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TEORIA DA NORMA

JURÍDICA

Profa. Denise Leal F. Albano Leopoldo


ETIMOLOGIA DA PALAVRA“NORMA”
 A palavra “norma” tem origem latina e, em sua origem, significava
esquadro.
 Os carpinteiros e pedreiros romanos cunharam a palavra norma
designadora de um esquadro. Esse instrumento é usado até hoje nas
construções onde é comum os operários medirem ângulos retos.
Normallis em latim, normal em português, é uma linha perpendicular a
outra formando um ângulo de 90º. (Disponível:
https://www.dicionarioetimologico.com.br/norma/ Acesso: 22/07/2023)

 Uma norma é, portanto, um modelo ou regra que deve ser respeitada e


que permite pautar ou orientar determinadas condutas ou atividades.
No âmbito jurídico, uma norma é um preceito jurídico, um comando
prescritivo.
ETIMOLOGIA DO TERMO “LEI”
 A palavra “lei” vem do latim lex.
 Há autores que afirmam decorrer do verbo legere (ler); para outros,
vem do verbo eligere (eleger, escolher); e, para outros tantos,
relaciona-se com o verbo ligare (ligar, vincular).
 Em grego diz-se nómos. Daí também ser comumente empregado o
termo norma ou norma legal como sinônimo de lei.
OBS: Por vezes, é empregado o termo “regra” como sinônimo de norma
ou lei , mas esse termo é mais comumente empregado para estipular
padrões ou parâmetros de natureza técnica que devem ser observados.
Ex: regras da ABNT.
ALGUMAS OUTRAS
DISTINÇÕES NECESSÁRIAS
➢Norma Preceito (ou Norma-regra) e Norma
Princípio

➢Norma de Conduta e Norma de Organização


Assim, muitos autores apresentam a
distinção entre:
I – Normas de Conduta

O objetivo imediato das normas de conduta é disciplinar o


comportamento dos indivíduos, ou as atividades dos grupos sociais em
geral. São consideradas, por muitos, como normas primárias, pelo fato de
que “enunciam as formas de ação ou comportamentos lícitos ou ilícitos”.

II – Normas de Organização
Possuem caráter instrumental, pois “visam à estrutura e funcionamento
de órgãos ou à disciplina de processos técnicos de identificação,
[modificação] e aplicação de normas, a fim de assegurar uma convivência
jurídica ordenada”. São chamadas de normas secundárias.
Já sobre norma-princípio,
Corresponde à norma jurídica que expressa um valor ou fim que o
ordenamento jurídico alberga.
Os princípios são considerados normas jurídicas e, assim como as
normas legais, tem força vinculante e eficácia imediata quando
contemplam direitos e garantias fundamentais.
Segundo Dworkin, as distinções entre princípios e regras podem ser
sintetizadas, no plano quantitativo, em:
a) os princípios são mais abstratos que as regras;
b) os princípios são mais gerais que as regras, e
c) os princípios permitem uma maior discricionariedade judicial do que as regras.
NATUREZA DA NORMA JURÍDICA

A natureza de algo corresponde a sua essência, a seu traço


distinguível, ou seja, àquilo que o individualiza e diferencia esse
objeto dos demais.
Arnaldo Vasconcelos aponta as principais teorias e seus
respectivos formuladores que buscam apontar a razão de ser, a
natureza da norma jurídica.
Primeiramente, as teorias que realçam o caráter imperativo das
normas jurídicas. No slide seguinte, segundo, Arnaldo
Vasconcelos, são elas:
A teoria do imperativo hipotético de León
Duguit

A teoria do imperativo independente de Karl


Olivecrona

A teoria do imperativo atributivo de Leon


Petrasizky

A da passagem do imperativo atributivo ao


imperativo autorizante de Telles Jr.
Agora, as teorias que defendem outras características da
norma jurídica como seu elemento identificador:
A norma como coatividade ou coação

A teoria do indicativismo de Zitelmann

Do juízo hipotético ao imperativismo despsicologizado de


Hans Kelsen

A norma como juízo disjuntivo de Carlos Cossio

A norma como juízo trivalente de Miguel Reale


CONTEÚDO DA NORMA JURÍDICA

“A norma, disse o jurisconsulto Paulo, é elaborada com base no


Direito, existente por si mesmo. Não é Direito, mas contém Direito,
no sentido de enunciá-lo e de veiculá-lo. Por isso, só se forma
Direito a partir de uma norma que o preveja. Com a norma,
fórmula ou forma, faz o Direito previsto, e apenas esse.”
(VASCONCELOS)

“Norma jurídica é a formulação técnica de um esquema construído


conforme uma valoração de Justiça dada pelo legislador a um
problema histórico concreto.”(TORANZO apud VASCONCELOS)
DEFINIÇÕES

Em sentido amplo – É o direito escrito emanado do Estado,


respeitado um processo regular de criação.

Em sentido estrito – Além de ser um preceito comum e


obrigatório criado pela autoridade competente a partir de
um devido processo legislativo, deve emanar do Poder
Legislativo.
REQUISITOS

Requisitos formais: forma escrita, criada pelo poder


competente, respeito ao devido processo legislativo.

Requisitos materiais: conteúdo geral ligado ao bem-


comum e conforme valores constitucionais.
CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS JURÍDICAS
(NA PERSPECTIVA TRADICIONAL)

Bilateralidade
Imperatividade
Generalidade
 Abstratividade
Coercibilidade
A QUESTÃO DA BILATERALIDADE E
IMPERATIVIDADE DA NORMA

A bilateralidade está relacionada à ideia de que as normas


existem para regular relações intersubjetivas. Não há razão
de existir norma jurídica para reger a vida do ser humano
em completo isolamento.
Já a imperatividade corresponde à ideia de que a norma
jurídica é um comando, ou seja, vincula com autoridade,
não se constituindo em uma mera recomendação ou
conselho.
A BILATERALIDADE ATRIBUTIVA DE
MIGUEL REALE
A norma jurídica incide quando duas ou mais pessoas se
relacionam segundo uma proporção objetiva que as autoriza a
pretender ou a fazer garantidamente algo.
Assim a norma jurídica sempre irá pressupor a existência de um:

Sujeito jurídico ativo Sujeito jurídico passivo

Titular do direito protegido na Quem se obriga a um dever ou


norma jurídica obrigação em face de uma norma
A IMPERATIVIDADE AUTORIZANTE DE
GOFFREDO TELLES JR.

 A norma jurídica é um autorizamento ou permissão para


que o lesado busque recompor o seu direito violado, ou
seja, ela concede autorização para que a pessoa lesada
exija o seu cumprimento.
 Para esse autor, portanto, a possibilidade de reação diante
da violação da norma jurídica reforça o seu caráter
imperativo, sendo contingente a coação.
A QUESTÃO DA GENERALIDADE DA
NORMA JURÍDICA
Em regra, as normas jurídicas são criadas para incidir sobre o
maior número de pessoas, para vincular todos os seus
destinatários.
A fim de atingir o maior número de casos que se busca
estabelecer uma regra a ser respeitada, a norma jurídica não deve
se deter em minúcias, ou seja, deve ser evitado o casuísmo.

ATENÇÃO: As especificidades do caso podem ser consideradas,


analisadas e sopesadas pelo julgador, nos limites que a ordem
jurídica permite.
A QUESTÃO DA ABSTRATIVIDADE DA
NORMA JURÍDICA
Também, em regra, as normas jurídicas regulam situações
consideradas hipoteticamente, abstratamente.
Nesse sentido, a norma jurídica não deve ser criada para regular um
caso concreto, individualizado, especificamente identificado. Em
regra e quase sempre, a norma é editada considerando casos de
ocorrência possível conforme uma certa regularidade e constância.
OBS: Nisso, nosso sistema jurídico se distingue do sistema do common
law, onde o direito provém principalmente do julgamento de casos
particulares, da análise e valoração de casos específicos que irão
constituir os precedentes para que novos casos semelhantes sejam
julgados conforme os mesmos.
A QUESTÃO DA COERCIBILIDADE DA
NORMA
 A coercibilidade também está relacionada à ideia de que as normas jurídicas
expressam um comando, uma ordem, e essa característica é reforçada pela
ideia de que é possível empregar até a força em caso de violação à norma
jurídica.
 A coercibilidade não se confunde com coercitividade, pois a primeira é a
ameaça de força (expressa na sanção) em potência, enquanto a segunda é a
sanção em ato, quando se concretiza.
ATENÇAO! Força não é sinônimo de violência. Quando o juiz determina a prisão
de alguém que não pagou pensão alimentícia, ou o sequestro dos bens de um
acusado, ou quando o policial impede um crime atingindo quem ameaça
pessoas com arma em punho, tem-se o emprego da força, que é a “violência”
legalmente autorizada, nos estritos limites da lei.
CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS
JURÍDICAS
(NA PERSPECTIVA DE PAOLO GROSSI)
Humanidade
Socialidade
 Historicidade
 Consensualidade
O QUE AS NORMAS JURÍDICAS
ENUNCIAM

O que caracteriza “uma norma jurídica, de qualquer espécie, é o


fato de ser uma estrutura proposicional enunciativa de uma
forma de organização ou de conduta, que deve ser seguida de
maneira objetiva e obrigatória” (REALE).

Miguel Reale registra, ainda, que “uma norma jurídica enuncia


um dever ser porque nenhuma regra descreve algo que é,
mesmo quando para facilidade de expressão [emprega-se] o
verbo ser”.
JUÍZO HIPOTÉTICO DE KELSEN
O esquema proposto por Kelsen para a norma jurídica é:

- Se F é, deve ser C -
O esquema é constituído por duas partes, denominadas pelo
jurista austríaco de norma secundária (Se F é...) e norma
primária (...deve ser C). Ou seja, o enunciado é a norma
secundária, enquanto a sanção é a norma primária.
OBS: A
NÃO APLICAÇÃO DA ESTRUTURA LÓGICA
KELSENIANA A TODAS AS ESPÉCIES DE NORMAS

Não se pode aplicar a concepção formalista do Direito de Kelsen (Se


F é, deve ser C) a toda e qualquer norma jurídica, pois em algumas
delas não se pode vislumbrar qualquer relação condicional ou
hipotética. Exemplos:
Art. 18, § 1º, CF/88: Brasília é a Capital Federal.
Art. 1º, CC: Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
Art. 327, CP: Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,
embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública.
Portanto, o juízo hipotético de Kelsen não se estende a
todas as espécies de normas. Exemplos:
- aquelas que dispõem sobre a organização dos Poderes do
Estado,
- as que estruturam órgãos e distribuem competências e
atribuições,
- as que disciplinam a identificação, modificação e aplicação
de outras normas” (e que seriam as normas de organização).
A SUPERAÇÃO DA DISTINÇÃO ENTRE
NORMAS PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS
➢ Ihering já fazia essa distinção, no séc. XIX, ao se referir às
normas que estabelecem o que deve ou não ser feito, e àquelas
outras que se destinam aos órgãos do Poder Judiciário ou
Executivo, para assegurar o [cumprimento] das primeiras, na
hipótese de sua violação.
➢ Bobbio considera inconveniente a distinção entre normas
primárias e secundárias por acarretar duas acepções:
- cronológica: indicando precedência no tempo;
- axiológica: significando preferência valorativa.
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto. Teoria da Norma Jurídica. Trad. Fernando Pavan Baptista e
Ariani Bueno Sudatti. 3. ed. Bauru-SP: Edipro, 2005.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 21. ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.
FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão,
dominação. São Paulo: Atlas, 2004.
KELSEN. Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. João Baptista Machado. 8. ed. São
Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1992.
VASCONCELOS, Arnaldo. Teoria da Norma Jurídica. 6. ed. São Paulo: Malheiros,
2006.

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