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Direito

Constitucional A

Professor Doutor Rui Medeiros

Eva Brás Pinho 1


Direito Constitucional
Capítulo I:
Constitucionalismo
SECÇÃO I: ENQUADRAMENTO GERAL
1. Evolução do constitucionalismo de matriz ocidental
2. A universalização do Estado de direito democrático e seus limites
3. A Constituição e os novos constitucionalismos na atual encruzilhada transnacional

Sugestões básicas de leitura:


JORGE MIRANDA, Curso de Direito Constitucional, 1, pp. 60 e ss.; J.J. GOMES CANOTILHO, Direito
Constitucional e Teoria da Constituição, pp. 1367 e ss.; ROGÉRIO EHRHARDT SOARES, O conceito
ocidental de Constituição, in RLJ, ano 119º (1986-1987), pp. 36 e ss.; RUI MEDEIROS, A Constituição
portuguesa num contexto global, pp. 9 e ss.

Secção II: Evolução do constitucionalismo


português ( 1820 – 2005)

Constitucionalismo liberal (1820-1926):


1ª Constituição de 1822
• 1ª vigência à 7 meses (1822-1823);
• 2ª vigência à 2 anos (1836-1838).

2ª Carta Constitucional de 1826:


• 1ªvigência à2 anos (1826- 1828);
• 2ª vigência à2 anos (1834.1836);
• 3ª vigência à 68 anos (1842-1910).

3ª Constituição de 1838
• única vigência – menos de 4 anos (1838-1842).
4ª Constituição de 1911
• 1ª vigência – 6 anos (1911-1917);
• 2.a vigência (1918-1926)
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1. As constituições monárquicas

1) Constituição de 1822
• Origem: Cortes /Fonte: Constituição de Cádis)
• Direitos e deveres fundamentais (artigos 1ª -19ª)
• Soberania nacional (artigos 26ª e 27ª)
• Tripartição dos poderes à legislativo, executivo e judicial
• Cortes
o 1 Câmara (artigos 32ª – 120ª )
o eleita por sufrágio direto e universal (v. artigo 33ª)
• Rei
o poder reduzido
§ (não tinha poder legislativo nem poder constituinte; tinha um
poder de sanção reduzido; exercia o poder executivo com
referenda ministerial).
§ Natural uma vez que se vinha
o Era assistido por um Conselho de Estado.
• Reino Unido
• Supremacia das Cortes
• Previa uma união real com o Brasil mas este declarou independência antes da
constituição entrar em vigor;

Ø A soberania esta no povo uma vez que foi fruto de um espirito


revolucionário

“As Cortes Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, intimamente


convencidas de que as desgraças públicas, que tanto a têm oprimido e ainda oprimem,
tiveram sua origem no desprezo dos direitos do cidadão, e no esquecimento das leis
fundamentais da Monarquia; e havendo outrossim considerado que somente pelo
restabelecimento destas leis, ampliadas e reformadas, pode conseguir-se a prosperidade
da mesma Nação e precaver-se que ela não torne a cair no abismo, de que a salvou a
heróica virtude de seus filhos; decretam a seguinte Constituição Política, a fim de
segurar os direitos de cada um, e o bem geral de todos os Portugueses.”

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• Manifestação de que a titularidade da soberania estava no povo

2) Carta Constitucional de 1826


• Origem: Outorga do Rei/Fonte: Constituição Brasileira 1824
• Direitos e garantias dos cidadãos (artigo 145ª)
• 4 Poderes do Estado: legislativo, moderador, executivo e judicial.
• Rei
o equilibra todos os poderes (artigo 7ª)
o Era assistido por um Conselho de Estado.
• Cortes
o 2 Câmaras (Pares e Deputados)
o votam leis sujeitas a sanção do rei.
• Poder executivo
o exercido pelo rei com referenda ministerial
o (quando a Câmara dos Deputados estava dissolvida: o governo fazia
decretos ditatoriais, a que se seguiam bills de indemnidade).
• Supremacia do Rei
• não há a ideia da soberania nacional à é o rei que concede algum poder ao
povo
• elemento mais monárquico da historia constitucional

Ø A Constituição não resulta do espírito revolucionário, mas da outorga de um rei que


se reserva o poder supremo, mas que aceita limitar o seu poder. à logo o poder
constituinte e o titular do poder foi o rei e não o povo

“DOM PEDRO POR GRAÇA DE DEUS, Rei de Portugal e dos Algarves, etc. Faço
Saber a todos os Meus Súbditos Portugueses, que Sou Servido Decretar Dar e Mandar
jurar imediatamente pelas Três Ordens do Estado a Carta Constitucional abaixo
transcrita, a qual de ora em diante regerá esses Meus Reinos e Domínios”

• manifestação de que o rei é o titular de soberania

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Atos adicionais à Carta Constitucional

A) Ato adicional de 1852


• liberalização da carta constitucional;
• passou para la algum texto da constituição de 1838( que tinha tido
pouco tempo de vigência);
• eleição direta dos deputados

B) Ato adicional de 1885


• limitar o poder do rei
o com a supressão da hereditariedade dos Pares e limitação do seu
número;
o sujeição a referenda ministerial dos atos do poder moderador;
o consagração de 2 novos direitos fundamenais
§ direito de petição e de reunião

C) Decreto de 1895 e ato adicional de 1896


• aumentar o poder do rei à para tentar impedir a queda da monarquia
o substituição dos pares eletivos por pares de nomeação régia;
o poder de dissolução da Câmara dos deputados

D) Constituição de 1938
• Origem: assembleia com sanção real
• Fonte: compromisso entre Constituição de 1822 e Carta de 1826
• Direitos e garantias da Constituição (artigos 9º a 32º)
• Soberania nacional (artigo 33º)
• Tripartição dos poderes: legislativo, executivo e judicial
• Cortes
o 2 Câmaras (Senadores e Deputados)
o eleita por sufrágio direto e censitário (v. artigos 72º- 73.º)
• Rei
o não tinha poder moderador, mas tinha veto absoluto sobre as leis e
poder de dissolução da Câmara dos Deputados
§ “quando assim o exigir a salvação do Estado” (artigo 81º);
o exercia o poder executivo com referenda ministerial.
o Não era assistido por um Conselho de Estado.

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“DONA MARIA, por Graça de Deus, e pela Constituição da Monarquia, Rainha de
Portugal,e dos Algarves, d'aquém e d'além Mar, em África Senhora de Guiné, e da
Conquista, Navegação, e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia, e da Índia, etc. Faço
saber a Todos os Meus Súbditos, que as Cortes Gerais, Extraordinárias, e Constituintes
Decretaram, e Eu Aceitei, e Jurei a seguinte:”

• Aqui existe uma partilha de poder à vontade do povo nas cortes + aceitação do rei
à revolução pacticia ( acordo entre 2 titulares de poder soberano)

2. A primeira República

1910 à proclamação da republica;

A) Constituição de 1911

1891à já havia um programa republicano muito bem definido:

a) Municipalismo à democracia devia intensificar-se; organização politica devia


descentralizar-se em regiões e províncias
b) ideia de democracia politica e económica
c) ideia do sufrágio direto e universal
d) ideia da eleição direta das assembleias legislativas
e) fim do serviço militar obrigatório
f) desaparecimento do corpo diplomático (para acabar com as classes que
subsistiam—A passavam a ser funcionários do estado)
g) o poder executivo devia ser uma delegação temporária do poder legislativo
h) laicização social
o liberdade de consciência
o igualdade de todos os cultos
o registo civil obrigatório ( pq antigamente era feito nas igrejas)
o secularização dos cemitérios
o ensino laico
o proibição absoluta das ordens e congregações religiosas
o separação absoluta entre Igreja e Estado

• Origem: Assembleia constituinte


• Fonte: Constituição Suíça e Constituição
• Queda da monarquia – abalada desde o final do séc XIX

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o formaram-se grupos republicanos que queriam a queda da monarquia e foram
agitando a vida política, criando momentos de tensão
• A assembleia constitui em julho de 1891
• Forte contributo da prática constitucional ( ex: parlamentarismo) do séc XIX
• O texto em si surge em Agosto;
• Texto mais curto português ( 87º artigos)
• Art 63º - fiscalização da Constitucionalidade das leis

• Sistemas parlamentar atípico

o PR não tem poder de dissolução nem veto e o congresso pode destituí-lo à


apenas funções representativas;

• Poder executivo era feito pelos ministros;

Art 1º - Portugal é um estado unitário ( afastar do federalismo);


forma de governo à republica

• Art 3º e 4º à direitos e garantias fundamentais ( baseado na tradição liberal).


o Grande preocupação com a dignidade social, negando os privilégios de
nascença

• Congresso da República à 2ª camaras àsufrágio direto ( art 8º e 11º)


o camara dos deputados ( e senado
o senado à regiões administrativas e régios ultramarinas
o Parlamento com poder na altura tinha poder constituinte com maioria de 2 terços
e podia fazer alterações à constituição;

Pela 1º vez à direito de resistência contra quem atente aos meus direitos e garantias

Revisões constitucionais da Constituição de 1911

Ø A 1ª republica teve um grave problema porque houve imensa instabilidade devido


à intolerância entre o grande pluralismo de partidos que estavam constantemente a
dissolver os governos que não tinham tempo para fazer mudanças a serio

Ø O sistema parlamentar era improdutivo


Ø Instabilidade acrescida com golpes e revoltas porque todos os grupos se tentavam
afirmar
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Ø 1919 – 1926 à 7º legislaturas sempre dissolvidas ( porque não havia poder
moderador que era repudiado pelos republicanos por lembrar o rei)

a) Revisão de 1916
• motivada pela participação na I GM
• Pouco significativa
b) Decreto ditatorial de 1917 (Sidónio Pais)
• instituição de sistema presidencialista + reforma do Senado.

c) Revisão de 1919-1921:
• Previsão funcionamento das Câmaras em plenário e em secções
• PR passa a poder dissolver as Câmaras “quando assim o exigirem os superiores
interesses da Pátria e da República”
• Organização de um Conselho Parlamentar
• Bases para a criação de um amplo sistema de administração colonial

1926 à golpe à Ditadura militar e fim da 1º republica

Contudo a constituição de 1911 só é verdadeiramente revogada com a entrada em vigor


da constituição de 1933
PR eleito por sufrágio direto à general Oscar carmona à declarou que o presidente
devia governar com o apoio dos secretários de estado

3. O Estado novo

1926 -1933 à ditadura militar


1933 – 1974 à vigência da Constituição de 1933, inicio do Estado Novo

Constituição de 1933

Ø Conselho politico nacional à órgão para redigir a constituição \


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Ø 28/5/1932 à projeto foi publicado nos jornais com relatório explicativo à feita por
Salazar este inspirou se :
o na experiencia da ditadura militar
o tendência presidencialista
o era útil que o governo tivesse uma faculdade legislativa
o aproveitou a pratica constitucional da monarquia
o baseou se na constituição de 1819

• Origem: discussão pública+plebiscito


• Fonte: prática constitucional liberal+ experiência da ditadura militar+
Constituição Weimar 1919

• Direitos fundamentais (artigo 8º)


o carácter autoritário com previsão de leis especiais para regulação das
liberdades de expressão, de ensino, de reunião e de associação à (v.
artigo 8º parágrafo 2º).

• Presidente da República eleito por sufrágio direto até 1959 com poderes
semelhantes ao poder moderador a carta constitucional;
o 1959 à PR perde o poder definitivamente à Salazar enquanto presidente
do conselho passa para si as competências do PR
o A partir daí, eleito por colégio eleitoral à perde poder porque como
deixa de ser diretamente eleito pelo povo, perde legitimidade
democrática;

• Governo – detentor da autoridade governativa


o (presidencialismo do 1º Ministro)

• Assembleia Nacional
o 1 Câmara com poder reduzido
o (sessões legislativas curtas/ não demite o Governo)
o Começou com 90 deputados e foi aumentando
o Partido único à união nacional
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o Servia para fiscalizar a ação do governo
o Votava leis da iniciativa dos deputados e do governo
o Tinha muito pouco trabalho ( o governo monopolizava a ação
legislativa)

• República corporativa (a Câmara Corporativa era quase uma segunda Câmara)


o passou a ser órgão de consulta do governo também
o inclui a igreja, universidades, representantes das organizações,
administração publica etc
o parece um órgão plural mas as pessoas não tinham liberdade para dizer o
que verdadeiramente pensavam do governo

Ø PR com poderes semelhantes aos que o o poder moderador; tinha na carta


constitucional ; passa a ser eleito por colegio eleitoral e por deixar de ter tanta
legitimidade democrática, perde poder

Revisões constitucionais – Constituição de 1933


Ø 9 as revisões constitucionais em cinco momentos:

a) 1935-1938 à redução do poder da Assembleia Nacional e


ampliação dos poderes do Governo
b) 1945 idem e reconhecimento de competência legislativa ao Governo)
c) 1951 à integração do Acto Colonial na Constituição)
d) 1959 à O PR passou a ser eleito por um colégio eleitoral
e) 1971 à revisão mais extensa:
o receção geral plena do direito internacional convencional;
o igualdade como proibição de discriminação com base na raça;
o reforço dos direitos no campo do processo penal;
o revigoramento das funções da Assembleia Nacional
o ( marcello caetano no poder)
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4. A Constituição de 1976: da sua génese à atualidade
4.1. A revolução do 25 de abril
4.2. O processo atribulado de elaboração da Constituição de 1976
4.3. A dupla bipolarização estrutural do texto originário da Constituição
4.4. Os dois momentos constitucionais subsequentes
4.5. O frenesim constitucional
4.6. A aparente paz constitucional atual e a influência da Constituição de 1976 no
constitucionalismo de matriz lusófona

Muito bem recebida

Fernando pessoa justifica a ditadura dizendo:


- ditadura necessária para evitar guerra civil
- finalmente a constituição esta adaptada a nos
- so assim é possível substituir um governo que estava incapaz de governar Portugal

objetivos do 25 de abril ( programa dos MFA)


- desaparecimento da censura
- regresso dos exilados
- libertação dos presos políticos

1974 – 1976:
- vigoraram 35 leis constitucionais
- ex: lei que prende os funcioanrios da PIDE e que viola a proibição da retroatividade da
lei penal
lei 3/ 74 à obrigava q ate 31 de março de 1975 se devesse aprovar a constituição novo
e que ate la governaria o PR eleito pelo conselho de Estado e ainda governaria o
governo provisório
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objetivos:
- democracia
-desenvolvimento
- descolonização

até à assembleia constituinte:


- Periodo do PREC ( processo revolucionário em curso)à objetivo socializante;
processo revolucionário em curso
nacionalizações e expropriações
a revolução foi dominada por anarquistas e movimentos revolucionários e populares
março 1975 à inicio da primavera / verão quente
• Criação do conselho da revolução que substitui a junta de salvação nacional
• Período de vasco gonçalves
• Predomínio do poder da extrema esquerda
• Inicia-se o processo constituinte
• Vários partes engolem sapos e acordam com o MFA um acordo que condiciona
o processo de feitura da Constituição
o Este pacto definia linhas para a constituição
o Não aceitava uma democracia representativa
o Preponderância do Conselho da revolução
• As pessoas estavam todas umas contra as outras

Ø Com o fim do verão quente os partidos querem um novo acordo com o MFA pq
com o antigo os partidos não conseguiam fazer passar aquilo em que realmente
acreditavam
o Prevê-se a leição do PR por sufrágio direto
o Restriçao das funções do conselho da revolução
o Suprimida a assembleia do MFA
o Definida a responsabilidade politica do governo perante a assembleia
o Supressão do direito de iniciativa

Texto constitucional de 1976:


• Forte proteção dos direitos liberdades e garantias
• O art 16º é uma clausula aberta a direitos que não estejam tipificados
• Afirmação clara da ideia de construção de uma sociedade socialista sem classes
• Ideia de repartição de poderes
• Prevê-se um sistema muito completo no que toca ao processo de fiscalização das
leis
• Organização do sistema politico à evitar os vícios do parlamentarismo de 1911
ea concentração de poderes de 1933 à semipresidecialismo

Revisões constitucionais:
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1) 1982 à revisão muito extensa
• redução das marcas ideológicas
• Anteriormente os direitos fundamentais estavam mt virados para os
trabalhadores e não para todos
• Economia pluralista
o Economia era mt socialosta e marxista
• Extinsão do conselho da revolução e das funções politicas das FA
• Criação de um TC reequilíbrio das relações entre PR, AR, E GOv,
atendendo a extinção do conselho da revolução

2) 1989
• aligeiramento da intervenção do estado a nível económico
• redução das marcas ideologicas
• supressão da regra a irreversibilidade das nacionalizações

3) 1992
• revisão para tornar possível a ratificações do tratado fr Maastricht
• art 7º da construção da EU
• reconhecimento da capacidade eleitoral a cidadãos da UE
4) 1997
• revisão extensa
• tentativa do apagamento final das marcas ideológicas ( ex: através da
alteração de expressões linguísticas especificas da época)
• aumento dos poderes da AR e do TC
• Previsão da possi
5) 2001
• adaptra a constituição aos estatutos do tribunal penal internacional
• uma vez que estes estatutos prevê que Portugal pode ter de entregar
competências
• cidadãos portugueses não podiam ser extraditados e agora abre-se uma
exceção

6) 2004
• visou dar mais autonomia às regiões
• dar mais poder as assembleias regionais
• atribuição delimitação de mandatos de cargos políticos
• reforço no principio da igualdade
7) 2005
• adapta-se ao dirieto internacional admitindo os referendo aos tratados de
construção europeia

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Direito Constitucional
Sugestões básicas de leitura:
JORGE MIRANDA, Curso de Direito Constitucional, 1, pp. 76 e ss.; J.J. GOMES CANOTILHO, Direito
Constitucional e Teoria da Constituição, pp. 103 e ss., e 125 e ss., e 193 e ss.; MARCELLO CAETANO,
Constituições portuguesas, passim.

Capítulo II: Estado de direito


democrático
Secção I: Dignidade da pessoa humana,
Estado de direito e democracia

Principio da dignidade da pessoa humana

Artigo 1º(República Portuguesa)

Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na


vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

Ø Princípio basilar e fundamento da República

• Portugal não se reconhece como um estado que não parta deste o pilar
fundamental

• A ideia de que o estado tem de respeitar a dignidade da pessoa humana é


algo absolutamente assumido por todos.

• Todos entendem que o valor da dignidade da pessoa humana é um


valor absoluto.

• A dignidade da pessoa humana de todas as pessoas, é a fonte ética que


sustenta os direitos, liberdades e garantias pessoais e os direitos
económicos sociais e culturais.

• É o princípio axiológico fundamental e limite transcendente do


poder constituinte, serve também de critério de interpretação e
integração;

• Na CRP :
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o Art 1º; art 26º nº2 e 3; art 59º nº1 alinea b); art 67º nº2 alinea e); art
206ª

Ø A dignidade da pessoa humana é protegida tanto na CRP como em diversos


textos internacionais:
• Carta das Nações Unidas
• No Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e Culturais e dos
Direitos Civis e Políticos;
• Na Declaração Universal Dos Direitos Humanos
• Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia;

Mas o que é que significa “ principio da dignidade da pessoa humana”?

R:. qualquer pessoa, novo ou velho, preto ou branco, hindu ou católico.


Todas as vidas são absolutas.
Um estado que assente no principio da dignidade da pessoa humana assenta para toda a
e qualquer pessoa
Ex: um imigrante ilegal criminoso nunca deixará de ser tratada quando entra nas
urgências com um avc só por não ter documentos.

Como é que se compara varias dignidades da pessoa humana?

Vertente utilitarista ( principio do mal menor) vs infinito valor da vida humana

Questões que se levantam:

A eutanásia viola a dignidade da pessoa humana?


O aborto viola a dignidade da pessoa humana?

No fundo, com o que é que é compatível a dignidade da pessoa humana?

Para entendermos o que é que dignidade da pessoa humana significa temos de entender
o que é que o legislador tinha em mente.

Remete-nos para os direitos fundamentais;


A dignidade da pessoa humana também implica o salvaguardar dos direitos sociais.

Para a constituição tudo isto esta implícito no conceito de proteção da dignidade da


pessoa humana VS constituição americana à oferta de saúde universal para todos os
cidadãos, não esta incluida no conceito de proteção da dignidade da pessoa humana.

Ø Compreende-se assim, que o conceito de dignidade da pessoa humana deve


ser entendida à luz do entendimento nacional porque os vários Estados têm
visões diferentes.
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Direito Constitucional
Em suma, alguns pontos para entender a dignidade da pessoa humana:

1) a dignidade da pessoa humana refere-se a toda e qualquer pessoa como seu


rosto e história e não de forma abstrata

2) É o principio basilar da CRP

3) O pensamento utilitarista não é compatível com o conceito de dignidade da


pessoa humana enquanto principio universal

4) Tem de ser entendida com base no que se entende dos direitos fundamentais
(ou seja no modo como a CRP o explicita)

5) Não se exclui que este principio em situações limites possa ser diretamente
aplicável quando não houver nenhuma norma constitucional se concretize; ou
seja quando a constituição não explicite tao bem

Da consciência jurídica geral e de diferentes princípios e regras constitucionais pode


enunciar-se os seguintes pontos ( segundo Jorge Miranda):

a) A dignidade da pessoa humana é a dignidade da pessoa humana individual


e concreta;
b) A dignidade da pessoa humana é da pessoa enquanto homem e mulher;

c) A dignidade da pessoa humana é tanto da pessoa já nascida como da


pessoa desde a conceção ( refutado atualmente)

d) A dignidade da pessoa humana não pode ser apreendida sem consideração


da bioética;

e) A dignidade da pessoa humana compreende o respeito das pessoas


carecidas ou sujeitas a cuidados de saúde;

f) O respeito da dignidade implica a garantia da intimidade pessoal e


familiar;

g) O respeito da dignidade implica o respeito da orientação sexual das


pessoas;

h) A dignidade pressupõe autonomia da pessoa, embora não pressuponha


capacidade ( psicológica) de livre decisão;

i) Cada pessoa vive em relação comunitária, que exige o reconhecimento por


cada pessoa de igual dignidade das demais pessoas;

j) Cada pessoa vive em relação comunitária, mas a dignidade que possui é


dela mesma, e não da situação me si;

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k) A dignidade da pessoa, que é também dignidade social, exige integração ,
participação na vida comunitária, inclusão;

l) A dignidade da pessoa exige condições adequadas de vida material;

m) O primado da pessoa é do ser; não o do ter, e a liberdade prevalece sobre


a propriedade;

n) Somente a dignidade explica a procura da qualidade de vida

o) O respeito da dignidade justifica a criminalização da ofensa dos bens


jurídicos subjacentes aos direitos fundamentais de acordo com a
consciência geral e um princípio de proporcionalidade, e requer a
proteção da vítima;

p) Todavia, a dignidade da pessoa permanece independetemente dos seus


comportamentos ilícitos;

q) A dignidade da pessoa é um prius em relação à vontade popular;

r) A dignidade da pessoa está para além da cidadania portuguesa;

Há uma grande tensão entre estado de direito vs democracia à ponto de partida


relevante

a) Manifestações de um estado democrático


b) Manifestações de um estado de direito

Ø Estado português também é um estado autonómico e aberto ao pluralismo e


globalização à questão do estado integrado na europa e no mundo

Portugal:

• É um Estado de Direito e uma Democracia à art 2º da CRP


o Estado de Direito porque:
§ Submete ao que é materialmente justo
§ Porque se limita materialmente o poder político
§ Porque salvaguarda os direitos fundamentais da pessoa humana

Nota: Estados de Direito não têm de ser sempre democracias como


eram as Monarquias constitucionais do séc XIX;

o Estado democrático porque:


§ O governo é baseado na soberania popular
§ Sustentado no voto universal e livre

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• A CRP legitima e limita o poder; é ainda a expressão da vontade soberana do
povo;

a) Princípio do Estado de Direito


Segundo o Prof. Gomes Canotilho:

“ Rechtsstaat” à “ Estado de Direito” aparece no início do século XIX como uma


dimensão da “ via especial” do constitucionalismo alemão.

Ø Inicialmente, o Estado de direito começou por ser caracterizado, em termos muito


abstratos, como “ Estado da Razão” e “ Estado limitado em nome da
autodeterminação da pessoa”

Ø Estado de Direito = Estado liberal de Direito

• Contrapõem-se à ideia de Estado de Polícia que tudo regula e que assume


como tarefa própria a prossecução da “ felicidade dos súbditos”

• Limita-se à defesa da ordem e segurança públicas deixando as questões


económicas e sociais para os mecanismos da liberdade individual e
concorrencial

• Os direitos fundamentais liberais decorriam não tanto de uma declaração


revolucionária de direitos mas do respeito de uma esfera de liberdade individual
o Por isso os direitos fundamentais à liberdade e propriedade só podiam
sofrer intervenções autoritárias por parte da administração quando tal
fosse permitido por uma lei aprovada pela representação popular

• Os poderes públicos são também obrigados a agir nos termos da lei,


exigindo um controlo judicial da atividade da administração

b) Princípio do Estado democrático

Ø Paulo Otero diz que a dignidade da pessoa humana esta na base quer do estado de
direito, quer do estado democrático, diz por isso, que a dignidade da pessoa humana
se sobrepõem à vontade popular;

Ø Rui medeiros diz que a constituição é o que ilumina o conceito de dignidade da


pessoa humana, traduzido na vontade democrática;

Manifestações por excelência daquilo que é um estado democrático, assente na


vontade popular:

1) Poder constituinte
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Direito Constitucional
2) revisões constitucionais
3) função legislativa

Porque é que o elemento democrático foi introduzido?

• Para travar o poder público arbitrário


• Pela necessidade de legitimação do poder

Ø A Democracia legitima o poder

Ø O Estado impolítico do Estado de Direito não responde à pergunta “ de onde


vem o poder?”

Só o princípio da soberania popular segundo o qual “ todo o poder vem do povo”


assegura e garante o direito à igual participação na formação democrática da
vontade popular.

Ø O sufrágio é a vontade direta que contribui para a vontade coletiva:


• Livre à liberdade de consciência
• Igual à todo o voto tem o mesmo valor
• Direto à escolhe-se diretamente o representante
• Universal à todos os cidadãos podem votar

Tipos de Democracia:

a) Representativa

• Por questões logística e dada a dimensão de eleitores e impossível funcionar


sobre um regime e democracia direta

• Ideia de titularidade de poder no povo ( escolher os representantes traduz uma


ideia de auto-governo) + ideia de bom governo

• Acresce que muitas pessoas não têm literacia para tomar decisões de tamanha
relevância e não têm nem o distanciamento nem a formação e informação
necessária;

• É necessário dividir o trabalho entre representantes e povo, pois as formulações


constantes de escolhas complexas exigem empenho e um alto grau de
aprofundamento nas questões políticas – não seria prático ou racional.

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b) Participativa ( art 2º)

• Pressupõe a participação da população na política e é um direito fundamental


consagrado no art 48º
• Complementa a democracia representativa
• Pode ser feita:
o Pelo acesso às funções públicas
§ à artigos 47º, 50º, 51º e 52º
§ qualquer cidadão pode fazer petições a qualquer órgão, defesa
da coletividade, associações de trabalhadores e sindicatos

o Direito de ação popular à art 263º e segs


• Os três órgãos com acesso à função legislativa têm, contudo, que ouvir os órgãos
das entidades interessadas.
o Ex.: trabalhadores e seus sindicatos têm o direito de se pronunciar se
os órgãos com acesso à função legislativa quiserem alterar o Código do
Trabalho. Está previsto nos artigos 54º e 55º da Constituição.

c) Pluralista ( art 10º)

Se é o povo que faz o catalogo dos direitos fundamentais, questionamos o que é que o
povo que te há 40 anos fez a constituição, tem a mais para definir tudo isto mais do que
a geração atual;
Leva-nos à importância da interpretação atualista da constituição

Secção II: Aspetos nucleares do princípio


democrático
1. Soberania popular e poder constituinte

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Direito Constitucional
1.1. A afirmação da soberania popular

Em Portugal:
• Art 1º à “A República Portuguesa (...) baseado na soberania popular..”
• Art 3º nº1 à “ A soberania, uma e indivisível, reside no povo, que a exerce
segundo as formas previstas na CRP”
Ø A república Portuguesa é soberana porque :
• é autodeterminada e autogovernada
• acolhe como título de legitimação a soberania popular
Ø A República é uma ordem de domínio de pessoas sobre pessoas, o domínio sujeito À
melho deliberação política de cidadãos livres e iguais.
Ø A forma republicana de governo está associada à ideia de democracia deliberativa

Historicamente:

1. Jean Bodin

• Noção de Soberania Absoluta e perpetua. Una e indivisível. Não delegável.


• Contexto à fim da idade média. Inicia o fundamento para o avanço da
monarquia absoluta. Rei era o único poder soberano;

• O estado (= rei) tinha o poder absoluto e perpetua.

o Era um poder geral que o rei tinha em diferentes manifestações da sua


autoridade.
o Todos os poderes do rei eram poderes soberanos.

Ø Na logica da soberania popular o rei só é rei se o povo o aceitar

• Constituição de 1826 à outorgada pelo rei o que vai contra esta ideia
• Constituição de 1822 à a titularidade da soberania e do poder esta no povo

2. Revolução francesa:

• Pais da Revolução Francesa à Montesquieu e Rosseau

o Montesquiou à o poder está dividido. A soberania é una e indivisível.


o Rosseau àa lei é a expressão da vontade geral. A soberania é indivisível

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Direito Constitucional
Como é que se conjuga a afirmação de que a soberania é una e indivisível com a
separação de poderes?

• A soberania está no momento constituinte à É no momento constituinte que o


povo é soberano.
o ( ideia que vem da revolução francesa)

1ª redução ao conceito de soberania à o momento soberano em sentido estrito é o


momento constituinte.

Ou seja, só o poder constituinte é que é uno e indivisível bem como absoluto.

Nota: O poder legislativo nunca é absoluto porque é limitado pela CRP

Governo, tribunais , AR e PR são os órgãos de soberania


• Contudo, a noção de “ soberanos” é discutível uma vez que são apenas
constituídos da CRP
• A produção destes órgãos não está no centro, pois já são apenas manifestações e
resultados do poder constituinte ( poderes constituídos)

.
3. Revolução Americana

2ª redução:

Como é que se desconstrói a ideia de poder absoluto e ilimitado?

a) Revolução americana foi feita com a perceção de que o soberano tinha de


respeitar um conjunto de direitos naturais que se impunham ao próprio
homem.

Logo, o poder não podia ser absoluto e ilimitado por ter de se subjugar a isto.

b) O facto de serem 12 colonias exigia um poder descentralizado.

Assim, este poder é originário. (= poder constituinte que não é nem absoluto nem
ilimitado por estar sempre limitado pelas ius cogens).

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Direito Constitucional
Conclusão:

1. O estado constitucional é caracteriza-se por ser soberano art 1º e 3º nº1 crp)


• A soberania una e indivisível reside no povo

2. O conceito de soberania hoje já não tem nada a ver com o conceito de soberania
abrangente de Jean Bodin
Todos os poderes constituídos são derivados do poder originário
Não é absoluto porque está limitado pelas Ius cogens

3. O poder constituinte depende do momento em que um grupo deseja uma


mudança e tem efetivo poder para provocar uma alteração

4. Este momento constituinte surge por definição quando :


• surge o estado.
• Quando se quer sair de um estado e criar-se outro
• Num momento de mudança de regime politico ( revoluções mas também
transições constitucionais quando o poder interno vê a necessidade de
elaborar uma nova constituição)

O momento constituinte afirma-se num momento inicial, independentemente de


ter sido formalizado num momento escrito

1.2. Poder constituinte e formação da Constituição

Poder constituinte = momento originário

• Equivale à capacidade de escolher entre um ou outro rumo, nessas


circunstâncias;

• Nele consiste o conteúdo essencial da soberania ( na ordem interna)

o Soberania enquanto faculdade originária de livre regência da


comunidade política mediante a instituição de um poder e a definição do
seu estatuto jurídico;

a) Poder Constituinte Material

• É antes de mais uma ideia e um conceito material


• Reflete um poder de autoconformação do Estado segundo certa ideia de
Direito
• Precede ao poder constituinte formal

Eva Brás Pinho 23


Direito Constitucional
o No fundo a ideia de poder constituinte não pode estar em nada escrito,
tem de ser algum conceptual

b) Poder Constituinte Formal

• Reflete um poder de decretação de normas com a forma e a força jurídica


das normas constitucionais
• Complementa e especifica a ideia de Direito
• Através dele declara-se e firma-se a legitimidade em que agora assenta a ordem
constitucional
• Confere a estabilidade e garantia de permanência e de supremacia hierárquica ou
sistemática ao princípio normativo que esteve inerente à Constituição material;

o Estabilidade à porque a certeza do Direito exige o estatuto da regra

o Garantia à visto que só a Constituição formal coloca o poder material


ao abrigo das vicissitudes da legislação e da prática quotidiana do Estado
e das forças política.

Os atos constituintes podem ser:

a) Unilaterais singulares
• Quando compete a um único órgão ou sujeito
• Exemplos:
o Carta Constitucional de 1826
o Decreto do Presidente da República ou de outro órgão do Poder
Executivo ( Brasil em 1937)
o Aprovação por assembleia formada especificamente para isso (
assembleia constituinte)

b) Unilaterais plurais

• Soma ou o resultado dos atos parcelares provenientes de dois ou mais


órgãos da mesma entidade titular do poder constituinte.
• Exemplos:
o Aprovação por referendo, prévio ou simultâneo da eleição de
assembleia constituinte de um ou vários grandes princípios
o Elaboração pelo Governo e a aprovação final por referendo
o Elaboração por assembleia constituinte, seguida de referendo

c) Bilaterais ou plurilaterais
• Acordo de vontades entres dois ou mais sujeitos ou entidades
• Exemplos:
o Elaboração e aprovação da Constituição por assembleia
representativa, com sujeição a sanção do monarca
§ Portugal em 1838

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Direito Constitucional
o Aprovação da Constituição por assembleia representativa,
seguida de ratificação pelos Estados componentes da União
§ EUA em 1787

• São as chamadas Constituições Pactícias


o Implicam um pacto entre a assembleia ( ou o povo) e o Rei

Ø A teoria do poder constituinte é neutra a nível axiológico.


• Pode existir soberania de um grupo de militares, de uma família, etc se estes
reivindicarem para si o poder constituinte de fazer uma constituição nova

Significa que o poder constituinte não tem de ser necessariamente democrático, só tem
de ter força suficiente para mudar a realidade.
O poder constituinte não tem de ter o apoio do povo, tem é de ter poder efetivo.

Exemplo:

Catalunha.
É um povo que reivindica tornar-se um estado. Não seria inconstitucional se
presumirmos que a Catalunha esta num momento originário e portanto a constituição
espanhola não teria qualquer vinculo a eles.

A questão é que a Catalunha não tem força para se impor, porque se tivesse tínhamos
simplesmente o nascimento de um novo estado.

Constituição e soberania do Estado

Quando um Estado:
• Surge de novo
• Restaurado
• Ou sofre uma transformação radical da sua estrutura

Aparece dotado:
a) de uma Constituição material a que se seguirá de uma Constituição formal
b) de uma Constituição material já acompanhada de constituição formal

Constituição material à exprime direta e imediatamente, a soberania que o Estado


assume ou reassume nesse momento

Constituição formal pode corresponder a à

a) Constituição decretada pelos novos órgãos estatais, seja como definitiva seja
como provisória;
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Direito Constitucional
b) Constituição coincidente com a Constituição ou estatuto jurídico da
comunidade política preexistente
o Colónia autónoma, comunidade em situação internacional sui generis ou
território sob mandato ou sob tutela

c) Constituição dimanada de entidade externa e destinada a entrar em vigor com


o acesso à soberania ( ou à independência) do novo Estado.

Ø Um momento originário reflete que num determinado momento histórico:

o O povo quis escolher uma mudança de regime à ex: 25 de abril


o Acontece a formação de um Estado
§ Transição constitucional
§ Revolução

a) A revolução como fenómeno constituinte

Revolução:
• é uma manifestação da maioria do povo de que não está satisfeito com o
atual contrato social;
• Fenómeno profundamente jurídico
• Representa uma rutura;
• Tem em vista a introdução de uma nova ideia de direito, por norma,
contrária à existente

o pode ser a instauração de um regime novo e inédito ou a restauração de um


regime anterior

Por ordem de razão, e uma vez que o contrato social é um acordo, no momento em que
o povo demonstra vontade de romper com ele, o vinculo desaparece

Ø Num momento originário o vinculo à constituição antiga quebra-se. à O verdadeiro


momento de alteração da constituição foi no momento da revolução

Ø Portugal e qualquer republica soberana, é o por ter um poder constituinte. E isso


garante a faculdade de “ rasgar” com o regime e toda a legislação que estiver em
vigor.

Ø A quebra do ordenamento em vigor só se torna possível pela presença de valores,


princípios e critérios que trazem legitimidade ao ato revolucionário;

A forma como é vista evoluiu ao longo dos tempos:

Eva Brás Pinho 26


Direito Constitucional
• Até aos séc. XVII e XVIII a revolução era tomada principalmente da ótica do
direito de resistência coletiva ou rebelião;

• Com a Revolução francesa deixa de ser encarada tanto pelo sentido negativo e
mais pelo sentido positivo;

• Deixa de ser tão encarada como a substituição de um governo por outro e mais
como criação de uma ordem nova;

b) A transição constitucional

A transição constitucional é na mesma uma quebra com a constituição anterior.


Ø É muito menos frequente e mais difícil de registar
Exemplos:
• Outorga da Carta constitucional por D. Pedro IV em 1826
• Instauração do fascismo na Itália de 1922 a 1925;
• Transição do regime militar para um regime constitucional democrático como
no Perú de 1977 a 1979;
• A transição de regime marxistas-leninistas para regimes pluralistas na
Hungria, na Polónia e na Bulgária, em 1989 e 1990;
• A passagem do apartheid ao regime democrático multirracial na África do Sul;

Ø Nas revoluções quando à rutura com o regime precedente, há logo o nascimento


de uma nova constituição. Na transição ocorre um dualismo.
• Enquanto se prepara a nova Constituição formal, subsiste a anterior,
a termo resolutivo.
• Nada impede que o mesmo órgão funcione simultaneamente como órgão
de poder constituído à sombra da Constituição prestes a desaparecer e
como órgão de poder constituinte com vista à Constituição que a vai
substituir.
• Quem consegue que isto aconteça é quem está no poder;
• Não se trata apenas de uma revisão mas sim uma alteração do código
genético da antiga constituição e, por isso, necessariamente, a criação de
uma nova;

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Direito Constitucional
Ø O processo de transição pode ser:
a) insuscetível de configuração a priori, dependente das
circunstâncias históricas ( na maioria das vezes)

b) outras vezes adota-se o processo de revisão constitucional

c) a Constituição pode admitir expressamente formas agravadas de


revisão para se alterarem princípios fundamentais da Constituição e,
portanto para se transitar para uma nova Constituição;

Ø Na transição observam-se as competências e as formas de agir instituídas:


• O Rei absoluto, por o ser, julga poder autolimitar-se
• Uma Assembleia pode ser autorizada por uma lei formalmente conforme
com a Constituição pre-vigente a decretar uma nova Constituição;

Existe um desvio ou excesso de poder mas esse desvio só se dá do prisma da


Constituição anterior, não do prisma da nova Constituição

Ø Nisto consiste o exercício do poder constituinte originário tal como se


verifica com a revolução
Ø Uma transição produz-se porque a velha legitimidade se encontra em crise, e
justifica-se porque emerge uma nova legitimidade;

É a nova legitimidade ou ideia de Direito que vai não só impor-se como


fundamento de legalidade mas ainda obter efetividade;

Os limites materiais do poder constituinte

Ø O poder constituinte é logicamente anterior e superior aos poderes ditos


constituídos ( legislativo, executivo e judicial)

A Constituição define-os e enquadra-os:


• Não podem ser exercidos senão no âmbito da Constituição
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Direito Constitucional
• As decisões e as normas que resultem desse exercício não podem contrariar
o sentido normativo da Constituição

Não significa que o poder constituinte:


• equivalha a poder soberano absoluto
• que tenha capacidade de emprestar à Constituição todo e qualquer conteúdo, sem
atender a quaisquer princípios, valores e condições;

Ou seja, o poder constituinte confere legitimidade à constituição mas está sempre


limitado a parâmetros supraconstitucionais;

Jorge Miranda distingue 3 categorias de limites materiais do poder constituinte:

a) Transcendentes
• Dirigem-se ao poder constituinte material
• Antepõem-se e impõem-se à vontade de Estado e à vontade do povo;

• Provêm de imperativos de Direito natural, de valores éticos superiores, de


uma consciência jurídica coletiva;

• Salientam-se os que se prendem com os direitos fundamentais conexos com a


dignidade da pessoa humana
o Seria inválido decretar normas constitucionais que gravemente os
ofendessem

b) Imanentes
• Dirigem-se especificamente ao poder constituinte formal

• Compreendem limites que se reportam à soberania do Estado bem como à


legitimidade política em concreto;

• Decorrem da ideia de direito que é assumida num determinado tempo e


Eva Brás Pinho 29
Direito Constitucional
espaço, o poder não se pode desviar deles ou contrariá-los.

Exemplos:

o Não se concebe, num Estado soberano e que pretenda continuar a sê-lo, que
ele venha a ficar despojado da soberania à ex: aceitando a anexação a outro
Estado

o Nãos se concebe que num Estado federal e que pretenda continuar a sê-lo,
que ele passe a Estado unitário

c) Heterónomos
• Dirigem-se tanto ao poder constituinte formal como material

• São provenientes da conjugação com outros ordenamentos jurídicos;

• Princípios, regras ou atos de Direito Internacional, donde resultem


obrigações para todos os Estados ou só para certo Estado;

1. Heterónomos de carácter geral


o princípios de jus cogens

2. Heterónomos de carácter especial


o limitações do conteúdo da Constituição por virtude de deveres
assumidos por um Estado para com outro ou outros Estados ou
para com a comunidade internacional no seu conjunto

o Exemplo à o que acontece coma s garantias de direitos de minorias


nacionais e linguísticas impostas a certos Estados por tratados após a 1ª
e 2ª guerras

§ Ex: Obrigação da Finlândia de garantia dos direitos da


população das ilhas da Alândia, por força do tratado celebrado
com a Suécia em 1921

3. Heterónomos de Direito Interno

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Direito Constitucional
o São tipicamente os limites recíprocos, em união federativa, entre
poder constituinte federal e poderes constituintes dos Estados
Federados

o Ex: Os Estados federados devem subordinar-se aos imperativos da


sua agregação na união federativa;

1.3. Poder constituinte e poder de revisão constitucional

A revisão constitucional:
• é um poder constituído e não originário porque ela é só possível nos termos da
constituição
• é uma possibilidade de atualizar o texto constitucional sem se a desfigurar.
• Atualização da vontade do povo

“Modificação da Constituição expressa, de alcance geral e abstrato e, por natureza, a


que se traduz mais imediatamente um princípio de continuidade institucional;”

Revisão constitucional por Jorge Miranda

Modificações tácitas da Constituição:

a. Costume constitucional;

b. Interpretação evolutiva da Constituição


o a interpretação não pode ser feita sem elementos da realidade, logo, a
modificação da realidade gera modificação de normas constitucionais;

c. Revisão indireta
o há uma modificação do sentido de determinada norma em função da
modificação de outras normas constitucionais – resulta da interpretação
sistemática.

Artigo 284º (Competência e tempo de revisão)

1. A Assembleia da República pode rever a Constituição decorridos cinco anos sobre a


data da publicação da última lei de revisão ordinária.

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Direito Constitucional
2. A Assembleia da República pode, contudo, assumir em qualquer momento poderes
de revisão extraordinária por maioria de quatro quintos dos Deputados em efectividade
de funções.

Ø Em algumas situações este poder constituído ( revisão constitucional) pode


transmutar-se num poder constituinte à transição constitucional

• Ex: Rui Medeiros e alguns outros autores consideram que a atual constituição
de 76 não é a de abril e que houve no fundo uma transição constitucional

Constituições rígidas vs flexiveis

Em regra, o poder de revisão constitucional segue um procedimento diferente da feitura


das leis normais isto porque:

• A constituição tem de ter a ambição e representar mais do que a mera


vontade politica da geração que a redigiu.

• A constituição deve ser uma espécie de religião civil do estado.

• A revisão constitucional tem de ser mais difícil de fazer porque se não,


qualquer maioria politica, conjetural, podia fazer alterações gravíssimas
( ex: impondo uma tirania e tirando o principio democrático)
• A constituição deve se traduzir um consenso geral e isso nunca será uma
efémera maioria conjetural no parlamento.

Exemplo: O reino unido é um exemplo de constituição que não é muita rígida uma vez
que é apenas material e não escrita. É super flexível o e faz com que o parlamento possa
alterar o q quiser.

A maioria garantia da constituição está na existência de um grande apoio da


comunidade politica aquela constituição.

A constituição material britânica “ aguenta-se” porque há uma cultura constitucional


muito forte

Ideia de consciência coletiva em que as pessoas se revêm

Constituições rígidas:

a) constituição dos EUA – art 5º


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Direito Constitucional
b) Constituição portuguesa – art 284

Ø A Constituição Portuguesa é hiper-rigida, impõe limites muito complexos e


agravados à revisão constitucional;

Fatores de rigidez:

o Temporal – 5 anos
o 2/3 dos deputados em efetividade de funções à art 284º
o Imensos limites materiais à art 288º

Ø Tudo isto demonstra que a constituição de 76 tem vontade de condicionar em larga


medida o poder de revisão.

Critério temporal:

Ø Revisões ordinárias
• de 5 em 5 anos
• Art 284º nº2

Ø Revisões extraordinárias
• Para a aprovação de assunção a uma revisão 4/5 dos deputados
• Perceber se há 4/5 dos deputados disponíveis para aceitar a possibilidade de
uma revisão extraordinária

Problema:

à o art 286º nº1 não distingue se sendo revisão extraordinária ou não se em ambas é
exigido os 2/3 para aprovação

Artigo 286º (Aprovação e promulgação)

1. As alterações da Constituição são aprovadas por maioria de dois terços dos


Deputados em efetividade de funções.

As regras do procedimento de revisão constitucional na Constituição


de1976

Requisitos de qualificação:

1. Intenção de revisão
Eva Brás Pinho 33
Direito Constitucional
o É preciso assumir que o que se deseja é uma alteração da constituição.
o Artigo 287º

o Ex: no âmbito o combate ao terrorismo a AR, quase por unanimidade,


aprovou a lei dos metadados

§ o TC considerou inconstitucional e isto na verdade acabava por


ser uma alteração ao artigo 34º nº4, mas faltou a assunção de
que se queria alterar a constituição.
§ Ou seja, devia ter sido manifestado que aquilo se tratava de
uma mudança do texto constitucional

2. Tempo de revisão
o 5 anos entre revisões ordinárias
o Revisões extraordinárias podem ser em qualquer altura mas necessitam de
uma assunção de 4/5 dos deputados
o Art 284º

3. Iniciativa da revisão
o a iniciativa tem de ser dos deputados
o Art 285º

4. Aprovação
o a aprovação por 2/3 dos deputados em efetividade de funções
§ ( 154 deputados)
§ maioria duplamente qualificada (em efetifidade de funções e maioria
relativa (há 230 deputados – quorum é o mínimo de deputados que
tem que estar presente na AR [116], contudo, neste caso têm que
estar os 230) – também vale para a revisão extraordinária

o Art 286º

5. Limites circunstanciais da revisão

o Não pode ser feita em período de estado de sitio ou estas de emergência


o Não há condições de normalidade para se poder fazer uma discussão seria
o Art 289º

Discute-se se haverá um 6º requisito à os limites materiais de revisão ( art 288)

Consequência da preterição de um requisito de qualificação:

PR e a promulgação

Art 286 nº3

Eva Brás Pinho 34


Direito Constitucional
Ø O PR não pode recusar a promulgação de uma lei de revisão

• Teleologia + elemento sistemático à compreende- se que o PR não pode recusar


promulgar uma lei de revisão constitucional, seja por razões politicas, seja por
razões constitucionais

Art 279º nº1

Ø comprova que o PR não pode pedir a fiscalização de constitucionalidade de leis


de revisão constitucional

Art 278º nº1

Ø Atos que podem ser fiscalizados preventivamente

Nota: Contudo, se a “lei de revisão” não for verdadeiramente e juridicamente uma lei de
revisão, isto se faltarem requisitos de qualificação, afasta-se o art 286 nº3 e pode vetar.

Exemplo 1 – situação PR
Se eu enviar uma lei de revisão ao Presidente o que é que ele faz?

O Presidente neste caso não é obrigado a promulga. Falta o “sim” da outra pessoa,
juridicamente não uma única parecença com a lei de revisão. Poderá requerer fiscalização
preventiva ou simplesmente não promulgar. A violação da lei ou da Constituição não tem
sempre a mesma gravidade

Ex.: alcóol na condução – 0,5 g/l contraordenação grave; 0,8 g/l contraordenação muito grave;
1,2 g/l crime.

Casamento contrário à lei é inválido, mas, por vezes, um casamento contrário à lei é tão
irrelevante que não vale a pena invalidar o casamento (ex.: um menor casar, mas para o proteger
existe o regime de bens), pode conduzir apenas à mera irregularidade. Mas há casos em que a
contrariedade à lei é tão grave que o casamento é inexistente, artigo 1628o do Código Civil (ex.:
alínea c) um dos dois não disse o “sim”, falta um elemento essencial para poder qualificar
aquele ato como casamento).

Exemplo 2 – situação governo

O Governo pode apresentar iniciativa de revisão constitucional?

285ª, nº1, não é requisito de qualificação, o facto de o projeto ter sido


apresentado pelo Governo, não equivale à falta do outro “sim” do casamento para
ser válido. É apenas fundamental que seja a Assembleia da República a aprovar a
lei, não necessariamente a iniciar.

Eva Brás Pinho 35


Direito Constitucional
Tem a mesma força que a apresentação de um projeto ao fim de 40 dias quando a
lei diz 30, é apenas um requisito de validade e não de qualificação.

Tipos de inconstitucionalidade:

a) Orgânica
• A lé provém de um órgão que não tem competência para a fazer

b) Formal ou procedimental
• Os requisitos formais da constituição não estão preenchidos

c) Material
• Em caso algum haverá pena de morte e uma lei vem permiti-lo

Limites materiais

Artigo 288º (Limites materiais da revisão)

As leis de revisão constitucional terão de respeitar:

a) A independência nacional e a unidade do Estado;

b) A forma republicana de governo;

c) A separação das Igrejas do Estado;

d) Os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos;

e) Os direitos dos trabalhadores, das comissões de trabalhadores e das associações


sindicais;

f) A coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social


de propriedade dos meios de produção;

g) A existência de planos económicos no âmbito de uma economia mista;

h) O sufrágio universal, direto, secreto e periódico na designação dos titulares electivos


dos órgãos de soberania, das regiões autónomas e do poder local, bem como o sistema
de representação proporcional;

i) O pluralismo de expressão e organização política, incluindo partidos políticos, e o


direito de oposição democrática;

j) A separação e a interdependência dos órgãos de soberania;


Eva Brás Pinho 36
Direito Constitucional
l) A fiscalização da constitucionalidade por acção ou por omissão de normas jurídicas;

m) A independência dos tribunais;

n) A autonomia das autarquias locais;

o) A autonomia político-administrativa dos arquipélagos dos Açores e da Madeira.

Artigo 288º d)

Com que grau se devem ler os limites?

• Não se pode limitar um direito, liberdade ou garantia


o defendido por alguns autores;
• Contudo já se restringiram em revisões anteriores (1997 e 2001), é preciso ler
com grande abertura a cláusula dos limites, pois usa-se contra o próprio povo e a
sua vontade por 2/3 deve ser respeitada.
• São limites absolutos ou limites que se abrem à possibilidade de através de duas
revisões se poderem alterar.
• Relação entre o povo constituinte e o povo constituído;

1. Limites superiores e limites inferiores

• Superiores / originários ou de 1º grau

o Facto de que algumas normas constitucionais não podem ser objeto de


revisão
o Algumas normas não podem ser alteradas porque constituem o cerne
da constituição porque são a base para o desenvolvimento das
seguintes
o Mesmo que não existisse o 288º estes limites não desapareciam
materialmente nunca.

o São as linhas fundamentais do momento originário e portanto estes,


uma vez mudados, deixaríamos de ter uma revisão constitucional e
passávamos a ter uma transição constitucional.

o São declarativos

Eva Brás Pinho 37


Direito Constitucional
• Inferiores/ impróprios ou de 2º grau
o Nem todas as alíneas do art 288º refletem totalmente o código
genético da constituição.

o Não refletem o DNA e portanto podem desaparecer sem por em


causa a base da Constituição;

o Só são limites porque a CRP decidiu mete-los no 288º.

2. Limites expressos e limites tácitos

Jorge Miranda classifica da seguinte maneira os limites materiais de revisão:

• Limites transcendentes
• O poder originário já estava por eles limitado (direitos fundamentais)
• São passíveis de ser ultrapassados através da transição constitucional –
Jorge Miranda.

• Limites imanentes

• o poder não se podia desviar deles sem os contrariar (forma republicana de


governo e separação do Estado e da Igreja)
• são ultrapassáveis através de uma dupla revisão constitucional (Jorge
Miranda)

• Existem outros limites que se fossem preteridos não alterariam a identidade da


constituição (direito dos trabalhadores) – Jorge Miranda.

Doutrina sobre os limites materiais de revisão:

Gomes Canotilho:
• diz que os limites de revisão constitucional são limites absolutos.

Outra doutrina :
Eva Brás Pinho 38
Direito Constitucional
• diz que para podermos rever os limites temos de o fazer me duas revisões.
• 1ª retirar a alínea que se deseja do art 288 e depois revê-se as normas relativas
aquela alínea à tese da dupla revisão ( não esquecer q implica a espera de 5
anos entre elas).
• Relativiza de alguma maneira os limites.

Há quem diga que se a lei de revisão quer alterar os limites materiais, o TC não se pode
opor

Rui medeiros acredita que deve existe mutabilidade dos limites.


Quanto à citação, o próprio do terreno é a própria pessoa que destrói a placa. Isto
porque o povo enquanto soberano que institui o limite, é o memso povo quue agora quer
alterar. ( quanto à soberania)

A tensão que existe é entre o povo que definiu o limite ( o de 1976) e o povo atual que
quer atualizar a sua vontade

O professor diz que quando os limites são alterados estamos sem duvida sobre uma
transição constitucional mas que tem de existir essa possibilidade

A própria constituição admite a revisão total?


O professor considera que não faz sentido que juízes do tribunal cosntitucional limitem
a vontade do povo de hoje desta maneira

Ø Assumir cada posição depende da postura que adotamos quanto à tensão poder
constituinte vs vontade democrática atual

Inconstitucionalidade da lei de revisão, nem todas são iguais:

Ø Requisitos de validade
• Em geral, a regra inválida tem que ser promulgada.
• Uma lei da Constituição só pode ser fiscalizada sucessivamente após a
publicação: artigo 28º nº3 CRP.

Ø Pretição dos requisitos de qualificação


• Torna-se inexistente, quando a violação da CRP é de tal forma grave (equivale à
falta do “sim” de uma das pessoas no casamento).
• Quando os requisitos não estão verificados, foi preterido um dos limites.
• O Presidente da República só é obrigado a promulgar quando a lei é existente.

Ø Há um debate sobre quem pode declarar inexistente se por fiscalização preventiva


ou não promulgação.

Eva Brás Pinho 39


Direito Constitucional
a) Marcelo Rebelo de Sousa:
• o presidente não pode autonomamente fazer uma apreciação de
constitucionalidade, pondera não promulgar após submeter ao Tribunal
Constitucional
• o presidente não tem competência para fazer juizos de
constitucionalidade quanto a leis de revisão constitucional;

b) Jorge Miranda:
• o Presidente diz se o decreto é ou não lei de revisão constitucional
• a Assembleia envia o decreto com determinada qualificação e o
Presidente não pode promulgá-la com outra qualificação, mas esta só faz
sentido se for vinculativa.
• Logo, o Presidente não promulga, devolve à Assembleia da República e
explica o porquê da não promulgação.
• Se o Presidente tiver dúvidas insanáveis, pode enviar o decreto para o
Tribunal Constitucional (Jorge Miranda dá razão ao Professor Marcelo
Rebelo de Sousa, incoerente);.

Ilegal/ inconstitucional ≠ consequência de uma situação destas

Irregularidade à o ato por se contrario a lei pode ser anulado ; produz efeitos e é válido
Invalidade à o ato jurídico que viola a lei é destruído e não produz efeitos

A consequência padrão de uma inconstitucionalidade é a invalidade

Art 277 nº2 à um trado internacional pode manter se em rigor e se válido embora
inconstitucionalidade, ou seja, diz que este tratado formalmente não é considerado
inconstitucionalidade mas sim irregular

2.Relevância autónoma do princípio democrático no


Estado constitucional

Ø Raiz democrática da lei

Historicamente:

• Durante séculos a democracia foi olhada com desconfiança.


o Ex: Aristóteles via a democracia como uma forma de governo despótica

• Robespierre trouxe a democracia mas deixou de alguma uma ma imagem

Eva Brás Pinho 40


Direito Constitucional
Igualdade + liberdade + fraternidade = Ideais da Revolução francesa que estão na base
da democracia

1. Liberdade

Liberdade individual + condicionamento da sociedade à minha liberdade

Mesmo o condicionamento que é feito à minha liberdade pela lei, é um exercicio de


liberdade próprio porque eu aceito que não havendo unanimidade eu permito que
prevaleça a vontade da maioria.

Liberdade de participação na vida pública deve ser concedida a todos.

2. Igualdade

Todos s homens têm a mesma dignidade e isso oferece a todos o mesmo direito de voto;
O principio democrático não aceita de maneira nenhuma a lógica de que há um grupo de
iluminados ou que alguns grupos não possam votar;

Critica:
Nem todos são informados ou têm formação para exercer um bom direito ao voto;

3. Fraternidade

Porque é que estrangeiros não podem votar?

Com a ideia de fraternidade. Em Portugal eu aceito a vontade de uma maioria na qual


não em revejo num determinado tema, mas por ser uma mesma nação, no fundo há
sempre uma base unitiva de valores e padrões culturais.

São estes laços de afinidade que leva a aceitação quando saio vencido.

Há uma noção de “ nós” e de “ outros” que subjaz à democracia.

Lógica de que “eu só aceito a decisão da maioria” para mim porque me reconheço nos
outros. Caso contrário sinto uma “tirania” dos outros

Crítica:

Ø Num mundo global há cada vez mais pressão para que os Estados não possam
decidir quem é seu cidadão.
A ideia de que um Estado é totalmente e absolutamente soberano no seu território
começa a colocar-se em causa.

Eva Brás Pinho 41


Direito Constitucional
Ø Cada vez é mais difícil construir um “ nós” homogéneo. Uma vez que as nações
são cada vez mais heterogéneas a nível étnico, religioso ou político.

Ex: Povo francês tem dificuldade atualmente em encontrar o seu espirito unitivo de
nação com a diversidade que tem.

3. A centralidade da lei e da função legislativa no


Estado democrático
3.1. Justificação histórica e atual do papel da lei no ordenamento
constitucional

Ø Relação do princípio democrático com a lei


Ø O principal momento em que se testa a soberania popular é no momento constituinte
Ø Mas as eleições é a apresentação das opções que vão ser escolhidas pelo governo

A lei = expressão por excelência da vontade atualizada do povo.


o Por isto a lei tem uma função essencial

Ø A função legislativa e a lei é o instrumento de governo por excelência

1.2.Enquadramento constitucional da função legislativa

3 princípios fundamentais que não podem ser ignorados quanto ao estatuto da lei na nossa
ordem constitucional:

1. Princípio da competência
o Principio da competência vs principio da liberdade
o Significa que o Estado só pode fazer o que a lei permitir que ele faça por uma
qualquer norma
o Não basta referir-se ao Estado em geral ou ao Estado Administração.

Eva Brás Pinho 42


Direito Constitucional
o Aplica-se igualmente ao policia concreto que nos manda parar na rua
o Principio da tipicidade
§ Só a constituição é que pode definir a competência legislativa
o Tudo o que não for permitido está proibido
o Princípio da competência qualificada
§ Quando se fala da lei
§ Principio da competência mais exigente do que o geral
§ Art 110º nº2 à os órgãos de soberania ( criadores de lei) só podem
criar a lei com base na constituição
§ Art 111º nº2
§ Matéria legislativa tem necessariamente de decorrer da constituição

2. Principio da prevalência/ primazia/ primado da lei


o Principio da hierarquia
o A lei prevalece sobre qualquer ato infra-legal
o Um regulamento não pode ir contra leis de hierarquia superior
o O governo também tem legitimidade democrática e patente na constituição
portanto tem de haver uma razão maior para o primado da lei
o A solenidade da lei, o seu procedimento, exige mais atores
§ O processo de feitura de uma lei em sentido estrito é
muito mais solene do que um processo de feitura de um
regulamento
ü Ex: o PR com alta legitimidade democrática, pode
vetar as leis e os regulamentos não

3. Principio da reserva da lei


o Há áreas que por uma questão de relevância so podem ser tratados por uma
lei de solenidade das leis em sentido estrito
o Nem sempre a reserva é do art 164 e 165 porque há matérias
concorrenciais em que a doutrina e a jurisprudência entendem que apesar
de não estar estabelecido na CRP são areas demasiado relevantes para não
serem tratados por atos legislativos
o Art 164º e 165º
Eva Brás Pinho 43
Direito Constitucional
o Se a lei é a melhor forma de expressão da vontade do povo, tem de ser a
lei a legislar coisas mais relevantes
a) Reserva relativa da AR
b) Reserva absoluta da AR

Em especial, no confronto da administração, a reserva de lei analisa-se no seguinte:


a) Proibição de regulamentos autónomos ou independentes;
b) Proibição de deslegalização
c) Proibição ou limitação rigorosa do exercício de poder discricionário da
Administração
o Previsão pela lei do conteúdo e das circunstâncias das decisões individuais
e concretas sobre matérias de reserva de lei, não podendo a Administração
emitir juízos de oportunidade e de conveniência acerca delas;

d) Tratando-se de reserva absoluta de lei, senão impossibilidade de conceitos


indeterminados, pelo menos necessária determinabilidade de lei ou exigência de
suficiente densidade das suas normas

Exemplo: Mesmo que não haja lei, a duração do estagio dos advogados nunca poderá ser
definido pela ordem dos advogados. Porque este domínio é de exclusiva responsabilidade
da lei.
Ora, isto nada tem a ver com o principio da prevalência da lei que apenas diria que um
regulamento da ordem dos advogados não poderia estabelece rum período de estagio
diferente do definido pela AR.
Simplesmente não se trata de hierarquia porque esta temática não pode ser de forma
alguma tratada pela ordem, apenas lei AR ou governo

Eva Brás Pinho 44


Direito Constitucional
Processo Legislativo:

1. Iniciativa:
• pertence :
o Deputados (qualquer um ou vários)
o grupos parlamentares
o Governo,
o Assembleias Legislativas Regionais
o grupos de cidadãos (mínimo de 35.000 eleitores).
• Há iniciativa reservada em certas matérias, de resto é iniciativa concorrencial:
artigo 167º

2. Apreciação:
• interna-genérica à Parlamento (dá-se em todos os casos, quanto a todos os
projetos e propostas de lei);
• externa-específica à outros órgãos constitucionais ou organizações de
sociedades civis (só tem que se dar quanto a matérias previstas na
Constituição).

Eva Brás Pinho 45


Direito Constitucional
3. Deliberação: generalidade

Votadas em plenário, através de maioria relativa (artigo 116º nº3) à decretos da


Assembleia da República.

• Generalidade à princípios e o sistema do texto


• Especificidade à sobre cada artigo

4. Promulgação:
• conhecimento qualificado que o Presidente da República tem acesso acerca do
ato destinado a converter-se em lei, qualificação ou subsunção de cada ato
em concreto no tipo constitucional correspondente
• falta de promulgação determina inexistência jurídica, bem como através:

a) Referenda:
o a promulgação está sujeita a referenda ministerial.
o A referenda reduz-se a um concurso, mais formal do que
substancial, das vontades do Presidente.
o Artigo 140º à enumeração taxativa de atos que carecem de
referenda (é obrigatória); b
b) Veto:
o pode recusar a promulgação exercendo o veto jurídico ou
político;
o art 136 nº1 e nº 5

c) Segunda Deliberação Da Assembleia Da República à art 136º nº2

Algumas categorias de Leis:

1. Leis constitucionais
• Art 119º n1 a) determina a sua publicação no Diário da República
• No art 166º nº1 prescreve-se a forma de lei constitucional para os atos
previstos n art 161º a) , ou seja, para as alterações à constituição nos termos
dos art 184º e 289
• As leis constitucionais identificam-se com as leis de revisão
o Só se podem considerar leis constitucionais aquelas que se dirigem
à modificação da constituição, de acordo com o procedimento
estabelecido nos art 284º
o A reserva de lei constitucional pertence ao poder constituinte ou
ao poder de revisão
Eva Brás Pinho 46
Direito Constitucional
2. Leis orgânicas

3. Leis de Bases

• São leis consagradoras dos princípios vetores ou das bases gerais de um


regime jurídico, deixando a cargo do executivo o desenvolvimento desses
princípios ou bases
• A ideia subjacente não era a de um parlamento divorciado das tarefas de
governo

Mas a de um parlamento legislativamente operante numa sociedade


constituenda e colaborante como um governo responsável por tarefas de
conformação social

• Mas nem sempre as leis de bases se conseguiram manter com os seus contornos, ou
seja, disposições votadas pelo parlamento, limitadas ao estabelecimento das bases
ou princípios, a que o governo deverá dar operatividade prática através dos decretos
de desenvolvimento

a. Uma vezes começam a entrar em pormenores fornecendo não apenas a


moldura, mas ocupando o espaço do próprio quadro
o Situação em que não se distinguem das leis ordinárias

b. Outras vezes nem se estabelece os princípios ou as bases gerais.


Sugerem-se apenas os fins, deixando inteira liberdade ao governo para
escolher os meios
o Situação que se aproxima das leis de autorização legislativa

• As leis de base constituem diretivas e limites dos decretos-leis e dos decretos


legislativos de desenvolvimento

o Diretivas à porque definem os parâmetros materiais, isto é, os


princípios e critérios a que o Governo e as ALR devem
sujeitar-se no desenvolvimento das referidas leis

o Limites à porque o desenvolvimento feito pelo Governo ( art


198º/1) e pela ALR ( 227º/1/c) das leis de bases deve manter-se
dentro das normas fixadas nas bases da AR, nos termos
especificados

Eva Brás Pinho 47


Direito Constitucional
O sentido das bases gerais

a) Os vários níveis de densificação legislativa


• Entenda-se, primeiramente, os vários níveis de competência legislativa da AR:

1. Nível de densificação legislativa total


o Casos de a disciplina legislativa ser totalmente reservada à AR
o Caso da generalidade das matérias do art 164º e 165º

2. Nível de densificação intermédio


o Casos em que a disciplina legislativa da AR incide sobre o regime
comum ou normal à art 165º nº1 d), e) e h)

3. Nível de densificação limitado às bases gerais dos regimes jurídicos


o Art 165º nº1 f), g), n), t) e u)

Nível 2 ¹ Nível 3

Regime comum ou normal ( 2) à significa estabelecer uma disciplina legislativa


completa desse regime, sem prejuízo de regimes especiais a estabelecer pelo Governo

Estabelecer bases gerais ( 3) à equivale à consagração das opções político-legislativas


fundamentais, deixando-se ao Governo e às assembleias legislativas regionais a definição
concreta dos regimes jurídicos gerais

b) Sentido da reserva das bases gerais dos regimes jurídicos

• Qual o sentido que se deverá atribuir à limitação da reserva de competência


da AR à fixação de bases gerais?

1. Heterolimitação da AR por força de lei constitucional


o Quer dizer que a AR se deve limitar, nessas matérias, a estabelecer as
bases gerais e a reenviar obrigatoriamente para o Governo o seu
desenvolvimento

2. Autolimitação da AR
o Significa que o legislador constituinte se bastou com uma reserva de
lei formal no que respeita às bases gerais dos regimes jurídicos

Eva Brás Pinho 48


Direito Constitucional
o deixando possibilidade à AR de ela mesma desenvolver, querendo,
essas bases, ou, para, autolimitando-se, confiar o seu desenvolvimento
ao Governo

3. Limitação do Governo e assembleias legislativas regionais


o Entendendo-se que o sentido principal da fórmula constitucional não
é o de estabelecer uma heterolimitação ou autolimitação da AR, mas
o de, em certos assuntos, que carecem de desenvolvimento, limitar
a competência do Governo ao desenvolvimento de um parâmetro
normativo fixado, básica e primariamente, por lei da AR

Princípio da reserva legislativa de bases gerais:


• Desejou-se assegurar a intervenção legislativa primária da AR
• Permitir ao governo ( e Assembleias legislativas regionais) , mesmo sem
autorização legislativa, legislar sobre a mesma matéria, uma vez fixadas as
bases gerais através da lei do parlamento

O sentido da primariedade material das leis de bases relativamente aos


decretos-lei de desenvolvimento

• As leis, na forma de leis de bases, adquirem uma primariedade material e


hierárquica com a correspondente subordinação dos decretos de lei de
desenvolvimento à art 112 nº2 e 198º nº1

• As bases fixadas por lei da AR adquirem um carácter reforçado traduzido na


primariedade material e hierárquica com a correspondente subordinação dos
decretos-lei de desenvolvimento à art 112º nº2

Problemas:

1. Saber se as leis de bases:


a. constituem sempre um parâmetro material superior vinculativo para os
decretos-lei de desenvolvimento
o art 112º nº2 à pretendeu-se fixar constitucionalmente o valor
reforçado das leis da AR e consequente dependência normativa dos
decretos-lei nos casos:
i. decretos lei no uso de autorização legislativa
ii. decretos-lei de desenvolvimento das leis de bases gerais
§ nunca se estabeleceu distinção constitucional entre:

Eva Brás Pinho 49


Direito Constitucional
ü lei de bases em matérias abertas à intervenção
legislativa o Governo e leis de bases reservadas à
AR
ü Leis de bases tipificamente indicadas na
constituição e leis de bases fora da enumeração
expressa na CRP

§ A estar correta esta interpretação do art 112º/2 deduz-se


que a LC nº1/82 restringiu os poderes legislativos do
Governo
§ A admitir-se a tese de limitação da superioridade
paramétrica das leis de bases às matérias reservadas na
crp, isto significaria esvaziar de sentido o próprio
principio da superioridade das leis de bases

§ pois a superioridade da lei em matérias reservadas


resultaria já do principio da reserva de competência, não
sendo então necessário acrescentar um principio da
hierar1uia

b. se impõe apenas nos casos de reserva de competência legislativa ( absoluta


ou relativa da AR)

iii. Princípio da tipicidade das competências constitucionais


aponta no sentido da limitação da competência reservada
aos casos previstos na constituição
iv. Proíbe-se, de igual forma, a alteração das competência
institucionais, resultado a que se chegaria se a AR, mediante
o recurso sistemático à lei de bases, fosse reduzindo o espaço
de atuação do governo

2. Como qualificar o vício resultante da desconformidade dos decretos-lei de


desenvolvimento com o parâmetro superior das leis de bases

Eva Brás Pinho 50


Direito Constitucional
4. Leis de autorização legislativa
5. Leis de enquadramento

• Leis de enquadramento ( art 106º/1) = Lei- quadro ( art 296)


• Lei de enquadramento mais conhecida à lei de enquadramento do
orçamento
• Pretende -se com estas leis estabelecer os parâmetros jurídico-materiais
estruturantes de um determinado setor da vida económica, social e
cultural.
• Não se trata de estabelecer apenas as bases e remeter o seu
desenvolvimento para ulteriores atos legislativos

• Fixam +/- pormenorizadamente um regime jurídico estruturante que


deverá ser respeitado por atos legislativos concretizadores desse
regime

• Exemplos:

o Lei de enquadramento do orçamento de Estado


5. estabelece as regras e princípios ( e não bases!) vinculativos de elaboração ,
organização, votação e execução da lei anual do orçamento à art 106º nº1

o Lei-quadro de criação, modificação e extinção das autarquias locais


à art 164º n) e art 249º
o Lei-quadro das reprivatizações

• Existem leis que são consideradas ( mesmo a constituição) como leis de bases,
mas em relação às quais é discutível se não serão, em rigor, leis de
enquadramento.
o Estas leis estabelecem um regime jurídico global de regras e princípios
para grandes espaços jurídico-materiais carecidos de ulteriores
concretizações, mas sem que essas concretizações se identifiquem com
o esquema de atos legislativos de desenvolvimento

Princípio da democracia representativa:

Eva Brás Pinho 51


Direito Constitucional
Artigo 2º (Estado de direito democrático)

A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania


popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e
na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e
interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e
cultural e o aprofundamento da democracia participativa.

Democracia representativa:

• Não tem a ver com quem tem competência de tomar decisão


• Não põem em causa que só haja 3 leis formais
• Exige que antes de se tomar uma decisão, seja informada
• Exige que os interessados numa X decisão sejam ouvidos para que depois
os órgão que vai decidir, tenha em conta as opiniões destes

A democracia representativa não altera a decisão, mas permite:

• Ao interessado tentar defender-se


• Mais informação. Uma decisão mais informada
• Dá uma legitimidade procedimental à questão

Ø O facto de haver 3 órgãos com competência legislativa significa que eles decidem
como entenderem, mas isso não significa que o principio da democracia
participativa não faça sentido.
Ø O principio da democracia participativa so serve para haver cooperação e mais
legitimidade na tomada de decisão
Ø Não obriga os órgãos decisores a decidir em qualquer sentido

Ø Artigo 2º é muito pouco densificado e por isso é concretizado no artigo 54º e no art
56º
• O principio da democracia participativa ( art 2º) nunca é suficiente para
declarar algo inconstitucional.
• Apenas conciliado com outros artigos é que se pode regular a
inconstitucionalidade

Artigo 56º (Direitos das associações sindicais e contratação coletiva)

1. Compete às associações sindicais defender e promover a defesa dos


direitos e interesses dos trabalhadores que representem.
Eva Brás Pinho 52
Direito Constitucional
2. Constituem direitos das associações sindicais:
a) Participar na elaboração da legislação do trabalho;

Artigo 54.º(Comissões de trabalhadores)

5. Constituem direitos das comissões de trabalhadores:

d) Participar na elaboração da legislação do trabalho e dos planos económico-sociais


que contemplem o respectivo sector;

Na prática:

• Quando o Governo quer alterar o código do trabalho, publica o projeto num


boletim e qualquer sindicato ou trabalhador tem X dias para manifestar a sua
opinião quanto a isto.
• Para que o principio da participação esteja salvaguardado e ninguém seja
excluido

Artigo 115º (Referendo)

1. Os cidadãos eleitores recenseados no território nacional podem ser chamados a


pronunciar- se diretamente, a título vinculativo, através de referendo, por decisão do
Presidente da República, mediante proposta da Assembleia da República ou do Governo,
em matérias das respetivas competências, nos casos e nos termos previstos na
Constituição e na lei.

2. O referendo pode ainda resultar da iniciativa de cidadãos dirigida à Assembleia da


República, que será apresentada e apreciada nos termos e nos prazos fixados por lei.

3. O referendo só pode ter por objeto questões de relevante interesse nacional que devam
ser decididas pela Assembleia da República ou pelo Governo através da aprovação de
convenção internacional ou de ato legislativo.

4. São excluídas do âmbito do referendo:

a) As alterações à Constituição;

b) As questões e os actos de conteúdo orçamental, tributário ou financeiro;

c) As matérias previstas no artigo 161.o da Constituição, sem prejuízo do disposto no

número seguinte;
Eva Brás Pinho 53
Direito Constitucional
d) As matérias previstas no artigo 164.o da Constituição, com excepção do disposto
na alínea i).

5. O disposto no número anterior não prejudica a submissão a referendo das questões de


relevante interesse nacional que devam ser objecto de convenção internacional, nos
termos da alínea i) do artigo 161.o da Constituição, excepto quando relativas à paz e à
retificação de fronteiras.

6. Cada referendo recairá sobre uma só matéria, devendo as questões ser formuladas com
objetividade, clareza e precisão e para respostas de sim ou não, num número máximo de
perguntas a fixar por lei, a qual determinará igualmente as demais condições de
formulação e efetivação de referendos.

7. São excluídas a convocação e a efetivação de referendos entre a data da convocação e


a da realização de eleições gerais para os órgãos de soberania, de governo próprio das
regiões autónomas e do poder local, bem como de Deputados ao Parlamento Europeu.

8. O Presidente da República submete a fiscalização preventiva obrigatória da


constitucionalidade e da legalidade as propostas de referendo que lhe tenham sido
remetidas pela Assembleia da República ou pelo Governo.

9. São aplicáveis ao referendo, com as necessárias adaptações, as normas constantes dos


nº 1, 2, 3, 4 e 7 do artigo 113º

10. As propostas de referendo recusadas pelo Presidente da República ou objecto de


resposta negativa do eleitorado não podem ser renovadas na mesma sessão legislativa,
salvo nova eleição da Assembleia da República, ou até à demissão do Governo.

11. O referendo só tem efeito vinculativo quando o número de votantes for superior a
metade dos eleitores inscritos no recenseamento.

12. Nos referendos são chamados a participar cidadãos residentes no estrangeiro,


regularmente recenseados ao abrigo do disposto no nº 2 do artigo 121º, quando recaiam
sobre matéria que lhes diga também especificamente respeito.

13. Os referendos podem ter âmbito regional, nos termos previstos no n.o 2 do artigo 232º

Ø O eleitorado não se substitui aos órgãos legislativos e, por isso, estes podem não
aprovar os atos que, por força do resultado positivo do referendo, devem
aprovar.

Eva Brás Pinho 54


Direito Constitucional
• Evita-se qualquer coincidência entre convocação e a efetivação do referendo e
qualquer processo eleitoral político à art 115º nº7
• Nenhum desses atos pode ser praticado em estado de sítio ou de emergência à
art 9 nº1 da lei nº15- A/98 de 3 de abril

Ø A iniciativa do referendo vem do Parlamento ou do Governo

Referendo vinculativo:
• Não é em si uma lei à tem estrutura de ato político

Pode haver 2 tipos de resposta do povo:


1. Positiva
o Ou de afirmação de necessidade de uma lei sobre a matéria em causa e
de lei com tal ou tal conteúdo
o A AR ou o Governo devem aprovar o ato legislativo correspondente no
prazo de 90 ou 60 dias
o Assemelha-se às leis de autorização legislativa uma vez que em ambas há
um sentido normativo que se fixa e se impõe ao ato legislativo subsequente
6. A diferença é que a autorização tem uma natureza permissiva e o referendo é um
ato imperativo
o Tem uma força material afim, quando dele se depreenda uma obrigação
de legislar

2. Negativa
o Recusa dessa lei
o Ficam impedidos de aprovar um ato legislativo no sentido contrário à
resposta do referendo

o Apenas estão limitado até nova eleição da Assembleia ou realização de


novo referendo com resposta afirmativa ( art 243º)

Eva Brás Pinho 55


Direito Constitucional
o Forma-se um comando que, conquanto de vigência temporalmente
balizada, se não esgota num certo momento e que se afirma num número
potencialmente indefinido de vezes
7. Tantas vezes quantas aquelas em que pudesse querer aprovar uma lei de conteúdo
colidente com o resultado do referendo

o Traduz uma força formal negativa afim quando se traduza em dever de não
legislar;
o Assim aproximam-se das leis de valor reforçado de vinculação específica
8. Não é lei reforçada a lei que publique em sua obediência, porque o que é objeto de
salvaguarda é o sentido referendário e não as normas concretizadoras e até para o
mesmo sentido pode haver diversos modos de concretização\

Violação do comando referendário:


1. Por ação
o Quando se aproveou preexista uma lei em conflito com o sentido do
referendo
2. Por omissão
o Quando o órgão legislativo não faz a lei que deveria fazer em tempo útil

• A consequência da violação há de ser ilegalidade sui generis


o Ilegalidade originária à se surge lei nova ao arrepio do resultado do
referendo
o Ilegalidade superveniente à se sobre a matéria já existe lei, que agora o
povo, por meio do referendo, vai pôr em causa

Em qualquer caso, não haverá, porém, um fenómeno de invalidade, mas apenas de


eficácia

Eva Brás Pinho 56


Direito Constitucional
Isto é possível porque a CRP estabelece fiscalização da constitucionalidade e da
legalidade do referendo ( art 115º nº8 e 223ºnº2 f) ) mas não organiza a fiscalização do
respeito do resultado do referendo pelos órgãos legislativos.

3.3. Repartição da competência legislativa entre o


Parlamento e o Governo

Orgãos com competência legislativa:

1) Assembleia da república
• Leis legitimadas pelo povo através dos seus representantes
• Leis em sentido estrito
• Art 161º CRP

Ø Fala-se em primado da Assembleia da República:

a) Dispõe de uma competência legislativa genérica


• Art 161º alínea c)
• Apenas não atinge:
o a organização e o funcionamento do Governo
9. art 198º nº 2
o o conteúdo essencial da autonomia legislativa das regiões autónomas
10. art 112º nº4
11. art 227º nº1 a)
12. art 228º

b) Dispõe de larga reserva de competência


• Termos absolutos
o Art 161º b)
o Art 164º f) e i)

Eva Brás Pinho 57


Direito Constitucional
o Art 167º nº1
o Art 227º nº 1 i)
o Art 255º
o Art 256º
o Art 293º
• Termos relativos

2) Governo
• Decretos-Lei
• Artigos 197º, 198º, 199º, 200º e 201º
• Órgão democraticamente legitimado ( indiretamente)
• Também é um órgão porque tem apoio parlamentar
• Escolhido pelo PM nos termos do art 287º

a. Primária
o Concorrencial à art 198º nº 1 a)
§ Com a da AR em matérias a esta não reservadas
o Reservada à art 198º nº2 e art 183º nº 3
§ Organização e funcionamento do Governo

b. secundárias
o Derivada ou autorizada à art 198º nº 1 b) e art 165º
§ Reserva relativa da AR
o Complementar à art 198º nº 1 c)
§ Desenvolvimento dos princípios ou das bases gerais dos regimes jurídicos
contidos em leis que a eles se circunscrevem

As diversas formas de intervenção do Governo nos procedimentos legislativos


parlamentares:
a. Iniciativas de leis em geral e reservada quanto a grandes opções do plano,
orçamento, empréstimos, avales e autorizações legislativas
Eva Brás Pinho 58
Direito Constitucional
b. Participação de membros do Governo nas reuniões plenárias e nas
comissões quando esteja a ser apreciados e discutidos propostas e projetos
de leI

c. Solicitação de processamento de urgência para projetos e propostas de lei

d. Solicitação de prioridade, na determinação de ordem do dia, para assuntos


de interesse nacional e resolução urgente

e. Iniciativa do PM, de fiscalização preventiva da constitucionalidade de


normas constantes de decretos da AR para serem promulgados como leis
orgânicas;

Ø A competência legislativa do governo é exercida através do Conselho de Ministros


à art 200º nº1 d)

3) Assembleia Legislativa Regionais dos Açores e da Madeira


• Decretos Legislativos Regionais

Ø A substituição do órgão normalmente competente para a prática de certos atos


legislativos ou de certos atos integrados no procedimento legislativo só pode dar-se
consentida pela Constituição: 168o nº3; 179º nº3 f).

Relação Parlamento - Governo

1. Principio da paridade entre lei e Decreto-lei


• À partida, leis e decreto-lei estão ao mesmo nível
• Manifesta-se em 2 aspetos

a) Tanto a AR como o Governo têm uma competência genérica legislativa


• Exceto as matérias de reserva de cada órgão

Eva Brás Pinho 59


Direito Constitucional
• A diferença é que a matéria de reserva da AR é muito maior que a
do governo
• art 161º -à competência da AR
• art 198º nº2 à competência exclusiva do Governo

b) as leis e os decretos-lei têm igual valor


• art 112º nº2 1º parte
• têm poder revogatório mutuo

2. Primado tendencial da Assembleia da República em relação ao


governo
Vai se manifestar em 4 aspetos do regime:

a) Existência de um conjunto vasto de matérias reservadas

• Um sinal de coexistência com a paridade


• Esta distinção ( absoluta e relativa) foi introduzida e 1992;

o Absoluta
§ art 164º
§ art 161º b) , g)
ü se a constituição não diz que há possibilidade de
delegação, então é exclusiva do órgão a que se
refere
o Relativa à art 165º
§ Alínea a), b), c) à regime e ponto final
§ Aliena d) e e) à regime geral
§ Alínea g), f), n), t), u), z) à bases
§ Contudo, a regra é de que é todo o regime reservado

• Reserva total ¹ reserva das bases ¹ reserva do regime geral


• ( ver exercicio 13 pg 136 livro medeiros)

Eva Brás Pinho 60


Direito Constitucional
1) Reserva das bases
• Art 164º alínea d), i)
• Art 165º alinea f), g), n), t), u), z)

• Bases à opções políticas fundamentais daquele setor


• Há um desenvolvimento do regime das bases ou trata-se apenas de um ato
concreto que nada tem a ver com as bases?

Nota: art 198º nº1 c) à cabe na função legislativa do governo legislar as bases. A lei de
base não pode ser desenvolvida por um regulamento apenas por um ato legislativo
formal .
Discute-se se a AR pode desenvolver a sua própria lei base

Exemplo de bases do ensino:


• Qual o estatuto dos privados
• A laicidade da educação
• Como é que se divide o ensino basico e secundário
• Até que ano é a escolaridade obrigatória
• Qual o estatuto do ensino religioso

Exemplo de bases do saúde:


• O principio das taxas moderadoras
• Regime das ppps
• Conceito de oferta universal

2) Reserva de regime geral

• Abrange opções políticas fundamentais mas deve fixar o restante também


• Deixa fora da área de reserva os regimes especiais
§ ex: regras próprias quando se trata de arrendar casas para juízes do estado
que são de repente deslocalizados para os açores.

Eva Brás Pinho 61


Direito Constitucional
§ Faz sentido que o Estado tenha casas espalhadas pelo país para dar
assistência a estas pessoas

§ Faz sentido que quando o estado é inclino ou senhorio haja regras algo
diferentes

§ Por exemplo, pode haver um regime especial de expropriação diferente para


as terras que foram alvo dos incêndios

§ Ex: regime especial dos trabalhadores em greve

O Governo pode aprovar o Orçamento de Estado?

Não, segundo o Princípio da Competência o que não está escrito na Constituição não é
permitido, logo, se o artigo 161º g), diz que é a Assembleia quem aprova o Orçamento
então o Governo não o pode fazer. É da reserva absoluta da Assembleia, contudo, o
Governo pode propor ou apresentar um Orçamento para a Assembleia aprovar ou
recusar.

Quais os procedimentos,/ requisitos para um Decreto-Lei autorizado?

Ø A Assembleia da República não se pode ausentar da sua função e atribuir um “ cheque


em branco” ao governo, por isso, a autorização tem que preencher três requisitos
sob a pena de ser inválida, definir:
Nº2 do art 165º
1. Objeto e extensão
• (sobre que matérias, quais os pontos);
2. Sentido
• em que direção se pode legislar
• ex.: agravar
3. Duração\prazo
• só pode ser utilizada uma vez, pressupõe- se uma relação de confiança
• ex.: durante 180 dias pode legislar sobre aquilo
• como é que se conta o prazo?
o É a data da aprovação?

Eva Brás Pinho 62


Direito Constitucional
§ porque o Governo não pode estar dependente para a
publicação de outras entidades.
§ Consenso na doutrina e na jurisprudência
§ O Governo não tem culpa se o PR esta no hospital e não
promulga dentro do prazo por exemplo.
§ Também não pode estar dependente da casa da moeda
§ Entende-se que esta lógica está patente na CRP

o É a data da publicação?
o É a data a promulgação?
§ O prof Jorge Miranda diz que a data que deve relevar é
aquela em que o DL é enviado para belém ( não a data
da promulgação)
§ Esta posição deve-se ao facto de muitas vezes os DLs
serem formalmente aprovados e na verdade ainda andarem
meses ( já fora do período autorizado) a ser debatido e
alterado à forma do governo manipular o prazo estipulado
de autorização
§ Assim, a única forma de provar mais aproximadamente um
momento em que o DL foi verdadeiramente concluído, é a
data em que ele é enviado para aprovação

Ø Jorge Miranda afirma que só deve haver autorizações legislativas quando a


própria Assembleia não tem meios para ser a própria a legislar sobre a matéria.

4. Apenas se pode fazer um Decreto-Lei pela mesma autorização à artigo 165º nº3;
• apesar da sua execução poder ser parcelada
5. Intuita persona à art 165 nº 4
• só desta concreta Assembleia da República conferida aquele concreto
Governo
6. Autorização das Leis do Orçamento para criar ou alterar impostos ao Governo
caduca no fim do ano económico
Eva Brás Pinho 63
Direito Constitucional
• Porque as leis fiscais não podem ser retroativas.
• Não caducam com outra coisa (a demissão do Governo), apenas com o uso até
ao final do ano, não é precisa a indicação do prazo: artigo 165o, n5.

Ø O Decreto-Lei não prevalece sobre a lei de autorização


• pois é dependente dela, se não invadiria a reserva da Assembleia da República
sem a permissão dest
• Artigo 112º, nº2 à Casos em que as bases são reservadas à Assembleia da
República.

Artigo 165º
(Reserva relativa de competência legislativa)

2. As leis de autorização legislativa devem definir o objecto, o sentido, a extensão e a


duração da autorização, a qual pode ser prorrogada.

3. As autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais de uma vez, sem prejuízo
da sua execução parcelada.

4. As autorizações caducam com a demissão do Governo a que tiverem sido concedidas,


com o termo da legislatura ou com a dissolução da Assembleia da República.

5. As autorizações concedidas ao Governo na lei do Orçamento observam o disposto no


presente artigo e, quando incidam sobre matéria fiscal, só caducam no termo do ano
económico a que respeitam.

E nas áreas concorrenciais? Em que não há reserva? Pode sempre ser legislado pelo
governo na mesma?

Posso dizer se há outras matérias para além das que estão formalmente reservadas pela
AR devam ser apenas tratadas por um ato formalmente legislativo?
Matérias que pela sua maior relevância devem ser tratadas apenas por atos mais
solenes

Eva Brás Pinho 64


Direito Constitucional
Problema à que outras matérias serão essas? Qual o critério?

A essencialidade delas?
Há quem diga que tendo em conta a extensão da reserva absoluta e relativa em<<
Portugal, não devo admitir outras hipóteses de reserva.

b) Pretensa prevalência das leis base em relação ao decretos-lei de


desenvolvimento

• Artigo 112º nº2 segunda parte


• Duas exceções à lei da paridade:

1. Decretos leis autorizados subordinam-se as leis de autorização


2. Leis de base estão acima os decretos-lei de desenvolvimento
o Se a lei base diz X e um DL diz Y contrário a X, Y é ilegal nas matérias
reservadas, é uma evidência
o Qual é o problema então?

As leis de base de matéria concorrencial prevalecem em relação aos regimes gerais


(DL de desenvolvimento) ? ambas as situações de matéria não reservada?) à ver pag
49 da sebenta – ponto das leis de bases

Doutrina:
a. Interpretado literalmente, o artigo não se refere as leis de base
reservadas mas sim a todas ( ou seja, mesmo as concorrenciais)

b. Mas se a matéria concorrencial já não é muita, se inclui as bases também em


que a AR começa a fazer leis de base de matéria concorrencial, o governo
vai ficando sem matéria para legislar

§ à leva a um esvaziamento da matéria concorrencial


disponível para o governo

Eva Brás Pinho 65


Direito Constitucional
§ Violaria o principio da tipicidade de competências porque
retirava ao Governo uma competência concorrencial e
acrescentaria uma reserva geral a favor da AR

c. Posições ecléticas à Prof Jorge Miranda

§ As leis de bases prevalecem sempre sobre os Decretos-Leis


de desenvolvimento, mesmo sendo matéria concorrencial.

§ Para evitar que a competência concorrencial desapareça,


nada impede que o Governo faça Decreto- Leis de bases e
afaste\revogue o anterior

§ Ou seja, a lei de bases prevalece sobre os decretos de


desenvolvimento mas nada impede que o Governo faça
um DL com bases diferentes ( que afasta o da AR) e a
seguir já pode fazer o DL de desenvolvimento

d. Prof Rui Medeiros à Este é um bom exemplo de jurisprudência dos


conceitos
o A finalidade que se pretendia acautelar só é
acautelada se houver primado
o A possibilidade do prof JM, mesmo que a nível
conceptual seja possível, não faz sentido

Ø De qualquer modo, existirá sempre uma reserva de ato legislativo de desenvolvimento


das leis de bases, poiso governo só pode desenvolver as bases através de decretos-lei,
oq eu permitirá sempre a posterior apreciação legislativa parlamentar

c) Instituto da apreciação parlamentar dos decretos-lei


• Art 169º
o Permite que a AR possa controlar os DL, podendo pondo fim à sua
vigência
• A AR pode fiscalizar o decreto-lei e pode impedir a sua vigência

Eva Brás Pinho 66


Direito Constitucional
Artigo 169º
(Apreciação parlamentar de atos legislativos)

1. Os decretos-leis, salvo os aprovados no exercício da competência


legislativa exclusiva do Governo, podem ser submetidos a apreciação da
Assembleia da República, para efeitos de cessação de vigência ou de
alteração, a requerimento de dez Deputados, nos trinta dias subsequentes à
publicação, descontados os períodos de suspensão do funcionamento da
Assembleia da República.
2. Requerida a apreciação de um decreto-lei elaborado no uso de autorização
legislativa, e no caso de serem apresentadas propostas de alteração, a
Assembleia poderá suspender, no todo ou em parte, a vigência do decreto-lei
até à publicação da lei que o vier a alterar ou até à rejeição de todas aquelas
propostas.
3. A suspensão caduca decorridas dez reuniões plenárias sem que a
Assembleia se tenha pronunciado a final.
4. Se for aprovada a cessação da sua vigência, o diploma deixará de vigorar
desde o dia em que a resolução for publicada no Diário da República e não
poderá voltar a ser publicado no decurso da mesma sessão legislativa.

o Naquele ano legislativo não pode vir um DL a contraria a AR


o Diploma = DL

5. Se, requerida a apreciação, a Assembleia não se tiver sobre ela


pronunciado ou, havendo deliberado introduzir emendas, não tiver votado a
respectiva lei até ao termo da sessão legislativa em curso, desde que
decorridas quinze reuniões plenárias, considerar-se-á caduco o processo.
6. Os processos de apreciação parlamentar de decretos-leis gozam de
prioridade, nos termos do Regimento.

d) Regime do veto

• Artigo 136º
• De uma lei à suspensivo
o Quando vetada, a lei pode ir a uma segunda revisão e votação pela ARà
prazo de20 dias para promulgar
o Caso seja novamente aprovado pelo AR o PR já não pode tornar a vetar

Eva Brás Pinho 67


Direito Constitucional
§ A aprovação carece de maioria absoluta, exceto o art 136º nº3 que
é por maioria de 2/3 para confirmar a lei vetada

• De uma decreto à absoluto


o Não há 2º voltas possíveis, é “ morto” o DL se existe veto

E nas áreas concorrenciais? Em que não há reserva? Pode sempre ser legislado pelo
governo na mesma?

Posso dizer se há outras matérias para além das que estão formalmente reservadas
pela AR devam ser apenas tratadas por um ato formalmente legislativo?
Matérias que pela sua maior relevância devem ser tratadas apenas por atos mais
solenes

Problema à que outras matérias serão essas? Qual o critério?

A essencialidade delas?
Há quem diga que tendo em conta a extensão da reserva absoluta e relativa em<<
Portugal, não devo admitir outras hipóteses de reserva.

3.4.Relações entre atos legislativos – as leis de valor reforçado

Artigo 112.ª (Atos normativos)

1. São atos legislativos as leis, os decretos-leis e os decretos legislativos regionais.


• Únicas leis formais
• Só têm eficácia jurídica quando promulgadas pelo PR, ou, no caso das
regiões autónomas, pelo Representante da República

2. As leis e os decretos-leis têm igual valor, sem prejuízo da subordinação às


correspondentes leis dos decretos-leis publicados no uso de autorização legislativa e dos
que desenvolvam as bases gerais dos regimes jurídicos.

3. Têm valor reforçado, além das leis orgânicas, as leis que carecem de aprovação por
maioria de dois terços, bem como aquelas que, por força da Constituição, sejam
Eva Brás Pinho 68
Direito Constitucional
pressuposto normativo necessário de outras leis ou que por outras devam ser
respeitadas.

4. Os decretos legislativos têm âmbito regional e versam sobre matérias enunciadas no


estatuto político-administrativo da respetiva região autónoma que não estejam
reservadas aos órgãos de soberania, sem prejuízo do disposto nas alíneas b) e c) do nº 1
do artigo 227º.

5. Nenhuma lei pode criar outras categorias de atos legislativos ou conferir a atos de
outra natureza o poder de, com eficácia externa, interpretar, integrar, modificar,
suspender ou revogar qualquer dos seus preceitos.

• Corolário de que só existem as leis que a CRP define


• 2 PARTES:
o 1ª parte à Só existem 3 formas e a CRP é o único texto de onde se
podem extrair as formas de feitura de atos normativos

o 2ª parte à

13. objetivo de salvaguardar que não existam outro atos normativos, que tenham mais
força que as 3 formais. Isto porque poderia contornar-se o a 1ºparte, não criando
uma nova forma de lei mas concedendo a algo que não é uma lei a mesma força
jurídica que uma lei tem

14. Um regulamento que seja contrario a lei é ilegal. Se o regulamento dispuser contra a
lei porque a lei o permite é inconstitucional

• Isto nada tem a ver com deslegalização mas sim com o facto da lei permitir que o
regulamento fosse contrario a outra lei

• O regulamento tem de respeitar os princípios da reserva de lei

Nota: mas será que não é sentido que os ministérios clarifiquem e interpretem normas
formais da sua área?

o O problema não é existirem regulamentos interpretativos, mas sim que não


façam interpretação autêntica. No fundo, os regulamentos podem fazer
interpretações oficiais mas nunca autenticas
o Os regulamentos podem fazer interpretações mas não são autênticas pode
proceder a integração e interpretação de normas com eficácia interna

Deslegalização:
• Tirar da lei matéria que estava legalizada
• É a matéria de lei que degradada a matéria de regulamento , restringe-se
Eva Brás Pinho 69
Direito Constitucional
• Passa a matéria da lei a regulamento e o órgão legislativo a órgão
regulamentário
• A lei deslegalizante não fixa por si só o conteúdo, estava fixada por um ato
legislativo que posteriormente é revogado por um da mesma hierarquia,
permitindo a um ato infra-legal regular sobre essa matéria que deixa de estar
legalizada.
• É permitida exceto em matéria reservada.

Desregularização:

• Algo que estava regulado passa a estar desregulamentado

Pormenores de execução:

• são regulamentos interpretativos ou integrativos, são permitidos desde que não


avoquem a interpretação autêntica da lei (só pode ser feita pela própria lei).

o Interpretação oficial no fundo

• São regulamentos que apenas têm eficácia interna, atos infra- legais.

• Poder-se-á confrontar a interpretação feita por regulamento e a interpretação


correta que se faz.

• Muitas leis carecem de regulamentos de execução parasse tornarem, no todo, ou


na aprte, exequíveis e, não raro, estabelecem prazos para eles serem publicados

o Não significa que só entrem em vigor quando sobrevenham os


regulamentos, porque tal equivaleria a conferir ao poder regulamentar
ainda uma natureza legislativa à o de determinar a vigência de normas
legais
o Tal como as normas constitucionais ainda não tornadas exequíveis,
também as normas legais em analógas condições adquirem, desde logo,
eficácia sistemática

6. Os regulamentos do Governo revestem a forma de decreto regulamentar quando tal


seja determinado pela lei que regulamentam, bem como no caso de regulamentos
independentes.

Eva Brás Pinho 70


Direito Constitucional
7. Os regulamentos devem indicar expressamente as leis que visam regulamentar ou que
definem a competência subjectiva e objectiva para a sua emissão;

8. A transposição de actos jurídicos da União Europeia para a ordem jurídica interna


assume a forma de lei, decreto-lei ou, nos termos do disposto no n.o 4, decreto
legislativo regional.

Ø Artigo 112ª nº1


• principio da tipicidade das formas de lei
• 3 leis formais à só estas têm os 3 princípios base
o Leis da AR
o Decretos- lei
o Decretos legislativos regional
• Só 3 órgãos é que podem fazer lei
• Tem de existir um processo especifico de elaboração

Nota: os regulamentos distinguem-se pelo conteúdo e são de alguma forma uma claúsula
aberta.

Ø As portarias ajudam a flexibilizar a possibilidade de regulamentação de um


determinado fator em oposição à rigidez e força que um decreto-lei atribui

Atos normativos de natureza não formal ( não legais) :

a) Regulamentos da administração pública


• Regulamentos delegados
o Recebe da lei uma delegação para mudara própria lei
o Naõ pode fazer uma interpretação autêntica
o É isto que o art 112º nº5 não admite
o São legais, mas inconstitucionais
§ Ilegalidade à quando o regulamento contraria a lei
§ Inconstitucionalidade à quando o regulamento vai contra
a normas constitucionais

b) Assentos à também são inconstitucionais porque não podem fazer interpretação


autentica

Leis de valor reforçado:

Artigo 112º - nº3


Têm valor reforçado, além das leis orgânicas, as leis que carecem de
aprovação por maioria de dois terços, bem como aquelas que, por força da
Eva Brás Pinho 71
Direito Constitucional
Constituição, sejam pressuposto normativo necessário de outras leis ou que
por outras devam ser respeitadas.

Pensamento que subjaz a uma lei reforçada:

• Há leis que têm uma função materialmente paramétrica

• A lei do orçamento está necessariamente subordinado a lei do enquadramento


orçamental logo esta ultima so tem de regular a lei do orçamento àspor isso
em uma função materialmente paramétrica

• Ou seja, quando mesmo que não sejam reforçadas a nível de votação,


materialmente são

Leis materialmente paramétricas:

Ø Ser parâmetro de controlo de outras leis, prevalecem pelo conteúdo;

a. Ser pressuposto normativo de outra lei e também paramétricas


• Não pode haver a segunda lei sem a primeira
• A segunda lei tem de respeitar a 1º
• Ex: leis de bases reservadas são pressuposto normativo dos decretos-lei
de desenvolvimento
• Ex: Leis de autorização legislativa ao governo
o o governo só pode legislar mediante o que está descrito e
permitido na lei de autorização

b. Apenas paramétricas

• Lei que tem que ser respeitada por outras leis, mesmo não sendo
pressuposto normativos dessas leis
• Quem defende que a lei de bases também prevalece sobre decreto de
desenvolvimento em matéria concorrencial, o Governo pode fazer o
Decreto-Lei que quiser e não está dependente de uma lei da AR, apenas
se já existir lei da AR de bases é que o Governo teria que respeitar;
o ex: lei do orçamento face à lei de enquadramento orçamental
• Quando existe leis de bases que Têm de ser respeitadas pelos decretos de
desenvolvimento

Eva Brás Pinho 72


Direito Constitucional
Nota relativa à aprovação de leis ordinárias:
• Artigo 116º nº2 exige o quórum de metade dos deputados para serem votadas.
• Artigo 116º nº3 estabelece o principio da maioria simples para aprovação das
leis sendo que as abstenções não são contadas

1. Leis orgânicas

o Previstas no art 166 nº2


o Podem ser infringidas por leis não orgânicas

§ Contradição entre uma lei ou um decreto-lei sobre matérias


militantes e a lei de bases gerais de organização,
funcionamento e disciplina das forças armadas à art 164º d)
§ Incumprimento da lei de regime de estado de sítio ou de
emergência pela declaração de um desses estados ou pela
respetiva autorização ou confirmação à art 164ºd); 19º nº7 e
138º
§ Desrespeito da lei relativa à crianção das reações
administrativasà art 225º

o Ver art 168 nº5 à procedimento especifico relativo as leis


orgânicas
§ votação por maioria absoluta dos deputados
ü ( em oposição ao disposto no art 116 nº3 para as
leis ordinárias)

§ em caso de veto político têm de ser aprovadas na 2º volta por


2/3
ü artigo 136º nº 3

§ podem requerer a sua fiscalização preventiva de


constitucionalidade não só o PR mas também o PM, ou 1/5 dos
deputados à art 278º nº4

2. Leis que carecem de aprovação por 2/3


3. Leis especificadas pela CRP

Eva Brás Pinho 73


Direito Constitucional
Ø A força específica que uma lei revista ancora-se sempre na CRP, por essa razão, só
são leis reforçadas as que, como tais, resultem da Constituição.

o Nenhuma lei é reforçada em si mesma à compreende-se quando se analisa a sua


relação com as restantes leis
o Nenhuma lei é fundamento de validade de outra lei. Apenas pode ser condição
ou pressuposto da sua validade

Ø As leis reforçadas precisam de ter uma maioria de aprovação maior porque por
serem tão relevantes, precisam de uma maior legitimação

Através de uma analise à CRP, são leis reforçadas ( em sentido estrito):

• Lei do regime do estado de sítio e do estado de emergência


o Porque a declaração do estado de sitio, a sua autorização e a sua
ratificação ( atos materialmente legislativos) devem obediência a esta
lei
o Arts 19º nº 5 e 7
o Art 164º alínea e)
o Art 275º nº 7

Eva Brás Pinho 74


Direito Constitucional
• Orçamento de Estado
o Porque, durante o ano económico, nenhuma lei que não seja de alteração
ou ratificação do próprio orçamento o pode afetar
o Art 105º, 106º, 161º g) e 165º nº 5

• Orçamentos das regiões autónoma


o Condições homologas às do orçamento de Estado
o Art 227º nº1 o) e 232º nº1

• Lei do regime dos planos de desenvolvimento económico e social


o Porque estes planos são elaborados de acordo com as suas regras
enquanto complementares das normas constitucionais
o Art 92º e 165º nº1 alinea n)

• Lei relativa às condições do recurso ao crédito público


o Porque as leis de autorização de empréstimos têm de a respeitar
o Art 105º nº 4,; art 161º h), art 166º n º3

• Lei de enquadramento orçamental


o Porque o orçamento do Estado e os das regiões autónomas são
elaborados, organizados, votados e executados de acordo com ela;
o Art 106º, 164º r), art 227ºnº1 p); art 232º nº1

• Lei ( ou leis) do regime dos referendos


o Porque a realização dos referendos constituem objeto dessa ( ou dessas
leis) e a conformidade com ela é apreciada pelo tribunal Constitucional
o Art 164º b), art 166º nº2, art 115º nº1,2 e 6; art 256ºnº3, art 223º nº2 f)

• Leis de autorização legislativa


o Porque os decreto-lei e os decretos legislativos regionais autorizados
têm, como se sabe, de respeitar o sentido fixado nas correspondentes
leis de autorização;
o Art 112º nº2; art 161º d) e e); art 165º nº 2,5; art 169º nº 2,3 e at 198º
nº1 b)

• Leis de bases
o Porque os decretos-lei e os decretos legislativos regionais de
desenvolvimento têm, pela natureza das coisas, de se mover no âmbito
precetivo das bases
o Art 112º nº2, art 198º nº1 c) e nº3; art 227º nº1 c)

• Estatutos político - administrativos das regiões autónomas


o Porque nenhum diploma pode contrariar as suas disposições específicas
Eva Brás Pinho 75
Direito Constitucional
o Art 161º b); art 226º; art 227º nº1 e) art 231º nº6 etc

• Lei do regime de criação, extinção e modificação territorial das autarquias


locais
o Porque a divisão administrativa do território, que é feita por lei, depende
desse regime;
o Art 164º n); art 227º nº1 l);art 236º nº4
• Lei- quadro de adaptação do sistema fiscal nacional às especificidades
regionais
o Porque o poder das regiões autónomas de proceder a essa adaptação
pressupõe tal lei
o Art 227º nº1 i)
• Lei de criação das regiões administrativas
o Porque a criação em concreto de cada região depende desta lei
o Art 255º e 256º
• Lei-quadro das reprivatizações
o Porque qualquer ato de reprivatização deve respeitar as suas regras
materiais e procedimentais
o Art 293º

Ø Assim, podemos reduzir as leis reforçadas a 5 espécies:


a. Leis de enquadramento
b. Leis de orçamento
c. Leis de autorização legislativa
d. Leis de bases
e. Estatutos político-admisnistrativo das regiões autónomas

Ø A qualificação de uma lei como reforçada depende da verificação dos requisitos de


qualificação constitucionalmente fixados que têm que ver com:
• O objetivo da lei
• As matérias sobre que versa
• A função que pretende exercer
• Em alguns casos, o respetivo procedimento

Se um certo decreto não satisfizer estes requisitos, ainda que use o nomen júri, valerá
como lei comum, eventualmente inconstitucional ou ilegal por desconformidade com
esta ou com aquela norma da Constituição ou com etsa e aquela lei reforçada

Atos que interferem na função legislativa:

a) Referendo político
Eva Brás Pinho 76
Direito Constitucional
• vinculativo a nível de Estado ou de Região Autónoma
• (115º; 131º nº 2; 256º nº3);

b) Declaração de Estado de Sítio ou de Emergência


• Declarado pelo Presidente (138º)
• correspondente autorização ou confirmação pela Assembleia (138º; 161º; 179º
nº3);
c) Declaração de guerra pelo Presidente
• (135º c)),
• a correspondente autorização pela Assembleia da República (161º m) e
179º nº3);

d)O Decreto de nomeação de Ministros e Secretários de Estado

• quando defina as atribuições dos ministérios e secretários de Estado e as


formas de coordenação entre elas (183º nº3);

e) A resolução da Assembleia da República de cessação ou de suspensão de


vigência de Decretos-Leis ou Decretos Legislativos Regionais autorizados
(162º c); 169º nº2 e 3; 227º nº4);

Sugestões básicas de leitura:


JORGE MIRANDA, Curso de Direito Constitucional, 1, pp. 129 e ss., e 154 e ss.; Curso de Direito
Constitucional, 2, pp. 95 e ss., 161 e ss., 179 e ss.; J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e
Teoria da Constituição, pp. 65 e ss., 283 e ss., 571 e ss., 595 e ss., 693 e ss., 1055 e ss., e 1407 e ss.;
MARIA LÚCIA AMARAL, A Forma da República, pp. 191 e ss.; RUI MEDEIROS, A Constituição portuguesa
num contexto global, pp. 126 e ss., 207 e ss.

Eva Brás Pinho 77


Direito Constitucional
Secção III: Traços identitários do
Estado de Direito

1. Princípios estruturantes do Estado de direito

Todas as sociedade politicamente organizadas têm uma constituição


A constituição antes de mais, serve para organizar o poder.
Ora a organização nada tem a ver com a democracia e com o estado de direito que vêm
trazer inputs.

Estado de Direito à artigo 16º da declaração dos direitos do homem e do cidadão (


proclamada em frnaça no rescaldo da revolução francesa)

“ nenhum estado em qu não esteja consagrados direitos fundamentais e separação de


poderes, tem verdadeiramente uma constituição” à uma manifestação de limitação de
poder ( através dos direitos fundamentais)

Funções que decorrem do Estado de Direito:

• A constituição serve para limitar o poder e é esta limitação de poder que o


Estado de Direito procura garantir através da constituição

( estado democrático pretende legitimar o poder)

Limites ao poder:
• Princípios do Estado de Direito;
• Separação de poderes;
• Força normativa da Constituição;
• Sistema de fiscalização da Constitucionalidade das Leis;

1.1. Princípio da igualdade

Artigo 13º (Princípio da igualdade)


Eva Brás Pinho 78
Direito Constitucional
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito


ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de
origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica,
condição social ou orientação sexual.

Igualdade Jurídico – Formal:

• Art 13º à todos são iguais perante a lei à igualdade formal


• “ Todos os cidadãos são iguais perante a lei” à igualdade na aplicação do direito

Igualdade na lei e através da lei

a) Igualdade na lei
• Igualdade na aplicação e criação do direito à vinculação do legislador
• “O princípio da igualdade vincula diretamente os poderes públicos,
tenham eles competência legislativa, administrativa ou jurisdicional”
• Assim, o principio da igualdade tem desde logo como destinatários os
próprios órgãos de criação do direito
• Este é um principio que é limite material implícito de revisões
constitucionais
• Também os tribunais devem respeitar o princípio da igualdade
o Inclusivamente o tribunal constitucional quando fixar os efeitos da
inconstitucionalidade com alcance mais restritivo ( art 282º nº4)
• Também os órgãos e agentes administrativos devem respeito tendo em
conta a possibilidade de escolha de critérios de decisão pelos diversos
órgãos da administração direta, indireta e autónoma à e necessária
objetividade da atividade administrativa, mesmo em caso de exercício
de poderes discricionários ( art 266º)

b) Igualdade através da lei


• Tratar-se por “ igual o que é igual e desigualmente o que é desigual”
• Reduzido a um sentido formal, o principio da igualdade acabaria por se
traduzir num simples principio de prevalência da lei; é preciso delinear
os contornos do principio da igualdade em sentido material
• Ex: impostos iguais em vez de progressivos seriam profundamente
desiguais quanto ao seu conteúdo

Eva Brás Pinho 79


Direito Constitucional
Vertente positiva e negativa do princípio da igualdade:

a) Negativo à vedação de privilégios e de discriminações. Estas situações interditas


podem, muitas vezes, ser indiretas

b) Positivo

i. Tratamento igual de situações iguais


ii. Tratamento desigual de situações desiguais, mas substancial e
objetivamente desiguais e não criadas ou mantidas artificialmente pelo
legislador
iii. Tratamento em moldes de proporcionalidade das situações relativamente
iguais ou desiguais e que, consoante os casos, se converte para o
legislador ora me mera faculdade, ora em obrigações;
iv. Tratamento das situações não apenas como existem ma stambém como
devem existir ( através da lei)
v. Consideração do principio da igualdade não como uma “ilha”, antes como
princípio a situar no âmbito dos padrões materiais da CRP

Porque este principio também vincula o legislador:

Pode a lei de um Estado declarar que os casais homossexuais não podem adotar?

O Estado de Direito serve para limitar o poder em geral, pôr um travão às arbitrariedades da
maioria contra as minorias.

Deve haver um critério imparcial que permita resolver cada caso concreto, ex.: o bem estar da
criança.

Será prejudicial para a própria criança ser criada por um casal homossexual do que em casas
de apoio?

Há quem diga que sim, é preciso uma figura maternal e paternal, a ausência de uma destas
figuras influencia a maneira como a criança cresce. Pode até sentir-se marginalizada por não
ter, como as restantes crianças, um pai e uma mãe;

Há quem diga que não, pois o que interessa é a criança ter direito a uma vida melhor,
independentemente de quem a adotar, pois as crianças são mais felizes e têm acesso a uma vida
melhor quando alguém as decide criar e mostra preocupação para com elas. Logo, a
orientação sexual em nada influencia num sentido pejorativo, pois o argumento da
necessidade de uma figura maternal e paternal é fraco, visto que há, de facto, mães solteiras e
pais solteiros, esses têm igual direito a adotar como um casal homossexual. (
subjetivo!!!!!!!!!!!!)
Eva Brás Pinho 80
Direito Constitucional
A questão é que o caso do pai homossexual que perde a possibilidade de estar com a filha (
caso 18) nada tem a ver com casais homossexuais quererem adotar

O critério para er se há igualdade é o da maior satisfação da criança

O vinculo afetivo com o pai nada tem a ver com o ( não)vinculo que uma criança podes ter com
um casal que a va adotar

Logo, a sua satisfação e o impacto nada tem a ver num caso e no outro

1. Proibição de arbítrio

• A tese dominante diz que existe desigualdade quando apesar de existir um


critério este critério não tenha um fundamento mínimo de racionalidade e
razonabilidade a justificar o fundo e no fundo se baseia em critérios arbitrário

• Não existir arbítrio é quando existe um mínimo de fundamento e logica racional


por detrás do critério
• Não podem existir diferenciações arbitrárias
o O princípio da igualdade não proíbe “ que a lei estabeleça distinções.
Proíbe, isso sim, o arbítrio; ou seja, proíbe as diferenciações de
tratamento sem fundamento material bastante, que o mesmo é dizer sem
justificação razoável, segundo critérios de valor objetivo,
constitucionalmente relevantes” ( Ac nº39/88)

• O controlo mínimo por base deste critério que é a proibição do arbitrio dá mais
liberdade ao legislador

• Dar amplo espaço ao legislador democrático é uma forma de suavizar o órgão que
representa o povo com a sua legitimidade ( legislador) e os tribunais

• Consequentemente é proibida a discriminação

• Consiste essencialmente num critério negativo, com base o qual são censurados
apenas os casos de flagrante e intolerável desigualdade;

• Existe violação arbitrária da igualdade jurídica quando não se basear num:

i. Fundamento sério
o Exigem uma valoração e qualificação do fundamento
o Necessidade de encontrar “ elementos de comparação” que implicam:
1)insuficiência do “ arbítrio” como fundamento de “ valoração” e de “
comparação”

Eva Brás Pinho 81


Direito Constitucional
2) a imprescindibilidade da análise da “ natureza”, do “ peso”, dos “
fundamentos” ou “ motivos” justificadores de soluções diferenciadas
3) insuficiência da consideração do princípio da igualdade como um
direito de natureza apenas “ defensiva”

ii. Não tiver um sentido legítimo


iii. Estabelecer diferenciação jurídica sem um fundamento
razoável

1.1O controlo geral da igualdade pelo arbítrio é redutor e deve existir 2


categorias para aumentar o controlo da igualdade

a. Há categorias suspeitas porque ao longo a história foram sempre usadas para


descriminação
• Pessoas de outras raças, mulheres, deficientes
• Uma vez que sã categorias suspeitos deve partir-se do principio que existe
desigualdade ( no fundo, não damos o beneficio da duvida ao legislador com
a ideia/ possibilidade de que a lei poderia ter sido feito com arbítrio)
• Nos estados unidos a constituição roda muito em torno da proteção destas
categorias suspeitas
• Nestas categorias, para haver descriminação, tem de ser a propria que existe
uma fundamentação razoável
o Como poderiam ser os casos de descriminação positiva
o Ou caso o legislador tivesse fundamentos mesmo muito muito fortes

• Em Portugal existe alguma desta categorias? à art 13º nº2

o uma base para criar a ideia de categorias suspeitas no nosso ordenamento


jurídico
o Identifica um conjunto de fatores sociais que as pessoas não podem, ou
dificilmente conseguem mudar ( como o sexo ou a cor da pele)
o Este é um artigo ambicioso porque inclui vários fatores suspeitos ( uns
mais suspeitos que outros)
§ O sexo e a raça são fatores mais suspeitos que a condição
socioeconómica
o Este artigo existe porque historicamente estes grupos eram tendencialmente
descriminados
o Não se exclui que outros casos e possibilidades não possam estar incluídos no art
13 nº2 ( não é taxativo)
o Quanto mais próximo estiver a diferenciações de aspetos nucleares mais próximos
da dignidade da pessoa humana, mais o critério deve ser exigente

Eva Brás Pinho 82


Direito Constitucional
b. Em causa a dignidade da pessoa humana

• reconhecemos que existem causas em que se trata de diferenciações que


colocam em causa a dignidade da vida humana e que exige do legislador um
grau de controlo mais exigente

• logo são tomadas quase como inconstitucionais à priori, a menos que no caso
concreto sejam justificáveis e se consiga ilidir a presunção de
inconstitucionalidade

• Ex.: licença de maternidade e paternidade.


Nós realizamo-nos com os outros, logo, negar ao pai a possibilidade de viver e
ver a própria filha, é negar a dimensão nuclear da sua dignidade como pessoa
humana (Caso 18). Logo há uma tolerância mínima. O caso da adoção por
casais homossexuais encontra-se a meio caminho do controlo mínimo e do
controlo intenso do arbitrio;

2. Obrigação da diferenciação

• Tratar o que é igual o que é igual e o que é desigual de forma desigual é vazio.
Esta máxima permitia uma lei como “ as mulheres não podem estar em boards de
empresas cotadas na bolsa” à es mulheres são diferentes dos homens
Este principio aceitava critérios de distinção intoleráveis pelo estado de direito

• O principio da igualdade não nos pode apenas critérios de distinção

• Lógica de que devemos adaptar o meio ao fim. No fundo, a igualdade esta em


permitir o alcance do mesmo fim a todos.

2.2 Descriminação positiva

• ex: delegados sindicais e previsão de quotas para as mulheres no acesso a cargos


públicas
• Diferenciação no tratamento para um resultado igualitário

• Para uma sociedade desigual socialmente, exige-se um comportamento de


diferenciação positiva para estas categorias prejudicadas

São discriminações positivas enquanto imposições constitucionais atualmente:


c) Art 69º nº2 à crianças órfãs e abandonadas
Eva Brás Pinho 83
Direito Constitucional
d) Art 71º nº2 + art 74º nº2 g) à cidadãos com deficiência
e) Art 72º nº2 à idosos
f) Art 85º nº2 e 86º n1 e 2 e art 100º d) à pequenas e medias empresas
g) Art 97º nº1 à pequenos e médios agricultores

Ø Necessidade de Igualdade proporcional


• Não basta verificar se há fundamento material para distinguir, sendo ainda
necessário aferir se o grau de diferenciação ou se a medida da diferença têm uma
suficiente justificação
• Se a medida da diferença for muito acentuada já se torna discriminatória e
desproporcional ex: art109º - diferenciação positiva

Colisão autonomia privada vs principio da igualdade:


• é preciso perceber qual a gravidade da descriminação para perceber se fz sentido
limitar autonomia privada

1.2 Princípio da proporcionalidade

• Um Estado de Direito só o pode ser se o Estado agir com proporcionalidade

• O Estado deve olhar para cos cidadãos como membros da comunidade e com
respeito, logo o Estado deve procurar ter uma ação de acordo com so cidadãos
enão de “ quero posso e mando”

• Surge quando há dois ou mais bens jurídicos carecidos de realização e sobre os


quais, ocorra ou não conflito, tenha de procurar-se o equilíbrio, a harmonização,
a ponderação, a concordância prática

• Este princípio projeta-se a nível internacional quando existe patente na


Declaração universal dos Direitos do Homem

Dimensão necessidade à o Estado não deve entrar logo com normas imperativas sem
antes tentar negociar

Ex: expropriações à primeiro o estado deve tentar comprar a bem

Ø O principio da proporcionalidade tenta impedir que o Estado aja sem ponderação

Exemplos em que esta patente o principio da proporcionalidade:


o Art 18º nº2
o Art 19º nº4
Eva Brás Pinho 84
Direito Constitucional
o Art 272º n2

• Uma restrição a um regime de direitos liberdade e garantias é possível mas apenas


se estritamente necessário

• O principio da proporcionalidade deve ter uma alcance geral e não só os artigos


específicos

Ø 1º identificar e compreender qual a finalidade da ação lesiva ( muito


importante)

Exemplo:

Legitima defesa e a sujeição ao principio da proporcionalidade;

Um velhote que tem uma mercearia e um miúdo pequeno tenta roubar algo.

A finalidade da ação lesiva do velhote será ter de volta a maçã que o miúdo roubava

Ø Se eu quero alargar o aeródromo de tires não faz sentido expropriar um terreno na


quinta da marinha à exemplo em que não há idoneidade

Ø A penalização do aborto é ou não adequada para por termo ao aborto?

o A criminalização do aborto ser para evitar que eles aconteçam

3 testes para se saber

1. Adequação ou Idoneidade à a medida permitir ao fim que se pretende obter?

o A medida tem de ser adequada ao resultado, à realização do


interesse público deve ser apropriada à prossecução do fim ou
fins a ele subjacentes que se pretende adquirir

o Controlar a relação de adequação medida-fim


o Uma coisa é eu fazer o teste da adequação hoje, outra é perceber-se
mais tarde, com base nos efeitos que decorreram, se foi adequado
ou não

o Incriminar o aborto pode não acabar totalmente ( abortos


clandestinos) mas presume-se que irá reduzir à partida

Eva Brás Pinho 85


Direito Constitucional
2. Princípio da Necessidade

• Não tem sentido utilizar um canhão para atingir um pássaro


o A medida é idonia na medida em que com o canhão eu alcanço o
objetivo que é matar o passaro, mas o meio é desnecessário

• Quando existem vários meios para alcançar o mesmo fim, deve utilizar-
se o meio menos lesivo possível à o cidadão tem direito à menor
desvantagem possível

• Um velhote com 70 anos, sem recurso à policia e sem pessoas na loja, não
vai conseguir obter uma maçã roubada de um miúdo sem ser a tiro
o É efetivamente necessário
o ( * mesmo que neste caso o custo sacrificado não justifique o
custo que se salvou mas isso vemos no teste seguinte*)

• O TC verifica se o fim de uma lei é legítimo, adequado. O TC tem que respeitar


o fim que o legislador pretendeu acautelar

• Também é preciso notar que nem todos os meios alcançam um resultado com o
mesmo grau de eficácia

a. Exigibilidade material à o meio deve ser o mais “ poupado” possível quanto à


limitação dos direitos fundamentais

b. Exigibilidade espacial à aponta para a necessidade de limitar o âmbito da


intervenção

c. Exigibilidade temporal à pressupõe a rigorosa delimitação no tempo da


medida coativa do poder público

d. Exigibilidade pessoal à significa que a medida se deve limitar à pessoa ou


pessoas sujos interesses devem ser sacrificados

Ø Muitas vezes o problema não é a adoção da medida ( necessidade absoluta) mas sim
a necessidade relativa
o se o legislador poderia ter adotado outro meio igualmente eficaz e menos
desvantajoso para os cidadãos

3. Proporcionalidade em sentido estrito

Eva Brás Pinho 86


Direito Constitucional
• Conjuga-se o fim visado e o custo que essa solução implica
• Pode haver uma medida adequada e necessária para atingir um fim mas o
sacrifico que vou causar pode ser manifestamente superior aquilo que pretendo
acautelar
• A medida pode não ser conforme à proporcionalidade quando o sacrifício é
excessivo tendo em conta o relevo do fim alcançado

• Trata-se de um juízo de ponderação entre o que se ganha e o que se perde

Crítica a este princípio:


• A ponderação é uma ideia subjetiva
• Concordância prática entre vários valores em conflito;

Limites à proporcionalidade em sentido estrito:

• Exige-se que o meio seja proporcional ou apenas que não seja desproporcional?

o Jorge Novais: apenas que não seja desproporcional


§ o legislador deve ter liberdade para escolher o meio que
considera mais adequado ou aconselhável.

§ Se se permitisse ao Tribunal Constitucional decidir estar-se-ia a


invadir a margem de decisão do legislador – violação da
separação de poderes.

§ Se estiver ligado a valores importantes ligados à dignidade da


pessoa humana justifica-se o controle intenso, o Tribunal
Constitucional poderá dizer qual a medida mais proporcional.

Aplicação ao órgãos públicos:

I. Órgãos e agentes administrativos à devem atuar, no exercício das suas


funções, com respeito pelo princípio da proporcionalidade à art 266º nº2
II. Associações públicas à só podem ser constituídas para satisfação de
necessidades específicas -à art 267º nº4
III. Atos administrativos à carecem de fundamentação expressa e acessível
quando afetem direitos ou interesses legalmente protegidos à art 268º nº3
2º parte
IV. Tribunal constitucional à declaração de inconstitucionalidade por força
obrigatória geral encontra-se balizada pelo princípio da proporcionalidade

Formas de violação:

Eva Brás Pinho 87


Direito Constitucional
I. Arbítrio
o Forma mais grave
o Consiste na inadequação do meio para se alcançar o fim ou, pior, na
própria ilegitimidade do fim
II. Excesso
o Preterição de qualquer dos outros subprincípios
o Contudo, os direitos liberdades e garantias podem ser violados não só
por excesso como por insuficiência ou incumprimento por parte do
Estado de deveres de proteção
III. Excesso de proteção
o Quando o Estado conceda a certa categoria de pessoas ou de
situações uma proteção descabida, desproporcionada em face dos
interesses constitucionalmente protegidos e que se traduza em
verdadeiro privilégio em relação a outra ou outras categorias
o Ex: estado apoiar a concentração de empresas titulares de órgãos de
comunicação social em vez de a impedirn

1.3. Princípio da proteção da confiança

• Princípio do estado de direito manifesta-se também no princípio da proteção da


confiança
• O Estado de Direito exige um tratamento / comportamento conforme à
confiança.

• O Estado encontra-se vinculado a um dever de boa fé ( ou seja, de


cumprimento substantivo, e não meramente formal, das normas e de lealdade e
respeito pelos particulares

• Não está expresso explicitamente na CRP.


• Mas art. 2, quando fala de EDD, está implícito que o estado tem de proteger a
confiança, agir de boa fé e respeitar a palavra dada.
• A segurança jurídica reconduz-se a proteção de confiança, tal como a
jurisprudência e a doutrina constitucionais do Estado de Direito

Ø De que depende uma violação do princípio da proteção da confiança?

• Atenção: direitos adquiridos (por lei, contractos, etc.) são diferentes dos direitos
fundamentais (Direitos, liberdades e garantias, consagrados na CRP)
o Art. 18 refere-se aos fundamentais
• Num estado de direito, os direitos adquiridos
Eva Brás Pinho 88
Direito Constitucional
Para que a proteção da confiança opere, é preciso:
1. Que haja uma situação de confiança que merece ser tutelada
o Que o Estado crie, através de um comportamento, uma espectativa de
continuidade daquele comportamento

2. Justificação ou legitimidade para a situação de confiança


o Legitima face ao ordenamento jurídico, legal

3. Investimento de confiança
o Com base na confiança que o Estado passou, tomei decisões que não
tomaria de outro modo
o Investimento de tempo e dinheiro
o Assim, este investimento merece ser tutelado

Mesmo assim pode não ser suficiente: vai haver uma ponderação se se justifica sacrificar
a confiança em prol de um objetivo maior à Razões ponderosas do interesse público
o As razões que justificam as medidas são suficientemente ponderosas para o
sacrifício que se impõe ao violar a confiança

É preciso que haja uma frustração da confiança:

a. Momento em que o Estado frustra:

o desde que não haja interesses ponderosos públicos (de todos, não é um interesse
abstrato) que justifiquem o sacrifício de uma situação de confiança.
o Grau de confiança e peso do interesse público;

b. Momento de Ponderação:
o se a frustração é justificativa ou não no caso concreto (à semelhança da
proporcionalidade em sentido estrito)

o tutela de confiança com os interesses constitucionalmente protegidos:

§ margem de livre decisão do legislador


§ o princípio democrático – interesses que justifiquem a intervenção
legislativa retroativa, retrospetiva ou apenas para o futuro, em

Eva Brás Pinho 89


Direito Constitucional
violação das expectativas e os prejuizos causados com essa
intervenção;

Ø Há um controlo dos mínimos da lei retrospetiva, mas quando a lei é retroativa o


controlo é mais intenso;

Princípio da determinabilidade das leis:

• Princípio da precisão ou determinabilidade dos atos normativos à


conformação material ou formal dos atos normativos em termos linguisticamente
claros, compreensíveis e não contraditórios

• em assuntos relevantes posso exigir leis claras, densificadas que permitam


retirar uma regra de conduta, para que possa ajustar o meu comportamento face a
ela.

• Nenhum funcionário publico saberia em que casos a lei poderia ou não ser
apicada. E.: “tu não és do meu partido, vais para a rua”. Assim, esta lei não é
suficientemente determinada

Reconduz-se a duas ideias fundamentais:

1. Exigência de clareza das normas legais


o De uma lei obscura ou contraditória pode não ser possível, através da
interpretação, obter um sentido inequívoco capaz de alicerçar uma solução
jurídica para o problema concreto

2. Exigência de densidade suficiente


o Um ato legislativo que não contém uma disciplina suficientemente concreta (
= densa, determinada) não oferece uma medida jurídica capaz de:

i. Alicerçar posições juridicamente protegidas dos cidadãos


ii. Constituir uma norma de atuação para a administração
iii. Possibilitar, como norma de controlo, a fiscalização da
legalidade e a defesa dos direitos e interesses dos cidadãos

• Para existir segurança jurídica:

Eva Brás Pinho 90


Direito Constitucional
o Publicidade dos atos do poder público e dos procedimentos da respetiva
formação;
o Certeza, como conhecimento exato das normas aplicáveis, da sua
vigência, das suas condições de aplicação e da fixação do comportamento
dos destinatários;

o Compreensibilidade, como clareza das expressões verbais das normas e


suscetibilidade de compreensão pelo homem médio;

o Razoabilidade, como não arbitrariedade, adequação às necessidades


coletivas e coerência interna das normas

o Estabilidade, como garantia de um mínimo de permanência das normas,


por uma parte, e garantia dos atos e dos efeitos jurídicos produzidos

• A segurança jurídica reconduz-se a proteção de confiança, tal como a


jurisprudência e a doutrina constitucionais do Estado de Direito democrático a
têm interpretado;

Ø Proibição genérica da retroatividade das leis

A ideia de segurança jurídica está patente na Constituição:


• Necessário abstração das leis restritivas de direitos, liberdades e garantias
• Na consequente proibição de leis restritivas e efeito retroativo
• Na sujeição das leis que estabeleçam condicionamentos a análogas prescrições
• Na proibição de impostos de natureza retroativa
• Necessária fundamentação das decisões dos tribunais que não sejam de mero
expediente e dos atos administrativos qu afetem direitos ou interesses legalmente
protegidos
• Fixação dos efeitos de declaração de inconstitucionalidade pelo TC por razões de
segurança jurídica;

Refrações mais importantes do princípio da segurança jurídica:


a) Quanto a atos normativos à Proibição de normas retroativas restritivas de
direitos ou interesses juridicamente protegidos;

b) Quanto a atos jurisdicionais à inalterabilidade do caso julgado

i. Estabilidade à dado que as decisões dos poderes públicos


uma vez adotadas, na forma e procedimento legalmente
Eva Brás Pinho 91
Direito Constitucional
exigidos, nã devem poder ser arbitrariamente modificadas,
sendo apenas razoável a alteração das mesmas quando corram
pressupostos materiais
§ Caso julgado assenta na estabilidade definitiva

ii. Previsibilidade à do princípio da segurança jurídica que,


fundamentalmente, se reconduz à exigência de certeza e
calculabilidade, por parte dos cidadãos, em relação aos
efeitos jurídicos dos atos normativos

c) Quanto a atos da administração à tendencial estabilidade dos casos decidiso


através de atos administrativos constitutivos de direitos
o Goza de tendencial imutabilidade que se traduz:
i. Na autovinculação da administração na qualidade de autora
do ato e como consequência da obrigatoriedade do ato

ii. Na tendencial irrevogabilidade do ato administrativo a fim


de de salvaguardar os interesses dos particulares destinatários
do ato

1.4. Princípio da socialidade:

• É uma consequência política e lógico-material do princípio democrático


• Direitos e deveres económicos, sociais e culturais à titulo III, capitulo I à
obrigação do legislador está patente na constituição
o torna-se num dever do legislador democrático
o Art 2º da CRP ao considerar como objetivo do Estado de Direito
democrático “ a realização da democracia económica, social e cultural”
o Arts 9º, 80º e 81º

Princípio da democracia económica, social e cultural:

• Tem a mesma dignidade constitucional do princípio do estado de direito e do


princípio da democracia política, estando, tal como eles, garantido contra leis de
revisão substancialmente perversoras

• Constitui uma autorização constitucional no sentido de o legislador democrático e os


outros órgãos encarregados da concretização político – constitucional adotarem as
medidas necessárias para a evolução da ordem constitucional sob a ótica de uma
justiça constitucional nas vestes de uma justiça social

Eva Brás Pinho 92


Direito Constitucional
• No fundo, impõe tarefas ao Estado e justifica que elas sejam tarefas de
conformação, transformação e modernização das estruturas económicas e
sociais

De forma a promover a igualdade real entre os portugueses à arts 9º/d e 81º a e b)

• Tem 2 dimensões específicas:


a. Dimensão teleológica
o Porque a democracia económica, social e cultural é um objetivo a realizar
no contexto de um processo público aberto
o Apresenta-se como um fim do Estado

b. Dimensão impositivo-constitucional
o Porque muitas das suas concretizações assentam no cumprimento de
fins e tarefas por parte de órgãos de entidades públicas

Através:
Rendimento social de inserção à para quem vive na miséria e não tem mais nenhum
apoio do estado à 186€

Salário mínimo à 580€

Acordão tribunal constitucional nº 509/2002


o direito ao mínimo de existência condigna
o definiu os limites ao rendimento de inserção social

A imposição constitucional e discricionariedade legislativa:

• O princípio da democracia económica e social contém uma imposição obrigatória


dirigida ao órgãos de direção política no sentido de desenvolverem uma
atividade económico e social conformadora das estruturas socioeconómicas,
de forma a evoluir-se para uma sociedade democrática ( Art 2º e 9º)

• Trata-se de um mandato constitucional juridicamente vinculativo que limita a


discricionariedade legislativa
o Limita o “se” da atuação, mas deixa ao legislador uma margem
considerável de liberdade de conformação político quanto ao “ como”
da sua concretização

Eva Brás Pinho 93


Direito Constitucional
Ø O Estado não só não pode tirar a vida, nem ofender a integridade física. Pela sua
atuação, tem de garantir a vida e a integridade física se esta for posta em causa por
outros.

O princípio da proibição do não retrocesso social:


• = proibição de “ contra - revolução social” ou da “ evolução reacionária”

• Significa isto que os direitos sociais e económicos uma vez obtido um determinado
grau de realização, passam a constituir, simultaneamente, uma garantia
constitucional e um direito subjetivo

• Este princípio limita a reversibilidade dos direitos adquiridos em salvaguardado


principio da proteção da confiança e da segurança dos cidadãos no âmbito económico,
social e cultural

• A violação do núcleo essencial efetivado justifica a sanção de


inconstitucionalidade relativamente a normas manifestamente aniquiladoras da
chamada “ justiça social”

o Ex: será inconstitucional uma lei que extinga o direito a subsidio de


desemprego ou pretenda alargar desproporcionadamente o tempo de serviço
necessário para a aquisição do direito à reforma

Formulação do principio da proibição do retrocesso social --> o núcleo essencial dos


direitos sociais já realizado e efetivado através de medidas legislativas deve
considerar-se constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer
medidas estaduais que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou compensatórios,
se traduzam, na prática, numa “ anulação”, “ revogação” ou “ aniquilação” pura a simples
desse núcleo essencial

O princípio da democracia económica, social e cultural como elemento de


interpretação:

O legislador, a administração e os tribunais têm, por isso:


o de considerar o principio da democracia económica e social como princípio
obrigatório de interpretação para avaliar a conformidade dos atos do poder
público com a constituição

o de ver o princípio da democracia económica e social como uma medida


vinculativa do exercício da discricionariedade do legislador e como uma

Eva Brás Pinho 94


Direito Constitucional
linha de direção obrigatória na concretização dos conceitos
indeterminados

Imposição da democracia económica, social e cultural:

• O princípio da subsidiariedade, tradicionalmente erigido em princípio


constitucional, significativa que o Estado tinha uma função apenas acessória
ou complementar na conformação da vida económica e social

O princípio da democracia económica e social como limite da revisão constitucional:

• É um princípio garantido contra a revisão constitucional


• É verdade que o art 288º não faz alusão expressis verbis a este principio, mas
também não o faz quanto ao princípio de democracia política e nem o questiona

• Contudo, nas alíneas e),f), e g) conclui-se que a dimensão económica e social do


princípio democrático é um limite material de revisão

2. Separação de poderes
• Surge nos sec 18 e 19 com Montesquiou com o objetivo de limitar a monarquia
absoluta
• Art 16º Declaração dos direitos do homem e do cidadão à Séc 18 e 19
• Séc 20 há uma serie de revoluções e alterações no constitucionalismo que o vem
alterar. Muito embora a ideia base de fiscalização interorgânica se mantenha

• Função de limitação dos poderes


• É um dos instrumentos de que as constituições utilizam o fim da limitação do
poder
• Ideia de que o poder não pode abusar do poder
• Art 109º e 111º da CRP

Ø Montesquiou quis que cada poder representa-se um segmento da sociedade e se


tivesse um sistema misto:
Eva Brás Pinho 95
Direito Constitucional
o Executivo à Rei
§ Poder político à PR, AR, Governo
§ Poder administrativo à Governo

o Legislativo à camara dos nobres ( alto clero e nobreza) + camara dos


comuns ( burguesia e povo)
§ AR + Governo + Assembleia legislativa regional

o Judicial à uma mera boca que repete as palavras da leis; algo


desvalorizado
§ Tribunais à mais importantes agora
Ø Os poderes com mais liberdade são o poder político e o poder legislativo

1. Poder administrativo:
• Principio da legalidade à Estado e . Administração publica estavam
submetidos à lei
o Objetivo de evitra abusos e garantir o respeito pela lei

• Função secundária à atua no quadro não apenas ds CRP mas também da


quantidade imensa de legislação ordinária existente
• Ato normativos e não normativos
• Podem ser fiscalizados a pedido dos cidadãos
• Prossegue o interesse público com base na lei
• Art 266º
• Art 182º à Governo é o órgãos superior da Administração Pública

• Aumenta da iniciativa legislativa do governo:

o Crescente iniciativa por parte do governo na criação de leis

o Reforço da institucionalização do competência legislativa


governamental

• A AR também tem vindo a legislar cada vez mais nas área de competência
originária governamental

Orgãos de soberania:
AR- 131º
Governo à 117º
PR
Tribunais

Eva Brás Pinho 96


Direito Constitucional
Jorge novais -> cada vez mais a divisão de poderes se abre e se encontra em
interdependecia, diferentemtne do qua acontecia

2. Poder Político:

• Benjamin constant
• Ato não normativo
• Pelo PR, AR. E governo
o Note-se que o art da CRP é muito especifico e deve ser interpretado
restritivamente no que toca as competências do PR para evitar abusos
• Tem legitimidade democrática
• Função primária
• Há órgãos locais, centrais e regionais
• Há muitas competências políticas que não tem qualquer controlo por parte do
TC
o Por isso é que os artigos referentes a tos politicos têm de ser
interpretados restritivamente.
o Uma vez que não há reivindicações possiveis a tribunal, tem de estar
bem claro tudo

Função legislativa:
• Primeira preocupação de Montesquiou
• É o poder com mais liberdade
• O legislador pode fazer o que entender

3. Poder Judicial

• Função secundária porque não estão vinculados apenas à CRP mas também a
toa a legislação existente
• Art 203º
• Art 4º nº3 alina a) ETAF

Qual a relação entre o poder legislativo e o poder administrativo?

Eva Brás Pinho 97


Direito Constitucional
1º caso à Leis individuais e concretas

• Apesar da forma de lei o conteúdo é individual e concreto

No fundo, os atos individuais e concretos:


o Atos políticos ( dissolver a X assembleia ou nomear o X embaixador para
bruxelas)
o Atos administrativos

Ø Nunca podem ser verdadeiramente leis como disposto no art 112º nº1 se não forem
gerais abstratas

Ø É importante que a distinção seja clara por uma questão de proteção jurisdicional
• O TC pode fiscalizar as leis mas não pode fiscalizar os atos adminsitrativos

Ø A doutrina entende que a lei se caracteriza apenas pela forma

Ø As leis individuais e concretas não deixam de ter força de lei e de poder derrogar
outras leis.vv

• Porque não há nada na CRP que diga que as leis têm de ser gerais e abstratas
• Art 18 nº3 à se especifica apenas um tipo de lei em que se exige generalidade
e abstração, então, a contrario, não se exige isso às outras
• Entendimento geral da doutrina e jurisprudência ( excetuando JM)

• Não se deixa de nota, contudo, que sem generalidade e abstração, se viola o


principio da igualdade

o O juízo de igualdade deve ser medido com base no tempo.


o Ou seja, lá porque saramago recebe uma menção honorifica porque
recebeu um nobel, o Lobo Antunes se daqui a 20anos e receber um
premio nobel, não tem necessariamente de receber a menção
honorifica e não esta a sr descriminado. Porque não foi no mesmo
tempo.

• No fundo as leis individuais e concretas resolvem complexidades da vida

Exceção para salvaguardar efeitos de impugnação

• Art 268 nº4 “ independentemente da sua forma” à garante-se que o governo


que utiliza a forma de lei num ato administrativo não consiga suceder na “
marosca”;
Eva Brás Pinho 98
Direito Constitucional
o Isto porque um ato administrativo pode ser contestado e uma lei tem
de esperar pelo TC

Conclui-se que distingue-se função administrativa da legislativa, não pela forma


mas pelo conteúdo

Art 199 alinea e) à há algum conteúdo especifico para a função administrativa

3. A conquista da força normativa da


Constituição
3.1. A Constituição como normação juridicamente vinculativa

• JM dizia que o direito constitucional era como o direito romano que não servia
para nada na atualidade
• Ex: caso 27 da mudança de sexo e consequente vontade de mudança do nome

o Prova que o direito constitucional é muito útil porque através de


princípios constitucionais conseguimos dar resposta a situações
não reguladas do dia a dia

o Pode ate dizer-se que no fundo não há uma verdadeira


incompletude do sistema jurídico uma vez que se consegue
resolver com a CRP. Quanto muito haveria uma lacuna legal ( na lei
ordinária)

• A constituição da revolução francesa teve uma grande relevância politica mas


acabou por não o ter a nível jurídico

Ø A grande discussão do séc 20 pos 2º guerra mundial foi se o Direito constitucional


era verdadeiramente Direito ou se estava apenas no campo da ciência política

• Para a constituição ganhar normatividade é necessária fiscalização


• A constituição normativa limita a ação do legislador

Porque é que este salto foi difícil de executar durante a revolução francesa?
Eva Brás Pinho 99
Direito Constitucional
• Na revolução francesa impunha-se penas fixas e havia muita desconfiança face
aos tribunais
• A escola de exegese tem subjacente a mesma ideia, de que o juiz não deve ter
grandes poderes

Isto porque o juiz não tinha nenhuma legitimidade democrática e era um cargo que
estava nas mãos da velha nobreza

Ø Hoje, o Direito constitucional e um direito jurídico com normas


Ø Isto já foi tardio e so sucede quando finalmente um tribunal pegue na constituição e
utiliza como argumento contra a lei ordinária
Ø Demorou algum tempo ate que os juízes tivessem esta iniciativa

1º Aplicabilidade direta dos preceitos da constituição

• 1º manifestação da força normativa da constituição


• Art 18 nº1

o Inspirada na constituição alemã de 1949


o Os direitos liberdades e garantias sã diretamente aplicáveis à mas não é
legitimo uma leitura a contrario como se os restantes preceitos não
fossem
o A generalidade dos preceitos constitucionais são diretamente aplicáveis
o A grande novidades está em reconhecer que os direitos fundamentais são
diretamente aplicáveis;

o A aplicabilidade direta não esta confinada apenas as órgãos de


organização do poder mas vale sim no geral

o Se anteriormente os direitos fundamentais estavam confinados ao que.


estava disposto na lei ordinária, deixa de ser assim

o Posso resolver um caso não regulado na lei ordinária por aplicação direta
de preceitos constitucionais

Artigo 204º

• Nos feitos metidos a julgamento os Tribunais não podem aplicar leis


inconstitucionais
Eva Brás Pinho 100
Direito Constitucional
• discussão para saber se a Administração Pública também pode recusar normas
inconstitucionais.

Falamos de força normativa da Constituição:

• Relativamente a outros atos jurídicos à constituição como fundamento da


ordem jurídica e enuncia como se produzem as outras normas jurídicas;

• Quanto à conformação das relações entre o Estado e os Cidadãos à tem que


se impor sobre a realidade política, isto é, tem que ser efetiva com o mínimo de
sustento na realidade;

o Paradoxo: visa transformar a realidade, impor-se sobre ela, mas,


simultaneamente, tem que ser aceite por ela, depende da realidade;

• Adaptabilidade da Constituição à a realidade está em constantes


mudanças e aquela tem que aderir a esta, por isso, a constituição tem que ser
flexível.
o Depende da autoridade moral da própria constituição;

Reserva da Constituição:

• Há um conjunto de matérias cuja disciplina está reservada à constituição, ou


seja, só pela Constituição podem ser reguladas
o se a constituição nada disser também nenhuma outra lei pode dizer;

• Quanto a matérias já reguladas pela Constituição à as leis ordinárias não


têm competência para as regular;

• A atividade infraconstitucional (entes públicos, administração pública), para


além de ter como limite a constituição, tem que ter fundamento nesta

Normas constitucionais

• O Direito não é um conjunto de regras avulsas. Direito é ordenamento, implica


coerência e consistência.
• Projeta-se em sistema , essa unidade traduz-se em princípios, logicamente
anteriores aos preceitos
• Os princípios não se contrapõem às normas, mas contrapõem-se à regras
• As normas jurídicas é que se dividem:
o Normas- princípios
o Normas-regras

Eva Brás Pinho 101


Direito Constitucional
Ø A Constituição material deve ser vista como um núcleo de princípios e não de
regras, preceitos ou disposições;

Características dos princípios:

a) A maior aproximação da ideia de direito ou dos valores do ordenamento


b) A amplitude ou a maior generalidade frente às normas-regras;
c) A irradiação ou projeção para um número vasto de regras em sensível
heterogeneidade;
d) A adstrição a fins, e não a meios ou à regulação de comportamentos;
e) A versatilidade, a suscetibilidade de conteúdos com densificações variáveis ao
longo dos tempos;
f) A abertura, sem pretensão de regulamentação exaustiva, de todos os casos
g) A expansibilidade perante situações ou factos novos;
h) A relatividade ou a virtualidade de harmonização, sem revogação ou invalidação
recíproca;
i) A virtualidade de oferecer critérios de solução a uma pluralidade de problemas;

• As regras são aplicáveis no estilo de tudo ou nada dos factos que preveem
• Os princípios, ao invés, não comportam consequências jurídicas que decorram
automaticamente;
• São mandatos de otimização à são normas que ordenam que algo seja realizado
na maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes;
o Podem ser cumpridos em diferentes graus
o Regras, por outro lado, ou é cumprida ou não, se é válida tem de ser fazer o
que ela exige

• As regras vigem, os princípios valem à Enquanto valores fundamentais, os


princípios governam a constituição, o regime, a ordem jurídica; Não são apenas
a lei mas o Direito em toda a sua extensão, substancialidade, plenitude, abrangência;

• A sua função ordenadora revela-se muito significativa em momentos


revolucionários uma vez que traduzem uma nova ideia de Direito;

a) Exercem uma ação imediata:


o enquanto diretamente aplicáveis
o diretamente capazes de conformar as relações político-constitucionais
o por isso admitem e postulam desenvolvimento, concretizações, densificações e
realizações variáveis
o As próprias disposições constitucionais reconhecem essa ação imediata:

Eva Brás Pinho 102


Direito Constitucional
§ Art 207º, 204º e 277º à inconstitucionais as normas que
infrinjam a Constituição ou os princípios nela consignados
§ Art 290º nº2 à em vigor o direito anterior que não seja contrário à
Constituição ou aos princípios nela consignados

b) Exercem ação mediata:


o Consiste em funcionarem como critérios de interpretação e de
integração, pois são eles que dão a coerência geral do sistema.

o O sentido exato dos preceitos constitucionais tem de ser encontrado na


conjugação com os princípios

Ø Os princípios não são homogéneos, podem revestir diferente natureza ou


configuração:

Distinção para Gomes Canotilho:

1. Princípios jurídicos fundamentais


o Historicamente objetivados e progressivamente introduzidos na
consciência jurídica geral e encontram uma receção expressa ou
implícita no texto constitucional
o Pertencem à ordem jurídica positiva e constituem importante
fundamento para a interpretação, o conhecimento e a aplicação do
direito positivo

2. Princípios políticos constitucionalmente conformadores


o Explicitam as valorações políticas fundamentais do legislador
constituinte;
o Condensam as opções políticas fundamentais e refletem a
ideologia inspiradora da constituição
o São o cerne político da constituição

3. Princípios constitucionais impositivos


o Subsumem-se todos os princípios que impõem aos órgãos dos
Estados, sobretudo ao legislador, a realização de fins e a execução
de tarefas;
o São princípios dinâmicos, prospectivamente orientados

4. Princípios-garantia
o Visam instituir uma garantia dos cidadãos;

Eva Brás Pinho 103


Direito Constitucional
o É-lhes atribuída uma densidade de autêntica norma jurídica e uma
força determinante, positiva e negativa

Distinção para Jorge Miranda:

1. Princípios constitucionais substantivos


o Princípios válidos em si mesmos
o Princípios que espelham os valores básicos a que adere a Constituição
material

2. Princípios constitucionais adjetivos ou instrumentais


o De alcance sobretudo técnico
o Complementares dos primeiros e que enquadram e dinamizam as disposições
no seu conjunto

a) Princípios axiológicos fundamentais


o Correspondem ao limites transcendentes do poder constituinte , ponte
de passagem do Direito natural para o Direito positivo;
o São todos reconduzíveis à dignidade da pessoa humana:
§ Proibição de discriminações
§ A inviolabilidade da vida humana
§ A não retroatividade da lei penal incriminatória
§ A integridade moral e física das pessoas
§ etc

b) Princípios político-constitucionais

o Correspondem aos limites imanentes do poder constituinte, aos limites


específicos da revisão constitucional, próprios e impróprios, e aos
princípios conexos ou derivados de uns e de outros
o Refletem como o nome indica, as grandes marcas e direções
caracterizadoras de cada Constituição material diante das demais, ou
seja, as grandes opções e os princípios de cada regime
o São os princípios do Estado de Direito e os seus subprincípios:
§ Princípio democrático
§ Princípio representativo
§ Princípio republicano
§ Principio da separação de poderes
§ Principio da maioria
§ Princípio da subordinação do poder económico ao poder político

c) Princípios constitucionais instrumentais

Eva Brás Pinho 104


Direito Constitucional
o Correspondentes à estruturação do sistema constitucional, em
moldes de racionalidade e operacionalidade;
o Princípios fundamentalmente construtivos e que, embora inerentes ao
Estado constitucional, hoje adquiriram uam relativa neutralidade a ponto
de poderem encontrar-se um pouco por toda a parte
o Ex: princípio da publicidade das normas jurídicas; principio da
tipicidade das formas de lei

3.2. Normas programáticas, normas precetivas e normas


diretamente aplicáveis

1. Normas precetivas:

a) Exequíveis por si mesmas

• Não depende de lei ordinária para se tornarem exequíveis


• Como costuma ser o caso das normas de direitos, liberdades e garantias

Nota:

Art 24º ao 57º à direitos liberdades e garantias

Art 58º a 79º à direitos economicos sociais e culturais

Artigo 17º (Regime dos direitos, liberdades e garantias)

O regime dos direitos, liberdades e garantias aplica-se aos enunciados no título II e aos
direitos fundamentais de natureza análoga.

• Não são apenas os direitos referidos especificamente na no titulo II que são


diretamente aplicáveis

• Art 61º nº1 à direito que em tudo é semelhante aos direitos liberdades e
garantias! Portanto também a liberdade de empresa é diretamente aplicável

• Art 62º

o direito à propriedade privada


o não preciso de lei ordinária para saber que o Estado não pode
expropriar as minhas casas sem me indemnizar
Eva Brás Pinho 105
Direito Constitucional
1. Garante a propriedade existente
2. Garante a possibilidade de acesso à propriedade

b) não exequíveis por si mesmas

• Normas precetivas mas não exequíveis por si mesmas


• Art 27 nº5

o Aplica-se “ nos termos da lei” que significa que não é assim tao
diretamente aplicável
• Exemplo: se estiver em causa a vida de uma pessoa o medico pode invocar a
objeção de consciência ( ex: aborto) à art 41º nº6

• Aqui basta uma lei que regule e a norma torna-se exequível

2. Normas programáticas:

• Normas que estabelecem objetivos ideais mas que são difíceis de concretizar
na sua plenitude
• Tratam-se dos direitos sociais à titulo III da 1º parte da CRP
• Excluem-se os que estão patentes nesta secção da constituição mas que são
análogos aos direitos, liberdades e garantias enquanto normas precetivas

• Direito à saúde + direito ao trabalho + direito à habitação + direito à cultura


• As programáticas só são possíveis com um conjunto de politicas publicas
• O legislador não consegue, através de leis, resolver a questão diretamente
• Apontam para um cenário desejado mas que só pode ser realizado
gradativamente e muito para além da lei

Ø Não se confundem com as normas precetivas não exequíveis


• Porque não basta uma lei que a permite como nas precetivas não exequíveis

Ø Se são quase utópicos, estamos a criar direitos que na pratica não passam de uma
proclamação politica sem realização pratica?
• A ideia destas normas é estabelecer um caminho ou um objetivo ultimo a
seguir
• Faz da constituição, uma constituição dirigente que vincula o legislador
Eva Brás Pinho 106
Direito Constitucional
• Art 283 à inconstitucionalidade por omissão
o Mecanismo para “ obrigar” o legislador a tentar garantir a efetivação
dos direitos sociais
o Contudo, os particulares não podem interpor uma ação para isto ( não
tem competência)
o Nº 2 à não tem grande relevância prática porque mesmo sendo
declarada a inconstitucionalidade por omissão, apenas se informa os
órgãos competentes , não tem mais nenhum efeito

• Há sempre um respeito mínimo que se exige

o Art 59º nº2 a) à o estabelecimento do salário mínimo são formas de


concretizar as normas programáticas

o Se um legislador revoga-se a alínea referente ao salario mínimo,


acontecia o que a doutrina chama de “ retrocesso social”

o A doutrina discute se dos direitos sociais não decorre a proibição do


retrocesso social

§ Leia-se a proibição do legislador desfazer o que já foi feito para


garantir a efetivação dos direitos sociais

c)Materiais ou de Fundo
• relação Estado e Sociedade

d) Orgânicas ou Organizativas
• definidoras de órgãos do poder

e)Procedimentais ou De Forma
• atos e atividades do poder
• Maior ou menor abertura e indeterminação.

f) Exequíveis (aplicáveis por si só);

g) Não Exequíveis por si mesmas

• carecidas de normas legislativas que as tornem plenamente


aplicáveis às situações da vida);
Eva Brás Pinho 107
Direito Constitucional
h) Constitucionais a se

• especifica regulamentação constitucional, normas materiais ou de garantia


i) Constitucionais
• outras para certos efeitos

3.3. Princípio da interpretação conforme à Constituição

A problemática da interpretação

Ø A interpretação é sempre necessária, não pode haver aplicação de normas sem a sua
interpretação. Passa pela letra mas deve ir além dela.

Existem várias dificuldades de origem endógena na interpretação das normas


constitucionais:

a. A variedade das normas quanto ao objeto e à eficácia


b. A incompleição ou a indeterminação de muitas das normas
c. A sua linguagem
d. A inadequação das técnicas sbsuntivas
e. A proximidade dos factos políticos
Dificuldades de origem exógena :
a. A prevalência, na redação de preceitos, das fórmulas proclamatórias
b. As deficiências de legística ou de técnica legislativa
c. A origem compromissória de constituições de estado social de Direito
d. Os diferentes desígnios por que se movem os órgãos de poder

Ø A interpretação constitucional não é “ um evento exclusivamente estatal”.

• O Povo é também um elemento pluralista para a interpretação que se faz


presente de forma legitimadora no processo constitucional.
• Aceitamos o acesso dos cidadãos à Constituição como decorrência do direito
de acesso ao direito e como exigência do princípio da cidadania

Contudo, só os tribunais como órgãos com competência para administrar a justiça em


nome do povo, fazem interpretação jurídico-constitucional vinculativa

Postulados da interpretação constitucional e seus corolários

Eva Brás Pinho 108


Direito Constitucional
1. Unidade
o A constituição deve ser apreendida como um todo, na procura de
coerência e de harmonia no sentido das normas
o É igualmente necessário enquadrar cada norma no seu contexto, numa
perspetiva material que tenha em conta a realidade subjacente às normas

2. Identidade
o A unidade da constituição é a chave da sua identidade
o A partir da unidade da constituição chega-se à constituição material
de cada Estado em cada momento, permitindo assim saber o sentido de
disposições particulares

3. Adequação

o Inseridas num sistema com princípios que identificam, as normas


constitucionais prosseguem os correspondentes fins
o Assim, as formulações linguísticas donde constam devem ser
interpretadas à luz desses fins, procurando-se resultados que sejam
com eles os mais consentâneos
o Este postulado tem particular importância na área dos direitos
fundamentais, em que cabe definir com rigor os bens jurídicos
procurando entender adequadamente as restrições a que estejam,
porventura, sujeitos, traçar fronteiras e, com ponderação entre esses bens
jurídicos , conseguir ultrapassar conflitos;

4. Efetividade
o Decorre da incindibilidade da interpretação e da aplicação
o Porque são expressões verbais correspondentes a verdadeiras normas
jurídicas, há que ser encontrada uma função útil no ordenamento, um
sentido conformador dos factos e situações apto a servir de
parâmetro de decisão judicial.
o A uma norma fundamental tem de lhe ser conferido sentido que maior
eficácia lhe dê
o Implica consideração, na inconstitucionalidade material, de fenómenos
de desvio de poder legislativo, traduzimos na contradição entre os fins
das normas e dos atos e os fins das normas constitucionais,d e forma a
precaver a violação de princípios

5. Supremacia
o Não é a constituição que deve ser interpretada de acordo com a lei; é a
lei e todo o direito infraconstitucional que devem ser interpretados
em conformidade com a Constituição

Referência a conceitos indeterminados:


• A sua determinação ou densificação tem de ser pautada pela perspetiva dos
princípios, bens e interesses constitucionalmente relevantes.

• Tanto o legislador como o interprete não podem transfigurar o conceito, de


modo a que cubra dimensões essenciais e qualitativas distintas daquelas que
caracterizavam a sua intenção jurídico-normativa
Eva Brás Pinho 109
Direito Constitucional
Artigo 9º do CC
• As regras podem ser aplicadas à constituição uma vez que traduzem uma
vontade legislativa, não havendo nenhuma lei constitucional que não a contrarie
“ não há problema”
• Regras sobre estas matérias podem considera-se substancialmente
constitucionais, não repugnando, mesmo vê-las dotadas do valor de costume
constitucional.

A interpretação conforme à constituição:

• As leis de revisão constitucional devem ser interpretadas em conformidade com


os princípios constitucionais fundamentais
• Cada norma legal não pode apenas ser captada no conjunto das normas da
mesma lei mas também tem de ser considerar no contexto da ordem
constitucional

• Nota: por uma questão de relações diplomáticas ressalva-se o Direito


Internacional em que embora se imponha o respeito pelos princípios
fundamentais da constituição, a interpretação conforme à constituição nunca
pode afetar o objeto e fim de um tratado

• Consiste em discernir um sentido que, mesmo quando não aparente ou não


decorrente de outros elementos de interpretação, seja o sentido necessário e
o que se torna possível por virtude da força conformador da Lei
Fundamental

Interpretação integrativa:

• Da interpretação conforme com a constituição em sentido estrito distingue-se


aquilo a que pode chamar-se interpretação integrativa da lei com a
constituição
• Traduz-se em interpretar certa lei (que tenha preceitos insuficientes e, nessa
medida, inconstitucionais) completando-a com preceitos da constituição
sobre esse objeto que lhe são aplicáveis e porque diretamente aplicáveis

Diferentes impactos:
Fiscalização concreta à Cabe ao TC fazer a interpretação conforme a constituição e
ela impor-se-á ao tribunal, devendo a mesma ser aplicada

Fiscalização abstrata
o uma decisão do TC no sentido da não inconstitucionalidade não tem,
nem pode ter eficácia jurídica vinculativa;
o apenas a pronúncia ou declaração pela inconstitucionalidade tem força
obrigatória geral
o Se o TC não concluir pela existência de inconstitucionalidade com base
em certa interpretação conforme com a constituição, esta não obrigará

Eva Brás Pinho 110


Direito Constitucional
nenhum tribunal ou nenhuma autoridade e, assim, poderá uma
interpretação não querida pelo TC vir a ser adotada na prática

As lacunas da constituição e a sua integração

• A lei constitucional não regula tudo quando dela deve ser objeto. Veja-se
o Declaração universal dos Direitos do Homem – art 16º nº2
o A devolução para a lei ordinária e para regras de Direito internacional da
previsão de direitos fundamentais afora os contemplados na constituição
( art 16º nº1)

• Há vários tipo de lacunas, intencionais, não intencionais... etc


• Algumas dúvidas podem suscitar-se perante a Constituição em sentido formal,
no sentido de saber se aqui não haveria apenas situações juridicamente
reguladas, de forma expressa ou tácita, e situações extraconstitucionais e não
também lacunas

• A integração de lacunas de normas formalmente constitucionais deve ser feita


no interior da constituição formal e à luz dos valores da constituição
material, sem recursos a normas da legislação ordinária

o Deve aplicar-se o art 10º do cc

• Lacunas ¹ omissões legislativas


o Lacunas:
§ Situações constitucionais relevantes não previstas
§ São detetadas pelo intérprete e pelos órgãos aplicadores do direito

o Omissões legislativas:
§ Reportam-se a situações previstas, mas a que faltam as estatuições
adequadas a uma plena efetivação das respetivas normas no
programa ordenador global da constituição
§ Só podem ser fiscalizadas especificamente pelos órgãos de
fiscalização da inconstitucionalidade por omissão

• O preenchimento de lacunas significa a determinação da regra para aplicação ao


caso concreto e é tarefa do intérprete e do órgão de aplicação

Exemplo de lacuna da constituição à a ausência de prazo para o PR promulgar as leis


de revisão constitucional

3.4. A Constituição como fundamento de validade dos atos


jurídico-públicos

Ø Às diversas funções do Estado correspondem diferentes categorias de atos:


a. Leis ( constitucionais e ordinárias)
Eva Brás Pinho 111
Direito Constitucional
b. Atos do governo
c. Eleições e referendos
d. Regulamentos
e. Atos administrativos
f. Atos jurisdicionais ou sentenças

Conjunto dos atos jurídico-públicos:


o atos do Estado (e das demais entidades públicas) no exercício de um
poder público e sujeitos a normas de Direito Público
o a eles contrapõem-se quer os atos de gestão privada quer os atos de
particulares

Atos jurídico-constitucionais:

• integram-se no conjunto de atos jurídico-públicos


• dizem-se os atos cujo estatuto pertence, a titulo principal ao Direito
Constitucional
• atos regulados por normas da constituição
• atos provenientes de órgãos constitucionais e com a sua formação adstrita a
normas constitucionais
• atos da função política-legislativa e governativa e atos de garantia
jurisdicional da constitucionalidade
• são os únicos que a Constituição especifica e visa disciplinar em articulação
com as competências próprias dos órgãos e dos colégios eleitorais que institui
• estão direta e imediatamente subordinados à CRP
• através deles projetam-se, desde logo, as opções politico-constitucionais ou a
ideia de Direito arrimada na Constituição
• aqueles a respeito dos quais se suscitam fundamentalmente problemas de
inconstitucionalidade
• alguma enumeração no art 119º embora com algum excesso

Pressupostos, elementos e requisitos

1) Pressupostos

• Condições prévias e exteriores ao ato, de que depende a sua


existência ou a sua formação
• O pressuposto mais importante e comum a todos os atos jurídico-
constitucionais é a competência que implica:
o Que o ato dimane de um órgão do Estado

Eva Brás Pinho 112


Direito Constitucional
o Que o ato dimane de um órgão competente em razão da
matéria
o Que o ato dimane de um órgão competente em razão dos outros
fatores de competência ( tempo, lugar, pessoas)
2) Elementos
• Partes integrantes do ato, definidoras do seu modo de ser ou da sua
estrutura
• Qualquer ato jurídico é uma manifestação de vontade juridicamente
relevante, e não há vontade sem objeto e sem forma, podem assim er
apontados 4 elementos:
a) Vontade
o Forçosamente funcional
o O que tem como consequência a necessidade de, pelo meno,
eventuais vícios na sua formação não poderem desenhar-se
em moldes idênticos aos dos vícios do negócio jurídico
b) Objeto
o Objeto imediato ou conteúdo
§ Efeito ou conjunto de efeitos a que o ato se dirige
§ A realidade jurídica sobre a qual o ato incide
§ A transformação da ordem jurídica objetiva ou a
constituição, modificação ou extinção de relações ou
situações jurídicas que determina

o Objeto mediato
§ A realidade do facto que lhe subjaz
§ O conjunto de situações que o ato conforma ou
sobre que faz recair os seus efeitos
c) Fim
o Que o órgão prossegue através do ato
o Distinga-se a causa ou função típica objetiva e o fim
assumido especificamente em relação a cada ato em
concreto
d) Forma
o Declaração ou exteriorização da vontade, de ordinário
traduzido numa forma típica consoante o tipo de ato de que
se trate e que comporta as formalidade necessárias a
prepará-lo ou a completá-lo;

3) Requisitos
• São os pressupostos e os elementos tomados não tanto da perspetiva da
estrutura quanto dada sua conformidade com a norma jurídica e da
apreciação que esta faz sobre eles

Eva Brás Pinho 113


Direito Constitucional
• Aparecem no plano dos valores, interesses e finalidades que a ordem
constitucional liga aos pressupostos e aos elementos do ato

• Reportam-se à garantia do interesse público como à proteção dos


direitos e interesses dos cidadãos que por ele possam vir a ser atingidos

• Correspondem à apreciação variável de ato para ato, que a ordem


constitucional faz da presença ou ausência desses pressupostos e
elementos, às vezes também em graus variáveis. Deste prisma:

a. Requisitos orgânicos à prendem-se com a competência


b. Requisitos materiais à prendem-se com a vontade e o objeto
c. Requisitos formais à prendem-se com a forma

o Orgânicos + formais à têm que ver com a sua formação e


a sua manifestação
o Materiais à opõem-se aos de cima e têm que ver com o
sentido e o conteúdo do ato

• A apreciação da ordem constitucional sobre qualquer ato jurídico-constitucional


assenta na ponderação dentro do seu contexto, dos requisitos enunciados. Essa
ponderação envolve uma maior ou menor virtualidade de subsistência ou de
produção de efeitos. Há assim 3 categorias:

a. Requisitos de qualificação
o De recondução ou subsunção do ato em qualquer dos tipos de
constitucionais de ato estabelecidos
o Ex: lei de revisão constitucional, decreto-lei etc
o A preterição destes requisitos conduz a inexistência jurídica do
ato
b. Requisitos de validade
o ou de perfeição do ato ou de plena virtualidade de produção dos
seus efeitos jurídicos típicos
o a sua preterição acarreta invalidade que se desdobra em nulidade e
anulabilidade

c. Requisitos de regularidade
o Ou de adequação do ato às regras constitucionais ( formais),
independentemente da produção dos seus efeitos
o A sua preterição conduz a irregularidade do ato

Eva Brás Pinho 114


Direito Constitucional
• Num plano diferente existe o requisito da eficácia à realização prática dos
efeitos do ato, através da obtenção de condições positivas ou da superação de
obstáculos

A CRP contém regras comuns a todos os atos jurídico-constitucionais:

• Necessário conformidade com a CRP ( art 3º nº3)


• Pluralidade de votos, quando se tratem de órgãos colegiais
• Admissibilidade de delegação só nos casos e nos termos expressamente
previstos na CRP e na lei
• Publicidade, através da publicação no DR
• Responsabilidade civil do Estado e das demais entidades públicas por ações que
resulte em violação dos direitos, liberdades e garantias ou prejuízo para outrem,
bem como da responsabilidade política, civil e criminal dos titulares de cargos
públicos pelas ações que pratiquem no exercício das suas funções

Ø Os valores jurídicos do ato jurídico-constitucional ou graus de apreciação não


significam senão diferentes valorações, tomando os requisitos como critérios de
conformidade com a constituição

Tipologias de atos jurídico-constitucionais

Ø Há inúmeras categorias de atos jurídico-constitucionais que decorrem das diferentes


feições dos seus elementos estruturais.

a) Atos de produção instantânea à certo e determinado momento)


b) atos de produção sucessiva à ex.: feitura de uma lei- exige todo um conjunto de
atos, ao longo do tempo, indo neste caso desde a iniciativa até à promulgação
Relativamente aos atos de produção sucessiva, analisam-se:

1) numa pluralidade de atos simples que se sucedem no tempo,


2) praticados por vários órgãos ou sujeitos onde interferem ou podem interferir
diversos órgãos ou sujeitos,
3) sendo que esses atos são autónomos ou autonomizáveis, interdependentes e
coordenados entre si;
4) o resultado traduz um ato jurídico complexo que congloba ou substitui os
sucessivos atos parcelares precedentes.

• Relativamente aos atos de produção sucessiva, a doutrina tem feito a distinção


entre processo e procedimento.

o Processo à para os atos de produção sucessiva a cabo dos tribunais


(C. Processo Civil)

Eva Brás Pinho 115


Direito Constitucional
o Procedimento à relativamente aos atos de produção sucessiva dentro
da função política e dentro desta, da legislativa, mas também da função
administrativa.

• Cada ato inserido no procedimento ou processo legislativo ou político tem de


ser apreciado, quanto à sua validade e à sua regularidade, de per si; não há que
apreciar só o resultado final ou o ato em que este se traduz.

c) Atos livres
o o órgão pode escolher se deve ou não praticar esses atos
o ex.: feitura das leis, sem contar com as normas não exequíveis por si mesmas

d) Atos devidos ou obrigatórios


o atos que a CRP impõe verificados determinados pressupostos são atos
devidos
o ex.: apresentação do programa pelo Governo

e) Atos tácitos
o a norma presume uma vontade ou, doutra perspetiva, liga à não manifestação
de vontade certa consequência.
o A vontade ainda é relevante no ato tácito, mas não o é na preclusão.
o Preclusão à pelo decurso do tempo, se esgota ou deixa de poder ser exercido
certo poder ex: veto político ao fim de x dias

f) Omissões ( não é um ato jurídico-constitucional)


o Uma omissão vai ser assim uma abstenção que o Direito trata negativamente
o verifica-se sempre quando, mandando a norma reguladora de certa relação ou
situação praticar certo ato ou certa atividade nas condições que estabelece, o
destinatário não o faça, nos termos exigidos nem em tempo útil, e a esse
comportamento se liguem consequências mais ou menos adequadas.

à Pode haver inconstitucionalidade por omissão de atos legislativos (ex.: normas não
exequíveis por si mesmas).

4. O sistema específico de fiscalização


jurisdicional da constitucionalidade
4.1. Considerações gerais

• A maioria das constituições escritas são rígidas ou porque existe uma larga
maioria ou porque existe a exigência de um grande espaçamento temporal para
as alterações

Eva Brás Pinho 116


Direito Constitucional
1. Caso Inglês à não faz sentido falar sequer em controlo
constitucional

o A constituição inglesa por não ser escrita, por definição, não é rígida
o Em Inglaterra o parlamento pode mudar as regras constitucionais de forma
simples
o No reino unido não tem sentido falar sequer de leis inconstitucionais porque
a nova lei afasta a suposta lei constitucional antiga.

2. Autocontrolo político
• Caso francês à controlo político da constituição pelo próprio legislador
• Uma lei inconstitucional não é nula e por isso não pode deixar de ser
aplicada
• Os tribunais não têm poder para deixar de aplicar leis inconstitucionais; não
têm poder de controlo e fiscalização da constituição
• O fiscalizador à o legislador;
• Há um auto-controlo do legislador que controla tendo em conta a sua leitura
e portanto há um bocadinho a logica de que se faz o que quiser

• Este modelo vigorou na europa até ao séc XX


• A questão é quem é que faz o juízo de que x lei é inconstitucional?
• No fundo este auto controlo é algo irrelevante porque eu posso escolher sempre
dizer que a lei que eu própria criei é constitucional, seja ou não
• O controlo da constitucionalidade é, por isso, muito fraco;

3. Controlo Jurisdicional Difuso

• Caso americano desde 1803


• Ideia de que a lei inconstitucional não deveria ser aplicada pelos Tribunais
• O juiz tem que aplicar a lei e caso existissem 2 contraditórias afastava-se a mais
antiga, mas se uma lei fosse de um patamar hierárquico superior, no caso das
leis constitucionais, prevalecia a superior
• Este era um controlo fraco porque existia ainda um grande receio dos tribunais

4. Controlo jurisdicional concentrado

Eva Brás Pinho 117


Direito Constitucional
• Caso português em fins da monarquia
• Controlo por um órgão autónomo
• Franco passa o controlo para o supremo tribunal de justiça
• A questão é que se suponho que no fundo o STJ estava muito mais “do lado” de
franco e portanto a partida ele conseguiria ter mais controlo
• A lógica é de que o STJ é um órgão “amigo”
• Este modelo teve uma elaboração doutrinal por Kelsen
• Kelsen chamou a este órgão autonomo, “ tribunal constitucional”
o Este modelo é de controlo jurisdicional concentrado
o Kelsen baseava se na ideia de compromisso
o Nenhum tribunal podia não aplicar uma lei com base na
inconstitucionalidade à apenas quando o TC declarasse a
inconstitucionalidade é que deixava de se aplicar
o Vias de acesso aos TC;:
ü A pedido dos titulares de órgãos políticos
ü Através de recurso por requerentes de casos em
que a decisão foi desfavorável em tribunais
inferiores

Problemaà porque razão um tribunal sem legitimidade democrática


pode ultrapassar o legislador democrático?

• O TC não é um orgão eleito, logo, não tem legitimidade democrática


• Faz sentido que o TC possa passar por cima de leis feita por legisladores que
têm legitimidade democrático?

Legitimidade democrática vs controlo jurisdicional

Ø O pós Segunda Guerra exigiu um maior controlo efetivo da lei

Ø Assim, abrem-se as portas de acesso ao TC, e os afetados passam a poder


recorrer ao TC, sendo que a fiscalização pode ser iniciada por um qualquer
outro tribunal ou mesmo um particular:

1. Queixa constitucional à acesso direto dos particulares ao TC contra qualquer


ato público à não existe em Portugal e apenas faz a fiscalização de normas

2. Quando um tribunal inferior considera que a lei é inconstitucional, suspende-se


o processo, remetendo-se para o TC. A aplicação da lei inconstitucional já
não é obrigatório, suspende-se o processo.

Eva Brás Pinho 118


Direito Constitucional
Em Portugal:
• O sistema é misto
• Em 1911 no artigo 63º da constituição à os tribunais podiam não aplicar leis
inconstitucionais se lhes fosse pedido ou se quisessem, mas era raro
• Em 1976 e 1982 foi introduzida a obrigação do Tribunal ou de aplicar ou de
afastar a lei, não podia suspender o processo

Fiscalização em abstrato:
a) Abstrata sucessiva à art281º; dispõe as entidades que podem requerer a
fiscalização ao TC; Não exige uma justificação especialmente relevante, não se
prende a um caso concreto;

b) Abstrata preventiva à art 278º/1 e 279º; fiscalização abstrata antecipada;


procura-se conter os estragos antes da promulgação dos atos normativos

Fiscalização em concreto:
a) Difusa à art 204º permite que outros órgãos tenham acesso
b) Concentrada à artigos 280º; regime de recurso para o TC

Eva Brás Pinho 119


Direito Constitucional
4.2. Objeto do controlo e fiscalização com fundamento em
em inconstitucionalidade ou ilegalidade qualificada

O regime de fiscalização abrange:

a) Inconstitucionalidade à art 204º e 277º e segs


b) Ilegalidade por violação de leis de valor reforçado e por outras leis à art
204º; 280º
c) Ilegalidade sui generis por infração por norma de direito interno de norma
de Direito Internacional convencional
d)
e) Ilegalidade sui generis decorrente da contradição entre lei ou tratado e o
resultado de referendo vinculativo à art 115º

Ø Uma lei pode ser simultaneamente inconstitucional por violação direta de uma
norma da constituição, e ilegal, por violação de uma lei de valor reforçado

Âmbito da fiscalização relativamente às normas jurídicas do seu objeto:

Eva Brás Pinho 120


Direito Constitucional
a) Fiscalização preventiva à dirige-se só a normas constantes de convenções
internacionais e de atos legislativos

b) Fiscalização sucessiva, concreta e abstrata, da inconstitucionalidade por ação


à abrange quaisquer normas à art 204º; 280º, 281º

o A fiscalização abstrata decorre em plenário


o Os processos de fiscalização concreta decorrem em secção, salvo:
§ quando o presidente, com a concordância do tribunal, determine
que o julgamento se faça com intervenção do plenário
§ em caso de recurso para o plenário, quando o TC tenha julgado a
questão de inconstitucionalidade ou ilegalidade em sentido
divergente do anteriormente adotado, quanto à mesma norma, por
qualquer das suas secções

c) Fiscalização da inconstitucionalidade por omissão à refere-se apenas a


normas legislativas

Art 277 à fiscalização da constitucionalidade vs art 3º

Normas ¹ de leis e atos do Estado

Ø Regra à TODOS os atos dos poderes públicos devem estar subordinados à


constituição; normativos ou não normativos;

Ø A inconstitucionalidade dos atos normativos é controlado com recursos nos


tribunais e com impugnações

• Todo e qualquer ato que viole a constituição é inconstitucional; a diferença são


os modelo utilizados

A questão é que os art 277º a 282º só se aplicam a normas:

Competência do tribunal constitucional:

1. Este regime só existe para fiscalizar normas jurídico-publicas ( art 112º)

o Não faz sentido que o TC se pronuncie por normas banais

o Atos jurídico-publicas pressupõem se ter mais relevância do que os estatutos


da AAD da católica ou das regras de um condomínio

2. Este regime só existe para fiscalizar normas diretamente inconstitucionais

Eva Brás Pinho 121


Direito Constitucional
o excecionalmente algumas ilegalidades mais graves

Atos que não podem ser fiscalizados pelo tribunal constitucional:

• Porque não são considerados atos normativos

o Atos políticos à ex: dissolução da assembleia pelo PR ( o controlo destes


atos é politico)
o Atos administrativos
§ mas os tribunais administrativos podem impugnar o ato
§ ( individuais e concretos à não confundir com regulamentos,
esses sim são atos juridico-publicos)
o As decisões dos tribunais
§ Não existe aqui uma norma

Ilegalidades:
• Princípio da legalidade da administração à art 266º
• A administração está sujeita à constituição e à lei
• Importante à ver caso 34

Tipos de violação:

a) Violação indireta:

• não tenho forma de mostrar que há uma violação do principio da legalidade se


eu previamente não mostrar que X regulamento não respeita Y lei
• chamada de ilegalidade
• regulamentos sobre violação indireta são consideradas ilegalidades
• alíneas b), c) e d) art. 281º à únicas ilegalidades fiscalizadas pelo TC
• porque são “ilegalidades qualificadas” à mais relevantes

VS

b) Violação Direta:

• se uma portaria violar o principio da igualdade porque descrimina, está a violar


diretamente a Constituição
• estes casos são fiscalizados pelo TC

Eva Brás Pinho 122


Direito Constitucional
• só os regulamentos que violam diretamente a constituição é que podem ser
fiscalizados

Exemplo de violação direta e indireta:

Ex: uma lei que viola uma lei de valor reforçado:

à é ilegal porque viola a lei de valor reforçado


à é inconstitucional porque viola o principio de que sito não pode acontecer à art 112º
nº2

Conclua-se:
• Note-se que só fiscaliza inconstitucionalidades diretas;
• alínea a) art 281º
• Porque as hipóteses de inconstitucionalidade indireta são chamadas de
ilegalidade, para as quais há situações especificas previstas à al b), c) e d)

O regime de fiscalização não abrange:

a) A ilegalidade sui generis por infração por norma de direito interno de normas de
Direito da União Europeia
b) A ilegalidade também sui generis por infração de normas dimanadas de órgão da
União Europeia ou de qualquer organização internacional de normas dos
respetivos tratados institutivos
c) A ilegalidade de normas regulamentares fora da hipótese contemplada na
Constituição ( infração direta de estatuto político-administrativo regional por
regulamento emanado de órgão de soberania ou de órgão regional)

Diferentes tipos de respostas positivas:


a) Julgamento de um norma como inconstitucional, na fiscalização concreta à
art 280/5
b) Pronúncia pela inconstitucionalidade, na fiscalização preventiva à art 279º/1
c) Declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral à art 281º,
282
d) Verificação da existência de inconstitucionalidade por omissões

Eva Brás Pinho 123


Direito Constitucional
Ø As decisões positivas proferidas em fiscalização abstrata são publicadas na 1º
série do Diário da República

Ø O TC está definido como órgão que administra a justiça em matéria juridico-


constitucional, competência de contencioso eleitoral, referendária, parlamentar e
partidária

4.3. Fiscalização preventiva


Artigo 278º

(Fiscalização preventiva da constitucionalidade)

1. O Presidente da República pode requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação


preventiva da constitucionalidade de qualquer norma constante de tratado internacional
que lhe tenha sido submetido para ratificação, de decreto que lhe tenha sido enviado
para promulgação como lei ou como decreto-lei ou de acordo internacional cujo decreto
de aprovação lhe tenha sido remetido para assinatura.

2. Os Representantes da República podem igualmente requerer ao Tribunal


Constitucional a apreciação preventiva da constitucionalidade de qualquer norma
constante de decreto legislativo regional que lhes tenha sido enviado para assinatura.

3. A apreciação preventiva da constitucionalidade deve ser requerida no prazo de oito


dias a contar da data da recepção do diploma.

4. Podem requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação preventiva da


constitucionalidade de qualquer norma constante de decreto que tenha sido enviado ao
Presidente da República para promulgação como lei orgânica, além deste, o Primeiro-
Ministro ou um quinto dos Deputados à Assembleia da República em efectividade de
funções.

5. O Presidente da Assembleia da República, na data em que enviar ao Presidente da


República decreto que deva ser promulgado como lei orgânica, dará disso conhecimento
ao Primeiro-Ministro e aos grupos parlamentares da Assembleia da República.

6. A apreciação preventiva da constitucionalidade prevista no n.o 4 deve ser requerida


no prazo de oito dias a contar da data prevista no número anterior.

7. Sem prejuízo do disposto no n.o 1, o Presidente da República não pode promulgar os


decretos a que se refere o n.o 4 sem que decorram oito dias após a respectiva recepção
ou antes de o Tribunal Constitucional sobre eles se ter pronunciado, quando a
intervenção deste tiver sido requerida.

Eva Brás Pinho 124


Direito Constitucional
8. O Tribunal Constitucional deve pronunciar-se no prazo de vinte e cinco dias, o qual,
no caso do n.o 1, pode ser encurtado pelo Presidente da República, por motivo de
urgência.

• O PR antes de promulgar manda para o TC à art 134º alínea g) e h)


• Para evitar danos na hipotese da lei ser inconstitucional e entretanto ter estado
em vigor uns dias
• Dirige-se a normas constantes de convenções internacionais e atos
legislativos
• Permite a desistência do pedido ( artigo 53º da lei nº28/82)
• Não há “providências cautelares” quanto à inconstitucionalidade de normas, esta
figura neste panorama é a fiscalização preventiva

• Art 278º nº5 à o TC tem um prazo de 25 dias para se pronunciar

o Já é perigosa por estar tão em cima da discussão política; a justiça deve


ser rápida mas devidamente distanciada da discussão para ser possível
formular um juízo parcial;
o Já é muito pouco tempo para a complexidade de algumas questões;
o Vê-se de alguma forma o TC a ficar demasiado politizado, a decidir
questões políticas e depois observarem-se conotações dos juízes com os
partidos que os propuseram a eleição parlamentar;
o Por outro lado, prolonga o processo legislativo e a conclusão de
convenções
o Há situações em que se não for feita agrava o contraditório político e
provoca o apodrecimento da situação;

• É delimitada excecionalmente, ou seja, a fiscalização preventiva tem um âmbito


excecional por oposição
´
Nota:
Providências cautelares:

Não são a decisão final, mas garantem uma solução em tempo útil para garantir a
utilidade da decisão futura.
Ex: querem demolir a minha casa, se a decisão so chegar aqui a 10 anos, é inútil a
decisão ser a meu favor se ela já tiver sido demolida. Assim, requere-se uma
providencia cautelar para se suspender a demolição

Funções da fiscalização preventiva:

Eva Brás Pinho 125


Direito Constitucional
j) Atalhar a inconstitucionalidades grosseiras de que estejam feridos os atos
jurídico-públicos mais importantes

o Salvaguarda-se factos consumados que só mais tarde podem ser


consumados e cujos efeitos, por razões de segurança jurídica, equidade e
interesse público de excecional relevo, o TC tem de preservar à art 282º
nº4

k) Nas convenções internacionais, prevenir problemas graves nas relações


internacionais

o Porque a desvinculação de um tratado ou acordo com fundamento em


inconstitucionalidade não compadece com o princípio de ius cogens de
boa fé

l) Resolver dúvidas sobre a constitucionalidade de certas normas, de maneira a


evitar que o problema se ponha com maior delicadeza no futuro

Argumentos para dizer que a fiscalização preventiva é excecional:

1. Não incide sobre quaisquer normas mas só sobre as normas mais mais
importantes à art 278º nº1

o convenções internacionais
o atos legislativos ( Leis, DLs e DLR)

2. Só pode ser requerida, à partida, pelo PR ou pelo representante da república


o 1/5 dos deputados e não apenas 1/10 e o PM em caso de leis orgânicas
o Art 278º nº4

3. Apenas inconstitucionalidades, ilegalidades não entram

4. Prazo é de 8 dias para ser requerida

Criticas :
• Prolonga demasiado o procedimento legislativo e o de conclusão de
convenções internacionais; q
• ue, feita logo após a aprovação dos diplomas envolve o risco de trazer o TC
para a praça pública, situação em que as conotações dos juízes com os partidos
que os propuseram, mais se observam

Diferentes situações de veto:

Eva Brás Pinho 126


Direito Constitucional
• Promulgar
• Veto político à leva obrigatoriamente à renúncia da fiscalização preventiva,
apenas se numa 2º volta for uma lei nova

• Requerer a fiscalização preventiva à não pode ser utilizada se tiver sido


vetada politicamente

Consequências da lei confirmada:

a) Veto político
o Razões políticas e não jurídicas, exclui a iniciativa da fiscalização preventiva
o AR pode superar lei vetada por inconstitucionalidade pelo PR com uma
maioria de 2/3
§ Art 136º nº2 à o PR é obrigado a promulgar naquela situação
o Mas isto não impede as seguintes fiscalizações de constitucionalidade
sucessiva na mesma;
§ Até porque, eventualmente, o TC pode mudar de opinião em
plenário

Exercido o veto político, a AR não fica obrigada a deliberar de novo:

• A deliberar só o pode fazer a contar do 15º dia posterior ao da receção do


decreto devolvido ou da mensagem de fundamentação do veto político;

• Se a sessão legislativa terminar ou a Assembleia da República for dissolvida


não há impedimento à deliberação sobre o diploma vetado (artigo 167º no 5,
6, 7);

• Pode reformulá-la ou voltar a aprovar por maioria não qualificada;

• As modificações têm que ser substanciais, caso não o sejam, incorrem fraude à
Constituição, é preciso obter maioria exigivel à confirmação;

o Geral à absoluta;
o 2/3 à leis orgânicas, leis sobre matérias tidas como politicamente
significantes;

b) Veto por inconstitucionalidade ou jurídico

o Precede o veto político

o art 279 nº2 à o PR pode promulgar, mas não é obrigado

Eva Brás Pinho 127


Direito Constitucional
o No fundo há uma manifestação de grande vontade de assembleia de
aprovar aquela lei à confirmação parlamentar de 2/3
§ ( mesmo estando ela a ser considerada inconstitucional)

o A doutrina\ entende que esta situação é a única em que existe veto


absoluto porque no conflito entre estes dois órgãos, acaba por ser o PR a
“vencer”

o Paulo Otero considera esta situação absurda porque não teria sentido que
uma norma inconstitucional possa entrar em vigor

• Não se pode recorrer ao veto por inconstitucionalidade depois de já ter havido


um veto politico e superado;
o estávamos a colocar o TC numa posição extremamente sensível e no
centro do drama político
o 1º o veto por inconstitucionalidade e só depois o veto político

4.4. A fiscalização concreta difusa e concentrada

Artigo 280º

(Fiscalização concreta da constitucionalidade e da legalidade)

1. Cabe recurso para o Tribunal Constitucional das decisões dos tribunais:

a) Que recusem a aplicação de qualquer norma com fundamento na sua


inconstitucionalidade;

b) Que apliquem norma cuja inconstitucionalidade haja sido suscitada durante o


processo.

2. Cabe igualmente recurso para o Tribunal Constitucional das decisões dos tribunais:

a) Que recusem a aplicação de norma constante de acto legislativo com fundamento


na sua ilegalidade por violação da lei com valor reforçado;

b) Que recusem a aplicação de norma constante de diploma regional com


fundamento na sua ilegalidade por violação do estatuto da região autónoma;

c) Que recusem a aplicação de norma constante de diploma emanado de um órgão


de soberania com fundamento na sua ilegalidade por violação do estatuto de uma
região autónoma;

d) Que apliquem norma cuja ilegalidade haja sido suscitada durante o processo
com qualquer dos fundamentos referidos nas alíneas a), b) e c).

Eva Brás Pinho 128


Direito Constitucional
3. Quando a norma cuja aplicação tiver sido recusada constar de convenção internacional,
de acto legislativo ou de decreto regulamentar, os recursos previstos na alínea a) do n.o 1
e na alínea a) do n.o 2 são obrigatórios para o Ministério Público.

4. Os recursos previstos na alínea b) do n.o 1 e na alínea d) do n.o 2 só podem ser


interpostos pela parte que haja suscitado a questão da inconstitucionalidade ou da
ilegalidade, devendo a lei regular o regime de admissão desses recursos.

5. Cabe ainda recurso para o Tribunal Constitucional, obrigatório para o Ministério


Público, das decisões dos tribunais que apliquem norma anteriormente julgada
inconstitucional ou ilegal pelo próprio Tribunal Constitucional.

6. Os recursos para o Tribunal Constitucional são restritos à questão da


inconstitucionalidade ou da ilegalidade, conforme os casos.

• Pós promulgação e publicação da lei


• Surge a propósito de um caso real que carece de uma solução jurídica
• Art 204º e 280º
• No fundo, o caso começa nos tribunais inferiores e em recurso é que acaba a
ir ao TC

• Todo e qualquer tribunal é impossibilitado de aplicar normas


inconstitucionais, seja requerida a inconstitucionalidade por uma das partes ou
não à art 204º
• Há um litigio e um pedido para permissão de um ato especifico e para chegar a
esta solução aprecia-se a constitucionalidade

• O pedido é sempre para satisfazer um interesse próprio


o o pedido ao tribunal é para declarar o ato especifico constitucional
ou não
o ex: o estatuto da ordem dos advogados exige 2 anos de estagio. U so faço
um e peço um requerimento para ser aceite na mesma. O tribunal vai
decidir se eu tenho razão ou não, ou seja, se, pela constituição, eu devo
ser admitido so com 1 ano de estagio ou não, mas a norma em si
mantém-se

tribunal constitucional português vs os outros países


• o sistema português é misto
• fiscalização difusa ( americano) + fiscalização concentrado no TC abstrata
o diz se que Portugal esta num intermédio entre estes dois

Ø A decisão do TC só funciona interpartes o que significa que na fiscalização


concreta, as decisões de inconstitucionalidade só têm eficácia no caso concreto

2) Difusa à art 204º

Eva Brás Pinho 129


Direito Constitucional
• O próprio tribunal faz um juízo, qualquer tribunal
• É admissível que alguém lhe dirija propondo uma ação tendente à declaração, à
realização ou à reparação de um seu direito ou interesse, cuja procedência
depende de uma decisão positiva de inconstitucionalidade;
• oSó pode e só deve ser conhecida e decidida na medida em que haja um nexo
incidível entre ela e a questão principal, objeto do processo, entre ela e o feito
submetido a julgamento;
• Questão prejudicial imprópria: quando haja recurso para o Tribunal
Constitucional;
• O juiz conhece da questão em qualquer fase do processo, pode não ser uma
decisão final, suscitada na primeira instância ou em recurso;
• Os tribunais não podem aplicar leis inconstitucionais. A competência de
oficio não implica um pedido, está em causa preservar a Constituição (artigo 3o
da Constituição), é de interesse público, por isso, não se deve estar dependente
de pedidos.
• Se for um órgão da administração pública não há dever de ofício –
argumento do caos, posição tradicional;
• Surge não como uma questão principal, mas como uma questão prejudicial (que
prejudica) num feito submetido a julgamento;
• Função instrumental o interesse no seu conhecimento há de depender da
repercurssão da respetiva decisão final a proferir.

3) Concentrada à art 280º - TC

• Só há recurso para o Tribunal Cosntitucional de decisões dos tribunais:


• não apenas de decisões não jurisdicionais, mas também as não previstas no
280º, bem como decisões incidentes do próprio Tribunal Constitucional;

• Recurso para o tribunal constitucional quando a decisão já está tomada. Não


pode ser uma questão suspendida e enviada para o Tribunal Constitucional, tem
competência para decidir e não para suspender, mesmo com dúvidas tem que
decidir nos termos do artigo 8o do Código Civil.

• É sempre interposto pelas partes, para o fazerem têm que intentar uma
ação que invoque a inconstitucionalidade.
• É mais gravoso o Tribunal recusar aplicar a norma por ser
inconstitucional ou ilegal:
o artigo 280º nº 1
§ – inconstitucional – nº2 a) b) c)

Eva Brás Pinho 130


Direito Constitucional
§ ilegal – nº3 (pode ser direto, pela parte que perdeu ou em alguns
casos pelo Ministério Público, há ainda casos em que é obrigatório
para o Ministério Público se houver partes normativas
importantes).
• Aplica a norma por ser legal ou constitucional: artigo 280º nº1 b), nº 2

Decisões recorríveis para o Tribunal Constitucional:

Ø ambas as situações podem ir a tribunal constitucional à art 280º

3 tipos de decisões de que cabe recurso:

a) Decisões que recusem a aplicação, de certa norma com fundamento em


inconstitucionalidade ou em ilegalidade ou em contradição com um ao
convenção internacional

o Art 280º nº1 a) n2 a),b),c)


o Art 70º nº1 i)

o A recusa de aplicação relevante não tem de ser expressa


o Pode ser uma recusa implícita, como ocorre quando o a decisão do
tribunal extrai consequências correspondentes ao julgamento da norma
como inconstitucional ou ilegal

o Cabem aqui também as decisões dos tribunais administrativos que


condenem o Estado em ações de responsabilidade civil por atos
legislativos inconstitucionais

b) Decisões que apliquem norma cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade haja sido


suscitada durante o processo e em que a norma aplicada seja um dos
fundamentos normativos da decisão;

o Art 280º nº1 b) e nº2 d)


o O direito de os interpor pode ser considerado um direito de
natureza análoga à dos direitos, liberdades e garantias
§ mas os recursos não se configuram em si mesmos como meios
específicos de defesa de direitos, liberdades e garantias

c) Decisões que apliquem norma anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal


pelo próprio TC ou anteriormente julgada inconstitucional pela Comisssão
Constitucional ou que apliquem norma legislativa em desconformidade com o
anteriormente decidido pelo tribunal

o Art 280º nº5


o Art70º nº1 b)
o Modo mais objetivo de determinar a anterioridade consiste em aferi-la
pelo trânsito em julgado da decisão do TC à não haverá fundamento
para suspender a instância à espera da decisão do TC
Eva Brás Pinho 131
Direito Constitucional
Regime de recursos:

1. O caso pode ir logo da 1ª instância para o TC

2. Pode ser interposto não só pela parte vencida ( particular) como pelo
Ministério Público

o Ministério público à aproveita a todos os que tenham legitimidade


para recorrer

o As partes à se ambas tiverem saído venidas cda uma delas poderá


recorrer na parte em que lhe for desfavorável

3. Art 280º nº3 e 5 à casos em que o Ministério Público é obrigado a recorrer


o Normas de convenções internacionais, ato legislativo ou decreto
regulamentar
o Casos que se inserem tanto no art 280º alínea tanot a) como b)

4. Alguns casos só podem ser interpostos para o TC pela parte que questiona a
constitucionalidade

o Art 280º nº4 à só a parte vencida pode requerer


o Art 80º nº1 a) e nº2 d) à casos específicos
o A questão da inconstitucionalidade tem de ter sido questionada durante o
processo
§ Para não se tratar de uma manobra dilatória da parte vencida
§ Para se ter a certeza da seriedade do questionar daquela norma

o Tem que haver esgotamento dos recursos ordinários à estabelecido pela


lei orgânica que estabelece os procedimentos do TC

Ø Recurso obrigatório para o Ministério Público:

a. Quando a norma recusada conste de convenção internacional de


ato legislativo ou de decreto regulamentar

o Art 280º nº3 CRP; Art 72º nº3 lei orgânica


o Exceto se a inconstitucionalidade decorrer de um vício de tal sorte grave
que implique inexistência jurídica de norma, e ai o Mnistério pública não
terá de interpor recurso

b. Aplicada norma anteriormente considerada inconstitucional ou


ilegal pelo TC ou comissão constitucional, ou contrária a
Convenção Internacional pelo TC.
Eva Brás Pinho 132
Direito Constitucional
o Art 280º nº5; art 72º nº3

o O Ministério Público pode abster-se dek recorrer de decisões conforme


com a orientação que se encontre já estabelecida, a respeito da questão
em causa, na jurisprudência do TC à art 74º nº4

c. Aplicada norma declarada inconstitucional com força obrigatória


geral pelo TC
o Quando julgue em sentido divergente do anteriormente adotado à mesma
norma por qualquer das secções e o ministério público intervenha no
processo como recorrente ou recorrido

Finalidade subjetiva do recurso àdefesa de direitos e interesses das pessoas à art


20º da CRP ( só recorre a parte que haja suscitado)

Finalidade negativa do recurso à defesa da integridade da ordem jurídica à


reforçado quando se torna obrigatório ( art 208º/3)

Ø O recurso só é obrigatório para o Ministério público e para os particulares há o


direito a recorrer, mas nada obsta que estes desistam de recurso que tenham
interposto

Ø Pode o Tribunal Constitucional decidir divergentemente de julgado inconstitucional


ou ilegal ( exceto declarar com força obrigatória geral). Pode decidir julga-la
uniformemente como não contrária à CRP.

Possíveis respostas do TC:

1. Dar razão ao requerente fundamentando na inconstitucionalidade da lei

o Art 204º à o tribunal não pode aplicar normas contrárias à constituição


o Art 280º a)
o É mais grave esta situação porque se quebra a presunção de
constitucionalidade da lei

2. Declarar que o requerente não tem razão, dizendo que a lei é constitucional
o Art 280º b)

Ø O recurso para o TC tem uma função meramente instrumental, aferindo-se a sua


utilidade no concreto processo de que emerge

Ø O TC apenas pode considerar a norma ou interpretação normativa que tenha sido


utilizada pelo tribunal recorrido como ratio decidendi, sendo inteiramente inútil a
pronúncia que recaia sobre norma ou dimensão normativa que não tenha sido
efetivamente aplicada u sobre questões que não tenham sido decididas na decisão
recorrida
Eva Brás Pinho 133
Direito Constitucional
Ø Postulado da Supremacia do Tribunal Constitucional --> a primeira palavra cabe
ao tribunal e a última ao Tribunal Constitucional (garantia da Constituição);
Ø A decisão do Tribunal Constitucional não substitui a decisão recorrida por
aquela que devia ser emitida.
Ø O Tribunal Constitucional ordena ao tribunal respeitar: violação de caso julgado,
admite-se a possibilidade de uma reação da parte afetada por este incumprimento. O
desrespeito é de conhecimento oficioso à princípio da prevalência das decisões
do Tribunal Constitucional sobre os demais tribunais.

A passagem da fiscalização concreta à fiscalização abstrata:

Art 281º nº3 à jurisprudência normativa

• Quando já houve 3 casos de fiscalização concreta no sentido da


inconstitucionalidade, o TC declara com força obrigatória geral pela
inconstitucionalidade ao ilegalidade da norma
• Art 82º da lei orgânica do TC

4.5. Fiscalização abstrata sucessiva


Artigo 281º

(Fiscalização abstracta da constitucionalidade e da legalidade)

1. O Tribunal Constitucional aprecia e declara, com força obrigatória geral:

a) A inconstitucionalidade de quaisquer normas;

b) A ilegalidade de quaisquer normas constantes de acto legislativo com fundamento


em violação de lei com valor reforçado;

c) A ilegalidade de quaisquer normas constantes de diploma regional, com fundamento


em violação do estatuto da região autónoma;

d) A ilegalidade de quaisquer normas constantes de diploma emanado dos órgãos de


soberania com fundamento em violação dos direitos de uma região consagrados no seu
estatuto.

2. Podem requerer ao Tribunal Constitucional a declaração de inconstitucionalidade ou


de ilegalidade, com força obrigatória geral:
Eva Brás Pinho 134
Direito Constitucional
a) O Presidente da República;

b) O Presidente da Assembleia da República;

c) O Primeiro-Ministro;

d) O Provedor de Justiça;

e) O Procurador-Geral da República

f) Um décimo dos Deputados à Assembleia da República;

g) Os Representantes da República, as Assembleias Legislativas das regiões autónomas,


os presidentes das Assembleias Legislativas das regiões autónomas, os presidentes dos
Governos Regionais ou um décimo dos deputados à respectiva Assembleia Legislativa,
quando o pedido de declaração de inconstitucionalidade se fundar em violação dos
direitos das regiões autónomas ou o pedido de declaração de ilegalidade se fundar em
violação do respectivo estatuto.

3. O Tribunal Constitucional aprecia e declara ainda, com força obrigatória geral, a


inconstitucionalidade ou a ilegalidade de qualquer norma, desde que tenha sido por ele
julgada inconstitucional ou ilegal em três casos concretos.

• Pós promulgação e publicação da lei


• Independentemente a causa que leva o provedor de justiça a requerer, pode pedir
a fiscalização
• Vincula-se a um poder funcional de iniciativa ào poder de requerer ao TC a
apreciação da constitucionalidade ou da legalidade de normas jurídicas

• Tem força obrigatória geral à determina que seja expurgado do


ordenamento jurídico a norma em questão, para todos passa a ser
inquestionável que aquela lei é inconstitucional

• A impugnação não determina qualquer suspensão da aplicação


• Poder e não direito de iniciativa

o Porque se reconduz a uma competência

o perspetiva pretende-se que seja exclusivamente o interesse público e


objetivo

o só se justifica falar aqui em ação de inconstitucionalidade como ação


pública e não como ação stricto sensu ( não há partes)

Eva Brás Pinho 135


Direito Constitucional
Ø A fiscalização é de normas, e não de diplomas, se a mesma norma constar de 2 ou
mais diplomas, embora só seja pedida a apreciação de constitucionalidade
relativamente a a um desses diplomas, a eventual declaração de
inconstitucionalidade abrange tal norma em todos os diplomas em que estiver
inserido

Ø Artigo 82º da Lei do TC à faz-se a fiscalização abstrata sucessiva como processo


autónomo para declarar com força obrigatória geral certa decisão sobre uma
inconstitucionalidade

• pode ser feita por um juiz ou pelo Ministério Público


• O requerimento exige uma verdadeira impugnação, uma verdadeira
fundamentação do pedido
• Não se pode apreciar a constitucionalidade de norma cuja apreciação não
seja pedida ( a menos que esteja implícita)

O princípio do pedido:

a) Necessidade de iniciativa de pedido para que o processo seja aberto

b) Fixação do objeto do processo à a constitucionalidade ou legalidade das


normas a apreciar

o Apenas fica definido com a determinação das normas


infraconstitucionais ( arguidas) e a das normas constitucionais que lhes
servem de parâmetro

o O TC pode fundamentar o seu juízo e a sua decisão em normas


constitucionais diversas das invocadas no pedido

o O que no TC não pode fazer é pronunciar ou declarar a


inconstitucionalidade ou ilegalidade de normas cuja apreciação lhe não
seja requerida

§ Mas pode, contudo, apreciar uma norma nela implícita ou contida

Quem pode pedir a fiscalização abstrata?

Eva Brás Pinho 136


Direito Constitucional
• Um particular não pode requerer a fiscalização abstracta, apenas as
entidades do art. 281º/2 (mesmo que possam estar cumpridos os requisitos do
art. 281º/3)
• Não há queixa de uma decisão que possa ser feita diretamente pelo cidadão

• art 278º

• art 281º nº2 a)- f) à entidades que podem pedir a apreciação e a declaração de
inconstitucionalidade

• art 281º nº2 g) à entidades que só podem requerer a apreciação e a declaração


da inconstitucionalidade ou da ilegalidade de certas normas e com certo
fundamento

a) Orgãos políticos
o Gozam de larga discricionariedade
o PR à ponderando diferentes interesses constitucionais e políticos, tem
que decidir, com vista à garantia do regular funcionamento das
instituições democráticas. ( art 120º)
o PM à pode exerce-lo quer antes da apreciação programa do Governo
pelo parlamento, quer estando o Governo demitido
o Representantes da República

b) Provedor de Justiça e Procurador Geral da República


o Provedor à frente a queixas do cidadão à art 23º
o Procurador à defende a legalidade democrática à art219º/1
o Encontram-se adstritos a requerer a fiscalização sucessiva quando lhes
ofereça evidente a inconstitucionalidade

c) Frações de titulares
o 1/5 dos deputados da AR
o 1/10 dos deputados das ALR
o Está ligada não propriamente a um intuito de defesa de posições politicas
mas de defesa de direitos de minorias que se inserem na prossecução do
interesse público no âmbito da democracia pluralista

Eva Brás Pinho 137


Direito Constitucional
1. Entidades que podem pedir a apreciação e declaração da inconstitucionalidade
ou da ilegalidade de quaisquer normas:
• Presidente da República
• Presidente da Assembleia da República
• Primeiro-Ministro
• Provedor de Justiça
• Procurador geral da república
• 1/10 dos deputados a AR
2. Só podem requerer a apreciação e a declaração da inconstitucionalidade ou da
ilegalidade de certas normas e com certo fundamento:
• Representantes da República
• Assembelias legislativas regionas
• 1/10 dos deputados à respetiva ssembleia legislativa regional
• Presidentes dos governos regionais

Ø Têm de reagir no âmbito do processo de injustiça, impugnando a decisão do


superior no tribunal administrativo

Pode o TC fiscalizar a constitucionalidade de normas jurídicas já revogadas?

• A revogação da lei, regra geral, opera para o futuro


• Segundo o art. 282º/1 CRP, a declaração de inconstitucionalidade tem eficácia
retroactiva desde o momento em que a lei, originariamente inconstitucional, entrou
em vigor

• Logo, destrói todos os efeitos produzidos pela lei inconstitucional (incluindo a


revogação da lei anterior)
o Por isso, dizemos que tem um efeito repristinatório à ressuscita a lei que foi
revogada pela lei inconstitucional
o A primazia a validade da CRP sobre as leis impõe à partida que a CRP
prevalece sempre
Eva Brás Pinho 138
Direito Constitucional
o Logo, se a declaração de inconstitucionalidade só tivesse efeito para o futuro,
isto permitiria que houvessem leis que prevalecessem sobre a CRP

o A primazia de validade da CRP deve valer desde o princípio e portanto se a lei


produz efeitos que vão contra a mesma, devem ser afastados

o Norma especial: inconstitucionalidade superveniente - art. 282º/2


o Quando uma norma não é originariamente inconstitucional (uma lei
que nasce já com o vício de ir contra a CRP), mas apenas se torna
inconstitucional por haver uma mudança na CRP (ex.: uma
revisão) dizemos que é supervenientemente inconstitucional
ü Era originariamente conforme à CRP e torna-se supervenientemente
inconstitucional

o Atenção à não podemos dizer que é uma excepção à


retroactividade

ü Isto significaria que a lei antiga não vigorava desde o ano em que
foi declarado inconstitucional e que todos os seus efeitos seriam
válidos – ERRADO

ü aqui, a declaração continua a ter eficácia retroactiva, mas não é


uma retroatividade total

ü Produz efeitos e ficam válidos, mas apenas até se tornar


inconstitucional

Art. 282º/4 CRP - possíveis limitações da retroactividade da inconstitucionalidade


Há razões válidas que possam implicar flexibilização do regime geral da retroactividade
na declaração de inconstitucionalidade:
• Segurança jurídica

Eva Brás Pinho 139


Direito Constitucional
• Razões de equidade

• Interesse público de excepcional relevo

Isto não é contraditório com a ideia de primazia da constituição? E não é absurdo


permitir que uma lei inconstitucional produza efeitos? - limitação de efeitos

• Uma lei inconstitucional é uma lei doente no ordenamento jurídico, porque não
respeita a CRP, a primeira das leis.

• À partida diríamos que um médico perante um doente deve dar o tratamento mais
eficaz para tratar a doença = declarar a lei inconstitucional retroactivamente

• Mas, se p.ex. um doente for alérgico a um remédio, o médico vai ter que ajustar
o tratamento (no final do dia, quer-se é que viva bem e o mais tempo possível)

• O TC quando declara inconstitucional uma lei com eficácia retroactiva,


considera a consequência que vai ter no Estado Constitucional em que vivemos,
e pode talvez determinar que seria uma consequência tão gravosa que seria
impensável.

• Limitação de efeitos à invocar razões constitucionais olhando para o


ordenamento jurídico no seu todo para impedir o efeito normal que era a
eliminação dos efeitos no passado

o Limitação de efeitos futuros vs passados


o Neste caso o TC ainda foi mais longe à a generalidade da
doutrina defende que a limitação de efeitos é só para efeitos
passados.

Ø Não há prazo, embora, havendo solicitação fundamentada do requerente e acordo


do órgão autor da norma, o Presidente do Tribunal, decidia sobre a atribuição de
prioridade à apreciação e decisão à art 65º nº4 da lei do TC

Ø Na apreciação da legalidade de uma norma por contrariar norma de lei de valor


reforçado, pode o tribunal não a considerar ilegal e, ao invés, considerar ex officio
inconstitucional a norma de lei de valor reforçado por não caber no âmbito material
desta

Eva Brás Pinho 140


Direito Constitucional
4.5 Fiscalização por omissão

Artigo 283º

(Inconstitucionalidade por omissão)

1. A requerimento do Presidente da República, do Provedor de Justiça ou, com


fundamento em violação de direitos das regiões autónomas, dos presidentes das
Assembleias Legislativas das regiões autónomas, o Tribunal Constitucional aprecia e
verifica o não cumprimento da Constituição por omissão das medidas legislativas
necessárias para tornar exequíveis as normas constitucionais.

2. Quando o Tribunal Constitucional verificar a existência de inconstitucionalidade por


omissão, dará disso conhecimento ao órgão legislativo competente.

Situações de omissões juridicamente relevantes verificam-se quando

Obrigação de facere, mandando a norma reguladora de certa relação ou situação,


praticar certo ato ou certa atividade nas condições que estabelece, o destinatário
não o faça nos termos exigidos, em tempo útil e a esse comportamento se liguem
consequências mais ou menos adequadas.

Ø Sobressaem as omissões legislativas devido à relação imediata do legislador com a


CRP

Omissão:
• Entende-se a falta ( total ou parcial) de medidas legislativas necessárias
• Pode provir :
o da completa inércia do legislador
o da deficiente atividade do legislador

Omissão institucional à relativa a uma instituição ou a um órgão criado pela


Constituição ou a um regime procedimental

Omissão não institucional àrelativa a um direito fundamental ou a uma incumbência


do Estado

Artigo 283º à falta de medidas legislativas necessárias:


• porque o legislador não confere exequibilidade a normas constitucionais não
exequíveis por si mesmas
Eva Brás Pinho 141
Direito Constitucional
• Não especificamente resultantes do incumprimento do dever de
concretização
o Prof Jorge Miranda e Jorge pereira da Silva

o O que está em causa é uma conceção positiva do princípio da


constitucionalidade, que impele o legislador para a defesa ativa da CRP
no seu conjunto enão apenas de certo tipo de preceitos constitucionais

o O dever de concretização de normas constitucionais surge combinado


com outros deveres específicos de atuação, em particular com o dever de
reposição da igualdade violada.

o é também impossível separar o dever de concretização de normas


constitucionais de outros deveres específicos de atuação

1. O próprio art 283º nº1 fala em não cumprimento da CRP e portanto justifica-se
uma interpretação extensiva do preceito

2. No contexto global não são menos graves a infração do princípio da


igualdade e a desproteção de direitos constantes de normas aparentemente
exequíveis por si mesmas

3. Nem sito redunda em desvalorização dos direitos sociais, até porque também
estes envolvem um vetor negativo carente de medidas de proteção.

O processo de fiscalização:

Quem pode tomar a iniciativa:

• Presidente da República e Provedor de Justiça


o Leis em falta quer do Estado quer das RA

• Presidentes das Assembleias legislativas regionais

o Com fundamento em violação dos direitos das RA


o Só pode dizer respeito a leis regionais, bem como a leis do Estado
condicionadoras de poderes de autonomia e atinentes a matérias de
âmbito regional reservadas à AR

Ø Lei Nº28/82 à remete para o regime da fiscalização abstrata sucessiva da


inconstitucionalidade por ação ( art 67º)
Eva Brás Pinho 142
Direito Constitucional
• Exige-se a audição do órgão, não do autor da norma, mas do órgão que
deveria ser ( ou deveria ter sido) autor da norma que se encontra em falta

Ø Por omissão concreta à mediante mecanismo de reenvio prejudicial dos tribunais


para o TC

Se o TC verificar a existência de inconstitucionalidade por omissão:

• dará disso conhecimento ao órgão legislativo competente, nada mais


• art 283º nº2
• Decisão puramente declarativa, embora com cunho receptício
• Uma coisa é declarar inválida ou ineficaz uma norma com os efeitos que isso
produz; outra coisa é declarar que falta uma norma que não deveria
faltar
• Objetivo é levar os órgãos legislativos a transformar o seu comportamento
de negativo em positivo

Ø Têm sido poucas as vezes em que foi exercida fiscalização por omissão em Portugal

4.6 Eficácia temporal das decisões de


inconstitucionalidade em processos de fiscalização
sucessiva

Os efeitos duma declaração inconstitucionalidade não são sempre iguais:


a) Fiscalização concreta
• é inter partes = não tem força obrigatória geral

b) Fiscalização abstracta sucessiva


• é erga omnes = tem força obrigatória geral
o a norma em causa é expurgada da ordem jurídica e não pode mais ser
aplicada

A declaração de inconstitucionalidade com força erga omnes, não viola o art. 112º/5
CRP? Não é um facto com força de lei?

• Não, porque:
1. São ambas normais constitucionais
Eva Brás Pinho 143
Direito Constitucional
2. Não se trata duma lei ordinária que está a permitir, mas é sim a
própria CRP (no art. 282º/1 CRP)

o O que o art. 112º pretende evitar é que o legislador transforme o


princípio da competência
o Aqui, é a própria CRP que o diz, logo é válido

Decisão de inconstitucionalidade - tem força obrigatória geral


Doutrina diverge:

1. Proibição de reprodução de lei inconstitucional

2. Recusa da proibição de reprodução de lei inconstitucional

o A declaração de inconstitucionalidade não impede/não tem efeito sobre


uma futura lei ordinária, que venha a reproduzir o mesmo regime que já
foi negado pelo TC

Decisão de não inconstitucionalidade - não tem força obrigatória geral:


1. Permite mudança de decisões atendendo à mudança de circunstâncias
2. Corrigir erros de decisões
o impede que, decisões erradas do TC, alterem o quadro constitucional

Nota: não esquecer ressalva do caso julgado - art. 282º/3 CRP

Efeito temporal (para o passado e para o futuro) de uma decisão de


inconstitucionalidade:

1. Retroativo:

• o facto de uma lei ter sido revogada não impede a fiscalização abstrata
sucessiva, pois poderá ter produzido efeitos que importam.
• O artigo 282º nº1 estabelece a retroatividade para a fiscalização abstrata
sucessiva, mas também vale para a fiscalização concreta, pois, apesar de a letra
apontar apenas para a abstrata, atendendo à ratio, à teleologia do preceito, a
inconstitucionalidade é um vício originário (uma vez reconhecido deve ser
destruido – via conceptual) e, devido ao artigo 3o, a Constituição é a expressão

Eva Brás Pinho 144


Direito Constitucional
da vontade do povo soberano, logo, é razoável que tenha primazia
incondicional. A
• Constituição deve prevalecer desde o início, o artigo 282º nº1 deve aplicar-se
extensiva ou analogicamente à fiscalização concreta sucessiva. Desde que
ocorre a desconformidade e não apenas quando é reconhecida; eficácia futura
apenas acarretaria diferença de tratamento;

2. Repristinatório:
• se uma lei nova que revoga uma lei antiga é declarada inconstitucional,
faz ressuscitar a lei antiga (repristina), pois se todos os efeitos são
revogados, primeiro efeito que a lei nova produz é a revogação da lei antiga.
• Vale para a fiscalização abstrata e concreta sucessivas, pelas mesmas razões,
a primazia da Constituição não deve ceder temporalmente.

3. Inconstitucionalidade originária
• desde o momento em que é aprovada que é inconstitucional, logo, não muda
o ordenamento jurídico, mantém-se como estava – repristinação opera
automaticamente e não por nova intervenção legislativa.

4. Inconstitucionalidade superveniente
• começaram por ser conforme à Constituição, mas em virtude de uma
modificação desta é declarada inconstitucional, artigo 282º nº2.
• Produz efeitos para o passado desde o momento em que a lei se tornou
inconstitucional, não desde origem.

Inconstitucionalidades:

1. Ação à atos legislativos incompatíveis com o texto constitucional.


2. Omissãoà falta de um ato que deixa de seguir norma programática estabelecida
na CRP.
3. Formal:
• Orgânica: desobediência à regra de competência;
• Formal: inobservância do processo legislativo próprio;

4. Material à relativamente ao conteúdo do ato infraconstitucional.

Sugestões básicas de leitura:


JORGE MIRANDA, Curso de Direito Constitucional, 1, pp. 187 e ss., e 284 e ss.; Curso de Direito
Constitucional, 2, pp. 122 e ss., e 135 e ss., 231 e ss.; J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e
Teoria da Constituição, pp. 243 e ss., 333 e ss., e 539 e ss., 883 e ss., 1147 e ss., 1176 e ss.; MARIA LÚCIA
AMARAL, A Forma da República, pp. 93 e ss.; 139 e ss

Eva Brás Pinho 145


Direito Constitucional
CAPÍTULO III: UM ESTADO
AUTONÓMICO E COSMOPOLITA

Secção I: Um Estado unitário regional

1. A autonomia político-administrativa das Regiões


Autónomas

Ø Portugal é um Estado Unitário regional ou politicamente descentralizado Estado


autonómico

Artigo 6º

(Estado unitário)

1. O Estado é unitário e respeita na sua organização e funcionamento o regime


autonómico insular e os princípios da subsidiariedade, da autonomia das autarquias
locais e da descentralização democrática da administração pública.

2. Os arquipélagos dos Açores e da Madeira constituem regiões autónomas dotadas de


estatutos político-administrativos e de órgãos de governo próprio.

1) Autonomia insular à das regiões autónomas

• Existe um esforço no sentido de uma autonomia progressiva e em 2004 as coisas


mudaram radicalmente
• Art 205º
• Poder legislativo é dividido:
o Órgãos legislativos centrais à matérias de âmbito nacional; AR e
Governo;
o Órgãos legislativos regionais à matérias de âmbito regional
Assembleias Legislativas regionais ( PRINCÍPIO DA
SUBSIDARIEDADE)

Eva Brás Pinho 146


Direito Constitucional
2) Autonomia das autarquias locais:
a. Autonomia municipal (centro de autonomia local)
b. Autonomia das freguesias
c. Autonomia das regiões administrativas

• se o legislador decidir criar (não concretizado, embora previstas na CRP)

Autonomia das regiões autónomas vs futuras eventuais regiões


administrativas:

1.Regiões administrativas:

• Têm autonomia administrativa

• função administrativa

2.Regiões autónomas

• Têm autonomia politico-administrativa


o Limite material de revisão à art 288º nº1 o)

• função administrativa, política e legislativa


o Contudo, não são Estados à porque não têm um poder constituinte
o não têm uma constituição

• Têm um conjunto de poderes muito relevantes:


a) Autonomia financeira muito significativa à art. 227º/1/j CRP
o Receitas fiscais geradas ou cobradas, não são transferidas para o
continente
o isto é possível acontecer quando um Estado prevê apenas
parcialmente autonomia político-administrativa
o Direito a uma parcela do OE

b) Poder tributário próprio/adaptar o sistema fiscal nacional às


especificidades regionais à art. 227º/1/i CRP

Eva Brás Pinho 147


Direito Constitucional
2. Os estatutos político-administrativos das Regiões
Autónomas

Estatuto das RA - art. 226º CRP

• Lei básica da região

• Há uma reserva às Assembleias Legislativas regionais para elaborarem os estatutos

• A AR têm a competência de aprovar os estatutos - art. 161º/1/b CRP

• Porque é que os estatutos há muito que não são atualizados?

o Há medo de desencadear um processo que depois a região deixa de


controlar à envolve uma intervenção não controlada do AR
o Isto acontece porque o projeto tem que se ser enviado para a AR para
aprovação
o Esta pode rejeitar ou introduzir alterações e devolve para a emissão
dum parecer por parte da ALR
o Apesar da AR ter que considerar o parecer , a decisão no fundo é da AR
e a Região Autónoma deixa, por isso, de controlar o processo

Regra geral à aprovação do estatuto é por maioria simples à art. 116º CRP

• Exceção: as disposições dos estatutos que enunciam as matérias que


integram o respetivo poder legislativo
o carecem de aprovação por maioria de 2/3 dos deputados
o art. 168º/6/f CRP

O estatuto é uma lei de valor reforçado?


• Sim, e há várias evidências:
a) Na exceção vista acima, há disposições que carece de aprovação por
maioria de 2/3 (= lei de valor reforçado)
b) O estatuto contém leis que por força da Constituição devem ser respeitada
por outras (= lei de valor reforçado)
o Isto retira-se da CRP, no art. 280º/2 e 281º/1/c, d)
o uma lei que viole um estatuto é ilegal à os estatutos prevalecem

Eva Brás Pinho 148


Direito Constitucional
c) Um estatuto também pode ser pressuposto normativo necessário de
outras leis ( materialmente paramétrica)
o art. 112º/4 CRP
o A região pode fazer decretos-legislativos regionais se…:
a. a. tiver/houver âmbito regional
b. b. não for sobre matéria reservada aos órgãos de soberania
c. c. indicar que é de interesse regional

Logo, o estatuto é pressuposto normativo necessário do DLR

É preciso ter presente que a categoria de leis de valor reforçado, acolhida no art.
112º/3 CRP, é uma forma composta que mistura noções diferentes:

• Por um lado, as leis paramétricas à pressuposto normativo e que por outras


devem ser respeitadas

• Por outro lado, as leis que apenas são de valor reforçado pelas seu
procedimento agravado de elaboração
o lei orgânica e lei que carece de aprovação por maioria de 2/3
o Estas podem ser agravadas não só pelo procedimento de aprovação, mas
também pelo procedimento de elaboração

o Os estatutos não podem ser definidos por uma qualquer lei

o O procedimento de elaboração parte da região - tem iniciativa reservada

Logo, seria inconstitucional uma qualquer lei que definisse ou mudasse tal

3. A competência legislativa regional

• A evolução constitucional é marcada por uma lógica de autonomia progressiva.

• Em 1976 a função legislativa regional foi delimitada à volta três requisitos que
deveriam ser observados quando se fazia um decreto legislativo regional:

Eva Brás Pinho 149


Direito Constitucional
1. Só pode legislar em matéria de interesse específico
2. Têm de respeitar as Leis Gerais da República (não podia legislar em matérias
reservadas aos órgãos de soberania)
3. Matéria não reservada

No entanto, estes pressupostos foram sido lidos no sentido restritivo (pela


jurisprudência do TC)

Primeiro a ser afetado à respeito pelas Leis Gerais da República

• Em 76’ não se sabia bem o que isto significava


• Entendia-se à toda e qualquer lei aplicável em todo o território nacional

Assim, era um golpe grande na autonomia legislativa das RA.

1980 à o Estatuto dos Açores definiu de forma diferente à uma lei cuja razão de ser
impõe uma aplicação em todo o país
o Revisão de 1982: adoptou esta noção

1989 e 1987 à As regiões já não tinham de respeitar qualquer LGR, mas apenas os
princípios fundamentais da LGR
o E só tem de o fazer se a lei se autoclassificar como LGR

Revisão de 2004 à este conceito de LGR morreu

Desaparece o requisito de respeito pela Lei Geral da República.

Interesse específico à desaparece também em 2004

• Açores fizeram uma lista enorme de matérias de interesse específico que nunca
foi respeitado pelo TC
• Madeira inventava interesses específicos onde não existiam

Novo critério à a região pode legislar sobre aquilo que estiver estabelecido no
estatuto da região

Eva Brás Pinho 150


Direito Constitucional
• Note-se o artigo 46º da lei de revisão constitucional de 2004
“Até à eventual alteração das disposições dos estatutos político-administrativos das
regiões autónomas, prevista na alínea f) do n.º 6 do artigo 168.º, o âmbito material da
competência legislativa das respetivas regiões é o constante do artigo 8.º do Estatuto
Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores e do artigo 40.º do Estatuto
Político-Administrativo da Região Autónoma da Madeira.”

ü O artigo 8º dos estatutos dos Açores entretanto caducou

• Estatuto dos Açores só surgiu depois de 2004 enquanto que o Estatuto da Madeira
surge antes de 2004

Matéria reservada: sofreu alterações em 2004


• A região passou a poder legislar sobre algumas matérias reservadas mediante Lei
de Autorização da AR
• Art. 227/1b

Quadro atual:

Ø regiões autónomas podem legislar:

1. matéria de âmbito regional


2. matérias indicadas no estatuto como de interesse regional
3. matéria não reservada (exceto se forem autorizados para tal).

Âmbito regional à art 168º nº6 f)

• É territorialmente delimitado?
Não vale também para os açorianos e madeirenses que não estão no território?
Não está na letra da lei.

• O âmbito é territorialmente regional, institucionalmente regional e


materialmente regional

o Territorial à Legisla para o território da região, mas não é condição


suficiente;
o Institucional à Pode legislar para as instituições regionais, mas não para
as instituições do Estado presentes na região;

Eva Brás Pinho 151


Direito Constitucional
o Material (adicionado pelo acórdão do caso 40) à poder autonómico da
região tem de ser enquadrado no fundamento geral da autonomia (art. 225/1):

a autonomia funda-se nas aspirações históricas e nas características


especificas da região

Se este é o fundamento, o âmbito regional tem de ser conforme estas aspirações

§ Problema doutrinal: conceito indeterminado, ressuscitou o


critério do interesse específico de 1976.

§ Rui Medeiros à o que fundamenta a autonomia não deve ser a


especificidade (porque assim também Trás-os-Montes é diferentes
do resto do território), mas sim o fundamento democrático uma
comunidade diferente da outra que quer ser diferente do resto
da população. Assim, não concorda com o acórdão.

• O tribunal constitucional muitas vezes restringe a autonomia das RA,


incluindo áreas que embora não estejam formalmente reservadas, materialmente
são tão relevantes que devem ser legisladas apenas pela AR

• Estes 3 limites acabam por limitar pouco e podem levar as regiões a poderem fazer
coisas que não deveriam, o que leva à criação de outros critérios:

o Princípio da igualdade à defendido pelo Prof. Jorge Miranda


o Principio da solidariedade entre todos os portugueses
o Principio da unidade do Estado

Secção II: Um Estado


cosmopolita
1. O Estado constitucional em face das dinâmicas de
desnacionalização do nosso tempo e perante a multiplicação
das constelações transnacionais

1. livre circulação
Eva Brás Pinho 152
Direito Constitucional
2. vinculações a tratados internacionais

Globalização é heterogénea e faz com que as fronteiras territorias tenham cada vez
menos relevância
3. Globalização económico- financeira
• Incremento do comercio internacional
• Aumento dos fluxos financeiros entre os diferentes estados
• Aumento das multinacionais que conseguem desmembrar-se por todo o mundo
• Poder dos privados à agências de ratings
• Ex: uma descida nestas agencias de ratings há uma descida no rating
da república e da constituição

Artigo 80º a)
Já não estamos a falar apenas da organização politica.
Falamos de uma constituição que pretende controlar toda a vivecnia em sociedade
Se o povo é quem mais ordena, então também este deve controlar a organização
económica.

A organização económica dentro de um estado deve seguir a vontade do seu povo, o


problema é que num mundo globalizado as fronteiras estão muito mais abertas:
• e o controlo é menor.
• Leva a que o estado tenha muito menos capacidade de controlo do que acontece
no seu território

Ø Por essa razão, as constituições hoje já não conseguem cumprir com aquilo a que se
propõe

Os traços da nossa ordem constitucional quanto à organização económica já não se


limitam ao capitulo II da Constituição; temos de ir muito mais além. É uma ilusão
pensar que esta parte II da CRP chega para ficarmos com uma ideia clara daquilo que é
a nossa ordem costitucional em matérias económicas

Hoje em dia temos de ler os tratados da união europeia para que possamos
verdadeiramente compreender a material ordem económica em Portugal.

4. Globalização ambiental
• Problemas ambientais não se resolvem apenas dentro fronteiras dos estados

5. Terrorismo internacional
6. Mundo virtual internacional ( “poligamia do lugar”)

Eva Brás Pinho 153


Direito Constitucional
Princípios fundamentais do Constitucionalismo e as formas como são afetados pela
globalização:

1. Constituição é uma expressão da soberania do povo


àDEMOCRACIA

• Há um momento” constituinte” que dá sempre poder ao povo na medida em que


foi o povo legitimou a adesão à EU tal como pode escolher sair
• A democracia vive para além do poder constituinte e supostamente bá um “
atualizar da vontade do povo” com a constituição de novas leis;e sta democracia
é amputada pela UE
• Ainda que haja uma tentativa de democracia europeia, a democracia tem aqui de
ser reinventad

2. A constituição tem de ter força normativa e deve ter primazia à


PRIMAZIA

Artigo 87º
• Necessidade de interpretação restritiva
• Não chega o art 87º
• legislação portuguesa que o concretize para que o Estado Português controle a
entrada de uma empresa estrangeira europeia
• Tem um alcance relativo à pode resolver uma situação com uma empresa
extraeuropeia, mas se for europeia é impossivel

Ø Há uma primazia do Direito da União Europeia face ao direito constitucional


português;

Ø Leva a uma força normativa parcial

3. A Constituição deve ter uma vocação abrangente à SOBERANIA

• conter as várias dimensões da vida em sociedade


• Devido à globalização acabamos por ter uma constituição parcial e não
abrangente porque deixa de ter capacidade para controlar algumas dimensões
que foram absorvidas pelas normas de direito internacional
• Ex: art 80º a) que já não se verifica
• A soberania hoje já não é nem uma nem indivisível
• A soberania é partilhada com os vários atores

Eva Brás Pinho 154


Direito Constitucional
1. Como é qu articulamos o primado da constituição com o primado do direito
internacional?
2. Como é que vamos compensar a ilusão democrática interna?
3. Como é que vamos lidar com a ilusão de soberania una que já não existe?

Vivemos um paradoxo à o constitucionalismo triunfou vs num mundo globalizado,


este Estado constitucional esta a sofrer uma ilusão que atinge os seus pilares

O desafio é olhar para o direito constitucional como ele é hoje e não como era a nível
histórico

Ø Compromisso com o Direito Internacional

• especialmente com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de


10 de dezembro de 1948, diferente da Declaração Universal dos Direitos
do Homem e do Cidadão francesa de 1789.

• O artigo 16º nº2 –

o dimensão simbólica fundamental, determinante no rescaldo de


uma revolução quente e de contra-revoltas
o da Constituição estabelece que os direitos fundamentais devem
ser lidos em harmonia e conformidade com a Declaração
Universal dos Direitos Humanos.

o Os Direitos Fundamentais não podem deixar de ter como


referêncial axiológico e valorativo essa mesma declaração
universal, património de toda a humanidade.

2. O princípio constitucional da amizade pelo direito


internacional e os laços privilegiados de amizade e
cooperação com os países de língua portuguesa

• Manifesta-se a um segundo nível à compromisso com os países de língua


oficial portuguesa (PALOP);

• O artigo 15º à permite aplicação geral dos direitos do cidadão português


aos estrangeiros e apátridas

o ainda estabelece um regime especial mais extenso para os cidadãos


dos PALOP– artigo 15º nº3 .

• Esta concretização deste plano constitucional depende de um conjunto de


vicissitudes que não estão decididas na Constituição e são obra do legislador
Eva Brás Pinho 155
Direito Constitucional
o ex.: Cabo Verde foi o país que mais se dedicou e mais longe levou a
preocupação de integrar e facilitar de cidadãos de lingua portuguesa;
o Angola dificultou a abertura dessas portas, logo nós também

• Lógica de reciprocidade, vai sendo concretizada e construida passo a passo,


abrimos as portas a quem nos faz o mesmo.
• Especial abertura aos países de língua oficial portuguesa.

3. O compromisso constitucional com a União Europeia

A integração europeia é um limite heterónomo ao poder constituinte?

• Apenas o seria se Portugal não pudesse sair da EU. O Tratados de Lisboa


permite a saída de Estados Membros.
• Isto numa lógica de momento constituinte

• Há uma terceira dimensãO à compromisso com a integração Europeia.

• Houve uma evolução da Constituição com este compromisso, devido ao primeiro


compromisso a Constituição em 1976 não tinha esta terceira dimensão.

• Esta era ainda produto de um processo revolucionário turbulento, dos rescaldos


do verão quente, outono escaldante, com forças partidárias de sentido oposto e do
inicio de uma contrareforma que estava claramente a meio caminho, por isso essa
Constituição ainda mantinha o Conselho da Revolução.

• Segmento da população portuguesa não estava de acordo com a Europa


Ocidental, numa época em que ainda havia muro de Berlim, uma Europa
dividida.

• Só depois de 1976-78 é se adota um modelo de desenvolvimento semelhante


ao da Europa Ocidental, quando a maioria dos constituintes que se formou na
Assembleia, os Governos legitimos formados a partir de 1976 viraram as costas à
extrema esquerda (governo minotirário do partido socialista liderado por Mário
Soares).

• A entrada na CEE em 1986 é um Colorário deste percurso

o as revisões de 1982 e 1989 reconheceram esta transição de uma


Constituição socialista-coletivista para uma Constituição de um Estado de
Direito à maneira Ocidental
o (fim do modelo coletivista-socialista, por uma transição constitucional
com um compromisso forte com a Europa);

Eva Brás Pinho 156


Direito Constitucional
• Artigo 8º nº4 (em 2004) mostra até onde foi o compromisso da Constituição
Portuguesa à O Direito da União Europeia prevalece sobre a normação
interna de Portugal, incluindo dobre a nossa própria Constituição.

o Limite à não pode em caso algum ser postergado ou posto em causa


os princípios fundamentais do Estado de Direito Democrático.

• As normas criadas pelos órgãos da União Europeia ou organizações


internacionais de que Portugal seja parte, vigoram diretamente na ordem
interna
o sem qualquer ato de aprovação

• Ambos a União Europeia e os países que nela integram reivindicam um


primado de competência, soberania e primazia da respetiva lei.
Não podendo ambos mandar:

a. Separam-se (sai da União Europeia)


b. Um verga o outro (um subjuga-se);
c. Querem continuar a mandar, mas a viver juntos (ex.: guerra civil
americana aceitam fazer uma federação, não deixam de individualmente
ser Estados soberanos)

§ artigo 8º da Constituição da República Portuguesa, arranjam


um meio para que aconteça, há uma pretensa para se aplicar
sempre o Direito da União Europeia, mas há um ponto de
equilibrio – poder do país e princípios fundamentais;

Ø Mudança radical do paradigma tradicional das Revoluções Americana e Francesa.

Ideário do Constitucionalismo desde as Revoluções Americana e Francesa:

• O povo é soberano à poder originário\constituinte


• É o povo quem mais ordena à fazendo uma constituição que tem uma
vocação abrangente – princípios fundamentais da vida do Estado e em sociedade
• A Constituição tem primazia sobre tudo o resto.

Ø Hoje já não é assim à Há uma mudança significativa da Constituição:

• O povo ordena em concorrência com outros povos


• A Constituição já não é a primeira das leis, hoje são parcelares e convivem
com outras
o Tratado de Lisboa (princípios da Constituição)

Eva Brás Pinho 157


Direito Constitucional
• A Primazia da Constituição já não é absoluta, tem uma força relativa, vale
menos do que valia – quadro de coexistência em que a Constituição cede muitas
vezes, tem uma importância mais reduzida.

CASO 42

Há aqui um conflito de pretensões de primazia radical à ou se aplica o direito alemão ou se


aplica o direito europeu

Só há um de 2 caminhos ou há um conflito aberto ou uma tentativa de encontrar pontes e


diálogo

O que caracteriza um estado cosmopolita é não se fechar na as petensao de soberania e abrir-


se aos outros – art 8º da crp é a sua traduçãO

Sugestões básicas de leitura:


JORGE MIRANDA, Curso de Direito Constitucional, 2, pp. 76 e ss.; J.J. GOMES CANOTILHO, Direito
Constitucional e Teoria da Constituição, pp. 357 e ss., 774 e ss., 803 e ss.; MARIA LÚCIA AMARAL, A
Forma da República, pp. 321 e ss.; RUI MEDEIROS, A Constituição portuguesa num contexto global, pp.
20 e ss., 291 e ss.

Considerações finais sobre a


constituição

1. Sentido e funções da Constituição


a. Perspetiva Formal à forma e valor formal da Costituição.
b. Perspetiva Material à conteúdo e funções que a Constituição é chamada a
desempenhar.

Ø A ideia e Constituição não surge com as revoluções liberais.


• A doutrina faz uma afirmação, um corolário à “Não há Estado sem
Contituição”.
• A Constituição não depende da forma, um Estado Absoluto havia de ter uma
Constituição, mas não Constituição Formal.

Ø Não há organização política sem o mínimo de regras ou organização.

Eva Brás Pinho 158


Direito Constitucional
Ø Não há comunidade política que possa subsistir sem saber a resposta a coisas
básicas (quem tem o poder? Como se regula a sucessão? Quem pertence à
comunidade?).

Ø Muitas vezes as regras não são escritas, podem ser consuetudinárias:

o Não há Direito sem sociedade;


o Não há sociedade sem Direito à o Direito é necessário a uma qualquer
sociedade;
Ø Tudo existe independentemente de qualquer texto formalmente constitucional.
Ø O que existiu sempre foi a perspetiva material, antecede bem antes à perspetiva

Função da perspetiva material:

• Organizar o poder e a comunidade (existe sempre, mesmo na Coreia do


Norte) –
• sem esta organização perdura a anarquia, a primeira função da Constituição é
esta, não pode deixar de existir.
• Ao longo da história do Constitucionalismo vão-se somando novas funções,
formando o conceito Ocidental de Constituição
o ex.: não acontece na Coreia do Norte):

I. Limitar o Poder

o Artigo 16º da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do


Cidadão Francesa à direitos fundamentais e separação de poderes –
para limitar o poder
o Estado Constitucional de Direito (os direitos são inerentes à condição
de pessoa, por isso, devem ser respeitados).

II. Legitimação do Poder – pelo povo

o maior importância da função legislativa – vontade dos cidadãos


§ Deve obedecer à regra da maioria, pois, muito embora haja o
risco de ditadura da maioria, seria impensável reger o país com
base na opinião minoritária, a unanimidade é uma utopia.

III. Aglutinar\Juntar um povo nas conceções mais profundas e nas


mundividências

o nas modernas sociedades abertas, plurais e laicas (separação da


Igreja e do Estado)
o a Constituição assume uma função de religião civil do Estado, a
pertença à comunidade política é igual para todos os cidadãos.
i. Toda a obra de John Rawls se baseou nesta
questão, como é que um povo tão diferente e
dividido como o dos EUA pode subsitir? A ideia
de consenso de sobreposição das demais regras
constitucionais, idependentemente das divisões

Eva Brás Pinho 159


Direito Constitucional
individuais podemos partilhar um conjunto de
valores fundamentais;

IV. Consagra os valores ou regras fundamentais da Comunidade propriamente


dita que têm que ser respeitados;

Ø Inglaterra ainda hoje não tem Constituição em sentido formal, num quadro
atualista de um modelo Ocidental.

Função da perspetiva formal à surgiu com as Revoluções Francesa e Americana e


passou a coexistir com a perspetiva material:

• Passou a constar de uma lei, de um documento escrito (ou não, como por
exemplo: Inglaterra) à fonte específica da lei;
• Consta de uma lei autónoma à lei constitucional consta da Constituição, lei a
se, separada, autónoma;
• Lei fundamental à primeira das leis que tem primazia sobre todas as outras;

Ø Não é incompatível com a perspetiva material, elas coexistem.

2. Uma constituição-quadro
Ø A Constituição é um quadro de ponderações, não regula apenas aspetos essenciais.
Ø Não dá respostas claras, embora as soluções tenham que ter fundamento na
Constituição está não dá as respostas.

Interpretação da Constituição:

• A interpretação depende sempre do objeto, do texto jurídico em questão.


• A constituição está repleta de normas programátias, conceitos indeterminados,
princípios e tem uma reduzida densidade normativa;

I. Savigny:

o as regras de interpretação não devem ser iguais – são precisas egras


especiais, não se pode limitar a interpretação da Constituição às regras de
interpretação clássica;

II. Extremo Oposto

o a norma existe de forma independente e abstrata da realidade, por isso, é


irrealista a ideia de que se pode ver em abstrato o conteúdo da norma
sem o contexto da realidade
o se houver uma situação da vida enquadrada na previsão da norma,
aplica-se a estatuição;

III. Influência da Tópica

Eva Brás Pinho 160


Direito Constitucional
o a solução não parte de formulações jurídicas, mas do problema.
o Os tópicos são argumentos formulados a partir dos problemas e a partir
daqueles é que se formulam as soluções;

IV. Teoria da sociedade aberta dos interpretes da constituição:

o é a ordem fundamental que tem que refletir as concessões fundamentais


da coletividade, é pouco operacional que existam normas ou regras de
interpretação da constituição;

a. Peter Harbele: uma norma constitucional acaba por poder qualquer


interpretação – anarquia interpretativa;

V. Método científico-espiritual:

o integração de vários componentes da sociedade, a interpretação obedece


a valores.
o O reflexo da sociedade é, em todo caso, mais preciso, mais objetivos; a
subjetividade está em saber quais são os valores e o estes exigem;

VI. Método de concretização jurídica:

o fusão de contributos, quer do texto da norma, quer da realidade – levar o


texto da norma ao concreto.
o O texto da norma é o ponto de partida da determinação do sentido desta
e um limite desse sentido.

a. Crítica à não faz sentido aos direitos fundamentais atribuir excessiva


relevância ao texto da norma, em relação aos princípios jurídicos (com previsão
ampla – ponderação)

i. Muller à rejeita a teoria da ponderação – todas as normas têm o seu campo


de aplicação delimitado, os conflitos são meramente aparentes, se forem efetivos
a solução do caso resulta das duas normas sobre as quais recai o caso
simultaneamente;

3. Uma Constituição aberta e um projeto sempre


inacabado

Devemos ter um entendimento dinâmico da constituição como projeto sempre


inacabado

Eva Brás Pinho 161


Direito Constitucional
Ø Significa que mais do que saber o que é que em 76 os fundadores da constituição
quiseram dizer, é muito mais relevante perceber o que é a constituição significa
hoje

Ø A constituição não pode ser insensível ao avançar dos tempos

A Constituição é aberta

a) Trata-se de dar abertura vertical ao legislador ordinário


• Para que este possa trilhar caminhos que a constituição não fecha
• Ex: com o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o TC sauvizou a
constituição, abrindo espaço ao legislador democrático

b) Mas é também uma abertura horizontal aos que interpretam a constituição


• Ex: depois da guerra civil americana, criou-se as “ separate but equal”
que no fundo foram uma margem de interpretação do principio da
igualdae que já estava patente na constituição. Contudo, anos mais tarde,
o tribunal reintrepretou o entendimento que anteriormente teve quanto
ao principio a igualdade proque aslesi do separate but equal não podiam
ser toleradas
• Significa que o mesmo texto constitucional pode ser interpretado de
diversas formas ao longo do tempo

Ø Existe uma regra de otimização dos direitos fundamentais


• Limitado pelo exercício de outros direitos opostos
• Ex: liberdade de expressão vs direito ao bom nome; liberdade de imprensa vs
direito à reserva da intimidade da vida privada
• Contudo há direitos em que “ não há exceções” à art 24º n2
• Trata-se de uma ponderação
o Ex: a vida humana é inviolável mas ela concorre com o direito à
defesa ou o direito à autodeterminação da mãe e assim há uma
ponderação mas do que um levantamento de exceções

Eva Brás Pinho 162


Direito Constitucional
• Muitas das normas que consagram direitos fundamentais consagram normas de
princípios. Ou seja, mesmo que indiquem num sentido, são limitadas por outras
normas
• Esta forma de princípio dá muito mais liberdade ( e trabalho) ao Tribunal
Constitucional porque exige-se ponderação mas também permite que estas
decisões se vão alterando ao longo dos tempos
• Nem todas as normas são assim.

Norma - Regras ou disposições não admitem ponderações à art 24º/2 e art


25º/2
o Ou se aplicam ou não, não há meios termos
o São qualitativas, se uma regra é válida deve fazer-se tal como ela
diz

Ø Esta dimensão da abertura e da ponderação exige uma interpetação constitucional


diferente da interpretação da lei ordinária. Não pode haver uma interpretação
exegética do texto constitucional

Ø As normas constitucionais aplicam-se diretamente:

• Situações da vida das pessoas como particular;


• Relações das pessoas com o Estado;
• Órgãos do Estado, das Regiões Autónomas e as Autarquias locais, sejam normas
de competência;
• Situações dos titulares desses órgãos;

Ø As normas não exequíveis em si mesmas têm aplicação direta quando:


• Proibem a emissão de normas legais e proibem a prática de
comportamentos que tendam a impedir a produção de atos por elas
impostos;
• Depois de concretizadas através de normas legais, estas não podem ser
pura e simplesmente revogadas, retornando-se ao vazio ou à completa
inexequibilidade;

Ø Categorias de princípios:

• Axiológicos fundamentais à limites trascendentes do poder constituinte;


Eva Brás Pinho 163
Direito Constitucional
• Político-constitucionais à limites imanentes do poder constituinte;
• Constitucionais instrumentais à estruturação do sistema constitucional;

Ø Classificação das normas-regras:

• Permissivas, prescritivas e proibitivasà facultam, prescrevem ou vedam


atos ou comportamentos
• Gerais ou especiais à generalidade ou situações especiais;
• Direito comum ou particular à generalidade das pessoas ou categorias
destas;
• Gerais ou excecionais à princípios gerais ou execuções destes;
• Substantivas ou adjetivas à situações, relações ou instituições sujeitas ao
ordenamento jurídico.

4. Uma Constituição parcial num quadro plural

Ø Enfraquecimento da força normativa da Constituição (fatores de erosão):

• Integração no espaço da União Europeia (aceitamos partilhar o poder e a força da


Constituição)
o concorrência com outras fontes de direito.

• Pressão geostratégica liberal que acompanha o mundo:


o Meios financeiros escassos
§ Crise do Estado Social;
§ Globalização.

1. Constituição sem constitucionalismo:

• Quase todos os Estados têm uma Constituição


• A ideia de Estado de Direito Democrático e a Constituição são dissociáveis,
banalizaram-se estas ideias e houve um esvaziamento material da
Constituição;

2. Constituição e problema da soberania:

• Perda de soberania por parte dos Estados devido à Globalização


o É desejada por estes (aderir à União Europeia), mas coloca problemas
como a legitimação do poder.

3. Constituição e a crise do Estado Social:

Eva Brás Pinho 164


Direito Constitucional
• A subsistência do Estado de Direito só é possível como Estado Social
o há o hábito, mas não é sustentável nos termos em que está moldado.
o Para o reequilibrar era necessária uma explosão demográfica ou uma imigração
social gigantesca;

• Há ameaças crescentes ao próprio Estado no sentido moderno à fundamentalismo


islâmico

o não aceita princípios e regras básicas de convivência internacional com a


noção de Estado moderno.

Ø Há cinco postulados a respeitar:


• Unidade;
• Identidade;
• Adequação ou concordância prática;
• Efetividade;
• Supremacia;

Uma síntese:
Principios fundamentais do estado de direito
Segurança jurídica
Separação de poderes
Ideia de que a constituição é sustentada pela soberania popular
A constituição tem primazia e é a lei fundamental do país

Eva Brás Pinho 165


Direito Constitucional
Eva Brás Pinho 166
Direito Constitucional

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