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EMENTA: Técnica Processual e Ciência Processual; Estado e Tutela Jurisdicional;

Princípios Constitucionais do Processo; O ciclo histórico da ação, jurisdição e Processo;


A norma processual; Processo e procedimento; Conceitos de ação, pretensão e pedido;

Atos processuais; Prova; Competência; Ministério Público e Advocacia Pública e Parti-


cular: noções.

OBJETIVOS: Propiciar ao aluno o acesso às teorias do processo, da ação e da


jurisdição, de forma a que o bacharelando possa analisar, comparar, distinguir e ma-
nejar os conceitos atinentes à Teoria Geral do Processo. Além disso, pretende-se ofe-
recer, mediante a utilização de textos clássicos e das próprias discussões desenvolvidas
ao longo das aulas, a possibilidade de reconstrução crítica dos enfoques tradicionais

da Ciência do Processo, com a reinterpretação de seus institutos e o alinhamento dos


mesmos ao paradigma jurídico-constitucional do Estado Democrático de Direito.

PROCESSO DE AVALIAÇÃO: 2 avaliações discursivas no valor de 25 pontos;


1 trabalho de 20 pontos.

BIBLIOGRAFIA: BRÊTAS, Ronaldo de Carvalho Dias. Processo Constitucional e


Estado Democrático de Direito, 3ª ed. Revista, atualizada e ampliada.

FREITAS CÂMARA, Alexandre. O Novo Processo Civil Brasileiro. 2019.


NOGUEIRA, Luiz Fernando Valladão. Recursos e procedimentos nos tribunais
no código de processo civil, 5ª ed. Revista e ampliada.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 47ª edição.
VAZ DE MELLO, Felipe Silva. Fundamentação técnica da prisão civil no Código
de Processo Civil.

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TEORIA GERAL DO PROCESSO

NOÇÕES ELEMENTARES DE PROCESSO – TERMINOLOGIA ADEQUADA

Inicialmente, há de se ter em mente que a disciplina do Direito é classificada


como “Ciência social aplicada” e, desta forma, enquanto ciência, pode ser entendida
como “atividade que produz conhecimento e como conjunto de conhecimentos funda-
mentados”. A ciência do Direito, como em outros campos do conhecimento humano,
apresenta terminologia própria e técnica, não admitindo ambiguidade ou palavras po-
lissêmicas pois, vale lembrar o adágio romano “omnis definitio in iure civili periculosa
est: parum est enim, ut non subverti possit (“toda definição em direito civil é perigosa:
rara é, na verdade, aquela que não possa ser subvertida”). Neste sentido, toda ciência

pode ser entendida como um conjunto de conhecimentos fundamentados, ou como


uma atividade criadora de conhecimento.

Assim, é de fundamental importância apresentar, de forma delimitada, a noção

de determinados termos e expressões recorrentemente empregadas e utilizadas no


cotidiano dos operadores do Direito, afastando-se, por certo, as noções muitas vezes
adquiridas pela tormentosa prática forense.

Ação: Em sentido jurídico amplo, ação, espécie do gênero direito constitucional


de petição, é direito assegurado a qualquer pessoa (natural ou jurídica, de direito pú-

blico ou de direito privado), exercido contra o Estado, consistindo em lhe exigir seja
prestada a jurisdição, tendo por base a instauração de um processo legal e previa-
mente organizado segundo o devido processo constitucional, no qual postulará deci-
são sobre uma pretensão de direito material
Código (de Processo Civil): Conjunto sistemático de normas jurídicas de or-
dem pública reguladoras da formação, do desenvolvimento e da extinção do processo,

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no qual a jurisdição civil deverá ser prestada pelo Estado, quando provocado por qual-
quer pessoa natural ou jurídica de direito público ou de direito privado (arts.1º, 13 e
16, do CPC)

Coisa julgada: Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por
decisão transitada em julgado. Uma sentença, enquanto pode ser modificada ou revo-
gada mediante recurso, não passa em julgado; ou, em outras palavras, uma sentença
passa em julgado quando não está mais sujeita a nenhum recurso.
Conexão: Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o
objeto ou a causa de pedir (art.103, CPC/73 e 54, do CPC/2015).
Continência: Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais

amplo, abrange o das outras (art.105, CPC/73 e 56, do CPC/2015).


Instância: Nas fontes romanas significa atividade, empenho, diligência e pe-

dido. Também exprime o exercício da ação desde a litiscontestação até a sentença.

Para PEREIRA E SOUZA e RAMALHO, a instância é o tempo dentro do qual se trata e


determina a causa com a decisão final. João MENDES JÚNIOR define-a como a exis-
tência fluente do litígio. João MONTEIRO distingue-lhe duas acepções: legítima dis-

cussão da causa até a sentença passada em julgado e grau de jurisdição. No antigo


Direito português se dizia que com a apelação ou o agravo começava nova instância.

Mas, como já adverte João MENDES JÚNIOR, não se deve confundir instância com grau
de jurisdição, porque pode dar-se o caso de dois graus de jurisdição funcionando em
uma só e mesma instância; assim, a execução é uma outra instância no mesmo primeiro
grau de jurisdição. Finalmente, para MACHADO GUIMARÃES, ELIEZER ROSA, José AL-
BERTO DOS REIS e BARBOSA MAGALHÃES, instância significa processo, entendido
como relação jurídica. Bastam estas considerações para se ver que a palavra instância
é uma fonte de dúvidas e equívocos. O projeto a substitui por processo e, assim, no
Capítulo VI do Livro I e Capítulo VI do Livro n, fala de Formação, Suspensão e Extinção

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do Processo, empregando este vocábulo porque ele traduz, com todo o rigor científico,
o fenômeno jurídico que o Código define.
Instituição: Rosemiro Pereira Leal: “conjunto de princípios (e institutos) jurídicos

reunidos ou aproximados pelo texto constitucional com a denominação jurídica de de-


vido processo, cuja característica é assegurar, pelos institutos do contraditório, ampla
defesa, isonomia, direito ao advogado e livre acesso à jurisdicionalidade, o exercício dos
direitos criados e expressos no ordenamento constitucional e infraconstitucional por via
de procedimentos estabelecidos em modelos legais (devido processo legal) como instru-
mentalidade manejável pelos juridicamente legitimados”.
Jurisdição: Atividade-dever do Estado, prestada pelos órgãos competentes in-
dicados no texto da Constituição, somente exercida sob petição da parte interessada

(direito de ação) e mediante a garantia do devido processo constitucional. Em outras


palavras, a jurisdição se concretiza por meio de processo instaurado e desenvolvido

em forma obediente aos princípios e regras constitucionais, dentre os quais avultam o

juízo natural, a ampla defesa, o contraditório e a fundamentação dos pronunciamentos


jurisdicionais baseada na reserva legal, com o objetivo de realizar imperativa e impar-
cialmente os preceitos das normas componentes do ordenamento jurídico.

Lide: Pretensão resistida. Noção apresentada por Francesco Carnelutti


Litispendência: Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se repro-

duz ação anteriormente ajuizada. Há litispendência quando se repete ação que está
em curso. (art.300, §1º/3º, CPC/73 e 337, §1º/3º, do CPC/2015).
Mérito/Pretensão: Ato ou manifestação de vontade, não um poder. São as pre-
tensões que podem ser classificadas em conformidade com os direitos (direito real,
família etc.).
Processo constitucional: Metodologia normativa de garantia dos direitos fun-
damentais. Espaço discursivo constitucionalmente e democraticamente organizado,
porque os resultados dele oriundos não decorrem do labor solitário da autoridade

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jurisdicional (solipsismo judicial), mas, bem diferentemente, também são os frutos do
empenho dos demais envolvidos (partes), que participam e influenciam na construção
do provimento jurisdicional do qual são destinatários.

Procedimento: Sinônimo de técnica.


Ponto: Afirmação de uma razão de fato ou de direito feita, no processo, em
geral, pelo autor ou pelo réu.
Questão: ponto controvertido.
Técnica: Conjunto de meios adequados para a consecução dos resultados de-
sejados, de procedimentos idôneos para a realização de finalidades (devem rigorosa-
mente seguidos). Distinção entre técnica e mero formalismo. Escola Mineira de Direito
e Escola Paulista de Direito.

FONTES DO DIREITO PROCESSUAL

Lei processual: A fonte primária do Direito Processual é, por excelência, a pró-

pria Lei Processual em sentido amplo. Quando se diz Lei, tem que se ter em mente que
esta pode ser, primeiramente, a própria CF/88, o CPC, leis extravagantes, leis especiais,
o CPP, a CLT. A lei tem sempre um caráter geral e abstrato.

Costumes, doutrina e jurisprudência: são fontes secundárias do direito pro-


cessual, cujo objetivo é explicar a norma processual, aclarar ponto ou questão dúbia

ou não detalhada pelo Legislador permitindo, assim, sejam supridas eventuais lacunas
da lei. Os costumes são caracterizados pela prática quotidiana e social daquilo que é
naturalmente admitido como uma convenção social. A doutrina, deve ser entendida
como o conjunto de princípios expostos nos livros de Direito, em que se firmam teorias
ou se fazem interpretações sobre a ciência jurídica, revelando-se, assim, como litera-
tura jurídica especializada. Por fim, a jurisprudência é caracterizada pela reunião de
vários casos julgados em segundo grau de jurisdição ou pelos tribunais superiores e
que servem para direcionar a melhor e mais adequada interpretação da lei processual.

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Súmulas: As súmulas, por sua vez, são outra fonte secundária do direito pro-
cessual. Súmula é a sinopse da jurisprudência (reunião de diversos casos semelhantes
julgados da mesma forma), uma demonstração de orientação dos julgamentos em ca-

sos semelhantes. As súmulas atuam no direito processual brasileiro como referência


para o julgador em casos análogos. Em regra, suplementam a legislação, instrumento
importantíssimo e autorizado da hermenêutica. Entre as súmulas, há aquelas de caráter
vinculante, denominadas súmulas vinculantes, editadas pelo STF, em entendimento
majoritário a respeito de matéria constitucional e passam a compor fonte de interpre-
tação do direito processual a partir da promulgação da EC 45/2005, que criou o
art.103-A, com o objetivo de vincular toda a Função Jurisdicional e Executiva evitando,
assim, a interposição de recursos, uniformizando as decisões e garantindo a segurança

jurídica.
Precedentes: Os precedentes judiciais, no direito processual brasileiro, são de-

cisões proferidas pelos Tribunais que vinculam todo o judiciário e a administração pú-

blica direta e indireta. Tratam-se de fontes secundárias do direito. Nos precedentes


judiciais, ao contrário do que ocorre nas súmulas, a fundamentação que gerou o pre-
cedente é relevante para sua aplicação em outros casos similares. O precedente pode

ser formado por uma decisão judicial em julgamento de IRDR, IAC e em julgamentos
repetitivos de REsp e RExt. O importante na formação do precedente judicial é que seja

possível extrair a ratio decidendi para que se possa aplicar nos casos futuros. Ponto
fundamental para diferenciar a súmula vinculante do precedente judicial é o fato de
que o precedente é uma norma geral e concreta produzida a partir de um julgamento
específico. Por sua vez, a súmula vinculante é uma norma geral e abstrata.
A semelhança entre a súmula vinculante e o precedente judicial é que ambos
rompem com a tradição republicana brasileira e os princípios constitucionais, retira
direitos dos cidadãos, compromete o princípio da separação das funções do Estado,

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afronta o princípio da independência do juiz e não é dado como certo para a correção
de rumos na eficiente e tempestiva prestação jurisdicional que é buscada.

NORMAS FUNDAMENTAIS – ALCANCE E APLICABILIDADE – PRINCIPAL


OBJETIVO DO CPC/2015 – CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO PROCESSO
Uma vez expostas algumas noções elementares de processo, cuja observância
deve ser irrestrita e absoluta em sua terminologia, convém discorrer acerca das deno-
minadas “Normas fundamentais do processo”, sendo certo que, pela leitura da exposi-
ção de motivos do atual CPC, os principais motivos da reforma processual foram: 1)
estabelecer expressa e implicitamente verdadeira sintonia fina com a Constituição Fe-
deral; 2) criar condições para que o juiz possa proferir decisão de forma mais rente à

realidade fática subjacente à causa; 3) simplificar, resolvendo problemas e reduzindo a


complexidade de subsistemas, como, por exemplo, o recursal; 4) dar todo o rendi-

mento possível a cada processo em si mesmo considerado; e, 5) finalmente, sendo

talvez este último objetivo parcialmente alcançado pela realização daqueles mencio-
nados antes, imprimir maior grau de organicidade ao sistema, dando-lhe, assim, mais
coesão.

O vigente CPC, já em seu capítulo I, do Título Único, do Livro I, da Parte Geral já


inicia, de forma clara e precisa, em seu art.1º que “O processo civil será ordenado, dis-

ciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na


Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Có-
digo.”. Ou seja, em outras palavras, independentemente de qual momento processual
se encontra o processo, independentemente do grau de jurisdição ou de sua espécie
(conhecimento, execução, recursal), é impositiva e imperativa a inafastável observância
às normas tidas como fundamentais do processo, vez que extraídas do próprio texto
constitucional. Neste sentido, nos dizeres do professor Ronaldo Brêtas de Carvalho
Dias, “o devido processo legal, assim qualificado norma processual fundamental, vem a

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ser um bloco aglutinante e compacto – vale dizer, um bloco granítico – de vários direitos
e garantias fundamentais inafastáveis, ostentados pelas pessoas do povo, quando dedu-
zem pretensão à tutela jurídica como partes nos processos, perante os órgãos estatais

jurisdicionais, quais sejam:


1º - direito de ação, entendido como direito incondicionado de qualquer pessoa
do povo (parte) postular a jurisdição, que deve ser prestada pelo Estado de forma efici-
ente, ou seja, dentro de um tempo útil ou lapso temporal razoável;
2º - garantia do juízo natural, que assegura às partes o direito de obter uma de-
cisão proferida pelo órgão jurisdicional previamente definido no texto constitucional;
3º - garantia da ampla defesa, com todos os meios e recursos que lhe são ineren-
tes, compreendido o recurso como coextensão da ampla defesa, e incluídos nos meios de

defesa o direito de ser assistido por advogado ou por defensor público;


4º - garantia do contraditório paritário e participativo, entendido como a possi-

blidade de as partes influenciarem e participarem, em igualdade de condições, ao lado

do juiz, na construção da solução decisória do processo, assegurando-lhes o direito de


ver seus argumentos e razões apreciados com atenção no ato estatal do julgamento,
estabelecendo-se, assim, estreita conexão da garantia do contraditório com a garantia

da fundamentação das decisões jurisdicionais;


5º - garantia da fundamentação racional das decisões jurisdicionais centrada na

reserva legal, ou seja, decisões proferidas com irrestrita obediência ao ordenamento ju-
rídico vigente, sobretudo com foco nos princípios da supremacia da CF/88 e da interpre-
tação das normas que compõe o ordenamento jurídico em conformidade com os direitos
e garantias fundamentais, características marcantes do EDD.

GARANTIAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO – DEVIDO PROCESSO LEGAL


Vinculação da jurisdição ao EDD: a garantia da vinculação da jurisdição ao
EDD decorre de imperativo lógico do próprio sistema constitucional, pois se origina da

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ideia de uma ordem normativa jurídico-fundamental resultante da conexão interna en-
tre Democracia e Estado de Direito. Tal garantia foi, justamente, o primeiro e principal
motivo da reforma do atual CPC, em detrimento de uma revisão do CPC/73. Exata-

mente por isso, de forma incisiva, o ordenamento jurídico-constitucional brasileiro


enunciou o princípio da vinculação dos órgãos legislativos ao EDD, que é o Estado de
Direitos Fundamentais, quando lhes proibiu emendas à CF/88 nos moldes de seu
art.60, §4º, denominadas cláusulas pétreas.
Supremacia da constituição: tal garantia pode ser resumida, de forma simples,
porém precisa e clara, no sentido de que a constituição é o fundamento de toda ordem
jurídica (pirâmide de Kelsen). Em outras palavras, a constituição é a fonte primária e
mais importante da produção normativa.

Reserva legal: recepção explícita no texto constitucional, que declara, em seu


art.5º, II, que “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em

virtude de lei”. Texto no Facebook do professor Casein: Covid -19 e a violação de direitos

fundamentais - uma visão contra majoritária e a favor da constituição


Sou a favor da ciência, bem como, a favor de observar o distanciamento social.
Mas quando #EmCasa se transforma no #FiqueemCasa e a recomendação para ser uma

ordem, isso tem sérias consequências constitucionais. Tenho visto flagrantes inconstitu-
cionalidades em decretos municipais. Esses decretos estão sendo reproduzidos com a

mesma rapidez do vírus. Estamos convivendo com um estado de exceção. Os municípios


estão decretando fechamento de estabelecimentos e o impedimento de locomoção de
pessoas, bem como, obrigando a usar máscara para sair na rua. Tais medidas, apesar de
serem necessárias, infelizmente não são constitucionais.
Todas as atividades lícitas podem e devem ser desenvolvidas. Como pode a mu-
nicipalidade impedir o funcionamento de escolas e empresas que desenvolvem atividade
lícita? É preciso ser forte e intransigente com a constituição. Por mais que me sinta pro-
tegido e EM CASA, é impossível transigir sobre direitos constitucionais. Se o Município

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deve responsabilidade aos seus cidadãos e contribuintes, também devemos entender que
a atitude de impedir o funcionamento de empresas é um ato inconstitucional. Não se
trata de PONDERAR entre o direito à vida e o direito ao trabalho e a manutenção da

economia. Trata-se de observar a constituição. Não vivemos com a pandemia um estado


de exceção. Não podemos impor a supressão de direitos constitucionais por decreto. As
pessoas devem ser orientaras e alertadas sobre os perigos e as consequências. Um tra-
balho de conscientização e prevenção deve ser eficaz. A decretação do “lockdown” é outro
absurdo. No estado de direito não comporta “lockdown”. Sua aceitação é um sinal claro
de que ainda não estamos preparados para observar a constituição.
Outro ponto inconstitucional. Decretar o impedimento de ir e vir. Há alguns dias,
o sul de Minas Gerais decretou o impedimento de entrada na cidade de qualquer paulista

no feriadão prolongado desta semana. Como um decreto desse passa ao largo da cons-
titucionalidade e os cidadãos não falam absolutamente nada? Impedir o direito de entrar

em outra cidade é algo surreal. E os cidadãos não podem admitir tamanho ataque à

constituição da república. Por mais que eu me sinta seguro com tal decreto. Por mais
que eu não queira adoecer, eu tenho mais medo do portal que vem sendo aberto de
inconstitucionalidades é que pode se transformar num passagem para a truculência e a

tirania.
Por fim, como pode o poder público obrigar um cidadão a usar máscara sob pena

de multa? Chega a ser engraçado, se não fosse trágico. Volto a insistir, ninguém é contra
a máscara, mas estamos falando de autonomia da vontade e direitos fundamentais. Eu
tenho um comportamento esperado é definido em lei mas não posso ser obrigado a sair
de casa com máscara. A máscara é a prova de que ainda precisamos evoluir como cida-
dãos. A máscara é uma questão de saúde pública mas não de ordem constitucional. O
estado não pode interferir na vida privada dos cidadãos , para obrigá-los a vestir roupas
e acessórios que eles não querem colocar. Não adianta insistir com a ideia de que a
máscara é fundamental para não espalhar o vírus pois esse argumento traz a lógica do

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absurdo. Cada um deve assumir a sua responsabilidade mas impor um comportamento
ou vestimentas para serem usadas como uniforme são questões muito sérias e que vio-
lam a constituição. Ninguém é obrigado a usar algo que não possa ter para sair na rua.

É tão básico que não precisa ser citado nenhum artigo de lei.
Por mais que eu queira proteger minha família do vírus, quando eu vejo as in-
constitucionalidades que estão sendo cometidas, não sei se sobreviveremos ao mundo
pós-pandemia, onde a suspensão de direitos será regra, a execução de atividades lícitas
será impedida por prefeitos, cidades terão um passaporte para permitir a entrada e saída,
cidadãos só poderão sair às ruas com roupas e acessórios predefinidos em decretos mu-
nicipais.
E vai vir mais coisas por aí. Não se assustem se o estado der anistia para o devedor

de pagar suas dívidas, se o estado disser que você não poderá mais retomar seu imóvel
por falta de aluguel, que vc é obrigado a aceitar um aluguel por 50% do valor pactuado,

que não teremos ensino em nome da saúde, que não teremos judiciário em nome da

saúde, que não teremos mais direitos em nome da saúde. Precisamos da constituição
nesses momentos de escuridão para nos guiar.
Efetivo contraditório: utiliza-se a expressão “efetivo contraditório” fazendo

coro à doutrina apontada por Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias, de que a garantia fun-
damental do contraditório, na atualidade, “[...] não significa apenas ciência bilateral e

contrariedade dos atos e termos do processo e possibilidade de que as partes têm de


contrariá-los, mas é compreendido técnica e cientificamente como garantia de partici-
pação efetiva das partes no desenvolvimento do processo em suas fases lógicas e atos, a
fim de que, em igualdade de condições, possam influenciar em todos os elementos e
discussões sobre quaisquer questões de fato e de direito que surjam nas diversas etapas
do itinerário procedimental, que despontem como potencialmente importantes para a
decisão jurisdicional que será proferida.”. Vale destacar que, assim o é pois a decisão

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jurisdicional não é ato solitário do órgão jurisdicional, pois somente obtida sob inarre-
dável disciplina constitucional principiológica (devido processo constitucional), por
meio da garantia fundamental de uma estrutura normativa metodológica (devido pro-

cesso legal), a permitir que aquela decisão seja construída com os argumentos desen-
volvidos em contraditório por aqueles que suportarão seus efeitos, em torno das ques-
tões de fato e de direito sobre as quais controvertem no processo.
Na contemporaneidade, o contraditório vem a ser a concretização, no processo,
do princípio político da participação democrática.
O quadrinômio estrutural do processo significa que o efetivo contraditório ga-
rante regular informação às partes dos atos processuais e a oportunidade a cada uma
delas de reação aos atos da parte adversa. Porém, tal objetivo exige diálogo do juiz

com as partes, a fim de lhes proporcionar a oportunidade de ampla manifestação sobre


o desenvolvimento do processo e assim exercerem influência no seu resultado decisó-

rio.

Fundamentação das decisões: impõe aos órgãos jurisdicionais do Estado o


dever de motivarem seus pronunciamentos decisórios, visando afastar o arbítrio judi-
cial, caracterizado por anômalas ou patológicas intromissões de ideologias do julgador

na motivação das decisões, de forma incompatível com os princípios que estruturam


o EDD. Arts.93, IX, da CF/88 e 485, §1º, do CPC. O próprio STF já teve a oportunidade

de decidir o HC nº 74.073-1 “A fundamentação constitui pressuposto de legitimidade


das decisões judiciais – a fundamentação qualifica-se como pressuposto constitucional
de validade e eficácia das decisões emanadas do Poder Judiciário. A inobservância do
dever imposto pelo art. 93, IX, da Carta Política, precisamente por traduzir grave trans-
gressão de natureza constitucional, afeta a legitimidade jurídica do ato decisório e gera,
de maneira irremissível, a consequente nulidade do pronunciamento judicial. A decisão
judicial deve analisar todas as questões suscitadas pela defesa do réu. – Reveste-se de
nulidade o ato decisório que, descumprindo o mandamento constitucional que impõe a

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qualquer Juiz ou Tribunal o dever de motivas a sentença ou acórdão, deixa de examinar,
com sensível prejuízo para o réu, fundamento relevante em que se apoia a defesa técnica
do acusado.”.

Princípio da primazia do mérito: desdobramento da garantia da razoável du-


ração do processo, o princípio da primazia do mérito pretende seja alcançada, sempre
que possível, a resolução do mérito do processo, de forma que somente quando hou-
ver vício insanável será o processo/recurso, extinto sem resolução de mérito. Previsão
legal nos arts.4º, 6º e 139, IX, do CPC.
Princípio do duplo grau de jurisdição: desdobramento implícito da garantia
da ampla defesa, o princípio do duplo grau de jurisdição assegura aos litigantes pro-
vocarem o reexame de toda decisão por um grau de jurisdição superior. Essa garantia

permite que as decisões judiciais resultem de debate mais amplo entre as partes, o que
é oportunizado exatamente pelos recursos. Previsão constitucional nos arts.5º, LV e

XXXVII.

Garantia do juízo constitucional ou do juízo natural: inicialmente, focamos


no rigor terminológico, que dispõe acerca do juízo natural e não do juiz natural, por
força expressa da CF/88, em seu art.5º, XXXVII. Em seguida, porque o termo juízo revela

designação jurídica mais qualificada tecnicamente do órgão estatal incumbido de exer-


cer a função jurisdicional.

A doutrina concebe a garantia do juízo natural com o significado de órgão ju-


risdicional competente predeterminado ou preestabelecido em lei, contrapondo-se ao
juízo de exceção, este expressamente proibido no texto constitucional.
Princípio da isonomia: estabelecido no art. 7º do CPC, assegura às partes pa-
ridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos
meios de defesa, aos ônus, aos deveres, e à aplicação de sanções processuais, compe-
tindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.

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Princípio da cooperação (art.6º, do CPC): o qual estabelece que todos os su-
jeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável,
decisão de mérito justa e efetiva. Nessa perspectiva, não se pode compreender que a

palavra cooperação seja auxiliar ou ajudar mutuamente uns aos outros, pois as parte
tem interesses antagônicos, o que, por si só, desautoriza tal interpretação. Sendo as-
sim, devemos entender a cooperação como co-operar, ou seja, operar em conjunto
para a construção de uma decisão de mérito democraticamente útil.
Princípio da boa-fé objetiva: (CPC/2015, art. 5º) traduz a disposição de que as
partes devem se comportar da maneira que se espera que tais sujeitos se comportem
dentro do processo. Ou seja, não podem as partes se comportarem no sentido de
tumultuar a tramitação processual, pois tal conduta não condiz com o ambiente pro-

cedimental.

TÉCNICAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

Autotutela, autocomposição, heretocomposição (conciliação, mediação e arbi-


tragem).
Autotutela: é caracterizada pela utilização de força física pelas partes para a

resolução do conflito. Vedação no art.345, do CP. A autotutela não pode ser confun-
dida com a legítima defesa, vez que esta é a utilização dos meios adequados e mode-

rados para repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outro. Exce-
ção prevista no art.1.210.
Autocomposição: técnica de resolução de conflito no qual as partes envolvidas
no conflito, sem a participação de um terceiro, buscam estabelecer acordo na transa-
ção ou composição (conciliação). Segundo o professor Rosemiro Pereira Leal, a conci-
liação utiliza-se da renúncia, submissão, desistência e transação para a resolução do
conflito. Até 2015, com a promulgação do CPC, não havia um tratamento especial so-

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bre essa função de conciliação e mediação. No entanto, na atual sistemática proces-
sual, a função da mediação e conciliação foram devidamente regulamentadas e várias
regras principiológicas foram desenvolvidas para permitir a obtenção de um acordo

que observasse a autonomia da vontade das partes. Assim, entre os arts.165/175, do


CPC, temos as principais regras sobre o assunto da conciliação/mediação.
Heterocomposição: técnica de resolução de conflito em que um terceiro (de-
sinteressado) auxilia na resolução dos conflitos entre as partes. São espécies dessa
forma de resolução de conflitos a chamada mediação e a arbitragem. A arbitragem é
uma técnica na qual um terceiro, eleito pelos sujeitos conflituosos possui o poder de
decidir. Ao contrário, na mediação, o terceiro não tem poderes para decidir.
Vale lembrar que algumas das técnicas acima podem ser empregadas, também,

no processo penal, como se vê nos casos afetos à jurisdição dos Juizados Especiais
Criminais, nos crimes cuja ação penal seja privada e pública, desde que esta esteja

condicionada à representação.

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