Você está na página 1de 8

1.

NOÇÕES DE DIREITO
1.1 SIGNIFICADO ETIMOLÓGICO DO DIREITO
1.2 CONCEITO DE DIREITO
1.3 O HOMEM A SOCIEDADE E O DIREITO
1.4 O DIREITO A PARTIR DE DIVERSAS ORDENS NORMATIVAS

O Direito é um fenómeno humano, ou seja, não é um fenómeno da Natureza; é criado por


seres humanos para humanos, assim sendo, o destinatário (da norma) é sempre o ser humano.
“Coisas e animais podem ser contemplados pelo Direito como objecto, mas não se relacionam em
termos de Direito, nem o Direito estabelece para eles regras de condutas. Há, sim, regras sobre
condutas humanas referentes a coisas ou animais” (ex.: direito dos animais). Assim, o direito é feito
para o Homem ou personalidade jurídica.
O Direito é um fenómeno social, destinado ao Homem relacionado com asociedade, pois a
sociabilidade é uma determinante da natureza humana, o que justifica dizer que o homem é um animal
social (“viver é necessariamente conviver- Oliveira Ascensão). Não se dirige a ele isolado, mas sim às
relações entre seres humanos no contexto de sociedade.

1.1 SIGNIFICADO ETIMOLÓGICO DO DIREITO

Buscando a origem etimológica do termo Direito, urge a necessidade de inserir o


Direito objectivo assim como o Direito subjectivo, ambos expressos em latim, Ius, Iuris e
Directus, Directum.
A palavra Ius tem os seus derivados em língua portuguesa com o significado de Justo,
Justiça, juiz, jurídico, jurisprudência... Já por sua vez a palavra Directum, passou para a
língua portuguesa com o significado de Direito.
Assim a palavra direito significa directo, que tem a ver com quem segue uma conduta
indeclinável, com procedimentos rectos e honestos conforme ditam as normas. Em outras
línguas a palavra Direito tem várias grafias Derecho em espanhol, Diritto em italiano, Drech
em provençal, Dreptu em romeno, Droit em francês, Pravo em russo, Rait em címbrio, Raiths
em gótico, Rect em irlandês antigo, Reacht em irlandês moderno, Recht em alemão, Ret em
escandinavo e Right em inglês.
Vejamos o significado de “lei”, a partir de sua etimologia:

• do verbo latino legere, que significa “ler” – norma escrita, que se lê, em oposição às
normas costumeiras, que não são escritas.

• ligare, que significa “ligar”, “obrigar”, “vincular”. A lei obriga ou liga a pessoa a uma
certa maneira de agir .

• Eligere, que significa “eleger”, escolher, porque a lei é a norma escolhida pelo legislador
como o melhor preceito para dirigir a atividade humana.

Em suas origens, a palavra “lei” está ligada ao conceito de norma do comportamento humano,
isto é, à lei ética, moral ou humana e, especialmente, à lei jurídica. Mas há outra acepção do
vocábulo – leis físicas ou naturais. Ex.: Lei da gravidade, lei da propagação do som, etc. Todas,
porém, são “leis da natureza” e podem ser físicas ou morais. A lei física é o curso de todos os
fenômenos físicos da natureza e a lei moral é a regra das acções humanas. Assim,
vislumbramos numa ordem de generalidade decrescente, os três sentidos da palavra “lei”:

• A lei em sentido universal, ou lei cósmica, que se aplica a todos os setores da natureza;
• A lei humana, ética, ou moral, que regulam o uso e o abuso de liberdade (respeito àdignidade
humana, dever de não mentir, solidariedade, etc.);
• A lei jurídica, constituída pelas normas de conduta impostas pela autoridade social
.O vocábulo “lei jurídica”, em sentido amplo, abrange todas as normas jurídicas – a lei escrita,
o costume jurídico, a jurisprudência, etc.

Como definir a lei em sentido jurídico?


Existem três acepções diferentes do termo “lei” no campo do direito:
• Em sentido amplíssimo, como sinônimo de norma jurídica, incluindo quaisquer regras
escritas ou costumeiras;
• Em sentido amplo, a palavra lei ou legislação é empregada para indicar quaisquer normas
jurídicas escritas, sejam as leis propriamente ditas, oriundas do Poder Legislativo, sejam elas
decretos, medidas provisórias, regulamentos, resoluções, portarias ou outras normas baixadas
pelo Poder Executivo;
• E, em sentido estrito ou próprio, “lei” é apenas a norma jurídica aprovada regularmente pelo
Poder Legislativo; poder competente, conforme alguns autores.
1.2 CONCEITO DE DIREITO

O termo Direito apresenta vários significados e tem estado a ser usado com ambiguidade em
diversas definições.
Na primeira acepção de sentido normativo, o Direito é o conjunto ou sistema de normas e
princípios jurídicos; é no fundo o ordenamento jurídico que regula a vida em sociedade e
determina o seu modo de ser e de funcionar.

De acordo com Paulo Dourado de Gusmão, Direito é um "conjunto de normas executáveis


coercitivamente, reconhecidas ou estabelecidas e aplicadas por órgãos institucionalizados". O
Direito é um conjunto de normas e conduta social, estabelecida em vista da justiça, da paz e
do bem comum, datadas de generalidade, e impostas pela força quando é possível.

Podemos também perceber o Direito como um conjunto de regras, normas e princípios que
regulam o comportamento ou conduta duma sociedade.

Ainda pode-se incluir o conceito de Paulo Nader, que diz que Direito é um "conjunto de
normas de conduta social, imposto coercitivamente pelo Estado, para realização de segurança,
segundo critérios de justiça".

Hans Kelsen, define Direito como "um conjunto de regras que possui o tipo de unidade que
entendemos por sistema". Já Wilson Campos de Souza Batalha, afirma que Direito é um
"conjunto de comandos, disciplinando a vida externa e relacional dos homens, bilaterais,
imperativo atributiva, dotado de validade, eficácia e coercibilidade, que tem o sentido de
realizar os valores da justiça, segurança e bem comum, em uma sociedade organizada".

Partindo do conceito polissémico, existem, porém, duas acepções fundamentais do termo


Direito que se dividem em sentidos diferentes:
1- O Direito em sentido objetivo: são conjuntos de normas jurídicas estabelecidas
pelo Estado, é considerado como conjunto de regras jurídicas obrigatórias. São
leis que devem ser obedecidas por todos os homens que vivem em sociedade.
2- O Direito em sentido subjetivo: Em termos jurídicos podemos dizer que é a lei
da vontade, é a faculdade ou o poder atribuído pela ordem jurídica a um indivíduo
de exigir livremente de outrem uma conduta ou comportamento adequado ou
inadequado.

1.3 O HOMEM A SOCIEDADE E O DIREITO

Conhecer o Direito não interessa apenas aos juízes, aos advogados, aos juristas em geral, mas
sim, interessa à todas as pessoas dentro duma terminada sociedade.

O homem é a mais ligeira observação nula, assim mostra que, não é totalmente bom, como
apresentam alguns pensadores autópticos nem totalmente mau como descrevem alguns
especialistas, mas sim é um misto, bom e mau; embora assim tenha força capaz mediante a
um impulso de vontade esclarecida; evitar o mal e praticar o bem. E por outro lado quer física
quer espiritualmente ele precisa do seu semelhante sem o qual não pode viver.

Todavia alguns pensadores como Jahn Locke, Jean Jacque Rousseau e Thomas Hobbes
teorizaram acerca da existência de uma vida pré social do ser humano, a que chamaram de
estado de natureza em que os homens viveram isolados e apartados dos seus semelhantes.

Os mesmos pensadores e alguns especialistas no desenvolvimento de suas teses defenderam


que o estado de natureza sessou e deu lugar ao chamado estado de sociedade.

Ocorrendo a tal transição devido ao um acordo ou contrato social em que os homens deliberam
associar-se obrigando a viver em conjunto e respeitarem-se reciprocamente, o que
proporcionou o aparecimento das primeiras sociedades organizadas. Assim Aristóteles
destacou esta verdade na sua célebre obra (a política) ‘’ o homem é um animal social ‘’, aí
quer dizer que viver é necessariamente conviver, o que já os Romanos defendiam ao
afirmarem UBI HOMO IBI SOCIETAS (onde existe homem existe sociedade). Contudo a
convivência em sociedade é possível existir através dum elemento mínimo de princípio ou
regras que pautam as condutas humanas pelo que a existência de normas capazes de definirem
um dado inerente a própria vida em sociedade.
O homem é naturalmente social porque só ele consegue desenvolver as capacidades de
conviver numa relação de entendimento com os outros. Na perspectiva de Aristóteles, o
homem é um animal político, que vem do latim: Politica=Polis,que quer dizer cidades; isto
nos dá a entender que para o homem assegurar a sua sobrevivência tem de viver
necessariamente em sociedade integrando-se em agrupamentos e cidades.

Partindo da teoria que diz ubi homo ibi societas, a convivência dos homens em sociedade
gera conflitos de interesses. Neste sentido, é necessário que exista uma ordem normativa ou
então um conjunto de normas que possam dirimir os conflitos provenientes desta convivência;
daí o aparecimento do Direito. Ubi societas ibi ius; pode-se chegar a uma conclusão que onde
existe homem existe o Direito.

1.4 O DIREITO A PARTIR DE DIVERSAS ORDENS NORMATIVAS

A convivência social do homem é um elemento permanente onde cada um procura sobreviver


e atingir os seus fins; nisto a sociedade necessita de regras ou de normas que visam
supervisionar a conduta de cada indivíduo podendo manter a paz, a justiça e a segurança no
intuito de evitar conflitos. A ordem é assim dado primário de observação sociológica, onde
toda a ordem social implica um complexo de ordens propostas a observação dos seus
membros.

Elementos das ordens normativas:


-Ordem religiosa
-Ordem moral
-Ordem de trato social
-Ordem jurídica

Ordem religiosa

A ordem religiosa é aquela que regula as relações que se estabelece entre o crente e Deus
ou deuses. O fundamento das normas religiosas é a própria divindade considerada como
um ser superior e perfeito. Trata-se de uma ordem normativa essencialmente intra-
individual, mas que tal como acontece a moral, se vai repercutir igualmente na vida social,
onde o comportamento dos crentes é considerado pelos seus valores religiosos; o não
cumprimento das normas religiosas leva a sanções de carácter extra terrenas.

A ordem religiosa é denominada por um sentimento de transcendência ao longo da


história consoante as épocas e lugares, tem variado as suas relevância na ordem social e
o modo de encarar as infracções religiosas. Actualmente, em certas sociedades de raíz não
ocidental como a muçulmana as normas religiosas têm ainda um carácter predominante.

Ordem moral

A ordem moral é a ordem da consciência é o mundo da conduta espontânea do


comportamento em si próprio. A sua razão de existir diz respeito a concepção do que é
obrigatório para a consciência de cada homem. É o conjunto de valores e regras que
definem o que é certo ou errado, permitido ou proibido em uma determinada sociedade,
esses concertos variam de cultura para cultura. Dessa forma o que é moral para um
indivíduo pode não ser para o outro, tratando-se de um valor pessoal construído por cada
um.

É uma ordem que visa o aprimoramento da pessoa dirigindo-se para o bem e


influenciando a organização social. Esta ordem caracteriza-se por um conjunto de valores
impostos aos homens pela sua própria consciência ética, de tal modo que, o não
cumprimento é sancionado pela reprovação.

Ordem do trato social

Esta ordem exprime-se através do seu uso social, e que podem ser das mais diversas da
natureza como os impostos pela cortesia ou etiqueta, possibilidade, moda, etc.,
cumprimentar os vizinhos, ajudar as pessoas mais velhas ou dar lugar nos transportes são
todas regras de trato social.

Todas essas regras são atribuídas a todos; são impessoais, consideradas para aquele meio
social como obrigatórias e se não forem cumpridas serão postas a diversas sanções, como
má impressão e afastamento do grupo social de quem faz parte.

Ordem jurídica
É a contraposição das ordens enumeradas, esta ocupa-se de todos os aspectos mais
importantes da convivência social.

A ordem jurídica surge com a evolução das normas referidas, e parte do princípio de que
“onde houver sociedade haverá direito” sendo assim, o direito visa uma ordem jurídica,
ou seja, regras que sejam aplicadas e cumpridas por todos os membros da sociedade em
geral, independentemente da religião, valores morais, etc.. É uma ordem normativa
intersubjectiva e assistida de coercibilidade material, que visa regular a vida do homem
em sociedade, conciliando os interesses do conflito.

Características das normas jurídicas

As normas jurídicas desempenham um papel especial como instrumento de ordenação


jurídica com características necessárias para a ordenação da vida social humana.

*Apresenta-se como uma necessidade, pois o homem é um ser social e nas suas diversas
relações com os seus semelhantes precisa de normas jurídicas para disciplinar o seu
comportamento, evitando os conflitos.

*Imperatividade: a norma jurídica impõe ou ordena certo comportamento; deve ser


cumprida, pois trata-se de um dever de uma obrigação.

*Coercibilidade: a norma deve ser cumprida, caso contrário serão aplicadas sanções
impostas por lei.

*Generalidade e Abstração: entende-se que a norma jurídica se refere a toda uma


categoria mais ou menos ampla de pessoas e não a destinatários seguramente
determinados; é abstrata porque respeita um número indeterminado de casos ou a uma
categoria mais ou menos ampla de situações e não a situações concretas ou
individualizadas.

BIBLIOGRAFIA
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado, 3ª edição, São Paulo: Matins Fontes,
1998.
ALZIRA, E, Freitas, M2017. Introdução ao direito Angola; porto editora.
Manual de apoio Compilado por; Mário Tuapita.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito, 23ª edição revista e atualizada, Rio de
Janeiro: Forense, 2003.
Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa, Introdução ao Estudo do Direito
profcarol.vargas@gmail.com

GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito, 32ª edição revista, Rio de
Janeiro: Forense, 2002.
SILVA DONO, s,j. 2013. Introdução ao Direito angolano angola; Escola Editora.

Você também pode gostar