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1 Considerações preliminares
Neste tópico, bem introdutório Farias e Rosenvald relembram que o Direito “serve para a
adaptação social, ordenando a comunidade e viabilizando a convivência.” 1, sendo assim, o
Direito surge como organizador e harmonizador social, baseando-se em fatos. Dessa forma,
pode-se dizer que o Direito e a comunidade jurídica atua sobre o fato quando este interfere no
relacionamento inter-humano.
A partir disso, o Direito traça regras e valora os fatos que se referem a importantes
intersubjetivas, alçando-os ao título de fatos jurídicos, conferindo, assim, coercibilidade a
determinados acontecimentos. Sendo assim, será um fato jurídico “aquele evento, seja qual
for a sua natureza e origem, que repercutir na esfera jurídica.” 2
2 Distinção entre fato jurídico e o fato material (ajurídico) e a lógica do mundo jurídico
Desse modo, caracteriza-se como fato jurídico todo aquele fato que produz efeito jurídico
e, sendo assim, aquele que não produz será o fato material, ou ajurídico. Ademais, esses fatos,
embora se distinguam, podem ter a mesma origem, visto que, para definir um fato como
jurídico, não importa nada além de seu efeito.
Outrossim, para ser transformado um fato material em um jurídico é necessário que ele
passe por alguns requisitos do mundo jurídico, que são: “i) definição pela norma jurídica da
hipótese fática merecedora de qualificação; ii) concreção da hipótese definida na realidade
fenomenológica da vida (realização concreta da hipótese); iii) incidência automática da norma
sobre a hipótese valorada; iv) juridicização do acontecimento, como consequência da
incidência.” 3. Avaliando isso de forma prática, Farias e Rosenvald trazem um exemplo
esclarecedor, relacionando a teoria com o nascimento de uma criança, veja:
Tomando como exemplo o nascimento de uma criança, é possível raciocinar ilustrativamente.
Em primeiro lugar, a norma (CC, art. 2') prevê a aquisição da personalidade como
consequência jurídica do nascimento. Ora, no momento em que alguém nasce (presença de ar
nos pulmões), tem-se a concreção do acontecimento previsto na norma, vindo,
consequentemente, a ocorrer a incidência da norma, juridicizando o evento.4
1
FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 590
2
Idem, ibidem, p. 591
3
Idem, ibidem, p.592
4
Idem, ibidem, loc. cit.
Neste tópico, os autores apresentam as classificações dos fatos jurídicos, que iniciam se
dividindo entre o fato lícito e o ilícito, estando o primeiro em conformidade com a norma
jurídica e o segundo não, além de negar direitos. Mais adiante, em se tratando dos fatos lícitos,
eles podem se dividir em outros dois: naturais e humanos, que, como o nome bem diz, se
tratam de fatos que se originam de ações da natureza e de ações humanas, respectivamente.
São exemplos para diferenciar ambos são, primeiro, o de um raio que cai em uma casa com
um seguro: o fato (raio) é algo proveniente da natureza, entretanto, possui um efeito jurídico,
e, como outra alusão, pode-se pensar em um casamento, ou um contrato, que terão efeitos
jurídicos e são totalmente criação humana.
Além disso, tem-se também os atos e os atos-fatos, que se distinguem por o primeiro se
derivar da vontade humana desde o seu suporte fático, enquanto o segundo, após a tipificação
por volitividade, passa a desprezá-la.
6.1 Generalidades
Precisa-se delimitar as características de cada efeito, por conta da potencialidade dos
fatos jurídicos lato sensu.
5
Idem, ibidem, p. 596
6
Por conta disso, no Código Civil não se traz a definição da existência, mas sim apenas uma bidimensionalidade entre
validade e efetividade, pois entendem que a existência já está implícita.
7
Lembrando que apenas atos jurídicos stricto sensu e negócios jurídicos passam por esse crivo, ficando de fora fatos
jurídicos stricto sensu, atos-fatos jurídicos e fatos ilícitos.
compra) ou complexo (quando outro fator entra em cena, como na compra de um remédio que,
além de pagar, precisa-se apresentar uma receita médica).
Vale lembrar sempre que, mesmo extinto o direito, o titular ainda pode ser indenizado em
alguns casos, para compensar danos sofridos.
8
Idem, ibidem, p. 599
9
Idem, ibidem, p. 600
Outrossim, pode-se dividir esses fatos jurídicos em duas categorias, os ordinários, que são
aqueles acontcimentos costumeiros, do dia-a-dia, e extraordinários, que são caracterizados
pela excepcionalidade e imprevisibilidade.
8 Ato-fato jurídico
O ato-fato jurídico é aquele que precisa de uma ação humana para ocorrer, entretanto, não
necessita haver vontade do indivíduo envolvida (podendo às vezes ir até mesmo contra a
vontade), como no caso citado pelos autores de alguém que, caminhando na praia, pega uma
concha e, em seguida, a arremessa no oceano, nesta situação, a posse da concha decorre da
ação da pessoa, mesmo que ela não tivesse a intenção de possuí-la, e o mesmo ocorre quando
ela é abandonada, ao ser jogada ao mar.
Além disso, também existem diferentes tipos de atos-fatos jurídicos, que podem ser:
(i) atos-fatos reais, também ditos atos materiais, quando consistir em ato humano do qual
resultam circunstâncias fáticas, geralmente irremovíveis (como no exemplo da ocupação); (ii)
atos-fatos indenizativos, que se configuram nas hipóteses em que de um ato humano não
contrário ao direito decorrer prejuízo a terceiro, com o dever de reparar o dano (é o caso do
estado de necessidade, com sacrifício de bem pertencente a um terceiro, como indica o art.
188 da Lei Civil); (iii) atos-fatos caducificantes, correspondendo a situações que constituem
fatos jurídicos, cujo efeito consiste em extinguir direitos, como no caso da decadência ou
prescrição. 10.
9 Ato Jurídico
Em lato sensu, um ato jurídico é aquilo que se deriva de uma ação humana, ou da
declaração de sua vontade, que produz efeito no Direito e possui as seguintes características:
i) ato humano de vontade;
ii) exteriorização da vontade pretendida (até porque a vontade enquanto interior não vincula,
nem produz efeitos. Por isso, se alguém comparece a um leilão e não levanta o braço, estará
impossibilitado de apresentar um lance para a aquisição do bem leiloado);
iii) consciência dessa exteriorização de vontade (se, nesse mesmo leilão, levanto o braço para
chamar o garçom, sem ter consciência de que estarei oferecendo um lance, não posso estar
praticando ato jurídico);
iv) que essa vontade exteriorizada dirija-se à obtenção de resultado permitido (não proibido)
pela ordem jurídica.11
Vale lembrar que a exteriorização da vontade pode ocorrer de duas maneiras: a manifestação
(quando o indivíduo demonstra por ações) e a declaração (quando o indivíduo demonstra por
palavras).
Ademais, diferenciam-se os atos jurídicos em: atos jurídicos stricto sensu e negócios
jurídicos. Dessa forma, enquanto o primeiro diz respeito aos atos que tem por efeito algo já
previsto em lei, o segundo possui autonomia para regular os seus interesses e efeitos, ou seja,
“quando a autonomia da vontade não exercer influência nos efeitos decorrentes, ter-se-á ato
jurídico sentido estrito, cujo efeito se produz ex lege, sem considerar a vontade do agente; já
se o resultado depender da vontade (ex voluntate), é caso de negócio jurídico.”12.
10 Negócio Jurídico
10
Idem, ibidem, p. 603
11
Idem, ibidem, loc. cit.
12
Idem, ibidem, p. 605
tendo por fim a aquisição, modificação, transferência ou extinção de direitos.”13, dessa forma,
o negógio jurídico é mais “rico e complexo” que o ato jurídico, visto que ele produz efeitos
que vão além daqueles previstos em lei.
10.2 Definição
De acordo com Orlando Gomes, negócio jurídico é “toda declaração de vontade destinada
à produção de efeitos jurídicos correspondentes ao intento prático do declarante se
reconhecido e garantido pela lei” 14.
Além disso, vale lembrar que o Código Civil de 1916 não admitia diferença entre negócio
jurídico e ato jurídico stricto sensu, entretanto, a partir do Codex de 2002, influenciado pela
Escola alemã, houve a distinção.
10.4 Classificação
Quanto à classificação, faz-se necessário, mais uma vez, evocar as claras palavras de
Cristiano de Farias e Nelson Rosenvald ipsis litteris:
i) quanto à declaração de vontade das partes, o negócio jurídico pode ser unilateral (quando
se aperfeiçoar apenas com uma única manifestação de vontade, como no testamento),
bilateral (sendo aquele que se completa com duas manifestações de vontade, coincidentes
com o mesmo objeto, através de consentimento mútuo, porém com interesses antagônicos,
como se pode notar no casamento ou na compra e venda) ou, ainda, plurilateral (dizendo
respeito àquele negócio que envolve a composição de mais de duas vontades paralelamente
manifestadas por diferentes partes, com um interesse convergente, como, e. g., no contrato de
sociedade);
13
Idem, ibidem, p. 606
14
GOMES apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 607
15
FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 609
16
AMARAL apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 610
17
AMARAL apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, loc. cit.
18
AMARAL apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, loc. cit.
ii) quanto aos titulares, o negócio pode ser inter vivos (quando é celebrado para produzir
efeitos desde logo, quando ainda vivos os contratantes, ainda que, eventualmente, um deles
venha a morrer, de que é exemplo o contrato de compra e venda) ou causa mortis (cujos
efeitos somente decorrem após o óbito de um ou de mais de um dos declarantes, podendo ser
lembrado o testamento);
iii) quanto aos benefícios patrimoniais reconhecidos às partes, o negócio jurídico pode ser
oneroso (quando há vantagem patrimonial para ambas as partes. É o exemplo do contrato de
compra e venda. Vale lembrar que o negócio oneroso pode ser comutativo ou aleatório,
distinguindo-se porque naquele há prévio conhecimento das vantagens econômicas auferidas
pelas partes, como na aquisição de um bem imóvel, enquanto neste as vantagens a serem
obtidas são incertas e não sabidas, como no contrato de seguro e na cessão de direitos
hereditários), gratuito (referindo-se àquele em que só uma das partes aufere benefícios, de
que é hipótese a doação sem encargo, chamada de pura e simples), neutro (constituindo
espécie desprovida de expressão econômica, como na gestação em útero alheio, que será,
necessariamente, destituída de qualquer envolvimento patrimonial, consoante a advertência
da Lei no 9.434/97) ou bifronte (quando o negócio puder ser gratuito ou oneroso, a depender
da vontade almejada pelas partes, como se nota do contrato de depósito, que permite a
convenção de remuneração do depositário, convertendo-se em oneroso, nos termos do art.
644 do Código Civil);
iv) quanto à forma, pode ser o ato negocial formal (também dito solene, quando tiver de
obedecer a alguma solenidade exigida por lei, como da essência do ato,como o casamento ou
a compra e venda de imóvel) ou informal (com forma livre, consistindo na regra geral, de que
é exemplo um empréstimo);
vi) quanto à duração, poderá o negócio ser instantâneo (cujos efeitos são exauridos em
momento único, podendo ser lembrada como exemplo a compra e venda à vista) ou de
duração, também dito de trato sucessivo (hipótese em que os efeitos são protraídos no tempo,
como na compra e venda em prestações). Releva a distinção porque somente o negócio de
trato sucessivo admite a resolução ou revisão judicial por onerosidade excessiva, nos termos
dos arts. 478 a 480 do Código Civil;
vii) quanto à causa, existe o negócio jurídico causal (quando fundado em motivo
determinante) ou abstrato (sem causa predeterminada);
viii) quanto à eficácia, pode ser que o negócio assuma forma consensual (bastando-lhe, para o
seu aperfeiçoamento, a exteriorização da vontade das partes), solene (quando for exigido, por
lei, o atendimento a alguma formalidade ou solenidade, sob pena de nulidade, nos termos do
art. 166 da Lei Civil) ou real (hipótese em que a perfectibilização do negócio jurídico
depende da tradição, isto é, da efetiva entrega do objeto negocial).19.
Além disso, também é falado sobre a extensão de interesses do negócio jurídico, que pode
ser intersubjetiva, plúrima ou individual homogênea, sendo a primeira quando há apenas uma
pessoa em cada ponta da relação, a segunda quando há mais de uma pessoa em pelo menos
um polo da relação e, por fim, a terceira quando existir uma entidade em uma das partes,
representando a vontade de um determinado grupo de pessoas.
19
FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 611-612
Por fim, é válido lembrar que os negócios jurídicos podem ter efeitos difusos ou coletivos,
sendo estes quando forem produzidos efeitos forem de dimensões coletivas, como no caso de
sindicatos que defendem direitos trabalhistas (coletivos), enquanto aqueles quando forem
representados interesses difusos, como os interesses ambientais 20.
20
Lembrando que os negócios com efeitos difusos serão sempre extrapatrimoniais.
21
Idem, ibidem, p. 614
22
Idem, ibidem, loc. cit.
23
Idem, ibidem, p. 615
24
Idem, ibidem, loc. cit.
25
Idem, ibidem, p. 616
26
Idem, ibidem, loc. cit.
27
Idem, ibidem, loc. cit.
aceitação, o “silêncio eloquente”28, o que, talvez, possa validar a famosa fala popular “quem
cala consente”.
Mais adiante, o art. 112 do Código de 2002 diz que a vontade real, ou seja, a intenção das
declarações, valerá mais que o sentido literal delas, sendo necessário agir de com boa-fé. Seria
essa a chamada teoria da confiança.
Acresça-se a isso o art. 114 do Estatuto da Cidadania “impõe interpretação restritiva para
os negócios benéficos e para a renúncia” 29. Exemplificando: “não se pode imputar ao fiador
obrigações supervenientes, inexistentes quando da prestação da garantia, em razão da
interpretação restritiva.”30.
Por fim, é sempre válido lembrar que, de acordo com o art. 423 do Código Civil e art. 47
do Código do Consumidor, em contratos de adesão ou de consumo será superior a
interpretação que mais favorecer a parte fraca, no caso, o aderente ou consumidor.
28
Idem, ibidem, p. 617
29
Idem, ibidem, p. 618
30
Idem, ibidem, loc. cit.
31
Idem, ibidem, p. 619
32
Idem, ibidem, p. 620
10.8.2 Os requisitos da validade
Enquanto no plano de existência existem os elementos essenciais, no plano subsequente,
ou seja, de validade, tem-se os requisitos para a validade, que se dão baseados nos primeiros,
de acordo com o art. 104 do Código Civil, que são:
i) agente capaz;
ii) objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
iii) forma adequada (prescrita ou não defesa em lei);
iv) vontade exteriorizada conscientemente, de forma livre e desembaraçada.33
Sobre o agente, é possível afirmar que ele deve ser capaz, de acordo com as hipóteses de
absoluta e relativa incapacidade, podendo ser dado como nulo ou anulado, respectivamente.
Além disso, vale lembrar que a lei pode, também, exigir algum outro requisito além da
capacidade do agente.
Sobre o objeto, como já supracitado, deve ser lícito, possível, determinado ou
determinável, não podendo ir contra a norma, a moral ou os bons costumes e, caso não sejam
cumpridos esses requisitos, o negócio é inválido. Não se olvide que a impossibilidade
absoluta do objeto, e somente ela, pode anular um negócio juridico. Caso a impossibilidade
seja parcial o negócio negócio perdurará, mas pode se submeter a um controle de eficácia.
Sobre a forma, pode-se dizer que ela é, em regra, livre, entretanto, caso seja previsto em
lei ou decorrente da vontade de uma das partes, a forma pode adquirir um caráter especial, de
acordo com o art. 107 do Códex de 2002. Lembre-se: a forma é livre, a menos que haja uma
especificidade prevista na lei ou na vontade de uma parte, caso contrário, ela é livre.
Sobre a vontade, ela deve ser externada de forma livre e totalmente desembaraçada, ou
seja, nenhuma parte deve ser coagida a consentir com algo se não está, realmente, de acordo
com aquilo. Portanto, não deve haver nenhuma malícia, tampouco vício expresso na
declaração da vontade, porém, caso isso seja feito, serão caracterizados os defeitos do negócio
jurídico, podendo ser de vícios da vontade, quando a vontade expressa discordar da vontade
de fato, por qualquer motivo que seja, ou vícios sociais, quando a vontade é explicitada com o
fito de fraudar a lei ou prejudicar alguém.
33
Idem, ibidem, p. 622
34
MAIA JÚNIOR apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 625
esta (a “outra”) responderá pelo eventual negócio ou ato jurídico, se respeitado a boa-fé das
partes.
Dessa forma, nesta situação impera a teoria da aparência, chamada pelos autores de
“representação ou procuração aparente”35, que, basicamente, fala que “apesar de não existir a
manifestação de vontade do representado em outorgar poderes, a conduta dele, objetivamente
consideraram contribui para formar no terceiro a convicção de ter sido outorgada
procuração.”36. Isto é amparado pela doutrina e também pela jurisprudência.
35
FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 625
36
MAIA JÚNIOR apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 625
37
FARIAS & ROSENVALD, 2017, p, 627
38
Idem, ibidem, p. 632
vi) A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática sem comninar sanção
(deixando antever que o rol não é taxativo, mas meramente exemplificativo, admitindo outras
hipóteses de nulidade, como e. g., na hipótese do testamento conjuntivo, realizado
simultaneamente por duas pessoas que também é nulo de pleno direito). 39
Sendo nulo, o ato ou negócio não produz efeito jurídico e tampouco prescreve. É valido
lembrar que a invalidade deve ser reconhecida por decisão judicial meramente declaratória,
pois ela, como já supracitado, diz respeito a interesses públicos. Ademais, a nulidade do
negócio jurídico apresenta as seguintes características elementares:
i) Opera-se de pleno direito;
ii) Pode ser invocada por qualquer pessoa, inclusive pelo Ministério Público;
iii) Não admite confirmação, sendo pois, irratificável;
iv) É imprescritível;
v) Pode ser conhecida ex officia40
39
Idem, ibidem, loc. cit. (Nota: para uma explicação mais detalhada de cada ponto veja as páginas 633 e 634)
40
Idem, ibidem, p. 635
41
Idem, ibidem, p. 635-636
42
Idem, ibidem, p. 637
43
Idem, ibidem, p. 638
Além disso, sobre a invalidade relativa, vale dizer que “o ato poderá ser praticado,
mesmo sem a assistência respectiva, não podendo, por exemplo, o notário ou tabelião se
recusar a lavrar o seu registro, se for o caso.”44.
f) Quadro Conclusivo
Distinção entre nulidades e anulabilidades 50
Nulidades Anulabilidades
Fundamenta-se em razões de ordem pública. Fundamenta-se em razões de ordem privada.
Pode ser declarada de ofício pelo juiz, a Somente poderá ser invocada por aquele a
requerimento do MP, ou de qualquer quem aproveite, não podendo ser reconhecida
interessado. de ofício.
Não é suscetível de confirmação. É suscetível de confirmação ou redução.
Não convalesce pelo passar do tempo. Prazo decadencial de quatro anos.
Não produz efeitos Produz efeitos, enquanto não for anulado.
Reconhecida através de ação meramente Reconhecida através de ação Desconstrutiva,
declaratória. sujeita a prazo decadencial.
Admite conversão substancial. Admite sanação pelas próprias partes.
44
Idem, ibidem, p, 639
45
Idem, ibidem, loc. cit.
46
Idem, ibidem, p. 639-640
47
Idem, ibidem, p. 640
48
Idem, ibidem, loc. cit.
49
Idem, ibidem, loc. cit.
50
Idem, ibidem, p. 641
válida para casos nulos, pois, para os anuláveis, é necessária apenas a manifestação de
vontade das partes para que o negócio seja convalidado.
Para que seja admitida a conversão substancial devem estar presentes os seguintes
elementos:
(i) elemento de natureza objetiva, consistente na possibilidade de aproveitamento (pois na
conversão não se cria novo suporte fático) dos elementos fáticos do negócio inválido em
nova figura negocial; (ii) elemento de natureza subjetiva, relacionado à intenção dos
declarantes dirigida a obter a recategorização jurídica do negócio nulo. 51
Além disso, é sempre bom lembrar que somente o juiz pode declarar a conversão
substancial, muito embora ela possa ser reclamada tanto pelas partes, quanto por terceiros,
sendo restrita essa possibilidade apenas para quem deu nulidade à causa. Também deve-se
lembrar que conversão substancial é diferente de conversão legal.
10.8.6 A simulação
Simulação seria uma “declaração enganosa de vontade, visando produzir efeito diverso
do ostensivamente indicado”52, sendo assim: “A simulação revela-se como o intencional e
propositado desacordo entre vontade declarada (tornada exterior) e a vontade interna
(pretendida concretamente pelo declarante), fazendo com que seja almejado um fim diverso
daquele afirmado.”53, indo contra um dos pontos essenciais para a validade do negócio
jurídico (mais especificamente o ponto iv, presente no subtópico 10.8.2).
Além disso, a simulação pode aparecer de forma absoluta ou relativa, sendo esta referente
à quando a real intenção de uma parte diverge da da vontade exterrnada, declarada, enquanto
aquela concerne em um ato ou negócio praticado com o fito de não produzir nenhuma eficácia,
ou seja, não há negócio nenhum, mas uma “mera aparência”54. Lembrando que: ambos os
casos geram nulidade d negócio jurídico e não produzem efeito.
Desse modo, pode-se dizer que há simulação quando:
i) os negócios estiverem aparentando conferir ou transmitir direitos a pessoas siversas
daquelas às quais realmente se conferem ou transmitem, havendo interposição fictícia de
pessoa, nos termos do art. 167, § 1º, I, do Estatuto Civil (são os chamados “testas de ferro” ou
“laranjas”, como no clássico exemplo do homem casado que, não podendo realizar doação
para a sua amante, concubina impura, porque reputada nula pelo ordenamento, o faz para o
irmão dela);
ii) os contratos contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira,
conforme previsão do inciso II, do § 1º, do art. 167, da Codificação (é o típico exemplo dos
falsos atestados médicos);
iii) os instrumentos particulares forem antedatados ou pós-datados, de acordo com o inciso III,
do § 1º, do multicitado artigo (falsidade da data afirmada no negócio jurídico). 55
Vale citar que existe uma discussão acerca dimulação relativa inocente ou tolerável, que é
aquela que, mesmo existindo desacordo entre “o que deveria ser” e “o que foi”, inexiste
prejuízo para qualquer uma das partes. Segundo Cristiano de Farias e Nelson Rosenvald, não
há necessidade de anular um negócio jurídico que apresente tal simulação, entretanto alguns
juristas discordam.
10.9.1 Generalidades
Sobre a eficácia, Antonio Junqueira de Azevedo é mais que claro em afirmar que:
51
Idem, ibidem, p. 644
52
BEVILÁQUA apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 645
53
FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 645
54
Idem, ibidem, p. 646
55
Idem, ibidem, loc. cit.
[...] o terceiro e último plano em que a mente humana deve projetar o negócio jurídico para
examiná-lo é o plano da eficácia. Nesse plano, não se trata, naturalmente, de toda e qualquer
possível eficácia prática do negócio, mas sim, tão só, da sa eficácia jurídica e, especialmente,
da eficácia própria ou típica, isto é, da eficácia referente aos efeitos manifestados como
queridos.56
E, exatamente nesse ponto, se deve analisar a presença de condições, termos e modos (ou
encargos), como elementos acidentais do negócio jurídicos. 57
10.9.2 Condição
De modo geral, a condição pode ser definida como um evento futuro e incerto, que
determinará os efeitos (ou não) de um negócio jurídico, por exemplo, se uma pessoa faz um
acordo em que diz que caso o Flamengo vença o próximo jogo contra o Corinthians, ela doará
determinada quantidade de dinheiro para a caridade. Neste caso meramente ilustrativo, fica
claro que a eficácia do negócio negócio (doação) só ocorrerá caso um evento futuro e incerto
ocorra, no caso, a vitória de um time sobre o outro.
Ademais, pode-se classificar a condição de diferentes formas, a partir de variados
critérios, vide:
i) quanto à maneira de atuação, a condição será suspensiva ou resolutiva. Aquela (suspensiva)
impedirá a produção de qualquer efeito até que se realize o evento a que se subordinou a
eficácia negocial (é o conhecido exemplo doarei um bem se você casar). Os efeitos ficam
contidos até que o acontecimento se concretize. Antes do implemento da condição suspensiva,
não se opera a aquisição, nem o exercício, do direito a que se subordina. Acresça-se,
outrossim, que, pendente uma condição suspensiva se o titular fizer novas disposições,
incompatíveis com a condição, não terão valor (é o exemplo da doação feita a alguém sob
condição suspensiva e realizada, em seguida, para outrem). Esta (resolutiva), ao seu turno,
faz cessar os efeitos que estão se produzindo (como, v. g., no empréstimo de um livro até que
o donatário se forme). Com espeque no art. 128 do Código Civil, sobrevindo condição
resolutiva, extingue-se o direito a que ela se opõe.
ii) quanto à licitude, podendo ser lícita ou ilícita. A distinção é feita, pelo art. 122 da
Codificação, por exclusão: são lícitas, genericamente, as condições não contrárias à lei, à
ordem pública ou aos bons costumes, deixando à mostra o campo das condições ilícitas, por
simples análise inversa. Exemplo típico é a condição consistente em impedir alguém de casar,
em face do absoluto cerceamento de uma liberdade. Também são reputadas ilícitas as
condições que privarem o negócio de todo e qualquer efeito (como no exemplo de alguém
que doa um imóvel se o donatário jamais utilizar ou fruir do bem), bem assim como as que
sujeitarem o negócio, exclusivamente, ao puro arbítrio de um dos negociantes (são as
chamadas condições puramente potestativas, que conferem a alguém absolutos poderes,
retirando a própria essência negocial, como na cláusula si voluero, isto é, “se me aprouver”,
“se eu quiser”...). A consequência da ilicitude da condição é a invalidação do próprio negócio
jurídico, como reza o art. 123 do Texto.
iii) quanto à possibilidade, a condição pode assumir feição possível ou impossível, física ou
juridicamente. Fisicamente impossível é a condição que não poderá ser atendida por qualquer
ser humano, como levar o mar à Feira de Santana ou ao sertão baiano. Sob o prisma jurídico,
a impossibilidade prende-se a uma vedação do ordenamento jurídico, como na proibição de
ato de disposição da herança de pessoa viva (art. 426, CC). Quando suspensiva, a condição
impossível física ou juridicamente invalidará o negócio jurídico (art. 123, I, CC).
iv) quanto à fonte de onde deriva, nota-se que a condição pode ser casual, potestativa ou
mista, se originou de evento fortuito, da vontade de um dos negociantes ou, a um só tempo,
da vontade de um dos agentes e de outra circunstância. Se a condição depende do acaso,
diz-se casual (exemplo nítido é a não ocorrência de uma tempestade). Se decorrer da vontade
56
AZEVEDO apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 649
57
Nota: lembre-se que, excepcionalmente, alguns negócios nulos podem ter efeitos, como é o caso do casamento nulo,
citado por Farias e Rosenvald.
de uma das partes, é potestativa (lembrando que somente são admitidas as condições
simplesmente ou meramente potestativas, sendo aquelas dependentes de manifestação
volitiva de uma das partes, como no exemplo de realizar uma viagem, pois as condições
puramente potestativas são vedadas pelo art. 122 do Código Civil). Finalmente, a condição
mista é a que conjuga a vontade de uma das partes e uma circunstância externa, como na
doação que se realizará se o donatário casar com determinada pessoa.58
“Enfim, condição é se.”59.
10.9.3 Termo
Sobre o termo, pode-se dizer que, assim como a condição, ele é futuro, entretanto, ao
contrário desta, ele é garantido, ou seja, ele traz certeza e futuridade. Dessa forma, o termo
pode ser determinado (ou certo), quando se referir a uma data específica do calendário (por
exemplo: o dinheiro será entregue no dia 13 de janeiro), mas também pode ser indeterminado
(ou incerto), quando diz respeito de algo que, apesar de garantido, não possui uma data fixa
(como um testamento, que só tem a eficácia após a morte do testador).
Ademais, “o termo poderá ser inicial (dies a quo), relativo àquele evento futuro e
inevitável que suspende o início da eficácia do ato, ou final (dies ad quem), caracterizado
quando a eficácia do negócio expira com o advento daquela data”60, e também “o termo,
presumivelmente, é estabelecido em favor do devedor, salvo se o instrumento, expressamente,
contemplar disposição distinta ou o contrário resultar das circunstâncias do negócio”61.
“Em resumo, é possível afirmar que o termo é quando.”62.
10.10.1 Generalidades
São chamados defeitos do negócio jurídico vícios que estejam presentes nesses, podendo
variar em vícios sociais e vícios de consentimento (ou de vontade), sendo estes quando o
desejo interno do declarante for diferente do exteriorizado, como ocorre no erro, no dolo, na
coação, na lesão e no estado de perigo, enquanto aquele referente à situação em que a vontade
externalizada é igual à real desejada, porém esta tenha o fito de prejudicar um terceiro ou
burlar uma lei, como na fraude contra credores.
10.10.3 Dolo
O dolo, como já supracitado, se assemelha ao erro, entretanto, ao invés de ser espontâneo,
ele é induzido por alguém, seja um terceiro ou a outra parte do negócio jurídico. Assim como
o erro, para que o dolo anule um negócio jurídico ele precisa afetar a parte essencial deste, ou
seja, é preciso que o dolo tenha gerado a vontade de promover aquele negócio e, sem ele, não
existiria negócio, sendo dolo acidental quando ele afeta somente uma parte secundária.
Além disso, também diferencia-se o dolus bonus e o dolus malus. O último seria o ato de
iludir uma parte com o intuito de viciar o negócio jurídico, gerando prejuízo na parte contrária.
O primeiro seria basicamente o exagero feito por alguns vendedores, por exemplo, ao afirmar
que seu produto é o “melhor do mundo”66.
Ademais, é válido que o dolo também pode ser classificado em positivo (ou comissivo) e
negativo (ou omissivo/reticência), sendo o primeiro referente a um dolo gerado por uma ação
do agente, enquanto o segundo seria por conta do seu silêncio intencional. Vale também
destacar que, se ambas as partes agem com dolo, nenhuma poderá anular o negócio, pois neste
caso as duas agiram de má-fé.
Por fim, cabe apresentar a síntese feita por Cristiano de Farias e Nelson Rosenvald acerca
de elementos caracterizadores do dolo:
i) Finalidade de conduzir à prática do ato;
ii) Gravidade dos artifícios utilizados;
iii) Ser a causa determinante da declaração de vontade, viciando-a;
iv) Ser realizado pela outra parte do negócio ou seu procurador e, se realizado por terceiro,
que a parte contrária, a quem o dolo aproveite, tenha ciência dele ou devesse ter. 67
10.10.4 Coação
Coação é toda e qualquer pressão física ou moral feita contra alguém para, contra a sua
vontade, forçar a prática de um negócio jurídico. A coação física (ou vis absoluta) é uma
65
Idem, ibidem, p. 656
66
Neste caso, por conta do art. 37 do Código do Consumidor, o dolus bonus não pode ser utilizado em relações de consumo,
pois se configura como propaganda enganosa.
67
Idem, ibidem, p. 662
pressão externa que limita o movimento de alguém e reprime as suas vontades, enquanto a
coação moral (ou vis compulsiva) é a ameaça de um dano material ou imaterial feita ao
declarante ou a alguém com vínculo afetivo a este, com o intuito, mais uma vez, de forçar um
negócio jurídico contra a vontade da pessoa. Vale citar também que na coação física o
negócio inexiste, enquanto na moral ele é anulável.
São requisitos para se configurar coação os seguintes pontos:
i) gravidade (ameaça de um dano sério a ser imposto à vítima ou a terceiro a quem se vincule
afetivamente);
ii) seriedade (que a coação seja idônea para assustar a vítima);
iii) iminência ou atualidade;
iv) nexo causal entre a coação e o ato extorquido (ou seja, o negócio somente foi realizado
por conta da coação);
v) que o ato ameaçado seja injusto68
10.10.5 Lesão
Lesão se caracteriza como:
o prejuízo sofrido por uma das partes na conclusão do negócio, decorrente da desproporção
existente entre as prestações dos contraenttes, sendo que, um dos negociantes, valendo-se da
premente necessidade (conhecida ou não) ou da inexperiência do outro, obtém lucro
exorbitante ou desproporcional ao proveito resultante da prestação69
Dessa forma, a lesão pode se fazer presente nas seguintes espécies:
a) a lesão enorme ou lesão propriamente dita, incluída a lesão enormíssima, resgatada a
partir de referências históricas no Direito Romano, caracterizada, simplesmente, pelo excesso
nas vantagens e desvantagens, tratando-se de defeito exclusivamente objetivo.
Materializava-se a partir de um critério tarifado, bastando, v. g., que no contrato de compra e
venda ocorresse desproporção superior à metade do justo preço;
b) a lesão usurária ou usura real, contemplada na Lei de Economia Popular, originada nas
influências do BGB, § 138, exigindo para a sua concretização, além do requisito objetivo,
outros de ordem subjetiva: (b.1) o estado de necessidade, a inexperiência ou a leviandade da
parte que declara a vontade, e (b.2) a consciência da parte que causa a lesão, se beneficiando
de forma dolosa, sabendo estar lesando a parte contrária (é o chamado dolo de
aproveitamento, exigível em face do caráter penal da lesão usurária). Veja-se que não se
investiga a vontade da vítima, mas a do autor da lesão, que pratica ato contrário aos bons
costumes;
iii) a lesão especial, assim intitulada por falta de qualificação específica162 e contemplada
no Código Civil, em seu art. 157. Diferencia-se da lesão enorme porque para a sua
caracterização não é bastante a desproporção entre as prestações (elemento objetivo),
exigindo-se, também, requisitos relacionados aos sujeitos (subjetivos). Também se distingue
da lesão usurária, no entanto, pois não cogita do dolo de aproveitamento da parte beneficiada,
caracterizando-se independentemente da vontade da parte que se beneficia em lucrar
exageradamente. Não se persegue a ocorrência de um ilícito;
iv) a lesão consumerista, tipificada no Código de Defesa do Consumidor, caracterizada, nas
linhas gerais do Direito Romano, pelo simples elemento objetivo, dispensada a perquirição
subjetiva. Porém, ao contrário da lesão enorme, não há qualquer tarifamento da desproporção
existente entre as prestações, cabendo ao juiz analisar a sua ocorrência caso a caso.70
Quanto ao reconhecimento da lesão, pode-se afirmar que ele é dependente de dois
elementos essenciais: um de ordem objetiva e o outro subjetiva, sendo o primeiro
caracterizado pela desproporção entre as parcelas estabelecidas em um negócio jurídico e a
segunda referente à inexperiência ou necessidade da parte desfavorecida diante da aceitação
68
Idem, ibidem, p. 663
69
Idem, ibidem, p. 667
70
(STJ, Ac. 4a T., REsp. 15.915-4/MG, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar Jr., j. 25.3.1998, DJU 22.6.1998, p. 99) apud
FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 665-666
do negócio. Sobre as prestações, é importante dizer que a lei brasileira não determina um
número ou porcentagem para que seja considerada abusiva, isso é feito casuísticamente, e,
sobre a inexperiência ou necessidade do lesado, é importante frisar que a parte beneficiada
não precisa ter a intenção de ganhar lucros exorbitantes, mas sim apenas que conheça a
situação precária da vítima.
Por último, é imprescindível distinguir lesão de negócio aleatório, pois, enquanto naquele
uma das partes se aproveita da outra para dela conseguir lucros exagerados, nesta há um risco
desconhecido (tanto de ganho quanto de perda) para ambos os lados, com alta incerteza.
74
Idem, ibidem, p. 679
75
Idem, ibidem, loc. cit.
76
Idem, ibidem, p. 680
77
Idem, ibidem, p. 685
Atos praticados são Atos praticados são Atos praticados são
anuláveis. Segundo a Lei ineficazes em relação ao ineficazes em relação ao
Civil (embora alguns credor lesado credor lesado
entendam ineficazes)
Exige ação pauliana para o Dispensa ação pauliana, Dispensa ação pauliana,
seu reconhecimento podendo ser conhecida de podendo ser conhecida de
ofício e nos próprios autos da ofício e nos próprios autos da
execução execução
Exige elemento objetivo Exige apenas o elemento Não exige qualquer elemento,
(dano) e subjetivo (conluio objetivo (dano) bastando a alienação de bem
fraudulento) que sofreu constrição judicial
11 O fato ilícito
78
Idem, ibidem, p. 688
79
Idem, ibidem, p. 689
80
Idem, ibidem, loc. cit.
81
Idem, ibidem, p. 692
O fato ilícito é, assim, uma transgressão de um dever jurídico que possa ser imputável a
alguém, podendo ser originada de duas fontes: de um dever diretamente oriundo de uma lei ou
proveniente de uma vontade expressada em um negócio jurídico.
Além disso, o fato ilícito possui os seguintes elementos essenciais:
(i) a conduta do agente (comissiva ou omissiva) contrária ao ordenamento jurídico; (ii) a
culpa (lato sensu, abarcando, a um só tempo, o dolo, e a culpa stricto sensu, caracterizada
pela imprudência, negligência e imperícia); (iii) o dano causado a terceiro (de ordem
patrimonial ou não patrimonial); (iv) o nexo de causalidade entre a conduta culposa e o
prejuízo imposto ao ofendido. 82
12 O abuso do direito
12.2 O abuso de direito na ordem civil-constitucional e a sua íntima relação com a boa-fé
objetiva
Tendo isso em mente, é possível fazer uma clara relação com o abuso de direito e a
boa-fé objetiva, pois esta “pressupõe um vínculo já existente de confiança entre quem invoca
esse princípio e quem deve comportar-se com submissão perante ele.” 86, sendo assim, a
boa-fé se caracteriza como um ótimo parâmetro para definir limites para o ato antijurídico,
visto que ela determina o caráter ético da relação.
12.5.1 Generalidades
85
Idem, ibidem, p. 699
86
Idem, ibidem, p. 702
87
Idem, ibidem, p. 705
88
Idem, ibidem, p. 706
89
Idem, ibidem, p. 708
90
Idem, ibidem, p. 709
“o abuso do direito se apresenta, nos mais distintos âmbitos de sua incidência, com
diferentes formas e feições, modelando-se às variações que defluem da própria boa-fé
objetiva”91.
12.5.4 O tu quoque
O tu quoque é um tipo de proibição de comportamento contraditório, sendo ele quando a
“aplicação de critérios valorativos distintos para reger situações jurídicas substancialmente
idênticas”97, ou seja:
Ocorre o tu quoque quando alguém viola uma determinada norma jurídica e, posteriormente,
tenta tirar proveito da situação, com o fito de se beneficiar. Nessa figura, portanto,
encontra-se um acentuado aspecto de deslealdade, malícia, gerando a ruptura da confiança
depositada por uma das partes no comportamento da outra, por conta dos critérios valorativos
antes utilizados.98
Além disso, também é válido trazer uma tabela 99 feita pelos autores para diferenciar o tu
quoque do venire contra factum proprium, veja:
Ato prévio Ato posterior Consequências
Venire contra factum Positivo (exercido Negativo (exercido O ato posterior é tido
91
Idem, ibidem, loc. cit.
92
Idem, ibidem, p. 711
93
Idem, ibidem, p. 714
94
Idem, ibidem, loc. cit.
95
Idem, ibidem, loc. cit.
96
Idem, ibidem, p. 715
97
Idem, ibidem, p. 718
98
Idem, ibidem, loc. cit.
99
Idem, ibidem, p. 719
proprium em conformidade em desconformidade como ilícito
com o direito) com o direito)
Tu quoque Negativo (exercido Positivo (exercido O ato posterior é tido
em em conformidade como ilícito
desconformidadade com o direito)
com o direito)
12.5.5 O duty to mitigate the loss (o dever do credor de mitigar as próprias perdas)
O duty to mitigate the loss “consiste na obrigação do credor em buscar evitar o
agravamento do devedor” 100 , ou seja, “se o credor se comporta de maneira excessiva,
comprometendo e agravando a situação jurídica do devedor, estará caracterizado o abuso do
direito”101.
Referências
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: 1 parte
geral e lindb. 15. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. 880 p.
100
GARCIA apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 720
101
FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 720
102
ALBUQUERQUE apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 723
103
ASSIS apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 723
104
SILVA apud FARIAS & ROSENVALD, 2017, p. 725