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1. Institutos civis
Normas – proposição que associa a certos acontecimentos (a previsão) determinados efeitos
jurídicos (estatuição); é essencialmente analítica, e tem um âmbito de aplicação muito restrito
(qualquer disciplina jurídica, a ser descrita na base de normas, implicaria toda uma antecipação
do seu regime regulativo).
Princípios – proposição que se limita a imprimir uma certa direção de modelos de decisão
jurídica que, com ele, tenham determinado contacto; aplicação lata, mas muito abstrato (apenas
utilizando conjunções múltiplas é possível exprimir um mínimo de conteúdo prescritivo).
A ideia de instituto foi utilizada por Savigny: ela exprimiria uma ordenação jurídica pensada
e formada de relações da vida, apresentada como realidade orgânica. Esta construção
savignyana perde-se na evolução conceptualista que lhe seguiu, em que o instituto jurídico
foi tratado como um conceito geral-abstrato (para a sua elaboração retira-se, de uma
realidade, um certo numero de características tidas por comuns a uma serie de outras
realidades). Atualmente, o instituto jurídico deve ser apreendido como um conjunto geral-
concreto (não é formado pelo estudioso antes existindo, como principio ou ideia objetiva,
imanente às realidades, limitando-se o estudioso a apreendê-lo por meio da razão; em
termos práticos não se apresenta através de uma definição abstrata, mas com recurso a
uma serie marcante de aspetos que brotam da mesma realidade e a ela são reconduzidos).
Institutos civis:
➢ Personalidade e tutela
➢ Autonomia Privada
➢ Boa-fé
➢ Imputação de danos
➢ Propriedade e transmissão
1.1. Autonomia privada
Ela pode atuar em diversos planos, assumindo significados distintos: em termos formais,
corresponde à impossibilidade em que se encontrão Direito de prever todos os significados
concretos; em termos materiais, liga-se a certas liberdades económicas fundamentais, como
sejam a de trabalho e de empresa.
a) Direito das obrigações (domínio por excelência): do art.450º surgem, caras, a liberdade
de estipulação e a liberdade de celebração, em termos que abrangem toda a matéria,
salvo disposição em contrario; deste modo, as regras do Direito das obrigações tendem
a ser supletivas, ou seja, aplicam-se apenas quando não sejam afastadas pela vontade
das partes
b) Direito da personalidade: as situações nestes direitos podem ser livremente utilizadas,
mas com dois limites, o da ordem publica (art.81º/1) e o da revogação das limitações
voluntarias (art.81º/2)
c) Direitos reais: há também limitações – para alem de proliferarem as hipóteses de atos
jurídicos em sentido estrito (sem liberdade de estipulação, como no apossamento,
art.1263º, a), na ocupação, art.1318º, no achamento, art.1323º, ou na acessão,
art.1325º), verifica-se que as diversas figuras reais estão sujeitas a uma regra de
tipicidade (art.1306º/1), e só são possíveis quando previstas, de modo expresso, por lei
d) Direito da família: a autonomia domina com algumas limitações - os atos familiares
pessoais implicam apenas liberdade de celebração, e quando praticados, os efeitos
desencadeados são os previstos por lei (ex.: casamento, art.1577º, perfilhação,
art.1849º, e o consentimento para adoção, art.1981º); os atos familiares patrimoniais
apresentam já alguma liberdade de estipulação, pautada embora por numerosas
limitações legais (ex.: art.1698º)
1.2. Boa-fé
Evolução e sentido:
Boa-fé
Subjetiva: está em causa o estado do sujeito, caracterizado, pela
lei civil, ora como um mero desconhecimento ou ignorância de
certos factos (sentido psicológico) – art.119º/3, 243º/2, 1260º/1
e 1340º/4 -, ora como um seu desconhecimento sem culpa ou
uma ignorância desculpável (sentido ético) – art.291º/3 e
1648º/1 – ora pela consciência de determinados fatores –
art.612º/2
A boa-fé objetiva concretiza-se em cinco institutos, todos de filiação germânica (nenhum deles
deriva da boa-fé, em termos conceptuais):
A confiança, genericamente dispensada pela boa-fé, tem uma teleologia relevante para
se determinar o âmbito da proteção; podemos considerar a confiança como um
elemento imprescindível na manutenção do grupo social.
A boa-fé pode ser chamada para enquadrar questões novas, que podem ser: a questão das
clausulas gerais, a defesa do consumidor, o levantamento da personalidade coletiva, ou a
procuração aparente.
Facto jurídico – acontecimento com relevância jurídica a que o direito atribui consequências
jurídicas; temos como exemplo de facto jurídico um relâmpago que destrói uma casa (leva a que
seja ativado o seguro), o nascimento (consequência no art.66º CC), a morte, etc.; ao
corresponder à previsão da norma, é integrado com a norma, e dá lugar à consequência jurídico.
Os factos jurídicos são suscetíveis de múltiplas classificações:
• Atos declarativos (ou declarações): atos dirigidos a outros e que têm um conteúdo
comunicativo, podendo ter um ou mais destinatários, determinados (declarações
recipiendas ou recetícias) ou indeterminados (declarações não recetícias ou não
recipiendas); estas podem ainda classificar-se em:
i) Declarações de vontade (exprime uma intenção, em que o seu conteúdo
comunicativo exprime uma intenção. Ex.: proposta de contrato, a sua aceitação
ou repudio, a declaração de resolução do contrato)
ii) Declarações de ciência (comunica-se a outrem uma asserção sobre a verdade
ou falsidade de algo ou, mais corretamente, isto é, exprime um juízo de
realidade. Ex.: confissões de facto, as informações prestadas no cumprimento
do dever de informar consagrado no art.573º CC, ou o depoimento de uma
testemunha)
• Atos reais (ou operações): comportamentos voluntários de pessoas em relação aos
quais o direito atende à voluntariedade da sua pratica, mas que não têm conteúdo
comunicativo
Negócios conjuntos – várias pessoas são Deliberações – várias pessoas são titulares de
titulares de posições jurídicas que só podem posições jurídicas confluentes que podem,
ser atuadas em bloco, por todas elas. Pode no entanto, ser atuadas em sentido
implicar vontades manifestadas em divergente, prevalecendo, então, a posição
simultâneo, ou sucessivamente, mas todas da maioria
regidas pelas mesmas normas jurídicas, de
modo a conseguir um determinado efeito
Negócio inter vivos – destinam-se a produzir Negócios mortis causa – concebido pelo
efeitos em vida dos seus celebrantes; porém, Direito para reger situações jurídicas
a morte de uma das partes ou de um desencadeadas com a morte de uma pessoa;
qualquer interessado não tem é regulado, em regra, pelo Direito das
consequências jurídicas na seu a eficácia e sucessões.
no seu regime
Ex.: Testamento e os pactos sucessórios
Negócios formais – negócios para cuja Negócios consensuais – negócios que, por
conclusão a lei exija determinado ritual, na não caírem na estatuição de normas
exteorização da vontade, ou seja, aqueles cominadoras de forma especial, sejam
para cuja celebração ou titulação a lei exija suscetíveis de conclusão por simples
uma forma especial; as exigências legais de consenso, ou seja, aqueles para cuja
forma são excecionais, mas, em celebração é suficiente o consenso das
consequência da sua violação é, em partes, não sendo necessária uma forma
principio, a nulidade (art.220ºCC) especial de expressão da declaração negocial
ou de documentação do negocio, nem a
pratica de uma especial formalidade como a
entrega, real ou simbólica, da coisa que é
objeto do negocio; de acordo com o art.219º
CC, a validade da declaração negocial não
Negócios reais quod effectum – têm eficácia Negócios reais quod constitutionem –
real. contratos que se não fecham sem que ocorra
tradição da coisa, ou seja, aqueles que se
Ex.: Compra e venda, em que é o contrato
materializam com a entrega da coisa que
que opera a transmissão da propriedade em
constitui o seu objeto.
consequência da simples celebração do
contrato, ainda que não haja tradição da Ex.: mútuo (art.1142º CC), penhor
coisa (entrega da coisa) (art.669º/1 CC), comodato (art.1129º) e
deposito (art.1185º CC)
Negócios onerosos – implica esforços Negócios gratuitos – cada uma das partes
económicos para ambas as partes, em retira do negocio vantagens ou sacrifícios. A
simultâneo e com vantagens correlativas. vontade livre do sacrificado determina-se
pela intenção de dar (animus donandi),
Ex.: Compra e venda (art.874º e ss.)
sendo apensa na presença deste fator, que
são aplicadas as regras próprias das
liberalidades
Negócios causais – aqueles em que a causa é Negócios abstratos – aqueles em que a causa
relevante para o respetivo regime e, como é irrelevante, não podendo ser atendida nem
tal, pode ser invocado como fundamento de constituir o fundamento de pretensões ou
pretensões ou exceções de direito material; exceções; isto não significa que nestes
é permitido às partes que, na controvérsia negócios, não haja uma causa, mas sim que a
suscitadas pelo negocio, invocar como causa é abstraída.
fundamento argumentos ligados ou
Ex.: Negócios cambiários típicos das letras,
emergentes da causa
livranças e cheques
Art.295º CC
Numa interpretação literal deste preceito, ser-se-ia levado a entender que a analogia,
na concretização do regime dos atos jurídicos, seria limitada às “disposições do capitulo
precedente”, isto é, aos preceitos dos art.217º a 294º CC; todavia, este artigo não exclui a
aplicação do art.10º CC, que permite alargar o âmbito da analogia a outros preceitos, para alem
dos referidos.
Existe na ética neoestóica da liberdade e da igualdade originaria de cada pessoa, ou seja, parte
ontologicamente de cada pessoa para a sociedade e para o Estado
Teoria da declaração – encara o negocio como uma declaração negocial objetivada que
deve valer, não necessariamente com o sentido querido pelo declarante, mas com o sentido
objetivo que dela resulta ou com que o declaratário a entender. Emitida uma declaração de
Elementos negociais
Vontade da declaração
Declaração
Declaração Vontade do negocio
(elementos)
Relação de concordância
(Savigny)
Tipos de declarações
➢ NJ unilaterais, que ficam completos apenas com a declaração de vontade do seu autor,
exteorizada pela forma legal, não sendo necessário procurar um consenso, necessidade
essa que dita o essencial da complexidade processual negocial
➢ Negócio por minuta, isto é, os negócios que se concluem por adesão ou subscrição, por
ambas as partes, de um documento (minuta), que comporta o teor negocial
Negócio comum – formam-se entre presentes, por simples adesão a formulas apresentadas
a todos os interessados. Existem vários tipos sociais de negociação:
Tipos de forma:
Jhering: demonstra que, na presença de contratos nulos por anomalias verificadas na sua
formação, podem ocorrer danos cujo não-ressarcimento seja injusto; perante tal situação, o
responsável, por via das regras gerais sobre danos e culpa, deveria indemnizar pelo interesse
contratual negativo, colocando o prejudicado na situação em que ele se encontraria se nunca
tivesse havido negociações e contrato nulo. Esta descoberta permite exemplificar o modo de
funcionamento da terceira sistemática, quando confrontada com novas necessidades para as
quais, num momento inicial, não haja, ainda, resposta.
Deveres de BF:
Quando surja um contrato que patenteie desequilíbrios não queridos por alguma das partes,
algo terá corrido mal nos preliminares; a parte que conheça ou deva conhecer o desequilíbrio
em causa tem o dever de dar conhecimento à contraparte. Chega-se, assim, à ideia de proteção
da parte fraca num contrato: ao contraente que, por razoes económicas ou de conhecimento,
se deva considerar inferiorizado, são devidos, na fase preliminar, um esclarecimento e uma
lealdade acrescidos; caso esses deveres não sejam acatados, pode haver responsabilidade, por
inobservância da BF.
Obrigação de contratar – situação jurídica pela qual um sujeito fica adstrito à celebração de um
contrato, isto é, à emissão da declaração de vontade que, em conjunto com a da outra parte, dá
azo a um NJ bilateral. Exige uma forte situação de confiança, imputável à contraparte, de que o
contrato em jogo iria ser celebrado e isso ao ponto de o interessado ter realizado um
considerável investimento de confiança. Nessa eventualidade, o dever de contratar impõe-se,
tendo como contraface a ilicitude da interrupção injustificada das negociações, sendo que a
indemnização que daí decorra será calculada de acordo com o interesse positivo.
• Tutela da confiança – na fase de preparação dos contratos, as partes não devem suscitar
situações de confiança que, depois, venham a frustrar
• Primazia da materialidade subjacente – a autonomia privada faculta, às partes, negociar
livremente os seus contratos, interrompendo as negociações quando o entenderem
Construção da cic
• Teorias contratuais
• Soluções negociais – procuram reconduzir a cic e os deveres que, com ela, se
conexionem, a NJ
• Franz Leonhard: a cic reconduz-se ao contrato posteriormente celebrado. O
efetivo cumprimento de um contrato exige o acatamento de deveres que se
desenham já antes da sua celebração (a parte que venda um objeto,
previamente à venda, deve providenciar para que ele esteja em bom estado);
há, por isso, uma pré-eficácia – celebrado um negocio, certos deveres
retroatuariam até ao inicio das negociações.
Criticas: ilogismo (assenta na ideia de pré-eficácia, contraditória em si mesma;
antes de um contrato não se podem retirar deveres a observar, e depois deve
estar celebrado, não se está numa fase pré-negocial que habilite ao acatamento
de deveres pré-contratuais); excessiva restrição (só contempla a hipótese de
haver um contrato valido que, não obstante, tivesse provocado danos na sua
celebração, excluindo as negociações prévias, injustificadamente, sem que se
tenha chegado à formação de qualquer contrato, e as negociações inválidas)
• Heinrich Siber: os deveres pré-contratuais na celebração de um contrato
preparatório, aquando do inicio das negociações, estão filiados. Ao aceitar
negociar a eventual procura de um consenso negocial, as partes estariam, desde
logo, a aceitar, pelo menos, algumas regras de jogo.
A cic também pode ser tomada como uma fonte de responsabilidade. Essa
responsabilidade pode ser contratual ou obrigacional (caso exista, entre as partes, uma
obrigação especifica), ou também pode ser aquiliana (quando se opta por um dever de ordem
geral, eventualmente concretizado em deveres de tráfego).
O prejuízo da parte lesada, numa situação de cic, pode ser estimado de duas formas:
Atos típicos:
➢ Tipos sociais
• Minuta (ou punctação): documento no qual as partes vão exarando os diversos
pontos a inserir no futuro contrato, à medida que sejam acordados. Os pontos
sectoriais acordados, mesmo quando lançados num papel não vinculam os
contraentes antes da aprovação global final, já que o contrato é aprovado no
seu todo
➢ Tipos legais
• Contratos instrumentos (contratos que não visam regular, de modo direto, o
conteúdo que integrará o convénio definitivo mas, tão-só, aspetos que, a ele
irão conduzir): art.223º, 218º, 228º/1, al.a), 410º e ss., 414º e ss. CC, contrato
de opção (diferente preferência), concurso para celebração de um contrato.
Proposta – declaração feita por uma das partes e que, uma vez aceite pelas outras, dá lugar ao
aparecimento de um contrato. Deve reunir três requisitos:
Nas hipóteses em que não seja possível distinguir uma proposta e uma aceitação, fica claro que
os requisitos para que haja proposta, se devam reportar ao objeto que mereça o assentimento
dos contraentes ou que ambos façam o seu.
Convite a contratar – declaração pela qual uma pessoa se manifesta disposta a iniciar um
processo de negociação com vista à futura eventual conclusão de um contrato, mas sem se
vincular, nem à sua conclusão, nem a um seu conteúdo já completamente determinado. Ou seja,
é um ato finalisticamente orientado à abertura de uma negociação.
O seu autor mantem uma liberdade que não tem na proposta de contrato, pois pode modificar
o conteúdo do projeto contratual inicialmente formulado e pode, no final, desistir de contratar.
O seu autor não se constitui numa sujeição, nem investe a pessoa a quem foi dirigido num poder
Pode ser dirigido ao publico ou a pessoas concretamente identificadas, ou ainda a certas classes
de pessoas ou a pessoas determinadas segundo critérios gerais.
• Se, na proposta, for estipulado um prazo para aceitação, o proponente fica vinculado
até ao termo desse prazo (art.228º/1, al.a) CC)
• Se, na proposta, for pedida resposta imediata, a vinculação do proponente mantém-se
durante o tempo que, em condições normais, demorem a proposta e a respetiva
aceitação a chegar aos respetivos destinatários (art.228º/, al.b) CC)
• Se, na proposta, não for estipulado qualquer prazo, e esta for feita a pessoa ausente ou
for feita por escrito a pessoa presente, a vinculação do proponente manter-se-á até
cinco dias após o tempo que, em condições normais, demorem a proposta e a respetiva
aceitação aos respetivos destinatários (art.228º/1, al.c) CC)
O período de duração das propostas contratuais deve ser determinado em abstrato e tendo em
conta o meio utilizado pelo proponente para enviar a sua declaração: se for utilizado um meio
de comunicação rápido (ex.: telegrama, fax ou mail), a duração será inferior do que a duração
caso seja utilizado o correio, havendo, neste caso, que se distinguir o tipo de correio e a
distância. Segundo Menezes Cordeiro, para a determinação do tempo de demora normal da
comunicação da proposta e da aceitação, tem de ser ao sistema das notificações postais judiciais
dirigidas a advogados, instituído pelo DL 121/76, 11 de fevereiro, hoje contido no art.254º CPCiv.
De acordo com o sistema, a receção presume-se ocorrida no terceiro dia posterior ao do registo
da carta, ou no primeiro dia útil seguinte, quando aquele seja um domingo ou feriado. Esta
presunção pode ser ilidida pelo recetor, se a receção ocorrer em data posterior, mas não o pode
ser pelo expedir se decorrer em data anterior. MC defende ainda que essemesmo prazo pode
ser transposto para as propostas contratuais remetidas pelo correio.
Oferta ao publico
Convite à oferta – o “proponente” declara-se pronto a receber propostas que, depois, poderá
aceitar. Pode dizer-se que nesta modalidade mais delimitada do convite a contratar, falta a
firmeza, portadora da vontade de vinculação. São particularmente frequentes na net, em que
as “aceitações” dos interessados devem ser (re)confirmadas pelos oferentes: mesmo quando
existam “propostas” completas, a sua efetivação depende de haver merecedoras em stock, de
ser viável o envio ou de ser obtida licença bancária para o pagamento. Apesar de não ser
Aceitação
Rejeição
O tema da natureza das declarações contratuais leva a uma discussão doutrinaria, devido à
existência de múltiplas teorias sobre negócios e atos jurídicos, com influxo direto nas soluções
preconizadas.
Menezes Cordeiro defende que a proposta contratual é um negocio jurídico unilateral, pelo
menos sempre que o contrato visualizado pelo proponente tenha natureza negocial. Quando tal
não suceda, a proposta será um ato jurídico stricto sensu.
A contratação por autómato ultrapassou o Direito, por ter sido construído um modelo contratual
que dispensasse a presença de um dos atuantes.
Todavia, no limite, o autómato pode ser programável para tornar decisões, sendo perfeitamente
concebível um negocio “celebrado” entre autómatos devidamente programados para o efeito.
Em esquemas mais elaborados, o autómato reproduz a vontade do seu programador ou da
pessoa a quem as atuações deste sejam imputáveis. Nessa medida, a declaração deita através
do autómato pode ser proposta ou aceitação ou, mais genericamente, pode ser de qualquer
tipo, consoante a vontade do programador.
A parte que adere não tem liberdade de estipulação ainda que tenha de celebração.
Inconvenientes – o poder negocial sendo desequilibrado conduz a uma facilidade de abusos por
parte da parte superior.
Embora não existisse, verificou-se que a sujeição deste tipo de contratos às regras gerais de
formação dos contratos do código civil é insuficiente uma vez que a parte fraca não fica
devidamente protegida face aos abusos da outra parte (no caso do artigo 232.º a pessoa que
assina o contrato, a lei presume e bem que deu assentimento a todos os aspetos que lá estão e,
nesse sentido poderia a levar que muitos fossem enganados).
No nosso sistema jurídico também temos um diploma específico desta matéria, o Decreto-Lei
446/85 anexo ao Código Civil e já alterado duas vezes de forma significativa por imposição do
Direito Comunitário, em 1995 e em 1999.
Decreto-Lei 446/85
Conteúdo do negocio
O conteúdo do NJ corresponde ao conjunto de regras que, por ele ter sido celebrado, tenham
aplicação, no espaço delimitado pelas partes.
(Não confundir conteúdo com objeto, que tem a ver com o quid sobre que irá recair a relação
negocial propriamente dita. Ex.: A e B celebram um contrato de CV; o art.879º, que dita as regras
corresponde ao conteúdo do NJ, e a coisa ou direito transmitido corresponde ao objeto)
Conteúdo (os
Elementos normativos Elementos injuntivos (não
elementos devem ficam na disponibilidade
ser separados para (regras que o direito
das partes e não podem
efeito de analise) associa à celebração ser por elas afastadas)
do negocio)
Elementos supletivos (a
sua aplicação destina-se
a suprir o silencio ou
insuficiência das
clausulas negociais
Elementos
Necessários (correspondem a
voluntários (regras fatores que, embora na
aprontadas e disponibilidade das partes,
afixadas pelas tenham, por elas, de ser fixadas
partes) sob pena de incompletude do
negocio; ex.: preço na CV)
Eventuais (elementos
que as partes poderão
incluir no negocio se
assim o entenderem; ex.:
condição)
Cláusulas típicas – dispositivos que o Direito, por razoes de tradição ou pela sua frequência na
vida civil, trata expressamente e que, assim, fica a disposição das partes que, para eles, queiram
remeter; não formam, porem, um todo coerente, antes se apresentando como instrumentos,
em si desconectado e que, quando eleitos, integram elementos voluntários eventuais.
A impossibilidade assume diversas formas. As regras que dão corpo ao requisito da possibilidade
encontram-se dispersos no CC (ex.: art.280º/1, a propósito do NJ).
Possibilidade:
➢ Física: cabe distinguir os casos em que ela é vedada por falta de substrato (ex.: prestação
de serviços de saúde a alguém que já tenha falecido), e os casos em que se perca o
conteúdo por supressão do escopo ex.: dar um vestido de noiva a alguém que já tenha
casado)
➢ Absoluta ou relativa (conforme atinja o objeto do negocio, sejam quais forem as pessoas
envolvidas ou, pelo contrario, opere somente perante os sujeitos concretamente
considerados): apenas a absoluta é verdadeiramente impossibilidade, por impedir o
sujeito concretamente impedido de atuar certo negocio, podendo este, não obstante,
celebrá-lo, desde que se faça, depois, substituir na execução
➢ Temporária ou definitiva, em função da sua extensão temporal e em termos de
previsibilidade: no primeiro caso, é previsível que ele cesse, ao contrario do que
acontece no segundo. Enquanto requisito normativo, releva a impossibilidade
definitiva.
➢ Condição
A condição é uma cláusula contratual típica, que vem subordinar a eficácia de uma declaração
de vontade a um evento futuro e incerto (art.270ºCC)
Modalidades:
Condições improprias – não são verdadeiras condições. Surgem por faltar algum dos requisitos
das verdadeiras condições e, designadamente, ou a natureza futura do evento, ou a sua
incerteza ou a voluntariedade da própria cláusula em si. São condições improprias:
• Condições presentes ou passadas (a eficácia depende de algo que, existindo já, ou não,
aquando da celebração, não deixa, afinal, margem de pendencia para o negocio; a
condição existe, no entanto, quando as partes se reportem não ao facto em si,mas ao
conhecimento dele)
• Condições impossíveis (aquelas que, por razões físicas ou jurídicas, nunca poderão
ocorrer)
• Condições necessárias (aquelas que, por razões naturais ou legais, irão de certeza
ocorrer, mesmo que em momento incerto)
• Condições legais (abrangem factos futuros e eventuais a que a própria lei subordine
certa eficácia)
As condições não podem, ainda, ser inseridas em negócios que o Direito pretende firmes e como
formulas de os preconizar. Assim, o arrendamento e o contrato de trabalho não podem estar
sujeitos a condições.
Pode suceder, todavia, que a condição seja contraria à lei, implique uma relação com o negócio
que repugne ao Direito, ou se conduzir a resultados indesejáveis ou que o Direito queria livres.
Quando a condição é licita, o negócio é, no seu todo, nulo, regra essa que se alarga às condições
impossíveis (art.271º CC)
Exceções ao art.271º CC: atos pessoais e familiares; atos gratuitos. Nestes casos, há nulidade
apenas da condição (por expressa injunção legal, há que ponderar se as partes terão mesmo
querido o negocio sem condição; no caso da condição “não escrita”, há nulidade do negocio
todo)
a) Autonomia privada: a condição é imposta pelas partes e, nessa medida, deve ser
respeitada; as partes, aliás, podem estipular os seus efeitos, compondo soluções
diversas das legais, sempre que o Direito não as proíba.
b) Boa-Fé: deve ser acatada pelas partes, de modo a não falsear o seu objetivo e a não se
provocarem danos necessários
c) Distribuição de riscos
O termo é uma cláusula negocial que tem como conteúdo típico a sujeição do inicio ou da
cessação da eficácia do negócio, ou de parte dele, a um facto futuro e certo.
Modalidades:
Termo Prazo
(O prazo designa o lapso de tempo que vai desde a celebração do negocio até ao evento futuro
e certo que corporize o termo; resulta daqui que o termo possa ser traduzido através de um
prazo, pelo menos quando seja certo)
Art.279º: regime supletivo da contagem de prazos, para os quais a lei não estabeleça um outro
regime.
Art.278º: o dever de agir de acordo com a BF é comum ao termo e à condição; não existem
diferenças no que respeita à pratica de atos de conservação.
Não se aplica à pendencia do termo, o regime dos atos de disposição estatuído pelo art.274º
para a condição: ao alienar bens ou direitos de que é titular a termo final, o alienantes não pode
alienar mais do que tem e o bem ou direito será adquirido também a termo pelo seu adquirente.
➢ Modo
O modo é uma estipulação, típica dos negócios gratuitos, pela qual o beneficiário da liberdade
é onerado com uma obrigação que não constitui, todavia, a contrapartida da atribuição
patrimonial gratuita.
Constitui um pacto anexo a uma atribuição patrimonial gratuita, que contem tipicamente uma
vinculação do beneficiário da atribuição patrimonial, geralmente qualificada como obrigacional,
incluindo obrigações de dare e de facere, ativas ou omissivas, em favor do autor da liberdade
ou de terceiro.
Conteúdo:
O modo pode ser singular, consistindo numa só vinculação, ou complexo, se integrar várias
vinculações. Dentro dos limites da autonomia privada, o modo pode ter qualquer conteúdo
licito.
O CC não tratou do modo na Parte geral, dedicando-lhe os art.963º e ss., no tipo da doação, e
os art.2244º e ss., no tipo do testamento.
O modo difere da condição, na medida em que: o modo vincula, enquanto a condição resolutiva
não; a atribuição patrimonial sub modo é imediatamente eficax, embora possa vir a ser resolvida
se o modo não for respeitado, o que não acontece com a atribuição patrimonial sob condição
suspensiva, que só ganha eficácia com a verificação do facto condicionante; a verficiçao da
condição resolutiva é um facto lícito que nada tem de ética ou juridicamente reprovável, e que
corresponde ao seu normal funcionamento, enquanto a resolução do modo por incumprimento
envolve um facto ilícito, ética e juridicamente reprovável, que constitui um delito civil; na
condição resolutiva, verificado o facto condicionante, o negocio extingue-se automaticamente;
no caso do modo resolutivo, o incumprimento do modo só dá lugar a uma faculdade de resolver,
que pode ou não ser exercida por quem tiver para tanta legitimidade, mas que não tem
obrigatoriamente de o ser.
A interpretação dos negócios, assim como a interpretação da lei, foi objeto de um debate
doutrinário em que se contrapuseram posições subjetivistas e objetivistas:
Na doutrina tradicional, a interpretação tem como objeto declarações negociais e tem como
função a fixação do seu sentido juridicamente relevante. A técnica tradicional de decompor o
negocio em varias declarações negociais, levou à construção de uma teoria da interpretação e
integração das declarações negociais, em vez de uma teoria de interpretação e integração do
NJ.
Art.236º CC: regra geral da interpretação das declarações negociais. Não se deve concluir que a
lei portuguesa tenha tomado partido pela doutrina objetivista da interpretação; a vontade
subjetiva comum das partes, ou de declarante e declaratário, sempre que haja convergência
quanto ao sentido objetivo e quanto ao sentido objetivo das declarações negociais é o primeiro
critério da interpretação; a regra do nº 2 faz prevalecer o sentido subjetivo, quando seja comum,
mesmo que o sentido seja divergente (principio da falsa demonstrativo non nocet) _ a vontade
real só poderá ser considerada quando o sentido objetivo da declaração for diferente do seu
sentido subjetivo e o declaratário não conhecer o seu real sentido subjetivo. O sentido objetivo
com que a declaração negocial puder ser interpretada, de acordo com a regra do nº1, está
limitado pela razoável expetativa do autor da declaração.
Regras de interpretação:
i. Vontade real comum – sempre que haja consenso das partes, ou de declarante e
declaratário, sobre o sentido da declaração, deve ser de acordo com ele que esta deve
ser interpretada
ii. Art.236º/2: falsa demonstrativo non nocet
Art.237º:
Art.238º CC:
Art.10º LCCG – impede que a padronizado das ccg se traduza na padronização também da sua
interpretação; a interpretação das ccg deverá ser deita caso a caso, especificamente em relaçao
a cada contrato, e tendo em consideração o contexto de cada contrato singular
Art.11º LCCG: o critterio de interpretação das ccg é o sentido objetivo com que a declaração seja
entendível por um declaratário normal, colocado na posição do declaratário real, mas sem a
reserva da expetativa razoável do declarante real (nº1). Ratio legis, assim como no preceito
anterior, é a proteção da parte mais fraca (nº2)
Ponto de partida da integração – lacuna negocial (espaço carecido de regulação privado mas
que, contrariando o plano geral das partes, não obtenha, por via da interpretação.
a) As partes nada disseram por pretenderem que o ponto omisso ficasse fora de qualquer
regulação jurídica. Pode suceder que a área lacunosa tenha de ser preenchida para
permitir a execução global do negocio, seja por razões de pura ordem pratica, seja por
razões de justiça; nessas eventualidades, teremos de entender, em nome das regras de
interpretação, que não foi intenção normativamente relevante das partes deixar a área
em jogo para regular.
b) As partes deixaram a matéria para as normas supletivas, às quais compete preencher o
ponto. Na contratação, as partes apenas tratam do necessário e do acidental, deixando
o resto ao cuidado do legislador; não havendo aqui qualquer lacuna do contrato. Mesmo
na hipótese da lei supletiva se mostrar lacunosa, apenas teríamos encontrado uma
lacuna legal, a integrar de acordo com as regras do art.10º
c) O negócio foi malconformado aplicando-se, no limite, a regra da nulidade por
indeterminabilidade do conteúdo. Quando o negócio mereça, não um juízo de
lacunosidade, mas sim de incompletude insuprível, em bloco, impõe-se a nulidade, nos
termos do art.280º/1, se a situação for inicial, ou a cessação por impossibilidade
superveniente, segundo os art.790º/1 e 801º, se for ulterior.
• Representar um ponto que, pela interpretação, devesse ser regulado pelo contrato
• As regras supletivas existentes são inaplicáveis
• Tem de se encontrar nos termos do art.10ºCC
• Mantem-se valido o negócio
➢ De acordo com a vontade que as partes teriam tido se houvessem previsto o caso
omisso: está em jogo a vontade hipotética das partes, que não se confunde com a
vontade real, que aflora no art.236º/2
➢ Em função dos ditames da BF, quando outra seja solução por eles imposta.
Vícios
Erro de cálculo
ou de escrita
(art.249ºCC)
Erro sobre os
motivos
(art.252º/1CC)
Erros sobre a
base do
negócio
(art.252º/2)
Dolo (art.253º
e 254º)
Distingue-se da coação moral por meio físico, na medida em que, enquanto na coação moral por
meios físicos existe vontade negocial, embora pressionada, influenciada e viciada pelo medo
causado pela ameaça, na coação física não existe qualquer vontade negocial, nem sequer
viciada.
Tem como consequência jurídica a inexistência, porque não existe verdadeiramente mais do que
uma aparência de ação negocial que possa ser verdadeiramente imputável à autoria do ato.
Ex.: A (coator) força B (coato), a levantar a mão num leilão, ou numa votação.
O autor do comportamento em questão não tem consciência de estar a emitir uma declaração
negocial, oque significa, portanto, que não está a fazê-lo efetivamente; não pode haver
declaração negocial sem consciência de negocialidade e, nesta circunstancia, nada mais existe
do que uma simples aparência.
Ex.: A encontra-se num leilão, e vê um amigo à distancia, levantando o braço para o saudar; esse
gesto é, porém, entendido como um lanço de mais um tanto pelo objeto que está a ser leiloado.
Incapacidade acidental
Pressupostos:
O agente, apesar de saber que se encontra na área negocial, não tem discernimento ou
liberdade para concretizar a atividade jurígena.
O autor da declaração a produz sem qualquer intenção negocial, na expetativa de que isso seja
conhecdo pelo seu interlocutor, pelo declaratário ou por quem esteja a receber a declaração.
O declarante emite uma declaração contrária à sua vontade real, com o intuito de enganar o
declaratário. A reserva mental não prejudica a validade da declaração, exceto se o declaratário
tiver conhecimento do carácter enganoso, levando, neste caso, à nulidade.
Simulação
As partes acordam entre si em emitir uma declaração negocial que não corresponda à sua
vontade real, e fazem-no com o intuito de enganar terceiros.
Tem três requisitos: acordo entre o declarante e o declaratário; divergência entre a declaração
e a vontade das partes (elemento mais distinto, que permite diferenciar a declaração da reserva
mental); intuito de enganar terceiros (tem-se como terceiro a pessoa alheia ao acordo
simulatório, mas não necessariamente estranha ao contrato simulado).
Modalidades:
Há, quanto ao art.241º/2 CC, um debate doutrinário sobre a validade do negocio dissimulado:
Antunes Varela defende que é suficiente que o negocio simulado respeite a forma exigida, para
que o negocio dissimulado seja formalmente válido; Mota Pinto diz que se a forma legalmente
exigida só tiver sido respeitada no negocio simulado, e não no negocio dissimulado, o negocio
simulado é nulo por simulação, e o negocio dissimulado é nulo por vicio de forma; Oliveira
Ascensão não exige que no negocio simulado fique indicado o tipo do negócio dissimulado
porque a qualificação pertence à lei e não às partes; Menezes Cordeiro recorre à analogia com
o art.238º CC, dizendo que deve haver um mínimo de correspondência no texto, salvo se as
razoes determinantes da forma a tanto não se opuserem.
A lei veda aos simuladores o recurso a testemunhas para a prova, quer do pacto simulatório,
quer do negocio dissimulado, quando o negocio dissimulado esteja titulado em documento
autentico ou particular.
A lei não delimita os elementos sobre os quais recaia o erro na declaração, para este ser
relevante, podendo, então, ser:
Requisitos para a relevância do erro: essencialidade (sem o erro, o negócio não teria sido
celebrado) e cognoscibilidade (o declaratário tem de conhecer ou não pode ignorar a
essencialidade, para o declarante, do elemento sobre o qual incidiu o erro). A parte que errou
tem, então, o ónus de demonstrar este duplo requisito, ou seja, que se não tivesse ocorrido o
erro, o negocio não teria sido celebrado, e que a outra parte sabia ou não devia ignorar que
assim o era.
Sucede nos casos em que o declaratário ou núncio que não transmita fielmente a vontade do
mandante, e nos casos de mandato com representação, quando o representante se desvie das
instruções recebidas.
O dolo deve ser provocado por quem o invoque, havendo, contra o autor do feito e verificados
os pressupostos legais, um direito à indemnização, a favor de todos os lesados, devendo essa
indemnização ressarcir todos os danos ocasionados, e não apenas os que se prendam com o
interesse negativo.
O maior campo de aplicação reside nos atos de processo não dotados de normas especiais. Tem
de haver um erro manifesto ou erro ostensivo, não sendo possível, por esta via, complementar
as puras e simples omissões ou corrigir peças processuais.
(quando as qualidades de uma coisa constem do próprio contrato e não se verifiquem, estanos
perante um caso de incumprimento, e não de erro)
Requisitos para a anulabilidade: essencialidade e acordo das partes sobre a essencialidade (pode
ser expressa ou tácita, e determina-se por interpretação negocial)
Na sequencia de Castro Mendes, a doutrina tem vindo a exigir, para o art.252º/2CC, um erro
bilateral. Todavia, na lei, nada exige a bilateralidade. Para que uma das partes invoque o erro,
basta que ela própria tenha incorrido em erro.
Pressupostos:
Dolo
Noção: art.253º/1 CC (dolo como sugestão ou artifícios usados como fim de enganar o autor da
declaração) ou art.483º/1 CC (dolo como modalidade mais grave de culpa, contraposta à mera
culpa ou negligência)
No erro qualificado por dolo, a anulabilidade surge se for determinante da vontade. Esta
anulação é cumulável com a indemnização dos danos causados, podendo fazer-se, em
simultâneo, apelo às regras de culpa in contrahendo, que através da técnica dos deveres
acessórios e da relação obrigacional sem dever de prestar principal, pode ser aplicável a
terceiros que provoquem o erro qualificado por dolo.
Ineficácia (em sentido amplo) – abrange todas as manifestações nas quais um negócio não
produz (todos) os efeitos que, em princípio, ele se destinaria a produzir.
Invalidade Nulidade
Anulabilidade
Invalidade mista
Nulidade
Regulada no art.286º
Tem um carácter originário, ou seja, ele não chega verdadeiramente a vigorar; o negócio é
ineficaz desde o momento em que foi celebrado.
Na declaração de vontade, a eficácia jurídica não se chega a verificar e, por isso, não é correto,
em termos técnico-jurídicos, falar de retroatividade. Todavia, porque muitas vezes o negócio é
nulo, antes da declaração de nulidade produzir efeitos, torna-se necessário reger juridicamente
o modo de repor a situação fática de acordo com a situação jurídica, desde o tempo da
celebração do negócio ou da prática do ato jurídico.
Anulabilidade
O negócio anulável são aqueles celebrados com falta de capacidade de exercício por menores
ou outros incapazes. Diferentemente do negócio nulo, o negócio anulável nasce válido, mas
precário e frágil, e ganha uma eficácia originária que pode, todavia, vir a ser destruída por uma
anulação superveniente, que lhe destrói retroativamente os efeitos.
Esta só é invocada pelas pessoas em cuja proteção seja estabelecida e é sanável pelo decurso
do prazo ou por quem tiver legitimidade para a arguir, não podendo ser invocada oficiosamente
pelo Tribunal.
A anulação tem de ser requerida num prazo, que começa a contar quando cessa o vício, ou seja,
quando o declarante se apercebe do erro ou do dolo em que incorreu, quando cessa a coação
ou a inferioridade característica da usura.
Outras causas que geram a ineficácia, para além da invalidade, como a ilegitimidade, o
funcionamento do termo ou da condição, a falta de registo e formalidades…
Aproveitamento do NJ
Requisitos: nulidade ou anulação meramente parciais, quando não implique a invalidade total
do negócio, mantendo-se sã uma parte do negócio; o negócio teria sido concluído sem a parte
viciada. O prof. Menezes Cordeiro acrescenta mais três requisitos para que haja redução: o
respeito pela BF; respeito pelas regras formais; respeitos por outras normas imperativas.
A redução não pode contrariar a autonomia privada: não pode resultar um negócio tal que as
partes não teriam querido celebrar; se assim fosse, o negócio resultante da redução não poderia
ser imputado à autoria, à vontade, e ao agir negocial das partes.
Condicionalismos legais:
O primeiro requisito deve ser integrado com os elementos do art.236º/2 e 238º/2. Os requisitos
essenciais à vontade comum das partes, antes e depois da conversão, enquanto a forma deve
ser aferida de acordo com as suas razoes determinantes.
O segundo requisito leva-nos à integração: a vontade hipotética aqui dominante deve ser aferida
segundo a BF e os demais elementos atendíveis exigindo, como se sabe, uma valoração objetiva.
➢ Confirmação (art.288ºCC)
A confirmação equivale ao ato pelo qual, numa situação de anulabilidade, o titular do direito
potestativo de proceder à impugnação opta, antes, pela validação do negócio atingido
Requisitos: posterior cessação do vício que serve de fundamento à anulabilidade; o seu autor
tem de ter conhecimento do vicio e do seu direito. Na falta de algum destes requisitos, a
confirmação não é eficaz, sendo, neste caso, a não-eficácia, uma nulidade.
A lei entende que, tendo a forma sido observada no neg+ócio anulável, os seus objetivos já
haviam sido alcançados. Com efeito, a não ser impugnado nos prazos legais, o negócio anulável
convalidar-se-ia, pelo decurso do tempo, sem que jamais lhe pudessem ser contrapostos óbices
formais. Não haveria, pois, que exigir “forma” para a confirmação, sob pena de, no final, se
chegar a um plus de formalismo.