Você está na página 1de 13

FORMAS DE GOVERNO: REGIMES POLÍTICOS E SISTEMAS DE GOVERNO

As sociedades encontram-se organizadas de acordo com um determinado modelo de


estruturação do poder político.
Marcello Caetano defendia que a forma como cada Estado organiza o seu poder é a
forma política do estado, o qual por sua vez se distingue entre duas áreas:
- REGIME POLÍTICO: Define-se considerando as concepções fundamentais das relações entre o
individuo e a sociedade política, cuja ideologia e poder político tem por missão verter na
ordem jurídica; são as relações entre governantes e governados.
- SISTEMA DE GOVERNO: Atende à titularidade e estruturação do poder político, de molde a
determinar quem é considerado o titular dele e quais os órgãos estabelecidos para o seu
exercício; estuda as instituições e o estatuto dos governantes, à luz da Constituição, mas que
não prescinde da análise dos sistemas eleitorais e dos sistemas partidários.
A forma de governo de cada Estado é, em certo momento histórico, o resultado do
cruzamento dessas duas realidades.

1. TIPOLOGIAS SOBRE FORMAS DE GOVERNO

TIPOLOGIAS CLÁSSICAS
ARISTÓTELES: Deve-se a si a primeira classificação de formas de governo, assente sobretudo
na estrutura organizativa e em considerações de ordem ética. Para ele existiam formas puras –
aquelas em que o poder seria exercido para o bem comum, podendo esse poder residir num
homem só (monarquia), em vários (aristocracia) ou em todos (politeia) – e formas
degeneradas/impuras – tirania, oligarquia e democracia (como sinónimo de anarquia).
SÃO TOMÁS DE AQUINO: A classificação das formas de governo arranca da tipologia tripartida
de Aristóteles, mas com as seguintes particularidades:
- As formas de governo variam consoante o ideal e os fins que as inspiram. Esses fins
reconduzem-se à virtude, riqueza e liberdade.
- As formas de governo são quarto: monarquia, aristocracia, oligarquia e democracia. A
tirania é, na sua perspectiva, uma forma de tal modo violenta e perversa que não merece ser
catalogada como forma de governo.
Adere também às formas mistas, defendendo como regime ou forma perfeita a
conciliação entre monarquia, aristocracia e democracia.
MAQUIEVEL: Distingue República – podem ser aristocráticas, democráticas ou mistas, e é na
sua opinião a única forma de governo onde prevalece o bem comum e a única que permite
garantir a liberdade e afastar a tirania – de Monarquia ou principados – podem ser herdados
ou conquistados.
MONTESQUIEU: Estuda a natureza das formas de governo à luz do padrão liberal de limitação
do poder político. Assinala três formas de Governo: república (o povo em conjunto ou só uma
parte dele tem o poder soberano; é a virtude), monarquia (governa um só, mas com leis fixas e
estabelecidas; está subordinada à honra) e despotismo (governa um só sem lei e sem regra
tudo arrastando por sua vontade; está subornado ao medo).

TIPOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS
REINHOLD ZIPELLIUS: Divide as formas de governo em monarquia (poder está num), oligarquia
(poder está em alguns) e democracia (poder está em muitos). Distingue também as ditaduras
em dois tipos: ditaduras previstas pelas leis (limitados no tempo e destinados a resolver uma
situação de emergência) e a autarquia (baseia-se na omnipotência do ditador sem prévio
limite de tempo ou outras condicionantes).
MAURICE DUVERGER: Analisa os sistemas políticos dividindo-os em dois: regimes liberais e
regimes autoritários e regimes capitalistas e regime socialistas. Deste cruzamento resultam
quatro modelos: democracias capitalistas, ditaduras socialistas, regimes autoritários e
capitalistas e democracias socialistas (sendo que esta última, segundo o autor, hoje já não
funciona).
FRIEDRICH E BRZEZINSKI: Consideram o totalitarismo como uma nova forma de governo
incluída na classificação mais geral das ditaduras, um sistema em que instrumentos
tecnologicamente avançados de poder político são exercidos sem controlo por uma liderança
centralizada de uma elite e com o objectivo de efectuar uma revolução social total. O
totalitarismo tem como características a ideologia oficial do Estado, o partido único, a polícia
política, o monopólio estatal dos órgãos de comunicação social, controlo de todas as
organizações socias, politicas e culturais e subordinação total das forças armadas ao poder
político.

TIPOLOGIAS DE AUTORES PORTUGUESES


MARCELLO REBELO DE SOUSA: Quanto aos regimes políticos, considera a existência de
regimes democráticos e regimes ditatoriais. Já quanto aos sistemas de governo, defende ser
um conceito amplo ligado ao primeiro, definindo-o por isso como a forma como se estruturam
os órgãos do poder soberano do Estado e dividindo-o em:
- SISTEMAS DE GOVERNO DITATORIAIS: podem ser monocráticos (sistemas cesaristas –
se assentarem na legitimidade de um homem alheia a qualquer forma democrática da
expressão da vontade popular – e monárquicos – se corresponderem a formas clássicas da
monarquia absoluta) e autocráticos.

2. REGIMES POLÍTICOS

DEMOCRACIA – Sinónimo de governo da população e, por definição, significa uma ameaça aos
valores fundamentais de uma sociedade civilizada e ordeira. Hoje, a democracia não passa do
regime/governo representativo.
REPÚBLICA – Coisa pública, que significaria, na concepção clássica, tudo o que tivesse a ver
com os assuntos da comunidade.
DESPOTISMO – Significa, etimologicamente, o tipo de poder que o senhor exercia sobre os
escravos. Por outro lado, também significa qualquer forma de governo absoluto, muitas vezes
sinónimo de ditadura, tirania ou autocracia.
DITADURA – Em Roma, significava uma forma de governo excepcional e temporária, com um
conteúdo positivo. Na república romana, assumia essa natureza excepcional e temporária para
preservar a integridade e permanência da república. A ditadura actual designa a classe dos
governos anti democráticos ou não democráticos.

O regime político é a relação existente entre os cidadãos e o poder político. Para o


poder analisar é necessário ter em conta:
- A participação dos cidadãos/grupos de cidadãos nas tomadas das decisões e na
actividade política geral.
- O maior ou menor número de restrições ao exercício de direitos fundamentais e
amplitude da sua protecção.
- O grau de controlo por parte dos cidadãos do poder político e a possibilidade de
alternância de cidadãos ou grupos no exercício do poder.
Estes aspectos caracterizam um regime político porque permitem identificar uma
determinada filosofia subjacente ao poder político do Estado.

Existem dois tipos de regimes políticos: DEMOCRÁTICOS e DITATORIAL.


REGIME DEMOCRÁTICO: É, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, aquele em que é
respeitado o pluralismo, quer no plano das concepções filosóficas, quer no domínio
institucional. Quer a ordem constitucional, quer a prática, confirmam a efectiva salvaguarda
dos direitos fundamentais dos cidadãos, que participam na designação e controlo dos
governantes.
REGIME DITATORIAL: Consiste, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, na aplicação
dogmática de uma filosofia de Estado, na sua aplicação sistemática através de um aparelho
político civil ou miliar, que subordina a garantia dos direitos fundamentais à lógica da linha
ideológica exclusiva ou dominante e à conveniência do aparelho político que zela pela sua
observância.

REGIME POLÍTICO DEMOCRÁTICO


Para definir regime político democrático, é necessário ter em conta alguns conceitos.
Assim, o regime político democrático pode ser:
- O regime em que os cidadãos se governam a si mesmos, directamente ou por meio de
representantes, e possuem todos os recursos, direitos e instituições para o fazerem.
- O regime que pressupõe a existência de responsabilidade dos governantes perante os
governados, que se traduz na existência de eleições nas quais estes últimos controlam os
primeiros.
- O regime definido pelo pluralismo, a concorrência livre de elites e a responsabilidade.
- O regime que talvez não sirva para eleger os melhores governantes, mas para expulsar os
piores com custos sociais e humanos mínimos.

Para poder analisar este conceito tem de se ter em consideração três etapas:
TEORIA CONTEMPORÂNEA: É o resultado da evolução histórica do Estado moderno, com a
afirmação do Estado liberal, no século XIX.
- TEORIA ARISTOTÉLICA: Aristóteles vê a democracia como um governo de todos mas
também como a forma impura em que o detentor de poder governa no seu interesse e não no
da comunidade. Com o passar do tempo, passou a entender-se a democracia como o governo
da maioria.
- TEORIA MEDIEVAL DO PODER POPULAR: Marsílio de Pádua sustentava que há uma
contraposição entre o poder que vem do povo e se torna representativo e o poder que vem do
príncipe e se transmite por delegação do superior ao inferior.
- CONCEPÇÃO DE MAQUIEVEL: Com a dicotomia entre monarquia e república diz que
república não se identifica com democracias. A sua concepção republicana torna-se oposta à
monarquia e ao despotismo. Contudo, ao longo do tempo, república e democracia vão-se
sobrepondo onde confluem até se fundirem.

FORMULAÇÕES TEÓRICAS DE DEMOCRACIAS:


- TEORIA LIBERAL: Locke e Bentham encararam a democracia como um modelo
protector da liberdade individual do cidadão perante o Estado. Assenta nos seguintes
pressupostos:
- Direitos civis;
- Divisão de poderes;
- Divisão territorial de poderes;
- Controlo da legalidade dos actos do governo e da administração;
- Consentimento dos governados;
- Controlo dos representantes, através de eleições e da publicidade das decisões;
- Representação no Estado dos interesses dos cidadãos para evitar os excessos de participação
directa;
- Desenvolvimento da representação política com o alargamento do sufrágio;
- TEORIA ELITISTA: Defende qua a democracia é uma competição pelo poder entre
grupos, um regime político no qual se adquire poder de decisão através de uma luta
competitiva entre elites plurais para conseguir o apoio da população. A democracia pluralista
competitiva é uma democracia onde há vários grupos competindo pela conquista do poder,
que se pode resumir como:
- Um regime para eleger elites preparadas e para autorizar os governos;
- Um regime de selecção de elites que se traduz na competição entre dois ou mais grupos,
normalmente partidos, que disputam o voto dos cidadãos periodicamente;
- Um regime onde o papel dos votantes é eleger pessoas que adoptam questões políticas.

TIPOLOGIAS DE REGIMES DEMOCRÁTICOS: Lijphart considera que as democracias se


reconduzem a dois grandes modelos: MODELO MAIORITÁRIO OU DE WESTMINSTER e
MODELO CONSENSUAL.
- MODELO MAIORITÁRIO OU DE WESTMINSTER: caracteriza-se pelos seguintes
pressupostos:
- Concentração do poder executivo em governos monopartidários e de maioria relativa.
- Sistema bipartidário.
- Sistema eleitoral maioritários.
- Pluralismo de grupos de interesses.
- Sistema de governo unitário e centralizado.
- Concentração do poder legislativo numa assembleia de uma só câmara.
- Constituição flexível.
- Ausência de judicial review.
- Banco Central controlado pelo Executivo.
- MODELO CONSENSUAL: caracteriza-se pelos seguintes pressupostos:
- Partilha do poder executivo.
- Equilíbrio dos poderes legislativo e executivo.
- Sistema multipartidários.
- Representação proporcional.
- Corporativismo de grupos de interesse.
- Federalismo e governo descentralizado.
- Forte bicameralismo.
- Constituição rígida.
- Existência de judicial review.
- Independência do Banco Central.

Para poder falar-se de democracias são necessárias algumas regras:


1. Órgão político legislativo deve ser composto por membros eleitos pelo povo, directa ou
indirectamente.
2. Todos os cidadãos adultos devem ter direito ao voto e a serem eleitos.
3. Todos os cidadãos devem ter voto igual e serem livres de votar segundo a sua opinião
formada.
4. Os cidadãos devem ter fontes alternativas e plurais de informação.
5. Os cidadãos devem ter direito a formar associações políticas, partidos e grupos de pressão
independentes.
6. O princípio da maioria numérica aplica-se tanto para as eleições de cargos políticos como
para as decisões dos órgãos políticos.
7. Nenhuma decisão tomada pela maioria deve limitar os direitos das minorias.
8. O órgão de governo deve gozar da confiança do parlamento ou do chefe do poder
executivo, por sua vez eleito pelo povo.
9. Os titulares de cargos políticos devem poder exercer os seus direitos constitucionais sem
interferências ou oposições invalidantes por parte dos poderes fácticos.

REGIME POLÍTICO DITATORIAL


O regime político ditatorial define-se por oposição à democracia. A ditadura perfeita
ou ideal será o regime onde não existir nenhuma das características da democracia.
Hoje, as ditaduras ainda são maioritárias no mundo embora tenham regredido de
forma apreciável após o desmoronamento dos regimes comunistas. Continuam então a existir
ditaduras de muitos tipos variáveis, não tao opressivas e sanguinárias como as já registadas,
mas igualmente ofensivas da dignidade da pessoa humana e causadoras de um rasto de
violência e morte assinaláveis.
As ditaduras podem surgir em estados com ou sem Constituição, revestir formas
monárquicas ou republicanas, federais ou centralistas com sistemas parlamentares,
presidenciais ou ditatoriais. Podem manifestar-se de várias formas:
- Garantia mínima dos direitos humanos.
- Recurso à força para conquistar o poder.
- Inexistência de eleições livres.
- Negação da participação dos cidadãos no controlo do poder e a proibição e perseguição da
oposição.
- Exercício do poder de forma totalmente arbitrária com marginalização ou perseguição de
grupos étnicos/religiosos.
- Assunção de uma ideologia ou religião oficial do Estado, com negação do pluralismo, da
liberdade de consciência e qualquer tipo de divergência.

As ditaduras são constituídas por dois pontos permanentes: reduzir ou eliminar o


pluralismo político e controlar e recorrer à força para atribuir e repartir o poder político.
Segundo Giafranco Pasquino, nenhum regime ditatorial pode durar tanto quanto as
antigas democracias. As ditaduras são sempre realidades frágeis e precárias, ainda que
poderosas e agressivas.
Podemos dividir estes regimes em quatro:
AUTORITÁRIOS:
- PLURALISMO: Limitado - são poucas as organizações autoritárias a exercer o poder
político, que têm apesar de tudo de ser legitimadas pelo líder, com esferas de autonomia
circunscritas e sem concorrência eleitoral.
- IDEOLOGIA: Mentalidades – as mentalidades autoritárias mais comuns para todos os
regimes é “Deus, Pátria e Família”.
- MOBILIZAÇÃO: Mínima – têm relutância ou incapacidade para uma permanente e
alargada mobilização, que atinge níveis máximos pela exigência da revolução permanente ou
da luta constante com o inimigo.
- LIDERANÇA: Fundadora – há uma componente personalista, com a existência de um
líder que muitas vezes é o fundador do regime.

TOTALITÁRIOS:
- PLURALISMO: Inexistente.
- IDEOLOGIA: Rígida e forte – apresentam ideologias rígidas, principalmente no regime
comunista.
- MOBILIZAÇÃO: Capilar.
- LIDERANÇA: Carismática.

PÓS-TOTALITÁRIOS: Significa a evolução sofrida pelos antigos regimes totalitários no que


respeita ao pluralismo, à ideologia, mobilização e liderança.
- PLURALISMO: Emergente.
- IDEOLOGIA: Desgastada.
- MOBILIZAÇÃO: Ritual.
- LIDERANÇA: Burocrática/colegial.
SULTÂNICOS: Não têm ideologia elaborada e coerente.
- PLURALISMO: Disperso – não existe, pois a tomada do poder pelo sultão e a distinção
entre público e privado desaparece no que concerne à actividade e património do líder.
- IDEOLOGIA: Arbitrariedade.
- MOBILIZAÇÃO: Manipulada.
- LIDERANÇA: Personalista – é nas características peculiares do líder que o sultanismo
se diferencia do autoritarismo.

3. SISTEMAS DE GOVERNO

O sistema de governo entende-se como a forma como entre si se relacionam os


diversos órgãos do poder político soberano, quer do ponto de vista do seu modelo e
estruturação normativa quer do ponto de vista da prática constitucional.
Há dois tipos fundamentais de sistemas de governo democráticos e de maior relevo
contemporâneo: SISTEMA PARLAMENTAR, SISTEMA PRESIDENCIAL E DIRECTORIAL e
SISTEMA SEMIPRESIDENCIAL.

Qualquer sistema de governo assenta no principio da separação de poderes, pois este


é o princípio fundamental da Democracia e do Estado de Direito.
O princípio da separação de poderes visa inicialmente assegura a liberdade,
defendendo os direitos dos governados contra o eventual arbítrio dos governantes. Este é um
princípio importante pois é necessário partilhar e atribuir as diversas funções a titulares
diferentes que mutuamente as exerçam com equilíbrio e para assim garantir a liberdade. A
separação dos poderes baseia-se na ideia de que o estado deve ser organizado em três ramos,
o que conduz â separação dos poderes em três:
- PODER LEGISLATIVO: faz as leis.
- PODER EXECUTIVO: assegura a execução das leis.
- PODER JUDICIAL: aplica e salvaguarda as leis.
Segundo Locke, estes poderes não podiam estar isolados uns dos outros porque a
harmonia constitucional exigia que cada um estivesse na dependência dos outros e se
controlassem mutuamente.
Também para Montesquieu, cada um dos órgãos essenciais é detentor de duas
faculdades: estatuir e impedir.
Hoje, a divisão dos poderes tem essência em ideias de estabilização e delimitação do
poder estadual e na garantia da liberdade através da organização jurídica dos limites dos
órgãos com um controlo mutuo (system that checks and balances each others).
Pode-se dividir a separação dos poderes em duas:
- SEPARAÇÃO RÍGIDA DE PODERES: cada poder representava uma força rigorosamente igual à
outra. É uma separação orgânica de funções, que se encontra nos sistemas políticos do
período revolucionário, estabelecendo-se uma separação rígida dos poderes. Configura-se no
sistema presidêncial, no qual se pode distinguir o poder executivo nas mãos do Presidente e o
poder legislativo detido pelo parlamento, não havendo ligações orgânicas entre si (exemplo,
EUA, onde o Presidente é detentor do poder executivo e é irresponsável perante o
parlamento, o qual não pode ser dissolvido pelo parlamento).
- SEPARAÇÃO FLEXÍVEL DOS PODERES: significava que os diversos poderes do Estado, em vez
de se ignorarem, deverão concentrar-se e trabalhar em colaboração. Realiza-se com o sistema
parlamentar, onde de um lado se encontra o poder executivo nas mãos do chefe de estado e
do governo e no outro o poder legislativo a cargo do parlamento (exemplo, Grã-Bretanha,
onde o chefe do governo pode accionar a dissolução do parlamento).

SISTEMA PARLAMENTAR: É fruto de uma longa evolução que se delineou historicamente


muito antes do sistema de governo presidencial. Distingue-se deste último pela colaboração
de poderes que o caracteriza.
O parlamentarismo desenvolveu-se a par da necessidade de sujeitar o Executivo à
fiscalização do Parlamento. O que o caracteriza é o facto de retirar a sua autoridade da
confiança que lhe confere o parlamento e de assentar na separação de poderes. O governo é
um governo de leis, e por isso o Governo e o Parlamento equilibram-se.
Este sistema começou a definir-se na Inglaterra a partir da revolução de 1688, com o
Governo de Gabinete. Na evolução do parlamentarismo inglês foi-se verificando e acentuando
a dependência do Governo em relação ao Parlamento. Um dos traços fundamentais deste
sistema passa então a ser o controlo do governo ao parlamento e a sua colaboração mútua.
Neste sistema:
- O chefe do Estado é a mais alta autoridade do país. É ele a nomear e a exonerar os ministros
mas está condicionado a fazê-lo de acordo com as indicações do Parlamento, e o gabinete não
responde publicamente perante si. Os conflitos entre o Governo e o Parlamento não lhe dizem
respeito e por isso não pode praticar a generalidade dos actos políticos a não ser com
referenda ministral.
- O Governo não pode iniciar ou continuar em funções sem a confiança do Parlamento.
- O parlamento pode ser dividido em duas Câmaras.

O governo não pode substituir sem a confiança do Parlamento ou sem a confiança da


Câmara Baixa, se foi bicamaral. Pode, no entanto, exercer sobre o parlamente uma
determinada pressão que lhe possibilita ultrapassar eventuais situações de ausência do
necessário apoio parlamentar. Esta pressão é o direito de dissolução do Parlamento.
A evolução do sistema parlamentar conduziu à adesão de três modalidades:
- SISTEMA PARLAMENTAR PURO OU DE ASSEMBLEIA: O Parlamento domina e bloqueia a
acção do Governo. Ou seja, é um sistema de dualismo do executivo, distribuído pelo
Presidente e pelo Governo, mas ficando o Presidente ensombrado pelo Primeiro-Ministro.
Verifica-se nos casos em que o direito de dissolução cai em desuso ou é de utilização difícil.
- PARLAMENTARISMO MITIGADO OU RACIONALIZADO: O Governo pode dominar o
Parlamento. É fruto dos excessos do parlamentarismo puro, nomeadamente da sua tendencial
natureza para a instabilidade governativa.
- SISTEMA PARLAMENTAR DE GABINETE: Decisão política de dissolver o Parlamento é tomada
pelo primeiro-ministro.

RESPONSABILIDADE POLÍTICA: A responsabilidade política do governo perante o presidente é


um produto da evolução do sistema britânico. Sendo primeiro dos ministros individualmente e
depois solidariamente do governo, funda as suas origens no chamado processo penal de
impeachment. Varia de grau para grau mas existirá sempre que um órgão responde perante
outros pelo resultado da sua actividade. Pode observar-se em dois sentidos:
- SENTIDO AMPLO: acervo de mecanismos em que se traduzem as relações de confiança ou
desconfiança do governo face ao Parlamento.
- SENTIDO ESTRITO: conecta-se com a continuação ou demissão do governo.
RESPONSABILIDADE INSTITUCIONAL: assinala os mecanismos de que dispõe o titular de um
órgão de soberania para impor, a outro, consequências políticas negativas.
SOLIDARIEDADE INSTITUCIONAL: existe solidariedade institucional quando dois ou mais
órgãos do poder então, em conjunto, empenhados na prossecução e mo desenvolvimento de
uma dada política governamental. É a manutenção e estabilidade do regime.

SISTEMA PRESIDENCIAL: Não se encontra perfeitamente delineada e tem sido definido por
referência ao sistema constitucional dos EUA. É um governo forte, um sistema de separação
estrita de poderes (Governo e Parlamento estão separados) e configura-se como uma
adaptação da monarquia limitada a um quadro institucional republicano.
Neste sistema, o poder legislativo e o poder presidencial encontram-se absolutamente
separados:
- Ao parlamento cabe o encargo de elaborar e votar as leis e ao Presidente o poder de as
executar e orientar a política do país no âmbito do quadro jurídico delineado pelo Congresso.
- O poder executivo é composto pelo próprio Presidente, que escolhe livremente os seus
Secretários, não respondendo perante o Parlamento.
- O Presidente é eleito por sufrágio universal indirecto em duas fases, podendo a sua escolha
resultar de uma maioria político partidária não coincidente com a do Congresso.
- O Presidente e os seus Secretários não carecem da confiança do Congresso e o Presidente
não tem poderes de dissolver o Congresso.

No modelo americano, a separação dos poderes flexibilizou-se, passando a efectivar-se


a responsabilidade penal do Presidente pelo processo do impeachment. O impeachment é
uma acção contra o Presidente, um processo penal que apenas pode ser aplicado em caso de
traição, corrupção ou outros crimes e delitos que não estão definidos na Constituição. Para
isto é necessária a acusação pela Câmara dos Representantes e uma maioria de 2/3 dos
senadores presentes para que a condenação possa ser pronunciada pelo Senado.
O presidente tem vários poderes como:
- Opor o veto a uma lei do Congresso, a qual precisa de voltar a ser aprovada numa segunda
votação com uma maioria de 2/3.
- Veto de bolso (pocket veto): o presidente limita-se a não assinar o texto da lei votada pelo
Congresso, não lha devolvendo e aproveitando-se do facto de o Congresso não estar já em
funcionamento por força do termo da sessão legislativa.
- Faculdade de iniciativa ou de orientação legislativa através da leitura das chamadas
mensagens, das quais sobressai a que é lida pelo Presidente em cada ano, no inicio da sessão
parlamentar e que constitui o programa da Administração.

Apesar dos poderes do Presidente, este não pode assumir o sistema como um governo
pessoal. Isto não é permitido porque o presidente é obrigado com frequência a reunir a
maioria parlamentar, a negociar com ela e a ter em conta as suas razões e porque as eleições
presidenciais têm lugar de 4 em 4 anos.

O Presidencialismo conduz à formação de governos fortes e eficazes e é muito


utilizado por federações e países de grande extensão territorial e populacional, ou em
circunstâncias que exijam reforço do poder que levam à eleição directa do chefe do governo.

SISTERMA DIRECTORIAL: Assentas nos seguintes traços:


- CONSELHO FEDERAL: verdadeiro governo do país; executivo composto por 7 membros, eleito
pela Assembleia Federal por um período de 4 anos.
- PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO: a chefia de estado é exercida rotativamente através de um
mandato anual, por um membro do Conselho Federal, que preside às reuniões e é eleito pela
Assembleia Federal.
- ASSEMBLEIA FEDERAL: órgão com competência legislativa (contudo esta iniciativa legislativa
também pode resultar do Conselho Federal ou dos cidadãos), composta por duas câmaras:
Conselho Nacional (eleito pelo sistema proporcional por 4 anos) e Conselho dos Estados (órgão
representativo dos Estados, eleito de acordo com o sistema eleitoral vigente em cada cantão e
composto por 46 representantes). Não pode ser dissolvida pelo Directório.
- Directório não pode ser demitido através de votos ou moções de censura por parte da
Assembleia Federal.

SISTEMA SEMIPRESIDENCIAL: O sistema semipresidencial surgiu de uma necessidade de


responder às novas exigências da sociedade e a impossibilidade prática de qualquer dos
sistemas geradores de instabilidade, incapaz de dar resposta aos complexos problemas do
Estado.
Pode definir-se como o sistema de governo semipresidencial, como o sistema de
governo em que, da conjugação do mesmo grau de legitimidade do Chefe de Estado e do
Parlamento, porque ambos eleitos por sufrágio universal, neles se consubstancia a faculdade
de exercitarem os poderes jurídicos que a Constituição lhes atribui, no sentido de controlarem
a acção do governo, de moldo a que qualquer deles possa fazer cessar as funções daquele.
É um sistema que conjuga as características do sistema parlamentar e presidencial.
Contudo a origem deste regime deveu-se muito mais ao sistema parlamentar do que ao
presidencial.
O sistema semipresidencial projectou-se na Constituição alemã de Weimar de 1919.
Esta constituição consagra os traços do sistema semipresidencial, pois consagrava a eleição do
Presidente do Império por sufrágio universal directo e atribuía a este último, importantes
poderes efectivos de participação no exercício da função de direcção política. O presidente
tinha assim vários poderes, como:
- ARTIGO 43º: Presidente é eleito por 7 anos e só podia ser demitido com o voto da
Assembleia, por referendo popular.
- ARTIGO 25º: Dissolver a Assembleia.
- ARTIGO 52º: Nomear e demitir o Chanceler e, sob a sua proposta, dos ministros.
- ARTIGO 73º: Vetar e submeter a referendo as leis votadas.
- ARTIGO 48º: Suspender total ou parcialmente determinados direitos fundamentais.
- ARTIGO 46º: Nomear e demitir os funcionários do Império.
Há três vagas semipresidenciais que podem ser referidas:
- 1ª Vaga: Após I Guerra Mundial, Constituição de Weimar, Finlândia, Áustria, Irlanda e
Islândia.
- 2ª Vaga: Constituição da França e Portugal.
- 3ª Vaga: Queda do muro de Berlim, Constituição da Polónia, Roménia, Ucrânia, Lituânia e
Bulgária.

O sistema semipresidencialista detém várias características como:


- Eleição do Chefe do Estado através de sufrágio universal.
- Dupla responsabilidade política do governo ou do primeiro-ministro.
- Atribuição de uma amplitude de poderes reais ou dominantes ao Presidente, decorrentes da
legitimidade adveniente de eleição.
- Formação do governo em função dos resultados eleitorais.
- Possibilidade do Chefe de Estado de controlar a actividade do governo.

O sistema presidencial é um sistema de separação flexível ou de colaboração dos


poderes. Apresenta um elevado número de características do sistema parlamentar e
presidencial. É um governo autónomo e distinto das classificações tradicionais.

4. O SISTEMA DE GOVERNO NA CONSTITUIÇAO DA REPUBLICA PORTUGUESA DE


1976

O projecto de Constituição partidários apresentado à Assembleia Constituinte é


apelidado de semipresidencialismo.
Com o 25 de Abril de 1974 houve a necessidade de prover à estruturação dos diversos
órgãos de poder político emergentes da Revolução, até vir a ser aprovada pela Assembleia
Constituinte a nova Constituição. A escolha do sistema de governo plasmado na Constituição
resultou assim de um Pacto entre o MFA e os partidos.
A Constituição originária alberga os vários poderes do Presidente da República,
nomeadamente:
- Poder de dissolução da Assembleia da República.
- Poderes de nomeação e exoneração do primeiro-ministro.
- Poder de veto sobre as leis.
- Poder de iniciativa nos processos de fiscalização da constitucionalidade.

No semipresidencialismo português estão presentes as seguintes características:


- Presidente da República é eleito por sufrágio universal e directo.
- Dupla responsabilidade do Governo perante a Assembleia da República e o Presidente da
República.
- Largos poderes dos dois órgãos no confronto com o executivo: o Presidente da República
nomeia e exonera o Governo e a Assembleia da República aprecia o Programa de Governo.
- Amplos e reais poderes do Presidente da República face ao Governo e à Assembleia da
República, como o direito de veto, dissolução do Parlamento e a iniciativa de fiscalização
preventiva de constitucionalidade.

A Constituição originária também veio consagrar como órgão de relevantes poderes


jurídico-constitucionais o Conselho da Revolução, criado com excepcionais condições
revolucionárias.
Contudo, esta constituição sofreu várias revisões:
1ª (1982) – Esvaziamento dos poderes do Presidente da República; eliminação do Conselho da
Revolução; introdução de um Conselho de Estado (órgão político de consulta do Presidente da
República com funções meramente consultivas); equilíbrio entre as componentes
parlamentares e presidenciais.
2ª (1989) – Organização económica e aprofundamento de alguns direitos fundamentais.
3ª (1992) – De natureza extraordinária, determinada pela assinatura do Tratado de Maastricht.
4ª (1997) – Reforço dos mecanismos de participação dos cidadãos e aumento dos poderes da
Assembleia da República.
5ª (2001) – Exigência da ratificação do Tratado sobre o Tribunal Penal Internacional.
6ª (2004) – Relacionamento entre os órgãos da Republica e as regiões autónomas, com o
aumento das competências legislativas das respectivas Assembleias Legislativas e o reforçado
papel do Presidente da República no regular funcionamento das instituições democráticas
regionais e na nomeação dos Representantes da Republica.
7ª (2005) – Introduzir um novo normativo para permitir a realização de referendos sobre
tratados europeus.

A actual Constituição de 1976 tem as seguintes características:


- Presidente da República é eleito por sufrágio universal e directo.
- Dupla responsabilidade do Governo perante a Assembleia da República e o Presidente da
República.
- Atribuição de importantes poderes de arbitragem ao Presidente da República, incluindo a
dissolução do Parlamento, direito de veto sobre leis e decretos-lei, nomeação e exoneração do
Governo, etc.
- Formação e manutenção do Governo de acordo com a maioria parlamentar que lhe dá vida e
que o pode derrubar.

A formação de governo em Portugal é feita por nomeação e não por eleição. O


governo é nomeado pelo Presidente de acordo com os resultados eleitorais e na deve ser
precedida uma audição dos partidos políticos representados na Assembleia (artigo 187º, nº1).
Os resultados eleitorais têm de ser interpretados para o Presidente da República poder
nomear e publicar os nomes no Diário da República.
Após a nomeação e publicação no Diário da República, o governo toma a posse e tem
10 dias para apresentar o seu programa à Assembleia da República. Uma vez apresentado,
este programa tem de ser discutido (obrigação constitucional) e, se não houver nada contra,
pode entrar imediatamente em plenas funções após esta discussão.
Contudo, o programa também pode sofrer uma votação. A votação não é um
procedimento obrigatório mas pode ser solicitada pelo próprio governo ou pela oposição. Se
houver votação pode acontecer duas coisas:
- A oposição apresenta uma moção de rejeição (apreciação do conteúdo do programa do
governo), e o governo pode cair esta for apresentada por 116 deputados.
- O governo pede um voto de confiança à Assembleia da República, o qual tem de ser
aprovado e ter mais votos a favor do que contra, independentemente da abstenção. Se o voto
for rejeitado, o governo é demitido.

A demissão do Governo por qualquer razão, não leva necessariamente à dissolução da


Assembleia e à marcação de novas eleições. Gera, em vez disso, uma restrição das suas
normais funções, ficando assim com poderes diminuídos (artigo 186º, nº5). Apos isto, o
Presidente da República fica obrigado a nomear um novo Primeiro-Ministro, sem prazo afixado
pela Constituição, ou dissolver a Assembleia e convocar novas eleições. Enquanto um novo
Primeiro-Ministro não for nomeado, o Governo fica numa situação de “Governo de Gestão”.

A Assembleia da República é composta por 230 deputados, no máximo, eleitos em


listas plurinominais partidárias, através do sistema de representação proporcional pelo
método da média mais alta de Hondt (artigo 149º) e com um mandato parlamentar livre
(artigo 152º, nº2). A Assembleia da República é eleita por quatro anos (artigo 171º), durando
cada sessão legislativa 1 ano – 15 de Setembro a 15 de Junho (artigo 174º), fora deste tempo
funciona uma Comissão Permanente, com amplos poderes (artigo 179º). A Assembleia da
República é presidida pelo Presidente da Assembleia da República, eleito pelos seus pares e
também pode ser constituída não só por deputados mas também por grupos parlamentes, que
tem poderes próprios (artigo 156º e 180º). É um órgão com competência legislativa; um órgão
de soberania a quem por excelência compete legislar, orientar e fiscalizar a política.

Você também pode gostar