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CPDC 1° Semestre - resumos

Ciência Política e Direito Constitucional I (Universidade Lusófona de Humanidades e


Technologias)

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O fenómeno político e o estado


Conceito e origem do poder político

- A atividade humana não depende apenas da interação livre e espontânea dos indivíduos e dos grupos,
mas igualmente de uma intervenção concertada, a cargo de um conjunto de estruturas, de
organizações e de procedimentos.

A inevitabilidade do poder político


1. A anomia ou a anarquia, traduzindo a ausência de poder político, com muitos casos de irracionalidade
nas relações sociais coletivas.
2. A ditadura ou o totalitarismo, representando o poder político arbitrário, que não respeita o exercício
de um espaço vital da liberdade humana, desvirtua aquela função de organização social.

- O poder político apresenta-se como uma alavanca indispensável ao estabelecimento de um conjunto


estável de orientações jurídico-normativas - a sua existência assenta na natureza social do homem e
do seu Direito

(ubi societas, ubi ius): apenas na medida em que é necessário regular as relações intersubjetivas se justifica a
pertinência de uma estrutura de poder político.

® O poder político consiste na produção de comandos que imponham determinados comportamentos,


relativamente aos quais revela uma intrínseca aptidão de obrigar, pela força se necessário, ao respetivo
acatamento, através do emprego de esquemas de coação material.

Dimensões do poder político


Dimensões fundamentais:
1. Dimensão substantiva, através da qual o poder político exprime orientações jurídicas destinadas à
regulação da vida em comunidade;
2. Dimensão adjetiva, em que ao poder político se comete a tarefa de se “defender a si próprio”,
organizando a obediência que os outros lhe devem.

Origem do poder político


1. ORIGEM NATURALISTA, através da qual o poder político se apresenta necessário à organização social,
para o qual os seres humanos tendem, mesmo contra a sua vontade individual, só aí se realizando
plenamente, de acordo com a sociabilidade inata.
Esta perspetiva radica em ARISTÓTELES. Segundo este filósofo, sendo o homem é um animal social, só
não degeneraria na sua conivência inter-relacional se se inserisse numa ordem comunitária, avultando
o poder político para a fixação das regras de ordenação coletiva, assim plenamente desenvolvendo a
sua personalidade.

ARISTÓTELES
A conceção aristotélica apoia-se em dois pilares fundamentais: “...a conceção de Homem como “animal
político”, visto ser a sociabilidade o seu fim natural, só plenamente realizável no Estado; e a ideia de que o fim
do Estado só pode ser a realização do bem em sua alta plenitude.”

2. ORIGEM TEOLÓGICA, segundo a qual o poder político, como todos os outros poderes, deriva de Deus,
diretamente ou por níveis de intermediação, sendo Deus a causa final de tudo e de todos, bem como
da criação em geral. A ORIGEM TEOLÓGICA do poder político identifica Deus como sua fonte, mas
atua, na relação com os governantes, em consonância com diferentes prismas, podendo conceber-se
outras tantas modalidades, conforme a maior ou menor pertinência do fator religioso:

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® As teorias teocráticas, normalmente monárquicas, que divinizam os reis, sendo-


lhes por vezes até prestado culto, como sucedeu com alguns regimes do Estado Oriental;
® As teorias do direito divino sobrenatural, que implicam que os governantes
sejam diretamente escolhidos por Deus, exercendo-se um poder que é dom divino, o que se
demostra pela ajuda na realização de feitos históricos.
® As teorias do direito divino providencial, em que os governantes são designados,
não já diretamente por Deus, mas através de uma ordem constitucional estabelecida, assim
como sucede, em geral, com a organização da comunidade política em que se verifica do mesmo
modo o consentimento de Deus, no pressuposto de que é a causa final de todas as coisas,
chegando o poder aos governantes através do povo – omnis potestas a Deo per populum. (Santo
Agostinho e São Tomás de Aquino).

3. ORIGEM VOLUNTARISTA, através da qual se afirma que o poder está na vontade dos titulares do
poder político, que em cada momento encarnam a fonte desse mesmo poder, a qual pode depois
desdobra-se em múltiplas modalidades. Sublinha que o poder político é uma expressão de vontade
dos cidadãos – um pacto ou contrato social – em que este mesmo se ancora, abrindo- se as portas à
respetiva origem democrática, hodiernamente seguida.

CAMBIANTES DA EXPLICAÇÃO VOLUNTARISTA


® A teoria do pacto de sujeição irrevogável e absoluto, conferindo-se aos governantes o poder de vida e
de morte sobre os súbditos, como fez THOMAS HOBBES, na construção do Leviatã, a única maneira de
passar do estado de natureza ao estado de sociedade, com isso se protegendo os cidadãos e se
evitando a destruição da sociedade pela guerra de todos contra todos, sendo o homem o lobo do
próprio homem (homo homini lupus).
® A teoria do pacto de sujeição revogável, podendo o povo retirar o poder aos governantes, admitindo-
se mesmo a deposição e o tiranicídio, como defenderam os monarcómanos.
® As teorias contratualistas democráticas, as quais radicam o poder político na vontade da comunidade,
mas com respeito pelos seus direitos fundamentais e genericamente limitado, como defendeu JOHN
LOCKE.
® A teoria do contrato social em favor de um poder parlamentar, numa conceção democrática totalitária,
à maneira de JEAN-JACQUES ROUSSEAU.

Com a Idade Contemporânea e com o Constitucionalismo, a origem do poder político, sendo


consensualmente popular, foi oscilando entre a soberania nacional e a soberania popular, deixando de ter
interesse o mecanismo de transferência do poder político na transição do estado de natureza ao estado de
sociedade:
® a soberania nacional reconhece o poder político na nação como comunidade sociológica e histórica.
® a soberania popular aceita que o poder político resida na comunidade através de cada um dos seus
membros, os cidadãos com direitos de participação política e sem exclusões arbitrários entre os
mesmos.

Correntes Divinas
- As teorias de origem voluntária e minoritária do poder político são bem mais heterogéneas, unificando-
se sob o diapasão comum de defenderem a atribuição a apenas um grupo restrito de cidadãos da
possibilidade de escolha do poder político:
® Despotismo esclarecido, na passagem, dentro do Estado Absoluto da Idade Moderna, ao
Polizeistaat, em que o poder político se fundou na iluminação do rei, coadjuvado por uma elite
bem-pensante e com o repúdio da sua origem divina;
® Doutrina marxista-leninista, que preconizou a ditadura do proletariado, posta em prática nos
Estados de inspiração soviética, num totalitarismo de esquerda, afastando do exercício do
poder político a generalidade dos grupos sociais e, em contrapartida, somente o fazendo

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assentar numa conceção económica de pertença a determinada classe social: o proletariado e


afins.
® Totalitarismos de direita, nos regimes fascistas e fascizantes que, negando a democracia,
proclamam a origem do poder político na interpretação do interesse da nação e da organização
corporativa, em razão da conceção organicista e belicista da sociedade.

O fenómeno político, o Direito e outros poderes

- Se o poder político repousa na possibilidade de a estrutura que o detém impor comandos e fazer-se
obedecer aos mesmos, incluindo o uso da força, tal não significa que a observação da realidade não
possa demonstrar a existência de outros poderes, por vezes bem mais efetivos do que o poder político.
- Nas suas relações sociais, as pessoas e os grupos recebem e inserem-se em complexos e até
inextricáveis conjuntos de influências que não têm necessariamente uma explicação ao nível do poder
político estabelecido.
- As pessoas e os grupos nas suas relações intersubjetivas são igualmente movidos por outros poderes
que não são dotados da característica principal do poder político: a da coercibilidade.
- O poder político determina o cumprimento dos seus comandos à força se necessário; ora, isso já não
é o que sucede com os outros poderes, de natureza fáctica, que assentam numa lógica de persuasão,
não tanto num fenómeno de coação material.

Modalidades de poderes de persuasão


O Poder Social
- Este poder social está subjacente a uma peculiar ordem normativa da qual se extraem imposições de
dever-se, mas que não são assistidas por qualquer proteção coativa, a qual toma a designação de
Ordem de Civilidade ou de Trato Social.
® EM CASO DE VIOLAÇÃO: Só que da respetiva violação não derivam situações de desvantagem
para quem se coloca numa posição de infração às mesmas, sujeitando- se a um juízo subjetivo
de censura ou de reprovação social como resposta para o ato ilícito praticado, corporizado
pela vergonha ou pelo mal-estar.

O PODER SOCIAL que se resume à circunstância de a vida em sociedade estar submetida a tradições comuns
e a normas de comportamento, em conformidade com certos padrões de etiqueta social, traduzindo a
inserção de cada pessoa num ambiente social específico.

O Poder Religioso
- Expressa a vontade das organizações religiosas no estabelecimento de um conjunto de normas
disciplinadoras da atitude, externa e interna, dos respetivos crentes.
- Este conjunto de comandos pode ser paralelamente considerado na sua vertente normativa, desta
feita de natureza religiosa. Trata-se da Ordem Religiosa, que disciplina um dever-se vertical e
horizontal: verticalmente, entre os crentes e Deus; horizontalmente, só entre os crentes.

O Poder Da Comunicação Social


- O poder mediático assenta na função de intermediação que os meios de comunicação social facultam
entre as notícias e os cidadãos, estes os respetivos consumidores, num vasto ambiente
comunicacional em que, usados de certo modo, os instrumentos de simples informação podem ser
desvirtuados e influenciar os cidadãos, para além dos factos que querem relatar.
- A força afere-se pelo seu inestimável contributo na formação da opinião pública, que resume o
conjunto das opiniões publicadas que limitam os decisores políticos e opinião dos cidadãos em geral.

OUTROS PODERES
- O poder económico: representa a capacidade de influência que é atribuída aos agentes económicos
na produção de bens e serviços – tendência que se consolida e agrava no contexto da globalização.

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- O poder militar: traduz-se na influência que o meio militar protagoniza enquanto instituição social,
que forma uma escola de pessoas e que é capaz de orientar opiniões.
- O poder cultural: expressa-se na atividade inerente à realização cultural, nos seus mais variados
campos, sendo frequentes as ruturas sociais e de mentalidade que tiveram na sua origem a persuasão
da Cultura.
- O poder desportivo: exprime a capacidade atrativa do fenómeno desportivo em geral.
- O poder científico: significa a importância da Ciência e da Técnica.

O poder político e as diversas entidades jurídico-políticas


- O poder político ganha um real sentido quando associado às estruturas que vivificam e segregam os
seus comandos e que exprimem a respetiva concretização prática e externa [entidades jurídico-
políticas].

As entidades pré-estaduais
® As entidades pré-estaduais são formas incipientes de poder político, antes da conceção e
desenvolvimento do Estado, como tipo histórico fundamental.
® As entidades pré-estaduais mais representativas confundem-se com os primeiros assomos de organização
da coletividade, em que a titularidade do poder político era cometida a certas pessoas ou entidades, numa
preocupação geral pela manutenção da segurança e da convivência coletiva, limitado ao nível de
comunidades tradicionais e no plano de uma restrita zona territorial.
® Com a sofisticação trazida pela organização estadual, estas entidades deixariam de subsistir ou, no caso
de ainda persistirem, foram remetidas para o domínio da clandestinidade.

As entidades infraestaduais
® As entidades infraestaduais, inserindo-se no âmbito territorial do Estado, ao mesmo circunscrevendo o
seu raio de ação, apresentam-se com autonomia organizacional e funcional, não se misturando com a
realidade estadual, de acordo com um fenómeno de descentralização de aspetos parcelares do poder
político estadual.
® O caráter infraestadual radica essencialmente no facto de a sua configuração estar na dependência de
uma indicação estadual, enquanto expressão máxima da organização do poder político, o qual pode
decidir livremente sobre a sua criação e permanência.

Exemplo – As regiões autónomas são a mais comum cristalização dessa possibilidade.

As entidades interestaduais
® As entidades interestaduais representam a possibilidade de duas ou mais realidades estaduais se
associarem, dessa junção resultando uma nova realidade por eles composta, abrindo-se a possibilidade
de, por seu turno, terem ou não, natureza estadual.

Exemplo:
- Os Estados compostos - Os Estados Federais
- Uniões Reais.
- Associações confederativas

As entidades paraestaduais
® As entidades paraestaduais são estruturas que, se bem que se aproximando da realidade estadual, não
tem esse teor, com razões diferenciadas para tal suceder:
® Os beligerantes e os insurretos – entidades que não são Estados, mas que são marcadas pela
intemporalidade da sua existência, com base na promessa de virem a exercer o poder político dentro do
Estado onde atuam.
® As minorias nacionais ou os governos de libertação nacional – entidades que ainda não são Estado, mas
que agem no fito da sua criação futura.

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O Estado subordinado ao Estado de Direito

- O Estado como principal organização política e social, é uma organização que satisfaz os interesses dos
cidadãos.
- Definição conceptual: o Estado é a estrutura juridicamente personalizada, que num dado território exerce
um poder político soberano, em nome de uma comunidade de cidadãos que ao mesmo se vincula.

As características do Estado:
1. A Complexidade organizatória e funcional: o Estado pressupõe um mínimo de complexidade
organizacional e funcional, uma pluralidade de organismos, de tarefas, de atividades, de competências
para levar a cabo os seus objetivos.
2. A institucionalização dos objetivos e das atividades: o Estado assenta na dissociação da sua realidade
estrutural por contraposição aos interesses particulares e pessoais daqueles que nele desempenham
funções, criando-se um quadro próprio de referência, nisso consistindo a ideia de personalidade
jurídica.
3. A autonomia dos fins: o Estado separa os fins que prossegue dos interesses pretendidos pelos seus
membros individualmente considerados e com os mesmos não se confundindo, nem sequer sendo o
seu somatório e avultando, assim, a ideia de bem comum.
4. A originalidade do poder: o Estado expressa-se em função da qualidade do poder político de que é
detentor, no caso e necessariamente um poder originário.
5. A sedentariedade do exercício do poder do poder: o Estado carece de uma localização geográfico-
espacial, uma vez que a sua atividade inelutavelmente se lança num dado território, não havendo
Estados virtuais, nem Estados nómadas.
6. A coercibilidade dos meios: o Estado é o depositário supremo das estruturas de coerção, que podem
aplicar a força física para fazer respeitar o Direito e a ordem político-social que mantém.

Os fins do Estado
1. A segurança:
A segurança externa contra as entidades agressoras, no plano territorial, no plano das pessoas e no
plano do poder;
A segurança interna na manutenção da ordem pública, da segurança de pessoas e bens, e na
prevenção e repressão de danos de bens sociais, para além da própria aplicação geral do Direito.

2. A justiça:
A justiça comutativa, quando se impõe estabelecer relações de igualdade, abolindo as situações de
privilégio, com uniformes critérios de decisão;
A justiça distributiva, no sentido de dar a cada um o que lhe pertence pelo mérito ou pela situação
real.

3. O bem-estar:
O bem-estar-económico pela provisão de bens que o mercado não pode fornecer ou não pode
fornecer satisfatoriamente;
O bem-estar social pela prestação de servições sociais e culturais, a cargo do Estado.

Perspetivas de estruturação do Estado:


- O Estado no Direito Constitucional: Estado-Poder e Estado Comunidade, conforme se pretenda realçar,
respetivamente, o conjunto de órgãos, titulares, atribuições e competências ou o conjunto das
pessoas, essencialmente cidadãos, que beneficiam da proteção conferida pelos direitos fundamentais.
- O Estado no Direito Internacional Público: Estado enquanto pessoa coletiva participante das relações
jurídicas internacionais que integram a sociedade internacional como o seu sujeito qualitativamente
mais antigo.

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- O Estado no Direito Administrativo (Estado-Administração): Estado enquanto pessoa coletiva pública,


distinta de outras pessoas coletivas reguladas pelo Direito administrativo, noutros níveis e setores da
Administração Pública.
- O Estado no Direito Judiciário (Estado-Justiça): Estado enquanto pessoa coletiva pública que
desenvolve a função jurisdicional através dos órgãos judiciais, assim realizando a administração da
Justiça.
- O Estado no Direito Privado: Estado enquanto pessoa coletiva que se submete ao Direito Privado, este
como direito comum que é, em tudo o que não requeira a regulação dada pelos diversos capítulos do
Direito Público.

Perspetivas terminológica
- Foi na obra de Nicolau Maquiavel que essa nomenclatura se instalou
definitivamente na doutrina político-constitucional: statu e stato.
- A conveniência da palavra Estado radica na sua adequação para referir uma das suas características,
que é a permanência e a intensidade do respetivo poder político.

Os elementos do Estado

Humano – O Povo
- O elemento humano do Estado é o conjunto de pessoas que, relativamente a determinada estrutura
estadual apresentam com a mesma um laço de vinculação jurídico-política, que tem o nome de
cidadania, conjunto de cidadãos de um Estado que toma, por isso o substantivo coletivo de POVO.
- A importância do substrato humano do Estado, é visível em diversos domínios, aparecendo como o
mais relevante de todos o facto de ser em favor dessas pessoas que são definidos os seus objetivos e
desenvolvidas as respetivas atividades.

Domínios de relevância do substrato humano da organização social


- Escolha dos governantes: havendo democracia, quem escolhe os titulares do poder político são os
cidadãos, exprimindo a sua vontade através do sufrágio.
- Desempenho de cargos públicos: os cargos públicos mais diretamente ligados ao poder, como o de
Chefe de Estado e outros equiparados, só podem ser desempenhados por cidadãos desse mesmo
Estado, havendo, porém, uma margem variável que cada Direito Constitucional em particular
especifica.
- Definição das prestações sociais: as preocupações com o bem-estar económico e social, através do
exercício dos direitos fundamentais económicos e sociais, são aquilatados em função dos cidadãos que
delas vão beneficiar.
- Cumprimento de alguns deveres fundamentais: a defesa da Pátria, o respetivo dever de proteção
contra agressões inimigas recai sobre quem tem a qualidade de cidadão desse mesmo Estado.

O conceito de povo e outros conceitos afins


® A população: as pessoas residentes ou habitantes no território estadual, independentemente do
vínculo de cidadania, nacional ou estrangeira, ou de não-vínculo de apolidia, em que não há cidadania
alguma.
® A nação: as pessoas que se ligam entre si com base em laços sociopsicológicos, com uma mesma
cultura, religião, etnia, língua ou tradições, formando uma comunidade com esses traços identitários.
® A pátria: o sítio onde viviam os pais, a terra dos antepassados, numa conjunção
de fatores territoriais e histórico-culturais.
® A nacionalidade (stricto sensu): a qualidade atribuída a pessoas coletivas ou a bens imóveis registáveis,
como as aeronaves ou os navios, que os associa a determinada Ordem Jurídica, tornando-a aplicável.

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No seu conteúdo, a relação jurídica de cidadania pode ser vista sob uma dupla veste:
1. Como um estatuto designa sinteticamente a atribuição de um feixe de posições jurídicas à pessoa
que dela beneficia, feixe de posições jurídicas que tem um carater acentuadamente caleidoscópico,
variando em função da natureza das posições que nesse estatuto se encontram presentes:
® Posições ativas – direitos – e posições passivas - deveres
® Posições constitucionais – atribuídas pela Constituição – e posições
infraconstitucionais – de natureza internacional ou legal

2. Como direito traduz o percurso trilhado no sentido de se obter aquele estatuto, mediante o respeito
por algumas regras fundamentais, assim favorecendo a ligação da pessoa a determinada estrutura
estadual.

O fenómeno da atribuição da cidadania, condensou-se na prevalência de dois critérios:


1. O ius sanguinis – as relações de sangue, porque os progenitores pertencem a certa cidadania, ela
comunica-se aos descendentes.
2. O ius soli – o lugar de nascimento, por ligação afetivo-territorial justifica a atribuição de cidadania.

A Soberania
- O elemento funcional do Estado expressa a organização de meios que se destinam a operacionalizar a
atividade estadual em ordem a alcançar os respetivos fins.
® A soberania na ordem interna representa a supremacia sobre qualquer outro centro de poder
político, que lhe deve obediência e cujas existência e amplitude são forçosamente definidas pelo
próprio Estado.
® A soberania na ordem externa significa a igualdade e a independência nas relações com outras
entidades políticas, maxime dos outros Estados, nela se reconhecendo diversos poderes, com o de
celebrar tratados (ius tractuum), o direito de estabelecer relações diplomáticas e consulares (ius
legationis), o direito de apresentar queixa, o direito de exercer a legítima defesa e o direito de
participar na segurança da comunidade internacional (ius belli).

A competência das competências


- A primariedade do poder do Estado implica que lhe compete, em cada momento, autodefinir-se na
sua estruturação e que os outros poderes políticos, internos e externos, existem e medem-se pela
razão de uma decisão fundamental que só ao Estado cabe tomar, através da Constituição.
- Esse poder constitucional de auto-organização do Estado, que tanto pode ser inicial, quando o Estado
estabelece uma nova Constituição, ou superveniente, quando em cada momento modifica a
Constituição ou, mais profundamente, exerce um novo poder constitucional primário.
- LIMITE: A primariedade do poder político do Estado não pode associar-se a uma qualquer ideia de
omnipotência estadual, no sentido de lhe ser permitido
agir sem limites.

A soberania interna do Estado


- Dentro da atividade política estadual, no seio do território, é o Estado a autoridade máxima, nenhuma
outra com ele podendo ombrear.
® Essa soberania interna implica que é ao Estado que compete optar pela existência de outras
entidades infraestaduais ou menores.
® A soberania interna traduz ainda a orientação de que é ao Estado que incumbe o estabelecimento
da natureza, da intensidade e dos limites do poder político atribuído a essas estruturas
infraestaduais.

Competências que se integram na soberania estadual interna


- Competências territoriais - Determinam que se reconheça ao Estado a capacidade de livremente
configurar os regimes de utilização e aproveitamento dos seus espaços geográficos (o Estado como
senhorio territorial, aí projetando as leis, ou seja, a Ordem Jurídica).

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- Competências pessoais – incidem sobre o conjunto de pessoas que são os seus cidadãos, em relação
aos quais os Estado definem o respetivo estatuto jurídico-político.

A soberania externa do Estado


- Simboliza a liberdade de as estruturas estaduais escolherem os seus vínculos contratuais e
diplomáticos, sem que possa aceitar a existência de autoridades que lhe sejam superiores.

Categorias do Estado
Estados semissoberanos
- Estados que não se apresentam com uma soberania plena na esfera das relações internacionais.
® Estados confederados;
® Estados vassalos;
® Estados protegidos;
® Estados exíguos;
® Estados neutralizados;
® Estados federados;
® Estados membros de organizações supranacionais.

Estados não soberanos


- Estados não soberanos, embora sendo verdadeiros estados, somente o são na ordem interna,
carecendo na ordem internacional de capacidade de atuação própria.

O Território
- O elemento espacial do Estado consiste no domínio geográfico em que o poder do Estado faz sentido,
o que se denomina por território estadual, ou seja, uma parcela de espaço físico que submete ao
respetivo poder político soberano, que também pode tomar o nome de senhorio territorial ou de
domínio eminente.
- Isto implica que a atividade do Estado não pode desprender-se de um suporte físico, que é o seu
território.

Importância do elemento espacial do Estado


- A sede dos órgãos estaduais: é no território que se situa a capital do Estado, que se pode transferir
para qualquer outro lugar, em vista da melhor garantia do objetivo de segurança externa.
- O lugar de aplicação das políticas públicas do Estado, bem como da residência da maioria dos seus
cidadãos: a definição das políticas públicas, sobretudo de cunho infraestrutural, leva em consideração
a extensão do território, beneficiando os cidadãos desse mesmo estado, proporcionando mais
elevados níveis de bem-estar.
- A delimitação do âmbito de aplicação da ordem jurídica estadual: é o território que traça as fronteiras
da aplicação do poder estadual, bem como dos outros poderes, que se expressam na Ordem Jurídica
que produzem e que têm a missão de preservar e defender.
- O espaço vital de independência nacional: é o território que favorece a permanência e a independência
do Estado relativamente aos respetivos inimigos, para além de ser um espaço de construção da sua
singularidade identitária.

No seu espaço soberano, o Estado organiza a competência, segundo três características fundamentais:
- A permanência: o poder do Estado é tido por duradouro e não consubstancia qualquer situação de
vigência limitada;
- A plenitude: o poder do Estado é exercido na máxima potencialidade que se conhece, não se
concebendo outra modalidade mais ampla;
- A exclusividade: o poder do Estado não é partilhável com mais ninguém ao seu nível de soberania,
sendo exercido somente pelo Estado nesse domínio territorial.

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Modalidades
- Já não é hoje possível alcançar uma total uniformidade na medida dos poderes
soberanos de que os Estados dispõem sobre cada uma destas modalidades.
- Não raras vezes são reconhecidos limites específicos à soberania territorial que sobre eles se projeta.

® O espaço terrestre corresponde à massa de terra seca, continental ou insular, onde o Estado, os
seus órgãos e respetivos cidadãos desenvolvem a sua atividade, espaço que, não obstante aquela
caracterização, física pode ainda incluir massas líquidas, assim globalmente distribuídas (terra seca,
cursos fluviais, lagos e lagoas).
® O espaço marítimo abrange a porção de água salgada que circunda o território terrestre, nalguns
casos podendo abranger ainda o solo e o subsolo marítimos.
® O espaço aéreo abrange a camada de ar sobrejacente aos espaços terrestres e marítimos
submetidos à soberania estadual até a um limite superior a partir do qual se considera existir o
espaço exterior, aí vigorando um regime internacional, e não já de soberania interna.

Casos em que existem poderes menos intensos, que não são de soberania:
- A zona contígua (espaço marítimo delimitado entre as 12 e 24 milhas, a seguir ao mar territorial em
que o Estado costeiro pode exercer poderes de fiscalização com vista a evitar ou reprimir violações às
suas leis e regulamentos internos)
- A zona económica exclusiva (espaço marítimo delimitado entre as 12 e as 200 milhas, a seguir ao mar
territorial, nela o Estado exercendo direitos preferenciais de aproveitamento dos recursos vivos aí
existentes, além de poderes de jurisdição e de fiscalização)

Os tipos históricos de Estado


- A realidade do Estado apresenta-se de um modo poliédrico, através de uma diversidade de soluções:
® Tipo constitucional de Estado – Estado de Direito ou Estado de Legalidade • Forma política de
governo ditadura ou democracia
® Forma de Estado – Estado unitário ou Estado composto
® Regime económico - capitalista ou socialista
® Sistema de governo – parlamentar, presidencial ou semipresidencial

Tipos históricos de Estado


® Estado oriental;
® Estado grego;
® Estado romano;
® Estado medieval;
® Estado moderno;
® Estado contemporâneo.

Tipo constitucional de estado – estado de direito ou de legalidade


- O princípio do Estado de Direito surge como um dos principais resultados do Constitucionalismo e do
Liberalismo, sedo a expressão firme da oposição ao sistema político precedente.
- O Estado Absoluto, quer na fase primeira de fundamentação divina do poder, quer na sua fase última
de poder inspirado na doutrina do Despotismo Esclarecido, de todo em todo atendia ao problema da
limitação jurídica do poder estadual.
- O poder político era criado e executado livremente pelo monarca, que em qualquer momento não só
o transformava como inclusivamente em si concentrava os seus diversos momentos de criação,
execução e controlo.
- Este foi o ambiente propício ao aparecimento do princípio do Estado de Direito, mas numa primeira
veste de uma simples construção doutrinária, no fito de reprimir a arbitrariedade do poder monárquico
absoluto (séc. XIX, ROBERT VON MOHL).

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- O conceito doutrinário de Estado de Direito compreendia a limitação jurídica do poder público segundo
um conjunto de regras que se impunham externamente ao próprio Estado. Foi contra aquele conjunto
de situações – em que reinava o puro modelo arbitrário – que o princípio do Estado de Direito de iria
formar.
- Sentido íntimo do Estado de Direito: a ideia de que a atuação do Estado, ou do poder político em geral,
longe de se desenvolver fora do Direito, se lhe deve submeter. Com isto se proscreveu,
perentoriamente, o arbítrio como critério de atuação do Estado, o mesmo se substituindo pela ideia
de racionalidade decisória.

Esta dimensão da limitação formal do Estado pelo Direito, mostrava-se bastante insuficiente e sobretudo muito
empobrecedora se vistas as potencialidades materiais que depois e extrairiam desse mesmo princípio.
Daí que tenha caminhado rumo à consagração de uma dimensão material do princípio do Estado de Direito,
pela qual se coloca igualmente em relevo um conjunto de limitações que internamente contêm o poder do
Estado.

- Assim se abriria o princípio de Estado de Direito ao Estado-Sociedade, para além da sua aplicação óbvia
ao domínio do Estado-Poder: a proteção dos direitos fundamentais, como as diversas limitações no
modo de atuação do poder na sua relação com os cidadãos.
- À dimensão material do princípio do Estado de Direito ainda se juntaria uma dimensão normativa,
transparecendo o objetivo de enquadrar o poder público no seio das novas exigências impostas pelo
Constitucionalismo na construção do sistema jurídico em geral.
- A experiência do Estado Constitucional não foi imune à existência de Estados e Ordens Constitucionais
que, formalmente se reivindicando de alguns postulados do Constitucionalismo, não podem reconduzir-
se a manifestações de Estado de Direito porque subverteram a sua essência.
- São aparências de Estados de Direito, devendo ser antes designados de Estados de Legalidade, nos quais
o Direito mais não é do que uma simplificação, ténue e até mesmo inexistente limitação ao poder
estadual.
- ESTADOS DE LEGALIDADE: o Direito e, em especial, a Constituição deixam de ser limites materiais,
externos e superiores ao poder público, maxime estadual, para servirem de disfarce ao seu exercício
arbitrário, ainda que na forma exterior todos os procedimentos decorressem dentro da mais rigorosa,
estrita e lapidar correção imposta pela legalidade meramente burocrática.
® o Direito não é o fundamento nem a medida da racionalidade do poder público, nem serve de
parâmetro da sua validade material: o Direito torna-se vazio, sendo substancialmente
preenchido ao sabor dos caprichos do poder instituído.

Forma institucional de governo: monarquia ou república


- A importância dogmático-constitucional da forma institucional de governo esvaziou- se com o tempo,
não se localizando já nos debates de primeira linha, depois da estabilização constitucional dos Estados.

ANTIGUIDADE CLÁSSICA – PLATÃO


- Patão distinguia aa formas de governo em razão do número dos governantes, bem
como da consideração do respetivo exercício:
® Monarquia ou tirania, conforme o poder de um só fosse conforme à lei ou atuasse sob o impulso
da avidez ou da ignorância.
® Aristocracia ou oligarquia, conforme o governo de vários respeitasse a lei ou não.
® Democracia ou demagogia, conforme o governo do povo agisse segundo o direito ou, em
decadência, fosse o governo sem lei nem limite.

ANTIGUIDADE CLÁSSICA – ARISTÓTELES


- Aristóteles apresentou formas de governo em razão do número de governantes,
assim como em nome de considerações éticas no exercício do poder:

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® Formas sãs – realeza (monarquia), a aristocracia e a politeia (“regime constitucional”), quando


procuravam o bem comum.
® Formas viciosas ou degeneradas – tirania, a oligarquia e a demagogia, procurando não o bem
comum, mas as vantagens para o próprio titular do poder.

IDADE MODERNA – NICOLAU MAQUIAVEL – simplificou as classificações anteriores propugnou somente a


distinção entre monarquia (principado) e a república.
CRITÉRIOS:
- No tocante ao número de governantes: a monarquia como poder de um indivíduo, ao passo que a
república seria o poder exercido por um colégio de personalidades, incluindo mesmo o colégio de todos
os eleitores.
- No tocante à fonte do poder: a monarquia representaria o exercício do poder por
direito próprio do monarca, ao passo que a república assentaria na ideia de que o
poder pertenceria ao povo ou nação, sendo delegado no conjunto dos governantes.
- No tocante à simbologia da chefia do Estado: a monarquia corresponderia a um chefe de Estado
hereditário, enquanto a república proibiria que isso acontecesse.

CHARLES DE MONTESQUIEU – distinção tripartida


- A monarquia como governo de um só, segundo leis fixas e estabelecidas ─ A república como governo
de uma parte ou do todo, segundo leis gerais ─ O despotismo como o governo de um só, segundo leis
arbitrárias.
® As formas institucionais monárquicas de governo foram as primeiras a desenvolver-se no
Direito Constitucional e dominaram o panorama histórico até precisamente ao nascimento do
Constitucionalismo e do Liberalismo.

Caracterização da monarquia
- MONARQUIA ROMANA: modelo vigente no primeiro período do Estado Romano, em que a sucessão
do rex surgia determinada por um critério eletivo, este governando em conjunto com os outros
poderes, legislativos e judiciais.
- MONARQUIA FEUDAL: modelo que viveu na Idade Média, em que o rei governava no contexto de
outros poderes, mas jamais com poderes amplos, sendo hereditária e situando-se na lógica do sistema
político do feudalismo.
- MONARQUIA LIMITADA: modelo que prevaleceu no período estamental do Estado Moderno, em que
o rei se contrapunha às ordens sociais, com assentos nos parlamentos, e de que foi grande exemplo a
monarquia britânica no lento processo de afirmação dos diversos textos constitucionais que
progressivamente lhe limitariam a atividade jurídico-pública.
- MONARQUIA ABSOLUTA: modelo da Idade Moderna tardia, em que se verificou o crescimento dos
poderes régios de intervenção, ao mesmo tempo que se apagariam os
outros poderes, no contexto do Estado Absoluto.
- MONARQUIA CESARISTA: modelo especificamente vivido no tempo do constitucionalismo
napoleónico, em que a posição jurídico-constitucional do “imperador dos franceses” se reivindicava de
uma legitimidade popular, de tipo plebiscitário, não hereditária ou religiosa.
- MONARQUIA CONSTITUCIONAL: modelo que permitiu a conciliação entre a antiga monarquia
absoluta e o novo regime constitucional, sendo o texto da Constituição outorgado pelo rei, que assim
aceita a limitação em que aquele sempre consiste, ai fixar as competências da instituição régia.
- MONARQUIA PARLAMENTAR: modelo que, numa fase mais amadurecida do Liberalismo e em que a
monarquia passou a conhecer os primeiros declínios, traduziu o compromisso entre a manutenção da
instituição monárquica cada vez mais contestada, e a sua crescente limitação procedimental e material
em aplicação da teoria da separação dos poderes, realçando-se a posição do parlamentar como órgão
representativo, por excelência, dos cidadãos.
- MONARQUIA SIMBÓLICA (OU DEMOCRÁTICA): modelo que atualmente predomina nos sistemas
constitucionais democráticos, não possuindo o rei quaisquer poderes efetivos de intervenção política,

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remetendo-se a um estatuto simbólico, sobretudo preponderante em estado com profundos


problemas de identidade nacional.

- Formas institucionais republicanas de governo, contrariamente às formas institucionais monárquicas,


estas formas são mais tardias e surgiram com particular vigor no contexto do constitucionalismo
® A afirmação deste conceito de república não foi propriamente uma absoluta novidade, antes a
revitalização de um conceito antigo.
® O princípio republicano, afirmado também no ideário constitucionalista, foi dos que
mais tarde – e mais paulatinamente – lograriam obter aceitação nos textos
constitucionais.

FUNDAMENTO DO PRINCÍPIO REPUBLICANO não deixa de estar intimamente associado ao princípio


democrático.
® É o que se verifica quanto à Chefia do Estado: a imposição de que ela deve ser atribuída a titulares
democraticamente designados significa que o acesso a tal órgão fica aberto a todos aos cidadãos, não
apenas àqueles, como sucede na monarquia, que nasceram no “berço monárquico”.

Regime político: ditadura ou democracia


- A indagação acerca das características de um sistema constitucional, numa perspetiva mais jurídico-
política, deve observar o modo como se organiza a relação entre os governantes e os governados, ou
seja, as relações entre o Estado-Poder e o Estado- Sociedade. A isto chama-se forma política de
governo.
Summa divisio:
® As ditaduras
o Correspondem à forma política de governo, vigente em certo sistema constitucional, em que
os governantes exercem um poder público efetivo e amplo, com indiferença ou mesmo contra
a vontade dos governados, o que se assinala na ocorrência de certos índices:
- Um poder amplo no seio das diferentes funções do Estado, com a prevalência das funções
exercidas pelo ditador.

- Um poder amplo na relação entre o poder político e os cidadãos, sem possibilidade de estes se
protegerem com direitos fundamentais dotados de efetividade.
- Um poder amplo na duração e por vezes perpetuação dos cargos públicos exercidos, com duração
indefinida e sobretudo não renovada pela legitimidade democrática desses mesmos cargos-.

CAUSAS
- A ausência de mecanismos de escolha dos governantes por parte dos governados.
- A ausência de instrumentos de limitação do exercício dos poderes governativos
- A ausência de instrumentos de controlo da atividade exercida pelos governantes

A INSPIRAÇÃO DAS DITADURAS pode ser variável em decorrência da doutrina que as justifica, para além do
setor populacional que exerce o poder:
- Bolchevismo – radica na conceção marxista-leninista de esquerda, implantado pelo Estado Socialista
da ex-URSS.
- Fascismo – radica na conceção totalitária de direita, dominante nos Estados fascistas e fascizantes.
- Caudilhismo – radica na conceção totalitária de direita, de inspiração militarista, comum nos Estados
da América Latina até aos anos setenta do séc. XX,

REPERCUSSÕES na organização do Estado e da Sociedade:


- Ditaduras autoritárias
- Ditaduras totalitárias
A distinção repousa na amplitude da ditadura no tocante à limitação da liberdade individual.

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® As democracias

- As democracias (demos – povo + kratos – poder político) representam organizações de poder político
em que os governados influenciam a atividade e o percurso dos governantes, sobre eles exercendo
um efetivo controlo.
- A concretização da forma política democrática nos textos constitucionais faz-se um apelo ao princípio
da soberania popular, na titularidade do povo e dela emanado e critério de escolha e de atividade do
Estado-Poder.

A democracia significa que o poder público postula uma relação de confiança com a comunidade política,
em que o respetivo exercício se submete a diversos controlos, jurídicos e políticos.
® A operacionalização da democracia depende da regra da maioria, segundo a qual a decisão
corresponde à vontade popular se determinada por um conjunto de cidadãos em número superior
ao daqueles que têm uma opinião contrária, regra da maioria que se fundamenta na igualdade da
intervenção de cada cidadão.

O fundamento da democracia com base na regra da maioria não pode querer dizer que as minorias se
consideram excluídas do sistema político ou se limitam a esperar a oportunidade de passarem a maioria
política.
® A democracia é deferente para com as minorias políticas, na medida em que são partes integrantes
do sistema político, numa lógica heracliteana, em que só pela dialética discursiva e pelo contraditório
político-ideológico se pode verdadeiramente legitimar a decisão política.

Nas democracias regista-se a efetiva presença dos governados no estatuto e no desempenho dos
governantes:
- a intervenção na escolha dos governantes, através de um esquema em que, direta ou indiretamente,
a sua vontade é decisiva na seleção daqueles.
- a intervenção da atividade levada a cabo pelos governantes, na medida em que esta se apresenta
limitada na distribuição de poderes entre os órgãos (separação de poderes) e no respeito por um
espaço de proteção dos cidadãos (direitos fundamentais).
- a intervenção na fiscalização dos atos dos governados, através da sua efetiva submissão a uma
atividade de controlo judicial e de natureza política.
- a intervenção na possibilidade da não redesignação dos governantes, com mandatos limitados no
tempo, e sempre com uma ponderação do mérito do trabalho desenvolvido.

Forma de Estado: simples ou composto


FORMA DE ESTADO relaciona-se diretamente com a unidade ou a pluralidade de estruturas estaduais e dos
eus elementos constitutivos, pelo que afigura possível fazer uma contraposição entre:
- Os Estados simples
São os esquemas mais elementares e simplificados da organização estadual, em que se regista uma
unidade dos respetivos elementos constitutivos, com:
® um só povo: uma única cidadania atribuída às pessoas que têm um vínculo jurídico-político
com o Estado.
® uma só soberania: uma única raiz do poder constituinte e dos outros poderes constituídos.
® um só território: um único espaço geográfico de aplicação da Ordem Jurídico
Estadual.

A soberania estadual guarda necessariamente para si as atribuições e as competências essenciais:


® o poder constituinte de elaborar a Constituição, que é por inerência do Estado. • o poder de
revisão constitucional, em que só o Estado intervém.
® o poder jurisdicional, reservado aos tribunais estaduais.

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- Os Estados compostos
ESTADOS COMLEXOS OU COMPOSTOS - têm-se definido em duas configurações:
® Estados Federais ou as Federações
- FEDERAÇÕES – Tiveram como primeiro exemplo os Estados Unidos da América a
partir de 1787, são entidades complexas juridicamente diversas dos Estados
Federados que as compõem, fundando-se num poder constituinte próprio que
segregou uma Constituição Federal, como é ali o caso da CNA.
A sua estrutura política, muitas vezes decalcada da realidade estadual simples, tem
uma natureza de sobreposição, porquanto os respetivos órgãos se afirmam distintos
dos órgãos estaduais e atuam num âmbito diverso daquele que foi deferido ao
âmbito próprio dos Estados federados.
® Uniões Reais
- UNIÕES REAIS – assentam numa estrutura de fusão entre o âmbito do Estado
composto e os Estados simples membros dessa associação.
Ainda que o Estado composto e os Estados simples que o integram mantenham a sua
individualidade mínima, há soluções de partilha no aproveitamento de certos órgãos,
que podem ser comuns.

Sistema de governo: parlamentar, presidencial ou semipresidencial


PARLAMENTARISMO – surgiu no contesto da evolução do Constitucionalismo Britânico, no qual bem cedo
a dimensão parlamentar foi desenhando fronteiras mais estreitas na ação do poder executivo monárquico.
® Neste sistema de governo – dotado de uma “unipolaridade política” – é no parlamento que
reside o fulcro da decisão política, hodiernamente em conjugação com o Governo, surgindo o
Chefe de Estado com uma dimensão enfraquecida no contexto dos órgãos de ação política do
Estado.
- Centralidade do Parlamento na decisão política, quer diretamente – “parlamentarismo de
assembleia” - quer indiretamente através do Governo – “parlamentarismo de gabinete”.
- Responsabilidade política do Governo perante o Parlamento, sendo aquele órgão executivo somente
uma emanação deste.
- Enfraquecimento político do Chefe de Estado, que dispõe de poucos ou nenhuns poderes efetivos,
não integrando o Governo (diarquia no executivo), e sendo-lhe reservadas unicamente funções
simbólico-representativas, sem a possibilidade de influenciar a ação política parlamentar e
governamental.

PRESIDENCIALISMO - nasceu com a experiência federal norte-americana, no qual se estabelecem dois


núcleos fundamentais de decisão pública, e que são o poder executivo e o poder legislativo, sendo aqui
evidente uma “bipolaridade política”.
® São dois poderes que se apresentam livres entre si quanto à sua subsistência política, ainda
que integrados no exercício de algumas competências, que acabam por ser partilhadas.
- A recíproca independência política do poder executivo e do poder legislativo, não
podendo aquele dissolver o parlamento, e não podendo este demitir aquele.
- A junção na mesma pessoa da titularidade do poder executivo, não havendo distinção
entre o Chefe de Estado, o primeiro-ministro e o Governo, por vezes nem havendo
ministros com competências próprias.
- A legitimidade político-popular do Chefe de Estado dada por eleições gerais, tornando-o
um elemento ativo no jogo político e rivalizando com o Parlamento, por definição em
Estado Constitucional com uma função representativa.

SEMIPRESIDENCIALISMO é um resultado mais recente do Constitucionalismo, tendo tido uma origem


europeia, ainda que apresentado diversas flutuações na sua morfologia e na sua origem histórico-geográfica.
® A ideia fundamental do semipresidencialismo é de uma trilogia política na ação entre poder
Chefe de Estado, o Parlamento e o Governo, todos eles com um campo de intervenção efetiva.

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- a diarquia no executivo, com efetiva distinção entre o Chefe de Estado e o Governo,


este liderado em maior ou menor grau de liberdade pelo Primeiro-Ministro.
- a legitimidade político-popular do Chefe de Estado, que fortalece a sua ação política, com uma
importante panóplia de poderes de intervenção junto do Parlamento e do Governo.
- a dupla responsabilidade política do Governo perante o Chefe de Estado e o
Parlamento, que o podem demitir por razões de confiança política.
- o poder de heterodissolução pelo Chefe de Estado, fazendo antecipadamente cessar a
legislatura parlamentar com base em razões político-institucionais, mais ou menos restritas.

Caracterização do Constitucionalismo Português


- O PRINCÍPIO DO ESTADO DE DIREITO assenta no pluralismo de elementos que concretizam a ideia geral
de que o poder público está submetido a regras que disciplinam a sua atuação, limitada por padrões que
não podem ser voluntaristicamente manipulados pelo próprio poder público.

SUB-PRINCÍPIOS
O princípio da dignidade da pessoa humana
- O princípio da dignidade da pessoa humana significa, de um modo geral, que a pessoa é colocada como
fim supremo do Estado e do Direito.
- Esta conceção geral visivelmente encontra nos direitos fundamentais a sua grande consagração, dado ser
esta categoria o instrumento técnico-jurídico que melhor se adequa à garantia dos valores que ela
transporta.
- A dignidade humana como critério de fundamentação do direito e dos direitos fundamentais em
particular, parte das características da (i) liberdade e da (ii) racionalidade da pessoa, antropologicamente
sustentada numa (iii) inserção social, garantindo o seu (iv) desenvolvimento pessoal.
- Nesta conceção da dignidade humana, a pessoa que se torna o centro da pauta de valores assume-se
nestas quatro vertentes:
o É a pessoa concreta e não o indivíduo abstrato do Liberalismo oitocentista – a pessoa situada
na História e não fora dela, vivendo no seu tempo e sentindo um conjunto de necessidades
de ordenação social.

PORTUGAL COMO ESTADO DE DIREITO


- O princípio do Estado de Direito apresenta-se com múltiplas facetas.
® A ideia básica da subordinação do Estado ao Direito encontra-se expressa no
preâmbulo e no artigo 2o da CRP:
è No preâmbulo, ao dizer-se que “A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender
a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios
basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para
uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um
país mais livre, mais justo e mais fraterno.
è Um dos preceitos iniciais (Artigo 2o, da CRP - Estado de direito democrático): com a precisa epígrafe de “A
República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de
expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efetivação dos direitos e
liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da
democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa. um Estado de
Direito Democrático”.

- O princípio da dignidade da pessoa humana significa, de um modo geral, que a pessoa é colocada como
fim supremo do Estado e do Direito.
- A dignidade humana como critério de fundamentação do direito e dos direitos fundamentais em
particular, parte das características da (i) liberdade e da (ii) racionalidade da pessoa,
antropologicamente sustentada numa (iii) inserção social, garantindo o seu (iv) desenvolvimento
pessoal.

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- Nesta conceção da dignidade humana, a pessoa que se torna o centro da pauta de valores assume-se
nestas quatro vertentes:
® É a pessoa concreta e não o indivíduo abstrato do Liberalismo oitocentista – a pessoa
situada na História e não fora dela, vivendo no seu tempo e sentindo um conjunto de
necessidades de ordenação social.
® é a pessoa solidária porque homo homini persona – a pessoa que está em relação com os
outros, atento às desigualdades reais (e não só da lei) através da consagração de direitos
de natureza social;
® é a pessoa-fim e não a pessoa-instrumento como nos transpersonalismos, de direita e de
esquerda, que o século XX infelizmente conheceu – a pessoa que se assume como a
finalidade última do Direito e do Poder, que não pode ser secundarizada em nome de bens
coletivos que espezinhem a sua dignidade elementar;
® é a pessoa essência e não a pessoa-existência, in feri, que se vai construindo ao sabor da
vida e da história pessoal – a pessoa como ser humano, que çpostula sempre certos
direitos, não se moldando ao sabor de conjunturas ou de evoluções de vida, mais ou menos
ocasionais.

O conceito de Constituição e dignidade humana é um conceito pluralista:


I. é um conceito supra-positivo – na medida em que precipite orientações
meta positivas, de raiz axiológica:
II. é um conceito normativo-legalista – ma medida em que expresse uma dada
conceção de poder de organização da sociedade, segundo opções políticas inteiramente
livres;
III. é um conceito de raiz sociológica – na medida em que reflita a consciência
social dominante.

Funções da dignidade da pessoa humana


® uma função legitimadora – que realça o seu papel de “porta para a eternidade”, colocando o
Direito Positivo sob a alçada do Direito Supra-Positivo. Esse é um conteúdo que se afirma segundo
uma conceção personalista do Direito, servindo a pessoa humana, concreta e socialmente situada;
® uma função integradora – que se coloca no plano suplementar da complementação dos catálogos
constitucionais de direitos fundamentais; o recursos ao princípio da dignidade da pessoa é possível
para a invocação de outros tipos de direitos fundamentais que não tenham logrado obter
consagração nesses catálogos;
® uma função interpretativa – que se situa, não já no plano das fontes, mas no da determinação das
respetivas regras, servindo a dignidade da pessoa como critério interpretativo auxiliar, perante
hipóteses de incerteza hermenêutica, em que se regista uma carência acrescida de valoração;
® uma função prospetiva – que se explica pelo facto de a dignidade humana, não sendo uma
realidade estática, permitir a sua progressiva concretização, forçando ao desenvolvimento do
Ordenamento Jurídico no sentido da sua maximização, segundo as circunstâncias sociais e
económicas.

Direito Constitucional Português e a dignidade da pessoa humana


® nos preceitos iniciais: “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa
humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e
solidária.” (Artigo 1, primeira parte, da CRP)
® nos preceitos sobre direitos fundamentais: “A lei estabelecerá garantias efetivas contra a
observação e utilização abusivas, ou contrárias à dignidade da pessoa humana, de informações
relativas às pessoas e famílias.” (Artigo 26, no 2, da CRP).

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No plano da jurisprudência constitucional portuguesa, não têm sido muitos os momentos para a densificação
prática e útil deste princípio, não obstante a facilidade com que o Tribunal Constitucional se refere ao princípio
da dignidade da pessoa humana.
É este, v.g, o caso do Ac. No 509/2002 do Tribunal Constitucional, de 19 de dezembro de 2002, que veio dar
razão ao pedido de fiscalização preventiva apresentado pelo Presidente da República na redução que então
se propunha ao regime de rendimento mínimo garantido.

O Princípio da juridicidade e da constitucionalidade


O princípio da juridicidade, com o que se mostra a vertente normativa do princípio do Estado de Direito,
implica que a estruturação do Ordenamento jurídico fique obedecendo a três características fundamentais:
• ser um sistema jurídico organizado dotado de unidade intrínseca;
• ser um sistema jurídico escalonado ou hierarquizado, encimado pelo texto constitucional;
• ser um sistema jurídico apetrechado com mecanismos de verificação das relações de
desconformidade com parâmetros superiores, podendo eliminá-los.

1. O primeiro aspeto do princípio da juridicidade explicita o sentido sistemático da Ordem Jurídica como
conjunto de normas e princípios, revelados através de fontes do Direito, sublinhando-se a sua
organização interna, qual “cosmos jurídico” dotado de coerência intrínseca.

2. O segundo aspeto do princípio da juridicidade assenta na impossibilidade de só se encontrarem


relações de paridade entre as diversas parcelas da Ordem Jurídica, frisando, no seu lugar, uma
ordenação hierárquica em nome de outros tantos critérios necessariamente aplicáveis como:
- a importância das matérias reguladas
- a autoridade dos órgãos que as produzem
- o âmbito subjetivo de aplicação dessas fontes.

3. O terceiro aspeto do princípio da juridicidade frisa que, em face da ordenação diferenciada do sistema
jurídico, são correspondentemente diversas as relações inter- normativas que se estabelecem, delas
sobressaindo as relações de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, tal implicando a
superioridade da Constituição por referência a a outros níveis normativos.

4. Para além da alusão geral que se faz na CRP, é de referir a direta positivação do princípio da
constitucionalidade, quer em termos substantivos, quer em termos adjetivos:
- No primeiro caso, “O Estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade
democrática.” (Art. 3o, no 2, da CRP)
- No outro caso, “A validade das leis e dos demais atos do Estado, das regiões autónomas, do
poder local e de quaisquer outras entidades públicas depende da sua conformidade com a
Constituição.” (Art. 3o, no 3, da CRP e Art. 111o/1, da CPR).

O Princípio da separação de poderes


- O princípio da separação de poderes, uma das mais antigas projeções do princípio do Estado de Direito
numa perspetiva organizatória, é dos poucos temas que se tem mantido atuante no pensamento
político e nos textos constitucionais dos séculos XIX e XX.

Assinaláveis mudanças se deram na transição do Estado Liberal para o Estado Social, fundamentalmente
cimentadas pela progressão verificada na proteção dos direitos fundamentais, bem como no alargamento das
tarefas materiais do Estado e do poder público em geral.

1. A conceção da teoria da separação do poderes ficou a dever-se a dois autores que, no século XVIII,
definitivamente a popularizaram, JOHN LOCKE e CHARLES SECONDAT MONTESQUIEU.
2. Segundo JOHN LOCKE, o poder político devia repartir-se por três distintas funções:
- o poder legislativo, enquanto capacidade para emitir leis, a ser entregue ao
parlamento como assembleia de representantes;

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- o poder executivo, enquanto faculdade de aplicação das leis aos casos concretos, através da
administração e através dos tribunais, a confiar-se ao rei e ao governo;
- O poder federativo, enquanto setor de gestão das relações internacionais do Estado, bem
como atinentes à segurança do Estado, também a ser cometido ao rei e ao seu governo;
- A “prerrogativa”, que funcionaria como poder residual e ilimitado do rei, para defesa do
Estrado perante situações anormais.

Para JOHN LOCKE, o poder legislativo do Estado deveria submeter-se a quatro limites:
(i) a igualdade de aplicação sem variação de casos particulares, como o rico ou o pobre, o cortesão oi o
campesino;
(ii) a vinculação das leis ao bem do Povo;
(iii) A necessidade do consentimento do Povo no aumento dos impostos;
(iv) A impossibilidade da atribuição de poderes legislativos a órgão diverso do
Parlamento.

3. Para CHARLES SECONDAT MONTESQUIEU, haveria que equacionar a existência de três poderes,
embora na substância diferentes do proposto por JOHN LOCKE:
(i) o poder legislativo, próximo do de JOHN LOCKE, a atribuir ao Parlamento, segundo o qual se
emitiriam os atos legislativos.
(ii) o poder executivo, nele se incorporando o poder federativo de JOHN LOCKE, que se traduziria na
capacidade da administração interna e externa do Estado, a desenvolver pelo rei e pelo seu governo;
(iii) o poder judicial, distinto do poder executivo de JOHN LOCKE, pelo qual se aplicaria o Direito,
entregue aos tribunais.

4. A conceção liberal dos poderes, era uma conceção marcadamente orgânico- funcional, segundo a qual
cada órgão do Estado exerceria uma função do Estado: (i) o órgão parlamentar, a função legislativa, (ii)
o órgão executivo, a função administrativa (iii) e o órgão judiciário, a função jurisdicional.

5. A separação dos poderes desenvolveu-se em duas importantes direções, com o escopo comum de
defesa dos cidadãos frente ao poder político:
(a) o primado da lei, pela qual só se admitiria a intervenção do Estado nos direitos dos cidadãos
através da lei prévia, geral e abstrata;
(b) a defesa desses direitos em face de atos antijurídicos a cargo dos tribunais independentes,
os quais poderiam depreciá-los.

6. Os acontecimentos que estiveram na génese do Estado Social do século XX impuseram algumas


importantes transformações, sobretudo na ligação entre as funções legislativas e administrativas,
alterações essas (no plano funcional e no plano orgânico) que contribuíram para a sua relativização
enquanto princípio constitucional intemporal.

7. TRANSFORMAÇÕES FUNCIONAIS
Numa ótica funcional, a característica da normatividade que era apanágio da função legislativa do
século XIX mudaria radicalmente, aparecendo as leis individuais e as leis gerais e concretas.

8. TRANSFORMAÇÕES ORGÂNICAS
Do ponto do vista orgânico, a função legislativa deixou de ser monopólio parlamentar, passando a ser
partilhada, a diversos títulos, pelo órgão executivo, cumprindo evidenciar as modalidades das
competências autorizada, complementar e de necessidade.
Motivos: (i) maior tecnicidade que a lei passou a exigir, em certos termos incompatível com a
produção parlamentar, e (ii) a celeridade com que a produção legislativa teve de ser encarada.

9. Outros tópicos (na formatação da teoria da separação de poderes)

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® entre o Estado e as estruturas descentralizadas dotadas de poder legislativo, pela atribuição


de poderes no âmbito da função legislativa às regiões autónomas;
® entre o Estado-poder e o Estado-comunidade, através de mecanismos referendários;
entre o Estado-poder e o Estado-comunidade, corporativamente constituído, através de
mecanismos de concertação legislativa, em que se presencia a progressiva contratualização
das decisões legislativas;
® entre a maioria e a oposição, por força da democratização generalizada dos órgãos
legislativos e executivos, observando-se que as grandes contraposições políticas estão
necessariamente relacionadas com o sistema partidário

10. É toda esta gradual e complexa sedimentação do princípio da separação de poderes que a CRP
consagra, em preceito que lhe está especificamente dedicado, com a moderna epígrafe de “Separação
e interdependência”: “Os órgãos de soberania devem observar a separação e a interdependência
estabelecidas na Constituição.” (Art. 111o, da CRP)

O Princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança


- Princípio do estado de direito manifesta-se também no princípio da proteção da confiança
- O Estado de Direito exige um tratamento / comportamento conforme à confiança.
- O Estado encontra-se vinculado a um dever de boa fé ( ou seja, de cumprimento substantivo, e não
meramente formal, das normas e de lealdade e respeito pelos particulares
- Não está expresso explicitamente na CRP.
- Mas art. 2, quando fala de EDD, está implícito que o estado tem de proteger a
confiança, agir de boa fé e respeitar a palavra dada.
- A segurança jurídica reconduz-se a proteção de confiança, tal como a
jurisprudência e a doutrina constitucionais do Estado de Direito Ø De que depende uma violação do
princípio da proteção da confiança?
- Atenção: direitos adquiridos (por lei, contractos, etc.) são diferentes dos direitos fundamentais
(Direitos, liberdades e garantias, consagrados na CRP)
® o Art. 18 refere-se aos fundamentais
- Num estado de direito, os direitos adquiridos

Para que a proteção da confiança opere, é preciso:


1. Que haja uma situação de confiança que merece ser tutelada
- Que o Estado crie, através de um comportamento, uma espectativa de
continuidade daquele comportamento
2. Justificação ou legitimidade para a situação de confiança o Legitima face ao ordenamento jurídico,
legal
3. Investimento de confiança
- Com base na confiança que o Estado passou, tomei decisões que não
tomaria de outro modo
- Investimento de tempo e dinheiro
- Assim, este investimento merece ser tutelado

Mesmo assim pode não ser suficiente: vai haver uma ponderação se se justifica sacrificar a confiança em
prol de um objetivo maior à Razões ponderosas do interesse público
- As razões que justificam as medidas são suficientemente ponderosas para o sacrifício que se impõe
ao violar a confiança

É preciso que haja uma frustração da confiança: a. Momento em que o Estado frustra:
- desde que não haja interesses ponderosos públicos (de todos, não é um interesse abstrato) que
justifiquem o sacrifício de uma situação de confiança.

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- Grau de confiança e peso do interesse público;

Momento de Ponderação:
- se a frustração é justificativa ou não no caso concreto (à semelhança da
proporcionalidade em sentido estrito)
- tutela de confiança com os interesses constitucionalmente protegidos:
® margem de livre decisão do legislador
® o princípio democrático – interesses que justifiquem a intervenção
legislativa retroativa, retrospetiva ou apenas para o futuro, em violação das expectativas e os
prejuízos causados com essa intervenção;
o Há um controlo dos mínimos da lei retrospetiva, mas quando a lei é retroativa o controlo
é mais intenso;

Princípio da determinabilidade das leis:


- Princípio da precisão ou determinabilidade dos atos normativosà conformação material ou
formal dos atos normativos em termos linguisticamente claros, compreensíveis e não
contraditórios
- em assuntos relevantes posso exigir leis claras, densificadas que permitam retirar uma regra
de conduta, para que possa ajustar o meu comportamento face a ela.
- Nenhum funcionário publico saberia em que casos a lei poderia ou não ser apicada. E.: “tu
não és do meu partido, vais para a rua”. Assim, esta lei não é suficientemente determinada
Reconduz-se a duas ideias fundamentais:
1. Exigência de clareza das normas legais
- De uma lei obscura ou contraditória pode não ser possível, através da
interpretação, obter um sentido inequívoco capaz de alicerçar uma solução jurídica para o
problema concreto
2. Exigência de densidade suficiente
- Um ato legislativo que não contém uma disciplina suficientemente concreta (
= densa, determinada) não oferece uma medida jurídica capaz de:

I. Alicerçar posições juridicamente protegidas dos cidadãos


II. Constituir uma norma de atuação para a administração
III. Possibilitar, como norma de controlo, a fiscalização da legalidade e a defesa dos direitos e
interesses dos cidadãos

® Para existir segurança jurídica:


- Publicidade dos atos do poder público e dos procedimentos da respetiva formação;
- Certeza, como conhecimento exato das normas aplicáveis, da sua vigência, das suas condições
de aplicação e da fixação do comportamento dos destinatários;
- Compreensibilidade, como clareza das expressões verbais das normas e suscetibilidade de
compreensão pelo homem médio;
- Razoabilidade, como não arbitrariedade, adequação às necessidades coletivas e coerência
interna das normas
- Estabilidade, como garantia de um mínimo de permanência das normas, por uma parte, e
garantia dos atos e dos efeitos jurídicos produzidos
® A segurança jurídica reconduz-se a proteção de confiança, tal como a jurisprudência e a doutrina
constitucionais do Estado de Direito democrático a têm interpretado;
o Proibição genérica da retroatividade das leis

A ideia de segurança jurídica está patente na Constituição:


- Necessária abstração das leis restritivas de direitos, liberdades e garantias
- Na consequente proibição de leis restritivas e efeito retroativo

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- Na sujeição das leis que estabeleçam condicionamentos a análogas prescrições


- Na proibição de impostos de natureza retroativa
- Necessária fundamentação das decisões dos tribunais que não sejam de mero
expediente e dos atos administrativos que afetem direitos ou interesses legalmente
protegidos
- Fixação dos efeitos de declaração de inconstitucionalidade pelo TC por razões de
segurança jurídica;

Refrações mais importantes do princípio da segurança jurídica:


a) Quanto a atos normativos -> Proibição de normas retroativas restritivas de
direitos ou interesses juridicamente protegidos;
b) Quanto a atos jurisdicionais -> inalterabilidade do caso julgado

I. Estabilidade -> dado que as decisões dos poderes públicos uma vez adotadas, na forma e procedimento
legalmente exigidos, não devem poder ser arbitrariamente modificadas, sendo apenas razoável a alteração
das mesmas quando corram pressupostos materiais
® Caso julgado assenta na estabilidade definitiva

II. Previsibilidade à do princípio da segurança jurídica que, fundamentalmente, se reconduz à exigência de


certeza e calculabilidade, por parte dos cidadãos, em relação aos efeitos jurídicos dos atos normativos

c) Quanto a atos da administração -> tendencial estabilidade dos casos decidiso através de atos
administrativos constitutivos de direitos
- Goza de tendencial imutabilidade que se traduz:
I. Na Auto vinculação da administração na qualidade de autora
do ato e como consequência da obrigatoriedade do ato
II. Na tendencial irrevogabilidade do ato administrativo a fim de salvaguardar os
interesses dos particulares destinatários do ato

Princípio da igualdade
1. O princípio da igualdade é uma realidade forçosamente presente no amplo princípio do Estado de
Direito, desta feita, voltando a ter uma incidência material.
Só que este princípio em muito transcende a dimensão constitucional, situando-se como um
dos princípios constitutivos da ideia de sistema jurídico, sem a qual o mesmo nem sequer
poderia conceber-se.

2. O princípio da igualdade reside numa relação triangular, na qual se confrontam as realidades em


comparação, sob o prisma da disciplina jurídica que se quer estabelecer. Nestes termos, o princípio da
igualdade vai assumir duas dimensões distintas, mas absolutamente complementares.
- uma dimensão igualizadora: tratar igualmente o que é igual;
- uma dimensão diferenciadora: tratar diferentemente o que é desigual.

O ponto focal do princípio da igualdade reside na apreciação material da diferença ou da identidade das
situações sob o ponto de vista da disciplina jurídica a ficam sujeitas.

3. A CRP é sensível, em diversos dos seus preceitos, ao princípio da igualdade, mas a formulação mais
solene e geral de todas consta do respetivo art. 13°
Artigo 13° (Princípio da igualdade)
® O art. 13o contém, desta perspetiva, dois incisos fundamentais:
- a imposição geral da igualdade: “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social
e são iguais perante a lei.”

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- a proibição de tratamento arbitrário e discriminatório, negativo e positivo: “Ninguém pode


ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer
dever ...

4. A CRP fornece, no art. 13°, ao intérprete-aplicador do princípio da igualdade uma listagem de


critérios ou índices que, a priori, não considera legítimos para fundar um tratamento diferenciado,
positivo ou negativo:
® Este elenco é meramente exemplificativo e é possível aplicar outros critérios para fundar um
tratamento desigualitário ilegítimo, ora recorrendo ao conceito geral de igualdade, ora
recorrendo a outros preceitos pertinentes em matéria de igualdade.

Exemplifica este caso através do recurso à DUDH, cujo preceito inicial permite ampliar a listagem
daqueles critérios, para além de conter um índice geral residual, como sucede com a matéria da “origem
nacional” ou com a matéria do “nascimento”.
(Artigo 2)

O princípio da proporcionalidade

I – A configuração do princípio da proporcionalidade assenta numa limitação material interna à atuação


jurídico-pública de caráter discricionário, contendo os efeitos excessivos que eventualmente se apresentem
na edição das providências de poder público de cariz ablatório para os respetivos destinatários.

II – Juízo de proporcionalidade – a proporcionalidade de um efeito jurídico no seio da Ordem Jurídica carece,


como pressuposto essencial, de uma ponderação entre os meios que esses efeitos representam e as
finalidades que se assinalam à respetiva consecução.

III – A ideia de proporcionalidade desdobra-se em três vertentes fundamentais.


a) a adequação
b) a necessidade
c) A racionalidade ou proporcionalidade em sentido estrito.

A vertente da adequação ilustra a relação de idoneidade que deve existir entre a providência que se
pretende tomar e o fim que a mesma se propõe alcançar, através da respetiva regulação parametrizante,
fim que legitimamente se considera pertinente: a providência é adequada se se apresentar apta à obtenção
do resultado que lhe foi normativamente destinado.

A vertente da necessidade mostra como, perante uma providência que já se considere adequada, se impõe
fazer u juízo a respeito da sua indispensabilidade no leque de providências que sejam equivalentemente
consideradas aptas à obtenção do resultado pretendido: a providência é necessária se outra não houver que
seja, do ponto de vista da respetiva lesividade, menos gravosa.

A vertente da racionalidade explicita o teor material da providência enquanto conjunto atomístico de efeitos
jurídicos ablativos para a esfera jurídica dos destinatários, determinando uma sua delimitação negativa
interna: a providência é racional caso os efeitos escolhidos, dentro do tipo de medida ou de efeito
especificamente considerado adequado e necessário, se apresentem equilibrados, em acordância com a
avaliação entre os custos a suportar e os benefícios a atingir.

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