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Introdução ao Direito

Conceito de Direito:

Conjunto de normas que visam garantir a manutenção da paz social, é o promovedor da justiça, da segurança
e da certeza. O estudo da realidade jurídica. Aquilo que é justo, reto, e conforme a lei. Complexo de direito e
deveres.

Equidade: Igualdade tendo em conta todos os lados e as diferenças

Justiça: Equilíbrio, razoável e imparcial entre os interesses;

Harmoniza as pretensões e interesses conflitantes na vida social;

Exigência da igualdade na distribuição ou partilha de vantagens ou carga;

Tratar igual o que é igual e o que é diferente o que é diferente;

Distribuição de vantagens e aplicação de sanções;

Adequação das respostas aos problemas;

Vantagem distribuída de forma igual;

Promover a certeza e a segurança, sociedade civilizada.

Ordem normativa (a lei adapta-se, vai mudando, acompanha as alterações da sociedade, é permeável):

1- Ordem Jurídica: Leis, normas jurídicas

2- Ordem Moral: Conjunto de valores que nos são incutidos desde que nascemos e que contribuem para o
conjunto de normas jurídicas

3- Ordem Religiosa: Relação entre o homem e o transcendente

4- Ordem Trato-Social: Ética e Civismo

Norma:

-Não tem leis de suporte;

- Abstrata, quando se refere a uma situação que pode acontecer.

Caracteres e aspetos do sistema jurídico

 Busca de pontos fixos que fundem a ordem jurídica.

Primeiro, é mais fácil de entender que, inevitavelmente, existe uma estreita integração da ordem jurídica na
ordem social, com tudo o que esta comporta. Assim, o Direito surge-nos como uma realidade normativa, mas
condicionada à sociedade em si e, portanto, em permanente mudança.

 Valores:

Certeza - intimamente ligada ao conceito de segurança, segundo Santos Justo, constitui “uma condição de
previsibilidade sem a qual a vida teria uma contínua surpresa e a estabilidade não existiria”.

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Justiça - há várias formas de encarar este conceito, porém poderemos destacar a distinção de Aristóteles:
justiça distributiva que preside à distribuição das vantagens entre todos os membros da comunidade, e
justiça comutativa ou sinalagmática, esta é reparadora e repressiva; nesta as pessoas apresentam-se em pé
de igualdade, e essa igualdade deve ser salvaguardada pelo direito. Santos Justo destaca três características
da justiça. Assim, ela é impessoal, dinâmica e dotada de alteridade (a justiça encontra-se no cruzamento
entre vida social e vida pessoal, sendo vocacionada para “o social”).

Segurança - não só é um valor, mas também um objetivo do direito. Assim, a segurança deve ser encarada
numa dupla perspetiva: segurança como sinónimo de certeza jurídica (as consequências dos atos devem ser
expectáveis e previstas pelo direito) e segurança através do Direito, face aos órgãos do Estado,
designadamente no que se refere à atuação do poder político e da Administração, sempre vocacionada para
a constância da paz e tranquilidade.

Neste contexto, será desejável que as leis sejam claras na sua redação, para que o sujeito possa,
razoavelmente, contar com o seu conteúdo (não obstante as alterações sociais que influenciam a
modificação das normas). Além disso, aconselha-se a não aplicação retroativa das normas e firmeza em
relação a requisitos, formalidades ou consequências plasmadas na lei.

Por outro lado, o cidadão goza de proteção face a ingerências perniciosas do poder político no seu âmbito
privado, através da possibilidade de recorrer aos Tribunais: órgãos independentes e imparciais.

Também o princípio do Estado de Direito surge como garante do respeito pelos direitos, liberdades e
garantias dos cidadãos e, portanto, corolário da segurança.

Norma jurídica ou regra jurídica

No fundo a norma jurídica é a expressão da ordem jurídica, é a concretização através de regras. Contém um
comando, por isso se diz também que é imperativa, sendo fundamental para a ordem na convivência
humana.

Assim, numa regra jurídica distinguem-se sempre dois elementos (estrutura):

- Previsão/hipótese: situação da vida que a norma visa; podem ser, tanto situações meramente fácticas
(morte, nascimento) como situações que têm por base outras relações jurídicas (como o incumprimento de
uma obrigação). Também se designa factispécie, (em Alemão Tabstand), isto é, factos ou situações.

- Estatuição (ou, segundo outros autores, injunção): consequência da verificação da previsão.

Note-se que nem todas as normas jurídicas apresentam esta estrutura típica. Assim, a título de exemplo,
pode, em algumas normas, surgir primeiro a estatuição e só depois a previsão.

Exemplos:

No artº 214º cc. Previsão: “Quem colher prematuramente frutos naturais…”

Estatuição: “…é obrigado a restituí-los…”

A regra jurídica tem sempre as seguintes características:

- Generalidade (dirige-se a um grupo de indivíduos, sem sujeitos em concreto determinados, mesmo que
seja um grupo restrito. Ex: uma norma pode perfeitamente dirigir-se aos empregados da empresa X pois não
diz respeito aos empregados, individualmente considerados da referida empresa. Neste exemplo a norma

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não perde o caráter geral. Já não acontece no seguinte exemplo: “A srª Joaquina Maria Abreu está proibida
de deitar baldes de água para a rua” pois a norma dirige-se a uma pessoa em concreto).

- Abstração (situação abstratamente considerada, não uma situação em concreto, específica e única. Por
exemplo a norma não seria abstrata se se dirigisse, especificamente, ao facto de o Sr. António Silva ter
roubado maçãs do quintal de sua vizinha Antónia Antunes, esta não seria uma situação abstratamente
considerada, mas concreta). Há autores como Oliveira Ascensão que entendem que a abstração não é
característica da norma, e há autores, como Marcello Caetano, que entendem mesmo que a generalidade é
um conceito mais amplo que abrange a abstração.

Fontes:

Modos de formação e revelação de normas jurídicas, isto no sentido técnico-jurídico. Por outras palavras, são
a forma de criação e manifestação do direito positivo, em vigor, em determinado momento e em
determinada sociedade.

Para a exposição desta matéria adotaremos uma posição concreta, apesar de haver autores que recusam
algumas destas fontes, enquanto fontes de direito, apesar de reconhecerem a sua importância na
modernização do direito.

Quais são?

 Lei - é, sem dúvida, fonte de direito e é a expressão de órgãos estaduais competentes para a
elaboração de leis (órgãos legiferantes), através da elaboração de um conjunto de normas escritas.
Di-lo expressamente o art.1º c.c.- é um texto significativo de uma ou mais regras jurídicas, emanado
de uma autoridade competente. É, portanto, a materialização de uma norma jurídica, sendo fonte
imediata de direito
 Doutrina - será o labor teórico dos jurisconsultos, orientações de vários autores. Historicamente, no
Direito Romano foi importante fonte de direito pois era vinculativa. Por outras palavras, na
antiguidade clássica a communis opinio doctorum era fonte de direito (posição comum dos
doutrinários). Atualmente, não é fonte imediata ou direta, na medida em que as opiniões não são
vinculativas, não são obrigatórias, o juíz não tem de acatar nem seguir essas opiniões. No entanto,
pode ser fonte mediata ou indireta porquanto as referidas opiniões e posições, ditas doutrinárias,
são transformadas em norma jurídica
 Jurisprudência - será o conjunto de decisões dos tribunais. Designam-se sentenças quando
provenientes de um tribunal singular e acórdão quando provenientes de um coletivo de juízes. Os
magistrados julgam segundo a Constituição e a Lei, logo não estão vinculados a decisões anteriores
(contrariamente ao sistema anglo saxónico que encerra a regra do precedente), nem sequer os
acórdãos ou sentenças têm intuito generalizador. Eles vinculam somente as partes entre as quais o
litígio se estabeleceu: não criam normas jurídicas gerais e abstratas (conforme resulta do art.10º do
CC).
Refira-se que a existência dos Acórdãos Uniformizadores de Jurisprudência não colide com a
classificação da jurisprudência enquanto fonte mediata. Isto é, não significa que os mesmos
assumam o valor de norma jurídica. Pelo contrário, apesar de evidenciarem uma orientação que se
recomenda ser seguida por tribunais inferiores, a verdade é que o juiz poderá decidir diferentemente
do Acórdãos Uniformizador de Jurisprudência, desde que o faça de forma justificada.

 Costume - define-se como prática reiterada com convicção de obrigatoriedade. Distinguem-se dois
elementos: usos e convicção de obrigatoriedade. O nosso código civil não o admite expressamente,
mas em algumas disposições refere-se ao costume, nomeadamente em questões de prova. Assim,

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também não há consenso acerca do costume. Oliveira Ascensão, entre outros autores, entende que
é fonte imediata de direito. Para o efeito sustenta que o art. 348º do CC se refere ao costume como
Direito Consuetudinário, entendendo que este é vinculativo, desde que se prove a sua existência.
Os usos (art. 3º do CC), por sua vez, podem ser importantes para a alteração de normas jurídicas,
mas são desprovidos de convicção de obrigatoriedade. Ou seja, há um corpus, mas não um aninus e,
na prática, pouca relevância lhe tem sido atribuída e não são, por si, fonte de direito (embora alguns
autores como Garcia Pereira, David Falcão ou José Gonçalves Ferreira os incluam na categoria de
fontes mediatas). Por exemplo, o uso é referido no art. 218º, prevendo que o silêncio só terá valor de
declaração se esse for o seu valor atribuído por lei, uso ou convenção. ~

 Equidade - É a resolução no caso concreto, há grande divisão na doutrina, há quem entenda que é
fonte mediata de direito (pois nunca terá o intuito generalizador), há quem entenda que é só um
critério de decisão. Há situações plasmadas no art.4º c.c em que se admite recurso à equidade.

Ramos

A ordem jurídica é só uma, porém o seu estudo impõe a divisão por sectores, é a estes sectores que vamos
chamar ramos do direito. O conteúdo de cada ramo deve ser estruturado por intermédio de princípios gerais
próprios desse ramo.

Essencialmente os ramos de direito compreendem a divisão em Direito Público e Direito Privado. Para a esta
separação observam-se alguns critérios que devem ser conjugados, na medida em que um só poderá não
permitir a determinação se uma norma ou relação se situa no plano público ou privado.

Deste modo, resumimos três critérios: do interesse, da qualidade dos sujeitos e, finalmente, a posição ou
hierarquia dos sujeitos na relação jurídica.

Assim, quanto ao critério do interesse, sempre que o valor maior for o da coletividade, estaremos no plano
público, se o interesse vertente das normas for vocacionado para os particulares, poderemos estar perante
um ramo de direito privado.

Por sua vez, de acordo com a qualidade dos sujeitos, poderemos afirmar que, tendencialmente a figura do
estado (quer nas normas, quer na relação jurídica) é sinónimo de direito público, todavia este critério poderá
ser enganoso na medida em que o estado pode intervir em relações de direito privado.

Finalmente, segundo o critério da hierarquia ou posição dos sujeitos poderemos afirmar que o Estado (ou
seus organismos representativos) figura na relação jurídica munidos de ius imperii, isto é, poder de
supremacia. Apresenta-se, numa posição de superioridade podendo provocar alterações na esfera jurídica
daqueles com quem se relaciona, independentemente da vontade destes (ex. expropriação por utilidade
pública). Serão assim, as normas ou relações jurídicas de direito público. Diversamente, no direito privado os
sujeitos na relação jurídica ou as normas reguladoras da mesma transmitem a ideia de igualdade das partes.
Mesmo que o Estado figure neste tipo de relações, será desprovido do poder de supremacia ou
superioridade característico do direito público (ex. uma junta de freguesia compra um imóvel que se
encontra à venda; aqui o vendedor estipula o preço disponibilizando-se ou não, no processo de negociação, à
variação de preço acordado, não sendo, nenhuma parte, obrigada a concluir o negócio enquanto não houver
consenso, isto é, acordo sobre todos os termos do negócio).

Vejamos:

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 Direito público (direito administrativo, direito constitucional, fiscal ou tributário-este último


questiona-se a sua ligação ao direito administrativo, por vezes direito penal é caracterizado como
direito público)
 Direito privado pode fazer-se uma divisão em direito privado comum ou civil (o tronco fundamental
do direito privado) e direitos privados especiais. Por sua vez os preceitos de direito civil dividem-se
em:
 Direito das Obrigações (regula situações em que alguém está vinculado a realizar certos
benefícios/prestações. Trata questões como responsabilidade civil pelo risco, dano
 Direitos Reais ou das Coisas (regula a atribuição de coisas. O paradigma é a propriedade)
 Direito da Família (regula situações familiares ou parafamiliares. Ex: adopção, casamento,
divórcio…)
 Direito das Sucessões (regula as vicissitudes de sucessão por morte: testamentos, doações
post-mortem…)

Direitos privados especiais:

 “destacam-se” do direito civil na medida em que regulam situações em particular, as


quais não faria sentido ver reguladas no referido direito civil, em virtude das suas
especificidades.
 Direito do Trabalho
 Direito Comercial - este foi historicamente elaborado para subtrair a atividade
económica ao formalismo da lei civil do séc XVIII. Foram, então, adotadas as seguintes
posturas:
- Celeridade da atividade económica (os intervenientes no comércio seriam altamente
prejudicados se estivessem sujeitos aos processos morosos típicos das instâncias civis)
- Boa-fé deveria sacrificar-se a segurança conferida pelos processos formais em benefício
do tráfego comercial.
- Reforço do crédito, donde resulta maior proteção para o credor.
- Procura do lucro, ora esta é uma característica transversal a toda a atividade comercial.
Note-se também que há uma certa tendência ou necessidade de desentranhar do direito
comercial outros ramos como direito marítimo, direito dos seguros, direito bancário…
Direito Industrial
Direito Agrário

Apesar de, aparentemente, a divisão ser estanque, a verdade é que existem alguns ramos de direito híbridos
ou mistos porquanto não apresentam características de direito público e de direito privado (o direito do
consumo é um exemplo).

A ordem jurídica

- Ordem social/ordem normativa

Há grande dificuldade em delimitar o objeto de estudo, todavia existem dois pontos de partida se dissermos
que o direito é um fenómeno humano e social. Assim, não é um fenómeno da natureza pois, apesar de
animais e coisas poderem ser contemplados pelo direito, não se relacionam com ele, por exemplo o direito
nunca pode estabelecer regras de conduta ou impor sanções a animais ou plantas.

Por outro lado, apesar de ser um fenómeno humano, não é exclusivamente para o homem isolado - é um
fenómeno social. Ubi ius ibi societas ("onde há sociedade, há Direito"). O homem vive em sociedade, desde
tempos recuados, relaciona-se com outros “da sua espécie”. Como tal, vivendo em sociedade, surgem
problemas e situações que precisam de ser reguladas e resolvidas de modo eficaz. É neste contexto que

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surge o direito: para regular a vida e a conduta do homem em sociedade, até mesmo por imperativos de
sobrevivência humana e subsistência das sociedades. No entanto, não poderemos entender que toda a
conduta humana tem de ser regulada.

Em suma, poderemos concluir que a ordem normativa é um “ser, efetivamente, mas um ser que tem o
sentido de dever ser”, ou seja, é violável.

- As Instituições

Segundo o Professor Oliveira Ascensão, Instituição designa tudo o que está numa sociedade, o que
permanece para além da evolução, por isso faz a unidade dos seus membros. São realidades objetivas, supra-
individuais todavia, e porque são compostas por um determinado grupo, não têm existência própria. Por sua
vez, compõem as Instituições: valores, sentimento de pertença a grupo, relações…

Relacionando-se com a ordem social, poderemos afirmar que esta é permeável às regras e princípios de
“funcionamento” das Instituições.

- Ordem normativa VS ordem religiosa, moral, de trato social e jurídica

A ordem normativa de uma sociedade é bastante complexa sendo composta, fundamentalmente, pelas
quatro ordens acima citadas.

 Ordem religiosa - Assenta no transcendente, tem em vista as relações Homem/Deus. Atendendo a


que tem uma forte componente individual, é inegável a sua repercussão na sociedade em geral,
porquanto ordena a conduta dos vários membros da sociedade.
 Ordem moral - basicamente refere-se à conduta humana, a qual, em princípio, será de prosseguir “o
bem”. Mais uma vez tem uma forte componente individual mas reflete-se na sociedade em geral. É
de forte importância pois, através dela vão-se eliminando elementos/valores nocivos para o
funcionamento de uma sociedade.
 Ordem do trato social - Cortesia ou civilidade. São regras que tornam a convivência entre membros
da sociedade agradável
 Ordem jurídica - Ordena os aspetos mais importantes para o “funcionamento” de uma sociedade, e
exprime-se através de regras jurídicas, na busca da justiça e segurança

Direito Positivo/Direito Natural

O Direito Positivo é o conjunto de leis com existência efetiva: é o direito inserido na sociedade, já palpável, já
tangível – são as normas que estão em vigor em Portugal e que estão expressas, por exemplo, no código
penal, civil. É produto do homem.

Todavia, há algo que está acima desta lei, algo que vai além da vontade do homem, e isto é algo que advém
da razão: Direito Natural.

Direito objetivo e Direito subjetivo

Direito objetivo – é a norma em si, norma de agir – não está ao alcance da livre disposição do homem, apesar
de ser produzida pelos órgãos competentes para a sua elaboração.

Direito subjetivo – é a faculdade/possibilidade/liberdade de agir – está na esfera da livre disposição do


homem – não há, todavia, uma distinção nítida pois são as duas faces da mesma moeda, se por um lado o
direito objetivo é a norma em si, a norma de agir, o direito subjetivo é a faculdade de agir.

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Aos direitos subjetivos de cada um, opõem-se-lhe deveres ou sujeições.

Exemplos:

Art. 1305º CC – “O proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das
coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das restrições por ela impostas.” A
redação que observamos do próprio artigo, a norma em si, é direito objetivo que encerra uma
possibilidade/faculdade a ser exercida pelo sujeito, SE pretender fazê-lo. Neste caso, a norma permite que o
proprietário possa usar, fruir e dispor da coisa, SE quiser.

Art. 1600º CC - “Têm capacidade para contrair casamento todos aqueles em quem se não verifique algum
dos impedimentos...” – Direito objetivo. Assim, se tiver capacidade, cada indivíduo contrai matrimónio SE
quiser.

Art. 1698º CC – “Os esposos podem fixar livremente, em convenção antenupcial, o regime de bens do
casamento, quer escolhendo um dos regimes previstos neste código, quer estipulando o que a esse respeito
lhes aprouver, dentro dos limites da lei.” – A norma em si é direito objetivo. Por sua vez, subjetivamente, cada
um exerce o direito de celebrar uma convenção antenupcial SE quiser.

Leis constitucionais e leis ordinárias

Leis constitucionais ocupam o vértice na pirâmide hierárquica das leis.

Leis constitucionais:

 Constituição da República Portuguesa (CRP)


 Leis que alteram a CRP

Estas são sempre emanadas da Assembleia da República (AR).

Leis ordinárias – estão abaixo das leis constitucionais. São, então, o conjunto das demais leis. São em maior
número. Não obedecem a um processo de criação tão complexo nem rígido como as leis constitucionais e
podem ser emanadas quer pelo Governo, A.R., ou outras entidades orgânicas como as Assembleias
Legislativas Regionais…

Processo de elaboração da lei e entrada em vigor

Dar-se-á como exemplo a lei emanada da Assembleia da República, porque é a que obedece a um processo
mais complexo:

1º Formação – A iniciativa legislativa poderá partir dos deputados ou grupos parlamentares, caso em que se
designa projeto de lei, ou poderá surgir do próprio governo, caso em que se designa proposta de lei (em
conformidade com os arts. 167º/1, 156º al. b), 180º/1 al. g), 197º/1 al. d), todos da CRP). No caso das
Assembleias Legislativas Regionais designa-se proposta de Lei (arts. 227º/1 al. f) e 232º, ambos da CRP).
Também aos cidadãos eleitores é reconhecido esse direito nos termos da Lei 17/2003, de 4 de junho (projeto
de lei). Posto este momento, a lei é discutida e aprovada (art. 168º CRP) – na generalidade (em plenário) e
na especialidade (comissão competente em razão da matéria).

2º Promulgação – o ato pelo qual o Presidente da República atesta a existência da lei e ordena que ela se
execute (arts. 134º al b) e 136º da CRP) – é um ato solene. Todavia, pode o Presidente da República vetar
caso discorde do conteúdo da mesma ou no caso de lhe suscitar dúvidas, designadamente no que se refere à
legalidade das normas do diploma em causa. Como referimos, sendo condição da existência da lei, a
ausência de promulgação tem como consequência a inexistência da lei.

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Após este momento, o diploma é enviado para publicação em Diário da República (DR).

3º Publicação – meio de levar a lei ao conhecimento geral dos indivíduos (art. 5º CC e 119º/1 al.c) da CRP). Se
a mesma não foi publicada, apesar de existente, ela é ineficaz (art. 119º/2 da CRP).

4º Entrada em vigor.

Como referimos supra, a lei antes de publicada já tem existência jurídica, mas ainda não tem valor prático,
logo a eficácia depende de dupla condição: publicação em jornal oficial (DR) e respeito pela vacatio legis –
período que medeia a publicação e a entrada em vigor (art. 5º cc). Para a questão dos prazos de vacatio legis
é importante conhecer a Lei 74/98, de 11 de Novembro (com as devidas alterações), principalmente os arts.
1º e 2º + 279º cc. Repita-se que, nesta lei, constam os prazos de vacatio legis no entanto, a própria lei em
causa pode estipular o prazo que tem de se respeitar desde a publicação até à entrada em vigor, ou seja , a
própria lei pode dispor de prazos diferentes dos que constam nesta lei (alargar ou encurtar o prazo, mas
neste último caso terá de ser em virtude de especial urgência e nunca entrará em vigor no próprio dia da
publicação).

Existe o princípio segundo o qual, o “desconhecimento da lei não aproveita a ninguém”, ou seja, não pode
ser usado como desculpa este argumento, pois presume-se que cada cidadão conhece a lei a partir da sua
publicação e entrada em vigor.

Invalidades dos atos jurídicos

 Inexistência – vício mais grave por falta de enquadramento da situação no âmbito de alguma norma.
Envolve sempre um juízo de ilegalidade.
 Invalidade - o ato existe mas padece de algum defeito ou vício, existem duas modalidades:
 nulidade: o ato não produz qualquer efeito. Tem em vista proteger interesses públicos, por
isso não há prazo de arguição. Por sua vez, a legitimidade para o fazer não se cinge somente
aos interessados directos. O próprio art.286º cc refere estes fatos: “…é invocável a todo o
tempo, por qualquer interessado e pode ser declarada oficiosamente…”
 2. anulabilidade: o ato produz alguns efeitos, mas muito precários. Pode até vir a tornar-se
válido. Tem em vista a tutela de interesses de particulares, logo, só pode ser arguido pelas
partes interessadas e não pelo tribunal.
- Ineficácia (em sentido restrito): o ato não padece, perante a lei, de nenhum vício específico,
mas é ineficaz em virtude de algum acontecimento exterior ao ato. Por exemplo uma
condição suspensiva ou resolutiva.
Ex: Um terreno a B, sob a condição de se construir uma auto estrada próximo dentro de 2
anos , esta compra só produz efeitos se a construção da auto estrada se verificar, caso
contrário é ineficaz- condição suspensiva.

Quer invalidade, quer inexistência supõem sempre uma ilegalidade do ato, ao passo que a ineficácia não.

Assim, revertendo para as Leis – Quais os seus vícios? (atos normativos)

Ilegalidade em virtude de uma desconformidade com normas jurídicas superiores (às quais devem
obediência):

 Inconstitucionalidade em virtude de violar uma disposição constitucional.


 Ilegalidade pura: desconformidade das leis ordinárias em relação a outras leis ordinárias de superior
grau hierárquico.

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Consequências:

Inexistência ou nulidade (por desconformidade com leis de hierarquia superior). Neste contexto não há vício
da anulabilidade.

Ineficácia – não foram publicadas no D.R. (artº 119º/2 cc e DL 74/98 de 11 de novembro).

As próprias leis podem padecer de ilegalidade quando não são conformes com as leis superiores a que devem
obediência:

 Leis superiores em desconformidade com a CRP: inconstitucionalidade


 Leis Superiores em desconformidade com outras leis: ilegalidade (pura e simples) arts 277º ss CRP.

Cessação de vigência da lei

 Cessação dos atos jurídicos


Assim como nascem, os atos jurídicos podem ser modificados, suspensos e extintos.
Cessação pode ser:
 retroativa, isto é, os efeitos são dados como não produzidos no passado (como se o ato não
se tivesse passado) “ex-tunc” (desde o início).
 Só para o futuro “ex-nunc” (desde agora).
Revogação – destruição dos efeitos de um ato jurídico, por vontade do seu autor/autores, com ou
sem retroatividade – ato discricionário. Ex: 927ºss.c.c. 406º/1cc (Eficácia dos contratos), por
interpretação a contrário.

Rescisão – ato condicionado à existência de justa causa, por iniciativa de uma das partes
(normalmente). Ex: 801º/2 opera por simples declaração do interessado ou pelo juíz.

Caducidade – o ato perde valor, automaticamente, em consequência de fato não voluntário,


normalmente por decurso do prazo.

Quanto às leis, como é este processo? (Art. 7º/ 1 e 2)

Em princípio uma lei faz-se para perdurar no tempo ainda que desapareça a razão de ser da lei.

No entanto para a extinção de uma lei, é necessário uma de duas coisas:

 A própria lei contenha em si um limite à sua vigência (lei temporária).


 Seja revogada por uma lei posterior (por vontade do legislador).

Caducidade da lei – a lei contém o seu período de vigência. Decorrido o prazo, extingue-se. No entanto,
também pode caducar por cessação do facto que a fez vigorar (situações transitórias), por ex: lei destinada a
vigorar só em estado de guerra.

Revogação – uma lei nova surge em substituição da antiga. Frequentemente nem é revogada de modo
direto, simplesmente pode ser até contrária à lei anterior e extingue-a (conta a data da publicação).
A revogação pode ser:

 Total: revogação integral do diploma- ab-rogação.


 Parcial: revoga-se uma parte do diploma- derrogação.
 Expressa: ocorre quando um novo ato individualiza explicitamente o ato anterior que cessa vigência.

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Introdução ao Direito

 Tácita: as leis ou são inconciliáveis entre si/incompatíveis ou a lei nova dispõe sobre a mesma
matéria.

Repristinação (art.7º/4)

A revogação da lei revogatória não importa o ressurgimento da lei por ela revogada (repristinação).
Excecionalmente será assim se o legislador determinar o ressurgimento da primeira lei.

Hierarquia das leis

Há várias categorias de leis, pelo que surgem difíceis problemas para aferir o seu valor relativo, isto é, o valor
de umas em relação às outras, logo, é necessário estabelecer uma hierarquia, uma ordem.

Relembrando a regra de que “lei de grau inferior não pode dispor ou contrariar a norma de grau superior”
temos então a seguinte “pirâmide”:

 Constituição
 Direito Internacional (tratados normativos)
 Leis e Decretos-Lei
 Decretos legislativos regionais
 Decretos regulamentares
 Decretos regulamentares regionais
 Resolução do Conselho de Ministros
 Portarias (ordens do Governo dadas por ministros)
 Regulamentos das autarquias locais
 Despachos (têm como destinatários os subordinados do ministro ou ministros signatários e valem
dentro do ministério respetivo)

Note-se, no entanto, que não é unânime que a CRP ocupe o topo da pirâmide na hierarquia das leis (cfr. Art.
8º CRP).

Diferença entre decreto-lei e regulamento:

Decreto lei enuncia os princípios fundamentais, as diretrizes que depois vão ser desenvolvidas e
pormenorizadas pelos regulamentos por forma a ser executadas.

Obrigatoriedade da norma jurídica

As normas jurídicas depois da publicação e decorrido o prazo da vacatio legis, tornam-se plenamente
eficazes e obrigatórias para os seus destinatários.

Este princípio perdura desde épocas recuadas, aliás, tradicionalmente afirmava-se que as leis eram
obrigatórias por serem conhecidas de todos. Era, inclusivamente, impossível ilidir este facto. Por exemplo, na
antiguidade Romanda, havendo somente a Lei das XII Tábuas, era certo que todos as conheciam (era
lecionada na escola) - vigorando princípios como o seguinte: “nemo censetur ignorare legem” (ninguém se
presume desconhecer a lei). Hoje em dia, torna-se impraticável esta total e completa ilusão pois o número de
leis é quase infinito. Como referimos em aulas anteriores “o desconhecimento da lei não aproveita a
ninguém” (pensamento vertido no art.6º c.c.) é um corolário indicador, porém tem de conhecer exceções,
em que seria injusto ou desadequado sancionar ou aplicar a mesma lei de igual modo. O principal objetivo é
evitar que cada um se furte ao cumprimento de certas normas ou arcar com certas sanções, mas é óbvio que
a aplicação cega deste preceito pode tornar-se contraproducente. As exceções são, então, as seguintes:

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 Alguém pratica um furto objetivamente ilícito, mas pode não ser responsabilizado (ou pelo menos
não ser responsabilizado integralmente), quer civil quer criminalmente se, perante as circunstâncias
concretas do caso, não seria de exigir que o agente conhecesse ou devesse conhecer essa ilicitude.
Ou seja, se o desconhecimento não for censurável (494ºc.c ou 17º/1 cód.penal);
 Por outro lado, contratos e negócios jurídicos, em geral em que uma das partes desconhecia certo
vício e tal seria determinante na sua vontade de celebração ou não (por exemplo: desconhecer um
facto determinante). Todavia, neste caso, há que obedecer aos requisitos dos arts. 251º e 252º: erro.
O erro será de direito quando incide sobre um requisito legal/diz respeito ao desconhecimento não
negligente ou deficiente da lei (p.ex: menoridade de um dos contratantes) ou de direito quando
incide sobre algum aspeto em concreto da situação (p.ex: pensa que está a comprar um diamante
mas está a comprar um mero cristal).

Estas situações visam tutelar a boa-fé e, nas palavras de Galvão Telles, a “pureza de vontade” do interessado.

Em suma: o princípio geral é o da presunção (ou ficção) do conhecimento da lei (objetivamente), sendo,
portanto, obrigatória e imperativa, não podendo estar condicionada ao conhecimento por parte dos sujeitos
(subjetivamente).

Estrutura da Relação Jurídica

Uma relação jurídica é composta por direitos (direito subjetivo) e deveres jurídicos ou sujeições. Logo, esta
relação supõe sempre a existência paralela de um direito objetivo (conjunto complexo de normas gerais e
abstratas que ordenam a vida em sociedade sob diversos pontos de vista). Toda a relação jurídica existe entre
sujeitos e, dentro deste nexo, distinguimos um lado ativo e um passivo:

 Lado ativo equivale ao sujeito titular do direito subjetivo (sujeito ativo);


 Lado passivo corresponde ao titular do dever jurídico ou sujeição (sujeito passivo).

Então, do exposto poderemos completar a noção de direito subjetivo: poder atribuído pela Ordem Jurídica a
uma pessoa de, livremente, exigir ou pretender de outra, certo comportamento positivo (ação) ou negativo
(omissão), ou de, por ato de livre vontade (ou por intermédio de autoridade pública) produzir determinados
efeitos jurídicos, inevitáveis, na esfera jurídica alheia.

Ponto importante na noção de direito subjetivo: LIBERDADE de exercer ou não, ou seja, existe dependência
da vontade do sujeito. Tal facto exclui logo determinado tipo de situações, por exemplo os chamados
“poderes-deveres” (por ex.: art.1915ºcc isto é, poderes integrados no poder paternal ou na tutela). Assim, o
seu titular não se pode furtar ao seu cumprimento.

Exemplos: direitos de crédito, entre outros…

Elementos da relação jurídica

Sujeitos - pessoas entre as quais a relação jurídica se estabelece. São os titulares dos direitos subjetivos e das
sujeições.

Objeto - é o elemento cujo conceito tem sido motivo de controvérsia e será aquilo (quid) sobre que recaem
os poderes do titular do direito.

Facto - todo o acontecimento ou ação humana que produz efeitos ou consequências jurídicas.

Garantia - suscetibilidade de proteção coativa da posição do sujeito ativo da relação jurídica.

11
Introdução ao Direito

Exemplo: André vende a Berta uma propriedade rústica. Estabeleceu-se aqui uma relação jurídica em que:

Sujeitos: André e Berta

Objeto: propriedade rústica

Facto: contrato de compra e venda

Garantia: faculdade que cada um dos intervenientes tem de recorrer a tribunal para obrigar o outro a
cumprir a sua obrigação no caso de litígio ou recusa.

Interpretação e Integração da Lei


Problema da interpretação e integração da lei

As fontes, sendo os modos de formação e revelação de normas jurídicas, fornecem o conhecimento material
das normas vigentes. No entanto, como as normas são feitas para ser aplicadas, teremos de saber como o
fazer. Importante também é saber de que modo as aplicar. Ou seja, perante o preceito teremos que
interpretá-lo.

Por exemplo, a lei como preceito escrito, não se reduz a palavras, ele foi criado com determinado objetivo,
com determinada finalidade, para determinadas situações. Só nos podemos cingir à letra no caso de
interpretações com intuito malicioso.

Historicamente, sobretudo em épocas muito politizadas em que se temiam interpretações “pretensiosas” do


poder político, destacou-se um autor – Beccaria (Séc XVIII). Este defendeu fortemente interpretação literal.

No entanto, frequentemente, para respeitar a própria lei teremos de a sacrificar. Ou seja, há casos em que,
podendo estar mal redigida, se atendêssemos somente às suas significações literais poderíamos chegar a
resultados injustos ou iníquos. Seria obedecer à lei cegamente.

Importante é ter em conta o pensamento do legislador, isto é, aquilo que o legislador pretendeu ao elaborar
certa lei - elemento espiritual. Esta ideia é vertida no art. 9º c.c.

Um pequeno apontamento vai para a presunção de que o legislador, ao conceber a lei, optou pelas soluções
sempre mais acertadas e procurando a justiça.

Já no Digesto (é um sistema integrado de bases de dados para o tratamento da informação jurídica e visa o
tratamento da informação legislativa, regulamentar, jurisprudencial e doutrinária do ordenamento jurídico
português) constava a ideia de que conhecer as leis não é atender somente às suas palavras.

Então o que significa interpretar a lei?

Assim, interpretar a lei não é só determinar o verdadeiro sentido das normas, mas também descobrir as
soluções que o legislador teria pretendido para os casos que ele próprio não consagrou – casos omissos –
lacunas. Essas lacunas têm de se “preencher”, pois, os casos não podem ficar sem solução – o juiz não pode
abster-se de julgar, sob pena de incorrer no crime de denegação de justiça.

Poderemos encarar o processo de interpretação sob dupla perspetiva:

 Interpretação em sentido estrito ou stricto sensu – esclarecimento da norma


 Interpretação em sentido amplo – diz respeito não só ao esclarecimento da norma mas também à
integração da omissão (interpretação) – descobre as soluções não expressas.

12
Introdução ao Direito

A interpretação é sempre necessária, mesmo que a lei pareça não suscitar qualquer dívida. No entanto,
tradicionalmente existe a ideia de que se a lei é clara não é necessário interpretá-la. Esta premissa é falsa: é
sempre necessário interpretar a lei nem que seja para integrar corretamente a situação na norma.

Pode ocorrer outra situação: determinada norma parece muito óbvia, mas, debruçando-se mais sobre a
mesma, com espírito mais crítico e algum senso jurídico, descobre-se que a mesma pode abarcar inúmeras
situações escamoteadas, pelo que é importante reter que não nos devemos “ficar” pela interpretação
aparente.

Interpretação legislativa e interpretação literária ou filosófica

A interpretação legislativa tem que ser obrigatoriamente diferente da interpretação literária, porque desta,
simplesmente retiramos o sentido que o autor quis imprimir ao texto - eventualmente, sentimentos,
imagens, sensações.

Contrariamente, da interpretação legislativa pretende-se retirar um comando, uma norma, a adequação de


uma norma a certas situações, etc...

Interpretação doutrinal e autêntica.

Doutrinal – Como a própria expressão indica nome, é feita a nível doutrinário, não obedece a regas especiais,
sendo uma atividade livre dos jurisconsultos.

Autêntica – É feita pelo próprio legislador que elaborou a lei que agora se está a interpretar, quando esta é
duvidosa ou carece de esclarecimento. O legislador interpreta através de nova lei.

Características da interpretação autêntica:

 É uma interpretação legal


 Chama-se autêntica porque vem da mesma entidade; entidade competente.
 Imperativa/autoritária /vinculativa
 Uma das exceções ao princípio da irretroatividade da lei.
 Só se aceita este tipo de interpretação quando a lei em causa oferece, efetivamente, dúvidas
decorrentes da sua interpretação.
 Tem de ser claro que essa é uma lei interpretativa – e esse facto tem de ser referido direta ou
indiretamente pelo legislador.
 Competência: A.R., Governo. Historicamente era permitido aos tribunais fixar o alcance das leis
através da figura dos Assentos, já extintos.

Alcance das leis interpretativas:

Art. 13º Leis interpretativas – interpretação autêntica

Diz-se que é uma lei retroativa, na medida em que fixa o alcance à lei interpretada desde a sua origem. Mas
há exceções:

a) Sentença c/trânsito em julgado (c.p.c.)

b) Cumprimento da obrigação

c) Transação (preventiva ou para terminar litígio) mesmo se não tiver sido homologada ainda.

d) Outras situações em que as partes previamente e sem qualquer dúvida reconheceram o alcance de
determinado direito.

13
Introdução ao Direito

Elementos da interpretação

a) Elemento literal- as próprias palavras.

 Podem ser vagas ou equívocas


 Apura-se o possível sentido

b) Interpretação lógica – atende ao elemento linguístico (aceita o sentido literal óbvio), vai mais “além”. Este
desdobra-se noutros elementos:

 Racional - ratio legis, tentar averiguar a finalidade da lei.


 Histórico – génese e evolução de determinado direito e “do Direito”, atender aos antecedentes
dessa lei (remota ou recente) – trabalhos preparatórios.
 Sistemático- ter em conta que a norma se insere num todo, isto é, num sistema. Atender ao facto de
que a lei está encadeada com os preceitos que a integram, tudo num contextualizado.

Espécies de interpretação quanto ao resultado:

 Interpretação declarativa
Quando há pluralidade de sentidos, vai esclarecer-se qual a significação literal em jogo. É aqui que se
distingue entre interpretação declarativa em sentido lato e restrito.
Nesta “tarefa”, atenderemos ao sentido amplo das palavras ou ao seu sentido restrito (dá-se-lhes um
sentido restrito).

 Interpretação extensiva ou restritiva


O legislador disse mais ou disse menos do que aquilo que queria. O que fazer então? Teremos então
de recorrer aos processos, respetivamente, de interpretação restritiva ou extensiva. Ou seja, estamos
perante um processo tendente a corrigir a letra da lei; por outras palavras, não há harmonia entre
pensamento e palavra – Interpretação literal não coincide com espírito da lei (não coincide com
interpretação lógica). Vejamos:
 Restritiva – o legislador expressou-se de modo muito genérico, abarcou várias realidades,
mas na verdade só se quis referir a uma parte/categoria, pelo que teremos de restringir a
letra.
 Extensiva - verifica-se o oposto: o legislador disse menos foi lacónico logo, ter-se-á que,
através da interpretação, alargar o âmbito/sentido das palavras.

Nota: abrange também as normas excecionais (não é só para regras gerais), ou seja, admitem
interpretação extensiva, mas não analogia.

Exemplos:
“Estado mental” (282º) – neste artigo o legislador não se quis referir a qualquer estado mental, mas
somente o estado vulnerável. Assim teremos de proceder a uma interpretação restritiva do artigo
por forma a comportar somente este estado mental.
“Cabeças de gado substituídas pelas crias” (1462º) – Aqui a ideia é substituir as cabeças em falta,
sendo ou não através de crias nascidas (ou por exemplo compradas), logo teremos de proceder a
uma interpretação restritiva também.

 Interpretação ab-rogatória
Confrontando dois preceitos concluímos que são incompatíveis. Ou seja, poderão ser inconciliáveis
mesmo no essencial (espírito da lei). Vai restringir-se um dos preceitos a ponto de, eventualmente,

14
Introdução ao Direito

desaparecer. E este facto é lógico pois não será possível obedecer a ordens diferentes (preceitos
diferentes).

 Interpretação enunciativa
Vai consolidar-se o sentido das normas, no fundo, vai mais além das normas e do seu conteúdo.
Extraem-se algumas diretrizes/regras.

Lacunas – no fundo será sempre uma incompletude, uma falta ou falha (não há resposta a uma questão
jurídica especifica)

Distinção entre lacuna de lei e ordenamento jurídico.

O costume faz parte do ordenamento jurídico, então só podemos falar em lacuna quando não há, por
exemplo, costume aplicável. A lacuna na lei é preenchida com recurso a outros meios jurídicos que não só
outras leis.

Qual a solução?

1. Analogia
O fundamento do recurso à analogia é o de que, se uma norma dispõe de certa maneira para um
caso, será natural que um caso idêntico não regulado por qualquer norma seja resolvido da mesma
forma que o primeiro;
Dois tipos de analogia:
 Legis – uma só disposição, vai ser o termo de comparação
 Iuris – várias disposições vão servir para encontrar solução para o caso omisso
E se a analogia não for suficiente?

Artª10/3 CC – adoção de norma que o intérprete criaria se houvesse de legislar dentro do espirito do
sistema

Diferença entre Analogia e Interpretação Extensiva?

A interpretação extensiva baseia-se no plano teórico, na possibilidade de referir um certo caso não
expressamente considerado pela letra da lei ao seu pensamento. Diferencia-se da analogia na
medida em que o caso real é meramente semelhante aos casos previstos pela lei, sem, no entanto,
ter sido pensado por ela.

2. Adoção de norma que o interprete criaria se houvesse de legislar

Os atos jurídicos assim como “nascem”, e ao logo de toda a sua vida, podem sofrer várias alterações e
chegar-se-á a um ponto em que “morrem”. O mesmo acontece com as próprias leis.

São relevantes três modalidades de costume: secundum legem, praeter legem e contra legem.

Para que o costume seja relevante na sociedade, não é necessária a consagração legal do mesmo, dado que
isso pressuporia uma subordinação do costume à lei que não se verifica. O costume só deixa de vigorar
quando desaparece algum dos seus elementos ou quando se forma um costume contrário. Ao contrário da
lei, que pode ser eficaz ou ineficaz, o costume só pode ser eficaz, dado que se for ineficaz, deixa de ser
costume. De acordo com a forma como o costume se relaciona com a lei, este pode ser secundum legem,
praeter legem e contra legem.

15
Introdução ao Direito

 Costume secundum legem – a regra consuetudinária coincide com a regra geral. Há uma coincidência
entre a lei e o costume, pelo que o costume realiza apenas uma função declarativa da lei.
 Costume praeter legem – o costume complementa a lei, ou seja, vai para além daquilo que esta
dispõe. Há uma complementaridade do costume perante a lei fazendo dele uma nova fonte de
direito.
 Costume contra legem – é o costume que contraria a lei, havendo entre ambos uma relação de
oposição. O costume contra legem implica a cessação da vigência da lei e pode formar-se de forma
consciente ou inconsciente. Este costume não deve ser confundido com desuso. Em caso de desuso,
verifica-se apenas a não aplicação de uma regra, sem que nada se construa em alternativa à regra
geral. Quanto maior for a relevância concedida à lei, menor será a importância dada ao costume, e
vice-versa. Pode dar-se o caso de a lei extinguir ou fazer cessar o costume (art 1401º CC) ou até
proibi-lo (art 1718º CC). A lei pode, também, reconhecer o costume e fornecer-lhe um título legal. Há
certas áreas do ordenamento jurídico português em que, por haver uma reserva constitucional da
lei, só pode aceitar-se o costume como fonte de direito depois de se constituir um costume contrário
às disposições constitucionais, p.e., criação de impostos ou restrições aos direitos, liberdades e
garantias. O costume jurisprudencial é, também, uma fonte de direito. Daí decorre que necessita
também dos prossupostos supramencionados: uso e convicção da juridicidade.

Aplicação da Lei no tempo

 Uma lei revoga a lei anterior.

Problema: Eficácia da Lei nova

Então:

A regra aplicar-se-á, sem problemas, a situações evidentes. Todavia, podem ocorrer casos de limite em que
teremos de recorrer a alguns critérios específicos (disposições transitórias). Porém estes não são únicos,
existem os princípios gerais. Então, como regra temos que a lei só dispõe para o futuro, isto é, não vai afetar
situações passadas. Por outras palavras, não vai implicar modificações nas situações jurídicas que se
concluíram no passado. Há algumas exceções ao princípio da irretroatividade da Lei.

Exemplo de retroatividade: A lei penal de conteúdo mais favorável ao arguido.

Exemplo de irretroatividade: Situações que, apesar de se terem constituído no passado, ainda continuam no
presente, por exemplo, o pagamento da pensão de alimentos.

A regra aplicar-se-á, sem problemas, a situações evidentes. Todavia, podem ocorrer casos de limite em que
teremos de recorrer a alguns critérios específicos ( disposições transitórias - isto é, o próprio legislador acaba
por resolver)

Porém estes não são únicos, existem os princípios gerais.

Sendo regra geral o princípio da irretroatividade, se uma lei nova é retroativa teremos:

 Retroatividade em sentido próprio: é a situação mais gravosa ma medida em que a lei nova vai atuar
diretamente sobre o passado (a factos/situações já totalmente produzidos).
 Retroatividade: lei nova aplica-se a situações que, apesar de terem sido constituídas no passado, têm
reflexo ou continuam no presente e é neste momento então que se vai refletir.
 Retroatividade para casos julgados: inconstitucional.

16
Introdução ao Direito

Existe algum critério que nos ajude a determinar se a lei nova se aplica retroativamente a certas situações?
Sim, o critério é dado doutrinariamente. Salientemos as mais importantes soluções:

 Teoria dos direitos adquiridos de Savigny: direitos constituídos/adquiridos à sombra de uma lei não
podem ser afetados, direito adquirido (que já se consolidou) é distinto de uma mera expectativa (não
tutelável (Não se consolidou-ainda é uma mera esperança))
 Teoria do facto passado: “o tempo rege o facto” – certo acontecimento juridicamente relevante
ocorreu num determinado momento, logo, deve ser regido pelas normas de direito em vigor nesse
momento (em que o facto se produziu). Corolários:
 são inalteráveis os efeitos já produzidos ou os que se estão a produzir (dado que estes se
constituíram à luz da antiga lei). Então, é relevante qualificar os próprios efeitos (isto é, os efeitos
produziram- -se num determinado momento e deve dar-se a eles o seguinte “valor”):
 extintos (realizados totalmente no passado sob égide a lei anterior isto é, surgiram e resolveram-se
no passado e acabou) vg: obrigações cumpridas.
 pendentes – a situação gerou-se no passado, mas estão ainda em curso (vg: aumento da pensão de
alimentos).
 futuros – os que ainda não se produziram, mas podem ser consequência de ato passado. Ex.
condição suspensiva.
Crítica a esta teoria:

 é excessiva na sua aplicação “cega” do princípio da retroatividade, ou melhor na aplicação da lei


antiga;
 incompreensível manter certos factos sob regulação da lei antiga que pode já estar
completamente desajustada às novas realidades;
 inconveniente e pode gerar situações injustas.

Solução adotada: situações jurídicas de execução instantânea e de execução duradoura.

execução instantânea - Esgotam-se num só momento ou num período ficam concluídas e se é colocada
alguma questão com elas relacionada, deve aplicar-se a lei antiga porque se a ação ocorreu e se se resolveu
no passado não havendo outra lei, é de acordo com a antiga que as partes (por exemplo) pautaram a sua
conduta.

execução duradoura - Podem ter a sua sede no passado mas não se concluem, elas perduram no tempo e,
como tal, podem confrontar-se com uma lei nova (execução periódica ou continuada). Então que fazer?

 Em situações passadas regulam-se pela lei antiga (vg: efeitos já produzidos) – as rendas devem ser
pagas antes da atualização do seu valor.
 Novas - pela lei nova. org: quando da atualização das rendas, paga-se mais mas só para o futuro.
´

Do exposto, o que diz o C.C.? artº 12º

Regra do nº 1, I parte

1º - Princípio geral: a lei só dispõe para o futuro (princípio da irretroatividade).

2º - artº 12º/1, II parte in initio – admite exceção: a lei pode ser retroativa (quando o legislador o
determinar).

17
Introdução ao Direito

Casos:

 efeitos pendentes (porque estão na fronteira)


 nunca aos extintos (só em casos extremos)

3º - no entanto, ainda na situação anterior, ressalvam-se os efeitos já produzidos (artº 12º/1 II parte in fine)

4º - artº 12º/2, II parte – reafirma o princípio da irretroatividade (em caso de dúvida)

5º - artº 12º/2 II parte – aqui refere-se às situações de execução duradoura/continuada ou periódica.

Nota: já dissemos que a lei interpretativa é retroativa! Artº 13º.

Casos de inconstitucionalidade de Leis retroativas

Regra: pode

Limite: inconstitucionalidade

 Leis restritivas de direitos. Liberdade e garantias;


 Lei criminal, mais desfavorável ao arguido;
 o Segundo o T. C. quando a retroatividade implique violação de normas ou princípios constitucionais.

Aplicação da Lei no espaço

Não poderemos afirmar com correção que a lei de um Estado é aplicada cegamente a todas as situações que
ocorrem no seu território.

Estamos então perante o problema da aplicação da lei no espaço.

Não podendo então o Estado reconhecer a Lei como única válida, há que reconhecer o princípio do
reconhecimento da lei estrangeira (artº 8º CRP). Este será a concretização da ideia de que os Estados não são
entes isolados e mais, poderão existir situações a regular – conflitos plurilocalizados, isto é, que estejam em
contacto com mais que um ordenamento jurídico. Então como resolver? Qual a Lei aplicável?

Recorrendo às regras de Direito Internacional Privado.

Evolução histórica

Então como funciona o Direito Privado?

Há a distinguir dois tipos de normas:

 Normas de conflitos ou remissão (ajudam a resolver o problema de qual lei aplicável). (Artº 16º e SS)
 Normas de Direito material (qual a lei/norma efetivamente aplicável). (C.C. disperso ou outra
legislação estrangeira)

Nota: não é por regular conflitos plurilocalizados que o DIP (Direito Internacional Público) vai perder a sua
qualidade de Direito Privado.

Quando se conclui que é aplicável o Direito material estrangeiro, não o poderemos aplicar de modo ilimitado,
por exemplo, este não pode perturbar moral/bons costumes, normas imperativas do ordenamento jurídico
português.

Ideal seria a existência de uma Lei única e universal.

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Introdução ao Direito

Regras:

a) o Direito estrangeiro vale na ordem jurídica portuguesa somente nos casos que o legislador o admita;

b) normas estrangeiras escolhidas serão somente as que regulam a situação específica alvo de conflito;

c) lei estrangeira é, todavia, interpretada de acordo com o sistema estrangeiro (artº 23º CC);

d) não falar em reenvio (não está muito correto o que aqui consta), ver arts 17º, 18º e 19º do CC;

e) quando a Lei estrangeira remete para a lei portuguesa deve aceitar-se este reenvio (artº 18º);

f) para evitar este tipo de situações as partes podem antes escolher a lei aplicável (com os devidos limites)
artº 405º do CC;

g) não se pode tutelar a escolha de um ordenamento que ajude a contornar uma proibição à lei portuguesa –
fraude à lei – (artº 21º do CC);

h) não pode haver ofensa dos princípios fundamentais da ordem pública internacional do Estado Português
(artº 22º/1 do CC);

i) como há remissão para ordenamentos jurídicos plurilegislativos, isto é, com sistemas legislativos
divergentes (ex: Estados federais regionalizados como EUA ou Espanha), a solução passará por atender à
legislação unitária (ou seja, comum). Por outras palavras, atender-se-á às normas que resolvem conflitos
plurilocalizados (nesse país em causa) - artº 20º do CC;

O que “diz” a lei portuguesa?

 Artº 25º (casamento, parentesco, …)


Basicamente situações familiares
Lei da Nacionalidade (artº 31º)
 Artº 35º - 40º: negócios jurídicos (normalmente local de celebração do ato)
 Obrigações provenientes de negócio jurídico artº 41º - 45º - lei designada pelas partes – autonomia
privada - local onde se encontram (Lex rei sitae)
 Família (Artº 49º - 61º) - relação entre cônjuges – (1 – lei nacional comum; 2 – residência comum; 3 –
lei que se ache mais estreitamente ligada) / filiação - lei pessoal do progenitor - relações entre pais e
filhos (– lei nacional comum; – lei da residência habitual comum; – lei pessoal do filho)
 Sucessões (artº 62º - 65º) - lei pessoal ao tempo do falecimento.

Ato Ilícito

Nem todo o ato juridicamente relevante tem de ser ilícito, nem tão pouco todo o ato é juridicamente
relevante. Assim, o legislador pode preocupar-se quer com atos lícitos (em conformidade/não ofensivos de
determinadas normas) quer com ilícitos (desconformes com determinadas normas).

Pode então perguntar-se:

 Quais as consequências de um ato jurídico lícito? Podem prever-se certos benefícios/vantagens,


exemplo: benefícios fiscais
 E qual a consequência para os atos ilícitos? Normalmente sanções.

19
Introdução ao Direito

Para os ilícitos o legislador pode tomar algumas medidas:

 Carácter preventivo (interdição, inabilitação …);


 Carácter repressivo (sanções)

Chama-se ato ilícito precisamente porque implica efeitos jurídicos. É sempre um ato reprovável.

Atos Ilícito (3 tipos)

 Civil - violação de normas de um dever jurídico (normalmente regras de direito civil);


Consequência: indemnização (em tribunal civil);
- Normalmente está sempre presente pois, normalmente, quem pratica um ilícito criminal, comete
também um ilícito civil;
- Acaba por ser então qualificado como ilícito civil.
 Criminal - violação de normas de Direito penal;
Prática de um crime (expressamente qualificado como tal na lei);
Consequência: aplicação de pena ou medida de segurança;
- Normalmente comporta também ilícito civil;
- Sentimento de reprovação é maior na qualificação de crime (é mais gravoso);
Acaba por ser denominado crime.

 Disciplinar – significará violação de algum dos deveres inerentes à sua função. (ex: desrespeito pela
hierarquia, violação dos deveres de respeito)
- É um processo autónomo pois é difícil tipificar (qualificar) todos os tipos de ilícito disciplinar;
- Sanção: variável;
Acaba por ser denominado infração disciplinar.

Podem cumular-se e combinar-se estas três modalidades.

Meios de defesa da ordem jurídica

 Preventivos – afastam perigo, atuam antes de se concretizar a ofensa (Vg: inimputáveis (tanto na lei
civil como na penal), arresto, internamento);
 Repressivos/Reparadores – supõem que a ofensa já se concretizou.
Então que fazer?
 Restituição ou Reconstituição natural (Artº 566º/1);
(restabelecimento da situação tal como estava antes)
“reparação in natura” (1. entregar uma coisa; 2. realização de um facto positivo ou negativo.)
 Indemnizar;
(Compensação (não punição) dos danos/prejuízos, quer efetivamente causados, quer os
reflexos)
 Aplicação de uma pena
(Verdadeiro castigo porque se infringe um outro mal ao infrator, mal esse que pode até ser
superior ao que ele provocou)
Prisão ou multa;

Atenção que uma pena não tem de ser sempre criminal!

20
Introdução ao Direito

 pena criminal para os crimes;


 pena disciplinar para as infrações disciplinares;
 penas civis.

Medidas compulsórias

Visam obrigar, psicologicamente, o faltoso a cumprir. Exemplos:

- direito de retenção de um carro numa oficina por não pagamento do arranjo;


- acréscimo no pagamento (juro de mora)

No fundo acabam por ser um meio preventivo e não propriamente uma sanção, mas é discutível.

Formas de Justiça: privada, pública e arbitral

Os órgãos policiais previnem e colaboram na repressão como meio de concretizar coativamente o Direito,
mas tal não é suficiente, então é necessário procurar-se a Justiça.

Em tempos recuados, a justiça seria sob a forma de vindicta privada, isto é, justiça privada ou autotutela.
Cada um atuava pelas próprias mãos, segundo a lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”,
eventualmente excedia-se este limite, e a justiça privada revestia carácter mais gravoso – vingança. Acontecia
até que, para vingar um membro de um grupo, punir-se-ia um outro elemento do grupo onde se inseria o
agente que ofendeu. Esta situação implicava uma série de vinganças em “cascata”. Eventualmente poderia
ter como vantagens a celeridade no processo punitivo, mas, além da desvantagem acima referida implicaria
um estado de rebelião, quase como que obrigando a uma nova violação da paz. Óbvio que estes modos de
justiça privada são, atualmente, proibidos, caso contrário era desnecessária a existência de órgãos estaduais
para promover a justiça. No entanto, este não deve ser encarado como um princípio universal. Admitem-se
exceções, principalmente pela impossibilidade de recorrer, em tempo útil, aos meios coercivos normais.

A regra consta no artº 1º CPC “Ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio
direito, salvo nos casos* e dentro dos limites declarados na lei”

*Estes casos, na lei civil, estão nos arts 336º - 339º:

 Estado de necessidade (artº 339º)


- Não pressupõe uma violação
 Ação direta (artº 336º)
- Alguém realiza pelas suas próprias mãos o seu direito, a fim de evitar a inutilização prática do
mesmo (há risco de não ser exercido/assegurado);
- Não exige atualidade;
- Impossibilidade de recurso aos meios coercivos normais.
 Legítima defesa (artº 337º)
- Só há legítima defesa quanto a comportamentos humanos;
- Importante que os prejuízos causados não sejam superiores aos que resultariam se não houvesse
legítima defesa.

A par da justiça privada, existe a justiça levada a cabo pelas autoridades competentes - Órgãos públicos
encarregues da administração da justiça.

 Os tribunais (artº202º CRP) + CPC)


 Órgãos de Soberania (a par do PR; AR e Gov (artº 110º CRP))

21
Introdução ao Direito

Todos e só os tribunais portugueses? Não, pode reconhecer-se eficácia às sentenças emitidas pelos tribunais
estrangeiros através de Revisão + confirmação (só de aspetos formais)

 Tribunais eclesiásticos (questões do casamento) arts 1587º e 1588º.

Também existem tribunais arbitrais – a justiça arbitral.

 Envolve renúncia a recursos


 Não se situam na hierarquia dos tribunais (logo não são órgãos públicos nem propriamente privados)
 Vale tal como as decisões dos tribunais;
 Cabe aos interessados a escolha dos juízes (árbitros que não têm de ser juízes de carreira, pode até
ser um perito de seguros escolhido pelas partes)

Hierarquia / Disposição / Tipos de Tribunais

Acima de todos, num estatuto distinto está o Tribunal Constitucional.

 Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal de 1ª Instância ou 2ª Instância (Relação)


Estes podem ter secções especializadas:
 Criminal
 Família
 Menores
 Etc
 Supremo Tribunal Administrativo e demais Tribunais administrativos e fiscais
 Tribunal de Contas (artº 209º).

Divisão Judicial:

 Distrito
 Círculo
 Comarca

Modalidades de Processo Civil (atos em juízo)

Quanto ao fim (artº 4º CRC):

 Declarativo (obter sentença)


 Apreciação (reconhecer a existência de um direito)
 Condenação
 Constituição
 modificação (separação de pessoas e bens, adoção …)
 constituição (pretende-se um novo efeito)
 extinção (casamento, divórcio)
 Executivo
Normalmente tem por base uma sentença condenatória prévia. (reparação efetiva de um direito
violado)

Característica das Normas Jurídicas

22
Introdução ao Direito

 Bilateralidade
Uma norma jurídica terá sempre de ser encarada sob duas perspetivas: encerra direitos e os
correlativos deveres (do lado oposto); por outro lado, como que terá dois destinatários – o sujeito de
um dever e o titular do respetivo direito.
 Generalidade
Uma norma não vai atender às características / situações individuais (de indivíduos específicos) mas
atender a um grupo generalizado de indivíduos (que terão certas características).
Aplica-se indistintamente aos indivíduos que compõem o grupo. Assim, se estivermos perante uma
“norma” individualizada e concreta não poderemos considerá-la como norma pois não tem esta
característica da generalidade – é simplesmente um comando.
Facilita a igualdade de tratamento, caso contrário privilegiar-se-iam soluções que poderiam não ser
justas.

 Imperatividade
A um dos sujeitos impõe-se um dever, o direito não limita a registar factos nem regular situações, ele
impõe normas.
Aparentemente os preceitos não são imperativos, mas se analisarmos atentamente, concluímos que
eles encerram sempre uma obrigação/ regra.
 Coercibilidade
Suscetibilidade de recurso à força para fazer valer um direito ou em caso da sua inobservância.
Todavia, há quem entenda que esta não é característica própria da norma jurídica.
Argumentos:
 O Direito não pode ser imposto pela força, mas tem de ser observado espontaneamente.
Afirmam alguns autores, então, que a coação é uma característica excecional logo, não é
“essência do Direito” (palavras de Galvão Telles). No entanto, este argumento não procede
porque o indivíduo, ao concretizar a ideia de que pode sofrer consequências do não
acatamento, sente-se impelido a respeitar / atuar em conformidade.
 Frequentemente, o uso da força é insuficiente para repor a situação anterior.

Contra-argumentos:

 mesmo sendo insuficiente é melhor que não haver nada que reprove. No mínimo, haverá
reprovação daquele comportamento. Também não importa que, na prática, se consiga repor
totalmente a situação anterior, pois, pelo menos, há aptidão ou possibilidade de o fazer, isto
é, restabelecer a ordem jurídica violada.

Importante é a tendência para a coação: Não há coação contra o Estado

 Hipoteticidade e abstração
Uma norma prevê uma potencial situação, por isso se diz hipotética.

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