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Introdução ao Estudo do Direito

1º teste escrito de avaliação contínua — 23 de outubro de 2018

Advertências:

As perguntas devem ser lidas cuidadosamente e as respostas devem ser concisas, objetivas e
devidamente justificadas, sempre que possível com recurso à lei.
A ordem de resposta às perguntas pode ser alterada, desde que as respostas identifiquem
claramente a questão a que se referem.
É permitida a consulta de quaisquer diplomas legais.

O tempo disponível é de 30 minutos.

Cotação das perguntas: 7 – 6 – 7

I.
"[No] domínio do jurídico, o recurso a meios de coação para repor a Justiça [é] não apenas
legítimo, mas até exigível" (João Baptista Machado). Comente esta asserção explicando, de
forma sucinta e objetiva, os fundamentos invocados pelo autor para chegar a esta conclusão
no contexto da relação entre Direito e Coação.

Tópicos:

(Nota prévia: os tópicos que se seguem visam apenas indicar as coordenadas de resposta à
questão colocada; são indicadas duas abordagens possíveis mas seriam sempre consideradas
outras abordagens, naturalmente).

Aspetos comuns - 3 valores

1,0 - identificação do problema; (explicar) saber se a coação é definidora do Direito, se é


essencial à resposta à pergunta "o que é o Direito"

1,0 - o Direito é uma ordem de convivência humana (e social); não é uma ordem qualquer, é
uma ordem guiada por uma ideia de Justiça

0,5 - (explicar) a essência do Direito é a correspondência ao referencial de Justiça; é isso


que confere validade às normas jurídicas

0,5 - a coação não é da essência do Direito

1.ª alternativa (+4 valores)

1,0  - o Direito visa resolver/prevenir conflitos e isso implica, entre outras coisas, a
imposição de deveres, a limitação da liberdade individual 
1,0 - a inobservância de deveres e limitações põe em causa a própria ordem justa

1,0 - o desrespeito dos limites à liberdade individual implica um alargamento desses limites à
custa da liberdade de outros (injustiça)

1,0 - o recurso à força visa restaurar a ordem justa; por isso o recurso é legítimo e exigível

2.ª alternativa/foco: (+4 valores)

1,0 - a coação é necessária; para garantir vigência/eficácia social às normas jurídicas 

1,0 - a coação é legítima; é legitimada pela ideia de Justiça; a violação das normas
essenciais à vida comunitária põe em causa a validade (a Justiça)

1,0 - a coação é (pode ser) exigível (para repor a Justiça)

1,0 - a coação é regulada, subordinada ou limitada pelo Direito.

II.
No contexto da distinção entre Direito Público e Direito Privado, explique em que consiste a
teoria da supraordenação/infraordenação (também designada posição relativa dos sujeitos) e
quais as críticas que lhe podem ser apontadas.

A teoria da supraordenação/infraordenação (também conhecida por teoria da posição dos


sujeitos) é uma das teorias que propõe um critério de distinção entre Direito Público e
Direito Privado. Segundo esta teoria,
- o Direito Público regula relações entre sujeitos que se encontram numa posição desigual,
em que há supremacia de um dos sujeitos (jus imperii, publica potestas) em relação ao outro
sujeito (supra-infraordenação), em que a estrutura é de tipo vertical - (1,5);
- enquanto o Direito Privado regula relações entre sujeitos que se encontram numa posição
de igualdade/paridade, em que a estrutura da relação jurídica é de tipo horizontal - (1,5).
Críticas:
- o Direito Público também regula situações em que os sujeitos se encontram em posição de
igualdade (1,0), ex. relações estabelecidas entre municípios (0,5);
- o Direito privado também regula situações em que um dos sujeitos se encontra numa
posição de supremacia/superioridade em relação ao outro, ou seja, em que há relações de
subordinação e dependência (1,0), exs. contrato de trabalho (poderes do empregador em
relação do trabalhador), relação paterno filial (poder paternal quanto a filhos menores)
(0,5).
III.
“Artigo 66.º - Começo da personalidade
1. A personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com vida.”
a) Analise a estrutura da norma do Código Civil acabada de transcrever, identificando e
definindo as partes que a compõem.

- Previsão: “no momento do nascimento completo e com vida” (1)


- Estatuição: “A personalidade adquire-se” (1)
- Previsão ou hipótese legal (ou antecedente): a parte da norma jurídica que descreve o
“modelo” de situação de facto, o facto ou conjunto de factos, a situação típica da vida, (1,0)
- cuja verificação em concreto desencadeia a consequência jurídica fixada na estatuição;
(0,5)

- Estatuição ou consequência jurídica (ou consequente): a parte da norma jurídica que


estabelece a consequência jurídica, os efeitos jurídicos que decorrem da verificação em
concreto da previsão; (1,0)
- efeitos jurídicos: as alterações no mundo do Direito, as alterações das posições ou
situações jurídicas dos sujeitos (atribuição de direitos, reconhecimento de estatutos,
competências ou faculdades, imposição de deveres; constituição, modificação ou extinção de
situações jurídicas/relações jurídicas) (0,5)

b) Classifique em função da vontade o facto jurídico a que se refere a facti species. Justifique
a resposta.

- facto jurídico involuntário (1)


- o facto “nascimento” produz-se independentemente da vontade humana; é um
acontecimento natural (facto legal ou facto natural) (1)
(H. Hörster – A Parte Geral do Código Civil Português, pp. 204 e ss.)
(Foram também consideradas as respostas elaboradas de acordo com a classificação
apresentada por Baptista Machado – Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, p. 83)

FIM

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