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Teoria Geral Do Direito Civil II

(Resumos: Menezes Cordeiro)

1. Institutos civis
Normas – proposição que associa a certos acontecimentos (a previsão) determinados efeitos
jurídicos (estatuição); é essencialmente analítica, e tem um âmbito de aplicação muito restrito
(qualquer disciplina jurídica, a ser descrita na base de normas, implicaria toda uma antecipação
do seu regime regulativo).

Princípios – proposição que se limita a imprimir uma certa direção de modelos de decisão
jurídica que, com ele, tenham determinado contacto; aplicação lata, mas muito abstrato (apenas
utilizando conjunções múltiplas é possível exprimir um mínimo de conteúdo prescritivo).

Ao conjunto concatenado de normas e princípios que permite a formação típica de modelos de


decisão, dá-se o nome de instituto jurídico. O instituto jurídico:

• Não é um modelo de decisão (realidade demasiado abstrata para acompanhar os


problemas concretos, com precisão mínima)
• Não equivale ao somatório de normas e princípios que, eventualmente, o componham
e que possam ser apurados
• Não implica a definição ou consciência de todos os seus componentes
• Não é uma instituição ou, pelo menos, não depende do destino ou do sentido que se
quer atribuir a realidade

A ideia de instituto foi utilizada por Savigny: ela exprimiria uma ordenação jurídica pensada
e formada de relações da vida, apresentada como realidade orgânica. Esta construção
savignyana perde-se na evolução conceptualista que lhe seguiu, em que o instituto jurídico
foi tratado como um conceito geral-abstrato (para a sua elaboração retira-se, de uma
realidade, um certo numero de características tidas por comuns a uma serie de outras
realidades). Atualmente, o instituto jurídico deve ser apreendido como um conjunto geral-
concreto (não é formado pelo estudioso antes existindo, como principio ou ideia objetiva,
imanente às realidades, limitando-se o estudioso a apreendê-lo por meio da razão; em
termos práticos não se apresenta através de uma definição abstrata, mas com recurso a
uma serie marcante de aspetos que brotam da mesma realidade e a ela são reconduzidos).

Institutos civis:

➢ Personalidade e tutela
➢ Autonomia Privada
➢ Boa-fé
➢ Imputação de danos
➢ Propriedade e transmissão
1.1. Autonomia privada

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


A autonomia privada conhece, em Direito, uma dupla utilização: em termos amplos,
equivale ao espaço de liberdade reconhecido a cada um dentro da ordem jurídica (engloba tudo
quanto as pessoas podem fazer, um prisma material ou num prisma jurídico), e corresponde a
um dado imanente das pessoas, dotadas, por si mesmas, do poder de criar Direito; em ermos
restritos, a autonomia privada corresponde ao espaço de liberdade jurígena, isto é, à área
reservada na qual as pessoas podem desenvolver as atividades jurídicas que entenderem, e
ocorre por concessão do Direito.

A autonomia privada deixa a liberdade humana a pratica de factos jurídicos, portanto


de ocorrências que, por integrarem previsões normativas, desencadeiam efeitos de direito. O
facto voluntario (facto cuja ocorrência depende da vontade de pessoas e cujos efeitos se
produzem porquanto queridos por essa vontade e na medida em que o sejam), pode enquadrar-
se perante duas situações permissivas distintas:

• Liberdade de celebração – a autonomia privada permite praticar ou não praticar o ato


e, portanto, optar pela presença ou pela ausência de determinados efeitos de Direito, a
ele associados (atos jurídicos em sentido estrito)
• Liberdade de estipulação – a autonomia privada permite optar pela pratica do ato e,
ainda, selecionar, para alem da sua presença, o tipo de efeitos que se irão produzir.

Ela pode atuar em diversos planos, assumindo significados distintos: em termos formais,
corresponde à impossibilidade em que se encontrão Direito de prever todos os significados
concretos; em termos materiais, liga-se a certas liberdades económicas fundamentais, como
sejam a de trabalho e de empresa.

Áreas de incidência (a autonomia privada é um instituto geral de todo o Direito privado;


pode ser apresentada como liberdade ou autonomia contratual, ou como liberdade ou
autonomia negocial, quando tenha em vista a celebração de contratos ou negócios):

a) Direito das obrigações (domínio por excelência): do art.450º surgem, caras, a liberdade
de estipulação e a liberdade de celebração, em termos que abrangem toda a matéria,
salvo disposição em contrario; deste modo, as regras do Direito das obrigações tendem
a ser supletivas, ou seja, aplicam-se apenas quando não sejam afastadas pela vontade
das partes
b) Direito da personalidade: as situações nestes direitos podem ser livremente utilizadas,
mas com dois limites, o da ordem publica (art.81º/1) e o da revogação das limitações
voluntarias (art.81º/2)
c) Direitos reais: há também limitações – para alem de proliferarem as hipóteses de atos
jurídicos em sentido estrito (sem liberdade de estipulação, como no apossamento,
art.1263º, a), na ocupação, art.1318º, no achamento, art.1323º, ou na acessão,
art.1325º), verifica-se que as diversas figuras reais estão sujeitas a uma regra de
tipicidade (art.1306º/1), e só são possíveis quando previstas, de modo expresso, por lei
d) Direito da família: a autonomia domina com algumas limitações - os atos familiares
pessoais implicam apenas liberdade de celebração, e quando praticados, os efeitos
desencadeados são os previstos por lei (ex.: casamento, art.1577º, perfilhação,
art.1849º, e o consentimento para adoção, art.1981º); os atos familiares patrimoniais
apresentam já alguma liberdade de estipulação, pautada embora por numerosas
limitações legais (ex.: art.1698º)

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


e) Direito das sucessões: a autonomia privada controla o importante negocio do
testamento (art.2179º) que, no entanto, é sempre revogável; a matéria dos pactos
sucessórios está fortemente limitada (art.1699º/1, 1700º e ss.)

1.2. Boa-fé

A boa-fé surge referida no CC vigente em 70 artigos, dispersos pelos seus 5 livros.

Evolução e sentido:

1) O direito romano assentava em ações, e o protótipo da situação jurídica ativa era


protagonizado por uma actio (a pessoa que pretendesse uma tutela jurídica dirigia-se
ao pretor e solicitava uma ação; este, quando entendesse o pedido juridicamente
justificado, concedia a actio, expressa numa formula, dirigida ao juiz, segundo a qual, se
se provassem determinados factos alegrados pelo autor interessado, o réu deveria ser
condenado; no caso negativo, seguir-se-ia a absolvição). Esta actiones dadas pelo pretor
baseavam-se em leis expressas, até se chegar a um esquema formal, bastante rígido,
incapaz de se adaptar e de enquadrar situações económico-sociais inteiramente novas;
o pretor interveio, e em casos particulares, ele veio a conceder ações sem base legal,
assentes, simplesmente na bona fides/boa fé. Tornou-se necessário, em determinado
momento da evolução, aperfeiçoar institutos nos quais uma pessoa, por exercer certos
poderes, se tornava titular da posição jurídica correspondente, passando a boa fé a
exprimir um estado do próprio sujeito.
2) No Direito canónico, a boa-fé não implicava só ignorância, mas também a ausência de
censura, já que o canonismo conferia à boa-fé, tonalidades éticas que se podem
exprimir equiparando-se à ausência de pecado.
3) No Direito germânico, a ideia de boa-fé partiu das ideias de crença, confiança, honra e
lealdade à palavra dada; posteriormente, veio a objetivar-se, exprimindo valores ligados
ao ritual, ao padrão social e à exterioridade do comportamento, de modo a ajuizar do
seu acordo com bitolas socioculturais de atuação, com intervenção da ciência do direito.
A boa-fé traduz a tutela da aparência.
4) No Código Napoleão, a boa-fé é consagrada com duas aceções: a subjetiva (corresponde
a um estado de ignorância do sujeito, que merece, do Direito, a concessão de um regime
mais favorável) e a objetiva (cariz jusracionalista, em cujos termos a boa-fé reforça o
vinculo contratual)
5) O Código alemão, assim como o Napoleão, de uma dupla dimensão à boa-fé: em sentido
subjetivo, exprime a não consciência de prejudicar outrem; em sentido objetivo, ela
corporiza-se numa regra de conduta, a observar pelas pessoas no cumprimento das suas
obrigações.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Objetiva: remete para princípios, regras, ditames ou limites por
ela comunicados ou, simplesmente, para um modo de atuação
dito “de boa-fé”; atua como uma regra imposta do exterior e
que as pessoas podem observar; art.3º/1, 227º/1, 239º, 272º,
334º, 437º/1 e 762º/2

Boa-fé
Subjetiva: está em causa o estado do sujeito, caracterizado, pela
lei civil, ora como um mero desconhecimento ou ignorância de
certos factos (sentido psicológico) – art.119º/3, 243º/2, 1260º/1
e 1340º/4 -, ora como um seu desconhecimento sem culpa ou
uma ignorância desculpável (sentido ético) – art.291º/3 e
1648º/1 – ora pela consciência de determinados fatores –
art.612º/2

Qual das conceções acerca da boa-fé subjetiva, é mais relevante?

• Wachter: opta por uma conceção psicológica


• Bruns: opta por uma conceção ética; esta posição veio a prevalecer, estando hoje
consagrada nos ordenamentos alemão e italiano. Os argumentos decisivos que
amparam essa opção são:
i) Juridicidade do sistema (o Direito não associa consequências a puras
casualidades como o ter ou não conhecimento de certas ocorrências, ele
pretende intervir nas relações sociais; ora, ao lidar com uma boa-fé subjetiva
ética e está, de modo implícito, a incentivar o acatamento de deveres de
cuidado e de diligencia)
ii) Adequação do sistema (uma conceção puramente psicológica de boa-fé
equivale a premiar os ignorantes, os distraídos e os egoístas, que desconheçam
mesmo o mais evidente; paralelamente, ir-se-ia penalizar os diligentes, os
dedicados e os argutos, que se aperceberiam do que escapa ao cidadão comum)
iii) Praticabilidade do sistema (nunca se pode mostrar se alguém conhecia ou não
certo facto; apenas se poderá constatar que o sujeito considerado, dados os
factos disponíveis, ou sabia ou devia saber)
• Menezes Cordeiro: a boa-fé subjetiva é, entre nós, sempre ética: só pode invocar boa-
fé quem, sem culpa, desconheça outra ocorrência.

A boa-fé objetiva concretiza-se em cinco institutos, todos de filiação germânica (nenhum deles
deriva da boa-fé, em termos conceptuais):

• Culpa in contrahendo (art.227º/1): corresponde à descoberta de Jhering; diz-nos que


antes da formação do contrato, as partes já têm diversos deveres a respeitar e,
designadamente, deveres de proteção, de lealdade e de informação; tais deveres visam
prevenir que, nessa fase pré-contratual, alguma das partes possa atingir a confiança da
outra, provocando-lhe danos (embora seja livre, a negociação contratual não deve ser
usada para fins danosos, alheios à finalidade em jogo, a de procurar a eventual
celebração de um contrato)

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• Integração de negócios (art.239º): desenvolveu-se a partir das regras de interpretação
negocial e, designadamente, quando elas tiveram de enfrentar uma especial escassez
de material expressamente subscrito pelas partes, devendo o interprete-aplicador ter
em conta a lógica imanente ao negocio e as exigências substanciais do sistema, de
acordo com as expectativas que as partes tenham, legitimamente depositado no
processo.
• Abuso do direito (art.334º): teve origem na jurisprudência francesa de meados do século
XIX, embora tenha sido retomado, em termos muito diversos pelo pensamento jurídico
alemão; hoje, ele agrupa distintas figuras, a analisar em sede própria.
• Modificação dos contratos por alteração das circunstâncias (art.437º/1): este instituto
permite, em certas condições, modificar ou resolver contratos que, mercê de alterações
registadas apos a conclusão, venham a assumir feições injustas para alguma das partes;
instituto do Direito das obrigações, que recorda a materialidade do sistema e a defesa
das expetativas justificadas das partes.
• Complexidade das obrigações (art.762º/2):advém da junção de dois institutos (violação
positiva do contrato + ideia de obrigação como uma estrutura complexa); promove um
conjunto de deveres de proteção, de lealdade e de informação que asseguram, nesse
nível, a tutela da confiança das partes e do principio de que, em qualquer caso,
prevalecem os interesses reais protegidos do credor; pertence ao Direito das obrigações
.

Princípios mediadores da boa-fé e do instituto considerado:

a) Tutela da confiança – a proteção da confiança efetiva-se por duas vias:


• Através de disposições legais especificas: surgem quando o Direito retrate
situações típicas nas quais uma pessoa que, legitimamente, acredite em certo
estado de coisas, ou o desconheça, receba uma vantagem que, de outro modo,
não lhe seria reconhecida (ex.: posição do sujeito perante cetos atos de
associações e sociedades civis puras, art.179º, 184º/2 e 1009º; procuração,
art.266º; anulação ou declaração de nulidade dos atos jurídicos, art.291º;
aquisição de coisa a comerciante, art.1301º; herdeiro aparente, art.2076º)
• Através de institutos gerais: aparecem ligados aos valores fundamentais da
ordem jurídica e surgem associados, por forte tradição românica, a uma regra
objetiva de boa-fé.

Os pressupostos da tutela da confiança são:

• Situação de confiança (própria da pessoa que, sem violar os deveres de cuidado


que ao caso caibam, ignore estará a lesar posições alheias; traduzida na boa-fé
subjetiva e ética)
• Justificação da confiança (expressa na presença de certos elementos objetivos
capazes de, em abstrato, provocarem uma crença plausível)
• Investimento de confiança (consiste em, da parte do sujeito, ter havido um
assentar efetivo de atividades jurídicas sobre a crença consubstanciada)
• Imputação da confiança (a pessoa que vai ser atingida pela proteção dada ao
confiante terá dado lugar à entrega do confiante em causa ou ao fator objetivo
que a anto conduziu, por ação ou omissão)

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Estes quatro pressupostos devem ser entendidos e aplicados com duas precisões
importantes: as previsões especificas de confiança dispensam, por vezes, algum(ns) dos
pressupostos referidos, ou seja, não é necessária a imputação dessa confiança à pessoa
que vai ser prejudicada pela aquisição tabular; os requisitos para a proteção da
confiança articulam-se entre si nos termos de um sistema móvel, isto é, não há entre
eles uma hierarquia e não são, em absoluto, indispensáveis (a falta de algum deles pode
ser compensada pela intensidade especial que assumam alguns, ou algum, dos
restantes).

A confiança, genericamente dispensada pela boa-fé, tem uma teleologia relevante para
se determinar o âmbito da proteção; podemos considerar a confiança como um
elemento imprescindível na manutenção do grupo social.

b) Primazia da materialidade subjacente – o Direito visa, através dos seus preceitos, a


obtenção de certas soluções efetivas; torna-se, assim, insuficiente a adoção de condutas
que apenas na forma correspondem aos objetivos jurídicos, descurando-os, na
realidade, num plano material. Este principio realiza-se por três vias:
• Conformidade material das condutas: exige que no exercício das posições
jurídicas, se realizem, com efetividade, os valores pretendidos pelo
ordenamento; será, pois, contraria à boa-fé qualquer conduta que apenas na
forma dê corpo ao que o Direito determine
• Idoneidade valorativa: não admite que alguém utilize a própria situação jurídica
que tenha violado para, em função do ilícito, tirar partido de outrem; será
contrario à boa-fé provocar um dano e exigir, a outrem, a sua reparação
• Equilíbrio no exercício das posições: recorda a necessidade de sindicar, à luz da
globalidade do sistema, as diversas condutas, mesmo permitidas; temos, por
isso, dois tipos de posturas vedadas pela boa-fé: o ato emulativo (atuação
gratuitamente danosa para outrem), e a atuação gravemente desequilibrada
(conduta que, para conseguir uma vantagem mínima para o próprio gere um
dano máximo para outrem).

A primazia da materialidade subjacente não tem, à partida, o potencial inovatório da


tutelada confiança; no fundo, ela conduz a uma melhor articulação do sistema com a
periferia, permitindo ma interpretação e uma aplicação melhoradas das mais diversas
mensagens normativas. À medida que as sociedades se aperfeiçoem, o sistema torna-
se mais exigente.

A boa-fé pode ser chamada para enquadrar questões novas, que podem ser: a questão das
clausulas gerais, a defesa do consumidor, o levantamento da personalidade coletiva, ou a
procuração aparente.

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2. Negócio jurídico
2.1. Dogmática geral do negocio jurídico
Diferença entre ato, facto e negocio

Facto jurídico – acontecimento com relevância jurídica a que o direito atribui consequências
jurídicas; temos como exemplo de facto jurídico um relâmpago que destrói uma casa (leva a que
seja ativado o seguro), o nascimento (consequência no art.66º CC), a morte, etc.; ao
corresponder à previsão da norma, é integrado com a norma, e dá lugar à consequência jurídico.
Os factos jurídicos são suscetíveis de múltiplas classificações:

• Facto jurídico em geral ou lato sensu (considerados eventos naturais)


• Facto jurídico em sentido estrito ou stricto sensu (manifestações de vontade humana)

Ato jurídico – comportamentos voluntários juridicamente relevantes de pessoas singulares


ou coletivas, aos quais o direito reconhece relevância como comportamentos voluntários e livres
(há, então liberdade de celebração); diferem dos factos jurídicos por serem atos voluntários da
autoria de pessoas (singulares ou coletivas), e não ocorrências juridicamente relevantes.
Todavia, os atos jurídicos têm em algo em comum com os factos e os negócios jurídicos: em
comum com os factos negócios, têm o ser objeto de valoração jurídica, ou seja, têm um papel
quase passivo na determinação da consequência jurídica, embora o Direito exija que sejam
voluntários (a intencionalidade e a finalidade com que sejam praticados não é relevante para a
determinação da consequência jurídica); em comum com o negocio jurídico, têm a relevância
da voluntariedade. Podem classificar-se em:

• Atos declarativos (ou declarações): atos dirigidos a outros e que têm um conteúdo
comunicativo, podendo ter um ou mais destinatários, determinados (declarações
recipiendas ou recetícias) ou indeterminados (declarações não recetícias ou não
recipiendas); estas podem ainda classificar-se em:
i) Declarações de vontade (exprime uma intenção, em que o seu conteúdo
comunicativo exprime uma intenção. Ex.: proposta de contrato, a sua aceitação
ou repudio, a declaração de resolução do contrato)
ii) Declarações de ciência (comunica-se a outrem uma asserção sobre a verdade
ou falsidade de algo ou, mais corretamente, isto é, exprime um juízo de
realidade. Ex.: confissões de facto, as informações prestadas no cumprimento
do dever de informar consagrado no art.573º CC, ou o depoimento de uma
testemunha)
• Atos reais (ou operações): comportamentos voluntários de pessoas em relação aos
quais o direito atende à voluntariedade da sua pratica, mas que não têm conteúdo
comunicativo

Negócio jurídico: é um ato do principio da Autonomia Privada e também a principal


manifestação deste principio, logo, podemos concluir que estão associadas ao negocio a
liberdade de celebração (postula uma livre decisão por parte do autor de celebrar ou não o
negocio) e a liberdade de estipulação (poder do autor, de determinar em que termos se quer
vincular ao negocio, qual o conteúdo da relação com o negocio que vai por em vigor , quais os
moldes em que o seu negocio vai produzir modificações na sua esfera jurídica). Podem ser:

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Negócios unilaterais – há apenas uma parte, Negócios multilaterais (ou contratos) – há
constituída por uma ou mais pessoas, que duas ou mais partes; são os contratos, que na
tenham uma legitimação comum ou que maior parte dos casos são bilaterais, porque
prossigam um interesse comum. O CC dedica têm apenas duas partes. Implicam uma
a este tipo de negócios os art.457º a 463º declaração negocial para cada uma das suas
(estes artigos não esgotam, porem, a partes.
matéria dos negócios unilaterais). Confinam-
Os contratos podem ainda ser:
se a uma só declaração negocial
• Sinalagmáticos ou não
Ex.: Procuração (art.262º a 269º CC), o
sinalagmáticos, consoante deem
testamento (art.2179º a 2317º CC), ou os
lugar a obrigações reciprocas,
negócios cambiários
ficando as partes, em simultâneo, na
condição de credores e devedores
ou, pelo contrario, apenas facultam
uma prestação
• Monovinculantes ou bivinculantes,
conforme apenas uma das partes
fique vinculada ou ambas sejam
colocadas nessa situação

O exemplo paradigmático de um negocio


multilateral é a compra e venda, que tem um
aparte compradora e uma parte vendedora

Negócios conjuntos – várias pessoas são Deliberações – várias pessoas são titulares de
titulares de posições jurídicas que só podem posições jurídicas confluentes que podem,
ser atuadas em bloco, por todas elas. Pode no entanto, ser atuadas em sentido
implicar vontades manifestadas em divergente, prevalecendo, então, a posição
simultâneo, ou sucessivamente, mas todas da maioria
regidas pelas mesmas normas jurídicas, de
modo a conseguir um determinado efeito

Negócio inter vivos – destinam-se a produzir Negócios mortis causa – concebido pelo
efeitos em vida dos seus celebrantes; porém, Direito para reger situações jurídicas
a morte de uma das partes ou de um desencadeadas com a morte de uma pessoa;
qualquer interessado não tem é regulado, em regra, pelo Direito das
consequências jurídicas na seu a eficácia e sucessões.
no seu regime
Ex.: Testamento e os pactos sucessórios

Negócios formais – negócios para cuja Negócios consensuais – negócios que, por
conclusão a lei exija determinado ritual, na não caírem na estatuição de normas
exteorização da vontade, ou seja, aqueles cominadoras de forma especial, sejam
para cuja celebração ou titulação a lei exija suscetíveis de conclusão por simples
uma forma especial; as exigências legais de consenso, ou seja, aqueles para cuja
forma são excecionais, mas, em celebração é suficiente o consenso das
consequência da sua violação é, em partes, não sendo necessária uma forma
principio, a nulidade (art.220ºCC) especial de expressão da declaração negocial
ou de documentação do negocio, nem a
pratica de uma especial formalidade como a
entrega, real ou simbólica, da coisa que é
objeto do negocio; de acordo com o art.219º
CC, a validade da declaração negocial não

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


depende da observância de forma especial,
salvo quando a lei o exigir

Negócios reais quod effectum – têm eficácia Negócios reais quod constitutionem –
real. contratos que se não fecham sem que ocorra
tradição da coisa, ou seja, aqueles que se
Ex.: Compra e venda, em que é o contrato
materializam com a entrega da coisa que
que opera a transmissão da propriedade em
constitui o seu objeto.
consequência da simples celebração do
contrato, ainda que não haja tradição da Ex.: mútuo (art.1142º CC), penhor
coisa (entrega da coisa) (art.669º/1 CC), comodato (art.1129º) e
deposito (art.1185º CC)

Negócios pessoais – o seu conteúdo não é Negócios patrimoniais – o seu conteúdo é


avaliável em dinheiro e tem relevância na avaliável em dinheiro; aqueles pelos quais as
esfera jurídica pessoal das partes; são partes regem sobre bens avaliáveis em
instituídos ou modificados estados pessoais dinheiro.
das partes.
Ex.: compra e venda, doação e sociedade
Ex.: casamento, adoção e perfilhação

Negócio típico – a sua regulação consta da Negócio atípico – a regulação e engendrada


lei, podendo compreender elementos pelas partes
injuntivos (cessa, assim, a liberdade de
estipulação)

Negócios onerosos – implica esforços Negócios gratuitos – cada uma das partes
económicos para ambas as partes, em retira do negocio vantagens ou sacrifícios. A
simultâneo e com vantagens correlativas. vontade livre do sacrificado determina-se
pela intenção de dar (animus donandi),
Ex.: Compra e venda (art.874º e ss.)
sendo apensa na presença deste fator, que
são aplicadas as regras próprias das
liberalidades

Ex.: Doação (art.940º e ss.)

Negócio de administração – implica Negócios de disposição – poe em causa a


modificações secundarias ou periféricas no própria subsistência da situação; atingem,
seu conteúdo; não atingem uma esfera em profundidade, uma esfera jurídica, e só
jurídica podem ser livremente praticados pelo
próprio titular da esfera jurídica afetada e
desde que tenha capacidade para tal

Negócios parciários – Negócios de Negócio de Negócio aleatório – no


implica a participaçãoorganização – visa distribuição – momento de
dos celebrantes em montar uma contrapõem-se aos celebração, são
determinados estrutura que de consumo, pois desconhecidas as
resultados. faculte a cooperação neste negocio visa- vantagens
permanente, em se percorre o circuito patrimoniais que dele
Ex.: contrato de
certo quadro, de económico, na parte derivem para as
sociedade (art.980º)
pessoas partes.

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que liga a produção Ex.: contrato de jogo
ao vendedor final ou aposta (art.1245º)

Negócios causais – aqueles em que a causa é Negócios abstratos – aqueles em que a causa
relevante para o respetivo regime e, como é irrelevante, não podendo ser atendida nem
tal, pode ser invocado como fundamento de constituir o fundamento de pretensões ou
pretensões ou exceções de direito material; exceções; isto não significa que nestes
é permitido às partes que, na controvérsia negócios, não haja uma causa, mas sim que a
suscitadas pelo negocio, invocar como causa é abstraída.
fundamento argumentos ligados ou
Ex.: Negócios cambiários típicos das letras,
emergentes da causa
livranças e cheques

Art.295º CC

O art.295º CC recorre a uma analogia para exigir um juízo de semelhança e de diferença


entre o ato jurídico concreto e o negocio jurídico. A aplicação aos simples atos jurídicos dos
preceitos legais relativos aos negócios jurídicos deverá ser feita mutatis mutandis; a adaptação
será tanto mais profunda quanto menos negocial for o ato.

Numa interpretação literal deste preceito, ser-se-ia levado a entender que a analogia,
na concretização do regime dos atos jurídicos, seria limitada às “disposições do capitulo
precedente”, isto é, aos preceitos dos art.217º a 294º CC; todavia, este artigo não exclui a
aplicação do art.10º CC, que permite alargar o âmbito da analogia a outros preceitos, para alem
dos referidos.

Com este artigo, o CC centrou todo o tratamento da matéria sobre o paradigma do


negocio jurídico, cujo regime deve ser aplicado ao ato jurídico analogicamente.

Teoria da vontade e Teoria da declaração

Teoria da vontade – parte da conceção do negocio como um ato de liberdade e de


vontade do declarante; a vontade do declarante é, nesta conceção, fonte de juridicidade e dos
efeitos jurídicos do contrato e este, como autovinculação, não pode valer sem ou contra essa
vontade. A posição do declaratário fica desprotegido perante a do declarante, porque o
declaratário corre o risco de ficar vinculado a um negocio com um conteúdo que não é afinal
aquele com que ele o entendeu, por ver invalidado um negócio por vicio ou deficiência da
vontade do declarante, sem que os seus interesses sejam suficientemente protegidos.

Existe na ética neoestóica da liberdade e da igualdade originaria de cada pessoa, ou seja, parte
ontologicamente de cada pessoa para a sociedade e para o Estado

Teoria da declaração – encara o negocio como uma declaração negocial objetivada que
deve valer, não necessariamente com o sentido querido pelo declarante, mas com o sentido
objetivo que dela resulta ou com que o declaratário a entender. Emitida uma declaração de

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vontade, o seu autor corre o risco de que ela seja interpretada de modo diferente do que ele lhe
quis imprimir.

Existe na ética-filosófica, e tem uma matriz platónico-aristotélica; parte da Sociedade e do


Estado para a pessoa.

Elementos negociais

➢ Doutrina tradicional (Manuel de Andrade)


i) Elementos essenciais: elementos necessariamente presentes em cada negocio
jurídico, podendo, por seu turno, abranger elementos gerais (que devem surgir
em todos os negócios) e elementos específicos (imprescindíveis para
caracterizar um determinado tipo negocial, distinguindo-os dos demais); são
elementos essenciais gerais a capacidade das partes, a declaração ou
declarações de vontade e o objeto possível, e elementos essenciais específicos,
por exemplo, o preço no contrato de compra e venda
ii) Elementos naturais: efeitos que, por sua natureza, os diversos negócios
produzem, mas que as partes podem, ao abrigo da autonomia privada,
validamente afastar; correspondem, em termos deônticos, a normas supletivas
(normas cuja aplicação fica na disponibilidade das pessoas)
iii) Elementos acidentais: correspondem a estipulações que não são necessárias
para a consistência de um negocio e que o direito não preconiza, ainda que a
título supletivo, para o tipo negocial considerado; as partes podem, ao abrigo
da autonomia privada, inclui-las nos negócios que celebrem
➢ Orientações tradicionais (surgem de modo a resolver o problema aberto com as
incongruências e a insuficiência da tripartição clássica dos elementos negociais)
• Paulo Cunha
i) Elementos necessários: aqueles que a lei exija para a validade de todo
e qualquer ato jurídico, que se subdividem em elementos essenciais
(sem os quais não haveria negocio) e em elementos habilitantes
(requeridos para a sua validade)
ii) Elementos específicos: correspondem aos requeridos para cada tipo de
ato (ex.: preço na compra e venda; renda, no arrendamento)
iii) Elementos naturais: derivam da lei, que os estabelece para servirem os
diversos tipos negociais, de acordo com a sua natureza
iv) Elementos acidentais: abrangem os introduzidos pela vontade das
partes, podendo ser típicos (já se encontram conceitualizados pela lei)
ou variáveis (derivam da vontade das partes)
• Dias Marques
i) Pressupostos: elementos extrínsecos, perante o próprio negocio,
abrangendo fatores atinentes ao autor do negocio (capacidade), ao
objeto do negocio (idoneidade) e à posição do autor do negocio em
relação ao objeto (legitimidade)
ii) Estrutura: elementos intrínsecos ao próprio ato do negocio,
abrangendo elementos objetivos (forma e conteúdo) e subjetivos
(vontade, consciência)
iii) Função: objetivo socialmente relevante procurado através do negocio
• Galvão Telles

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


i) Elementos
ii) Acordo de formação
iii) Acordo de conteúdo
iv) Causa ou motivo
v) Requisitos de validade
vi) Requisitos de eficácia
• Menezes Cordeiro: os pressupostos dos NJ só podem ser considerados como
seus elementos se, destes, se fizer uso em sentido amplo; os pressupostos do
NJ implicam regras relativas às pessoas, aos bens, ou às relações que, entre
ambos, se estabeleçam, e os elementos têm a ver com normas e princípios
liados, desde logo, à temática negocial.

2.2. Formação do negocio jurídico


O negócio não se confunde com a declaração: declaração é um pressuposto,
dependente de uma opção humana comunicada ao exterior, e negocio é a eficácia
resultante da declaração, desde que esta seja reconhecida, pelo sistema, como apta a
modificar o universo jurídico.
O BGB utiliza as duas noções, de negocio e declaração, sem distinção; o CC,
diretamente influenciado pelo BGB, mantem essa mesma ambiguidade linguística,
usando, preferencialmente, declaração negocial.

Declaração negocial – comportamento voluntario que se traduz numa manifestação de


vontade com conteúdo negocial, feita no âmbito do negocio. No negocio unilateral, a
declaração negocial preenche a totalidade do ato jurídico e esgota a sua materialidade;
o mesmo não acontece no NJ multilateral, em que há uma pluralidade de declarações
negociais.

Vontade humana Vontade do comportamento

Vontade da declaração
Declaração
Declaração Vontade do negocio
(elementos)

Relação de concordância
(Savigny)

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


A natureza da declaração é explicada pela teoria da vontade, que via nela uma
decorrência da opção do declarante, e pela teoria da declaração, que validava a exteorização
dessa opção; estas teorias vieram a evoluir para a teoria da comunicação e para a teoria da
confiança.

Tipos de declarações

1) Declaração expressa VS. Declaração tácita (distinção art.217ºCC)


• Declaração expressa – declarações que usam linguagem (critério objetivo);
porem, segundo um critério subjetivo, não têm necessariamente de ser verbais
e podem ser simplesmente gestuais, já que expressa o comportamento
finalisticamente dirigido a exprimir ou a comunicar algo, podendo resultar
implicitamente uma outra declaração, esta agora tacita, desde que dela se
deduza com toda a probabilidade (art.217º/1 CC).
• Declaração tacita – de acordo com um critério objetivo, tem-se como declaração
tacita as que consistem num comportamento concludente (em sentido amplo,
são comportamentos que não sejam uma linguagem e que tenham um sentido
relevante, abrangendo as declarações expressas não verbais e que não sejam
feitas com o uso de uma linguagem; em sentido estrito, são os comportamentos
que não são diretamente dirigidos a significar ou comunicar um conteúdo
negocial, correspondendo às declarações tacitas); seguindo um critério
subjetivo, a declaração tacita é o comportamento do qual se deduz com toda a
probabilidade a expressão ou comunicação de algo, embora esse
comportamento não tenha sido finalisticamente dirigido à expressão ou à
comunicação daquele conteúdo. A interpretação destas declarações resulta do
apuramento do sentido da concludência (determinação de qual o sentido
negocial, ou não negocial, que deve ser tido como deduzindo-se com toda a
probabilidade do comportamento concludente, que pode resultar de
pressuposição ou de implicação); à interpretação das declarações tacitas
aplicam-se as regras dos art.236º e ss. CC.
• Art.234º CC: é dispensável uma declaração expressa de aceitação, que na letra
deste artigo se traduz numa conduta que mostre a intenção de aceitar a
proposta, ou seja, sempre que aquele a quem foi feita a proposta contratual dá
inicio à execução do contrato proposto, sem que tenha declarado
expressamente aceitá-la, deduz-se desse comportamento com toda a
probabilidade, que aceitou a proposta (aceitação tacita).
• Art.217º/2 CC: a natureza formal de uma declaração não impede que ela seja
tacitamente emitida; requer-se, então, que a forma prescrita tenha sido
observada quanto aos factos de que se deduza a declaração em causa. Este
artigo determina que a forma da declaração tacita é aquela de que se reveste o
comportamento do qual ela, com toda a probabilidade, se deduz.
• A doutrina alemã distingue as declarações negociais propriamente ditas e os
comportamentos concludentes, que estão próximos das declarações negociais.
• O silencio difere da declaração tácita, por ser uma ausência de declaração;
segundo o art.218º CC, o silencio só tem valor jurídico quando lhe for atribuído
por:
i) Lei: sucede no art.923º/2 e no 1163º CC

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


ii) Uso: o silencio só vale como declaração negocial quando um uso,
devidamente juspositivado por uma lei, o determine
iii) Convenção: exercício da autonomia privada; o declarante pode,
voluntariamente, inserir-se em ambiências que permitam, do seu
silencio, inferir uma vontade negocial.
2) Declaração presumida VS. Declaração fictas
• Declaração presumida: a lei associa, a certo comportamento, o significado de
determinada declaração negocial, admitindo, contudo, prova em contrario, ou
seja, advertindo que o interessado demonstre, afinal, que outra haveria sido a
sua vontade (presunção ilidível _ art.350º/2 CC)
• Declaração ficta: a lei veda a prova e contrario, sendo, então, a presunção
inilidível.
3) Declaração recipienda VS. Declaração não recipienda
• Teorias:
i) T. exteorização – o negocio fica concluído quando a vontade tivesse
obtido a sua forma exterior/quando se manifeste (Critica: a vontade
pode manifestar-se sem que o destinatário a tenha conhecido, não
podendo, neste caso, emprestar-lhe qualquer significado)
ii) T. expedição ou do envio – a declaração torna-se eficaz quando seja
remetida ao destinatário (Critica: a declaração pode ser enviada e não
chegar ao poder do declaratário)
iii) T. receção – a eficácia da declaração depende de o destinatário a
receber com efetividade (critica: o destinatário pode receber a
declaração e não ter conhecimento dela)
iv) T. acolhimento – os efeitos da declaração surgem logo que a declaração
chegue ao poder do declaratário (critica: o “poder” não assegura que o
destinatário dela tenha ou possa ter consciência)
v) T. conhecimento – confere eficácia a declaração que chegue ao
conhecimento do declaratário
• Declaração recipienda: declaração negocial com um declaratário especifico; a
sua eficácia esta condicionada pela ligação particular que visam estabelecer
com o seu destinatário. Segundo o art.224º/1, 1ªparte CC, é eficaz quando
chega ao poder do declaratário (teoria da receção), ou seja dele reconhecida
(teoria do conhecimento); quando seja remetida, e só por culpa do destinatário
não tenha sido oportunamente recebida (teoria da expedição) _ art.224º/2.
• Declaração não recipienda: declaração negocial com um numero de
destinatário indeterminado. Torna-se eficaz logo que a vontade do declarante
se manifeste na forma adequada (teoria da expedição) _ art.224º/1, 2ªparte
4) Declaração subsequente VS. Contradeclaração
• Declarações subsequentes: aquelas que recaem sobre declarações previas,
eventualmente já consubstanciadas em NJ; distinguem-se dois grupos:
i) Declarações típicas – visam modificar ou extinguir a eficácia de
declarações anteriores (na base de atos ou NJ unilaterais); o declarante
tem margem para poder fazê-las, mas não pode estipular quanto aos
seus efeitos, que estão prefixados na lei, de modo a proteger a
confiança que a primeira declaração haja suscitado.
ii) Declarações atípicas – acordadas pelas partes ou facultadas pela
situação existente; postulam um novo negócio, entre as partes

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


• Contradeclarações: declarações subsequentes reportadas a uma primeira
declaração, no sentido de suprimir ou de reduzir os efeitos que, dela, deveriam
resultar. Ex.: revogação de proposta (art.230º/1 CC), protesto (declaração
subsequente pela qual se pretende pôr em causa eficácia de uma declaração
anterior ou de uma situação que seja, a qualquer título, imputável ao
declarante)
5) Declaração não negocial: declarações que não comportam liberdade de estipulação. Ex.:
ratificação, confirmação, validação, reductio ad equitatem (validação especialmente
adaptada aos negócios usurários), rejeição ou adesão ao contrato a favor de terceiros,
convalidação (declaração que impede o seu autor, nas nulidades relativas, de as
invocar), convalescença, perdão, anulação, invocação da nulidade e, em regra, o
exercício de direitos potestativos.

O CC e o BGB regem a formação do negocio na modalidade do contrato, tendo em vista o


modelo do contrato entre ausentes, em que o declarante remete a sua declaração ao
declaratário, de tal modo que, entre a proposta e a eventual aceitação, medeie um espaço de
tempo relevante _ modelo básico, que opera a atividade jurídico-cientifica, cujo resultado é o
quadro normativo do surgimento do negocio. É no estudo deste modelo básico, eu a doutrina
vem a recuperar a ideia de processo, que existe, em Direito, quando diversos atos jurídicos se
encadeiem, de modo a proporcionar um objeto final.

Modelos de formação do negocio que dispensam qualquer processo:

➢ NJ unilaterais, que ficam completos apenas com a declaração de vontade do seu autor,
exteorizada pela forma legal, não sendo necessário procurar um consenso, necessidade
essa que dita o essencial da complexidade processual negocial
➢ Negócio por minuta, isto é, os negócios que se concluem por adesão ou subscrição, por
ambas as partes, de um documento (minuta), que comporta o teor negocial

Negócio comum – formam-se entre presentes, por simples adesão a formulas apresentadas
a todos os interessados. Existem vários tipos sociais de negociação:

a) Aquisição por apreensão ou indicação seguidas de pagamento, habitual nos negócios


correntes de consumo, em que o negocio se conclui com o pagamento, e há um acordo
de facto, fruto da declaração feitas na base de condutas concludentes, das quais, por
abstração, induzimos um consenso negocial jurídico, sendo que, em termos analíticos,
consenso entre as partes antecipa as declarações, caso as haja
b) Contratação por escolha em lista, seguida pela utilização ou pelo consumo (em sentido
material), com subsequente pagamento, que é corrente nos restaurantes, em que o
interessado manifesta os seus desejos, perante um menú. Estamos perante propostas
contratuais de aquisição de bens ou de serviços, favoravelmente acolhidas através da
prestação de serviços e do fornecimento dos bens acordados
c) Contratação por adesão a clausulas contratuais gerais: formula comum de fechar
negócios, nos setores da banca, dos seguros e dos transportes, cabendo ao Direito
assegurar o equilíbrio de tais clausulas.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Forma da declaração – modo utilizado para exteorizar a vontade, desde que esta seja
acompanhada de sinais exteriores sensíveis pelas pessoas que presenciem a declaração ou que,
posteriormente, dela tenha conhecimento, cuja falta tem como consequência a nulidade,
regulada no art.220º CC. Difere das formalidades, que são atos ou factos complementares cuja
satisfação ou verificação são exigidas para a pratica do ato ou para a celebração do negocio,
podendo ser anteriores, concomitantes ou posteriores à celebração do negócio; a falta de
formalidades injuntivamente exigidas por lei é ilegal e, em principio, nulo, por força do art.294º
CC.

Os negócios formais diferem dos negócios consensuais: enquanto os negócios formais


têm forma solene, os negócios consensuais produzem efeitos por pura manifestação ou pelo
mero consenso das partes, independentemente do modo como surjam.

Tipos de forma:

1) Forma interna e forma externa


• Forma interna: participa do ser e da existência do ato; é algo que faz parte dele
e sem ela o ato, ou não é qualificável como tal, ou é mesmo juridicamente
inexistente. Ex.: forma exigida para a letra, livrança ou cheque; a falta de forma
tem como consequência que aqueles documentos ao são havidos como letras,
livranças ou cheques
• Forma externa: forma de que o ato se reveste; algo que se acresce ao ato, mas
não participa na sua essência; a falta de forma externa não afeta a sua
qualificação ou existência, mas sim a validade ou prova. Ex.: escritura publica no
contrato de compra e venda de imóvel, que pode ser celebrado de varias formas
• Manuel de Andrade: a forma interna é a forma que constituí elemento do
próprio conceito de um tipo negocial, por maneira que a sua falta produza a
inexistência do próprio negocio; forma externa é a forma necessária para av
alidade ou prova do negócio. A distinção entre forma interna e forma externa
do negocio é importante no que diz respeito à problemática da validade formal
do negocio dissimulado
• Art.219º e ss. CC: construído na perspetiva da forma externa
2) Forma ad substantiam e forma ad probationem
• Forma ad substantiam: exigida pelo Direito para a própria consubstanciação do
negocio em si, sendo que a falta desta forma tem como consequência a
nulidade; em regra, as exigências legais da forma são ad substantiam, conclusão
que se retira do art.220º CC que comina, em principio, com nulidade o
desrespeito pela forma exigida por lei, admitindo, porem, que outro regime seja
fixado em preceito especial
• Forma ad probationem: requerida para demonstrar a existência do negócio, e a
sua falta tem como consequência a impossibilidade de prova; do art.334º CC
resulta que a forma pode ser exigida por lei apenas para prova de declaração,
logo, nesse caso, a sua falta não é caso de nulidade, mas apenas a dificuldade
de prova. O regime da forma ad probationem exige que seja sindicada, através

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


da interpretação, a finalidade da exigência legal de forma e que se conclua que
a lei a exige apenas para prova.
3) Forma legal, forma convencional e forma voluntaria
• Forma legal é aquela que é exigida por lei, sendo a regra, nos termos do
art.219º, a liberdade de forma; todavia, a lei exige com alguma frequência que
os atos e NJ adotem uma forma especial, o que significa que as exigências legais
de forma, contrapostas à regra do art.219º CC, são geralmente consideradas
excecionais. MC considera que as normas sobre a forma têm natureza plena,
insuscetível de redução teleológica e que as normas relativas à forma dos NJ são
plenas, ou seja, não tendo objetivos relevantes e percetíveis, não comportam
redução teleológica; Oliveira Ascensão admite como fundamento das exigências
legais de forma a necessidade de levar as partes a refletir antes de praticarem
atos consideravelmente graves, o reforço da segurança do negócio (por permitir
a intervenção de terceiros), a facilitação da prova dos atos, e o propósito
inconfessado da lei de dificultar certos negócios a que é desfavorável, mas que
não vai até ao ponto de proibir.
A forma legal opera, apenas, perante o cerne negocial (ou núcleo contratual
fundamental); as estipulações acessórias, quando pertençam ao negocio
considerado, devem, à partida, seguir a forma prescrita para ele. Porém, sucede
que estas estipulações surgem, por vezes, em separado, podendo ser, ainda,
anteriores à própria declaração principal, ou dela contemporâneas. Segundo o
art.221º/1, 2ªparte CC, as estipulações em causa só valem se se provar que
correspondem à vontade do autor da declaração, devido à relação que se
estabelece entre o tem suplementar da sua efetiva correspondência com a
autonomia privada, nos casos em que assumam uma forma menos solene do
que a exigida para o cerne negocial
• Forma convencional: implica um pacto prévio pelo qual as partes combinaram
emitir as suas declarações por certo modo, ao abrigo da autonomia privada. O
art.223º CC é o regime legal da forma convencional; esta forma não poderá,
contudo, ser de solenidade inferior à norma legal, uma vez que a convenção das
partes não poderá valer contra preceito injuntivo da lei.
Se as partes agirem sob uma forma que não respeite a forma convencionada,
deve entender-se que esse agir não é ainda para eles vinculativo. Se as partes
acordem uma forma convencional e estipulem, de modo expresso, que tal
forma só por ser dispensada oralmente, dá-se dignidade ao Direito e tem de se
divulgar uma cultura de respeito pela palavra dada, podendo a convenção de
forma ser nula, a menos que especiais circunstancias, assentes na boa-fé,
permitam outra saída.
Pode acontecer que a convenção quanto à forma surja apenas apos o negócio
estar concluído ou no momento da sua conclusão. Em tal caso, distingue-se o
caso em que há fundamento para concluir que as partes se quiseram vincular
desde o momento em que celebraram o ato, presumindo-se aí que a convenção
teve em vista apenas a consolidação do negócio ou de qualquer outro efeito,
mas não a sua substituição, e o caso contrario, onde se deve ser entendido que
com a nova convenção sobre a forma, o negocio foi substituído ou renovado.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Culpa in contrahendo
Contratual (na medida em que as partes hajam decidido concluir
Regras pré-contratuais
pactos preparatórios perante os quais as partes ficam vinculadas)

Legais especificas (Lei sobre Cláusulas Contratuais Gerais, e Lei da


Defesa do Consumidor)

Legais genéricas (devem seguir as regras da BF, estando inseridas


no art.227º CC)

Jhering: demonstra que, na presença de contratos nulos por anomalias verificadas na sua
formação, podem ocorrer danos cujo não-ressarcimento seja injusto; perante tal situação, o
responsável, por via das regras gerais sobre danos e culpa, deveria indemnizar pelo interesse
contratual negativo, colocando o prejudicado na situação em que ele se encontraria se nunca
tivesse havido negociações e contrato nulo. Esta descoberta permite exemplificar o modo de
funcionamento da terceira sistemática, quando confrontada com novas necessidades para as
quais, num momento inicial, não haja, ainda, resposta.

A relação jurídica pré-contratual tem como conteúdo as vinculações interpessoais decorrentes


do dever de BF objetiva, isto é, a BF como regra de conduta. Como os padrões de
comportamento determinantes do juízo de BF não se encontram enunciados na lei, é necessária
uma referência aos padrões de comportamento aceitáveis e exigíveis vigentes na sociedade, no
circulo de pessoas e de atividades em que o contrato se insere, ou nos usos próprios ou típicos
da negociação ou típicos da negociação e da celebração daquele contrato.

Deveres de BF:

• Deveres de proteção: vinculam as partes em negociação a fazer o que


razoavelmente estiver a seu alcance para evitar ou reduzir danos ou custos da
outra parte. Só os custos e os danos incorridos no âmbito do próprio negociação
devem ser tidos em consideração em temas de deveres pré-contratuais de
proteção; outros danos ou custos que, ocorrendo embora concomitantemente
com a negociação ou com a contratação, se não insiram funcionalmente no
processo negocial ou com a contratação, não devem ser qualificados como de
culpa in contrahendo
• Deveres de esclarecimento: vinculam as partes em negociação a partilhar os
dados e informações com relevância para a apreciação correta das
circunstancias do contrato e das qualidades das pessoas envolventes, para a
avaliação tanto quanto possível real dos bens com relevância na equação
económica do contrato, e a prestar espontaneamente ou a solicitação de outra
parte as informações que razoavelmente lhes sejam exigíveis em BF.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


• Deveres de lealdade: vinculam as partes em negociação a comportar-se na
interação pré-contratual com honestidade e correção. Compreendem toda a
matéria dos deveres de proteção e esclarecimento. Há violação do dever pré-
contratual de lealdade sempre que alguma das partes entre em negociações
sem a intenção de as concluir, ou quando uma das partes faça incluir no
contrato uma cláusula que sabe ser invalida ou impossível, ou feche o contrato
com consciência de dissenso ou de erro por parte da outra.

Os deveres de segurança, de informação e de lealdade pré-negociais tendem a concretizar-se


em torno de constelações de casos:

i) Vulnerabilidade pré-negocial: situações em que uma das partes depende da outra


ou, pelo menos, se coloca numa situação de fraqueza, dependendo de deveres de
segurança, de informação ou de lealdade, a cargo dessa outra.
ii) Interrupção injustificada de negociações: este tipo de situações anima o confronto
entre a autonomia privada e a BF. A conclusão de um contrato é, até ao ultimo
momento, totalmente livre, logo, qualquer uma das partes pode desistir do contrato
sem dar justificações; porem, caso a parte desistente tiver, com a sua conduta,
originado, na contraparte, uma confiança justificada de que, com segurança, se iria
concluir um contrato, a interrupção injustificada leva à cic.
iii) Contratação ineficaz: quando se origina um contrato nulo ou um contrato anulável,
que pode originar responsabilidade pré-negocial.
iv) Tutela da parte fraca: concretiza-se, predominantemente, através de deveres de
informação
v) Responsabilidade por atos de terceiros: podem estar na situação de terceiros o
representante, o gerente da sociedade, o consultor, o agente, o administrador da
insolvência ou fiduciário – qualquer um deles responderá por cic, a titulo pessoal,
na hipótese de quebra de deveres preliminares que lhes sejam dirigidos.

A proteção do contraente débil é assegurada através de diversos dispositivos,


fundamentalmente virados para deveres de informação e alojados na LCCG ou nos diversos
diplomas de defesa do consumidor.

Quando surja um contrato que patenteie desequilíbrios não queridos por alguma das partes,
algo terá corrido mal nos preliminares; a parte que conheça ou deva conhecer o desequilíbrio
em causa tem o dever de dar conhecimento à contraparte. Chega-se, assim, à ideia de proteção
da parte fraca num contrato: ao contraente que, por razoes económicas ou de conhecimento,
se deva considerar inferiorizado, são devidos, na fase preliminar, um esclarecimento e uma
lealdade acrescidos; caso esses deveres não sejam acatados, pode haver responsabilidade, por
inobservância da BF.

O papel da cic na correção de contratos injustos, através da BF e do dever de informar, não


levantando duvidas, embora não possa ser levado ao ponto de pôr em causa a autonomia
privada. A parte fraca carecida de proteção equivale a um cidadão consumidor isolado, e por
isso o tema deve ser visto em ligação com os direitos dos consumidores, e no direito civil, em
articulação com as clausulas contratuais gerais.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Podemos então concluir que, verificadas condições ponderosas, a parte habilitada que não
informe, suficientemente, a parte débil, pode ser conformada com cic, cabendo-lhe os danos
assim causados.

Obrigação de contratar – situação jurídica pela qual um sujeito fica adstrito à celebração de um
contrato, isto é, à emissão da declaração de vontade que, em conjunto com a da outra parte, dá
azo a um NJ bilateral. Exige uma forte situação de confiança, imputável à contraparte, de que o
contrato em jogo iria ser celebrado e isso ao ponto de o interessado ter realizado um
considerável investimento de confiança. Nessa eventualidade, o dever de contratar impõe-se,
tendo como contraface a ilicitude da interrupção injustificada das negociações, sendo que a
indemnização que daí decorra será calculada de acordo com o interesse positivo.

A aproximação entra BF e a cic veio a ganhar um relevo substancial: os vetores


comunicados pela BF não deixavam de se revelar, ainda em adaptações, nos preliminares
contratuais. Assim:

• Tutela da confiança – na fase de preparação dos contratos, as partes não devem suscitar
situações de confiança que, depois, venham a frustrar
• Primazia da materialidade subjacente – a autonomia privada faculta, às partes, negociar
livremente os seus contratos, interrompendo as negociações quando o entenderem

Construção da cic

• Teorias contratuais
• Soluções negociais – procuram reconduzir a cic e os deveres que, com ela, se
conexionem, a NJ
• Franz Leonhard: a cic reconduz-se ao contrato posteriormente celebrado. O
efetivo cumprimento de um contrato exige o acatamento de deveres que se
desenham já antes da sua celebração (a parte que venda um objeto,
previamente à venda, deve providenciar para que ele esteja em bom estado);
há, por isso, uma pré-eficácia – celebrado um negocio, certos deveres
retroatuariam até ao inicio das negociações.
Criticas: ilogismo (assenta na ideia de pré-eficácia, contraditória em si mesma;
antes de um contrato não se podem retirar deveres a observar, e depois deve
estar celebrado, não se está numa fase pré-negocial que habilite ao acatamento
de deveres pré-contratuais); excessiva restrição (só contempla a hipótese de
haver um contrato valido que, não obstante, tivesse provocado danos na sua
celebração, excluindo as negociações prévias, injustificadamente, sem que se
tenha chegado à formação de qualquer contrato, e as negociações inválidas)
• Heinrich Siber: os deveres pré-contratuais na celebração de um contrato
preparatório, aquando do inicio das negociações, estão filiados. Ao aceitar
negociar a eventual procura de um consenso negocial, as partes estariam, desde
logo, a aceitar, pelo menos, algumas regras de jogo.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Critica: ficciosa (nas negociações comuns, não se descobrem quaisquer
declarações destinadas a originar um consenso contratual, que permita retirar
deveres de comportamento minimamente consistentes).
• Teorias legais
• Soluções legais – remetem a base da figura da cic para a lei
• Teoria da relação de facto: as partes conseguem, no trafego social, através de
puras condutas materiais, originar situações semelhantes a contratos, mas sem
qualquer declaração a tanto destinada, estando entre estas situações, as
negociações preliminares; daí adviria uma relação contratual de facto à qual,
por analogia, se aplicaria o regime dos contratos
• Teoria dos deveres extralegais: em situações de acrescida proximidade, surgiria
uma especial confiança, entre as partes, que não poderia ser desemparada. No
silencio da lei, haveria que construir um principio de onde resultaria uma
proteção extralegal, impondo-se também deveres e informação e de
comunicação, que poderiam ser apoiados na BF ou numa interpretação
alargada da vontade das partes.
• Teoria da confiança: na presença de negociações, assistir-se-ia à criação de uma
situação de confiança e ao aproveitamento da situação criada. Daí adviria uma
particular forma de negocio jurídico
• Teoria da autovinculaçao sem contrato: os agentes, através de condutas
comunicativas, criaram, um nos outros, expetativas de conduta futuras, que iria
ser conduzido à ideia de autovinculaçao, perfeitamente conhecida através da
vinculatividade da promessa
• Teoria dos deveres unitários: ao analisar as diversas situações nas quais, por
exigência ético-jurídica, se procede à tutela da confiança e preconizar a
existência de um dever unitário de proteção, de base legal, e que, surgindo in
contrahendo, se mantêm na vigência do negocio e da sua própria nulidade.

A cic também pode ser tomada como uma fonte de responsabilidade. Essa
responsabilidade pode ser contratual ou obrigacional (caso exista, entre as partes, uma
obrigação especifica), ou também pode ser aquiliana (quando se opta por um dever de ordem
geral, eventualmente concretizado em deveres de tráfego).

Podemos considerar que, na base da jurisprudência alemã, da cic a possibilidade de a


reconduzir ao instituto da responsabilidade contratual ou obrigacional.

O prejuízo da parte lesada, numa situação de cic, pode ser estimado de duas formas:

a) Interesse negativo – prevalece a ideia de que as próprias negociações foram ilícitas; o


lesado irá receber uma indemnização que permita coloca-lo na situação em que estaria
se não tivessem ocorrido as negociações.
b) Interesse positivo - a interrupção das negociações ou a incapacidade de, por eles, se
chegar a um contrato válido e eficaz; a indemnização procurará colocar o lesado na
situação em que estaria se o contrato fosse válido e eficaz.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Terceira via da responsabilidade civil – adveio da preocupação de ordenar a cic, em conjunto
com outros institutos derivados da BF e que poderiam envolver responsabilidade, entre a
responsabilidade contratual e a responsabilidade aquiliana.

As regras da cic funcionam perante qualquer


Art.227º
negocio, atendendo ao espirito da lei

“Negociar” deve ser tomada em sentido


mais amplo; a simples proximidade
negocial permite que a cic se manifeste

Estão fixadas duas fases na preparação


do contrato

“preliminares, que pressupõe toda a troca


de informações necessárias, para se
alcançar um acordo

“formação”, que exprimiria a formalização do


acordo, designadamente quando estivessem um
jogo uma forma solene, que requeria atividade
de redocumentação
A BF referida neste artigo é objetiva, que equivale a
uma remissão para os valores fundamentais do
sistema, presentes nas situações consideradas

O preceito não delimita nem exclui quaisquer danos:


são todos os que sejam “culposamente causados
(representa um juízo de culpa, abrangendo, nos termos
gerais, quer o dolo, quer a mera negligencia); o advérbio
culposamente visa delimitar os danos a indemnizar

O nº2 remete, no tocante à prescrição, para o


art.498º. Trata-se de uma previsão de prescrição
subjetiva, uma vez que começa a correr não a
partir do momento em que o direito possa ser
exercido, mas apenas quando o titular dele tenha
conhecimento, ainda que ignorando a identidade
do responsável ou a extensão dos danos.
Consequentemente, o prazo é curto: 3 anos.
Paralelamente,
Atos preparatórios – todos os atos que, inserindo-se, pelo seucorre a prescrição
objetivo, ordinária,
no processo de formação
objetiva e de 20 anos
de um contrato, não possuam reconduzir-se à proposta, á aceitação ou à rejeição, relativamente
ao contrario definitivamente pretendido. Podem ser materiais ou jurídicos, consoante se
analisem em simples modificações do mundo material ou antes impliquem de puro significado
jurídico.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Podem ser:

• Materiais, falando-se neste caso em contratos preliminares, em que as partes procuram


conhecer-se e indagar a possível negociação dos sus interesses, onde se mantém a
liberdade de contratar, devendo respeitar a BF
• Jurídicos, em que se fala de contratos vinculativos, que obrigam as partes a práticas
ulteriores (ex.: contrato-promessa), e contratos não-vinculativos

Atos típicos:

➢ Tipos sociais
• Minuta (ou punctação): documento no qual as partes vão exarando os diversos
pontos a inserir no futuro contrato, à medida que sejam acordados. Os pontos
sectoriais acordados, mesmo quando lançados num papel não vinculam os
contraentes antes da aprovação global final, já que o contrato é aprovado no
seu todo
➢ Tipos legais
• Contratos instrumentos (contratos que não visam regular, de modo direto, o
conteúdo que integrará o convénio definitivo mas, tão-só, aspetos que, a ele
irão conduzir): art.223º, 218º, 228º/1, al.a), 410º e ss., 414º e ss. CC, contrato
de opção (diferente preferência), concurso para celebração de um contrato.

Concurso para a celebração de um contrato – um ou mais atos jurídicos destinados a


promover o aparecimento de uma pluralidade de interessados na conclusão de um contrato e,
depois, a facultar por escolha, a seleção de um deles, para a celebração em causa. Os elementos
essenciais são a existência de pluralidade de interessados e a escolha.

Independentemente do objetivo, o concurso para a celebração de um contrato comporta várias


modalidades. Essas modalidades podem ser consoante o contrato em jogo e os funcionários.

Negócios mitigados (categoria de negócios típicos, mas não necessariamente preparatórios):

i) Acordo de cortesia – convenção relativa à matéria não-patrimonial com relevância


do mero trato social. Pode recair sobre a hora e o local de um encontro, sobre
questões protocolares ou sobre ajustes convenientes por um convívio agradável,
dentro e fora da contratação jurídica, ou seja, sobre uma matéria que não tem
conteúdo patrimonial. Ele origina uma obrigação legal de proteção, o que leva a que
o acordo de cortesia que seja subtraído apenas para provocar danos pode dar azo a
situações comuns de responsabilidade civil.
ii) Acordo de cavalheiros – convenção que as partes pretenderam colocar fora do
campo do Direito. É mais adstringente do que qualquer vinculo jurídico, porque o
cavalheiro honrará sempre a palavra dada, quaisquer que sejam as circunstancias e
o preço. O acordo de cavalheiros deixará de o ser se os interessados não se
comportarem como tal
iii) Contratos mitigados stricto sensu – durante o espaço entre a completa ausência de
compromissos e o contrato-definitivo, as partes podem estabelecer vínculos mais

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


lassos, de conteúdo variável e que teriam em vista uma futura composição de
interesses.

Processo de formação dos contratos

O modelo básico de formação do negocio jurídico, consagrado no CC, assento num


processo de formação do contrato, processo esse que postula uma situação na qual, entre as
declarações de vontade dos dois intervenientes, medeia um lapso de tempo juridicamente
relevante. Tecnicamente, trata-se de um contrato entre ausentes, porém, apenas está em causa
uma proposta cuja aceitação não é dada de imediato, o que significa que o Direito deve
caracterizar as duas declarações que existem (papel dos art.224º e 228º a 235º CC).

Desvios perante a realidade do esquema de formação do contrato entre ausentes previsto no


CC:

i) Limita-se ao contrato com duas partes ou bilateral


ii) Ignora os contratos entre presentes, em particular os concluídos por
comportamentos concludentes ou por simples adesão de uma oferta ao publico, os
fechados por telefone ou meio equivalente e os convénios formalizados perante
notário ou agente dotado de poderes similares

Proposta – declaração feita por uma das partes e que, uma vez aceite pelas outras, dá lugar ao
aparecimento de um contrato. Deve reunir três requisitos:

a) Completude: tem de abranger todos os pontos a integrar no futuro contrato; faltando


algum elemento e ainda que a outra parte o viesse a completar, não haveria, sobre ele,
o consenso necessário
b) Firmeza: a proposta deve ser firme, não existindo quando a declaração do “proponente”
seja feita em termos dubitativos ou hipotéticos, uma vez que a simples aceitação da
proposta leva ao aparecimento do contrato, sem que, ao declarante, seja dada nova
oportunidade de exteorizar a vontade
c) A forma requerida para o negocio – a forma do contrato é a forma das declarações em
que ele assente.

Nas hipóteses em que não seja possível distinguir uma proposta e uma aceitação, fica claro que
os requisitos para que haja proposta, se devam reportar ao objeto que mereça o assentimento
dos contraentes ou que ambos façam o seu.

Convite a contratar – declaração pela qual uma pessoa se manifesta disposta a iniciar um
processo de negociação com vista à futura eventual conclusão de um contrato, mas sem se
vincular, nem à sua conclusão, nem a um seu conteúdo já completamente determinado. Ou seja,
é um ato finalisticamente orientado à abertura de uma negociação.

O seu autor mantem uma liberdade que não tem na proposta de contrato, pois pode modificar
o conteúdo do projeto contratual inicialmente formulado e pode, no final, desistir de contratar.
O seu autor não se constitui numa sujeição, nem investe a pessoa a quem foi dirigido num poder

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


potestativo de aceitar, provocando a conclusão de um contrato; a aceitação de um convite a
contratar tem como consequência o iniciar de uma negociação com vista à celebração de um
contrato, e vincula as pessoas envolvidas apenas ao dever de BF (art.227ºCC).

Pode ser dirigido ao publico ou a pessoas concretamente identificadas, ou ainda a certas classes
de pessoas ou a pessoas determinadas segundo critérios gerais.

A eficácia contratual consiste em promover, na esfera do destinatário, o direito potestativo de,


pela aceitação, fazer nascer o contrato proposto.

Duração da proposta contratual // Art.228ºCC

Regimes de duração da vinculação do proponente:

• Se, na proposta, for estipulado um prazo para aceitação, o proponente fica vinculado
até ao termo desse prazo (art.228º/1, al.a) CC)
• Se, na proposta, for pedida resposta imediata, a vinculação do proponente mantém-se
durante o tempo que, em condições normais, demorem a proposta e a respetiva
aceitação a chegar aos respetivos destinatários (art.228º/, al.b) CC)
• Se, na proposta, não for estipulado qualquer prazo, e esta for feita a pessoa ausente ou
for feita por escrito a pessoa presente, a vinculação do proponente manter-se-á até
cinco dias após o tempo que, em condições normais, demorem a proposta e a respetiva
aceitação aos respetivos destinatários (art.228º/1, al.c) CC)

O período de duração das propostas contratuais deve ser determinado em abstrato e tendo em
conta o meio utilizado pelo proponente para enviar a sua declaração: se for utilizado um meio
de comunicação rápido (ex.: telegrama, fax ou mail), a duração será inferior do que a duração
caso seja utilizado o correio, havendo, neste caso, que se distinguir o tipo de correio e a
distância. Segundo Menezes Cordeiro, para a determinação do tempo de demora normal da
comunicação da proposta e da aceitação, tem de ser ao sistema das notificações postais judiciais
dirigidas a advogados, instituído pelo DL 121/76, 11 de fevereiro, hoje contido no art.254º CPCiv.
De acordo com o sistema, a receção presume-se ocorrida no terceiro dia posterior ao do registo
da carta, ou no primeiro dia útil seguinte, quando aquele seja um domingo ou feriado. Esta
presunção pode ser ilidida pelo recetor, se a receção ocorrer em data posterior, mas não o pode
ser pelo expedir se decorrer em data anterior. MC defende ainda que essemesmo prazo pode
ser transposto para as propostas contratuais remetidas pelo correio.

Modos que conduzem à extinção da proposta

i) Decurso do prazo – extingue, por caducidade, a proposta atingida. Os prazos


comuns aplicáveis resultam do art.228º/1 CC. Caso o proponente declare que a sua
proposta se mantem indefinidamente, propõe-se, analogicamente, a aplicação do
art.411ºCC, em que o proponente pode solicitar ao tribunal a fixação de um prazo
para que o destinatário aceite ou rejeite; passado tal prazo, segue-se a caducidade
da proposta, nos termos gerais
ii) Revogação – ato unilateral, praticado pelo proponente, que tem por conteúdo a
extinção da proposta previamente emitida, e só é possível enquanto não houver

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


contrato. A revogação, segundo o art.230ºCC, é viável em duas hipóteses: quando
o proponente se tenha reservado a faculdade de revogar, ou quando a revogação
se dê em moldes tais que seja, pelo destinatário, recebida antes da proposta, ou ao
mesmo tempo com esta
iii) Aceitação ou rejeição – a aceitação faz desaparecer a proposta, promovendo a
integração no contrato. A rejeição conduz ao mesmo resultado, desta feita por
renuncia, do destinatário, ao direito potestativo de aceitar a proposta em jogo; a
morte ou incapacidade do proponente, havendo fundamento para presumir ser
essa a sua vontade ou se tal resultar da própria declaração, a morte ou incapacidade
do destinatário, ou a ilegitimidade superveniente do proponente, desde que
anterior à receção da proposta, são também formas de extinção da proposta
contratual
iv) Anulação ou impossibilidade absoluta superveniente

Oferta ao publico

• Modalidade particular da proposta contratual caracterizada por ser dirigida a uma


generalidade de pessoas.
• Requisitos:
i) Completude
ii) Intenção inequívoca de contratar/firmeza
iii) Apresentar-se da forma requerida para o contrato a celebrar
• Distingue-se:
a) Convite a contratar (as entidades interessadas podem incitar pessoas
indeterminadas a contratar; não há oferta ao publico quando o “convite” não
compreenda todos os elementos para que, da sua simples aceitação, surja o
contrato
b) Proposta feita a uma pessoa desconhecida ou de paradeiro ignorado (proposta
comum, com destinatário especifico, de quem se desconhece a identidade ou
paradeiro, procedendo-se, neste caso, a um anuncio publico nos termos do
art.225ºCC)
c) Clausulas contratuais gerais (não surgem como proposta e implicam uma rigidez que
não enforma, de modo necessário, a oferta ao publico)
• Surge como modo idóneo de proporcionar muitos contratos com um mínimo de esforço
e de custos, por parte dos celebrantes. Pode ser formulado através de qualquer meio
suscetível de demonstrar uma intenção de contratar, completa e efetiva (ex.: catálogos,
tabuletas, anúncios, …), e perante uma eventual aceitação, resulta logo um contrato.
• O CC não se ocupou, de modo expresso, da oferta ao publico, exceto para regular a sua
extinção, referido no art.230º/3CC

Convite à oferta – o “proponente” declara-se pronto a receber propostas que, depois, poderá
aceitar. Pode dizer-se que nesta modalidade mais delimitada do convite a contratar, falta a
firmeza, portadora da vontade de vinculação. São particularmente frequentes na net, em que
as “aceitações” dos interessados devem ser (re)confirmadas pelos oferentes: mesmo quando
existam “propostas” completas, a sua efetivação depende de haver merecedoras em stock, de
ser viável o envio ou de ser obtida licença bancária para o pagamento. Apesar de não ser

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


vinculativo, o convite à oferta insere-se numa lógica pré-negocial, por vezes muito precisa, ao
solicitar, em grau variável, mas sempre efetivo, o principio da BF

Aceitação

• Declaração recipienda, formulada pelo destinatário da proposta negocial ou por


qualquer interessado; quando haja uma oferta ao publico, cujo conteúdo exprima uma
total concordância com o teor da declaração do proponente
• Características:
- Concordância total e inequívoca
- Revestir a forma exigida para o contrato
• Requisitos
i) Conformidade
ii) Tempestividade
iii) Suficiência formal
• Pode ser expressão ou tácita (art.217º/1CC)
• Receção tardia (art.229ºCC): ocorre quando a aceitação comece a produzir efeitos
apenas quando a proposta já não tenha eficácia; quando acontece, não há, de imediato,
qualquer contrato, já que a conclusão de um negocio contratual exige que a proposta e
a aceitação se encontrem em plena eficácia.
• Art.235º/2CC: pode ser revogada, devendo a declaração revogatória chegar ao poder
do proponente, ou ser dele conhecida, em simultâneo com a aceitação ou antes dela
• Quando se torna eficaz, nos termos do art.224ºCC, o contrato tem-se por celebrado (a
conclusão do contrato pode fixar o momento do inicio dos seus efeitos)
• A aceitação com “…aditamentos, limitações ou outras modificações” implica a sua
rejeição, porque esta deve traduzir uma total aquiescência quanto à proposta; qualquer
alteração introduzida nesta pelo destinatário bloqueia a imediata formação do contrato,
já que não houve o consenso de ambas as partes

Rejeição

• Ato unilateral pelo qual o declaratário recusa a proposta contratual, renunciando ao


direito a que dera lugar
• Pode ser expressa ou tácita
• Pode ser revogada, sendo, por consequência, substituída pela aceitação, desde que a
competente declaração chegue ao poder do proponente, ou dele seja conhecida, ao
mesmo tempo que a rejeição (art.235º/1CC)

Contraproposta – proposta contratual que tem apenas como particularidade o implicar a


rejeição de uma primeira proposta, de sinal contrário. Deve ser completa, firme e assumir a
forma requerida para o contrato.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Uma aceitação parcial não dá resultado nem ao contrato nem a uma contraproposta, porque a
aceitação parcial diz-nos que não há acordo sobre toda a matéria da proposta e que, no
remanescente, nada de concreto é contraposto.

Art.234º (dispensa de declaração de aceitação):

• Teve como fonte o §151 do BGB


• A formação de um contrato “sem declaração de aceitação” pode traduzir-se
materialmente em:
a) Atos de apropriação (ex.: abertura de paginas de um livro, escrever o nome,
também num livro, ou a colocação de pão num cesto)
b) Atos de cumprimento (ex.: reserva de um hotel, colocação de dinheiro num
autómato ou execução de um negocio)
c) Atos concludentes (ex.: trafego de massas)
• São especificadas três hipóteses:
i. Proposta: o proponente pode dispensar a declaração de aceitação, mas nunca
a eventual aceitação; nessa eventualidade, que deve passar pelo crivo da tutela
do consumidor e pela BF, indicará qualquer outra via de aquiescência
ii. Circunstancias do negocio: abertura a comportamentos concludentes e aos atos
de apropriação e atos de cumprimento
iii. Usos: o CC admite-os apenas quando há remissão legal e não sejam contrários
ao sistema
• Levanta problemas de construção e de explicação dogmáticas, surgindo duas teorias: a
teoria do exercício da vontade, segundo a qual o preceito não visaria qualquer
manifestação de vontade, para a conclusão do negocio; a teoria da dispensa de
comunicação ou do destinatário, defendendo que existiria uma declaração de vontade,
exteorizada de alguma forma, mas sem necessidade de enio ao proponente
• A dispensa de declaração de aceitação consiste numa autodeterminação sem
comunicação ao proponente
• São inaplicáveis, nestas condições, os art.234º, 235º, 240º a 243º, 258º a 269º e, em
geral, as diversas clausulas que extravasem o núcleo simples do contrato. São aplicáveis
os 236º a 239º e os 245º a 257º. Em compensação , ganham peso as regra sobre o ónus
da prova: na falta de declaração, cabe à parte que queira invocar ou prevalecer-se do
negocio, alegar e demonstrar as competentes atuações.

O tema da natureza das declarações contratuais leva a uma discussão doutrinaria, devido à
existência de múltiplas teorias sobre negócios e atos jurídicos, com influxo direto nas soluções
preconizadas.

Menezes Cordeiro defende que a proposta contratual é um negocio jurídico unilateral, pelo
menos sempre que o contrato visualizado pelo proponente tenha natureza negocial. Quando tal
não suceda, a proposta será um ato jurídico stricto sensu.

➢ A proposta é eficaz: produz efeitos de direito e, designadamente, faz surgir, na esfera


do destinatário, o direito potestativo à aceitação; é um facto jurídico lacto sensu

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


➢ A proposta é livre: o proponente formula-a se quiser, atuando ao abrigo da sua
autonomia privada; há liberdade de celebração, pelo que a proposta se articula como
um ato jurídico lato sensu
➢ O conteúdo da proposta é livre: o proponente pode inserir na proposta as clausulas que
entender; há liberdade de celebração, surgindo, límpido, um NJ

MC defende ainda que a aceitação é, em conjunto com a rejeição e a contraproposta, um


negocio unilateral.

Contratação automática e eletrónica

A contratação por autómato ultrapassou o Direito, por ter sido construído um modelo contratual
que dispensasse a presença de um dos atuantes.

Surgem, encarado o problema, duas teorias:

I. Teoria da oferta automática: a simples presença de um autómato pronto a funcionar,


mediante adequada solicitação feita por um utente, deve ser vista como uma oferta ao
publico; acionado o autómato, o utente aceitaria a proposta genérica formulada pela
entidade a quem fosse cometida a programação. O autómato era um simples
prolongamento, bastante explicito, da vontade cabal do proponente; neste caso, há
contrato com a simples aceitação. Qualquer falha subsequente surgira como uma
violação do contrato perpetrado pela pessoa que recorra a autómatos para celebrar os
seus negócios.
II. Teoria da aceitação automática: o simples acionar do autómato não provoca
necessariamente a conclusão do contrato. Tal só sucederá se o autómato estiver em
condições de fornecer o bem solicitado. Por consequência, o contrato só se concluiria
através do funcionamento do autómato, cabendo ao utente a formulação da proposta.
A instalação previa do autómato representaria uma atividade preparatória, municiada
para aceitar solicitações que lhe fossem dirigidas. Neste caso em que o autómato se
limita a receber propostas, não há violação contratual no caso de não funcionamento,
apenas se assistirá a uma não-aceitação

Perante os princípios clássicos da automação, a presença de um autómato constituiria uma


autentica oferta ao publico. O proponente (pessoa responsável pelo autómato) desfrute, ao
programa-lo, de liberdade de estipulação, podendo propor o que entender; pelo contrario, o
utente apenas poderia aceitar ou “reusar” a proposta automática, colocando-se numa posição
semelhante à de aceitante. O autómato não tem librdade de decisão para aceitar ou recusar
uma proposta, já que as opções competentes foram feitas pelo programador e só por este
podem ser alteradas.

Todavia, no limite, o autómato pode ser programável para tornar decisões, sendo perfeitamente
concebível um negocio “celebrado” entre autómatos devidamente programados para o efeito.
Em esquemas mais elaborados, o autómato reproduz a vontade do seu programador ou da
pessoa a quem as atuações deste sejam imputáveis. Nessa medida, a declaração deita através
do autómato pode ser proposta ou aceitação ou, mais genericamente, pode ser de qualquer
tipo, consoante a vontade do programador.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


A contratação por meios eletrónicos ou através da Internet (que é diferente da contratação feita
através de autómatos ou computadores) foi enquadrada no negocio com recursos aos esquemas
negociais consagrados, acrescentando-lhe algumas cautelas. Assim, a declaração feita por
computador ou por meios de comunicação eletrónica vale como tal.

Diretriz nº97/7/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho: aprovado com a finalidade de


proteger os utentes que utilizam este negocio, que tem a facilidade de se adquirirem bens ou
serviços e de se assumirem os inerentes encargos, em termos imediatamente eficazes através
da utilização de cartões bancários, que obriga o Estado a tomar estas regras de proteção. Fixa
deveres de informação acrescidos e atribui, ao adquirente, um direito à resolução do contrato,
caso se venha a arrepender, supervenientemente, da sua celebração.

Cláusulas Contratuais Gerais

As CCG compreendem três elementos essenciais:

• são pré-elaboradas e apresentadas em bloco aos destinatários;


• são rígidas, apresentadas já como definitivas, não admitem estipulação em contrário;
• generalidade/indeterminação dos aderentes, são iguais para todos os que venham a
aderir.

A parte que adere não tem liberdade de estipulação ainda que tenha de celebração.

Caracterizam-se pelos seguintes aspetos:

• as partes estão numa posição de desigualdade negocial, o poder negocial é superior a


uma das partes e dai esta poder impor as cláusulas contratuais gerais;
• (pode não se verificar) quase sempre as cláusulas contratuais gerais constam de
formulários;
• bastante complexo e pouco legível, o "comum dos mortais não perceberá, mas nós
juristas sim".

Vantagens – facilita a rapidez da contratação e trata de igual modo todos os contraentes;

Inconvenientes – o poder negocial sendo desequilibrado conduz a uma facilidade de abusos por
parte da parte superior.

Regime jurídico das cláusulas contratuais gerais

Embora não existisse, verificou-se que a sujeição deste tipo de contratos às regras gerais de
formação dos contratos do código civil é insuficiente uma vez que a parte fraca não fica
devidamente protegida face aos abusos da outra parte (no caso do artigo 232.º a pessoa que
assina o contrato, a lei presume e bem que deu assentimento a todos os aspetos que lá estão e,
nesse sentido poderia a levar que muitos fossem enganados).

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


O esquema formal do Código Civil é para contratos comuns e não para aqueles em que existe
um desequilíbrio negocial. Por outro lado, o Direito Europeu também se preocupou com esta
matéria e aprovou a Diretiva 93/13 que estabelece regras mínimas de contratação com recurso
a cláusulas contratuais gerais.

No nosso sistema jurídico também temos um diploma específico desta matéria, o Decreto-Lei
446/85 anexo ao Código Civil e já alterado duas vezes de forma significativa por imposição do
Direito Comunitário, em 1995 e em 1999.

Decreto-Lei 446/85

a) Âmbito de aplicação: decorre do artigo 1º e salientam-se aqui 4 pontos:


• A lei aplica-se às cláusulas contratuais gerais, pré-elaboradas e cujos aderentes
se limitem a aceitar e ou a subescrever. A lei aplica-se, ainda, às cláusulas pré-
elaboradas presentes em contratos individualizados, artigo 1.º/2. Em suma, a
lei aplica-se aos contratos de massas e aos contratos de adesão, estes últimos
sem generalidade e abstração. Relativamente a esta extensão, das cláusulas
contratuais gerais a contratos individualizados, a doutrina é muito crítica,
nomeadamente em Portugal encontra uma voz crítica no Professor Menezes
Cordeiro no sentido em que se trata aqui de um excesso uma vez que nem todos
os contratos de adesão significam a existência de uma desigualdade de posições
entre as partes e, logo, não se justificam que se apliquem as regras de proteção
previstas nas cláusulas gerais.
• Esta lei abrange todas as cláusulas contratuais do negócio desde que não
tenham sido negociadas previamente.
• A lei tem como aspeto essencial de aplicação o domínio dos contratos
obrigacionais e de Direito Privado, ou seja, fora desse domínio a lei não se
considera aplicável. Diz assim o artigo 3.º que não se aplica o regime das
cláusulas contratuais a um certo número de cláusulas: cláusulas típicas
aprovadas pelo legislador, em função de Tratados ou Convenções
Internacionais; cláusulas relativas a contratos submetidos ao Direito Público;
cláusulas constantes de convenções coletivas do trabalho e ainda Direito da
Família e Sucessões.
b) Especificidades da formação do contrato: A regra geral decorre do artigo 4.º, ou seja, só
se incluem nos contratos singulares quando forem aceites pela outra parte, artigo 232.º
CC.
c) Deveres especiais:
- Deveres de comunicação, artigo 5.º: É por esta razão que a lei veda as chamadas
cláusulas surpresa, artigo 8.º.
- Dever de informação, artigo 6.º: O dever de informação é o dever de esclarecimento
sobre um conteúdo, diferente do dever de comunicação cujo objetivo é levar ao
conhecimento da outra parte. As cláusulas que respeitem estes dois deveres
consideram-se excluídas do contrato. artigo 8.º. Esta exclusão, não obsta de indemnizar
relativamente aos deveres causadas e neste sentido, aplicamos aqui o artigo 227.º.
- Cláusulas singulares prevalentes, artigo 7.º: Qualquer regra singularmente
convencionada pelas partes prevalece sobre o formulário geral, ou seja, o contrato é
assim composto pelas cláusulas que as partes acordarem individualmente e, naquilo que
as partes não tiverem acordado individualmente aplica-se o formulário. As cláusulas

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


inseridas nos contratos em contravenção a estes deveres são excluídas e o contrato
subsiste sem elas exceto se o contrato for insuprível sem elas, artigo 9.º
d) Regras de interpretação: em caso de as cláusulas terem conteúdo ambíguo deve
favorecer-se o sentido mais favorável ao aderente uma vez que ele é a parte fraca, artigo
11.º
e) Proibição de certas cláusulas: proibição em todos os contratos; cláusulas absolutamente
proibidas, artigos 18.º e 19.º; proibição em contratos aplicados a consumidores finais;
cláusulas relativamente proibidas, artigo 20.º e 21.º; se constarem dos formulários e/ou
forem incluídas em contratos singulares estas cláusulas são nulas. Contudo, a nulidade
pode ter um duplo efeito: ao nível de cada contrato singular a nulidade tem o efeito do
artigo 13.º permitindo-se ao aderente manter o contrato sem essas cláusulas, ou, fazer
cessar o contrato. Além disso há um efeito geral. É possível promover a denominada
"Acão inibitória", ou seja, as ações representativas de trabalhadores, consumidores,
Ministério Público, etc. podem ir junto do Tribunal e pedirem que certos tipos de
cláusulas sejam erradicadas dos formulários.

Conteúdo do negocio

O conteúdo do NJ corresponde ao conjunto de regras que, por ele ter sido celebrado, tenham
aplicação, no espaço delimitado pelas partes.

(Não confundir conteúdo com objeto, que tem a ver com o quid sobre que irá recair a relação
negocial propriamente dita. Ex.: A e B celebram um contrato de CV; o art.879º, que dita as regras
corresponde ao conteúdo do NJ, e a coisa ou direito transmitido corresponde ao objeto)

Conteúdo (os
Elementos normativos Elementos injuntivos (não
elementos devem ficam na disponibilidade
ser separados para (regras que o direito
das partes e não podem
efeito de analise) associa à celebração ser por elas afastadas)
do negocio)
Elementos supletivos (a
sua aplicação destina-se
a suprir o silencio ou
insuficiência das
clausulas negociais
Elementos
Necessários (correspondem a
voluntários (regras fatores que, embora na
aprontadas e disponibilidade das partes,
afixadas pelas tenham, por elas, de ser fixadas
partes) sob pena de incompletude do
negocio; ex.: preço na CV)

Eventuais (elementos
que as partes poderão
incluir no negocio se
assim o entenderem; ex.:
condição)

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Tipo nengocial (sentido próprio ou estrito) – conjunto dos seus elementos normativos e
voluntários necessários. Apresenta uma unidade particularmente vincada.

Cláusulas típicas – dispositivos que o Direito, por razoes de tradição ou pela sua frequência na
vida civil, trata expressamente e que, assim, fica a disposição das partes que, para eles, queiram
remeter; não formam, porem, um todo coerente, antes se apresentando como instrumentos,
em si desconectado e que, quando eleitos, integram elementos voluntários eventuais.

O NJ deve postular atuações humanas possíveis no plano do conteúdo e no do objeto.

A impossibilidade assume diversas formas. As regras que dão corpo ao requisito da possibilidade
encontram-se dispersos no CC (ex.: art.280º/1, a propósito do NJ).

Possibilidade:

➢ Física: cabe distinguir os casos em que ela é vedada por falta de substrato (ex.: prestação
de serviços de saúde a alguém que já tenha falecido), e os casos em que se perca o
conteúdo por supressão do escopo ex.: dar um vestido de noiva a alguém que já tenha
casado)
➢ Absoluta ou relativa (conforme atinja o objeto do negocio, sejam quais forem as pessoas
envolvidas ou, pelo contrario, opere somente perante os sujeitos concretamente
considerados): apenas a absoluta é verdadeiramente impossibilidade, por impedir o
sujeito concretamente impedido de atuar certo negocio, podendo este, não obstante,
celebrá-lo, desde que se faça, depois, substituir na execução
➢ Temporária ou definitiva, em função da sua extensão temporal e em termos de
previsibilidade: no primeiro caso, é previsível que ele cesse, ao contrario do que
acontece no segundo. Enquanto requisito normativo, releva a impossibilidade
definitiva.

A impossibilidade efetiva (em que o objeto do NJ é ontologicamente inviável), difere da


impossibilidade meramente económica (o objeto do NJ é pensável, mas surge economicamente
tao pesado, que se torna injusto).

A impossibilidade inicial distingue-se da impossibilidade superveniente, já que a primeira opera


logo no momento da celebração, que conduz à aplicação do art.280º/1 (nulidade), e a segunda
manifesta-se após o momento da celebração do NJ, tendo como consequência a extinção da
obrigação, caso ocorra por causa não imputável ao devedor (art.790º/1).

Impossibilidade moral – o objeto é inviável por contrariar uma conjunção de normas ou de


princípios jurídicos. Modalidade de impossibilidade jurídica, quando estejam em causa valores
fundamentais do sistema jurídico, expressos pela ideia de BF.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Cláusulas negociais típicas

➢ Condição

A condição é uma cláusula contratual típica, que vem subordinar a eficácia de uma declaração
de vontade a um evento futuro e incerto (art.270ºCC)

Distinção Condição suspensiva (quando o negócio só produza efeitos


após a eventual verificação da ocorrência)

Condição resolutiva (sempre que o negocio deixe de produzir


efeitos após a eventual verificação da ocorrência em causa)

Modalidades:

Condição casual – o evento incerto de que Condição potestativa – o evento incerto de


dependam se traduz num facto alheio aos que dependam emerge da vontade de um
participantes; pode, ainda, depender de um deles; o participante em causa recebe o
facto natural, de um ato de terceiro ou de um direito potestativo de deter ou desencadear
ato social ou administrativo a eficácia do negocio, consoante seja
resolutiva ou suspensiva
Condição de momento certo – ocorre numa Condição de momento incerto – ocorre numa
ocasião pré-fixada, ainda que incerta. ocasião indeterminada.
Ex.: quando A fizer 30 anos (não se sabe se A Ex.: quando B casar (não se sabe se B irá, ou
sobrevive até essa idade) não, casar)
Condição automática – é desnecessária, para Condição exercitáveis – é necessária uma
a sua eficácia, qualquer manifestação de manifestação de vontade para a sua eficácia;
vontade; em regra, as condições são pode ser aproximada de um misto entre a
automáticas condição casual e a potestativa, uma vez que,
para alem do evento, requer uma vontade do
agente.

Condições improprias – não são verdadeiras condições. Surgem por faltar algum dos requisitos
das verdadeiras condições e, designadamente, ou a natureza futura do evento, ou a sua
incerteza ou a voluntariedade da própria cláusula em si. São condições improprias:

• Condições presentes ou passadas (a eficácia depende de algo que, existindo já, ou não,
aquando da celebração, não deixa, afinal, margem de pendencia para o negocio; a
condição existe, no entanto, quando as partes se reportem não ao facto em si,mas ao
conhecimento dele)
• Condições impossíveis (aquelas que, por razões físicas ou jurídicas, nunca poderão
ocorrer)
• Condições necessárias (aquelas que, por razões naturais ou legais, irão de certeza
ocorrer, mesmo que em momento incerto)
• Condições legais (abrangem factos futuros e eventuais a que a própria lei subordine
certa eficácia)

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Art.405º/1: regra geral, que conduz à livre oponibilidade de condições _ quem é livre de
estipular, pode condicionar. Deduz-se que os atos em sentido estrito não são condicionáveis, ou
já terão outra natureza.

As condições não podem, ainda, ser inseridas em negócios que o Direito pretende firmes e como
formulas de os preconizar. Assim, o arrendamento e o contrato de trabalho não podem estar
sujeitos a condições.

Pode suceder, todavia, que a condição seja contraria à lei, implique uma relação com o negócio
que repugne ao Direito, ou se conduzir a resultados indesejáveis ou que o Direito queria livres.
Quando a condição é licita, o negócio é, no seu todo, nulo, regra essa que se alarga às condições
impossíveis (art.271º CC)

Exceções ao art.271º CC: atos pessoais e familiares; atos gratuitos. Nestes casos, há nulidade
apenas da condição (por expressa injunção legal, há que ponderar se as partes terão mesmo
querido o negocio sem condição; no caso da condição “não escrita”, há nulidade do negocio
todo)

Vetores auxiliares do regime da condição:

a) Autonomia privada: a condição é imposta pelas partes e, nessa medida, deve ser
respeitada; as partes, aliás, podem estipular os seus efeitos, compondo soluções
diversas das legais, sempre que o Direito não as proíba.
b) Boa-Fé: deve ser acatada pelas partes, de modo a não falsear o seu objetivo e a não se
provocarem danos necessários
c) Distribuição de riscos

A pendência da condição (tempo que medeia entre a celebração do negocio condicionado e a


verificação ou não da condição) gera uma situação particular de conflito de direitos: aquele que
aliene um direito sob condição suspensiva mantem-se seu titular, mas deixara de o ser com a
verificação dela; o que, por seu turno, adquira um direito sob condição resolutiva passa a ser
seu titular, mas deixará de o ser com a verificação da mesma.

A pendencia da condição cessa com a verificação ou pela não-verificaçao da condição, consoante


ela se manifeste pela positiva ou pela negativa. A certeza de que ela não se pode verfificar
equivale à não verificação (art.275º/1 CC).

Nas condições potestativas, a verificação da condição é determinada, total ou parcialmente pela


parte (art.275º/2) BF

Art.276º: a verificação tem eficácia, em principio, retroativa à data da celebração do negocio,


podendo, porem, ser reportada, por convenção das partes, a outro momento.

Art.277º: limites à retroatividade da eficácia da condição

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


➢ Termo

O termo é uma cláusula negocial que tem como conteúdo típico a sujeição do inicio ou da
cessação da eficácia do negócio, ou de parte dele, a um facto futuro e certo.

Modalidades:

Termo inicial/suspensivo – quando o termo é Termo final/resolutivo – quando o termo é


inicial, a eficácia negocial principie, apenas, final, a eficácia em questão termina com a
após a sua verificação (dies a quo ou ex quo) verificação do evento (dies ad quem)
Termo certo/fixo – quando, de antemão, seja Termo incerto/infixo – quando existe certeza
conhecido esse momento. do evento, mas incerteza quanto à data em
Ex.: no dia 20 de março de 2018 que virá a acontecer.
Ex.: na data das próximas eleições (sabemos
que vai acontecer, mas não sabemos quando)

Termo Prazo

(O prazo designa o lapso de tempo que vai desde a celebração do negocio até ao evento futuro
e certo que corporize o termo; resulta daqui que o termo possa ser traduzido através de um
prazo, pelo menos quando seja certo)

Art.279º: regime supletivo da contagem de prazos, para os quais a lei não estabeleça um outro
regime.

Art.278º: o dever de agir de acordo com a BF é comum ao termo e à condição; não existem
diferenças no que respeita à pratica de atos de conservação.

Não se aplica à pendencia do termo, o regime dos atos de disposição estatuído pelo art.274º
para a condição: ao alienar bens ou direitos de que é titular a termo final, o alienantes não pode
alienar mais do que tem e o bem ou direito será adquirido também a termo pelo seu adquirente.

São negócios insuscetíveis da estipulação de termo os negócios incondicionáveis, isto é, os


negócios que constituem estados familiares (ex.: casamento, adoção e perfilhação), e os atos de
direito sucessório (ex.: aceitação e repudio da herança)

➢ Modo

O modo é uma estipulação, típica dos negócios gratuitos, pela qual o beneficiário da liberdade
é onerado com uma obrigação que não constitui, todavia, a contrapartida da atribuição
patrimonial gratuita.

Constitui um pacto anexo a uma atribuição patrimonial gratuita, que contem tipicamente uma
vinculação do beneficiário da atribuição patrimonial, geralmente qualificada como obrigacional,
incluindo obrigações de dare e de facere, ativas ou omissivas, em favor do autor da liberdade
ou de terceiro.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Introduz na atribuição patrimonial gratuita uma funcionalização. Essa funcionalização permite
afetar a um fim especial o bem doado ou deixado sob modo. Nesta perspetiva, o modo modela
funcionalmente a utilização que ele deverá fazer do bem.

Conteúdo:

• Patrimonial (ex.: obrigação de entregar bens ou quantias, de suportar despesas, de


pagar dividas; é tradicional o encargo de pagar dividas do doador)
• Não patrimonial (ex.: dever de organizar conferencias, sessões culturais, concertos ou
competições desportivas)
• Estabelecido a favor do seu autor (se consistir em pagamentos em dinheiro ao seu autor,
pode ser difícil de distinguir um preço)
• Estabelecido a favor de terceiros (configuração de um contrato a favor de terceiros)
• Dever de agir, dare ou facere (o encargo modal obrigará o adquirente a agir como
estipulado)
• Dever de omissão (o encargo modal obriga o adquirente a abster-se de certas condutas)
• Obrigatório (o desrespeito do modo poderá dar lugar à condenação do faltoso no
cumprimento)
• Resolutivo (o desrespeito leva à resolução da própria atribuição patrimonial modal)

O modo pode ser singular, consistindo numa só vinculação, ou complexo, se integrar várias
vinculações. Dentro dos limites da autonomia privada, o modo pode ter qualquer conteúdo
licito.

O CC não tratou do modo na Parte geral, dedicando-lhe os art.963º e ss., no tipo da doação, e
os art.2244º e ss., no tipo do testamento.

O modo difere da condição, na medida em que: o modo vincula, enquanto a condição resolutiva
não; a atribuição patrimonial sub modo é imediatamente eficax, embora possa vir a ser resolvida
se o modo não for respeitado, o que não acontece com a atribuição patrimonial sob condição
suspensiva, que só ganha eficácia com a verificação do facto condicionante; a verficiçao da
condição resolutiva é um facto lícito que nada tem de ética ou juridicamente reprovável, e que
corresponde ao seu normal funcionamento, enquanto a resolução do modo por incumprimento
envolve um facto ilícito, ética e juridicamente reprovável, que constitui um delito civil; na
condição resolutiva, verificado o facto condicionante, o negocio extingue-se automaticamente;
no caso do modo resolutivo, o incumprimento do modo só dá lugar a uma faculdade de resolver,
que pode ou não ser exercida por quem tiver para tanta legitimidade, mas que não tem
obrigatoriamente de o ser.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Interpretação e integração do negócio jurídico

A interpretação dos negócios, assim como a interpretação da lei, foi objeto de um debate
doutrinário em que se contrapuseram posições subjetivistas e objetivistas:

➢ Posições subjetivistas: ligadas à teoria da vontade, foram dominantes no séc. XIX e


assentaram num pressuposto ligado à conceção do NJ como ato de vontade jurígena,
em consequência da qual o negocio não podia valer sem o suporte da vontade do seu
autor e, como tal, seria de acordo com a vontade subjetiva desse autor que devia valer.
A tarefa da interpretação consistiria no processo tendente a discernir, através das
palavras declaradas, qual o pensamento, a vontade e o sentido que os originou e que
lhes está subjacente (Castro Mendes)
➢ Posições objetivistas: o seu principal representante é Danz. A declaração negocial deve
ser interpretada segundo o sentido que da própria declaração se depreendesse, de
acordo com as circunstâncias do caso (Ferreira de Almeida)

Na doutrina tradicional, a interpretação tem como objeto declarações negociais e tem como
função a fixação do seu sentido juridicamente relevante. A técnica tradicional de decompor o
negocio em varias declarações negociais, levou à construção de uma teoria da interpretação e
integração das declarações negociais, em vez de uma teoria de interpretação e integração do
NJ.

Art.236º CC: regra geral da interpretação das declarações negociais. Não se deve concluir que a
lei portuguesa tenha tomado partido pela doutrina objetivista da interpretação; a vontade
subjetiva comum das partes, ou de declarante e declaratário, sempre que haja convergência
quanto ao sentido objetivo e quanto ao sentido objetivo das declarações negociais é o primeiro
critério da interpretação; a regra do nº 2 faz prevalecer o sentido subjetivo, quando seja comum,
mesmo que o sentido seja divergente (principio da falsa demonstrativo non nocet) _ a vontade
real só poderá ser considerada quando o sentido objetivo da declaração for diferente do seu
sentido subjetivo e o declaratário não conhecer o seu real sentido subjetivo. O sentido objetivo
com que a declaração negocial puder ser interpretada, de acordo com a regra do nº1, está
limitado pela razoável expetativa do autor da declaração.

Regras de interpretação:

i. Vontade real comum – sempre que haja consenso das partes, ou de declarante e
declaratário, sobre o sentido da declaração, deve ser de acordo com ele que esta deve
ser interpretada
ii. Art.236º/2: falsa demonstrativo non nocet

Art.236º/1 CC: ao emitir a declaração, o declarante tem o dever de BF de se pôr na posição da


parte contraria, na posição da parte contraria, na posição do declaratário, e de prever como é
que esse declaratário irá entender a declaração que lhe vi fazer. Se o não fizer, se agir
culposamente de modo a que o declaratário seja induzido em erro sobre o sentido real da
declaração, estará a agir com culpa in contrahendo.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


A divergência entre o sentido real subjetivo e o sentido objetivo, em que o declaratário não
conhece o sentido real subjetivo pode surgir ainda que o declaratário tenha agido sem culpa.

Art.237º:

• Funciona sem dificuldades sempre que se trate de negócios perfeitamente gratuitos ou


perfeitamente onerosos
• A sua letra é restrita e redutora, porém o seu espirito é rico de sentido (recorrer à
equidade)
• Pode ser desenvolvido no sentido de interpretação de acordo com a equidade; a
interpretação de acordo com a equidade postula uma valoração e uma ponderação
especifica das circunstancias especiais que acompanham o contrato e da sua equação
económica concreta, para alem do critério declarado por este preceito (no caso de
contratos atípicos ou menos atípicos, há que recorrer à interpretação de acordo com a
equidade, para dar solução às duvidas suscitadas)

Art.238º CC:

• Nº1: surge no art.9º/2 e 2187º/2 CC


• Se as partes se poem de acordo visando um código não habitual de comunicação,
podem agir à margem das prescrições legais da forma
• Quando o apelo à vontade real comum das partes opere em áreas circundantes, que
escapem às exigências de forma, não há razão para impossibilitar a interpretação que
não tenha o mínimo de correspondência com o texto do documento
• Nº2: implica que pela interpretação se determine o âmbito da exigência de forma;
dentro dele, a falsa demonstratio não é possível ou equivalente ao afastamento
consensual de regras formais

Art.10º LCCG – impede que a padronizado das ccg se traduza na padronização também da sua
interpretação; a interpretação das ccg deverá ser deita caso a caso, especificamente em relaçao
a cada contrato, e tendo em consideração o contexto de cada contrato singular

Art.11º LCCG: o critterio de interpretação das ccg é o sentido objetivo com que a declaração seja
entendível por um declaratário normal, colocado na posição do declaratário real, mas sem a
reserva da expetativa razoável do declarante real (nº1). Ratio legis, assim como no preceito
anterior, é a proteção da parte mais fraca (nº2)

Art.2187º CC: prevalece a vontade do testador; deve haver um mínimo de correspondência


entre a vontade validada e o teor do testamento

Integração – assume-se como um espaço intrassistematico de criação jurídica, legitimada pela


BF e levada a cabo pelo juiz. Conjunto de operações emergentes do poder criativo do juiz,

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


legitimado pela ordem jurídica em áreas deixadas, pelas partes, sem regulação bastante, mas a
exercer de acordo com parâmetros ainda conectadas com o negocio em jogo.

Ponto de partida da integração – lacuna negocial (espaço carecido de regulação privado mas
que, contrariando o plano geral das partes, não obtenha, por via da interpretação.

Conclusões que se podem retirar face a uma insuficiência regulativa:

a) As partes nada disseram por pretenderem que o ponto omisso ficasse fora de qualquer
regulação jurídica. Pode suceder que a área lacunosa tenha de ser preenchida para
permitir a execução global do negocio, seja por razões de pura ordem pratica, seja por
razões de justiça; nessas eventualidades, teremos de entender, em nome das regras de
interpretação, que não foi intenção normativamente relevante das partes deixar a área
em jogo para regular.
b) As partes deixaram a matéria para as normas supletivas, às quais compete preencher o
ponto. Na contratação, as partes apenas tratam do necessário e do acidental, deixando
o resto ao cuidado do legislador; não havendo aqui qualquer lacuna do contrato. Mesmo
na hipótese da lei supletiva se mostrar lacunosa, apenas teríamos encontrado uma
lacuna legal, a integrar de acordo com as regras do art.10º
c) O negócio foi malconformado aplicando-se, no limite, a regra da nulidade por
indeterminabilidade do conteúdo. Quando o negócio mereça, não um juízo de
lacunosidade, mas sim de incompletude insuprível, em bloco, impõe-se a nulidade, nos
termos do art.280º/1, se a situação for inicial, ou a cessação por impossibilidade
superveniente, segundo os art.790º/1 e 801º, se for ulterior.

Requisitos da lacuna negocial:

• Representar um ponto que, pela interpretação, devesse ser regulado pelo contrato
• As regras supletivas existentes são inaplicáveis
• Tem de se encontrar nos termos do art.10ºCC
• Mantem-se valido o negócio

Não existe um procedimento unitário para a determinação de lacunas negociais. O ponto de


partida é, sempre, a interpretação das declarações de vontade: a lacuna negociável só se perfilha
se não houver normas supletivamente aplicáveis e se eventuais falhas nestas não puderem ser
integradas, à luz do art.10º CC.

Critérios de integração negocial (art.239ºCC):

➢ De acordo com a vontade que as partes teriam tido se houvessem previsto o caso
omisso: está em jogo a vontade hipotética das partes, que não se confunde com a
vontade real, que aflora no art.236º/2
➢ Em função dos ditames da BF, quando outra seja solução por eles imposta.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Vícios da vontade e da declaração

Vícios

Formação da vontade – Ausência de vontade Coação física (art.246ºCC)


pode ir desde a pura e
Falta de consciência da declaração
simples falta de vontade
(art.246ºCC)
até à ausência de
liberdade que, por Incapacidade acidental
assentar em elementos (art.257ºCC)
inexatos, não seja
verdadeiramente Vontade deficiente Falta de liberdade
autónoma
Falta de conhecimento

Declaração – a vontade Intencional Simulação (art.240º e ss. CC)


formou-se
Reserva mental (art.244ºCC)
devidamente, mas algo
interfere aquando da Declaração não-séria (
sua exteorização, de tal
modo que a declaração Não intencional Erro-obstáculo (a Erro na
não corresponde à vontade forma-se declaração
vontade real do sujeito corretamente, (art.247ºCC)
mas aquando da
Erro na
sua exteorização
transmissão da
ou comunicação,
declaração
ocorre uma falha)
(art.250ºCC)

Erro de cálculo
ou de escrita
(art.249ºCC)

Erro-vicio (algo Erro relativo à


interfere na pessoa ou ao
formação da objeto
vontade) (art.251ºCC)

Erro sobre os
motivos
(art.252º/1CC)

Erros sobre a
base do
negócio
(art.252º/2)

Dolo (art.253º
e 254º)

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Coação física

Distingue-se da coação moral por meio físico, na medida em que, enquanto na coação moral por
meios físicos existe vontade negocial, embora pressionada, influenciada e viciada pelo medo
causado pela ameaça, na coação física não existe qualquer vontade negocial, nem sequer
viciada.

Tem como consequência jurídica a inexistência, porque não existe verdadeiramente mais do que
uma aparência de ação negocial que possa ser verdadeiramente imputável à autoria do ato.

Ex.: A (coator) força B (coato), a levantar a mão num leilão, ou numa votação.

Falta de consciência da declaração

O autor do comportamento em questão não tem consciência de estar a emitir uma declaração
negocial, oque significa, portanto, que não está a fazê-lo efetivamente; não pode haver
declaração negocial sem consciência de negocialidade e, nesta circunstancia, nada mais existe
do que uma simples aparência.

Tem como consequência jurídica a inexistência.

Ex.: A encontra-se num leilão, e vê um amigo à distancia, levantando o braço para o saudar; esse
gesto é, porém, entendido como um lanço de mais um tanto pelo objeto que está a ser leiloado.

Incapacidade acidental

Pressupostos:

• A pessoa encontra-se acidentalmente icapacitada


• Embriaguez, efeito de psicotrópicos ou de estupefacientes, ou doença psicológica ou
psiquiátrica
• Capacidade intelectiva da pessoa atingida pela causa acidentalmente incapacitante
• Causaafetou a autonomia privada do declarante

O agente, apesar de saber que se encontra na área negocial, não tem discernimento ou
liberdade para concretizar a atividade jurígena.

Tem como consequência jurídica a anulabilidade, que obedece a 3 requisitos: condições


psíquicas de não entender e querer; no momento da pratica do ato; sendo isso facto notório ou
de conhecimento do declaratário.

Declarações não sérias

O autor da declaração a produz sem qualquer intenção negocial, na expetativa de que isso seja
conhecdo pelo seu interlocutor, pelo declaratário ou por quem esteja a receber a declaração.

Se a declaração for emitida nas circunstancias do nº2, o declarante incorre em responsabilidade


civil e terá de indemnizar os danos que causar com a sua prática.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Reserva mental

O declarante emite uma declaração contrária à sua vontade real, com o intuito de enganar o
declaratário. A reserva mental não prejudica a validade da declaração, exceto se o declaratário
tiver conhecimento do carácter enganoso, levando, neste caso, à nulidade.

Simulação

As partes acordam entre si em emitir uma declaração negocial que não corresponda à sua
vontade real, e fazem-no com o intuito de enganar terceiros.

Tem três requisitos: acordo entre o declarante e o declaratário; divergência entre a declaração
e a vontade das partes (elemento mais distinto, que permite diferenciar a declaração da reserva
mental); intuito de enganar terceiros (tem-se como terceiro a pessoa alheia ao acordo
simulatório, mas não necessariamente estranha ao contrato simulado).

Modalidades:

• Inocente (visa enganar alguém; os contraentes são motivados por um animus


decipiendi) vs. Fraudulenta (visa enganar e prejudicar alguém; acresce ao animus
decipiendi o animus nocendi)
• Absoluta (as partes não pretendem celebrar qualquer negocio, e conjeturam uma
mudança, quando, na realidade o status real permanece inalterado, tendo essa
aparência, por regra, o objetivo de evitar uma consequência jurídica prejudicial) vs.
Relativa (sempre que, sob a simulação, se esconda um negocio verdadeiramente
pretendido, o negocio dissimulado: as partes pretendem uma efetiva alteração ao status
real, mas com contornos distintos dos declarados para o exterior)
• Objetiva (a divergência recai sobre o objeto ou conteúdo do negocio) vs. Subjetiva (a
divergência incide sobre as partes)

Há, quanto ao art.241º/2 CC, um debate doutrinário sobre a validade do negocio dissimulado:
Antunes Varela defende que é suficiente que o negocio simulado respeite a forma exigida, para
que o negocio dissimulado seja formalmente válido; Mota Pinto diz que se a forma legalmente
exigida só tiver sido respeitada no negocio simulado, e não no negocio dissimulado, o negocio
simulado é nulo por simulação, e o negocio dissimulado é nulo por vicio de forma; Oliveira
Ascensão não exige que no negocio simulado fique indicado o tipo do negócio dissimulado
porque a qualificação pertence à lei e não às partes; Menezes Cordeiro recorre à analogia com
o art.238º CC, dizendo que deve haver um mínimo de correspondência no texto, salvo se as
razoes determinantes da forma a tanto não se opuserem.

Consequência jurídica: nulidade atípica (art.240º/2), já que não é permitida a arguição da


simulação pelo simulador contra um terceiro de BF (oponibilidade), nos termos do art.243ºCC.

A lei veda aos simuladores o recurso a testemunhas para a prova, quer do pacto simulatório,
quer do negocio dissimulado, quando o negocio dissimulado esteja titulado em documento
autentico ou particular.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Erro na declaração

A lei não delimita os elementos sobre os quais recaia o erro na declaração, para este ser
relevante, podendo, então, ser:

• Elementos nucleares do contrato – o objeto, o conteúdo ou outros aspetos principais


• Elementos circundantes – características acessórias do objeto, cláusulas acidentais ou
fatores periféricos diversos
• Fatores relativos às partes, incluindo a identidade, a qualidade, a função, ou as mais
variadas características

Requisitos para a relevância do erro: essencialidade (sem o erro, o negócio não teria sido
celebrado) e cognoscibilidade (o declaratário tem de conhecer ou não pode ignorar a
essencialidade, para o declarante, do elemento sobre o qual incidiu o erro). A parte que errou
tem, então, o ónus de demonstrar este duplo requisito, ou seja, que se não tivesse ocorrido o
erro, o negocio não teria sido celebrado, e que a outra parte sabia ou não devia ignorar que
assim o era.

Erro na transmissão da declaração

Sucede nos casos em que o declaratário ou núncio que não transmita fielmente a vontade do
mandante, e nos casos de mandato com representação, quando o representante se desvie das
instruções recebidas.

Caso o destinatário conheça a essencialidade, para o mandante, do elemento deturpante na


transmissão, ou não deva ignorá-la, o negócio é anulável.

Nos casos em que o intermediário altere propositadamente a declaração, há um conflito entre


a autonomia privada e a tutela da confiança. Neste caso, a lei da primazia à autonomia privada,
dizendo que a declaração é sempre anulável.

O dolo deve ser provocado por quem o invoque, havendo, contra o autor do feito e verificados
os pressupostos legais, um direito à indemnização, a favor de todos os lesados, devendo essa
indemnização ressarcir todos os danos ocasionados, e não apenas os que se prendam com o
interesse negativo.

Erro de cálculo ou de escrita

O maior campo de aplicação reside nos atos de processo não dotados de normas especiais. Tem
de haver um erro manifesto ou erro ostensivo, não sendo possível, por esta via, complementar
as puras e simples omissões ou corrigir peças processuais.

Erro relativo à pessoa ou ao objeto

No tocante à pessoa do declaratário, o erro pode reportar-se à sua identidade ou às suas


qualidades: só será relevante quando colha um elemento concretamente essencial, sendo
essencialidade conhecida pelo declaratário, pela aplicação do art.247ºCC.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Quanto ao objeto, não está em causa apenas a identidade do objeto, mas as suas qualidades e,
particularmente, o seu valor. O objeto abrange o conteúdo do negocio.

(quando as qualidades de uma coisa constem do próprio contrato e não se verifiquem, estanos
perante um caso de incumprimento, e não de erro)

Erro sobre os motivos

Requisitos para a anulabilidade: essencialidade e acordo das partes sobre a essencialidade (pode
ser expressa ou tácita, e determina-se por interpretação negocial)

Erro sobre a base do negocio

Na sequencia de Castro Mendes, a doutrina tem vindo a exigir, para o art.252º/2CC, um erro
bilateral. Todavia, na lei, nada exige a bilateralidade. Para que uma das partes invoque o erro,
basta que ela própria tenha incorrido em erro.

Pressupostos:

• Traduzir-se num desvio “anormal” em relação às circunstancias necessárias ao equilíbrio


económico do negocio e à prossecução do fim
• Desvio perturba a justiça interna do negocio ou fruste o seu fim, de tal modo que a sua
manutenção em vigor e a exigência da sua execução e cumprimento se tornem
contrarias à BF
• O desvio e a perturbação da justiça interna, bem como a frustração do fim do negocio,
não estejam cobertos pelos riscos próprios do contrato.

Consequência jurídica: anulabilidade e modificação do negócio segundo a equidade.

Dolo

Noção: art.253º/1 CC (dolo como sugestão ou artifícios usados como fim de enganar o autor da
declaração) ou art.483º/1 CC (dolo como modalidade mais grave de culpa, contraposta à mera
culpa ou negligência)

Fatores de que depende a relevância do dolo:

• O declarante tem de estar em erro


• O erro tem de ser causado ou dissimulado pelo declaratário ou pelo terceiro
• O declaratário ou terceiro teve de recorre a qualquer artifício, sugestão ou embuste

No erro qualificado por dolo, a anulabilidade surge se for determinante da vontade. Esta
anulação é cumulável com a indemnização dos danos causados, podendo fazer-se, em
simultâneo, apelo às regras de culpa in contrahendo, que através da técnica dos deveres
acessórios e da relação obrigacional sem dever de prestar principal, pode ser aplicável a
terceiros que provoquem o erro qualificado por dolo.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Desvalor do NJ

Ineficácia (em sentido amplo) – abrange todas as manifestações nas quais um negócio não
produz (todos) os efeitos que, em princípio, ele se destinaria a produzir.

Ineficácia (em sentido


Ineficácia
estrito)

Invalidade Nulidade

Anulabilidade

Invalidade mista

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Ineficácia (em sentido estrito) – o negócio, em si, não tem vícios; apenas se verifica uma
conjunção com fatores extrínsecos que conduz à referida não-produção.

Invalidade – a ineficácia ou não-produção normal de efeitos opera mecê da presença, no negócio


celebrado, de vícios ou desconformidades com a ordem jurídica.

Nulidade

Regulada no art.286º

Fundamentos: falta de algum elemento essencial do negócio; contrariedade à lei imperativa ou


ao Direito

Tem um carácter originário, ou seja, ele não chega verdadeiramente a vigorar; o negócio é
ineficaz desde o momento em que foi celebrado.

Tem legitimidade para recorrer à nulidade qualquer interessado; a nulidade é de conhecimento


oficioso e o Tribunal deve declará-lo logo que dela se aperceba, sem que seja necessário o
requerimento da parte nesse sentido.

Na declaração de vontade, a eficácia jurídica não se chega a verificar e, por isso, não é correto,
em termos técnico-jurídicos, falar de retroatividade. Todavia, porque muitas vezes o negócio é
nulo, antes da declaração de nulidade produzir efeitos, torna-se necessário reger juridicamente
o modo de repor a situação fática de acordo com a situação jurídica, desde o tempo da
celebração do negócio ou da prática do ato jurídico.

Sendo um vício tipicamente de ordem pública, insanável e de ineficácia originária, de


conhecimento oficioso e invocável ainda por qualquer interessado, não pode ser sanada pelo
decurso de um prazo de caducidade.

Anulabilidade

O negócio anulável são aqueles celebrados com falta de capacidade de exercício por menores
ou outros incapazes. Diferentemente do negócio nulo, o negócio anulável nasce válido, mas
precário e frágil, e ganha uma eficácia originária que pode, todavia, vir a ser destruída por uma
anulação superveniente, que lhe destrói retroativamente os efeitos.

Esta só é invocada pelas pessoas em cuja proteção seja estabelecida e é sanável pelo decurso
do prazo ou por quem tiver legitimidade para a arguir, não podendo ser invocada oficiosamente
pelo Tribunal.

A anulação tem de ser requerida num prazo, que começa a contar quando cessa o vício, ou seja,
quando o declarante se apercebe do erro ou do dolo em que incorreu, quando cessa a coação
ou a inferioridade característica da usura.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Ineficácia

A ineficácia não é um vício do negócio, é simplesmente a sua falta de efeitos próprios.

A ineficácia resulta, normalmente, da invalidade, sempre que a incompatibilidade valorativa


entre o ato e a ordem jurídica é de tal ordem que esta lhe recusa a produção dos efeitos
próprios.

Outras causas que geram a ineficácia, para além da invalidade, como a ilegitimidade, o
funcionamento do termo ou da condição, a falta de registo e formalidades…

A ineficácia simples não precisa, em principio de ser invocada. Pode ser:

• Inicial (ex.: o negócio está submetido a termo inicial ou condição suspensiva) ou


subsequente (ex.: o negócio está sujeito a condição resolutiva ou termo final)
• Geral (o ato ou negócio não produz quaisquer efeitos que lhe são próprios ou típicos,
ou aqueles que com ele o seu autor pretendia alcançar) ou especial (quando o NJ produz
os efeitos em relação a certas pessoas ou classes de pessoas e não a outras)
• Total (o ato ou NJ não produzem quaisquer efeitos) ou parcial (ex.: ineficácia no caso da
redução, em que se mantém apenas parte da sua eficácia)

Aproveitamento do NJ

Existem três formas de aproveitamento do NJ inválido:

➢ Redução (art.292º CC)

Requisitos: nulidade ou anulação meramente parciais, quando não implique a invalidade total
do negócio, mantendo-se sã uma parte do negócio; o negócio teria sido concluído sem a parte
viciada. O prof. Menezes Cordeiro acrescenta mais três requisitos para que haja redução: o
respeito pela BF; respeito pelas regras formais; respeitos por outras normas imperativas.

Em termos de ónus da prova:

i) O interessado em manter o negócio deve invocar e provar os factos de onde decorra a


natureza meramente parcial da invalidade e, portanto, a divisibilidade do negócio em
causa, a qual não é regra e não se presume
ii) Ao opositor, cabe invocar e provar os factos de onde se infira que, sem a parte viciada,
não teria havido negócio.

A redução não pode contrariar a autonomia privada: não pode resultar um negócio tal que as
partes não teriam querido celebrar; se assim fosse, o negócio resultante da redução não poderia
ser imputado à autoria, à vontade, e ao agir negocial das partes.

A redução pode ser:

• Legal – resulta de imposição legal independentemente da vontade das partes, só


vigiando quando especialmente prevista na lei

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


• Voluntária – constitui a regra geral; depende da vontade das partes, que opera em dois
plano diferentes: desencadear da redução (no caso de anulabilidade parcial, não sendo
a anulação de conhecimento oficioso, o Tribunal só pode decidir sobre a redução no
âmbito do que lhe for pedido, podendo a contraparte opor-se ao pedido de uma das
partes; no caso de nulidade parcial, de conhecimento oficioso, o Tribunal não pode
deixar de reduzir quando se convença de que as partes não teriam celebrado o negócio
sem a parte viciada) e a limitação da redução (a redução é limitada pela vontade
negocial das partes em que não pode operar quando se conclua que elas não teriam
celebrado o negócio em questão sem a parte viciada _ matéria de autonomia privada).

➢ Conversão (art.293º CC)

Condicionalismos legais:

• Manutenção dos requisitos essenciais de forma e de substancia


• Respeito pela vontade hipotética das partes

O primeiro requisito deve ser integrado com os elementos do art.236º/2 e 238º/2. Os requisitos
essenciais à vontade comum das partes, antes e depois da conversão, enquanto a forma deve
ser aferida de acordo com as suas razoes determinantes.

O segundo requisito leva-nos à integração: a vontade hipotética aqui dominante deve ser aferida
segundo a BF e os demais elementos atendíveis exigindo, como se sabe, uma valoração objetiva.

➢ Confirmação (art.288ºCC)

A confirmação equivale ao ato pelo qual, numa situação de anulabilidade, o titular do direito
potestativo de proceder à impugnação opta, antes, pela validação do negócio atingido

Requisitos: posterior cessação do vício que serve de fundamento à anulabilidade; o seu autor
tem de ter conhecimento do vicio e do seu direito. Na falta de algum destes requisitos, a
confirmação não é eficaz, sendo, neste caso, a não-eficácia, uma nulidade.

A confirmação pode ser expressa ou tácita. A confirmação tácita decorre de comportamentos


que, com toda a probabilidade, revelem a intenção de consolidar o negocio; quando o
interessado prescinda de invocar anulabilidade; quando decorra um comportamento
concludente, com esse conteúdo (ex.: o interessado, depois de ter manifestado o conhecimento
de um vício já cessado e de se ter dado conta do direito à anulação, opta por executar o negócio)

A lei entende que, tendo a forma sido observada no neg+ócio anulável, os seus objetivos já
haviam sido alcançados. Com efeito, a não ser impugnado nos prazos legais, o negócio anulável
convalidar-se-ia, pelo decurso do tempo, sem que jamais lhe pudessem ser contrapostos óbices
formais. Não haveria, pois, que exigir “forma” para a confirmação, sob pena de, no final, se
chegar a um plus de formalismo.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL


Apesar do disposto no art.288º/4CC, a confirmação não tem, em rigor, eficácia retroativa.
Quando ela ocorre, o negócio será tratado como se válido; mas na falta de confirmação e a
menos que sobreviesse uma anulação, o negócio sempre funcionaria como válido. Logo, a
confirmação nada acrescenta.

Márcia Cabral Barroso, 1º ano FDUL

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