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Rodrigo Corvelo Raposo – Turma A

Regência: Professor Doutor Luís Pereira Coutinho

Ciência Política

Conceção Aristotélica
 Regime Político  Distribuição de cargos governativos de acordo com um critério de
justiça aceite para o governo e governados.
 Podemos distinguir regimes puros e regimes desviados:
 Puros – Governam com vista o interesse comum destacando a Monarquia
(onde governa só 1), Aristocracia (governam poucos) e Regime
Constitucional (onde governam muitos);
 Desviados – Governam com vista os seus próprios interesses dividindo
assim a Tirania (onde governa só 1), Oligarquia (governam poucos),
Democracia (onde governam muitos).
 A fim de definir o regime, há que analisar os elementos interno e externo:
 Interno: Conceção de justiça partilhada para o governo e governado que torna
essa distribuição aceitável;
 Externo: Estrutura organizatória do regime com distribuição de cargos
governativos.
A corrupção de um regime não surge da sua aceitabilidade por parte do governo e
governados, porque todos os regime obedecem a um critério de justiça que os torna aceitáveis.
Sobre isto, Aristóteles diz que até nos regimes defeituosos “não há dúvida que subjaz um certo
teor de justiça”1.
 O que distingue um regime puro não é o sentido de justiça recetivo e variável (na
perspetiva dos participantes), mas antes num sentido absoluto e invariável (sentido
relevante da prossecução do interesse comum e respeitos pelas leis num sentido
estabilizador e limitador).
 O Sentido Aristotélico de Justiça tem inspiração grega, recolhido do período
homérico e nele a justiça foi concebida por poetas e legisladores com um arranjo
benéfico para todos (ricos, pobres, poderosos e fracos), sendo assim aceitável pelos
deuses. Com isto, Aristóteles afirma que tanto o regime puro como desviado são aceites
na perspetiva relativa e variável dos homens, mas apenas os puros são aceites na
perspetiva absoluta e invariável dos deuses.
 Quanto ao sentido relativo e variável de justiça nos regimes desviados que se revê nos
regimes desviados, Aristóteles fala da oligarquia e da democracia por “ambos os
regimes defenderem uma certa conceção de justiça, mas apenas relativa”. Nenhum
sentido refere, porém, a “justiça suprema na sua integridade”.
Aristóteles vai então afirmar que todos os regimes puros ou desviados serão justos em sentido
relativo e variável. Este ainda distingue a Justiça e a Política.
 Política: O Estagirita (Aristóteles) diz que política releva essencialmente da partilha de
um sentido ou critério de justiça para os membros da cidade. Este sentido ou critério de
justiça é essencial ao Homem pois:
 O Homem é um animal político porque se move dentro desse critério da polis
encontrando um parâmetro de ação. O sentido de justiça vai depender da sua

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Luís Pereira Coutinho – “Teoria dos Regimes Políticos” p. 14

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cidade, e é aí que reside a sua “virtude política”. O Homem do animal político


é um cidadão que enquanto tal, se integra e dispõe do critério de justiça da sua
cidade: A Virtude reside aí e torna-se relativa ao regime inserido.
 A justiça relevante em Aristóteles é a igualdade proporcional (justiça
distributiva), ou seja, assegurar uma distribuição igual para iguais e não baseada
em números. Porém, o critério desta varia de cidade para cidade (observando
fatores como a riqueza ou a liberdade)  O critério da distribuição é também
sinónimo do fim de cada governo no regime inserido.
 Democracia  Zela pela liberdade;
 Oligarquia  Zela pela riqueza e berço; Desviados
 Aristocracia  Zela pela excelência.
 Filosofia  Segundo Estagirita é a filosofia que se deve ocupar da definição de qual é
o melhor critério de distribuição/justiça (justiça como natureza  melhor bem para o
Homem). Não vale nem a justiça relativa nem absoluta, pelo melhor para o Homem ser
conhecido pelos Deuses. Aristóteles diz que o melhor regime é a aristocracia por zelar
e por ambicionar pela excelência.
 A justiça com a natureza não é apenas a prossecução do bem comum, nem respeito pela
lei enquanto estabilizadora e limitadora. Justiça, neste sentido, significa o melhor bem
para o homem que se sobrepõe ao critério dos deuses  Melhor critério é o do filósofo
que conhece qual este melhor bem.
 O melhor bem para o homem reside no domínio sobre as suas paixões, uma parte não
racional da alma que obedece à racional por já ter sido habituada a fazer isso. *
 Assim, o “melhor regime para o indivíduo é o melhor para a comunidade”  *Leva à
prevalência dos poucos guiados pela razão sobre os muitos guiados pelas paixões. Um
regime que se constrói assim vai permitir o exercício tanto da razão prática (virtude do
governante) com a da teórica (virtude do filósofo).
O melhor regime acaba por ser, assim, o Aristocrático por conciliar o que é bom para o ser
humano com aquilo que é justo por natureza, ao invés do que é desviado e apreciado pelos
deuses.
Porém, Aristóteles considera que dificilmente o melhor regime será possível, pois o
entendimento do critério de justiça inerente pressupõe também de excelência e é apenas
acessível aos poucos. Assim, o governo da maior parte das cidades, não será entregue aos
excelentes. Neste seguimento, podemos concluir que o bom legislador e político não deve ter
apenas em conta qual o melhor regime, mas também qual é o regime que se pode tornar
concretizado.
 Para Aristóteles, o regime considerado possível é o regime constitucional, um
intermédio entre a oligarquia e a democracia em que o predomínio pertence às classes
médias, com vista a atingir uma mediana virtude liberal e igualitária, interessada na
estabilidade e respeito pela lei, ao invés de uma excelência que esteja acima das
possibilidades das gentes comuns (sendo esta virtude acessível às classes mais baixas,
que não sejam “excessivamente pobres” – presas fáceis aos demagogos – e às classes
altas que não sejam “excessivamente ricos” – com a sua supremacia económica vão
tender para a oligarquia).

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 Mesmo que estas condições não estejam reunidas, Aristóteles defende que é melhor
haver um regime que seja injusto/desviado do que não haver um de todo, levando à
instalação da desordem.
 Um regime político também irá depender sempre das massas. Nem sempre o regime
possível será instaurado numa cidade, uma vez que os pobres tendem a fugir para a
democracia e os ricos para a oligarquia.
A Ciência Política deve, assim, estabelecer aquilo que permite preservar um regime,
enumerando os respetivos “artifícios”.

A Ideia de regime misto dos Antigos aos Modernos


 Um regime misto tende a misturar os elementos monárquicos, aristocráticos e
democráticos, sempre visto como chave para uma moderação do controlo das paixões
(pelo poder) ou ausência destas. Esta conceção tem diversas aceções:
1. Aristotélica: Fusão de diversos elementos;
2. Romana: Estrutura em que elementos diferentes não se fundem, mas articulam-se
entre si.
 Ambas estas conceções fazem parte da Conceção Antiga  Regime moderado com
homens moderados (em que a virtude existia a nível individual).
 Em contraste, temos a Conceção Moderna  Ideia de Montesquieu por referência à
Constituição Inglesa na sequência da Revolução Gloriosa.
O Regime Possível em Aristóteles
Este filósofo pode ser descrito como muito pragmático e realista, procurando soluções
adequadas às circunstâncias, mesmo que estas não sejam as ideais. Não pretende disseminar
um virtude que está acima das gentes comuns com a excelência, preferindo, assim, a
moderação.
 Mantém-se, em parte, vivas as conceções oligárquicas e demagógicas (mais
disseminadas), não se contrariando totalmente. A intenção é que nenhuma vingue
completamente o poder de um modo extremado. Assim, por via da classe média,
consegue-se atingir estabilidade e cumprimento da lei, tendendo a rejeitar os ideários
mais extremados.
 Para Aristóteles, não está em causa o arranjo institucional oligárquico e democrático
em que as instituições se controlavam reciprocamente, existe, antes, uma fusão destes
elementos em instituições moderadas com homens moderados.
 Um regime misto evita os males da oligarquia e da democracia;
 Muitas vezes se diz que o realismo de Aristóteles é oposto ao “utopismo” de
Platão (O Professor Luís Pereira Coutinho afirma que muitas vezes esta
contraposição acaba por não se verificar);
 Aristóteles acaba por ter entendimentos parecidos aos dos gregos e eruditos.
A República Romana em Políbio
A virtude de um regime misto foi largamente celebrado em Roma para que não se pudesse
cair novamente em tirania. Assim, a monarquia deu lugar ao Senatus Populusque Romanus –
“Senado e Povo de Roma” (S. P. Q. R.).

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As formas de governo na constituição romana estavam tão bem ligadas que, segundo Políbio,
a distinção entre democracia, aristocracia ou monarquia não era possível. Há que ter em conta
os poderes em Roma (que se articulavam entre si):
 dos Cônsules  Monarquia;
 do Senado  Aristocracia;
 do Povo  Democracia (através das Assembleias populares e tribunais.
Estes eram resultado da imaginação de Licurgo que conseguia esta conclusão através de
raciocínio, ao invés do que aconteceu em Roma, onde o resultado chegou através de arranjos
institucionais que permitiam superar as crises políticas.
Políbio classifica, assim, este regime misto (republicano) “o melhor de entre todos” por
atingir o equilíbrio e evitar a corrupção de outras formas de governo.
 A virtualidade deste regime é conseguido através da preservação das virtudes inerentes
a cada regime (unidade, sentido de dever, prudência e liberdade, respetivamente)
evitando a sua degenerescência;
 Políbio não descreve apenas as virtualidades de um regime misto, tentando
compreender o porquê da emergência desses regimes;
 Este, ainda, diz haver um ciclo de regimes em cada realeza, aristocracia e democracia
que se vai alternando com os degenerados (tirania, oligarquia e demagogia):

Realeza  Tirania  Aristocracia  Oligarquia  Democracia  Demagogia


Após este, vão Sentem o Expulsão ou Com a
Governar injustificado morte dos dissipação dos
aqueles que sentido de oligarcas exemplos
expulsaram o poder e moderados da
tirano privilégio democracia
chegam os
demagogos
 A grandeza da República Romana encontrava-se na capacidade, com moderação, de
superar este ciclo. No entanto, Roma também poderia degenerar, caindo uma vez mais
neste ciclo.
Cícero e o estertor da República
A sua reflexão surge na degenerescência de Roma com a ascensão do poder Júlio César e
com episódios de violência política.
 Nos últimos anos da república percebe-se que o arranjo institucional, por melhor que
fosse, não podia substituir se não lhe estivesse subjacente virtude (sendo esta entendida
como “Romanidade” e um viril espírito cívico, representando amor pela república, pela
história política e militar, pelos costumes e sobretudo pelas leis). A república estava
condenada quando este espírito dava lugar às paixões por poder e riqueza a que se
entregava no seu tempo.
 Cícero duvida da existência da possibilidade de um regime virtuoso ao qual se
encontrem subjacentes homens não virtuosos, tratando-se de um regime conversor de
vícios privados em virtudes públicas.

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No “Tratado da República”, Cícero afirma que a virtude é imprescindível à subsistência da


República, explorando a ideia de institucionalização (no sentido atual).
 Os “Costumes Pátrios” e “Varões excelentes” eram essenciais para o esplendor da
República  Tendo em conta que a República não podia subsistir sem virtude, Cícero
refere que haja concórdia entre diversos elementos, desde que não lhes faltasse o que
lhes caracterizava (unidade do elemento régio, prudência do aristocrático e moderada
liberdade do popular).
Nota2: Cipião diz que a monarquia é o melhor dos regimes, mas que é sempre preferível um
regime misto  A insistência de Cícero na virtude não o leva a desmerecer as instituições. Ele
não vai propor a substituição do regime misto pela monarquia, mas sim tentar encontrar a
virtude e mantê-la.
No “Tratados dos Deveres”, a virtualidade de um regime misto não era capaz de garantir a
moderação de homens imoderados, corrompidos por paixões, mas sim promover concórdia
entre diferentes elementos. Tal só é possível quando todos deixassem as virtudes próprias e
partilharem o mesmo espírito público e o mesmo consenso fundamental de justiça.
Cícero verifica que homens com cargos proeminentes tendem a “cair na paixão pelo poder,
pelas honras e pela glória” e por isso esquecem-se da justiça. A solução encontrar-se-ia se se
considerasse com a verdadeira glória o bom desempenho de cargos públicos  desfulanização
da virtude. Neste Tratado, Cícero afirma que a ideia de institucionalização é a chave da
moderação da república.
Dos Antigos aos Modernos: uma outra ideia de regime misto
Síntese
 Conceção Aristotélica: A virtualidade do regime misto encontra-se em tratar o regime
co uma virtude moderada acessível a todos;
 Conceção Romana: A virtualidade encontrava-se através da preservação do espírito
público e de conservar articuladamente as virtudes inerentes a cada elementos, evitando
paixões contrárias;
 Conceção de Montesquieu: A ideia de arranjo institucional de “freios e contrapesos”
dispensam a virtude ou moderação individual, porque o poder controla o poder.
 Montesquieu não defende a moderação dos homens da virtude a alcançar,
essencial para o bom governo. A limitação de poder acontece porque paixões
refreiam paixões.
 A sua elaboração de regime misto deriva da Constituição Inglesa depois da
Revolução Gloriosa, muito diferente das conceções antigas moldadas pela
República Romana.
 Os poderes, apesar de separados, têm de seguir de forma concentrada. A
moderação do regime não se consegue por consenso, mas sim por tensão ou
conflito temperados pelos arranjos institucionais.
A articulação deste regime com soberania foi tentado, especialmente, a propósito da
revolução francesa, onde o setor moderado de Assembleia Nacional Constituinte defendia uma

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P. 42 – “Teoria dos Regimes Políticos” de Luís Pereira Coutinho

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mistura do elemento monárquico, popular e aristocrático não incompatível com a soberania


popular.

Dos regimes políticos à ação política no Príncipe


Maquiavel
A Ciência Política de raiz aristotélica tinha como objeto privilegiado os regimes enquanto
estruturas institucionais estáveis (elemento externo) refletoras de uma conceção de justiça
partilhada (elemento interno).
O termo política era recetivo à polis, associação necessária de justiça e política.
Maquiavel no “Príncipe” presta atenção à ação política e não ao regime. Assim, o termo
“política” muda de sentido, passando a ser relativo ao poder – ou a conquista desse. Toda a
atenção passa a incidir sobre a ação política essencial para manter esse poder. Este autor vai,
assim, ter uma conceção de regime político diferente quando comparado à conceção
aristotélica: Serão formas de “domínio” ou “império sobre os homens”. Os regimes são
encarados como instrumentos à ação política.
 “Leo Strauss compara a revolução que Maquiavel traz à Ciência Política com a
revolução trazida pelas ciências naturais (…)” – Pg. 48 – “Teoria dos Regimes
Políticos” de Luís Pereira Coutinho
Maquiavel incide, especialmente, a sua atenção sobre os principados, já que as repúblicas já
haviam sido tratadas nos “Discursos”.
 Principados:
1. Hereditários: Mais fáceis de manter por se basear numa linhagem e
contemporizar com os imprevistos;
2. Novos (menos fácil de manter pelos homens mudarem de “bom grado de
senhor”) ou mistos (conforme sejam recém-fundados ou agregados a um
anterior Estado)
 Uma outra divisão são os Principados Civis e Eclesiásticos, ambos “governados por
um príncipe” mas no primeiro, onde todos são os seus servos, e no segundo onde
governa juntamente com barões.
Toda esta conceção desenvolve-se no contexto da desintegração medieval  Ordem
hierarquizada na qual os homens são mantidos em respeito com a orientação à existência
extraterrena.
Existe, depois, uma focalização na existência humana secular e da sua importância das
construções políticas então emergentes  Estados (não correspondem valores morais e
religiosos no sentido aristotélico). Neste contexto, deixa de fazer sentido falar da ação política.
O Estado em si identificado por Maquiavel torna-se elemento de unificação e integração
política, ao invés de patilha de parâmetros religiosos em crise.
A Ciência Política torna-se numa Ciência dos Estados, instituindo-se de uma forma política
neutra (a nível religioso e moral) que tem de ser conquistado e mantido. Assim, o Príncipe deve
vencer e manter o Estado e tudo o que seja feito por esta figura em nome deste deverá ser
considerado honroso e louvado por todos.

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 Ação Política  “Conjunto de meios destinos a vencer e manter o Estado” – Luís


Pereira Coutinho.
 Maquiavel não constrói um sistema coerente de máximas. Socorre-se, sim, de metáforas
e exemplos históricos que o Príncipe deve ter presente consigo.
 A ausência de um sistema faz com que seja dominado pela Oportunidade, variável no
tempo (avaliando-se a causa-efeito, circunstâncias, relações de força…)

Regimes Políticos em Montesquieu: linhas gerais


O “Espírito das Leis” parece assistemático por desdobrar em duas classificações sobrepostas
certos regimes, obedecendo, no entanto, a uma lógica coerente.
Monarquia Regimes Moderados
República Regimes Imoderados
Despotismo
Estes dizem respeito “ao Estes dizem respeito ao
quê” do governo (natureza e como do Governo e
princípio) enquadram-se na Filosofia
Política de Montesquieu
O Quê dos regimes
É a classificação mais importante canonicamente depois da de Aristóteles. A Classificação é
continuador do tratamento Antigo.
 O Quê do governo desdobra-se em elemento externo (natureza e estrutura institucional)
e elemento interno (princípio do governo = elemento interno de Aristóteles,
determinante da ação, não enquadrando em si a conceção de justiça. Depende do
contexto educacional e religioso que subjaz ao regime.
República (Pelo conjuntou ou parte dos Virtude
cidadãos)
Monarquia (Apenas um em respeito das leis Honra
e costumes pré-estabelecidos)
Despotismo (Apenas um independentemente Medo
das leis e costumes)
 Virtude  “Amor à República”; “Preferência contínua do interesse público em
detrimento do interesse próprio”; “Amor às leis e à pátria”  O cidadão virtuoso
encontra a sua liberdade no cumprimento.
 Se tal for perdido haverá uma irrestrita queda na avareza, ambição e uma
perda de liberdade.
O cidadão virtuoso abdica dos seus interesses em benefício da coisa pública. Tal é conseguido
pela educação (plena unidade entre experiência religiosa e integração política).
 Repúblicas para Montesquieu  Democráticas (Exaltadas pelo filósofo – “Amor à
República” = “Amor à Igualdade”) e Aristocráticas (O princípio da ação ainda é a
virtude, mas aparenta ser uma “virtude menor que consiste numa certa moderação que
torna os nobre pelo menos iguais a si mesmos, o que garante a sua conservação”).

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Honra  Monarquia
Montesquieu descreve a virtude dos Antigos, mas não pretende restaurar essa virtude no
mundo moderno. Considera, assim, que a monarquia está subjacente à honra, “preconceito de
cada pessoa e de cada condição” e não amor à coisa pública.
Um governo com este princípio é um governo limitado, quer pelo respeito de poderes
intermédios, quer em respeito pelas leis, costume e tradição, cuja violação levava à desonra.
Medo  Despotismo
 Gera homens e “povos tímidos, ignorantes, abatidos”;
 O seu objeto é a tranquilidade, mas não se trata de paz. É o silêncio das cidades que o
inimigo está prestes a ocupar;
 Erradica-se a espontaneidade humana, não havendo espírito superador;
 Os homens tornam-se uma multidão igual perante o soberano;
 São iguais porque “não são nada” no governo despótico (enquanto são iguais na
República por serem tudo);
 O Medo domina governados e governantes, presos ao seu arbítrio criam inimigos,
temendo a todo o tempo a morte;
 Educação instila ao medo, ao servilismo e destruição de potencialidades;
 Também pode ser instilado pela religião. Assim, cria-se compatibilidade entre
experiência política e religiosa e forma-se cidadãos para serem súbditos (diferente da
República, onde se instila à liberdade);
O Despotismo é imoderado, mas não totalmente, pois não podem desrespeitar aqueles
componentes do “espírito geral da nação” – religião, localização (tornava-se impensável em
caso de violação) e “génio do povo”. Com isto, não é possível haver um despotismo puro
(afirmado por Raymond Aron).
A especificidade da Constituição de Inglaterra
As considerações de Montesquieu surgem desenquadradas da sua classificação de regimes
políticos. Não está em causa nem monarquia, nem república. Foi a falta de virtude que
inviabilizou o governo de Cromwell.
Os ingleses determinam-se por paixões com ódio, ciúme e inveja e se o Estado não fosse
assim, seria “como um abatido pela doença”.
Os ingleses modernos não têm virtudes comuns, mas sim ambição  pela riqueza e pelo
poder. “São homens que internalizam já uma economia moderna das paixões”.
O Regime Inglês é bom graças ao arranjo institucional saído da Revolução Gloriosa, com os
pesos e contrapesos, faculdade de estatuir e impedir. Coloca-se vícios em confronto para que
nenhum vingue em absoluto, moderando e restringindo-os, contribuindo para o bem de todos
subjacente a ele homens imoderados.
 Miguel Morgado  “Só o poder consegue limitar o poder”
 Montesquieu elogia o Regime Inglês, mas também reconhece a possibilidade de ele
degenerar, sendo que o poder legislativo prevalece irrestritamente.

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O Como dos Regimes: Regimes moderados e regime imoderados (Tem haver com a
natureza do governo  Elemento externo de Aristóteles)
 No quê dos regimes pode haver marcas de moderação e imoderação. O que os distingue
é modo como se harmonizam com o “espírito geral da nação” (clima, religião, leis,
máximas de governo, costumes, história…), devendo guiar o bom governo. Caso
respeitem este espírito, estamos perante um regime moderado.
Montesquieu diz que as leis, e mesmo as políticas, devem-se ajustar às circunstâncias, à
“origem” e “ordem de coisas para as quais foram estabelecidas”.
 Respeitar o espírito geral da nação = respeitar a liberdade (uma vez que o legislador, ao
acompanhar este, respeita o génio natural”);
 O Homem é flexível, podendo-se ajustar ao espírito.
Os regimes despóticos são sempre imoderados, pois não se respeita as leis e os costumes,
nunca havendo modificações, negociações, termos, porque tal só faz sentido quando os homens
não forem reduzidos a nada. Nunca são totalmente imoderados, porque se respeita o Espírito
Geral da Nação (o “génio do povo”, o clima e localização).
 Era inconcebível que os homens obedecessem a um governo que fosse contra os seus
próprios moldes e com base no medo. Assim, mesmo os regimes despóticos são
forçados a submeter-se a algum tipo de regra.
A imoderação pode existir em todos os regimes. Exemplo disso é tentar mudar o costume
com leis (influência tirânica), ou a orientação das leis com um “espírito de igualdade extrema”.
A tirania pode ser dividida entre Governo ou Opinião (os que governam estabelecem coisas
que contraria a forma de pensar da nação).
O Pluralismo de Montesquieu
Este autor não prescreve o melhor regime com o respeito de um bem político supremo ou
com a perfeição humana. Apenas se pode falar de bens políticos (no plural) tendo em conta
determinadas condições (económicas, natureza, geográficas) e contextos (religioso, moral,
histórico…)
Não há que considerar um bom regime. É possível uma pluralidade de bons regimes, regimes
moderados tendo em conta o contexto e as condições.
 Esta conceção pluralista surge da consciência de “plasticidade” humana e do seu
“enraizamento ao mundo”  Miguel Morgado
O Pluralismo vai então ser oposto ao relativismo, porque ele critica os regimes imoderados
(de forma clara) e ressalva que apenas os governos moderados são bons governos (Não conhece
supremo bem, mas sim supremo mal. Para tal, ele tenta promover mecanismos que garantem a
moderação).
Este supremo mal conduz Montesquieu a enaltecer uma moderação que exclua o despotismo.
Neste contexto, o filósofo tem grande apreso pelo governo gótico (germânico, que considera o
melhor que já viu, ou a admiração pelo regime inglês). Preocupa-se com o desenvolvimento do
regime francês e ameaça o despotismo.

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 Antecipa aquilo que Judith Shklar veio a dizer no séc. XX que designou como
“liberalismo de medo”  Não diz o que é bom para alcançar, mas o que se deve evitar
– tal princípio (“medo do mesmo ele mesmo”) pode ser o princípio dos regimes
contemporâneos, furtos de experiências traumáticas.

Uma outra República: de Montesquieu até Tocqueville


 Maquiavel – Visão restauracionista, fundação de uma “ordem nova” parecida às antigas;
 Montesquieu – Tenta apenas demarcar contrastes entre a virtude dos antigos e as paixões
dos modernos.
 A restauração do modelo republicano antigo era inviável, pois os homens
modernos eram alheios à virtude, preferindo a ambição pela larga escala dos
Estados.
 A virtude já não era princípio de ação dos homens, cujo modelo republicano
antigos já não era adequado. O sustentáculo de uma boa forma de governo já não
se poderia encontrar numa qualquer virtude subjetiva, encontrando-se este
sustentáculo numa virtude objetiva de um aparelho institucional em que os
mecanismos institucionais (como a separação de poderes) mantivessem as paixões
controladas.
 Montesquieu ainda defende a conceção da república com a consumada em
Inglaterra, diferente dos regimes por ele defendidos, pois não lhe estava subjacente
virtude, apenas ambição, não prejudicando a limitação dos poderes.
 David Hume  Desenvolve argumentação complementar à de Montesquieu, porque
considera que o “principal sustentáculo do governo britânico é a oposição de
interesses”.
 No entanto, contraria a inviabilidade da República na idade moderna pelo facto da
larga escala dos Estados, tal facilitaria a criação de uma República diferente das
Antigas, pois a larga escala impedia a prevalência de qualquer interesse próprio.
 James Madison  Teoriza a ideia de uma República diferente das antigas, porque
segundo a República Federal Americana seria de pleno uma república moderna, onde
o sistema de “freios e contrapesos” faria com que a ambição se sobrepusesse à ambição.
 Inspira-se em Hume por que a amplitude territorial e diversidade americana
constituíam um sistema natural de “freios e contrapesos” onde não prevalecia
vontade de qualquer fação e para além de natural há ainda um institucional (com
separação de poderes das instituições federais).
 Defendia a virtude objetiva das instituições.
 Concilia os freios e contrapesos de Montesquieu com a economia das paixões que
permite livre curso da ambição.
 Considera a R. Americana como o exemplo perfeito da república moderna. Há uma
correspondência não linear entre o princípio de ação (ambição) e o interesse comum
(alcançado pelo sistema de freios e contrapesos natural e institucional).
 Tocqueville  Não desmente o entendimento de Madison. A república é diferente das
antigas, porque assenta numa sociedade mercantil, onde há desejo de riqueza e
independência. O que move os americanos é o interesse próprio (semelhante ao
pensamento de Madison).

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 Diz que para conservar a república é preciso disciplina moral dos cidadãos. Para ele
é a “disciplina moral dos americanos que os conduz a entender bem o seu interesse
próprio”.
 Elemento interno = “interesse próprio bem entendido” (modera o individualismo e
o egoísmo).
 A situação dos americanos de riqueza e potencialidades do território permitiam a
estabilidade política.
 Quanto às leis e instituições, releva a “forma federal” e a “constituição do poder
judicial” mas também o poder local que permite instilar esse interesse próprio bem
entendido.
 Juntamente com o pensamento de Madison não converte vícios privados em
virtudes públicas. Antes, o que está em causa é demonstrar como os interesses bem
entendidos não são incompatíveis com os gerais.
 Para instilar a disciplina são essenciais os costumes, ou os mores dos antigos, quer
do coração (propriamente ditos) quer de nações e opiniões dos homens (dos quais
se formam hábitos da mente).
 O costume mais favorável é:
 A religião: Leva os americanos a esquecerem-se de si próprios. Considera
que a religião é a 1ª das instituições políticas, não se envolvendo no governo,
mas também mantendo a contenção essencial à política liberal.
Síntese: Interesse próprio bem entendido só é possível se houver disciplina moral inscrita na
consciência dos indivíduos e é tudo sustentado por condições materiais (riqueza) e por
costumes (com a religião).

Apanhado geral
 Aristóteles  Conceção de justiça partilhada na pólis. O regime é sinónimo de uma
estrutura institucional estável que partilha a mesma conceção de justiça.
 Maquiavel  Aquilo que respeita ao poder, como o conquistar e manter, sendo o Estado
a definir a moldura de como o poder se exerce. A atenção incide sobre os meios para
tal fim = Ação política. Para este, o regime é sinónimo de dominação sobre os homens.
 Jean Bodin  A soberania é uma abstração, correspondendo-lhe um poder “absoluto
de natureza impessoal”, cujo titular é nele investido (não há correspondência com
parâmetros religiosos e morais). Existe uma ordem política unida e indivisível e uma
racionalidade pública emancipada de razões morais e religiosas.
Cidade  São todas governadas pelos mesmos costumes e leis.
República  Todos são governados pelo mesmo soberano ou vários senhores, ainda que com
leis, língua, raça e costumes diferentes.
Virtude da soberania (norteia-se pela “utilidade” e pelo “proveito público”) “Ordenação
do múltiplo ao une”.
Jean Bodin defende que a racionalidade valorativa dá lugar a racionalidade política.
Cidadão (Bodin só releva a relação de sujeição ao poder soberano) é diferente de animal
político (referia-se à linguagem moral da pólis).

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