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“Novo Código”

Encerramos a época jusracionalista com uma alusão rápida ao projecto de reforma das
Ordenações Filipinas que ficou conhecido por "Novo Código". Situa-se no reinado de
D. Maria I.
Através do decreto de 31 de março de 1778, D. Maria I criou uma “Junta de Ministros”,
que se reuniam para proceder à reforma geral do direito vigente. Procurava-se apenas
uma simples atualização das ordenações, tanto que se recomendava que seguisse a
sistematização básica das ordenações.
Melo Freire foi encarregue da revisão do livro 11 das ordenações e em seguida do livro
V, disto resultou o Código de Direito Público e o Código Criminal.
Para apreciá-los, nomeou-se, em decreto de 3 de fevereiro de 1789, uma Junta de
Censura e Revisão, onde se integrava António Ribeira dos Santos.

Melo Freire António Ribeira dos Santos


Absolutista Liberal
Livro 2: não é necessário positivar todas As leis fundamentais, por segurança dos
as leis fundamentais, temos que restringir povos têm que estar positivadas
Não se pronuncia sobre a separação de Vai se pronunciar sobre a separação de
poderes poderes, o monarca é o juiz superior da
nação, mas para bem da separação de
poderes, deve ser exercido pelos juízes
A atividade legislativa devia residir no
monarca
Livro 5: Não acolhe totalmente as teses Mostra-se um progressista, é o primeiro
de Beccaria (humanitarização das penas) jurisconsulto a defender a abolição da
pena de morte

Em 1789 rebenta a Revolução Francesa e a Europa começa a viver períodos difíceis,


portanto não estamos numa época para reformas, o livro 2 e 5 acabam por ficar na
mesma. Não é possível um novo código sem uma Revolução Liberal primeiro, era
necessária uma rutura como a que houve em 1820.
Séc. XIX-XX
Constituição de 1822:

 Foi no reinado de D. João VI;

 Primeiro código do séc. XIX;

 O que tornou tao caótico o nosso sistema? Fora de Portugal tínhamos assistido à
Revolução Francesa. A situação política vai gerar (saída da família real para o
brasil) um crescente desconforto por parte das autoridades portuguesas, porque
a corte estava no rio de janeiro, e por outro lado sentíamo-nos obrigados a tudo
o que fosse necessário implementar e ter a ratificação do rei. A única solução
foi um determinado conjunto de homens, juristas, que acabam por se congregar
no sinédrio e a revolução toma lugar. Revolução de 1820. Entre as várias ideias
políticas apresenta se a reforma do direito, já se tinha pensado antes (o Alvará).

 Influências: Vamos tomar os textos franceses como paradigma. O texto


espanhol (Constituição de Cádiz) é de tal forma importante que chegamos a um
ponto que nas nossas cortes vintistas existe a possibilidade de ele ser aplicado
em Portugal, até que alguém diz que “eu estou aqui para discutir e aprovar um
texto para Portugal e não para aplicar um texto espanhol”, era necessário termos
um texto nosso, e essa era também uma das exigências da revolução.

 Características: Sintético, científico, sistemático.

 Ficam consagrados, desde logo, o princípio da soberania nacional e, como


direitos individuais do cidadão, a liberdade, a segurança e a propriedade. Na
esfera económica, porém, é que o Vintismo esteve longe de produzir uma
autêntica transformação, limitando-se a pouco mais do que a esboçar o sentido
das reformas futuras.

 Liberdade: os homens são proprietários da sua liberdade individual; o homem é


proprietário do seu destino; cabe ao governo conservar a propriedade; a
liberdade é um direito inviolável e sagrado e ninguém pode dele ser privado a
não ser em caso de necessidade publica evidente, legalmente verificada, e na
condição de pagamento de indemnização previa e justa.
 Igualdade perante a lei: os homens nascem e permanecem livres e iguais em
direitos. Esses direitos são: liberdade, propriedade, segurança e resistência a
opressão.

 Parlamento Unicameral.

 Em 1823 tivemos a Contra-Revolução, protagonizada pela Rainha e pelo infante


D. Miguel.
Carta Constitucional de 1826:
 Contexto histórico: D. João VI morre, e entramos no problema de sucessão. D.
Pedro está no Brasil, e D Miguel está no exilio. O que acontece é que é nomeado
um Conselho de Regência que fica presidido pela sua filha Maria Isabel, até
surgir o legitimo herdeiro. Ao contrário do que a fação absolutista entende,
entendem que D. Pedro é o legitimo herdeiro. D Pedro era o imperador do Brasil
e coloca se esse problema. E para tentarem conciliar as fações dos absolutistas e
liberais, D Pedro decide outorgar uma Carta Constitucional.

 Influências: não é uma inovação, por um lado, vai ser inspirada pela
Constituição brasileira de 24, mas a terminologia vem da carta constitucional
francesa, isto acontece porque em virtude da Santa Aliança os monarcas pela
Europa apercebem se que têm que ficar acima da lei, e só o conseguem através
de uma carta outorgada por eles, é concedida pelos monarcas e é incluído o
velho poder moderador, que vai permitir que os monarcas voltem a controlar.

 Características: texto fundamental; mantém os direitos dos cidadãos, mas com a


inserção do poder moderador (poder de veto absoluto, so aprova as leis que
entender; possibilidade de nomear os seus ministros; possibilidade de convocar e
dissolver as cortes; literalmente tem os poderes todos)

 Parlamento bicameral, parece uma solução adequada, mas desde logo temos que
compreender que esta segunda câmara começa com uma composição que não é
eleita é nomeada. A Câmara dos Pares vai ser o instrumento de apoio em que o
executivo se irá socorrer em muitos casos para fazer passar alguns textos
legislativos. No entanto, é importante não esquecer uma das características deste
regime, não da constituição de 22 (lado mais puro da revolução), o que vamos
ter ao longo do séc. é uma realidade cartista e não vintista. E a realidade cartista
apresenta 4 poderes, o quarto poder é o moderador, que aqui servia para
camuflar, para fazer vingar o poder executivo e ofuscar aqueles que eram os
demais poderes. Liberalismo de gabinete, tudo assenta no executivo.

Movimento de Codificação português:


A partir daqui a passagem para o positivismo torna-se óbvia: o direito identifica-se com
a lei e qualquer problema seria resolvido através do formalismo de uma dedução lógica
do sistema para o caso concreto. Negava-se ao julgador, consequentemente, a mínima
função criadora, que assim se transformava em mero autómato do silogismo judicial.
Também desta maneira se prestava vassalagem à certeza e à segurança do direito,
havidas então como valores fundamentais.

Código comercial:
 Primeiro código de direito privado; 1833-1888;
 Ferreira Borges;
 Influências: Código francês, italiano e espanhol, quanto ao direito comercial
substantivo, porque a respeito dos dispositivos processuais e de organização
judiciária, o autor do projeto declara que apenas se socorreu das nossas
instituições.
 Excessivo apego à legislação anterior.
 Dividido em 2 partes, a primeira trata do comércio terrestre e a segunda do
comércio marítimo.
 2º Código Comercial: 1888, Veiga Beirão, a parte geral ainda está em vigor.

Direito administrativo:

 Povoado de vários textos legislativos. Começa com o texto de Mouzinho da


Silveira (Decreto 23 de 16 de maio de 1832), segue-se o 1º código de Manuel da
Silva Passos, de 1836, de seguida a controvérsia política levou a alterações, e
tivemos o 2º código de Costa Cabral, 1842, que contrariava a linha de Passos de
Manuel, e agora dava uma linha centralizada, figura de domínio do rei.

 3º código é de 1878 e o 4º código é de 1896, 5º 1936 (baseou-se no projeto de


Marcello Caetano).

Direito Processual:
Verifica-se que os esforços de aperfeiçoamento e codificação do processo civil não se
estenderam com a mesma perseverança às instituições do processo penal. Efetivamente,
para substituir o velho sistema das Ordenações Filipinas, concentrado nos seus livros III
e V, publicaram-se, pouco antes dos meados do século XIX, as chamadas Reforma
Judiciária (1832), Nova Reforma Judiciária (1837) e Novíssima Reforma Judiciária
(1841, manteve-se a reger o processo penal durante algum tempo), que abrangiam o
processo civil e o processo penal. Contudo, os destinos destes ramos do direito adjetivo
rapidamente se dissociaram.
1876: Primeiro Código de Processo Civil
1905: Código de Processo Comercial
O traço mais característico do sistema processual definido por esses diplomas consistia
na prevalência do princípio dispositivo, em contraposição ao princípio inquisitório. Isto
quer dizer que, configura-se o processo como um instrumento ao serviço dos
particulares, os quais podem conduzi-lo como lhes aprouver, remetendo o juiz a uma
atitude passiva.
1939: 2º Código de Processo civil. Acentua-se o aspeto inquisitório, sobretudo em
matéria de prova.
1929: Código de processo Penal, substitui-se a base acusatória por outra de feição
inquisitória.

Forais:
A sua extinção começa a ser pensada nas cortes constituintes vintistas em 1822, em
1832 Mouzinho da Silveira traduz o programa liberal a respeito da propriedade,
eliminando os foros, mas suscitou dúvidas. A efetiva extinção é de 1846, queriam
extingui-los de modo a garantir a igualdade perante a lei.

Direito Penal:

 Beccaria quer humanizar as penas, visto que as penas eram desproporcionais, e


eram transmitidas do pai para o filho.

 Responsáveis mais tarde pelo efetivo momento da abolição da pena de morte:


Barjona de Freitas (ministro da justiça); Lévy Maria Jordão; António Ayres de
Gouveia.

 Código penal de 1852, não vamos aplicá-lo integralmente, mas vai ser o mais
importante porque vai revogar o livro 5 das ordenações e vai trazer novidades.
Mas, vai ser muito criticado porque continua a manter a pena de morte,
desajustado ao pensamento filosófico da época.

 Pena de morte extinta para crimes políticos: 1852. Maria Jordão, penalista, é que
vai mostrar a crueldade.

 Pena de morte extinta para crimes civis: 1867- Reforma penal e das Prisões

 2º Código Penal de 1886: não era a obra que se ambicionava.

 3º Código que veio substituir o anterior- 1982

 Pena de morte extinta para crimes militares: 1911

 Reestabelecida a pena de morte: 1917

 Pena de morte extinta por completo: 1974

Código civil, código de Seabra:


 Precedentes: No âmbito das invasões francesas encontramo-nos no âmbito de
novos códigos. O código civil elaborado sobre o novo espírito da codificação,
influencia toda a codificação no continente europeu. E em 1808 quando as
tropas napoleónicas chegam a Portugal, é pedido a Junot que peça a Napoleão
que nos deixe aplicar em Portugal não só o código civil francês, como também
uma constituição. Ferreira de Moura fica incumbido da tradução, só que logo em
1809 em função das chamadas guerras do Norte, a resistência é feita aos
franceses, e fica tudo sem efeito, ele é produzido, mas não se chega a aplicar.

 1850: Quem fica com a tarefa de redigir uma proposta de código civil é Luís de
Seabra. Porquê? 1) a escolha recai sobre ele porque ele é um jurista que nesse
ano escreveu uma obra muito importante, “A propriedade. Filosofia do direito”,
é em virtude desta obra que lhe é reconhecido o devido mérito. E a partir daqui
entende se que tem que ser alguém com provas dadas para redigir o código; 2) é
escolhido porque é um homem liberal, da causa e esteve associado a dona maria
na guerra da patuleia, é alguém de confiança.

 Vai fazer um estudo de direito comparado, ver o que era feito noutros países,
mas chega a conclusão que não lhe agradava a questão sistemática, vai estruturar
o código através daquilo que ele entende que é uma coisa natural, através da
pessoa e da propriedade.

 Estrutura: temos a primeira parte relativa à pessoa jurídica, a segunda a


aquisição dos direitos, depois a propriedade, ofensa e reparação desses mesmos
direitos quando são atingidos.

 Um aspeto que suscitou intenso debate foi o do casamento. A disciplina do


matrimónio pertencia, tradicionalmente, à esfera do direito canónico. Mas, com
os trabalhos preparatórios do Código Civil, pôs-se o problema da consagração
do casamento civil, ao lado do casamento católico — a tese que acabaria por
triunfar, após controvérsia que envolveu o País.

 Entra em vigor a 1868;

 Críticas: a letra da lei conduzia a inúmeras dúvidas que convinha esclarecer; as


diversas alterações levavam à perda da característica de código; o código não
regulava várias figuras jurídicas que eram importantes; código de um só homem;
excessiva originalidade

 Críticas de Neto Paiva e Vicente Ferrer: Era preciso definir equidade, uma das
críticas feitas, a equidade era a boa razão e são os princípios de direito natural,
mas deixava a porta aberta para que a equidade pudesse ser aplicada por outros
países, por ex, a boa razão era o que a doutrina germânica dizia. A solução foi
trocar o termo equidade por princípios de direito natural, mas especificamente
sem que se possa recorrer a legislação estrangeira. *
 Características: consagra o pensamento da sistemática integrada; apresenta
assimetrias científicas; aceita a classificação germânica; abuso das definições e
de tomadas de posição doutrinarias; foi alvo de diversas alterações; legislação
extravagante, arrendamento, clausulas contratuais gerais.

 Em relação ao direito subsidiário. Fontes imediatas: lei; norma corporativa.


Assentos (tratava se agora de doutrina, com forca obrigatória geral); Usos;
Equidade (dizia quando podia ser utilizada. Quando a lei o permitisse, quando
houvesse acordo das partes e a relação jurídica não fosse indisponível, quando a
parte tivesse previamente convencionado o recurso à equidade, nos termos
aplicáveis à clausula compromissória).

 Mas 99 anos mais tarde um legislador de 66 vai fazer as pazes com a história e
recuperar um pouco da tradição, dizendo que a lei é a principal fonte,
mas que também são fontes de direito mediatas os usos, o costume ainda que
não esteja integrado no capítulo das fontes, e a equidade também esta inserida.

 Código atual: 1966

Nova perspetiva do direito subsidiário:


O primeiro Código Civil português ocupou-se da interpretação e da integração das
normas jurídicas no artigo 16.°. Aí se estatui o seguinte: "Se as questões sobre direitos e
obrigações não puderem ser resolvidas, nem pelo texto da lei, nem pelo seu espírito,
nem pelos casos análogos, prevenidos em outras leis, serão decididas pelos princípios de
direito natural, conforme as circunstâncias do caso". * Com o declínio positivista,
prevaleceu a orientação de que a referência aos "princípios de direito natural, conforme
as circunstâncias do caso", equivalia a confiar ao juiz a tarefa do preenchimento das
lacunas, tendo em conta a solução que presumisse adotada pelo legislador, se ele
houvesse previsto o caso omisso.
Deixou de existir um direito subsidiário nos termos tradicionais, tudo se passa agora
dentro do sistema jurídico português.
Cronologia
1778: Criação da Junta de Ministros;
1789: Junta de Censura e Revisão; Rebenta a Revolução Francesa;
1820: Revolução Liberal;
1822: 1ª Constituição;
1823: Contrarrevolução;
1826: 2ª Constituição;
1832: Decreto 23 de Mouzinho da Silveira; Reforma Judiciária
1833: 1º Código Comercial;
1836: 1º Código Administrativo;
1837: Nova Reforma Judiciária;
1838: 3ª Constituição;
1841: Novíssima Reforma Judiciária;
1842: 2º Código Administrativo;
1846: Extinção dos Forais;
1850: Seabra encarregue de redigir o código civil;
1852: 1º Código Penal; Pena de morte extinta para crimes públicos;
1867: Pena de morte extinta para crimes civis;
1868: 1º Código Civil;
1876: 1º Código de Processo Civil;
1878: 3º Código Administrativo;
1886: 2º Código Penal;
1888: 2º Código Comercial;
1896: 4º Código Administrativo;
1905: Código de Processo Comercial;
1911: Pena de morte extinta para crimes militares; 4ª Constituição;
1917: Restabelecida a pena de morte;
1929: Código de processo Penal;
1933: 5ª Constituição;
1936: 5º Código Administrativo;
1939: 2º Código de Processo civil;
1966: 2º Código Civil;
1974: Pena de morte extinta por completo;
1976: 6ª Constituição;
1982: 3º Código Penal;

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