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1º aula - 08/10/2020

Sumário: Apresentação da Docente de Direito Constitucional.


Apresentação dos conteúdos programáticos, dos objetivos e das referências bibliográficas atinentes a
Direito Constitucional.
O Direito Constitucional: a sua relevância.

O Direito Constitucional e a sua relevância


O direito Constitucional é um ramo de Direito Público.
A Constituição da República Portuguesa, é a nossa Lei Fundamental, em vigor desde 1976, a
CRP é composta por 296 artigos

Distinção entre normas constitucionais e normas ordinárias.


Normas constitucionais: são as mais relevantes de um ordenamento jurídico, e constituem o
suporte e fundamento das demais normas jurídicas, que são denominadas como normas
ordinárias e que têm que respeitar as normas constitucionais sob pena de
inconstitucionalidade. As normas constitucionais estão no topo da hierarquia, prevalecendo
sobre as restantes normas jurídicas.

Normas ordinárias: são aquelas que não se encontram positivadas no texto constitucional
português, pese embora tenham a obrigatoriedade de respeitar a CRP, sob pena de incorrerem
em inconstitucionalidade.

Com a Revolução Francesa, em 1789, teve-se a pretensão de terminar com o absolutismo real,
através da consagração do princípio da separação de poderes:

1. O poder legislativo competiria ao Parlamento.


2. O poder executivo caberia ao Monarca.
3. O poder judicial competiria aos Tribunais.

As primeiras constituições positivadas (escritas)

1. A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão – 1791 (cuja redação atual é a de


Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH.
2. A 1.ª Constituição Francesa – 1791

Espécies de Direito Constitucional existentes:


1. Direito Constitucional Particular.

O Direito Constitucional Particular, dedica-se apenas à análise da ordenação constitucional de


um Estado em concreto.
Por exemplo, quando estamos a estudar o direito constitucional português estamos no âmbito
do Direito Particular

2. Direito Constitucional Geral.

O Direito Constitucional Geral é uma espécie que visa a fixação de uma dogmática
constitucional que sirva de enquadramento teórico ao estudo do Direito Constitucional
Particular.
3. Direito Constitucional Comparado.

O Direito Constitucional Comparado faz uma descrição dos vários sistemas constitucionais
positivos, tentando captar os seus aspetos caraterísticos, podendo fornecer contributos para o
Direito Constitucional Geral.
Assim, o Direito Constitucional Comparado, pode ser interno, quando a comparação do Direito
Constitucional é feita entre Constituições do mesmo país, por exemplo, em Portugal, comparar
a Constituição de 1911 com a Constituição de 1976 (atual) ou externa, quando a comparação
do Direto Constitucional é feita com Constituições de outros países, por exemplo, comparar a
Constituição de Espanha com a Constituição Portuguesa.

Noção de Ciência Política e de Direito Constitucional


(O que é o Direito Constitucional?)
Ciência Política: é uma ciência que vai estudar, ordenar, sistematizar e dar a conhecer a
realidade política, os fenómenos de cariz político.

Direito Constitucional: O direito Constitucional é o Direito da Constituição e um ramo de


Direito Público e é formado por normas jurídicas, tendo por objeto uma realidade normativa.

2º aula - 15/10/2020

Sumário: Continuação da aula anterior acerca do Direito Constitucional: a sua relevância. Do


Constitucionalismo Português.

Do Constitucionalismo Português: percurso histórico até à atual CRP de


1976.
Constituições típicas do Estado Liberal
 Constituição de 1822
Elaborada pelas Cortes Extraordinárias e Constituintes de 1821, enquanto Constituição
fundamentada no poder constituinte do povo.

Breve vigência, dado que foi suspensa no mesmo ano em que entrou em vigência.

Já eram consagrados direitos e deveres

Direitos Deveres

1. Direitos à liberdade. Consagram no artigo 19º* e não é


2. Direito à propriedade reconhecida a liberdade religiosa
3. Direito à segurança pessoal

*Artigo 19 da Constituição de 1822

“Todo o Português deve ser justo. Os seus principais deveres são venerar a Religião; amar a
pátria; defendê-la com as armas, quando for chamado pela lei; obedecer à Constituição e às
leis; respeitar as Autoridades públicas; e contribuir para as despesas do Estado”.
Poderes do Estado

1. O poder legislativo era pertença das Cortes com sanção do monarca – art. 102.º.
2. O poder executivo era pertença do monarca e dos secretários de Estado – art. 122.º.
3. O poder judicial era pertença dos magistrados – art. 176.º.

As Cortes tinham uma câmara única, eleita nos moldes do seu art. 32.º e 33º e 44º.

Na Constituição de 1822, as mulheres, os menores de 25 anos, os criados de servir, os


vadios, os frades, e os analfabetos não tinham direito a votar, isto nos moldes do artigo 33.º da
Constituição de 1822, sendo havidos como «absolutamente inelegíveis» aqueles que não
podem votar.

Os deputados desempenhavam um mandato representativo de toda a Nação – art. 94.º

Quanto às Cortes, as suas atribuições eram abundantes – arts. 102.º e 103.º, e apenas o
poder legislativo precisava de sanção real – art. 110.º.

O rei gozava de veto suspensivo – art. 110.º

Sistema monárquico constitucional hereditário – art. 29.º

 Carta Constitucional de 1826


Decorridos combates entre D. Pedro e seu irmão D. Miguel, aquela Carta Constitucional é
posta novamente em vigor entre as datas de 1834 e 1836.

Após a morte de D. João VI, em abril de 1826, D. Pedro IV outorga a Carta Constitucional, onde
ficam instituídas as Cortes Gerais, compostas pela Câmara dos Pares e pela Câmara dos
Deputados, artigo 14º, tendo vigorado até 1828, com um regresso ao absolutismo.

A Câmara dos Pares, aristocrática, com membros vitalícios e hereditários, sem número fixo, de
nomeação régia, artigo 39º. Por seu turno, a Camara dos Deputados, artigo 34º, eleita por
sufrágio indireto e restrito, de tipo censitário, artigo 63º e 65º.

O rei considera-se por direito próprio representante da Nação, artigo 12º, com direito de veto
absoluto, artigo 58º. No exercício do poder moderador, podia dissolver a camara dos
Deputados e nomear os Pares, artigo 74º.

Quanto aos eleitores de província, estes deviam possuir uma renda mínima de duzentos mil
réis e para se ser eleito deputado aumentava-se a exigência de renda mínima para
quatrocentos mil réis.

A Carta Constitucional deixou de vigorar em maio de 1828, quando D. Miguel convocou os


três Estados do Reino que o aclamaram rei absoluto.
Princípios

1. O princípio monárquico.
2. O princípio da divisão de poderes, embora que sem total divisão de funções.
3. O princípio censitário, mas aqui a participação no exercício do poder é
constitucionalmente limitada a uma pequena minoria de possidentes.
4. Reconhecimento de “Direitos Civis e Políticos dos Cidadãos Portugueses”

Poderes do Estado

1. Poder legislativo pertence ás cortes, com sanção do Rei (artigo 13º)


2. Poder executivo pertence ao Rei (artigo 75º)
3. Poder judicial pertence aos juízes (artigo 118)
4. Poder moderador pertence ao Rei como chefe supremo da Nação (artigo 71º)
poder autónomo, independente e neutro.

Ato adicional de 1885

Limitou-se a 100 o número de pares vitalícios nomeados pelo Rei e estabeleceram-se pares
eletivos e temporários em número de 50, mantendo-se os pares por direito próprio. Este Ato
Adicional regulamentou também o direito do Rei de dissolver a Câmara dos Deputados e a
parte eletiva da Câmara dos Pares, limitando este poder apenas aos "casos em que o exigir o
bem do Estado “

O último Ato Adicional, decretado em dezembro de 1907, voltou a alterar a composição da


Câmara dos Pares, suprimindo o número fixo de pares nomeados pelo Rei.

 Constituição monárquica de 1838


Pactuada entre D. Maria II e uma assembleia representativa dos cidadãos.

Apenas vigorou até 1942, havendo assim um retrocesso constitucional, uma vez que foi
retomada novamente a vigência da Carta Constitucional de 1826, tendo-se mantido esta Carta
Constitucional de 1826, desta vez, até 1910.

Poderes do Estado

1. Poder legislativo pertence ás Cortes, com Sanção do Rei, artigo 37º


2. Poder executivo, pertence ao Rei, artigo 80º
3. Poder judicial, pertence aos juízes, artigo 123º

As Cortes eram constituídas por um parlamento bicamaral, artigo 36.º

1. A Câmara dos Senadores, artigo 58º, formada por certas categorias, artigo 77º, e
renovada por ocasião de eleições para deputados, artigo 62.º
2. Câmara dos Deputados, artigos, 53.º e 74.º, sendo as duas eleitas, por sufrágio
direto e restrito, de tipo censitário, artigos, 71.º e 72.º

Há um acréscimo dos poderes do Monarca, mas some o poder moderador.

O Monarca tinha direito de veto absoluto, artigo 81.º e tinha a faculdade de proceder à
dissolução da Câmara dos Deputados.
3º aula - 22/10/2020

Sumário: Revisões da aula anterior e continuação da matéria relacionada ao Constitucionalismo


Português

 Constituição de 1911
O termo liberalismo abrange o liberalismo político, ao qual estão associadas as doutrinas dos
direitos humanos e da divisão dos poderes, e ainda o liberalismo económico, centrado sobre
uma economia de mercado de cariz capitalista, isto é, uma economia mercantil livre.

Note-se que, relativamente à forma de governo, a monarquia vigorou até à Revolução de 5 de


outubro de 1910, e apenas a partir desta Revolução é que se instaurou a forma de governo
republicana, artigo 1, ou seja, apenas a partir de 5 de outubro de 1910 é que vigora e se fala
em República.

A forma republicana de governo, com a abolição do rei e da monarquia e a sua substituição, e


em tudo o que daí fosse decorrente, pelo Presidente da República, bem como a concomitante
propagação do princípio democrático;

a laicização social do Estado, com a absoluta separação de atividades entre o poder temporal
e o poder espiritual, além de se reduzir a influência social da Igreja Católica

o municipalismo, com a conveniência de avivar o poder dos concelhos, expressão lídima e


mais próxima da vontade das populações”.

Direitos e garantias individuais dos cidadãos (artigo 3)


1. A igualdade advém da negação dos benefícios pelo nascimento – artigo 3, nº 3
2. Laicismo e igualdade de culto lado a lado com a religião católica – artigo 3 nº8 e nº5;
3. Passou-se a secularizar os cemitérios – artigo 3, nº9
4. Natureza pública e laica, isto é, não religiosa do ensino – artigo 3, nº10 e nº12
5. Estabelecido o Registo Civil – artigo 3, nº33
6. A garantia do emprego na decorrência do cumprimento do serviço militar obrigatório
7. A garantia do denominado habeas corpus, artigo 31 pode ser requerida pelo próprio ou
por qualquer cidadão no gozo dos seus direitos políticos, o juiz decidirá no prazo de
oito dias o pedido de habeas corpus em audiência contraditória.
8. O direito de indemnização tendo havido ou havendo condenação injusta
9. A garantia da não privação de liberdade sem prévia autorização judicial estando em
causa pessoas com doenças de foro mental.

Novos direitos fundamentais


1. A total liberdade religiosa
2. A abolição da pena de morte e das penas (castigos cruéis nas nossas palavras) de
índole corporal perpétua ou ilimitada
3. O direito de revisão das designadas sentenças condenatórias
4. O princípio da legalidade dos impostos
5. Direito de resistência contra o seu pagamento ilícito
Poderes do Estado
1. Poder legislativo pertence ao Congresso Da República, artigo 7º
2. Poder executivo pertence ao Presidente da República e aos Ministros, artigo 36º
3. Poder judicial pertence aos Tribunais, artigo 56º

Importa ainda realçar que as revisões dever-se-iam concretizar de 10 em 10 anos, artigo 82.º
da Constituição de 1911, competindo ao Congresso da República os poderes constituintes,
sendo, no entanto, permitida uma antecipação de 5 anos mediante decisão de 2/3 do
Congresso Republicano e jamais teriam a faculdade de abolir a forma republicana
governamental.

 Constituição de 1933
Com o Golpe Militar ocorrido em 28 de maio de 1926 foi colocado um término à I República,
tendo tomado conta do poder a II República, ou seja, o “Estado Novo” passou a entrar em
ação, tendo-se tido como fontes inspiradoras o autoritarismo e o fascismo, Estado Fascista
Italiano.

Com o projeto político e institucional este novo regime do Estado Novo pretendeu fazer
algumas imposições:

1. De cariz antiliberal;
2. De cariz antiparlamentar (focando-se mais no poder executivo);
3. De cariz anti partidário;
4. De cariz antidemocrático (porque renegava o princípio democrático, impondo uma
ideologia de Estado autoritário).

Ora, durante a vigência do Estado Novo (1933-1974) as abstenções eram consideradas votos a
favor desta Constituição de 1933.

A Constituição de 1933 teve influências em dois prismas:

 No prisma doutrinário, o Integralismo Lusitano e a Doutrina Social da Igreja marcaram


presença;
 No prisma da praxis política, os experiencialismos fascistas, fundamentalmente a
italiana, registaram presença nalgumas das soluções achadas;

Constituição de 1933, continha apenas II partes:

1. A Parte I destinada às garantias fundamentais;


2. A Parte II dedicada à organização política estadual.
3. Continha ainda «disposições complementares».

Com a Constituição de 1933, os direitos e garantias individuais dos cidadãos previstos na


Constituição, nomeadamente a liberdade de expressão, reunião e associação, eram regulados
por "leis especiais".
Direitos fundamentais na Constituição de 1933:

No prisma dos direitos individuais, foram aqui consagrados novos tipos:

 O direito à vida e também o direito à integridade pessoal;


 O direito ao bom nome e também o direito à reputação;
 O direito à designada instrução contraditória no processo criminal;
 E ainda, o direito à reparação de toda a lesão efetiva, sendo pecuniária quanto às
lesões morais, ou seja, às lesões não patrimoniais.

A ordem social, a Constituição de 1933 operou uma mudança para uma conceção corporativa
do Estado e da sociedade, com determinados direitos fundamentais sociais inseridos nesta
nova conceção, designadamente:

1. E muito relevante, a proteção familiar;


2. O direito de associação do trabalho à empresa;
3. O direito (a todos) ao acesso à educação e à cultura;
4. O direito de liberdade de criação de escolas particulares

O Estado e a Religião na Constituição Portuguesa de 1933


Apesar do artigo 49º consagrar a separação Estado – Religião não era rejeitada a possibilidade
e um tratamento preferencial ser atribuído à Igreja Católica, mesmo que o Estado não tivesse
nenhuma religião oficial, afirmando-se mais à frente na Constituição de 1933, após a sua
última revisão de 1971, que a religião católica haver-se-ia como sendo a “religião tradicional
da Nação Portuguesa”.

As revisões constitucionais de que a Constituição de 1933 foi objeto:


1. A de 1951 (que contemplou novos direitos sociais, como o direito ao trabalho, ao que
se anexou a incumbência generalista de o Estado defender a saúde pública).
2. A de 1971 (que deu ainda mais força aos direitos individuais, tendo aperfeiçoado as
garantias no processo penal e tendo fixado a garantia do recurso contencioso).

Ainda na Constituição de 1933:

1. Esta foi a 1.ª Constituição portuguesa a aferir uma direta importância à estruturação
societária, mesmo que num prisma de um Estado autoritário, de ideologia fascista.
2. A escolha essencial foi a do corporativismo, que aliás representou uma ótica ordenada
da sociedade, num contexto grupal, onde os interesses da sociedade se espelhariam a
partir das variadas instituições sociais, desde a família às corporações profissionais e
sindicais, passando pelos corpos administrativos.

O Chefe de Estado: durante bastante tempo, foi eleito por sufrágio direto, ainda que
deveras restringido, para um mandato, ilimitado relativamente à sua renovação, de 7 anos,
ilimitação que ainda se desenvolvia mais pela expressa consagração de um princípio de
irresponsabilidade política quanto aos demais órgãos, artigo 78.

Competências do Chefe de Estado (artigo 81)


1. Nomear o Presidente do Conselho e os Ministros de entre os cidadãos
portugueses e demiti-los;
3. Marcar em harmonia com a lei eleitoral, o dia para as eleições gerais ou suplementares
de Deputados.
5. …
6. Dissolver a Assembleia Nacional quando assim o exigirem os interesses superiores da
Nação.

Atividade do Chefe de Estado (artigos 83º e 84º)


Assembleia Nacional – constituída por 90 Deputados, eleitos por sufrágio direto dos eleitores
para um mandato de 4 anos, artigo 94º.

Atividade praticada pela Assembleia Nacional: ver o artigo 102.º da Constituição de 1933.

Câmara Corporativa: ver o artigo 103.º da Constituição de 1933.

O Governo: era formado pelo Presidente do Conselho e pelos Ministros, e ainda pelos
Subsecretários de Estado, sendo o Governo politicamente responsável perante o Chefe do
Estado, artigo 107. º da Constituição de 1933.

As competências do Governo: abrangiam o exercício de atos de cariz legislativo,


administrativo e político. Ver ainda o artigo 108.º da Constituição de 1933.

Os tribunais: artigo 122.º da Constituição de 1933.

 Os tribunais exerciam a função judicial, organizados por tribunais ordinários e por


tribunais especiais, para aqueles se fixando uma hierarquia constitucionalmente
importante.
 Os juízes: tinham várias garantias, tais como a vitaliciedade, a inamovibilidade e a
irresponsabilidade, dando escopo à necessidade da sua independência diante dos
outros poderes públicos.
 Sem o intuito de quebrar o legado da judicial review (instituído pela Constituição de
1911) a Constituição de 1933 consagrou um mecanismo de fiscalização da
constitucionalidade, mas que se tornara pouco relevante, dando lugar a uma artificial
distinção entre a inconstitucionalidade material e a inconstitucionalidade organizatória
(artigo 122.º da Constituição de 1933).

Constituição da República Portuguesa de 1976


Com a CRP de 1976, passamos a ter um Estado Social e democrático de Direito.

Esta CRP surge após o 25 de abril de 1974 que pôs termo ao regime ditatorial.

A CRP de 1976 baseia-se no poder constituinte de uma Assembleia Constituinte soberana,


havendo uma legitimidade representativa: descontinuidade material.

Após o golpe militar que colocou fim ao regime autoritário de António de Oliveira Salazar, fora
criadas várias Leis novas, de entre as quais a Lei n.º 1/74, de 25 de abril que, “destituiu” o
Presidente da República, “exonerou” os membros do Governo e “dissolveu” a Assembleia
Nacional e o Conselho de Estado, tendo transferido ainda todos os poderes desses órgãos
para a Junta de Salvação Nacional, que os acumulou.
Por seu turno, a Lei n.º 2/74, de 14 de maio, procedeu à extinção da Assembleia Nacional e
da Câmara Corporativa.

Já a Lei n.º 3/74, de 14 de maio, efetuou a revogação formal da Constituição de 1933, em


tudo em que fosse adversa aos princípios expressos no Programa do M.F.A., tendo criado
uma estrutura política provisória. Desta feita, os poderes constituintes competiriam ao
Conselho de Estado, ao passo que os poderes legislativos seriam da competência do Governo
Provisório.

Note-se que estas 3 Leis foram consideradas pela Junta de Salvação Nacional como se tratando
de verdadeiras leis constitucionais.

Tomaram-se medidas para a convocação de uma Assembleia Constituinte que teria como
função a elaboração da nova Constituição com a ideologia subjacente ao movimento
revolucionário.

Esta Assembleia Constituinte seria eleita por sufrágio universal direto e secreto, de acordo com
uma lei eleitoral feita pelo Governo provisório.

A atual CRP consagra os denominados «princípios fundamentais» por escrito que são:
artigo 1 a 11

A estrutura da atual CRP em vigor e atualizada:


A Parte I é constituída por 3 Títulos, sendo que o Título II tem 3 Capítulos e o Título III tem 3
Capítulos.

 A Parte II é composta por 4 Títulos.


 A Parte III é constituída por 1 Título atinente aos princípios gerais, e por um Título II
que tem 3 Capítulos. O seu Título III tem 3 Capítulos e o seu Título IV tem 3 Capítulos.
O seu Título V tem 3 Capítulos, tendo ainda o Título VII e o Título VIII, tendo este
último 5 Capítulos. Tem ainda esta Parte III da CRP o Título IX e o Título X.
 A Parte IV é formada por 2 Títulos.
4º aula 29-10-2020

Sumário: A Teoria da Constituição: seus aspetos. Resolução de casos práticos.

Definição de Constituição: é um conjunto de normas jurídicas fundamentais que definem a


estrutura, as finalidades e as funções do Estado, a organização, a titularidade, o exercício e o
controlo do poder político e fiscalização do acatamento das normas constitucionais.

Constituição material: onde se atende ao seu objeto ou ao seu conteúdo, quando se delimita a
matéria com dignidade constitucional. (no seu conteúdo tem normas jurídicas – conteúdo
normativo)

Constituição formal: onde se atende ao posicionamento das normas jurídicas e ao modo como
se articulam e se recortam no plano sistemático do ordenamento jurídico, via de regra
inseridas num texto escrito elaborado por um órgão com poderes especiais, através de um
processo próprio e onde constam os princípios fundamentais de determinada ordem jurídica.
(forma que a constituição adota, no nosso caso é escrita)
Requisitos da Constituição formal:
1. A intencionalidade na formação.
2. A consideração sistemática.
3. A força jurídica própria.

Constituição em sentido instrumental: trata-se do documento onde se inserem normas


constitucionais. (no nosso caso está inserida num livro)

Quanto à sua classificação:


1. Constituição escrita: é o que existe na generalidade dos Estados contemporâneos,
onde o costume tem um papel apagado, com uma importância subsidiária
relativamente às normas escritas. (é escrita porque o costume não é fonte de direito, a
nossa constituição é escrita)
2. Constituição mista: é a que encontramos no sistema constitucional britânico, onde o
costume e a lei escrita estão no mesmo plano. (a do sistema britânico por exemplo)

a) Constituição flexível: é a que pode ser revista pelo mesmo processo adotado para
a elaboração de leis ordinárias.
b) Constituição rígida: é a que apenas pode ser alterada através de um processo
específico, nela previsto e divergente do processo legislativo ordinário. Como é o
caso da nossa CRP.
c) Constituição semirrígida: é a que em determinada parte pode ser revista por
processo similar ao legislativo ordinário e noutra parte apenas mediante um
processo específico. Este tipo de Constituição não existe na atualidade.

1. Constituição normativa: quando as normas constitucionais dominam o processo


político, isto é, o processo do poder adapta-se às normas constitucionais e submete-se
a elas. (a nossa é)
2. Constituição nominal: é aquela que é válida, mas é ineficaz, dado que a dinâmica do
processo político não se adapta às suas normas, a Constituição tem falta de realidade
existencial. (não foi publicada no Jornal oficial logo não produz efeitos jurídicos)
3. Constituição semântica: é aquela que é inválida, mas eficaz. (Invalida porque não
foram respeitados os preceitos que deviam e ineficaz porque não foi publicada no
jornal oficial)
4. Constituição utilitária: é a que regulamenta as matérias de organização do poder
político e dos direitos, liberdades e garantias. (Artigo 100º e ss poder político, é a
nossa)
5. Constituição ideológico-programática: emergiu com a transição para o Estado Social e
Democrático de Direito e detém uma índole ideológica relevante, determinando o
sentido da organização do poder político, assinalando certos fins económicos e
sociais e fixando a Constituição económica do Estado. (Artigo 112º a nossa é um
pouco)

****NOTA****
É valida quando entra em vigo (vacatio leggis).

É eficaz quando é publicada no jornal oficia.


Constituições dos Estados capitalistas.
Subtipos das Constituições capitalistas:
 As Constituições liberais: que foram as pioneiras a haver e caraterizam-se pela
enunciação de direitos, liberdades e garantias e organização do poder político com
uma separação de poderes. (Carta Constitucional de 1826)
 As Constituições sociais-democratas: que se caraterizam por valorizar a parte
ideológico programática, não se restringindo à parte organizatória. (Nossa, contem a
organização da vida política (organizatória) e os deveres e direitos económicos
(ideológico programática))
 As Constituições autoritárias: emergiram também com a crise liberal e as ideologias
autoritárias fascistas, dando especial relevo ao poder executivo ou do governo e
conformando as liberdades públicas, com intervenção do Estado na economia,
contemplando a separação de poderes mesmo que com uma prática de concentração.
(é anti partidária e antidemocrata, Estado Novo 1933-1964)
 As Constituições compromissórias: são as que derivam de um compromisso entre
forças políticas heterogéneas, portadoras de interesses divergentes.
 As Constituições do terceiro mundo: estas não têm caracteres específicos suficientes
para serem havidas como um outro tipo de Constituições. (tem como fonte a nossa e
outras como a nossa “Constituições do 1º Mundo”

Constituições dos Estados socialistas

 As Constituições socialistas: que se caraterizam por acentuarem a parte ideológica,


afastando-se do princípio da separação de poderes e díspar entendimento dos direitos
fundamentais.
 Constituições estatutárias (também designadas por orgânicas): são as que se dedicam
essencialmente ao estatuto dos órgãos do poder político, dos seus órgãos e da
participação política dos cidadãos, limitam-se a delimitar as regras do processo político
sem atender à parte económica, social e cultural.
 Constituições programáticas (também denominadas por doutrinais): apesar da
organização política, determinam diretrizes, programas e objetivos para a ação do
Estado no domínio económico, social e cultural. Consideradas também como
Constituições prospetivas artigo 255º (Constituições que se vão fazer no futuro e visam
adaptar a nossa ideologia)

As normas constitucionais e a sua classificação:


a) Normas constitucionais preceptivas: tratam-se de normas de aplicação direta, não
estando a sua eficácia dependente de condições institucionais ou de facto,
vinculando todos os sujeitos de Direito, abarcando o legislador ordinário.
(exemplos 12º e 43º)
b) Normas constitucionais programáticas: tratam-se de normas de aplicação
diferida, direcionando-se a determinadas finalidades e a transformações não
apenas da ordem jurídica, mas também de estruturas sociais, direcionando-se a
todos os órgãos do poder – ao Estado – que devem tomar as medidas necessárias
para as efetivar. Artigo 3º da CRP.
c) Normas exequíveis: são as que se aplicáveis por si só, não sendo precisa uma lei
que as complemente.
d) Normas não exequíveis por si mesmas: são carecidas de normas legislativas que
as tornem totalmente aplicáveis aos casos da vida. Artigos 40º e 49º
5º e 6º aula 5-11-2020 + 12-11-2020

Sumário: O Poder Constituinte: em que consiste? Exposição e reflexões acerca do poder


constituinte.

O Poder Constituinte: em que consiste?


O PODER CONSTITUINTE: consiste na elaboração de uma nova Constituição, tendo fases e
âmbitos diversos, em razão das circunstâncias concretas que circundam o seu nascimento
podendo tratar-se de:

a) Um poder constituinte inicial (quando foi exercido pela primeira vez)


b) Um poder constituinte posterior (na medida em que já teve oportunidade de se
exercer anteriormente)

O poder constituinte e as suas caraterísticas


 Num prisma teorético temos:
1. A chamada democraticidade legitimada de um poder constituinte.
2. Um poder constituinte limitado materialmente
3. Um poder constituinte culturalmente situado
 Num prisma procedimental releva ser feita uma destrinça entre:
1. O poder constituinte em sentido material;
2. O poder constituinte em sentido formal.

Limites do poder constituinte


1. Limites transpositivos: interferem com legitimidade do direito e da justiça (Leis da
Covid, por exemplo)
2. Limites positivos externos: limites que assumem as imposições devidas de
ordenamentos jurídicos positivos supraestaduais
3. Limites positivos estruturais: relacionados com a estrutura do Estado composto,
situação em que os Estados federados se submetem á elaboração das respetivas
constituições. As limitações impostas pelas constituições dos estados federalistas
podem, no entanto, acrescentar outros limites próprios (EUA e Brasil)
4. Limites positivos procedimentais: São os que se interligam com a expressão concreta
de momento. Que se vai desenvolvendo segundo a redação definitiva de um texto
constitucional propriamente dito.

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