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Noções Preliminares.

Conflitos nas leis no tempo. Sociedade e


tutela jurídica. Jurisdição.
Norma processual: objeto, natureza, fontes,
eficácia no espaço, no tempo e
interpretação.
Poder judiciário: funções, estruturas e
órgãos.
O advogado.
Da ação.
Do processo civil.

Prof. André Kersul


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 Chama-se direito material, ou substancial, o corpo de princípios
e regras referentes a fenômenos da vida ordinária de todo dia,
como a união de duas pessoas para a vida em comum e
constituição de família, como o crédito, os atos ilícitos
causadores de dano a outrem, as prestações de serviços, os
cheques, as sociedades em geral, a relação do homem com o
meio ambiente, as relações econômicas de consumo etc.

 O direito processual entra em cena quando algum sujeito,


lamentando ao juiz um estado de coisas que lhe desagrada e
pedindo -lhe uma solução mediante invocação do direito
material, provoca a instauração do processo.

 O processo é uma técnica para a solução imperativa de conflitos,


criada a partir da experiência dos que operam nos juízos e
tribunais.

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 Seus institutos são modelados segundo
conveniências do exercício de funções e
atividades muito específicas e reservadas a
profissionais especializados - e que são a
jurisdição, exercida pelos juízes, a ação e a
defesa, praticadas pelas pessoas em conflito
através de seus advogados bem como pelo
Ministério Público nos casos em que a lei lhe dá
legitimidade para atuar.

 O ordenamento jurídico divide-se portanto em


dois planos distintos, interagentes mas
autônomos e cada qual com sua função
específica.

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 Às normas substanciais compete definir modelos
de fatos capazes de criar direitos, obrigações ou
situações jurídicas novas na vida comum de
pessoas, além de estabelecer as consequências
específicas da ocorrência desses fatos.
 As normas processuais ditam critérios para a
revelação da norma substancial concreta
emergente deles, com vista à efetivação prática das
soluções ditadas pelo direito material

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 Há certos institutos processuais que guardam uma
proximidade muito significativa com a situação de direito
substancial em relação à qual o processo atuou ou deve
atuar.
 Esses institutos - ação, competência, fontes e ônus da
prova, coisa julgada e responsabilidade patrimonial - são
responsáveis por situações que se configuram fora do
processo e dizem respeito diretamente à vida das pessoas
em sociedade, em suas relações com as outras ou com os
bens que lhes são úteis ou desejados; e só em um
segundo momento eles são objeto das técnicas do
processo, a saber, quando um processo se instaura e
então se pensa nas atividades a serem desenvolvidas para
a sua atuação.
 Essas verdadeiras pontes de passagem entre o direito e o
processo compõem o que se denomina de direito
processual material.

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 Tudo que se diz a respeito do processo comporta distinções e
especificações conforme a análise se dirija ao processo civil,
trabalhista, eleitoral, administrativo, penal, legislativo ou mesmo
não estatal. Apesar dessas distinções, há pontos em comum que
permitem integrar todos eles em um só quadro e inseri-los em
um único universo do direito.

 Como resultado tem-se a formação da teoria geral do processo,


definida como um sistema de conceitos e princípios elevados ao
grau máximo de generalização útil e condensados indutivamente
a partir do confronto dos diversos ramos do direito processual.

 A teoria geral do processo permite identificar a essência


dogmática do direito processual, em seus quatro institutos
fundamentais a jurisdição, ação, defesa e processo)

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 Ela é responsável pelo estabelecimento do conceito de cada um
e, acima disso, determina as funções que desempenham no
sistema; o direito processual como um todo e cada um de seus
ramos em particular compõem-se em torno da estrutura
representada pelo poder a ser exercido, pelas posições das
pessoas interessadas e pelas formas como esses complexos de
situações jurídicas subjetivas se exteriorizam em atos
coordenados aos objetivos preestabelecidos, sempre
relacionados com a oferta de uma tutela jurisdicional àquele que
tiver razão.

 Além disso, a teoria geral do processo também identifica e


define os grandes princípios e garantias que coordenam e
tutelam as posições dos sujeitos do processo e o modo de ser
dos atos que legitimamente realizam ou podem realizar. Por fim,
ela reúne e harmoniza os institutos, os princípios e as garantias,
compondo assim o sistema processual.

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 o direito processual civil é responsável pelo exercício da
jurisdição, ação e defesa com referência a pretensões
fundadas em normas de direito privado (civil, comercial) e
também público (administrativo, tributário, constitucional).
 Excluem-se do âmbito do processo civil as causas de
natureza penal e, em alguma medida, os processos que
tramitam perante a Justiça do Trabalho ou a Justiça
Eleitoral, pois disciplinados por normas próprias e sujeitos
à lei processual civil apenas supletiva e subsidiariamente
(CPC, art. 15).
 Nesse contexto costuma ser dito também que o direito
processual civil é o ramo do direito processual destinado a
dirimir conflitos em matéria não penal. Chega-se a essa
delimitação por exclusão, à falta de algum outro critério
mais direto para definir os limites do direito processual
civil.

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 As três fases metodológicas da ciência processual
civil o processo civil moderno é o resultado de uma
evolução desenvolvida a partir de um longo período
no qual o sistema processual era encarado como
mero capítulo do direito privado, sem autonomia;
passou por uma fase de descoberta de conceitos e
construção de estruturas bem ordenadas, mas ainda
sem a consciência de um comprometimento com a
necessidade de direcionar o processo a resultados
substancialmente justos; e só em tempos muito
recentes, a partir de meados do século XX, começou
a prevalecer a perspectiva teleológica do processo,
superado o tecnicismo reinante por um século.

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 Falamos por isso em três fases metodológicas
na história da ciência processual civil: uma de
sincretismo, vigente desde as origens; uma
autonomista ou conceitual, que se implantou
em meados do século XIX; e, finalmente, uma
teleológica ou instrumentalista, que é a atual.

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 Os escopos do processo são de natureza
social, política e jurídica.
 O primeiro escopo social, que é o principal
entre todos eles, é a pacificação de pessoas
mediante a eliminação de conflitos com
justiça.
 É essa em última análise a razão mais
profunda pela qual o processo existe e se
legitima na sociedade.

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 Outro escopo social é O de educação das
pessoas para o respeito a direitos alheios e
para o exercício dos seus
 - o que, em última análise, é o que hoje se
costuma indicar como exercício da cidadania.

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 Entre os escopos políticos do processo está o de dar
amparo à estabilidade das instituições políticas.
 Generalizar o respeito à lei mediante a atuação do
processo tem por decorrência o fortalecimento da
autoridade do Estado, na mesma medida em que este
se enfraquece quando se generaliza a transgressão à
lei.
 Outro escopo político é o de exercício da cidadania.
Sendo a participação política um dos esteios do
Estado democrático, as nações modernas têm
consciência da importância de realçar os valores da
cidadania, premissa essa que repercute no sistema
processual mediante a implantação e estímulo a
certos remédios destinados à participação política,
como é o caso da ação popular

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 Tem-se ainda como escopo político a
preservação do valor liberdade.
 O processo é um meio de culto às liberdades
públicas mediante defesa dos indivíduos e das
entidades em que se agrupam contra os
desmandos do Estado.
 Entre os modos disponíveis para a reação aos
abusos de poder pelos agentes estatais e
preservação dessas liberdades está a prestação
da tutela jurisdicional mediante instrumentos
como o habeas corpus, o mandado de segurança
individual ou coletivo, o habeas data etc. (Const.,
art. 5º, incs. LXVIII, LXIX, LXX, e art. 105, inc. I,
letra b - infra, nn. 91, 172 e 173).

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 Finalmente, o escopo jurídico do processo é a
atuação da vontade concreta do direito.
 A definição desse escopo decorre de uma
tomada de posição pela teoria dualista do direito,
que se contrapõe à unitária.
 O ordenamento jurídico seria unitário se
processo e direito material se fundissem em uma
unidade só e a criação de direitos subjetivos,
obrigações e concretas relações jurídicas entre
sujeitos fosse obra da decisão judicial e não da
mera ocorrência de fatos previstos em normas
gerais.

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 A corrente dualista, bem ao contrário da unitária, afirma
que a ordem jurídica se divide em dois planos muito bem
definidos, o substancial e o processual, cada qual com
funções distintas.
 O direito material é composto por normas gerais e
abstratas, cada uma delas consistente em uma tipificação
de fatos previstos pelo legislador e fixação da
consequência jurídica desses fatos (sanctio juris): sempre
que ocorre na vida concreta algum fato que se enquadre
no modelo definido naquela previsão legal,
automaticamente se desencadeia a consequência
estabelecida no segundo momento da norma abstrata.
 Direitos subjetivos, obrigações e relações jurídicas
constituem criação imediata da concreta ocorrência dos
fatos previstos nas normas.

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 O juiz não os cria nem concorre para a sua
criação: limita-se a revelar a norma
concretamente destinada a reger os casos em
julgamento, sem criá-Ia, porque ela já preexistia.
 Os direitos e obrigações existem antes do
processo e em sua imensa maioria se extinguem
pela satisfação voluntária, sem qualquer recurso
a este ou aos juízes.
 É da experiência comum a constituição e a
extinção de direitos em número indefinido de
casos e correspondendo à normalidade da vida
do direito, sem qualquer intervenção
jurisdicional.

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 O que a decisão judicial efetivamente
acrescenta à situação jurídico-material
existente entre as partes é a segurança
jurídica, a qual não é algo de novo do ponto
de vista substancial.
 Ela constitui fator social de eliminação de
insatisfações mas não traz alteração da
situação de direito material, a qual lhe
preexistia e agora veio a adquirir uma clareza
e uma estabilidade antes inexistentes.

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 Assume particular relevância nesse contexto
a ideia de processo civil de resultados, de
íntima aderência à missão social do processo
e à teoria geral do processo civil.
 Consiste esse postulado na consciência de
que o valor de todo o sistema processual
reside na capacidade, que tenha, de propiciar
ao sujeito que tiver razão uma situação
melhor do que aquela em que se encontrava
antes do processo.

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 Não basta o belo enunciado de uma sentença bem
estruturada e portadora de afirmações inteiramente
favoráveis ao sujeito quando o que ela dispõe não se
projetar utilmente na vida deste, eliminando a
insatisfação que o levou a litigar ou a resistir a uma
pretensão de outro sujeito e propiciando-lhe
sensações felizes pela obtenção da coisa ou da
situação postulada.
 Na medida do que for praticamente possível, o
processo deve propiciar a quem tem um direito tudo
aquilo e precisamente aquilo que ele tem o direito de
obter, sob pena de carecer de utilidade e, portanto,
de legitimidade social.

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