DF, a Lei n 85, de 20 de setembro de 1892,
manteve a natureza municipal da capital do país (Distrito Federal), ao estabelecer: o
Distrito Federal compreende o território do antigo Município Neutro, tem por sede a
cidade do Rio de Janeiro e continua constituído em Município.
[Art. 1º, 2º e 3º da Constituição de 1891]
Art 1º - A Nação brasileira adota como forma de Governo, sob o
regime representativo, a República Federativa, proclamada a 15 de
novembro de 1889, e constitui-se, por união perpétua e indissolúvel
das suas antigas Províncias, em Estados Unidos do Brasil.
Art 2º - Cada uma das antigas Províncias formará um Estado e o
antigo Município Neutro constituirá o Distrito Federal, continuando a
ser a Capital da União, enquanto não se der execução ao disposto no
artigo seguinte.
Art 3º - Fica pertencendo à União, no planalto central da República,
uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente
demarcada para nela estabeIecer-se a futura Capital federal.
Parágrafo único - Efetuada a mudança da Capital, o atual
Distrito Federal passará a constituir um Estado.
Secularização e Destituição de Religião Oficial: O Brasil, nos termos do que já havia sido
estabelecido pelo Decreto n 119-A, de 07.01.1890, constitucionaliza-se como sendo um país
leigo, laico ou não-confessional. Retiram-se os efeitos cíveis do casamento religioso. Os
cemitérios, que eram controlados pela Igreja, passaram a ser administrados pela autoridade
municipal. Houve proibição do ensino religioso nas escolas públicas. Não se invocou, no
preâmbulo da Constituição, a expressão sob proteção de Deus para a sua promulgação.
Lembramos, por fim, que nos termos do artigo 4º do Decreto n 119-A, de 07.01.1890, já
havia sido extinto o padroado (direito que o Imperador tinha de intervir nas nomeações de
Bispos, bem como nos cargos e benefícios eclesiásticos), como todas as suas instituições,
recursos e prerrogativas. Como não havia mais religião oficial, naturalmente também, com o
texto de 1891, ficou extinta a concessão ou negativa de beneplácito régio aos Decretos dos
Concilio de Letras Apostólicas e quaisquer outras Constituições Eclesiásticas (ou seja, a
aprovação estatal dos aludidos documentos para a vigência interna, não existindo mais nos
termos do artigo 102, XIV, da Constituição de 1824). Ainda, em igual sentido, o fato de o
Estado ter se separado da Igreja determinou a extinção do recurso à coroa para atacar as
decisões dos Tribunais Eclesiásticos.
[Art. 4º, da Constituição de 1890].

Art 4º - Os Estados podem incorporar-se


entre si, subdividir-se ou desmembrar-se,
para se anexar a outros, ou formar novos
Estados, mediante aquiescência das
respectivas Assembléias Legislativas, em
duas sessões anuais sucessivas, e
aprovação do Congresso Nacional.
• Organização de Poderes: O Poder Moderador foi extinto, adotando-se a teoria clássica de
Montesquieu da tripartição de Poderes. Nesses termos o artigo 15 da Constituição de 1891
estabeleceu como órgãos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário,
harmônicos e independentes entre si. [Art. 15]
• Poder Legislativo: O Poder Legislativo Federal era exercido pelo Congresso Nacional, com a sanção
do Presidente da República, sendo este composto por dois ramos ou casas: a Câmara dos
Deputados e o Senado Federal. Fixava-se, assim, o bicameralismo federativo. A Câmara dos
Deputados era composta de representantes do povo eleitos pelos Estados e pelo Distrito Federal,
mediante sufrágio direto, garantida a representação da minoria. Cada Deputado exercia mandato
de 3 anos. Já o Senado Federal representava os Estados e o Distrito Federal, sendo eleitos três
Senadores por Estado e três pelo Distrito Federal, eleitos pelo mesmo modo que eram eleitos os
deputados, para mandato de nove anos, renovando-se o Senado pelo terço trienalmente (ou seja,
um a cada três anos, já que o mandato era de 9 anos e junto com as eleições para deputados, que
tinham o mandato de 3 anos). O Poder Legislativo também foi estabelecido em âmbito estadual.
Alguns Estados, curiosamente, possuíam 2 casas, caracterizando-se, assim, a idéia de
bicameralismo estadual como podia ser percebido em São Paulo e Pernambuco, que tinham, além
da Câmara dos Deputados (Estaduais),um Senado Estadual.
[Art. 15, da Constituição de 1890]

Art 15 - São órgãos da


soberania nacional o Poder
Legislativo, o Executivo e o
Judiciário, harmônicos e
independentes entre si.
Poder Executivo: Exercido pelo Presidente da República dos Estados
Unidos do Brasil, como chefe eletivo da Nação, era eleito junto com o
Vice-Presidente por sufrágio Universal da Nação, para mandato de 4
anos, não podendo ser reeleito para um período subseqüente. Cabe
alertar, contudo, nos termos do artigo 1º das Disposições Transitórias da
Constituição de 1891, muito embora a previsão e conquista das eleições
diretas, que a primeira eleição da República foi indireta, pelo Congresso
Nacional, elegendo-se o Presidente Marechal Deodoro da Fonseca e o
Vice-Presidente do Brasil Marechal Floriano Peixoto. O Presidente da
República era auxiliado pelos Ministros de Estado, agentes, de sua
confiança que lhe subscreviam os atos e eram nomeados e demitidos
livremente. Interessante notar que alguns Estados designavam o seu
executivo local como presidente, enquanto outros, como o governador.
Assim, era possível perceber a figura dos Presidentes Estaduais
exercendo o executivo local.
Poder Judiciário: O órgão máximo do Judiciário passou a se
chamar de Supremo Tribunal Federal, composto de 15 juízes.
Estabelece-se a hipótese dos crimes de responsabilidade. Houve
expressa previsão de garantia da vitaliciedade para os Juízes
Federais e para os membros do Supremo Tribunal Militar. Para os
Juízes Federais, houve expressa previsão da garantia da
irredutibilidade de vencimentos. A Justiça Federal foi mantida na
Constituição. Cabe lembrar que o Decreto nº 848, de 11.10.1890
por inspiração do modelo norte-americano da Constituição de
1789 (lembrando, ainda, o suíço de 1874 e o argentino nos
termos das leis de 1882 e 1883), já havia criado a Justiça Federal
no Brasil, exercida por um Supremo Tribunal Federal e por juízes
inferiores intitulados Juízes de Seção.
Década de 1920:
Ascensão dos Movimentos Sindicais e pressão das mulheres pelo
direito ao voto, com a criação da Federação Brasileira pelo
Progresso Feminino, por Bertha Lutz;

1928:
Celina Guimarães Viana tem seu registro aprovado como eleitora
em Mossoró (RN);
Alzira Soriano é eleita prefeita de Lajes (RN);
Fortalecimento do Partido Comunista no Brasil;

1931:
Criação da Frente Negra Brasileira;
Resumo da Constituição de 1890
CONSTITUIÇÃO DE 1934
A CONSTITUIÇÃO DE 1934 (Ou A Constituição da República
dos Estados Unidos do Brasil de 1934) foi a segunda constituição
republicana e a terceira da história do Brasil, instituída no fim do
governo provisório de Getúlio Vargas (1930-34) para dar
legitimidade à sua presidência, bem como para amainar
frustrações populares que culminaram, como evento mais
marcante, na Revolução Constitucionalista de 1932. Embora tenha
sido a constituição menos duradoura, a Carta de 1934 deixou
heranças cruciais para o direito constitucional brasileiro,
estabelecendo o sufrágio feminino e o voto secreto, maior
independência do poder judiciário, direitos trabalhistas e, por fim,
noções de liberdades básicas (como de livre expressão e
movimento) junto com os três direitos fundamentais já em voga
(segurança individual, liberdade e propriedade). Sua vigência
durou até a Constituição de 1937, que instituiu o Estado Novo
(1937-45).
Constituição de 1934: O texto de 1934, sofreu forte influência da
Constituição de Weimar da Alemanha de 1919, evidenciando,
assim, os direitos humanos de 2º geração ou dimensão e
perspectiva de um Estado Social de Direito (democracia social).
Há influência, também, do fascismo, já que o texto estabeleceu,
além do voto direto para a escolha dos Deputados, a modalidade
indireta, por intermédio da chamada representação classista do
parlamento. Dentro de constitucionalismo pátrio o texto de 34
teve curtíssima duração, sendo abolida pelo golpe de 1937.
Foram mantidos alguns princípios fundamentais, como a
República, a Federação, a tripartição de poderes, o
presidencialismo e o regime representativo.
Características da Constituição de 1934:
• Forma de Governo Federativa e Regime Representativo: Nos
termos do artigo 1º, a Nação brasileira, constituída pela
união perpétua e indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal
e dos Territórios em Estados Unidos do Brasil, mantém como
forma de governo, sob o regime representativo, a República
Federativa proclamada em 15 de novembro de 1889. Os
poderes da União foram consideravelmente aumentados,
discriminando-se as rendas tributárias entre União, Estados e
Municípios.
[Art. 1º da Constituição de 1934]

Art 1º - A Nação brasileira, constituída pela


união perpétua e indissolúvel dos Estados,
do Distrito Federal e dos Territórios em
Estados Unidos do Brasil, mantém como
forma de Governo, sob o regime
representativo, a República federativa
proclamada em 15 de novembro de 1889.
• Capital da República - Distrito Federal - tendo por sede a cidade do Rio de
Janeiro: o Distrito Federal, administrado por um Prefeito, foi mantido,
como sede no Rio de Janeiro, como Capital da República. Nos termos do
artigo 4º das disposições transitórias, havia a previsão de transferência da
Capital da União para um ponto central do Brasil. O Presidente da
República, logo que a Constituição entrasse em vigor, nomearia uma
Comissão que, sob instruções do Governo, procederia a estudos de várias
localidades adequadas à instalação da Capital. Concluídos tais estudos, os
resultados seriam apresentados a Câmara dos Deputados, que
escolheriam o local e tomaria, sem perda de tempo, as providências
necessárias à mudança, efetuada esta, o Distrito Federal passaria a
constituir um Estado da federação.
[Art. 4º da Constituição de 1934]

Art 4º - O Brasil só declarará guerra se não


couber ou malograr-se o recurso do
arbitramento; e não se empenhará jamais
em guerra de conquista, direta ou
indiretamente, por si ou em aliança com
outra nação.
• Mantida a inexistência de religião oficial: O país continuou
leigo, laico ou não-confessional, sendo inviolável a liberdade
de consciência e de crença e garantido o livre exercício dos
cultos religiosos, desde que não contravenham a ordem
pública e os bons costumes.
• Organização dos Poderes: A teoria clássica de Montesquieu
da tripartição de poderes foi mantida. Nos termos do artigo
3º são órgãos da soberania nacional, dentro dos limites
constitucionais, os Poderes Legislativos, Executivo e
Judiciário, independentes e coordenados entre si.
Poder Legislativo: Era exercido pela Câmara dos Deputados com a colaboração do
Senado Federal. Rompia-se, assim, com o princípio do bicameralismo rígido ou
paritário, no qual as duas casas exercem funções básicas idênticas. Estabelecia-se, por
consequência, um bicameralismo desigual, também chamado pela doutrina de
unicameralismo imperfeito, já que como visto, o SF era um mero colaborador da CD.
O mandato dos deputados compunha-se de representantes do povo, eleitos
mediante sistema proporcional e sufrágio universal, igual e direto, e de
representantes eleitos pelas organizações profissionais na forma que a lei indicasse
(representação corporativa de influência fascista). Já em relação ao Senado Federal,
nos termos do artigo 41, parágrafo 3º, a competência legislativa se reduzia às
matérias relacionadas à federação, como a iniciativa das leis sobre a intervenção
federal e, em geral, das quais interessassem determinadamente a um ou mais
Estados. Conforme o artigo 89, o Senado Federal era composto de dois
representantes de cada Estado e do Distrito Federal, eleitos mediante sufrágio
universal, igual e direto por oito anos, dentre brasileiros natos, alistados eleitores e
maiores de 35 anos, sendo que a representação de cada Estado e do Distrito Federal,
no Senado, renovava-se pela metade, conjuntamente com a eleição da Câmara dos
Deputados.
[Art. 3º da Constituição de 1934]
Art 3º - São órgãos da soberania nacional,
dentro dos limites constitucionais, os
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário,
independentes e coordenados entre si.
§ 1º - É vedado aos Poderes
constitucionais delegar suas atribuições.
§ 2º - O cidadão investido na função de
um deles não poderá exercer a de outro.
[Art, 41, §3º, da Constituição de 1934]
Art 41 - A iniciativa dos projetos de lei, guardado o disposto nos
parágrafo deste artigo, cabe a qualquer membro ou Comissão da
Câmara dos Deputados, ao Plenário do Senado Federal e ao
Presidente da República; nos casos em que o Senado colabora
com a Câmara, também a qualquer dos seus membros ou
Comissões.
§ 3º - Compete exclusivamente ao Senado Federal a
iniciativa das leis sobre a intervenção federal, e, em geral das
que interessem determinadamente a um ou mais Estados.
[Art. 89, da Constituição de 1934]
Art 89 - O Senado Federal compor-se-á de dois representantes
de cada Estado e o do Distrito Federal, eleitos mediante sufrágio
universal, igual e direto por oito anos, dentre brasileiros natos,
alistados eleitores e maiores de 35 anos.
§ 1º - A representação de cada Estado e do Distrito
Federal, no Senado, renovar-se-á pela metade, conjuntamente
com a eleição da Câmara dos Deputados.
§ 2º - Os Senadores têm imunidade, subsídio e ajuda de
custo idênticos aos dos Deputados e estão sujeitos aos mesmos
impedimentos incompatibilidades.
• Poder Executivo: Exercido pelo Presidente
da República, eleito junto com o vice-
presidente por sufrágio universal, direto,
secreto e maioria dos votos para mandato
de 4 anos, era vedada a reeleição. O
Presidente da República será auxiliado
pelos Ministros de Estado que passariam a
ter responsabilidade pessoal e solidária
com o Presidente.
• Poder Judiciário: Foram estabelecidos como órgãos do
Poder Judiciário:
- A Corte Suprema;
- Os Juízes e Tribunais Federais;
- Os Juízes e Tribunais Militares;
- Os Juízes e Tribunais Eleitorais, estabelecendo-se aos
juízes as garantias da vitaliciedade, inamovibilidade e
irredutibilidade de vencimentos. A Corte Suprema,
com sede na Capital da República e jurisdição em todo
território nacional, compunha-se de onze ministros;
A Constituição de 1934 manteve a secularização dos cemitérios e a
inexistência de religião oficial, mas não tomou medidas efetivas
para proteger nem garantir a liberdade de crença, consciência e
culto. De forma que favoreceu as religiões hegemônicas que
contavam com medidas discriminatórias e proselitistas, deixando
em risco outras denominações religiosas.
Também instituiu a educação eugênica, em que era proibido tratar
de questões que fizessem menção a raça/etnia e que não
dissessem respeito exclusivamente à ideia de povo brasileiro como
povo único, baseada na teoria da miscigenação e no mito da
democracia racial.
Insitiuiu a criminalização das religiões de matriz africana,
proibindo a realização das ritualísticas e gerando perseguição aos
adeptos de tais religiões.
Resumo da Constituição de 1934
CONSTITUIÇÃO DE 1937
Constituição de 1937 (Ou Constituição
Polaca), foi a 4ª Constituição brasileira e a 3ª do
período republicano. Ficou conhecida assim por ter
leis de inspiração fascista, tal qual a Carta Magna
polonesa de 1935. O texto foi elaborado pelo
jurista Francisco Campos e outorgada em 10 de
novembro de 1937.
•Constituição de 1937 (Polaca):

-Contexto: Expansão do autoritarismo de Vargas


sob acusação de crescimento do comunismo.
-Ação Integralista Brasileira (AIB): representante
da direita fascista. Lema: Deus, Pátria e Família;
-Aliança Libertadora Nacional (ANL): organização
de esquerda, com forte teor de enfrentamento ao
autoritarismo de Vargas.
•Organização do PCB e aproximação da
juventude nas escolas e
universidades/faculdades;
•Reivindicações advindas pelo Movimento
Sindical;
•Personagens importantes para o período: Carlos
Marighela; Olga Benário, Luiz Carlos Prestes,
Jorge Amado, Graciliano Ramos, Clara Scharf;
•Personagens de destaque pela direita fascista:
Plínio Salgado, Felinto Müller;
• Características da Constituição de 1937:
• Forma de Governo: Nos termos do artigo 1º, o Brasil é uma
República. O Poder político emana do povo e é exercido em
nome dele e no interesse do seu bem-estar, de sua honra, de
sua independência e de sua prosperidade;
• Forma de Governo: Brasil é um Estado Federal, constituído
pela União indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios. É mantida a sua atual divisão política e territorial.
Na prática, contudo, as autonomias estaduais foram
reduzidas e podemos dizer que o regime federativo foi
simplesmente nominal, havendo constante, senão até
permanente, assunção dos governos estaduais por
interventores federais. Por sua vez, os vereadores e prefeitos
eram nomeados pelos interventores de cada estado.
[Art. 1º da Constituição de 1937]

Art 1º - O Brasil é uma República. O


poder político emana do povo e é
exercido em nome dele e no interesse do
seu bem-estar, da sua honra, da sua
independência e da sua prosperidade.
• Distrito Federal - Capital do Brasil, tendo por sede a cidade
do Rio de Janeiro: nos termos do artigo 7º, o Distrito
Federal, que continuou como capital federal, enquanto sede
do Governo da República, era administrado pela União;
• Não religião oficial: Continuava o Brasil como país laico,
leigo e não confessional, não havendo, contudo, a invocação
à proteção de Deus no preâmbulo da Constituição;
• Organização dos Poderes: A teoria clássica da tripartição de
poderes de Montesquieu foi formalmente mantida.
Entretanto, na prática, tendo em vista o forte traço
autoritário do regime, o Legislativo e Judiciário foram
esvaziados;
[Art. 7º da Constituição de 1937]

Art. 7º - A Administração do atual Distrito


Federal, enquanto sede do Governo da
República, será organizada pela União.
• Poder Legislativo: Nos termos do artigo 38, o Poder
Legislativo seria exercido pelo Parlamento Nacional com a
colaboração do Conselho da Economia Nacional e do
Presidente da República. Havia a previsão de composição
do Parlamento Nacional por duas Câmaras: a Câmara dos
Deputados e o Conselho Federal. Assim, como se percebe,
o Senado Federal deixou de existir durante o Estado Novo.
A Câmara dos Deputados seria composta de representantes
do povo, eleitos mediante sufrágio indireto para mandato
de 4 anos. Já o Conselho Federal seria composto de
representantes dos Estados e dez membros nomeados pelo
Presidente da República. A duração do mandato era de seis
anos;
[Art. 38 da Constituição de 1937]
Art 38 - O Poder Legislativo é exercido pelo Parlamento
Nacional com a colaboração do Conselho da Economia
Nacional e do Presidente da República, daquele mediante
parecer nas matérias da sua competência consultiva e
deste pela iniciativa e sanção dos projetos de lei e
promulgação dos decretos-leis autorizados nesta
Constituição.
§ 1º - O Parlamento nacional compõe-se de duas
Câmaras: a Câmara dos Deputados e o Conselho Federal.
§ 2º - Ninguém pode pertencer ao mesmo tempo à
Câmara dos Deputados e ao Conselho Federal.
•Poder Executivo: Nos termos do artigo 73, o
Presidente da República, autoridade suprema
do Estado, coordenava a atividade dos órgãos
representativos, de grau superior, dirigia a
política interna e externa, promovia ou
orientava a política legislativa de interesse
nacional, e superintendia a administração do
País. A eleição indireta foi estabelecida para a
escolha do Presidente da República, que
cumpria mandato de 6 anos;
[Art. 73 da Constituição de 1937]

Art. 73 - O Presidente da República,


autoridade suprema do Estado, dirige a
política interna e externa, promove ou
orienta a política legislativa de interesse
nacional e superintende a Administração
do País.
Poder Judiciário: Nos termos do artigo 90, eram
órgãos do Poder Judiciário:
• O Supremo Tribunal Federal;
• Os Juízes e Tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios;
• Os Juízes e Tribunais Militares.
• A Justiça Eleitoral foi extinta e, conforme já
dito os partidos políticos também.
[Art. 90 da Constituição de 1937]

Art 90 - São órgãos do Poder


Judiciário:
a) o Supremo Tribunal Federal;
b) os Juízes e Tribunais dos Estados,
do Distrito Federal e dos Territórios;
c) os Juízes e Tribunais militares.
Instituição da Legislação Trabalhista sob caráter
nacional.
•Características das relações de trabalho:
•Não havia regulamentação das relações de
trabalho. Jornada de trabalho de 18 horas/dia;
sem proteção ao trabalhador; demissão por
justa causa realizada de forma arbitrária;
proibição do direito de greve;
•Ante às pressões sociais, Getúlio Vargas optou
por promulgar a CLT, inspirada na Carta del
Lavoro, da Itália, para dispersar o movimento
trabalhista que crescia em meio ao povo;
Resumo da Constituição de 1937
CONSTITUIÇÃO DE 1945
Constituição de 1945 (ou A Constituição dos Estados Unidos do
Brasil de 1945). Foi a quinta constituição brasileira, sua quarta
republicana e terceira de caráter republicano-democrático, promulgada
após a queda do Estado Novo em 1945. Um texto redemocratizador, a
Carta de 1945 espelhava a derrocada dos regimes
totalitários na Europa e o retorno, ainda que tênue, dos valores liberais
no mundo. De certo modo, ela tratou de restabelecer os valores
democráticos e republicanos da Constituição de 1934, como
a liberdades de expressão e as eleições diretas para os principais
cargos do Executivo e Legislativo, e de instituir alguns novos preceitos,
como a ampliação do voto feminino para todas as mulheres e a
inviolabilidade dos sigilos postais. No entanto, indicando tendências
centralistas do Poder Executivo, esta Constituição também manteve
algumas prerrogativas do período getulista, a exemplo do
corporativismo sindical. Sua vigência durou até a Constituição de 1967,
mas, na prática, ela virou "letra morta" nas mãos dos governantes
militares logo após o Golpe de 1964.
Constituição de 1945
• Oposição do Governo brasileiro aos países do Eixo (Japão,
Itália e Alemanha);
• Aliança do Brasil com China, EUA, França, Grã- Bretanha,
URSS;
• Desgastes do governo brasileiro, com perda de apoio da
burguesia e intelectuais, materializado pela Carta dos
Mineiros (1942), que abordava a contradição entre a
política interna e externa. Outros documentos similares
decorreram ressaltando o mesmo teor;
• Esta crise política forçou Vargas a assinar o Ato Adicional
em 1945, convocando eleições presidenciais e marcando a
derrocada final do Estado Novo.
Eleições:
• Durante a campanha para as eleições, surge o Queremismo, movimento
que reivindicava a volta/permanência de Getúlio Vargas na presidência,
o que levava a crer que Vargas permaneceria ou daria um novo golpe;
• O Estado Novo chegou ao seu ocaso quando Vargas tentou substituir o
Chefe de Polícia do Distrito Federal por seu irmão, Benjamin Vargas, e
nomeou João Alberto para prefeito do Rio de Janeiro. Episódio que
ocasionou na deposição de Vargas pelas Forças Armadas e no exercício
do Executivo pelo presidente do STF, ministro José Linhares;
• Com a eleição do General Gaspar Dutra como novo presidente da
república, floi convocada uma Assembleia Nacional Constituinte, em
01/02/1946, com promulgação de uma nova constituição
em 18/09/1946;
Características da Constituição:
• Forma de Governo Republicana e Forma de Estado
Federativa: Nos termos do artigo 1º os Estados
Unidos do Brasil mantém, sob o regime
representativo, a Federação e a República.
Prestigia o municipalismo;
• Capital da União: O Distrito Federal continuou a
Capital da União;
• Inexistência de religião oficial: Continuou o pais
laico, muito embora a expressa menção a Deus no
preâmbulo;
[Art. 1º da Constituição de 1945]
Art 1º - Os Estados Unidos do Brasil mantêm, sob o regime
representativo, a Federação e a República.
Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.
§ 1º - A União compreende, além dos Estados, o Distrito
Federal e os Territórios.
§ 2º - O Distrito Federal é a Capital da União.
• Poder Legislativo: Nos termos do artigo 37, o Poder Legislativo
era exercido pelo Congresso Nacional, que se compunha da
Câmara dos Deputados e dos Senado Federal, reaparecendo o
bicameralismo igual;
• Poder Executivo: Retomando a normalidade democrática, o
Presidente da República deveria ser eleito de forma direta para
mandato de 5 anos, junto com o Vice, que, como visto,
acumulava a função de Presidente do Senado Federal;
• Poder Judiciário: Foi retomada a situação de normalidade. O
Poder Judiciário era exercido pelos seguintes órgãos: A)
Supremo Tribunal Federal B) Tribunal Federal dos Recursos C)
Juízes e Tribunais Militares D) Juízes e Tribunais Eleitorais E)
Juízes e Tribunais do Trabalho.
[Art. 37 da Constituição de 1945]

Art 37 - O Poder Legislativo é


exercício pelo Congresso Nacional,
que se compõe da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal.
O Direito no Regime Militar
•Contexto: Deposição de João Goulart sob a falsa
acusação de comunismo. Instalação do governo
militar, composto por Costa e Silva, Francisco
Correia de Melo e Augusto Rademaker, integrantes
das forças armadas, que se instalaram como
vitoriosos em 01 de abril de 1964. Há fontes que
citam 31 de março como data do ocorrido.
•Com auxílio de Francisco de Melo Campos (o
mesmo que redigiu o texto da Constituição de 1937
– Polaca) foi elaborada uma sequência de Atos
Institucionais.
•Ato Institucional n°1/1964:
a)nos termos do artigo 6,
o Comando da Revolução poderia decretar o e
stado de sítio;
b)nos termos do artigo 7º, conferia-se
o poder de aposentar civis e militares;
c)nos termos do seu artigo 10º, o
de suspender direitos políticos, cassar mandat
os legislativos federais, estaduais e militares, e
xcluída a apreciação judicial desses atos etc.
[Art. 7º AI 1/64]
Art. 7º - Ficam suspensas, por seis (6) meses, as garantias constitucionais ou legais
de vitaliciedade e estabilidade.
§ 1º - Mediante investigação sumária, no prazo fixado neste artigo, os
titulares dessas garantias poderão ser demitidos ou dispensados, ou ainda, com
vencimentos e as vantagens proporcionais ao tempo de serviço, postos em
disponibilidade, aposentados, transferidos para a reserva ou reformados, mediante
atos do Comando Supremo da Revolução até a posse do Presidente da República
e, depois da sua posse, por decreto presidencial ou, em se tratando de servidores
estaduais, por decreto do governo do Estado, desde que tenham tentado contra a
segurança do Pais, o regime democrático e a probidade da administração pública,
sem prejuízo das sanções penais a que estejam sujeitos.
§ 2º - Ficam sujeitos às mesmas sanções os servidores municipais. Neste
caso, a sanção prevista no § 1º lhes será aplicada por decreto do Governador do
Estado, mediante proposta do Prefeito municipal.
§ 3º - Do ato que atingir servidor estadual ou municipal vitalício, caberá
recurso para o Presidente da República.
§ 4º - O controle jurisdicional desses atos limitar-se-á ao exame de
formalidades extrínsecas, vedada a apreciação dos fatos que o motivaram, bem
como da sua conveniência ou oportunidade.
[Art. 10º AI 1/64]
Art. 10 - No interesse da paz e da honra nacional, e sem
as limitações previstas na Constituição, os Comandantes-
em-Chefe, que editam o presente Ato, poderão suspender
os direitos políticos pelo prazo de dez (10) anos e cassar
mandatos legislativos federais, estaduais e municipais,
excluída a apreciação judicial desses atos.
Parágrafo único - Empossado o Presidente da
República, este, por indicação do Conselho de Segurança
Nacional, dentro de 60 (sessenta) dias, poderá praticar os
atos previstos neste artigo.
Ato Institucional n°2/1965: estabelecia eleições indiretas para Preside
nte e Vice-Presidente da República;
Ato Institucional n°3/1965: estabelecia eleições indiretas para os gove
rnos estaduais;
Ato Institucional n°4/1966: estabelecia a aprovação da Constituição d
e
1967, por meio da reabertura do Congresso Nacional, exclusivamente
para estes fins. Embora o texto constitucional tenha sido votado, apro
vado e promulgado, todos os atos foram dotados de impedimento d
e alterações por parte do Congresso Nacional,
o que ocasionava apenas a ratificação do regime ditatorial, sem partici
pação efetiva, logo, não há promulgação do texto constitucional e sim,
sua outorga;
Resumo da Constituição de 1945
CONSTITUIÇÃO DE 1967
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, ou
Constituição de 1967, foi a sexta constituição do Brasil e quinta de
sua república, bem como sua segunda e última constituição
republicana de caráter autoritário. Elaborada sob supervisão dos
militares no poder, esta Carta legitimava o regime iniciado pelo
Golpe de 1964, abandonando sua fachada democrática e
formalizando a ditadura militar. Talvez a mais repressiva de todas
as constituições, ela desfazia boa parte dos preceitos democráticos
da Constituição de 1946, servindo, na prática, de mero pretexto
para a ação do governo militar sobre a vida pública. Por si só muito
autocrática, concentrando poderes no Executivo e autorizando a
extinção de partidos políticos, ela foi suplementada por diversas
emendas, decretos-lei e, mais famosamente, atos institucionais,
que foram incorporados ao seu texto na Emenda Constitucional de
1969. Sua vigência seguiu até a promulgação da Constituição de
1988, símbolo da Nova República (1985 - atual) e da
redemocratização do país.
Constituição de 1967
Forma de governo: República;
Forma de
Estado: Muito embora o artigo 1°, estabelecesse ser o
Brasil uma República Federativa, constituída, sob o reg
ime representativo, pela união indissolúvel dos Estado
s, do Distrito Federal e dos Territórios, na prática,
o que se percebeu foi um duro golpe no federalismo,
mais se aproximando de um
Estado Unitário centralizado do que federativo;
[Art. 1º da Constituição de 1967]
Art 1º - O Brasil é uma República Federativa, constituída sob o
regime representativo, pela união indissolúvel dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios.
§ 1º - Todo poder emana do povo e em seu nome é
exercido.
§ 2º - São símbolos nacionais a bandeira e o hino
vigorantes na data da promulgação desta Constituição e outros
estabelecidos em lei.
§ 3º - Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão ter símbolos próprios.
• Capital da União: Nos termos do artigo 2º,
o Distrito Federal continuou sendo a
Capitalda União, lembrando que os Poderes da República já havi
am sido transferidospara Brasília, no Planalto Central do
País, inaugurada em 21 de abril de 1960;
• Inexistência de religião oficial: Continuou o Brasil
a ser um pais laico, embora houvesse a expressa menção a
Deus no preâmbulo;
• Organização dos poderes:
A teoria clássica da tripartição de Poderes de
Montesquieu foi formalmente mantida. Embora houvesse a prev
isão da tripartição de poderes, no fundo, existia um só, que era
o Executivo, visto que a situação reinante tornava por demais m
esquinhas as competências tanto do legislativo quanto
do Judiciário;
[Art. 2º da Constituição de 1967]

Art 2º - O Distrito Federal


é a Capital da União.
Poder Legislativo: Nos termos do artigo 29,
o Poder Legislativo era exercido pelo Congresso Nacional, que se co
mpunha da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A Câmara
dos Deputados era formada por representantes do povo, eleitos por
voto direto e secreto, em cada Estado
e Território e para mandato de 4 anos.
O Senado Federal compunha-se
de representantes dos Estados, eleitos pelo voto direto e secreto, se
gundo o princípio majoritário.
Cada Estado elegia três senadores, com mandato de oito anos,reno
vando-se
a representação de quatro a quatro anos, alternadamente por um
e por dois terços.
Na prática, contudo, o Legislativo teve a
sua competência diminuída;
[Art. 29 da Constituição de 1967]
Art 29 - O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso
Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal.
Poder Executivo: Fortalecido, era eleito para mandato de 4 anos,
de maneira indireta por do Colégio Eleitoral, composto pelos membros do Congres
so Nacional e
de Delegados indicados pelas Assembléias Legislativas dos Estados, em sessão, pú
blica e mediante votação nominal.
O Presidente da República legislava por decretos-
leis que poderiam ser editados em casos de urgência ou de interesse público relev
ante, e desde que não resultasse aumento de
despesa sobre as seguintes matérias: a) segurança b) finanças públicas;
O artigo 58, parágrafo único, previa a criticada aprovação por decurso de prazo do
decreto-lei, já que, publicado o texto, que tinha vigência imediata,
o Congresso Nacional o aprovava ou o rejeitava, dentro de
60 dias, não podendo emendá-lo. Se nesse prazo não houvesse deliberação,
o texto seria tido como aprovado.
Nos termos do artigo 60, estrategicamente, estabeleceu-se a iniciativa exclusiva do
Presidenteda República para certas matérias estratégicas, ou seja, só ele poderia d
eflagrar (dar início) o processo legislativo;
[Art. 58 da Constituição de 1967]
Art 58 - O Presidente da República, em casos de urgência ou
de interesse público relevante, e desde que não resulte
aumento de despesa, poderá expedir decretos com força de lei
sobre as seguintes matérias:
I - segurança nacional;
II - finanças públicas.
Parágrafo único - Publicado, o texto, que terá vigência
imediata, o Congresso Nacional o aprovará ou rejeitará, dentro
de sessenta dias, não podendo emendá-lo; se, nesse prazo,
não houver deliberação o texto será tido como aprovado.
•Poder Judiciário:
O Poder Judiciário da União era exercido pelos seguint
es órgãos:
a) Supremo Tribunal Federal;
b)Tribunais Federais de Recursos e Juízes Federais;
c)Tribunais e Juízes Militares; Tribunais e Juízes Eleitor
ais;
d)Tribunais e Juízes do Trabalho.
Havia previsão da Justiça Estadual. Em razão do centra
lismo, o Judiciário também teve a
sua competência diminuída.
Ato Institucional n° 5/1968:
Formalmente, foram mantidas a Constituição de 1967
e as Constituições Estaduais, com as modificações do
AI 5;
O Presidente
da República poderia decretar o recesso do Congresso
Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras
de Vereadores por ato complementar em estado de sí
tio ou fora dele, só voltando o mesmo a funcion
ar quando convocados pelo Presidente da República.
O Presidente
da República, no interesse nacional, poderia decretar
a intervenção nos Estados e municípios, sem as
limitações previstas na Constituição;
Os direitos políticos de quaisquer cidadãos poderiam
ser suspensos pelo prazo de
10 anos e cassados os mandatos eletivos federais, est
aduais e municipais;
Ficaram suspensas as garantias constitucionais ou lega
is de vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidad
e, bem como, a
de exercício em funções por prazo certo;
O Presidente
da República em quaisquer dos casos previstos na Constituição, po
deria decretar o Estado de Sítio e prorrogá-
lo, fixando o respectivo prazo;
O Presidente
da República poderia, após investigação, decretar o confisco de be
ns de todos quantos tivessem enriquecido ilicitamente, no ex
ercício do cargo ou função;
Suspendeu-se a garantia de habeas corpus,
nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional,
a ordem econômica e social e a economia popular.
O Congresso Nacional foi fechado no mesmo dia de promulgação d
o AI5 e prosseguiu fechado por um período de mais de 10 meses;
Resumo da Constituição de 1967
EMENDA CONSTITUCIONAL
DE 1969
Constituição de 1969-EC n. 1 de 17.10.1969
Adoecimento de Costa e Silva
e constituição do governo das Juntas Militares durante s
eu afastamento, com base no AI2;
EC 1/69 constitucionalizava o uso dos
Atos Institucionais, instituindo um novo poder constitui
nte originário, pois outorgava uma nova carta;
Aumento do mandato presidencial para 5 anos, manten
do-se por eleições indiretas e sem reeleição;
Milagre econômico durante o governo Médici, que indu
ziu pequenos pontos positivos para o governo vigente;
Resumo da Emenda Constitucional de 1969
PACOTES DE 1977/78
Pacote de Abril de 1977:
• Redução do quórum para aprovação de EC de
2/3 para maioria absoluta, flexibilizando-se assim,
a teórica rigidez constitucional;
• Estabelecimento da avocatória nos termos do artigo 119, I ``o`` da EC
n. 1/69, introduzido pela EC n.7/1977,
nos seguintes termos: as causas processadas perante quaisquer juízo
s ou tribunais, cuja avocação deferir a pedido do Procurador-
Geral da República, quando decorrer imediato perigo de
grave lesão à ordem , à saúde,
à segurança ou às finanças públicas, para que se suspendam os efeit
os de decisão proferida e para que o conhecimento integral
da lide lhe seja devolvido;
• Aumento do mandato do Presidente da República de
5 para 6 anos;
O 1/3
dos Senadores passou a ser eleito pelas Assembléias Legislativas, o
u melhor, pelo Colégio Eleitoral estadual,
nos termos do artigo 41, parágrafo 2º, na redação conferida pela EC
n. 8/1977.
Como a ARENA
(Partido Governamental) detinha maioria (com exceção do Estado
da Guanabara, no qual saiu vitorioso o MDB),
na prática se presenciou uma esquisita nomeação dos Senadores (j
á que a
ARENA detinha a maioria nos Estados), que, ironicamente, foram a
pelidados pela população de SENADORES BIÔNICOS;
Pacote de Junho de 1978:
•A revogação total ao AI-5;
•A suspensão das medidas que, com base do
AI-5 cassaram direitos políticos;
•A previsão de impossibilidade de suspensão d
o Congresso Nacional pelo Presidente
da República, eliminando, assim, alguns pode
res presidenciais.
Em consequência das pressões exercidas pelos Movimentos Sociais e pela Comunidad
e Internacional, os desgastes
da imagem do Páis, ocasionaram a lenta derrocada do regime militar, que foi dando a
bertura para a redemocratização do País. Com a EC
n°8/1977, editada no governo Figueiredo, foram instituídos mecanismos jurídicos que
proporcionaram a redemocratização, sendo:
• Lei
de Anistia: foi concedida a anistia para todos os que praticaram crimes políticos e co
nexos;
• Reforma Partidária: Ao modificar dispositivos da Lei 5.682, de 21 de julho de
1971, trouxe o fim do bipartidarismo ARENA X
MDB, regulamentando o pluralismo partidário. O ARENA transformou-se no PDS e
do MDB estabeleceram-se outros novos partidos: PMDB, PP, PDT e PTB;
• Emenda Constitucional n. 15 de
21.11.1980: Estabeleceu Eleições diretas em âmbito estadual: em 1982, ocorreu a el
eição direta para Governadores de Estado em razão da alteração trazida pela EC
n. 15/ 1980. O PDS ganhou em 12 Estados, o PMDB em 10 e o PDT em 1
Com a reabertura política, partidos colocados na clandestinidade, como o
PCB, retomaram seu status legal. Outros partidos de esquerda foram se organiza
ndo por meio da articulação e mobilização popular, como o PCdoB, que tem ori
gem na Guerrilha do Araguaia, e o
PT, que tem origem a partir dos sindicatos e nas comunidades periféricas das gra
ndes cidades.

O PT tem seu maior campo de organização política no ABC


Paulista, com destaque principal para São Bernardo do Campo
e tem como uma de suas principais lideranças, Luís Inácio Lula da
Silva, metalúrgico, que preside o Sindicato dos Metalúrgicos daquela cidade, tor
na-se deputado federal na constituinte e
é reconhecido como importante liderança política de então, sendo escolhido pel
o Partido dos Trabalhadores para disputar as eleições presidenciais de 1989,
e chegando ao segundo turno como adversário de Fernando Collor de Mello;
O PDT tem como uma de suas principais lideranças,
Leonel Brizola, governador do Rio
de Janeiro, que também disputa as eleições para presidente d
a República em 1989,
e no segundo turno apoia a candidatura de Lula;
Outros partidos como PSB e
PSDB surgem posteriormente com um viés mais moderado e
de postura mais alinhada à social-
democracia, tendo como suas referências principais Miguel Ar
raes (PSB) e Mário Covas (PSDB).
Assim, vai sendo ampliado o campo partidário brasileiro,
o que permite o pluralismo, dando possibilidades de
um debate de ideias maior e
de maior alcance junto à sociedade.
O Movimento Feminista, o
Movimento Nacional de Direitos Humanos, o
Movimento Negro e as pastorais sociais, ligadas à
Teologia da Libertação, tiveram papel fundament
al
na redemocratização do país e organização das lu
tas políticas.
Incidiram deforma contundente na constituinte, o
casionando o reconhecimento, ainda qu
e limitado,
de direitos aos grupos aos quais representavam.
Resumo dos pacotes 1977/78
Referências:
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Disponível em: O Trabalhismo da República Velha ao Estado Novo (jusbrasil.com.br)
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Xangôs em 1912: análise sobre a sua representação a partir da reflexão sobre a estética do Angelus
Novus em Walter Benjamin. Revista Espaço Acadêmico - n° 229 – jul a ago/2021 - Bimestral.
2. TEORIA DAS
CONSTITUIÇÕES
Teorias da Constituição
1. Constitucionalismo Liberal (idealismo constitucional):
Constitucionalismo é o movimento político que propugna pelo
estabelecimento de uma Constituição que limite e organize o
exercício do poder político (SARMENTO, 2014, pág. 184)
A preocupação primordial do constitucionalismo liberal era
estabelecer constituições que limitassem o exercício do
poder político, impedindo o arbítrio dos governantes. Devendo
conter normas com dois conteúdos: normas instituidoras de
direitos individuais e normas que organizassem o Estado de
acordo com o princípio da separação de poderes.
Para Sarmento: o papel das constituições é organizar o exercicio do
poder político e limitá-lo. Os documentos normativos que não tratam
dessa matéria não podem ser considerados constitucionais, mesmo
que sejam assim intitulados. O constitucionalismo, como movimento
político, só teria sentido se a Constituição fosse concebida em
conformidade com o seu conceito ideal, que veicula os objetivos de
racionalizar, limitar e moderar o exercício do poder político (2014, pág.
184).
Dentre as constituições brasileiras, a de 1824 apresenta-se como
principal incorporadora do constitucionalismo liberal. O artigo 178
institui o procedimento mais rígido para alteração das normas que
tratam da organização, estruturação e limitação do poder e aos
direitos políticos e individuais dos cidadãos. As demais
normas observam o procedimento legislativo ordinário para sua
alteração.
2. Teoria Idealista da Constituição (Constituição como Fato Social)
Para o conjunto de constitucionalistas baseados na teoria idealista
da constituição, as normas constitucionais são desprovidas de
maiores consequências práticas, não sendo capazes, portanto, de
incidir sobre uma realidade social refratária. Assim, "o conceito de
constituição deveria ser formulado em termos sociológicos; a
teoria da Constituição deveria refletir a 'Constituição real',
espelhando os padrões sociopolíticos efetivamente em vigor em
cada sociedade" (SARMENTO, 2014, pág. 185).
Os principais teóricos que entendiam a constituição com fato
social são Ferdinand Lassalle e Karl Marx, ainda que por
perspectivas e concepções político-ideológicas diferentes.
Lassalle defendia que a Constituição tinha sua essência decorrente da
realidade social em que o texto constitucional estivesse inserido, e não
das normas positivadas nele.
Karl Marx, por sua vez, afirma que a Cosntituição é um meio de
afirmação do poder burguês, cuja existência não faz o direito. Isso
porque Marx entendia que o Direito e o Estado eram manifestações
superestatais das relações de produção existentes na sociedade,
plenamente subordinadas a estas. E que a perspectiva liberal da
constituição era mais um mecanismo de legitimação das desigualdades
sustentadoras da exploração. Sendo assim, a igualdade e a liberdade
afirmadas nas constituições liberais são meramente formais.
No Brasil, o defensor da constituição como fato social foi Oliveira
Vianna (século XX), jurista mestiço que defendia a eugenia.
3. Positivismo Constitucional (Hans Kelsen)
O surgimento do positivismo incide sobre as constituições. Os textos
constitucionais do início do século XX passaram a positivar aspectos pautados
na proteção da economia, da família, da cultura, ampliando a normatização
para além das prescrições de limitar e estruturar o poder político. Aqui, a
constituição de Weimar (1919) teve destaque principal, embora pouco tempo
de vigência em virtude da ascensão do nazismo.
Sarmento afirma que "com a alteração do papel das constituições, torna-se
impossível a definição da Constituição a partir do conteúdo das suas normas.
Para abranger uma multiplicidade razoável de textos constitucionais, o conceito
de Constituição deveria se ater aos seus aspectos formais. Essa era a concepção
de Hans Kelsen, principal expositor dessa vertente teórica. Quer estabeleça uma
ditadura, quer institua um governo democrático, a Constituição, para Kelsen,
define-se por ocupar o ápice do ordenamento jurídico. Não é característica
necessária das constituições a organização do exercício do poder em termos
liberais (2014, pág. 186).
De acordo com esta vertente, as constituições possuem em
comum a supremacia formal; ou seja, o fato de ocuparem o ápice
da ordem jurídica, provendo fundamento de validade para o
restante do ordenamento. Kelsen propõe a imagem de uma
pirâmide para representar a estrutura escalonada da ordem
jurídica. O fundamento de validade das sentenças judiciais é
provido pelas leis; o fundamento de validade das leis, pela
Constiuição. A sentença judicial é válida porque a lei conferiu ao
juiz poder para proferi-la; a lei é válida porque a
Constituição concedeu ao legislador a respectiva competência
legislativa. Portanto, a sentença é válida porque foi produzida,
ainda que indiretamente, em conformidade com a constituição
(SARMENTO, 2014, pág. 187).
O principal teórico do Positivismo Constitucional é Hans Kelsen.
O positivismo defende que a sua principal tarefa é descrever a
Constituição de forma objetiva e não, prescrever um conjunto de
normas com conteúdo determinado.
"A Constituição formal é o documento escrito, que pode conter,
além das normas da cosntituição material (relativas a competências
e procedimentos), também normas atinentes a outros assuntos. A
inferência de que as constituições devem conter normas de
competência e procedimento não é feita, porém, em razão de seu
teor político ou ideológico, a respeito do qual a teoria pura do
direito entende que não deve se pronunciar. A Constituição material
pode estabelecer uma democracia, mas também uma ditadura, e
não deixará de ser definida como Constituição por adotar essa
última orientação" (SARMENTO, 2014, pág. 188).
4. Constituição como Decisão Política Fundamental (Carl Schmitt)
Carl Schmitt defendia que a constituição deveria ser definida como
a decisão política fundamental do poder constituinte. Assim,
entendia que a decisão modela a substância do regime, sendo,
portanto, fundamental e todas as demais regulações normativas
são secundárias. A Constituição seria, portanto, a
manifestação concreta do poder político, que toma a decisão
fundamental, pondo fim ao conflito antes existente e definindo as
bases do regime que se instala, seja democracia ou ditadura.
Scmitt, ao diferenciar Constituição de leis constitucionais, define
que estas são "a constituição escrita" que contém diversos
elementos que não sejam propriamente constitucionais porque
dissociados da decisão política fundamental do poder
constituinte.
Para Carl Schmitt: o poder constituinte pode estabelecer qualquer
conteúdo constitucional. Considera a hipótese de acolhimento de
conteúdo opostos e/ou divergentes dos princípios do estado de
liberal. A Constituição seria, portanto, um ato de vontade do poder
constituinte, explica, desse modo, através da percepção decisionista
de Schmitt.
Sustenta, desse modo, que a decisão normativa nasce do nada, uma
vez que o poder constituinte é poder político existencial e soberano
é quem, de fato, toma a decisão constituinte. A Constituição, nessa
perspectiva, resulta de um ato de vontade, não sendo decorrência
da razão nem de nenhuma fonte de legitimação acima da realidade
da vida política. O instrumento principal para preservar a decisão
política fundamental é o estado de exceção (SARMENTO, 2014, pág.
189).
5. Constituição como Processo de Integração (Rudolf Smend)
Smend afirma que a constituição é um processo de integração
realizado de acordo com a dinâmica social. Busca, por sua vez,
entender a realidade constitucional, mas tal realidade é concebida
de modo dinâmico e não estático. Apresenta semelhanças com a
teoria sociológica de Lassalle, porém não exclui o elemento
normativo, inserindo-o o em sua concepção de Constituição.
Guarda distanciamento da teoria de Schmitt, pois se apresenta
como uma teoria dinâmica, "a dinâmica vital na qual se
desenvolve a vida do Estado". Seu olhar recai sobre a estrutura
social em toda a sua complexidade, sobre as infinitas decisões
tomadas no quotidiano, e não sobre um momento qualquer de
exercício do poder constituinte (SARMENTO, 2014, pág. 191).
6. Constituição Total: integração das dimensões normativas,
sociais e políticas (Herman Heller)
Consiste numa síntese entre as teorias normativa e sociológica
com o intuito de formular uma teoria unitária, também
chamado de conceito estrutural ou total de Constituição. A
constituição é norma e realidade social, segundo essa teoria. É o
reconhecimento, determinada sociedade, de que a
Constituição é realidade social, mas que não nega as
normas que a integram.
Heller entende que o elemento real, por ele chamado de
normalidade e o elemento normativo são dois componentes
indissociáveis da estrutura constitucional (SARMENTO, 2014,
pág. 192).
7. Teorias Concretista (Konrad Hesse) e Estruturante (Friedrich Müller)
da Constituição
Hesse se baseia nos ensinamentos de Ferdinand Lassalle, com base no
conceito de fatores reais de poder. Hesse entende que o
elemento essencial de uma constituição é a normatividade, mas
defende que o seu conteúdo material deve ser extraído das exigências
substantivas que se situam na sociedade que a Constituição se propõe a
regular. Ao invés de a Constituição dirigir verticalmente a vida social,
interage com ela em uma relação de influências recíprocas, que leva à
determinação do conteúdo constitucional. Por um lado, a realidade
influencia o significado das normas constitucionais, que não podem ser
interpretadas com abstração do quadro empírico sobre o qual incidem.
Mas, por outro lado, a norma constitucional não é apenas um reflexo da
realidade, tendo algum poder de condicioná-la (SARMENTO, 2014, pág.
193).
Hesse entende que o poder da Constituição de conformar a realidade
social não é ilimitado. Entretanto, não deve ignorar os aspectos sociais,
políticos, econômicos de seu tempo, a fim de que não se torne
impossível de ser efetivada. As normas constitucionais permanecem
válidas mesmo quando não espelhem as forças hegemônicas, pois cabe-
lhe também regular, em alguma medida, a vida política e social. Hesse
denomina esse poder da constituição de vontade de constituição,
explicada como o empenho dos que vivem sob a sua égide no sentido
de lutar pela efetivação dos comandos constitucionais.
Friedrich Müller entende que a relação entre a Constituição e a
realidade apresenta parâmetros para a racionalização da tarefa de
concretização constitucional, a essa teoria ele chama de teoria
estruturante do Direito. Müller entende que a interpretação do texto da
norma é apenas uma etapa inicial do processo de concretização.
"No entanto, essa fase é fundamental, permitindo a
definição do programa normativo, que delimita as
possibilidades interpretativas a que se abre o texto
normativo. A interpretação do texto deve ser realizada por
meio dos elementos tradicionais de interpretação
(gramatical, histórico, genético, sistemático e teleológico),
com adaptações para o campo específico do dirieto
constitucional. Deve ser especialmente complementada
com a utilização dos princípios constitucionais da
interpretação. Definido o programa da norma, fica
circunscrito o campo dentro do qual a decisão deve se
situar" (SARMENTO, 2014, pág. 194)
8. Teoria da Constituição Dirigente
É a teoria que norteia grande parte do pensamento
constitucionalista de esquerda no Brasil e na Europa.
O nome de maior destaque dentre os teóricos dessa
vertente é o de Joaquim Gomes Canotilho.
O dirigismo constitucional é uma corrente teórica baseada
no conceito material de legitimidade, que afirma que as
constituições devem conter normas que determinam
limites (garantias cosntitucionais) e processos (constituição
como processo ou instrumento de governo) e
normas definidoras de finalidades políticas e econômicas.
"A teoria da constituição dirigente busca justamente investigar a
vinculação do Estado e da sociedade a esse tipo de programa
constitucional transformador: a teoria da constituição assume-se
como teoria da constituição dirigente enquanto problematiza a
tendência das leis fundamentais para: (1) se transformarem em
estatutos jurídicos do Estado e da sociedade; (2) se assumirem
como norma (garantia) e tarefa (direção) do processo político-
social. Com esse propósito, a teoria da Constituição dirigente elege
temas prioritários, como a legitimação substantiva da legislação, a
estrutura das normas programáticas, o grau e a forma de
vinculação do legislador ao programa constitucional. A questão
central é identificar em que medida o conteúdo material fixado no
programa constitucional é determinante para a atividade
legislativa, definindo o próprio teor das decisões políticas tomadas
pelas gerações futuras" (SARMENTO, 2014, pág. 196)
"Canotilho sustentava a tese de que o legislador estaria vinculado
ao programa constitucional, devendo observar não apenas as
normas que instituem direitos e prossedimentos, mas também
aquelas que estabelecem programas de ação. A legitimidade
material dos atos legislativos dependeria de sua capacidade
concretizar as diretrizes instituídas no texto constitucional"
(SARMENTO, 2014, pág. 196).
A CF de 1988 é considerada, por parte da doutrina, uma
constituição dirigente. A fundamentação se dá com base no não
cumprimento, pelo Brasil, do pacto da modernidade, que institui a
realização das promessas de tal época, sobretudo, no que tange aos
direitos fundamentais e/ou direitos humanos. , e do funcionamento
distorcido da nossa democracia representativa. Condições próprias
da modernidade periférica (NEVES, 2019).
9. Constitucionalismo da Efetividade
Corrente de bastante destaque no Brasil, sendo difundida ao lado da teoria
da constituição dirigente, exerceu grande influência na compreensão e
aplicação da consitituição de 1988. A doutrina da efetividade afirma a
normatividade da constituição, tendo orientado a guinada da teoria
constitucional progressista desde a redemocratização do País.
O constitucionalismo da efetividade desfaz o entendimento do caráter
meramente teórico da constituição, reconhecendo-a como norma jurídica. É,
por isso, referência central no pensamento jurídico de esquerda.
Entretanto, há paradoxos. O constitucionalismo da efetividade chega a ser
utilizado também como meio de não cumprimento das normas
constitucionais quando há interesse político para tal. Quando se quis não
cumprir a Constituição, utiliza-se das categorias de norma programática e
norma de eficácia limitada, transferindo para o legislador uma tarefa que,
muitas vezes, era do judiciário.
10. Constitucionalismo e Comunitarismo: a Constituição e os valores
comunitários
Detém um viés mais filosófico, enfatizando a lealdade à comunidade e aos
valores tradicionais. "Os comunitaristas combatem a ideia de neutralidade
estatal em relação aos projetos de vida, afirmando que um dos papeis do Estado
é exatamente o de reforçar os liames existentes na sociedade , avalizando e
promvendo as concepções morais coletivamente compartilhadas. Dessa forma,
os comunitaristas aceitam mais facilmente restrições às liberdades individuais
motivadas ppor valores socialmente compartilhadas ou por preocupações
paternalistas" (SARMENTO, 2014, pág. 211).
As normas devem expressar a cultura do povo em que vigoram; exprimir o
ethos do grupo social ao qual se dirige; refletir os seus valores sociais; deve
figurar como expressão dos valores da comunidade em que vigora e se nortear
pelo valores coletivos compartilhados em sociedade (Constituição da Bolívia,
Venezuela, Equador, Colômbia).
11. Teoria Constitucional e Libertarianismo
Defende a implementação do Estado mínimo, trata-se da base filosófica do
neoliberalismo. Ao defender a vinculação do Estado de Direito ao Estado
mínimo, argumenta que medidas como restrições à livre-iniciativa,
medidas de regulação do mercado e políticas distributivas são violadoras
da liberdade individual e da dignidade humana. É base de sustentação da
meritocracia. Nesse âmbito, o constitucionalismo sob essa perspectiva
funciona como um mecanismo de defesa das liberdades econômicas.
Os conceitos aqui defendidos estão apoiados na base do liberalismo
político, de forma oposta ao liberalismo igualitário de John Rawls e Ronald
Dworkin. Os defensores do libertarianismo utilizam os conceitos de
liberalismo político, dignidade humana, direitos fundamentais e prinípio
do Estado de Direito para reivindicar a não intervenção estatal na esfera
econômica.
12. O Republicanismo na Teoria Constitucional
No modelo republicano, o cidadão está enraizado em
uma cultura pública que o estimula à participação ativa
na vida da comunidade. O cidadão, neste quadro, não
tem apenas direitos, mas também deveres em relação à
sua comunidade política. Dá-se ênfase às virtudes
republicanas dos cidadãos. Deles se espera alguma
orientação para o interesse público; a atuação pautada
não apenas nos interesses individuais de cada um ou
das suas facções, mas voltada também para o bem
comum (SARMENTO, 2014, pág. 217).
O republicanismo enfatiza a importância da esfera pública como
local de troca de razões, exercendo importante papel de supervisão
sobre o funcionamento concreto das instituições políticas formais.
O republicanismo tem em comum com o comunitarismo a crítica à
visão atomizada e inidividualista de sociedade própria ao
liberalismo. Porém, há distinções importantes entre as correntes.
Enquanto o foco do comunitarismo está no respeito às tradições e
valores compartilhados, no republicanismo ele se desloca para a
participação do cidadão na coisa pública. Enquanto comunitaristas
justificam restrições à deliberação coletiva fundadas no respeito às
tradições do passado, os republicanos buscam dar mais poder ao
povo, estimulando a cidadania a tomar parte ativa nessas
deliberações (SARMENTO, 2014, pág. 217).
O republicanismo contemporâneo dá grande ênfase à igualdade. Perante a
res publica, todos devem ser tratados com igual respeito. Nesse sentido,
uma das maiores bandeiras republicanas é o combate aos privilégios
conferidos aos governantes ou à elite. A igualdade é afirmada também
como exigência no campo socioeconômico, para que a democracia possa
prosperar. Uma das tônicas do pensamento republicano é enfatizar que o
surgimento na sociedade de um nós, de uma vontade geral, depende de
certo nível de igualdade econômica, na ausência da qual se formam grupos
que possuem interesses antagônicos.
O republicanismo no Brasil tem sido associado a diversas causas
importantes, como a defesa da moralidade na vida pública, o combate à
confusão entre o público e o privado na atuação dos agentes estatais, a
luta contra a impunidade dos poderosos e o incremento à participação dos
cidadãos na tomada de decisões pelo Estado e no controle da atuação dos
governantes (SARMENTO, 2014, pág. 218).
13. O Procedimentalismo na Teoria Constitucional
As teorisas procedimentalistas sustentam que o papel da constituição
é definir as regras do jogo político, assegurando a sua natureza
democrática. Isso inclui também a defesa de determinados direitos,
que são tidos como pressupostos para funcionamento da democracia,
como as liberdades de associação política e de expressão.
Os procedimentalistas defendem um papel mais modesto para a
jurisdição constitucional, sustentando que ela deve adotar uma
postura de autocontenção, a não ser quando estiver em jogo a defesa
dos pressupostos de funcionamento da própria democracia. Nessa
hipótese, estaria justificada uma atuação mais agressiva da jurisdição
constitucional, que não poderia ser tachada de antidemocrática por
se voltar exatamente à garantia da própria democracia (SARMENTO,
2014, pág. 220).
No caso brasileiro, há um problema adicional com o
procedimentalismo. Goste-se ou não, a Constituição de 88 é
profundamente substantiva, eis que pródiga na consagração
de valores materiais. Nesse contexto, a adesão ao
procedimentalismo acaba resvalando para um curioso
paradoxo. O procedimentalismo tem como um dos seus
objetivos centrais limitar o ativismo juridiscional em nome da
democracia. Contudo, para abraçarem esta teoria, os juízes
teriam que passar por cima das orientações valorativas já
contidas na Constituição, sobrepondo a sua teoria
constitucional àquela, mais substantiva, adotada pelo
constituinte (SARMENTO, 2014, pág. 224).
14. O Minimalismo Judicial
O minimalismo estabelece duas orientações para o
comportamento judicial. As decisões devem ser estreitas
(narrow), no sentido de que o judiciário não deve se pronunciar
sobre mais do que seja necessário para solucionar o caso. Ao
julgar, por exemplo, uma demarcação específica de terra
indígena, não se justifica que o STF elabore condicionantes
gerais a serem seguidas pelo Judiciário em casos futuros. E
devem ser rasas (shallow), no sentido de que não convém que
os juízes busquem os „fundamentos últimos“ em cada questão,
enveredando-se em controvérsias dogmáticas, políticas,
empíricas ou filosóficas, sempre que isto seja dispensável
(SARMENTO, 2014, pág. 225).
Os adeptos do minimalismo aduzem vários argumentos em favor da corrente.
Afirmam que a postura minimalista reduz as chances de erro judicial e
diminui os danos causados por estes equívocos. Juízes são seres humanos
falíveis e as suas decisões podem gerar efeitos sistêmicos complexos e
imprevisíveis. Quando decidem de forma muito ambiciosa, os magistrados
tendem a ampliar os riscos do erro, bem como a elevar a gravidade dos
efeitos negativos das suas eventuais falhas (SARMENTO, 2014, pág. 225).
Outro argumento importante do minimalismo é ele estimula a deliberação na
esfera pública, favorecendo a democracia. Nesta linha, afirma-se que
decisões muito amplas do Poder Judiciário em matéria constitucional
subtrairiam da sociedade e dos poderes representativos a possibilidade de
discussão e decisão sobre temas relevantes. Daí por que se diz que muitas
vezes é importante que o judiciário se abstenha de se pronunciar sobre
questões importantes, deixando-as em aberto para a deliberação social e o
experimentalismo democrático (SARMENTO, 2014, pág. 226).
15. O Constitucionalismo Popular e a Constituição como
Inspiração para a Política
A teoria popular da Constituição tem como característica
central sustentar a ilegitimidade do controle jurisdicional
da constitucionalidade. A realização prática da
Constituição, para o constitucionalismo popular, deve ser
protagonizada pelo próprio povo e por seus
representantes eleitos. A função da Constituição é inspirar
a atuação de cidadãos e representantes, e não de servir
como parâmetro para que os juízes não eleitos limitem a
sua deliberação (SARMENTO, 2014, pág. 227).
Não obstante, é relevante a contribuição do constitucionalismo
popular, no sentido de chamar a ateñção para o fato de que a
Constituição não é apenas o que fazem os tribunais. Ela não
pode ser compreendida como um documento técnico, a ser
manejado apenas por juristas, com a alienação do povo do seu
processo de concretização. Os juízes são atores importantes no
constitucionalismo democrático, mas o protagonista nesta
história deve ser o próprio povo.
A teoria constitucional hegemônica no Brasil tem gravitado em
torno da jurisdição constitucional, apostando nela como
principal mecanismo para resgate das promessas
emancipatórias de nossa Constituição (SARMENTO, 2014, pág.
230).
16. Pragmatismo e Teoria Constitucional
O pragmatismo é uma das vertentes mais influentes do pensamento
jurídico contemporâneo. O pragmatismo rejeita as especulações
filosóficas muito abstratas e desvinculadas da realidade concreta,
como as da metafísica. Ele tem como características fundamentais o
antifundacionalismo, o contextualismo e o consequencialismo. O
antifundacionalismo é rejeição da busca de qualquer fundamento
último para as teorias e argumentos. O contextualismo enfatiza a
importância do contexto histórico e das experiências humanas de
cada sujeito nas investigações científicas ou discussões teóricas. Nesse
sentido, o contextualismo se aproxima do relativismo. Já o
consequencialismo preconiza que se priorizem sempre as soluções
que produzam melhores resultados práticos (SARMENTO, 2014, pág.
231).
O pragmatismo jurídico, por sua vez, é empirista. Ele tende a
atribuir mais importância aos dados da realidade do que às
construções teóricas. Neste sentido, se aproxima mais das
ciências empíricas, como a Economia e Sociologia, do que do
campo da especulação abstrata, inclusive no que concerne à
moral.
Para o pragmatismo jurídico, enfim, o Direito não é um fim em
si mesmo. O compromisso central do magistrado pragmático
não é com a fidelidade ao ordenamento posto, nem com a
coerência em relação a alguma teoria filosófica qualquer, mas
com o antedimento das necessidades humanas e sociais a que
o Direito visa a promover (SARMENTO, 2014, pág. 232).
Concepções que atribuam aos juízes um poder, quase sem amarras, de
decidirem de acordo com a sua avaliação de consequências, em
detrimento da sua vinculação ao direito vigente, acabam pecando de
duas maneiras. Por um lado, incorrem em problema (i)legitimidade
democrática, por transferirem para agentes não eleitos uma parcela da
autoridade dos legisladores, que representam politicamente o povo. Por
outro, tais concepções podem produzir soluções menos eficientes, do
ponto de vista das consequências sociais almejadas, por presumirem,
talvez, de maneira muito otimista, uma grande capacidade institucional
do Judiciário para fazer as avaliações necessárias à adjudicação
pragmática. Por paradoxal que seja, é possível que o formalismo
produza no cômputo global, consequências mais favoráveis do que o
pragmatismo. Nesse caso, ter-se-ia um argumento pragmático para não
adotar o pragmatismo no campo jurisdicional (SARMENTO, 2014, pág.
233).
17. Pós-Modernidade e Teoria Constitucional
No que concerne ao Direito Constitucional, o pós-modernismo vai se revelar
francamente incompatível com o projeto da Constituição dirigente, que, sob a sua
perspectiva, exprimiria uma visão autoritária, por subtrair a liberdade de ação das
instâncias da sociedade, mas também quixotesca, por desconhecer os limites da
regulação jurídica sobre os universos econômico, político e social. De fato, se o próprio
conceito liberal de Constituição já não parece plenamento compatível com a visão
pós-moderna, incompatibilidade é ainda mais flagrante em face da noção de
constituição dirigente, imbuída da pretensão de traçar rumos para o desenvolvimento
da sociedade pela transformação do status quo. Tal concepção será associada pelos
pós-modernos às metanarrativas utópicas, por eles tão criticadas. Neste quadro a
constituição pós-moderna vai ser concebida, nas palavras de Canotilho, como um
estatuto reflexivo que, através de certos procedimentos do apelo a auto-regulações,
de sugestões no sentido da evolução político-social, permite a existência de uma
pluralidade de opções políticas, a compatibilização dos dissensos, a possibilidade de
vários jogos políticos, a garantia da mudança através da construção de rupturas
(SARMENTO, 2014, pág. 236).
A crítica pós-moderna ao constitucionalismo deve ser objeto de
reflexão. Por um lado, cumpre reconhecer que existem, de fato, graves
déficits no funcionamento das instituições e das práticas políticas,
sociais e jurídicas construídas durante a Modernidade, que se revelam
claramente diante da persistência da exlusão social, bem com de
fenômenos como o aquecimento global. Contudo, ao invés do abandono
do ideário moderno, pensamos que ele deve ser aperfeiçoado e
aprofundado, sobretudo nas sociedades periféricas – pré-modernas sob
vários aspectos -, que enfrentam carências já relativamente
equacionadas no Primeiro Mundo. Trata-se de insistir na luta pela
implementação concreta dos grandes valores do Iluminismo e do
constitucionalismo, de liberdade, igualdade, dignidade humana e
democracia, estendendo-os a novos campos e enfrentando, a partir
dessas bandeiras, so novos desafios do mundo contemporâneo
(SARMENTO, 2014, pág. 236).
18. Referências
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de direito
constitucional. 15ª ed. Salvador: JusPodivm,
2021.
SARMENTO, Daniel e SOUZA NETO, Cláudio
Pereira. Direito constitucional: teoria,
história e métodos de trabalho. 2ª ed. Belo
Horizonte: Fórum, 2014.
3. PODER CONSTITUINTE
Poder Constituinte Originário: poder inicial, que cria a
Constituição.
“O poder constituinte cria a constituição para estruturar
o Estado e organizar, limitar e dirigir o exercício do poder
político. Ele institui os poderes constituídos: o Executivo,
o Legislativo e o Judiciário, nos sistemas em que vigora a
tripartição dos poderes. Se os poderes constituídos são
criados pelo constituinte, eles devem se limitar pelo que
o mesmo estabelece. Esse é um dos principais
argumentos para sustentar a hierarquia superior que a
Constituição ocupa na ordem jurídica (SARMENTO, 2021,
pág. 244).
Poder Constituinte é a expressão maior da vontade
de um povo ou grupo destinada a estabelecer os
fundamentos de organização de sua própria
comunidade. É um poder político fundamental e
supremo capaz de criar as normas constitucionais,
organizando o Estado, delimitando seus poderes e
fixando-lhes a competência e limites. É a
manifestação soberana de vontade de um ou
alguns indivíduos determinada a gerar um núcleo
social (CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 226).
As constituições escritas trazem o entendimento de
que a Constituição é fruto de um poder diferente do
que ela mesma estabelece. Institui, portanto, o
entendimento de que o Poder Constituinte é a fonte
da Constituição, e que os poderes constituídos são
consequência desta.
Assim, a diferenciação entre Poder Constituinte e
poderes constituídos é feito das constituições rígidas.
Conceitos interdependentes: poder constituído, rigidez
constitucional, supremacia constitucional e controle
de constitucionalidade.
Natureza do Poder Constituinte
Jusnaturalismo: entende como um poder de direito, pois é assentado no direito
natural, que lhe é anterior e superior (Sieyès).
Positivismo: o direito somente é direito quando positivado, logo, o poder
constituinte é um poder de fato, pois se impõe como tal, funda a si mesmo e não
em Direito pré-existente (Kelsen).
O entendimento contemporâneo é de que o Poder Constituinte cria e organiza o
Estado a partir da Constituição. Assim:

Poder Constituinte – Constituição – Estado – Direito.

#Neoconstitucionalismo?!
#Constitucionalismo do futuro?!
#Teoria dos sistemas de Luhman
A natureza do Poder Constituinte é híbrida. Uma vez
que é instituído de poder jurídico e poder político.
Manifesta-se como expressão máxima da soberania
popular.
Forças sociais e políticas que que determinam os
fundamentos da organização política social;
Forças jurídicas traduzidas na ideia de Direito que
sustentará a positivação de todo sistema jurídico.

#constitucionalizão simbólica
Titularidade e Exercício do Poder Constituinte
Titularidade absoluta do povo. Em sociedades
democráticas o titular absoluto do Poder Constituinte é o
povo.
O Exercício do Poder Constituinte é do povo por meio de
seus representantes políticos. São chamados de
constituintes.
O órgão que o exerce é aquele legitimado para romper
com a ordem preexistente e determinar o novo conteúdo
de uma constituição. Compreendendo, assim, a
Assembleia Constituinte ou a Convenção Constituinte.
Poder Constituinte Originário: é o poder que
funda a nova ordem jurídico-constitucional ou
a partir do nada, no caso de elaboração da
primeira constituição .
Elabora a Constituição de um Estado, organiza-
o e constitui os poderes destinados a reger os
interesses daquela comunidade que o invoca.

#Nova ordem jurídico constitucional


Características do Poder Constituinte Originário:
a) Inicial: inaugura uma nova ordem jurídica, rompendo com a anterior. Isso significa que
ele revoga a Constituição anterior e todas as normas infraconstitucionais que com a
nova ordem forem incompatíveis. Por isso mesmo, o Poder Constituinte é,
simultaneamente, Constituinte e Desconstituinte, na medida em que quando constitui
uma nova ordem, desconstitui, ipso facto, a anterior;
b) Autônomo: porque só ao seu exercente cabe fixar em que a nova constituição será
estabelecida e qual Direito deverá ser implantado;
c) Ilimitado: porque é soberano e não sofre qualquer limitação prévia do Direito,
exatamente pelo fato de que a este preexiste (CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 233).
Há discordâncias sobre o poder ilimitado, pois deve-se observar os princípios que
orientam o direito.

#Dialeticidade do direito
#princípios limitam
d) Incondicionado: porque não se sujeita a nenhum processo ou
procedimento prefixado para a sua manifestação. Pode agir
livremente, sem condições ou formas pré-estabelecidas. Não
está condicionado a nenhuma fórmula prefixada. Não obstante
isso, perceba-se que, às vezes, as Assembleias Constituintes são
limitadas pelo próprio ato convocatório ou pela definição de
determinados pontos essenciais. Preservação da República, da
federação, dos direitos fundamentais como irrevogáveis etc. ;
e) Permanente: pois não se exaure com a elaboração da
Constituição. Ele continua presente, em estado de hibernação,
podendo a qualquer momento ser ativado pela vontade sempre
soberana de seu titular (CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 234).
Formas de Manifestação: o Poder Constituinte
Originário é incondicionado, logo, não se submete a
nenhum processo ou procedimento para sua
manifestação. Não existem prescrições nas
constituições para sua manifestação. Esta ocorrendo
apenas por duas vias:
a) Assembleia Constituinte;
b)Golpe de Estado.

#cláusula democrática do mercosul


Poder Constituinte Material:(matéria de direito)
Corresponde ao conjunto paradigmático da sociedade. O
conjunto de valores filosóficos, morais, sociais, políticos,
econômicos e jurídicos fundados na vontade popular,
representando as correntes de opinião, a presença
organizada ou difusa dos grupos e seus interesses em
confronto.
Poder Constituinte Formal: Consiste na tradução, no mundo
concreto, do poder constituinte material. É a positivação
(poder constituinte formal), em seu maior nível, da ideia
preconcebida pela sociedade (poder constituinte material). –
art. 186, CF
Poder Constituinte Derivado: também chamado de
poder constituído, logra existência a partir do Poder
Constituinte Originário, que o institui. Dele retira
sua força motriz. Logo, se insere na Constituição,
conhece limitações expressas e tácitas, e define-se
como um poder jurídico, que tem por finalidade ou
a reforma da obra constitucional (no Brasil, pelo
Congresso Nacional), ou a instituição de
coletividades (exercido pelas Assembleias
Legislativas dos Estados-membros da Federação)
(CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 236).
Características do Poder Constituinte Derivado:
a) Derivado: porque é poder de direito, juridicamente estabelecido,
fundado no Poder Constituinte Originário. Ou seja, provém ou deriva
deste. O Poder derivado emana da Constituição e é disciplinado por
ela para desempenhar as atribuições constitucionais
correspondentes;
b) Limitado: porque a Constituição lhe impõe severas limitações, que
podem ser temporais, circunstâncias, materiais ou procedimentos,
explícitas ou implícitas, restringindo o seu exercício;
c) Condicionado: porque só pode manifestar-se de acordo com as
formalidades traçadas pela Constituição. Está sujeito, pois, a um
processo especial previamente estabelecido pela Carta Magna
(CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 236).
Espécies:
a)Poder Constituinte Reformador: é destinado a
alterar a Constituição, podendo essa reforma
consistir em acréscimo, modificação ou
supressão de parte do seu texto; ->
normalmente, atribuição do Congresso Nacional
b)Poder Constituinte Decorrente: consiste naquele
cuja competência em elaborar ou modificar as
constituições dos estados-membros da
federação.
Poder Constituinte Reformador: é o que se
destina à reforma da Constituição. Sua
existência está ligada ao fato de ser muito
complicado, na prática, e sem qualquer
sentido, na teoria, convocar o Poder
Constituinte Originário todas as vezes em que
fosse necessário alterar a constituição.
Alguns autores preferem chama-lo de
competência reformadora (CUNHA JÚNIOR,
2021, pág. 237).
Limitações: o poder constituinte derivado se insere na constituição e é
por ela limitado. As limitações consistem em:
a) Limitações Temporárias: são todas as que vedam reformas
constitucionais durante certo período de tempo. Na atual
constituição brasileira não subsistem, mas existiram em outras,
como a constituição imperial (1824), que vedava qualquer reforma
em seu texto durante os quatro primeiros anos de sua outorga;
b) Limitações Circunstanciais: são as que proíbem as reformas
constitucionais durante a vigência de determinadas circunstâncias,
consideradas anormais e inadequadas para as mudanças
constitucionais, que como é natural, supõem equilíbrio, prudência e
paz de espírito. A exemplo da vedação às reformas constitucionais
durante a vigência de estado de sítio (1934), ampliada para estado
de defesa e intervenção federal (1988);
c) Limitações materiais ou substanciais: são as
cláusulas pétreas. São assim chamadas por excluírem
do poder de reforma matérias consideradas
relevantes, previstas explícita ou implicitamente pelo
texto originário. Impedem a ocorrência de alterações
de matérias consideradas como imutáveis.
As limitações materiais se dividem em:
c.1) Limitações explícitas ou expressas: são as
expressamente previstas no texto constitucional. Na
atual constituição estão previstas no artigo 60, §4°;
c.2) Limitações implícitas ou inerentes: são limitações não
previstas expressamente no texto da Lei Maior; mas que, sem
embargo, são inerentes aos regimes e princípios que ele
adota. Essas estão previstas no artigo 60, §§1° ao 5° da CF/88;
d) Limitações procedimentais ou formais: são limitações que
ora submetem as propostas de emenda constitucional à
observância do procedimento legislativo previsto na
Constituição (art.60, incisos I, II, III e §§2° e 3°), ora vedam que
matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida
por prejudicada seja objeto de nova proposta da mesma
sessão legislativa (art. 60, §5°) (CUNHA JÚNIOR, 2021, pág.
241).
Processo Legislativo de Emenda à Constituição:
processo de reforma constitucional
a)Apresentação das propostas de emenda à
Constituição (PEC): artigo 60, incisos I a III,
CF/88;
b)Tramitação e deliberação das propostas (PEC):
artigo 60, §2°, CF/88;
c)Promulgação da Emenda Constitucional: artigo
60, §3°, CF/88.
Poder Constituinte Decorrente: é aquele que,
decorrendo do originário, não se destina a rever a sua
obra, mas a institucionalizar coletividades, com caráter
de organizações políticas regionais (no Brasil, são os
estados-membros da Federação).
É o poder constituinte do estados-membros da
Federação, que se assenta na autonomia de que gozam
essas pessoas políticas na organização federal.
Fundamentado no artigo 25 da CF/88, que prevê que os
estados se organizam e se regem pelas constituições que
adotarem, observados os princípios da Constituição
Federal.
Características:
a) Derivado [;
b) Limitado [;
c) Condicionado [.
Sujeito não só às limitações impostas ao poder
reformador, como outras previstas difusamente no texto
constitucional, devendo guardar simetria com o modelo
constitucional federal, em virtude dos parâmetros de
observância cogente pelos estados-membros da
Federação à luz do princípio da simetria (CUNHA JÚNIOR,
2021, pág. 244).
Não se admite poder constituinte decorrente aos municípios, uma
vez que não o receberam. Pois essas unidades políticas locais são
subordinadas às constituições dos estados-membros dos quais são
integrantes, além de se sujeitarem à própria Constituição Federal.
Considerar a hipótese de um poder decorrente dos municípios seria
admitir a possibilidade “do poder decorrente do poder decorrente
do poder decorrente”, o que seria inviável tanto política quanto
juridicamente.
O poder constituinte decorrente se manifesta quando se institui o
estado ou Distrito Federal, estabelecendo a sua organização
fundamental e elaboração de suas respectivas constituições; e
quando se reformam esses textos, com a aprovação das emendas às
constituições estaduais e à Lei Orgânica do Distrito Federal (CUNHA
JÚNIOR, 2021, pág. 245).
Mutação Constitucional (Poder Constituinte Difuso): processo
informal de mudança das constituições rígidas, por via da
tradição, costumes, interpretação judicial e doutrinária. Por
meio dela, promove-se uma alteração de sentidos, significados e
alcance dos enunciados normativos contidos no texto
constitucional, sem modificar a sua literalidade, através de uma
interpretação constitucional que se destina a adaptar, atualizar e
manter a Constituição em contínua interação com a sua
realidade local (CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 251).

#ativismo judicial
#log do batom
Direito Constitucional Intertemporal
Princípio da Recepção: quando a nova Constituição recepciona as
normas infraconstitucionais integrantes da ordem constitucional
anterior, desde que haja compatibilidade material entre a nova
constituição e as normas a serem recepcionadas;
Repristinação: não há admissibilidade no ordenamento jurídico
brasileiro. A vedação é instituída pela LINDB. Admite-se apenas na
hipótese de a própria lei prever em seu texto a repristinação para
os casos de sua revogação.
Desconstitucionalização: quando a nova ordem constitucional
recepciona leis ordinárias anteriores que guardem
compatibilidade material com aquela. Faz-se necessário que o
novo texto constitucional disponha sobre a hipótese de
desconstitucionalização.
Referências:
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de direito
constitucional. 15ªed. Salvador: Jus
Podivm, 2021.
SARMENTO, Daniel e SOUZA NETO, Cláudio
Pereira. Direito constitucional: teoria,
história e métodos de trabalho. Belo
Horizonte: Fórum, 2021.
4. CLASSIFICAÇÕES DAS
CONSTITUIÇÕES.
Unidade Normativa da Constituição:
Um ordenamento jurídico só pode ser concebido como um conjunto de
normas jurídicas. Ou seja, a condição de existência de uma ordem jurídica está
atrelada à concorrências de normas. Não obstante a pluralidade de normas
jurídicas que abrange, o ordenamento constitui uma unidade, quer porque
suas normas nascem da mesma fonte (ordenamento simples), quer porque
suas normas ainda que nascidas de fontes distintas, têm o mesmo fundamento
de validade (ordenamento complexo) (CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 112).
Todas as normas constitucionais, portanto, independentemente de sua
categoria, seja material ou formal, princípio ou regra, programática ou não,
têm idêntica hirerarquia formal-normativa e exercem a mesma força normativa
ante a realidade à qual se dirigem. A única ressalva que necessariamente se
deve fazer – o que será feito ao diante – diz respeito ao grau (maior ou menor)
de eficácia imediata que a norma constitucional está capacitada a produzir
(CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 113).
Classificação das Constituições
1. Quanto ao conteúdo:
2. a) Constituição material: A constituição material é assim compreendida em
dois sentidos, amplo, quando corresponde à própria organização total do
Estado, seu arrancho político-institucional; material, quando é o conjunto de
normas, escritas ou não escritas (costumeiras), que regulam a estrutura do
Estado, a organização do poder e os direitos e garantias fundamentais,
inseridas ou não no texto escrito. Isto é, só é Constituição material aquele
conjunto de normas que se limitam a dispor sobre matéria essencialmente
constitucional, que são aquelas que se revestem de maior importância tendo
em vista se relacionarem aos pontos cardeais de existência do Estado, pouco
importando a forma dessa disposição (se por escrito ou por meio de costume).
O fundamental é a matéria ou conteúdo objeto da norma, sendo irrelevante a
localização desta. Se se refere a aspecto fundamental do Estado, temos uma
norma materialmente constitucional (CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 114).
A constituição material corresponde ao
conceito de constituição política (Carl Schmitt).
Normas materialmente constitucionais na
CF/88:
• Título I – princípios fundamentais;
• Título II – direitos e garantias fundamentais;
• Título III – organização do Estado;
• Título IV – organização dos poderes.
b) Constituição Formal:
A constituição formal é o conjunto de normas escritas reunidas
num documento solenemente elaborado pelo poder
constituinte, tenham ou não valor constitucional material, ou
seja, digam ou não respeito às matérias tipicamente
constitucionais (estrutura do Estado, organização do poder e os
direitos e garantias fundamentais). O que se afigura relevante é
a formalidade que caracteriza essas normas. São elas
provenientes do poder constituinte e só podem ser
modificadas ou revogadas por processos e formalidades
especiais estabelecidos na própria Constituição. Só são
constitucionais pelo simples fato de aderirem ao texto
constitucional (CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 115).
2. Quanto à Forma
a) Constituição Escrita: escrita ou instrumental é a
constituição cujas normas – todas escritas – são
codificadas e sistematizadas em texto único e solene,
elaborado racionalmente por um órgão constituinte. Vale
dizer, cuida-se da Constituição em que suas normas são
documentadas em um único instrumento legislativo, com
força constitucional.
Resultado das revoluções burguesas;
Apego ao texto escrito e solene como garantia de
impedimento de arbítrio governamental.
Constituições codificadas são as consagradas em um documento único,
num só texto, formal e único, cujas normas são ordenadas e sistematizadas
em títulos, capítulos, seções, formando um único corpo normativo.
Constituições legais são de adoção rara e denominação imprópria, vez que
são constituições escritas que se apresentam em vários textos
fragmentados;
b) Constituição não escrita ou costumeira: a que as normas não estão
plasmadas em texto único, mas que se revelam através dos cotumes, da
jurisprudência e até mesmo em textos constitucionais escritos, porém
esparsos, a exemplo da constituição da Inglaterra.
*não existe constituição inteiramente não escrita. Uma constituição não
escrita é formada por textos escritos e esparsos no tempo e no espaço,
como a Magna Carta (1215), o Petition of Rights (1628), o Habeas Corpus
Act (1679), o Bill of Rights (1689).
3. Quanto à Origem
a) Constituição democrática (promulgada, popular ou votada): é elaborada por
representantes do povo, que compõem, por eleição, um órgão constituinte. Na sua
origem se verifica a efetiva participação popular, sendo fruto da soberana
manifestação de vontade de um povo, que elege com liberdade os seus
representantes para a tarefa fundamental de elaborar uma constituição;
b) Constituição Outorgada: a que a elaboração se processa sem qualquer participação
do povo. É fruto do autoritarismo, do abuso, da usurpação do poder constituinte do
povo. São impostas pelo governante e normalmente designadas pela doutrina de
Cartas.
c) Constituição Pactuada: a que oficializa um compromisso político instável de duas
forças políticas opostas: a realeza absoluta debilitada, de um lado, e a nobreza e a
burguesia, em ascensão, de outro. A constituição teria o papel de equilibrar a
monarquia limitada.
d) Constituição cesarista: embora impostas, dependem da aprovação popular por meio
de plebiscito. Não há participação democrática, mas apenas para ratificação do
documento constitucional.
4. Quanto à estabilidade ou consistência ou mutabilidade:
a)Constituição imutável: não prevê processo de alteração de
suas normas, sob o fundamento de que a vontade do poder
constituinte exaure-se com a manifestação da atividade
originária. Em termos de constituição escrita, não há
exemplos hoje de constituição imutável, não passando este
tipo de constituição de simples lembranças históricas
(CUNHA JÚNIOR, 2021,pág.117).
b)Constituição fixa: só pode ser alterada pelo próprio poder
constituinte originário, circunstância que implica, não em
alteração, mas em elaboração, propriamente, de uma nova
ordem constitucional. Também não se tem registro desse tipo
de constituição.
c) Constituição rígida: não pode ser alterada com a mesma simplicidade
com que se altera uma lei. Caracteriza-se por estabelecer e exigir
procedimentos especiais, solenes e formais, necessários para a reforma de
suas normas, distintos e mais difíceis, portanto, do que aqueles previstos
para a elaboração ou alteração das leis. É o modelo ideal de constituição
porque nela se reúnem as duas necessidades das constituições
contemporâneas: a evolução e a estabilidade. Permitem reformas
(evolução), mas submetem essas reformas a um procedimento
especialmente solene no qual seja possível uma maior reflexão, debate e
ponderação (estabilidade).
Impõe uma maior dificuldade de alteração da constituição e pode ser
constatada com a só comparação entre o processo legislativo de emenda
constitucional (processo de reforma da constituição) e o processo legislativo
ordinário (processo de elaboração e reforma das leis) (CUNHA JÚNIOR,
2021, pág. 118).
d) Constituição flexível: a que em sentido oposto pode ser alterada
pelo mesmo procedimento observado para as leis gerais. Não há
exigência de procedimento solene para tal, logo, não detém
supremacia formal frente às demais normas legais. Inclusive, pode
ser alterada por norma de texto contrário ao que dispõe a
constituição.
e) Constituição semirrígida ou semiflexível: constituição
parcialmente rígida e parcialmente flexível, ou seja, uma parte é
rígida, a outra é flexível, pois exigem procedimentos especiais para
sua alteração para determinadas matérias, e procedimentos mais
simples – como os das leis ordinárias – para outras matérias,
respectivamente.
* A CF/88 tem um núcleo imutável - cláusulas pétreas – que não
pode ser alterado por emenda constitucional.
5. Quanto à extensão:
a) Constituição sintética: são constituições breves, que
regulam sucintamente os aspectos básicos da organização
estatal. Limitam-se a prever os princípios gerais da
organização e funcionamento do Estado, cuidando
exatamente da matéria essencialmente constitucional.
b) Constituição analítica ou prolixa: constituições extensas
que disciplinam longa e minuciosamente todas as
particularidades ocorrentes e consideradas relevantes no
momento para o Estado e para a sociedade, definindo
largamente os fins atribuídos ao Estado (CUNHA JÚNIOR,
2021, pág. 119).
6. Quanto à finalidade: Garantia e dirigente
a) Constituição garantia (liberal, defensiva ou negativa):
modelo vigente após as revoluções burguesas, para servir
de instrumento de garantia das liberdades públicas
individuais;
b) Constituição dirigente (social): consequência do
constitucionalismo social do século XX, provocou a
evolução do model de Estado, de Estado liberal (passivo)
para Estado social (intervencionista). Garante o existente,
aliada à instituição de um programa ou linha de direção
para o futuro, sendo estas as suas duas finalidades
(CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 120).
7. Quanto ao modo de elaboração: dogmática e histórica
a) Constituição dogmática: também denominada
sistemática, , consiste num documento escrito e
sistematizado, elaborado por um órgão constituinte em
determinado momento da história político-constitucional
de um País, a partir de dogmas ou ideias fundamentais da
ciência política e do direito dominantes no país.
b) Constituição histórica: sempre não escrita, é de
elaboração lenta, ocorre sob o influxo dos costumes das
transformações sociais. Sua formação resulta da demorada
e contínua evolução histórica das tradições de um
determinado povo, que se protrai no tempo.
8. Quanto à ideologia
a)Constituição ortodoxa: é aquela que resulta da
consagração de uma só ideologia. São exemplos
delas as constituições da União Soviética de 1923,
1936 e 1977.
b)Constituição eclética (pluralista): logra contemplar,
plural e democraticamente, várias ideologias
aparentemente contrapostas, conciliando as ideias
que permearam as discussões na Assembleia
Constituinte;
9. Quanto ao modo de ser
a) Constituição normativa: é que as normas dominam o
processo político, ou seja, logram submeter o processo
político à observância e adaptação de seus termos.
b) Constituição nominal: a dinâmica do processo político não
se adapta às suas normas, ou seja, quando não houver uma
concordância absoluta entre as normas constitucionais e as
exigências do processo político.
c) Constituição semântica: a que em sua realidade ontológica
é um instrumento a serviço do poder, e não de limitação do
poder, estabiliza e eterniza a intervenção dos dominadores
fáticos do poder político.
Constituição Brasileira de 1988:
a) Formal;
b) Escrita;
c) Democrática;
d) Rígida;
e) Analítica;
f) Dirigente;
g) Dogmática;
h) Eclética;
i) Normativa.
Estrutura das Constituições
1. Preâmbulo: parte precedente do texto constitucional, sintetiza a carga ideológica
que permeou o processo constitucional, prenunciando os valores que a constituição
adota e objetivos aos quais ela está vinculada.
Há doutrinadores que reconhecem como detentor de eficácia normativa, pois é parte
integrante da constituição; e uma outra corrente que alega que não detém eficácia
normativa, pois pode ser dispensado da constituição.
O STF entende ser o preâmbulo destituído de força obrigatória (ADIN 2.076 – AC, Rel.
Min. Carlos Velloso, 2002). Menção à proteção de Deus.
O preâmbulo não é considerado parâmetro para controle de constitucionalidade de leis
ou atos normativos.
# https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp95.htm → LEI COMPLEMENTAR No
95, DE 26 DE FEVEREIRO DE 1998 → Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e
a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição
Federal, e estabelece normas para a consolidação dos atos normativos que menciona.
2. Parte Dogmática: é o texto articulado que acolhe e reúne os
direitos que são por ela veiculados. É o corpo permanente. No caso
da CF/88, todo o seu texto, do artigo 1° ao 250, é permanente.
3. As Disposições Transitórias: parte transitória da constituição, tem
por finalidade basicamente: a) realizar a integração entre a nova
ordem constitucional e a que foi substituída (art. 25, ADCT); b)
disciplinar provisoriamente sobre determinadas situações enquanto
não regulamentadas em definitivo por leis (artigo 10, ADCT).
As normas previstas no ADCT, conquanto de vigência temporária ou
condicionada, são verdadeiras normas constitucionais,
hierarquicamente equivalente às normas constantes da parte
permanente da Constituição Federal, podendo ser utilizadas como
parâmetro de controle de constitucionalidade de leis ou atos
normativos (CUNHA JÚNIOR, 2021, pág. 123).
Elementos das Constituições:
1. Elementos orgânicos: contidos nas normas que regulam o Estado e o poder.
Título III – organização do Estado; IV – organização dos poderes;
2. Elementos limitativos: correspondem às normas que formam o catálogo
dos direitos e garantias fundamentais, limitadoras do poder estatal. Art. 5º,
CF/88;
3. Elementos sócio ideológicos: revelam o comprometimento das
constituições modernas entre o Estado individual e Estado social. Direitos
Sociais – art. 6º e 7º, CF/88; Títulos VII – ordem econômica e financeira; e
VIII – ordem social;
4. Elementos de estabilização constitucional: normas que visam garantir a
solução dos conflitos constitucionais, a defesa da constituição, do Estado e
das instituições democráticas. Art. 34, 36, 60, 102, I, 137, 137, CF/88;
5. Elementos formais de aplicabilidade: nas normas que prescrevem regras
de aplicação das constituições. Preâmbulo, ADCT, §1º do art. 5º, CF/88.
Referências:
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de
direito constitucional. 15ªed. Salvador:
Jus Podivm, 2021.
SARMENTO, Daniel e SOUZA NETO,
Cláudio Pereira. Direito constitucional:
teoria, história e métodos de trabalho.
Belo Horizonte: Fórum, 2021.

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