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Resumo do capítulo 1 do Curso de Direito Civil (Parte geral e LINDB), de

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald1

Discente: Diogo Lácio Oliveira Nobre


E-mail: diogolacio@alu.uern.br
Docente: Giovanni Weine Paulino Chaves

1 Noções conceituiais sobre o direito


Neste primeiro tópico, os autores Cristiano de Farias e Nelson Rosenvald
apresentam diversas noções sobre o significado de direito que, apenas de haverem
muitos citados, a ideia é basicamente a mesma: resumem o direito, na minha opinião
de forma simplista, como “um conjunto de normas gerais e positivas, que regulam a
vida social” (2017, p. 31), deixando de lado a visão filosófica do direito, assim como
sua interpretação como ciência social para entendê-lo apenas como lei.

2 Acepções da palavra direito

2.1 Noções gerais


Após reforçar a ideia de direito apenas como lei, é falado que existem alguns
outros sentidos para esta palavra e que serão estes tratados nos subtópicos
seguintes.

2.2 Direito objetivo e direito subjetivo


Logo de início, é falado que há de se fazer a diferenciação entre o que é direito
objetivo e subjetivo, sendo o primeiro referente ao ordenamento jurídico vigente e o
segundo ao poder que o titular tem de fazerem valer os seus direitos indiviuais.
Para exemplificar o que acabara de explicar, é utilizado o exemplo d’O Direito
das Sucessões e o direito de suceder, sendo este um direito subjetivo, que implica
que alguém possui uma certa posição favorável (ou que há de possuir), enquanto
aquele se caracteriza como direito objetivo, pois está mais perto da ideia de uma
ordenação social.
Portanto, de forma direta, o direito objetivo representa a norma positivada,
enquanto o subjetivo o poder de exigir, ou ao menos pretender, um comportamento
específico de alguém.
Entretanto, o direito subjetivo ainda possui algumas peculiaridades, que são:
(i) corresponde a uma pretensão conferida ao titular," paralelamente a um dever
jurídico imposto a outrem; (i1) admite violação, pois o terceiro pode não se comportar
de acordo com a pretensão do titular (gerando o direito à indenização pelo prejuízo
causado); (iii) é coercível, podendo o sujeito ativo coagir o passivo a cumprir o seu
dever; (iv) o seu exercício depende, fundamentalmente, da vontade do titular. (2017,
p. 34)
Além disso, há de se citar que também o direito subjetivo pode ser: absolutos ou
relativos; patrimoniais ou extrapatrimoniais. Por fim, também é necessário salientar
que tais direitos dependem da boa fé do titular, podendo, então, ser entendido como
ato ilícito o abuso deste poder de forma irregular, a fim de reparar os danos
causados.

2.3 Direito potestativo


O direito potestativo é exercido a partir de uma decisão unilateral, que não
necessita da cooperação do sujeito passivo, pois este é submetido à decisão do
primeiro, podendo-se ter como exemplo um divórcio, em que qualquer parte pode, a
qualquer momento, decidir por ele, enquanto a outra deverá apenas aceitar, seja de
forma amigável ou não, ou o direito de um funcionário pedir demissão, ou do patrão

1
Resumo referente à décima quinta edição, lançada no ano de 2017
de demitir, pois, tomada esta decisão, mesmo com a insatisfação de uma das partes,
a decisão da outra é imperiosa.
Dessa forma, tem-se como características principais do direito potestativo:
a) Poder jurídico conferido ao titular; b) declaração unilateral de vontade, realizável
per se ou através de decisão judicial; c) estado de sujeição da contraparte; d)
influência em situação jurídica preexistente; e e) produção de efeitos constitutivos,
modificativos ou extintivos. (LEMOS FILHO apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p.
37)

2.4 Direito positivo (e o pós-positivismo jurídico) e o direito consuetudinário: as


duas grandes tradições jurídicas mundiais
No início deste subtópico, é apresentado a diferenciação entre direito positivo e
direito consuetudinário, sendo o primeiro caracterizado pelo estrito cumprimento da
norma jurídica enquanto o segundo está mais baseado na tradição, ou seja, a
decisão judicial é baseada nas demais semelhantes que ocorreram previamente.
Ademais, os autores aprofundam-se sobre o positivismo, afirmando que foi
criado como forma de aproximar o direito às demais ciências, que são
fundamentadas em fatos, e não em juízo de valor, então, dessa forma, os fatos da
ciência jurídica seriam, então, as normas. Porém, de acordo com os autores, o erro
do positivismo jurídico foi pôr a lei como fato e o jurista apenas como um sujeito
neutro e acrítico, que apenas a segue, o que, ainda segundo os autores, legitimou
governos autoritários, tais como a Alemanha nazista, visto que não a lei deveria
apenas ser seguida, não importando se esta era, de fato, justa.
Por conseguinte, os autores expõe o que seria o “pós-positivismo jurídico”,
caracterizado por uma visão crítica e social do direito, sem deixar, no entanto, de
reconhecer a necessidade de uma norma positivada por segurança. Porém, o
pós-positivismo ainda é, segundo o Luís Roberto Barroso:
[...] a designação provisória e genérica de um ideário difuso, no qual se incluem
algumas ideias de justiça além da lei e de igualdade material mínima, advindas da
teoria crítica, ao lado da teoria dos direitos fundamentais e da redefinição das
relações entre valores, princípios e regras, aspectos da chamada nova hermenêutica.
(BARROSO, apud Farias & ROSENVALD, 2017, p. 39)

2.5 Direito Natural


Por fim, tem-se o direito natural que, de acordo com os autores, é caracterizado
por reconhecer um direito anterior e superior a qualquer norma positivada (2017, p.
40). Porém, para os autores (e alguns outros juristas) o direito natural não apresenta
uma proposta tão completa e complexa quanto as demais doutrinas jurídicas, sendo
até estritamente vinculado a algum tipo de religião pelos autores.
Entretanto, é necessário comentar que não se foi tratado aqui dos pensamentos e
estudos mais recentes acerca do direito natural, encabeçado, principalmente, pelo
doutrinador e filósofo John Mitchell Finnis, que busca revigorar e atualizar o direito
natural, além de desvinculá-lo da religião, o que o torna um pensamento
excepcionalmente mais complexo e interessante.

3 Instrumentos de controle social


Neste tópico, os autores apenas apresentam as diferenças entre o direito e os
demais instrumentos de controle social (tais como religião, moral e etiqueta), definindo,
portanto, o direito como único, pois, apesar de poder receber influência dos demais
em um certo grau, só ele possui o poder coercitivo.

4 Divisão do direito (clivagem entre o direito público e o direito privado)


De acordo com os autores, o direito pode-se dividir em duas partes: o direito
público e privado, sendo que o primeiro é caracterizado quando há alguma relação
entre o Estado e um agente particular em que se tem uma hierarquia (o Poder Público,
como representação do coletivo, acima do particular), enquanto o segundo é
identificado como aquele em que há uma relação horizontal (ou seja, de equidade)
entre as partes, sem importar se uma delas é ou não o Estado.
Por exemplo, o direito constitucional é um direito público, pois coloca as normas
constitucionais como superiores à vontade de do outro envolvido, enquanto o direito
civil é um direito privado, pois se trata das ações em que ambos os agentes estão em
equidade, nenhum pode impôr totalmente algo sobre o outro.
Entretanto, por conta da evolução da sociedade, tem-se tido um certo problema
em definir o que é público e o que é privado, uma vez que o governo moderno é muito
mais amplo que o da antiguidade e, por conta disso, há constantemente para
determinar o que é público e o que é privado, pois ambos acabam por misturar-se em
vários momentos. Portanto, há de se saber que as divisões sobre o que é cada um
podem, muitas vezes, serem alteradas, pois não possuem rigorosas demarcações.

5 O problema da unificação do Direito Privado e a codificação no Direito Civil


brasileiro
De início, é falado que a questão de unificação do direito civil é algo debatido há
muito, porém, através de diversos debates doutrinários, chegou-se a conclusão de
que só seria possível unificar o direito das obrigações, o que foi feito com código divil
de 2002, além de também atualizar o direito comercial para direito empresarial.
Ademais, é apresentado um breve resumo sobre a história do direito civil
brasileiro, iniciado com Augusto Teixeira de Freitas, no ano de 1859, com um projeto
que trazia quase cinco mil artigos e tratava o direito civil de forma bem avançada.
Entretanto, por alguns problemas, o projeto de Teixeira foi abandonado, sendo
convidados vários outros juristas para fazê-lo, mas, apesar disso, o seu “esboço”
serviu de base para outros códigos civis pelo mundo, como um argentino e outro
alemão.
Após isso, em 1899 Clóvis Bevilácqua foi convidado para escrever um novo
projeto de código civil, o qual foi entregue em apenas alguns meses, porém, devido a
severas críticas do senador Ruy Barbosa, o texto teve uma gigantesca tramitação,
sendo aprovado apenas em 1916 e entrado em vigor em 1917. Contudo, por conta da
demora na tramitação, o texto saiu já desatualizado, pois não incorporava algumas
transformações sociais e jurídicas que foram passadas.
Dessa forma, somente em 1967 foi nomeada a comissão para a confecção de um
novo código civil, sendo apresentado em 1972 o anteprojeto, preservando diversos
aspectos do anterior e sendo publicado em 1984. Todavia, com a Constituição de
1988, o projeto teve de ser atualizado, para refletir a nova ordem constitucional, e,
assim, foi publicado apenas em 11 de janeiro de 2002 o novo Código Civil brasileiro.
Ainda assim, o Código de 2002 apresenta diversos problemas, pois foi feito com
pouco debate e compromisso com temas hodiernos, sendo assim, como diria Gustavo
Tepedino, “o Código Civil de 2002 já nasceu velho e descompromissado com o seu
tempo, desconhece as relações jurídicas e problemas mais atuais do homem”
(TEPEDINO apud Farias & ROSENVALD, 2017, p. 48). Como exemplos dessa
desatualização, tem-se o fato de não estarem inclusas as demais formas de família,
além de a possibilidade de anulação de um casamento pelo defloramento de uma
mulher, entre outros que, mesmo a época de sua feitura, já eram contemporâneos e,
mesmo assim, foram deixados de lado pelo Codex.
Porém, é necessário pontuar que, apesar das críticas, o Código Civil de 2002 foi
importante para o direito privado pois, diferente de seu antecessor, ele não busca
unificar esta parte do direito, mas sim guiar o jurista através de dos diferentes campos
que este apresenta.

6 O Código Civil de 2002 e os seus paradigmas (os valores da codificação


brasileira)

6.1 Os paradigmas (ou diretrizes) do Código Civil de 2002


O Código Civil de 1916 foi deveras influenciado pelo pensamento liberal da época,
sendo, então, um ferrenho defensor de suas ideias individualistas e patrimonialistas,
entretanto, o Codex de 2002 abandonou este viés e buscou proteger a pessoa
humana e suas relações privadas, determinando três paradigmas a serem cumpridos:
a socialidade, a eticidade e a operabilidade (ou concretude). Dessa maneira, tais
paradigmas serão abordados nos subtópicos seguintes.

6.2 A nova técnica normatica do Direito Civil brasileiro: as cláusulas gerais e os


conceitos jurídicos indeterminados no Código Civil de 2002
Neste subtópico é falado que a técnica normativa tradicional, rígida, já se mostra
insuficiente devido à sociedade plural e dinâmica hodierna, portanto, vê-se como
forma de flexibilizar as normas o uso de cláusulas gerais e conceitos jurídicos
indeterminados, tornando, assim, mais efetiva a atuação de juízes.
Nesse contexto, é importante explicar que as cláusulas gerais são “normas de
conteúdo aberto, contendo diretrizes a serem fixadas somente em cada caso
concreto.” (FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 51), ou seja, elas dão ao magistrado
uma liberdade maior de interpretação, fazendo cada caso merecer uma interpretação
única, levando em consideração seus antecedentes e os consequentes, isto é, os
casos passados e os que ainda virão. Dessa forma, pode-se dizer que “legislar por
cláusulas gerais significa deixar ao juiz, ao intérprete, uma maior possibilidade de
adaptar a norma às situações de fato” (PERLINGIERI apud FARIAS & ROSENVALD,
2017, p. 51).
Por outro lado, os conceitos jurídicos indeterminados, apesar de deixarem uma
abertura na norma, delimitam a interpretação do magistrado por meio desta e
trabalham apenas com o antecedente, sem levar em consideração o consequente.
Como exemplo, pode-se usar o termo “bons costumes”, tratado no livro, a partir dele
os autores explicam que este é um conceito jurídico indeterminado pois o conceito de
“bons costumes” é algo subjetivo à época e à sociedade, e para ilustrar este fato, os
autores comentam sobre as tatuagens, que previamente já foram tidas como
atentatórias aos bons costumes, enquanto hoje são tratadas apenas como uma forma
de arte (com exceção de símbolos terroristas, descriminatórios, etc).
Contudo, apesar de se flexibilizar as normas e de possuir um maior poder de
interpretação, o magistrado não pode, de forma alguma, introduzir valores pessoais à
sua decisão, visto que, além de bom senso, o juiz deve ter senso de limite, de modo
que suas decisões estejam em conforme com a Constituição, e não sejam arbitrárias.

6.3 A socialidade
A socialidade está ligada ao direito subjetivo, e fundamenta-se “na manutenção
de uma relação de cooperação entre os partícipes de cada relação jurídica, bem como
entre eles e a sociedade, com o propósito de que seja possível, ao seu término, a
consecução do bem (fim) comum da relação jurídica” (FARIAS & ROSENVALD, 2017,
p. 55), ou seja, consiste em buscar uma finalidade agradável para ambos os lados de
uma relação jurídica, equivalendo lados que são diferentes, como o patrão e o
empregado.
Dessa forma, a sociabilidade busca superar o individualismo antes vigente,
porém sem ceder ao coletivismo, que é igualmente deletério, mas sim buscando uma
relação harmônica entre as partes.

6.4 A eticidade
A eticidade é uma das maiores diferenças entre os Códigos de 1916 e 2002, pois
enquanto o primeiro tem tremenda influência no pensamento positivista do século XX,
no qual o direito era visto apenas como lei e não deveria haver algo que o ditasse que
não fosse a norma, o segundo já apresenta uma certa influência no Direito Natural,
que visa entender o direito como algo que antecede a norma, admitindo uma maior
conexão com outras visões (filosóficas, sociológicas) e outras fontes do direito.
A eticidade se enquadra, dentro do Código Civil de 2002, como as cláusulas
gerais, explicadas anteriormente, pois, a partir delas, que possuem um conteúdo
aberto a diversas interpretações de forma intencional, o magistrado vai agir de forma
casuística, a partir outras fontes, para que se chegue em uma conclusão mais justa e
equitativa baseada em cada caso.

6.5 A operabilidade ou concretude


Para o Código Civil de 1916, por conta de seu viés contratualista, individualista e
liberal, a personalidade do sujeito era vista a partir de seu patrimônio e não por sua
individualidade, ou seja, não era visto como uma pessoa, mas sim como um
contratante, um contratado, um proprietário, etc. Entretanto, no Código de 2002, não
há uma visão patrimonial, mas sim uma visão concreta do sujeito como ser humano
dotado de singularidades e único.
Aliado e isso, também há outra diferença entre os códigos, pois enquanto o de
1916 estava muito mais ligado a um estilo francês de requinte excessivo da linguagem,
o que impossibilitava muitas vezes o seu entendimento, o de 2002 preza mais pela
efetividade em detrimento da estética, fazendo a escrita ser mais simples, porém,
mais compreensível. Além disso, para evitar incertezas e conflitos constantes, o
magistrado será incumbido do dever de valoração do fato, com o intuito de facilitar a
operabilidade do direito.

7 Conceito (constitucionalizado) de Direito Civil e a sua sistematização


Inicia dando um breve apanhado sobre alguns conceitos complementares acerca
do que é o Direito Civil, culminando em, basicamente, algo “que estuda e regulamenta
as pessoas e os bens, bem como as relações pessoais e patrimoniais entre
particulares” (OLIVEIRA apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 61), além de
reafirmar a necessidade de um direito aberto e capaz de se adaptar às evoluções da
sociedade. Ademais, afirma que, apesar de ser um direito privado, o Direito Civil, e
todo o ordenamento jurídico, é pautado pela Constituição Federal.
Por conseguinte, os autores afirmam que a estrutura do Direito Civil pode ser
dividido em duas partes: as partes gerais e as especiais, sendo a primeira relativa às
ideias mais fundamentais sobre as relações entre particulares, servindo de base para
os assuntos abordados na segunda parte, que por consequência, aborda questões
mais específicas do direito, cuidando das três partes do Direito Civil: a circulação de
riqueza, as titularidades e o afeto.
Desse modo, as partes especiais agregam em si o Direito das Obrigações; das
Coisas; das Famílias e das Sucessões, que abordam, resumida e respectivamente, as
relações referentes a prestações de serviços ou circulação de bens; a possibilidade
de dispor livre e exclusivamente de bens e valores econômicos, assim como
reinvindicá-los de quem os possuir injustamente; os princípios básicos que organizam
relações monoparentais de qualquer natureza assim como suas obrigações e, por fim,
a troca de proprietário em razão da morte, seja com base no testamento ou por direito
heredtário.

8 Direito Civil Constitucional (a constitucionalização do Direito Civil e a


civilização do Direito Constitucional)
Neste tópico, é falado sobre a relação do Direito Civil e Constitucional. No início é
falado que, no código civil de 1916, praticamente não havia relação entre um e outro,
pois havia uma clara separação e uma vontade de fazer com que o Código Civil se
tornasse uma espécie de “constituição para o direito privado”. Porém, com a
Constituição de 1988 e o Código Civil de 2002, a Carta Magna assumiu um papel
importante para demarcar os direitos e regular o direito privado, enquanto o Codex
abordaria de forma aprofundada cada parte, além de promover uma releitura dos
direitos civis de forma mais valorativa (seria talvez como se a Constituição fosse
dotada das partes gerais enquanto o Código Civil ficasse com as partes especiais).
Dessa forma, o Direito Civil se tornou, de certa forma, um pouco Constitucional,
mas não público, pois a influência da Constituição não faz o Código Civil deixar de
tratar de aspectos estritamente privados do direito, mas sim, o leva valores
fundamentais, revitalizando-o. Porém, da mesma forma o Direito Civil trouxe
humanidade para a Carta Magna, pois nunca antes foi-se tratado da pessoa humana
na Constituição, estando somente restrita ao Código, o que foi diferente na de 1988.
É necessário, também, não confundir a constitucionalização do Direito Civil com a
chamada “publicização” deste, pois esta segunda implica em uma direta interferência
na relação privada, com o intuito de nivelar as partes, para que a que é menos
favorecida não seja injustiçada por isso, como ocorre em uma relação contratual entre
patrão e funcionário, para que o segundo não seja explorado pelo primeiro, ou de
regulação dos preços, para que os compradores não sejam abusados pelos
vendedores, etc.

9 A aplicação dos direitos fundamentais (constitucionais) nas relações


privadas (eficácia horizontal dos direitos fundamentais)
Nesta seção, os autores explicam que o Direito Privado sofre uma direta
imposição do Direito Constitucional, visto que o primeiro deve respeitas os direitos
fundamentais garantidos pelo segundo, mesmo que seja diante de uma relação
estritamente privada, que não envolva de modo algum o poder público.
Pode-se, talvez, dizer que aqui sim se encaixe a publicização do direito privado,
pois é aqui que o Direito Constitucional determina certas condutas do Direito Privado,
impedindo as relações que violem as garantias constitucionais.

10 A aplicação dos tratados e convenções internacionais no âmbito das


relações do Direito Civil (eficácia supralegal das convenções internacionais ou
convencionalização do Direito Civil)
Aqui é falado sobre a forma de se lidar com uma convenção ou tratado
internacional de acordo com o Direito Civil, e os autores explicam que todos os
tratados ou convenções internacionais sobre os direitos humanos que passem por
uma aprovação de três quintos do Congresso Nacional e do Senado Federal, em dois
turnos, terão, então, um status de emenda contitucional. Porém, caso não seja
aprovado, terá eficácia supralegal, estando entre a norma constitucional e a
infraconstitucional (no caso, o Código Civil).
Desse modo, um tratado ou convenção internacional estará sempre
hierarquicamente superior ao Direito Civil, sendo assim, este deve chegar a uma
harmonização entre a norma constitucional e a internacional, pois deve se submeter a
ambas, sem poder violá-las.

11 A eficácia dos direitos sociais nas relações privadas e a tese do Estado de


Coisas Inconstitucional - ECI
Os direitos sociais são direitos constitucionais que visam promover a equidade
jurídica entre partes desiguais, dando preferências para uma das partes (a mais fraca),
de modo a compensar esses desequilíbrios.
Desse modo, os direitos sociais entram nas relações privadas como forma de
garantir os direitos fundamentais previamente citados, seja para obrigar ao Estado
fornecer um determinado remédio com eficácia comprovada para suprir as
necessidades dos cidadãos, seja para obrigar um patrão a garantir os direitos
constitucionais aos seus trabalhadores. É, então, assim que os direitos sociais
compensam as desigualdades e buscam o equilíbrio das partes (logo, pode-se dizer
que é uma publicização do direito privado, visto anteriormente).
Por conseguinte, cabe citar a tese do estado de coisas inconstitucional (ECI), que,
em suma, é o reconhecimento de uma prática generalizada que desrespeita os
direitos fundamentais e sociais previstos pela Constituição. Nesse caso, é necessário
um pouco de ativismo judicial, visto que após a constatação, um tribunal deve assumir
o protagonismo e impor condutas para os demais poderes, como forma de suprimir o
problema coletivo.

12 O diálogo das fontes como mecanismo de aplicação das normas do Direito


Privado
Devido a pluralidade e complexidade das relações humanas, é necessário um
sistema mais completo para atender às suas necessidades, dessa forma, o diálogo
das fontes é implementado no Direito Privado, como forma de solucionar diferentes
problemas de diferentes formas. Desse modo, é um método de utilizar todas as fontes
legislativas de forma simultânea e sem hierarquia para tratar de um caso, dialogando
entre as distintas fontes, com o intuito de encontrar uma norma que maximize as
vantagens para a parte mais fraca.
Dessa forma, levando em consideração um exemplo citado pelos autores, no
caso de uma companhia aérea que atrasa o voo de um cliente, ou perde suas
bagagens, é possível exercer um diálogo entre os diferentes códigos (Civil e do
Consumidor) para então encontrar em qual deles está a melhor saída para a parte
juridicamente fraca da relação (o cliente).

13 Princípios do Direito Civil e as suas tendências contemporâneas

13.1 A propalada bipartição das normas jurídicas: as regras e os princípios


Neste subtópico os autores apresentam a divisão das normas jurídicas entre
normas-regras e normas princípios. Dessa forma, é possível afirmar que os princípios
são, como dizem, normas de texturas abertas, ou seja, são intencionalmente
genéricas e de base valorativa e fundamental, que são satisfeitas em variados graus,
de modo que o magistrado possa fazer a diferenciação entre os casos e julgá-los de
forma mais equitativa, adaptando-se às suas singularidades.
De outro modo, as regras se apresentam como texturas fechadas, imperativas e
positivas, ou seja, elas possuem soluções previamente estabelecidas para problemas
jurídicos, não havendo nenhuma mudança de caso para caso, seguindo, então, uma
lógica de “tudo ou nada” no que se refere a sua satisfação, visto que, enquanto o
princípio pode ser seguido em algumas variações, a regra é ou não seguida, sem
meios termos.
Contudo, não se esqueça de que ambas as formas normativas continuam sendo
normas, não há hierarquia ou qualquer distinção de valor de uma sobre a outra.

13.2 A inexistência de hierarquia normativa entre princípios e regras


Nesta seção do capítulo, os autores se põe a dissertar novamente sobre as
diferenças entre as regras e os princípios, bem como a denotar a importância
igualitária de ambas.
Destarte, é importante afirmar que os princípios cumprem uma função de
oxigenar o sistema jurídico, dando-lhe um grau de abstração, para poder se moldar às
diferentes realidades apresentadas caso a caso, enquanto as regras apresentam
soluções acabadas e objetivas, com a finalidade de reduzir incertezas jurídicas e
evitar arbitrariedades.
Portanto, é imperioso reafirmar a necessidade de haver uma total igualdade de
valores entre ambas as normas, pois caso haja uma hierarquia, poder-se-á haver a
desvalorização e, com isso, um descumprimento da norma inferiorizada em
detrimento da outra, o que desestabilizaria o sistema jurídico como um todo.

13.3 Os princípios e a técnica de ponderação de interesses (técnica de


balanceamento) aplicada no Direito Civil
Neste subtópico nos é apresentado a técnica de ponderação, ou balanceamento,
dos princípios, que deve ser utilizada quando mais de um princípio entra em conflito e
há de se decidir qual deve prevalecer e, para tal, é feita uma comparação entre ambos
os princípios e escolhe-se aquele que mais respeita a dignidade humana.
Para exemplificar, pode-se usar um caso citado no texto da lei cearense que
regulamenta as vaquejadas que, carregando o princípios relacionados à manifestação
cultural, ia de encontro com princípios que asseguram a proteção animal. Neste
exemplo, o segundo princípio sobrepujava o primeiro, tornando a lei, então,
inconstitucional.
Entretanto, é necessário afirmar que a técnica de ponderação possui uma carga
valorativa que se submete ao seu tempo e espaço, dessa forma, é necessário que ela
seja casuística, ou seja, relativa a cada caso.

13.4 A aplicação das normas-regras e a excepcional possibilidade de


derrotabilidade (superabilidade ou defeseability) nos extreme cases (casos
extremos)
Aqui os autores apresentam os conceitos de easy cases e hard cases, os quais
serão resolvidos, respectivamente, por regras e princípios, visto que o primeiro
apresenta um problema de simples resolução, podendo ser utilizada uma regra para
tal, enquanto o segundo, por ser mais complexo, necessita dos princípios, por serem
mais abertos e poderem abranger uma maior variedade de problemáticas
Entretanto, apesar de raros, existem também os extreme cases, que, por
apresentarem casos totalmente excepcionais, não podem se encaixar nas regras e
tampouco se submeterem às ponderações dos princípios. Dessa forma, ocorre então
a derrotabilidade da norma-regra que, por conta da singularidade do caso, deve ser
desconsiderada pois, caso não seja, estaria então indo contra os seus próprios
princípios.
Como exemplo desta peculiaridade, é apresentado o caso hispânico de dois
irmãos que não tinham consciência de seu vínculo e acabaram por se casar. Nesse
caso, geralmente, seria o matrimônio irregular, pois estaria incorrendo em crime de
incesto, porém, pela excepcionalidade do caso, estaria a norma-regra para sacrificar
os valores pelos quais ela foi criada para defender: evitar um prejuízo familiar. Desse
modo, apenas nesses casos extremamente raros, as regras são ignoradas, ou seja,
são derrotadas.
Cabe aqui uma observação para não confundir derrotabilidade da norma-regra
com a redução de seus significados, pois enquanto o primeiro anula a lei para um
caso específico, o segundo faz uma interpretação diferente da mesma.

14 A aplicação do Direito Civil e os desacordos morais e razoáveis


Os desacordos morais e razoáveis são apresentados, principalmente, nos hard
cases, os quais não podem ser julgados partindo somente da norma-regra, por serem
bastante complexos e não estarem totalmente prescritos nas leis, necessitando, então,
de uma atividade interpretativa mais aguda.
Esses desacordos dizem respeito àqueles casos em que, dependendo da
interpretação, podem tomar diferentes (e muitas vezes opostas) soluções, como é o
caso do aborto. Geralmente esses casos são demasiadamente polêmicos,
envolvendo assuntos pessoais, religiosos, sexuais, filosóficos, etc.
Entretanto, não se caracteriza um desacordo moral quando um dos lados impõe
uma negativa de direitos ao outro, pois não é aceitável que juridicamente alguém
possa negar os direitos ao outro, pois isso feriria as garantias fundamentais.

15 Os princípios do Direito Civil e suas tendências contemporâneas


No último tópico do capítulo, os autores fazem um resumo muito bem condensado
de todos os pontos pretéritos, reafirmando-os e chamando a atenção para a
importância de cada um, bem como construindo uma ponte para tornar o texto ainda
mais coeso.
Portanto, define como princípios substanciais do Direito Civil contemporâneo: a
personalidade, mostrando que todo ser humano é dotado de direitos e obrugações; a
autonomia privada limitada, que diz respeito à possibilidade de praticar ou se abster
de atos que não ultrapassem a ética ou o respeito à coletividade; a liberdade de
estipulação negocial que como o nome dá a entender, se refere à possibilidade de
escolher o conteúdo e as categorias dos atos jurídicos; a propriedade individual, que
torna possível a obtenção de patrimônio, cumprindo sua função social; intangibilidade
e pluralidade familiar, que se refere à ao equilíbrio e proteção de todos os tipos de
família, bem como da dignidade humana; a legitimidade da herança e o direito de
testar, que dizem respeito ao direito de definir sucessores ao seu patrimônio, assim
como de recebê-los e, por último, a solidariedade social, que busca conciliar os
interesses privados dos coletivos.
E para finalizar, os Cristiano de Farias e Nelson Rosenvald reiteram a importância
de um Direito Civil que evolua com a sociedade, e não de um código estático, divino e
intocável, que deve ser seguido a risca, não importa se está ou não desatualizado.

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