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CIÊNCIA POLÍTICA E

DIREITO CONSTITUCIONAL II
A FUNÇÃO LEGISLATIVA E OS ATOS LEGISLATIVOS

TEMA
Temas a desenvolver na aula

A função legislativa e os atos legislativos


― A função legislativa
• Definição: perspetivas
• Função legislativa e outras funções do Estado
• Princípios do desempenho legislativo
• Problemas fundamentais
― A reserva de lei a competência legislativa
• A reserva de lei
• A distribuição da competência legislativa horizontal e vertical
― Os atos legislativos
• Tipos dos atos legislativos
JOÃO LUZ SOARES
Temas a desenvolver na aula

A função legislativa e os atos legislativos


― As leis orgânicas
• Definição: perspetivas
― Os atos legislativos de bases e de desenvolvimento
― As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados
― A apreciação parlamentar de atos legislativos

JOÃO LUZ SOARES


A função legislativa

I A função legislativa pode definir-se sob quatro perspetivas:


• no plano material – a função legislativa expressa a definição de grandes opções
da comunidade e do Estado, numa ampla descoberta do interesse geral;
• no plano formal - a função legislativa exerce-se com plena liberdade de opção,
respeitando as características típicas do pluralismo e da publicidade que lhe são
inerentes;
• no plano orgânico - a função legislativa é diretamente dependente do povo na
perspetiva da sua legitimação democrática;
• no plano hierárquico - a função legislativa é localizada logo abaixo da função
constitucional, exprimindo a ordenação conjuntural da sociedade.
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A função legislativa

II Falar da função legislativa só se percebe integralmente quando ela surge


confrontada com outras funções do Estado, delas se diferenciando:
• a função constitucional, por intermédio da qual se estrutura o estalão supremo
da Ordem Jurídica, quer originariamente na produção de uma nova
Constituição, quer supervenientemente quando ocorram intervenções
posteriores que a alterem;
• a função política, senso estra bastante próxima da função legislativa, mas dela
se separando por não originar ca atos com forma de lei e por normalmente não
oferecer conteúdo normativo, relacionando-se com a dinâmica interna do
sistema político JOÃO LUZ SOARES
A função legislativa

II • a função administrativa, que traduz a definição do interesse público mais


específico das pessoas na satisfação das suas necessidades materiais essenciais,
de segurança, cultura, bem-estar, ora pela produção de atos jurídico-
normativos, ora pela produção de atos materiais;
• a função jurisdicional, que se caracteriza pela aplicação do Direito, numa ótica
de composição de litígios, segundo uma lógica de independência da judicatura
relativamente a outros órgãos.

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A função legislativa

III PRINCÍPIOS do desempenho legislativo


• o princípio da competência – os órgãos em certo momento competentes para a
emissão de atos legislativos não o podem deixar de ser por simples vontade
sua, ou através de um mecanismo de delegação. As alterações de competência
têm de estar previstas constitucionalmente e não são permitidas vicissitudes de
competência fora dessas condições;
• o princípio da tipicidade – fixa a necessidade de se conferir força legal apenas
aos atos que, como tal, são constitucionalmente considerados, nunca podendo
qualquer outro ato, para si próprio ou para terceiro, arrogar-se de possuir uma
eficácia jurídica diversa daquela definida pela CRP para tal tipo de ato jurídico.
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A função legislativa

III • o princípio da vinculação funcional – implica que, apesar do igual


posicionamento hierárquico, certos atos legislativos poderão prevalecer sobre
outros em razão da especial função que desempenham, não podendo ser
revogados sem que o ato revogando os substitua nessa mesma função
ordenadora.

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A função legislativa

IV PROBLEMAS FUNDAMENTAIS
PROBLEMA 1: Uma das principais questões que têm acompanhado a caracterização
da função legislativa é saber se os respetivos atos devem necessariamente possuir
normatividade ou se, pelo contrário, são admissíveis manifestações legislativas
não normativas, como as leis-medida.

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A função legislativa

IV PROBLEMAS FUNDAMENTAIS
RESPOSTA: Conclui-se, depois da análise cuidadosa dos elementos do Direito
a)
Constitucional Positivo, que são vários os índices que apontam para, em certos
usos da legislação, ela dever ser normativa, cumprindo frisar o mais importante de
todos: a restrição de direitos, liberdades e garantias, que se realiza por ato
legislativo, exigindo-se que o mesmo revista “…carater geral e abstrato…” (Art. 18º, nº
3, primeira parte, da CRP)

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A função legislativa

IV PROBLEMAS FUNDAMENTAIS
RESPOSTA: Outro exemplo que pode ser invocado é o da legislação penal, para a
qual são várias as exigências de generalidade que a CRP impõe.
Quedam-se por aqui as indicações seguras, pelo que não se pode erigir a
b)
NORMATIVIDADE a característica geral dos atos legislativos. As leis-medida são,
assim, legítimas, mas na condição de os respetivos efeitos individuais e concretos
não questionarem os princípios constitucionais aplicáveis, sobretudo o da
igualdade, embora este problema não lhes seja específico, a tal exame se
sujeitando a toda e qualquer manifestação de poder público infraconstitucional.
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A função legislativa

IV PROBLEMAS FUNDAMENTAIS
PROBLEMA 2: Outro dos problemas fundamentais na definição da função
legislativa refere-se à existência ou não de uma separação material frente às
outras funções jurídico-públicas, principalmente a função administrativa.
Por outras palavras: pergunta-se se há uma reserva material das diversas funções
jurídico-públicas, num debate que se tem essencialmente centrado entre a função
legislativa e a função administrativa.
Em certas matérias, o texto constitucional procede a uma caracterização material
da função legislativa e da função administrativa.
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A função legislativa

IV PROBLEMAS FUNDAMENTAIS
Em certas matérias, o texto constitucional procede a uma caracterização material
da função legislativa e da função administrativa, indexando atos com esta
designação a certas disciplinas jurídicas que importa fazer, sendo de referir dois
casos, um na especialidade e outro na generalidade:
• na especialidade, está a restrição legislativa de direitos, liberdades e garantias,
pois que se sabe que esta disciplina jurídica restritiva implica a intervenção
legislativa;

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A função legislativa

IV PROBLEMAS FUNDAMENTAIS
• na generalidade, nos casos de reserve de competência legislativa parlamentar,
também implicitamente se impõe uma reserva de ato legislativo, devendo essas
matérias ser disciplinadas por um ato com aquela natureza.

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A função legislativa

IV PROBLEMAS FUNDAMENTAIS
RESPOSTA: No mais, não se assinalam quaisquer linhas materiais diferenciadoras
entre a função legislativa e a função administrativa: de um modo geral, e além
daquelas reservas enunciadas, em domínios mais ou menis amplos, não há reserva
geral material da função legislativa.

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A reserva de lei a competência legislativa

I A RESERVA DE LEI
O sentido fundamental da consagração da reserva de lei acarreta a abolição de
outras modalidades de atos jurídico-públicos para levar a cabo a disciplina
jurídico-normativa que se pretende: se há reserva de lei num dado assunto, não
há lugar à intervenção de atos jurídico-públicos de outra natureza.
Consequentemente, a adoção da reserva de lei para certo regime jurídico elimina a
a possibilidade de esse mesmo regime jurídico ser normativamente versado pelo
recurso a outras instâncias normativas, incluídas noutras funções jurídico-públicas.

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A reserva de lei a competência legislativa

II A RESERVA DE LEI
A reserva de lei pode igualmente operar dentro dos específicos atos legislativos
que o sistema constitucional concebe, aparecendo neste caso a reserva de lei como
uma reserva de certas leis ou de certos atos legislativos.
Dai que a reserva de lei se subdivida noutras tantas modalidades, conforme os
critérios operativos para gizar as suas mais importantes contraposições:
• a reserva de Constituição e a reserva de lei;
• a reserva de lei total e a reserva de lei parcial;
• a reserva de lei nacional e a reserva de lei regional
• a reserva de lei parlamentar e a reserva de lei governamental.
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A reserva de lei a competência legislativa

V A DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA


A distribuição da competência legislativa fica melhor compreendida se lançarmos
mão da tipologia da competência legislativa prevista no Direito Constitucional
Português, apartando essas competências em razão de um fundamental critério de
titularidade das mesmas:
• uma distribuição horizontal;
• uma distribuição vertical.

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A reserva de lei a competência legislativa

V A DISTRIBUIÇÃO HORIZONTAL

A A distribuição horizontal acontece dentro de cada pessoa coletiva com


competência legislativa, sendo viável aí vislumbrar diversas possibilidades de
repartição de tarefas no plano da legiferação.
É na perspetiva da distribuição horizontal que, dentro do Estado, a CRP concebe a
atribuição da competência legislativa – ou seja, a faculdade de produzir atos
legislativos – a dois órgãos de soberania: a Assembleia da República e o Governo.

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A reserva de lei a competência legislativa

V A DISTRIBUIÇÃO HORIZONTAL

A A partilha da função legislativa por estes dois órgãos sugere a sinalização de quatro
categorias de competência legislativa:
• a competência legislativa parlamentar exclusiva: o conjunto das matérias em
que só a Assembleia da República pode legislar, nelas se encontrando o núcleo
Mais relevante da legiferação que se concebe, em homenagem à importância
político-legislativa deste órgão;

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A reserva de lei a competência legislativa

V A DISTRIBUIÇÃO HORIZONTAL

A • a competência legislativa parlamentar delegável: o conjunto das matérias em


que só a Assembleia da República pode legislar, mas em que igualmente pode
optar por delegar a respetiva legiferação no Governo através de uma
autorização legislativa;
• a competência legislativa governamental exclusiva: o conjunto das matérias em
que o Governo legisla, com caráter de exclusividade, não se concebendo a
possibilidade da sua delegação a outros órgãos, maxime a Assembleia da
República;
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A reserva de lei a competência legislativa

V A DISTRIBUIÇÃO HORIZONTAL

A • a competência legislativa concorrente: o conjunto das matérias, de longe o mais


largo de todos, em que tanto a Assembleia da República como o Governo
podem livremente legislar, produzindo atos que podem mutuamente modificar-
se ou revogar-se.

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A reserva de lei a competência legislativa

V A DISTRIBUIÇÃO VERTICAL

B As Regiões Autónomas têm importantes matérias que lhe são atribuídas sob a ótica
da sua competência legislativa, a qual se apresentas do seguinte modo:
• a competência legislativa regional primária: aprovar decretos legislativos
regionais, no âmbito da sua autonomia legislativa;
• a competência legislativa regional autorizada: aprovar decretos legislativos
regionais em matérias que, sendo de reserva relativa da Assembleia da
República, carecem da autorização legislativa desta;

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A reserva de lei a competência legislativa

V A DISTRIBUIÇÃO VERTICAL

B • a competência legislativa regional de desenvolvimento: aprovar decretos


legislativos regionais de densificação das bases de regimes gerais, nos casos em
que esse desenvolvimento não esta vedado à competência legislativa regional.

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A reserva de lei a competência legislativa

V A COMPETÊNCIA LEGISLATIVA EXTRAORDINÁRIA ou ESTADO DE NECESSIDADE


LEGISLATIVA
C
Pode ocorrer uma situação em que os termos por que a competência legislativa se
encontra estabelecida não sejam satisfatórios do ponto de vista do
apetrechamento do poder público – estadual ou regional – para a prossecução do
interesse geral.

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A reserva de lei a competência legislativa

V A COMPETÊNCIA LEGISLATIVA EXTRAORDINÁRIA ou ESTADO DE NECESSIDADE


LEGISLATIVA
C
Pode ocorrer uma situação em que os termos por que a competência legislativa se
encontra estabelecida não sejam satisfatórios do ponto de vista do
apetrechamento do poder público – estadual ou regional – para a prossecução do
interesse geral.

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Os atos legislativos

I TIPOS DOS ATOS LEGISLATIVOS


❶As leis orgânicas da Assembleia da República
❷As leis (stricto senso) da Assembleia da República
❸Os decretos-leis do Governo
❹Os decretos legislativos regionais das Assembleias Legislativas das Regiões
Autónomas.

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Os atos legislativos

II TIPOS DOS ATOS LEGISLATIVOS


❶As leis orgânicas da Assembleia da República
❷As leis (stricto senso) da Assembleia da República
As leis da Assembleia da República apresentam nos dias de hoje alguma
complexidade, não sendi correto dizer-se que há uma lei da Assembleia da
Republica, quando, na verdade, há várias leis da Assembleia da República, pela sua
função ordenadora, requisitos procedimentais ou qualificações formais:
• em razão da forma de lei: as leis orgânicas e as leis (as leis constitucionais
pertencem à função e atos constitucionais);
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Os atos legislativos

II TIPOS DOS ATOS LEGISLATIVOS


❶As leis orgânicas da Assembleia da República
❷As leis (stricto senso) da Assembleia da República

• em razão da intensidade da legiferação: as leis de bases, as leis de autorização


ao Governo e às Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas, as leis-
quadro e as leis materiais.

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Os atos legislativos

II TIPOS DOS ATOS LEGISLATIVOS


❶As leis orgânicas da Assembleia da República
❷As leis (stricto senso) da Assembleia da República

As leis reforçadas assumem uma especial força preferente no confronto com


outras leis, em parte por razões específicas ditadas pelo regime a que se
submetem ou em razão de possuírem ema força subordinante de outros atos
legislativos.

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Os atos legislativos

III TIPOS DOS ATOS LEGISLATIVOS


❸Os decretos-leis do Governo

Os atos legislativos do Governo do Estado assumem a forma de decretos-leis e são


necessariamente aprovados em Conselho de Ministros que é a estrutura mais
ampla de atuação do Governo na sua dimensão colegial.

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Os atos legislativos

II TIPOS DOS ATOS LEGISLATIVOS


❸Os decretos-leis do Governo

O Governo tem a possibilidade de emitir quatro tipos de atos legislativos:


• os decretos-leis exclusivos: (Art. 198º, nº 2, da CRP) “É da exclusiva competência
legislativa do Governo a matéria respeitante à sua própria organização e
funcionamento.”
• os decretos-leis concorrentes: (Art. 198º, nº 1, al. a), da CRP) “Fazer decretos-leis
em matéria não reservada à Assembleia da República.”
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Os atos legislativos

II TIPOS DOS ATOS LEGISLATIVOS


❸Os decretos-leis do Governo

• os decretos-leis autorizados: (Art. 198º, nº 1, al. b), da CRP) “Fazer decretos-leis em


matéria de reserva relativa da Assembleia da República, mediante autorização
desta.”
• os decretos-leis de desenvolvimento: (Art. 198º, nº 1, al. c), da CRP) “Fazer decretos-
leis de desenvolvimento dos princípios ou das bases gerais dos regimes jurídicos
contidos em leis que a eles se circunscrevam.”
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Os atos legislativos

IV TIPOS DOS ATOS LEGISLATIVOS


❹Os decretos legislativos regionais das Assembleias Legislativas das Regiões
Autónomas.

Os decretos legislativos regionais - os atos legislativos das Regiões Autónomas –


são os seguintes:
• os decretos legislativos regionais exclusivos: emitidos ao abrigo da competência
legislativa regional primária;

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Os atos legislativos

IV TIPOS DOS ATOS LEGISLATIVOS


❹Os decretos legislativos regionais das Assembleias Legislativas das Regiões
Autónomas.

• os decretos legislativos regionais autorizados: emitidos ao abrigo da


competência legislativa regional autorizada pela República;
• os decretos legislativos regionais de desenvolvimento: emitidos ao abrigo da
competência legislativa regional de desenvolvimento das bases gerais de
regimes jurídicos.
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As leis orgânicas

I Traço fundamental da constelação dos atos legislativos é a categoria das leis


orgânicas, uma criação da IV revisão constitucional, e que passaram a representar
uma autónoma modalidade de ato legislativo, com nunmeração,própria no Diária
da República (DR).

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As leis orgânicas

II O que dá consistência lógica à introdução da lei orgânica radica na ideia de que há


matérias que, pela sua importância, devem submeter-se a um regime jurídico-
constitucional, no plano da sua produção, mais abrangente sob o ponto de vista do
concurso das vontades para o levar por diante.

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As leis orgânicas

III As particularidades do desenho constitucional das leis orgânicas tomam por


referência os parâmetros da Lei da Assembleia da República e o procedimento
legislativo parlamentar:
• no plano subjetivo, tal como as leis, as leis orgânicas são da competência
exclusiva da Assembleia da República, não existindo idêntico fenómeno com o
Governo e as Regiões Autónomas. (Art. 166º, nº 2, da CRP)
• no plano material, as leis orgânicas, logo a seguir à lei de revisão constitucional,
correspondem às matérias de maior importância legislativa. (Cfr. as matérias das
als. a) a f), h), j), primeira parte da al. l), q) e r) do art. 164º e do art. 255º da CRP)

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As leis orgânicas

III • no plano procedimental, as leis orgânicas implicam a necessidade de a sua


cotação final global ser feita por maioria absoluta dos Deputados em
efetividade de funções. (Art. 168º, nº 5, da CRP)
• no plano formal, a lei orgânica recebe uma forma legislativa privativa, distinta
da das outras leis, tendo, por isso, uma numeração, própria.
• no plano garantística, a fiscalização preventiva da constitucionalidade das leis
orgânicas tem um apreciável alargamento da legitimidade processual ativa no
respetivo pedido, incluindo também o Primeiro-Ministro e um quinto dos
Deputados da Assembleia da República.
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Os atos legislativos de bases e de desenvolvimento

I Um primeiro caso de competência legislativa peculiar é o da relação entre a lei de


bases gerais, aprovada pela Assembleia da República e o decreto de
desenvolvimento das bases, sendo certo que entre eles se estabelece uma
vinculação específica, porque segundo a CRP “As leis e os decretos-leis têm igual
valor, sem prejuízo da subordinação às correspondentes leis dos decretos-leis (…)
que desenvolvam as bases gerais dos regimes jurídicos.” (Art. 112º, nº 2, da CRP)

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Os atos legislativos de bases e de desenvolvimento

I Em sentido confirmativo do que aqui se diz está outro preceito que delimita a
competência legislativa do Governo: “Compete ao Governo, no exercício das suas
funções, legislativas (…) fazer decretos-leis de desenvolvimento dos princípios ou
das bases gerais dos regimes jurídicos contidos em leis que a eles se
circunscrevam.” (Art. 198º, nº 1, al. c), da CRP)

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Os atos legislativos de bases e de desenvolvimento

I CONCLUSÃO
O entendimento que se retira é o da prevalência dos princípios ou das bases dos
regimes jurídicos criados pela Assembleia da República, os quais devem ser
obedecidos pelo Governo quando este se propõe densifica-los em decretos-leis
de desenvolvimento.
A relação que se fixa entre os atos legislativos de bases e os atos legislativos de
desenvolvimento não é de natureza hierárquica, mas é de cunho funcional,
assinalando-se a prevalência subordinante dos primeiros em relação aos
segundos.
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Os atos legislativos de bases e de desenvolvimento

II Para que a figura das leis de bases e dos decretos-leis se desenvolvimento tenham
sentido no preciso âmbito relacional definido, é necessário que os mesmos
assentem em determinados pressupostos no tocante ao recorte das respetivas
competências legislativas.

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Os atos legislativos de bases e de desenvolvimento

II Do ponto de vista da Assembleia da República, a permissão para o


desenvolvimento de leis de bases através da intervenção do Governo elaborando
decretos-leis de desenvolvimento postula que a matéria compreendida no âmbito
do desenvolvimento se inclua na categoria da competência legislativa
concorrencial ou partilhada entre a Assembleia da República e o Governo, jamais
podendo dizer respeito à reserva de competência legislativa da Assembleia da
República, absoluta ou relativa:
❶ não pode ser absoluta porque a competência é só exercitável pelo
parlamento, nela nunca o Governo podendo intrometer-se ;

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Os atos legislativos de bases e de desenvolvimento

II ❷ não pode ser relativa porque para nela entrar o Governo precisa de estar
munido de uma lei de autorização, mesmo que pretenda o desenvolvimento
de quaisquer bases, e não se bastando a si próprio com a decisão de fazer
um decreto-lei de desenvolvimento.

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Os atos legislativos de bases e de desenvolvimento

III Esta autonomia da relação entre a lei de que se atribui tanto à Assembleia da
República como ao Governo de legislarem livremente. bases e o decreto-lei de
desenvolvimento, quando se situa na hipótese de tudo acontecer na competência
legislativa concorrencial dos dois órgãos de soberania em questão, tem
defrontado os obstáculos da sua aparente inutilidade (?), precisamente em nome
da liberdade idêntica.

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Os atos legislativos de bases e de desenvolvimento

III Se a solução do problema fosse apenas esta, a autonomia conferida às leis de


bases e os decretos-leis de desenvolvimento no âmbito concorrencial teria razão
de ser: pelo menos, assim se impediria a fraude ao sentido das leis de bases, não
permitindo que, invocando o seu sentido ordenador, se decretasse um
desenvolvimento que lhe fosse contrário.

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Os atos legislativos de bases e de desenvolvimento

III O texto da CRP pretende que se vá mais longe e aceitar o alargamento pontual da
competência legislativa parlamentar, quando legisla na área concorrencial através
de leis de bases: a não ser assim, o citado preceito constitucional seria
interpretado com um sentido ordenador mais reduzido, e não nos podemos
esquecer que as disposições constitucionais devem ser interpretados segundo o
resultado que mais eficácia lhes dê.

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Os atos legislativos de bases e de desenvolvimento

IV A relação entre os atos legislativos de bases e os atos legislativos de


desenvolvimento não se limita, contudo, ao plano nacional e é igualmente viável
no plano regional.
Esta é a relação entre os decretos legislativos regionais e as leis estaduais,
podendo neste caso as Regiões Autónomas, através das suas Assembleias
Legislativas, “Desenvolver para o âmbito regional os princípios ou as bases gerais
dos regimes jurídicos contidos em lei que a eles se circunscrevam. (Art. 227º, nº 1,
al. c), da CRP)

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As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

I As leis de autorização legislativa são outro modo específico de ver o exercício da


competência legislativa, da perspetiva das relações entre a Assembleia Da
República e o Governo, dentro do Estado, como entre A Assembleia da República
e as Assembleias Legislativas, num relacionamento entre o Estado e as Regiões
Autónomas.

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As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

II As autorizações legislativas são atos legislativos, mas, diferentemente das leis


materiais, adquirem uma função específica: permitir que o Governo da República
e as Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas desempenhem uma
competência legislativa que assim se lhes abre e que, de outro modo, não
poderiam protoganizar.
A concretização de cada uma das autorizações legislativas acontece pela
posterior promanação dos correspondentes atos legislativos autorizados: os
decretos-leis do Governo e os decretos legislativos regionais das Assembleias
Legislativas.

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As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

II O interesse prático das autorizações legislativas surge, por esta via, a duas
velocidades: primeiro, com a produção do ato de autorização, e depois, com o ato
legislativo autorizado.

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As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

III As autorizações, definidas na CRP, submetem-se a quatro regimes diversos, o


primeiro geral e os outros três especiais:
• um regime comum, aplicável a todas as autorizações legislativas, sendo assim
genericamente aplicável;
• um primeiro regime especial, apenas aplicável às autorizações legislativas da
Assembleia da República e do Governo:
• um segundo regime especial, apenas aplicável às autorizações legislativas da
Assembleia da República e do Governo, mas agora no estrito âmbito das
autorizações legislativas orçamentais;
• um terceiro regime especial, apenas aplicável às autorizações legislativas da
Assembleia da República às Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas.
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As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

IV REGIME COMUM
A construção do regime geral das autorizações legislativas inclui quatro tópicos
fundamentais, na sequência da exigência constitucional segundo a qual “ As leis
de autorização legislativa devem definir o objeto, o sentido, a extensão e a
duração da autorização, a qual pode ser prorrogada.” (Art. 165º, nº 2, da CRP)
• o objeto: a necessidade de haver a tipificação do objeto, não se admitindo
autorizações legislativas globais, mas abrangendo um conjunto praticamente
total de matérias em que elas se afiguram delegáveis;

JOÃO LUZ SOARES


As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

IV • a extensão: a imposição de, no objeto recortado, a lei de autorização delimitar


– positiva ou negativamente – a amplitude da competência legislativa do órgão
que vai dela beneficiar, não se excluindo o caso de a extensão poder coincidir
com o objeto;
• a duração: a necessidade da definição do tempo de uso potencial da
autorização legislativa concedida, evitando-se uma perpetuação dessa
possibilidade, demarcação que deve ser precisa do ponto de vista da sua
calendarização;

JOÃO LUZ SOARES


As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

IV • O sentido: a explicitação da orientação material acerca do uso da autorização


legislativa concedida, que deve ser posta em prática pela elaboração de ato
legislativo autorizado que pretendas atingir certos objetivos e finalidades,
devidamente assinalados no ato legislativo de autorização.

JOÃO LUZ SOARES


As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

V PRIMEIRO REGIME ESPECIAL


No âmbito material das autorizações legislativas da Assembleia da República ao
Governo, sem por agora referir a questão das autorizações orçamentais,
corresponde ao conjunto das matérias da reserva relativa de competência
legislativa da Assembleia da República, relativamente às quais este órgão de
soberania pode facultar-lhe a legiferação.

JOÃO LUZ SOARES


As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

VI SEGUNDO REGIME ESPECIAL


O regime das autorizações legislativas orçamentais traduzem-se num fenómeno
de autorização legislativa ao Governo, mas com a respetiva inserção na lei anual
do Orçamento do Estado.

JOÃO LUZ SOARES


As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

VI SEGUNDO REGIME ESPECIAL


O regime das autorizações legislativas orçamentais traduzem-se num fenómeno
de autorização legislativa ao Governo, mas com a respetiva inserção na lei anual
do Orçamento do Estado.
O aspeto diferenciador das autorizações legislativas orçamentais em relação ao
regime mais amplo cifra-se num diverso enquadramento da sua duração, a qual
está já predefinida, nem sequer tendo de ser, por isso, especialmente delimitada,
que é a duração da lei orçamental, uma das poucas leis temporárias
constitucionalmente previstas, precisamente para o ano financeiro a que
respeitam. JOÃO LUZ SOARES
As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

VII TERCEIRO REGIME ESPECIAL


As autorizações legislativas regionais, a serem concedidas pela Assembleia da
República às Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas, são possíveis num
núcleo legislativo muito mais restrito.
Sendo embora igualmente definidas essas matérias a partir do conceito de
reserva relativa de competência legislativa parlamentar nacional, nem todas elas
são relevantes, mas apenas algumas delas. (Art. 227º, nº 1, al. b), da CPR)

JOÃO LUZ SOARES


As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

VIII TERCEIRO REGIME ESPECIAL


Se as autorizações legislativas, em qualquer destas modalidades, pressupõem
uma relação com diplomas legislativos autorizados, sob oena de não poderem
operacionalizar-se, é também de equacionar as possíveis relações de conflito
que se possam estabelecer entre si.
A dificuldade não é tanto saber até que +ponto os diplomas legislativos
autorizados são limitados pelas leis de autorização legislativa, quanto saber em
que termos ocorre essa limitação, ao mesmo tempo qualificando-a para efeitos
de fiscalização da respetiva constitucionalidade e legalidade.
JOÃO LUZ SOARES
As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

IX NATUREZA JURÍDICA DAS AUTORIZAÇÕES LEGISLATIVAS


Tem sido mais fácil dizer o que as autorizações legislativas não são do que
esclarecer aquilo que são:
• não são transferências de competências, porque o órgão autorizante mantém
incólumes as suas competências legislativas;
• não são desdobramentos entre titularidade e o exercício da competência
legislativa, porque em ambos os casos os órgãos autorizantes e autorizado
legislam em nome próprio;

JOÃO LUZ SOARES


As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

IX NATUREZA JURÍDICA DAS AUTORIZAÇÕES LEGISLATIVAS


• não são meros alargamentos subjetivos de competência, porque os atos de
autorização legislativa não se resumem à extensão da possibilidade de legislar
aos órgãos autorizados, antes isso é feito com uma restrição material intensa,
dada pelo parâmetro do sentido da autorização legislativa.

JOÃO LUZ SOARES


A apreciação parlamentar de atos legislativos

IX NATUREZA JURÍDICA DAS AUTORIZAÇÕES LEGISLATIVAS


Pela afirmativa, as autorizações legislativas revestem-se da natureza de ato
autorizativo materialmente condicionante porque é graças à sua produção que
o órgão autorizado pode promanar o ato legislativo correspondente, desde
quer dentro dos limites materiais impostos ao próprio ato de autorização.

JOÃO LUZ SOARES


As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

I APRECIAÇÃO DE DIPLOMAS LEGISLATIVOS POR PARTE DE ÓRGÃOS DE NATUREZA


PARLAMENTAR, no exercício de uma fiscalização de cunho político.
Este é um instituto que começou por ser exclusivamente consagrado na relação
da Assembleia da República com o Governo, permitindo àquela apreciar o
sentido dos decretos-leis por este produzidos.
Este mecanismo, depois da revisão constitucional de 1989, passou a ser
igualmente consagrado na relação da Assembleia da República com as
Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas.

JOÃO LUZ SOARES


As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

II VANTAGENS DA APRECIAÇÃO PARLAMENTAR DOS ATOS LEGISLATIVOS


• a máxima autonomia decisória da Assembleia da República, uma vez que a
cessação de vigência dos atos legislativos é aprovada por resolução
parlamentar, sem qualquer intervenção presidencial, logo com a
inviabilidade de um controlo de mérito por via de veto político;

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II VANTAGENS DA APRECIAÇÃO PARLAMENTAR DOS ATOS LEGISLATIVOS


• a máxima rapidez tramitacional no respetivo procedimento, por natureza
mais simplificado do que o procedimento legislativo que pudesse ter o
mesmo efeito, além de que do ponto de vista constitucional há uma especial
preocupação a este resos processos de apreciação parlamentar de decretos-
leis gozam de prioridade, nos termos do Regimento.“ (Art. 169º, nº 6, da CRP)

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As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

III Do ponto de vista do regime atual, as fontes principais são construídas para a
apreciação dos decretos-leis do Governo por parte da Assembleia da República,
cujo assento normativo está na CRP e no RAR, neste se localizando como um
processo especial.
Este regime é aplicável à apreciação dos decretos legislativos regionais que
sejam aprovados ao abrigo de autorizações legislativas dadas pela Assembleia
da República às Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas.

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III CATEGORIAS DE REGIMES APLICÁVEIS


• um regime geral, genericamente aplicável a todos os atos legislativos
incluídos neste esquema de fiscalização política, tanto nacionais como
regionais; (Art. 169º e 227, nº 4, in fine, da CRP)
• um primeiro regime específico, só aplicável à apreciação dos diplomas
publicados no uso de autorização legislativa e com a exclusão dos decretos-
leis no uso da competência legislativa partilhada, atos legislativos tanto do
Governo como das Assembleias Legislativas. (Art. 169º, nº 1, primeira parte, da
CRP)

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As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

III CATEGORIAS DE REGIMES APLICÁVEIS


• um outro regime específico, só aplicável aos decretos-leis do Governo, não
aos decretos legislativos regionais, decretos-leis praticados no uso da
competência legislativa nacional concorrencial ou partilhada com a
Assembleia da República.

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IV A apreciação parlamentar dos decretos-leis e dos decretos legislativos regionais


autorizados pela Assembleia da República integra-se na função de fiscalização
política, sendo aquele o âmbito material de aplicação desse mesmo mecanismo.
O procedimento aplicável postula um pedido de, pelo menos, dez Deputados
neste sentido, na condição de isso acontecer nos 30 dias subsequentes à data
da publicação dos decretos-leis e dos decretos legislativos regionais autorizados
no Diário da República.

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As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

IV EFEITOS DA APRECIAÇÃO PARLAMENTAR


Os efeitos da apreciação parlamentar dos decretos-leis, autorizados, não
autorizados, e dos decretos legislativos regionais autorizados oferecem as
seguintes possibilidades:
• a manutenção da vigência do diploma legislativo apreciado, chegando-se à
conclusão de que o pedido de apreciação recebe resposta negativa;
• a cessação da vigência do diploma legislativo apreciado, que só se torna
efetivo no momento da publicação da resolução parlamentar no Diário da
República;
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IV EFEITOS DA APRECIAÇÃO PARLAMENTAR


• a alteração do diploma legislativo apreciado, neste caso as modificações
introduzidas vigorando para o futuro.

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As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

V APRECIAÇÃO PARLAMENTAR dos decretos–leis do Governo, ou dos decretos


legislativos regionais das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas,
desde que praticados no uso de competências legislativas autorizadas, para
além do regime geral, integra ainda uma particularidade.
É a faculdade que se defere à Assembleia da República, aberto o procedimento
de fiscalização, de suspender provisoriamente, a título cautelar, a vigência dos
diplomas legislativos abrangidos:

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V “Requerida a apreciação de um decreto-lei elaborado no uso de autorização


legislativa, e no caso ´de serem apresentadas propostas de alteração, A
Assembleia poderá suspender, no tos ou em parte, a vigência do decreto-lei até
publicação da lei que o vier a alterar ou até à rejeição de todas aquelas
propostas.”
Estra suspensão não pode eternizar-se, pelo que se estabelece um prazo para a
sua efetividade: “A suspensão caduca decorridas 10 reuniões plenárias sem que
a Assembleia se tenha pronunciado a final.”

JOÃO LUZ SOARES


As autorizações legislativas e os atos legislativos autorizados

VI A apreciação dos decretos-leis do Governo fora da situação de autorização


legislativa da Assembleia da República, aprovados, portanto, no âmbito da
competência legislativa concorrencial ou partilhada, e excluindo-se os decretos
legislativos regionais autorizados, para além do regime geral, goza da
particularidade de não consentir qualquer suspensão provisória da respetiva
vigência.

JOÃO LUZ SOARES

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