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Introdução ao Estudo do Direito

1º teste escrito de avaliação contínua — 25 de outubro de 2019

Advertências:
As perguntas devem ser lidas cuidadosamente e as respostas devem ser concisas, objeti-
vas e devidamente justificadas, sempre que possível com recurso à lei.
A ordem de resposta às perguntas pode ser alterada, desde que as respostas identifiquem
claramente a questão a que se referem.
É permitida a consulta de quaisquer diplomas legais.
O tempo disponível é de 30 minutos.
Cotação das perguntas: 7 – 6 – 7 v.
I
"Artigo 29º - Aplicação da lei criminal
1. Ninguém pode ser sentenciado criminalmente senão em virtude de lei anterior que
declare punível a ação ou a omissão (...)"
A norma da CRP de 1976 acabada de transcrever consagra um instituto que evidencia a
prevalência de um dos fins do Direito.
Identifique esse fim, justificando a resposta.

Tópicos: (B. Machado, pp. 55 a 58)

- Fins do Direito: justiça e segurança; (1,0)


- não retroatividade da lei: princípio/regra predominantemente inspirado pelo
fim/valor da segurança; (2,0)
- segurança como certeza jurídica; estabilização das relações e dos conflitos;
previsibilidade; (1,5)
- no caso, proteção/segurança dos indivíduos em relação ao poder punitivo do
Estado; para que os cidadãos possam conhecer a norma (e as consequências da
violação) antes de agirem (1,0)
- instituto que pode implicar algum sacrifício da justiça, v.g. na sua dimensão
material de igualdade (duas pessoas que praticam o mesmo tipo de facto num
intervalo temporal curto poderão ficar sujeitas a consequências jurídicas
diferentes conforme esse facto já estivesse ou não previsto como punível no
momento em que a conduta foi adotada) (0,5)
- Tensão dialética entre segurança e justiça; (0,5)
Justiça, ideal de hierarquia superior; a segurança é legitimada pela justiça; a
segurança está ao serviço da justiça (é um dos modos de ser da justiça); (0,5)
II
A propósito da distinção entre Direito Público e Direito Privado, diga em que consiste a
teoria dos sujeitos (também designado critério da qualidade dos sujeitos).

- De acordo com este critério, parte-se da norma invocada no conflito de interesses e


aplicada pelos sujeitos da relação jurídica em causa para qualificar a relação jurídica
(ou da qualidade com que, numa relação com particulares, atua a autoridade pública)
1,5v.
- Se a norma é de aplicação geral, ou seja, se pressupõe a igualdade de todos, possui
validade para todos e pode ser invocada por qualquer sujeito independentemente da
sua natureza pública ou privada (ou: se numa relação com particulares a entidade
pública atua fora do exercício de quaisquer funções soberanas, sem poder de imperium,
de autoridade pública), trata-se de uma relação de direito privado e por isso a norma
deve ser qualificada como de direito privado 2,25v.
Se, pelo contrário, a norma não possui validade para todos, só pode ser invocada por
sujeitos, Estado e outras entidades públicas, que gozam do poder de imperium, de
autoridade pública, pressupondo essa qualidade no sujeito (ou: se a entidade pública
atua no exercício das funções soberanas, investida do seu poder de imperium ou
autoridade pública), trata-se de uma relação de direito público e por isso a norma deve
ser qualificada como de direito público 2,25v.

III
Defina, referindo exemplos:
a) Facto jurídico involuntário;
b) Hipótese legal (ou facti-species).

Tópicos:
a)
Facto jurídico é todo o acontecimento que produz efeitos jurídicos (é juridicamente
relevante), os quais podem consistir na constituição, modificação ou extinção de
situações jurídicas (ou relações jurídicas ou direitos e deveres). (1,5 v.)
Facto jurídico involuntário é todo o facto que acontece de forma independente da
vontade humana (não é dirigido pela vontade). (1,5 v.)
Exemplos: o decurso do tempo, o nascimento, a localização de um terreno
relativamente à via pública, uma inundação resultante de uma tempestade, etc. (1,0 v.)
b)
A hipótese legal refere-se à parte da norma que contém a descrição (ou previsão) de
uma categoria de acontecimentos (0,5 v.), os quais, uma vez verificados (0,5 v.),
desencadeiam as consequências jurídicas (0,5 v.) previstas nessa norma. (0,5 v.)
Exemplos: entre muitos exemplos, cfr. a primeira parte do art. 89.º, n.º 1, CC, segundo
a qual: (i) se alguém desaparecer sem que dele se saiba parte, (ii) se essa pessoa não
tiver deixado representante legal ou curador e (iii) se houver necessidade de prover
acerca da administração dos bens dessa pessoa (previsão de um conjunto de
acontecimentos – hipótese legal), deve o tribunal nomear-lhe curador provisório
(estatuição). (1,0 v.)

FIM

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