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A utilização das máximas de

experiência frente ao princípio


do devido processo legal como
mecanismo para a efetivação da
justiça1
Tatiana Mezzomo Casteli*

Resumo
No art. 335 do Código de Processo sobre as quais não pender a necessi-
Civil brasileiro estão expressamente dade de serem provadas, bem como
previstas as máximas de experiência na condição de cânone hermenêutico.
que facultam ao juiz a utilização de Nesse sentido, as máximas de expe-
sua experiência cotidiana e forense riência permitem uma rápida instru-
para dar solução à lide como decor- ção e solução da lide, de forma célere
rência da prestação jurisdicional que e eficaz, que é o esperado para a con-
lhe é inerente. A partir dessa previsão cretização da Justiça, valor maior do
legal e da análise das garantias pro- ordenamento jurídico.
cessuais constitucionais, em especial
do devido processo legal e seus corolá- Palavras-chave: Devido processo le-
rios, colocam-se em discussão as má- gal. Garantias processuais constitu-
ximas de experiência, suas funções e cionais. Máximas de experiência. Pro-
aplicações no direito processual civil. cesso.
Este enfoque permite constatar que
as máximas de experiência vão além
de simples critério valorativo do lia-
me probatório constante no processo. * Acadêmica do curso de Direito da Universidade
São utilizadas também como prova de Passo Fundo, Campus Casca.
atípica, em razão da possibilidade de
1
Trabalho apresentado na XVIII Mostra de Ini-
ciação Científica, Evolução e Diversidade, reali-
serem aplicadas de ofício pelo juiz e
zada na Universidade de Passo Fundo nos dias 7
a 9 de outubro de 2008.

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Introdução como o atendimento aos interesses da
maioria, tendo na Constituição sua
O presente trabalho analisa a lei maior. Com isso, normas constitu-
utilização das máximas de experiên- cionais, que são colocadas no ápice de
cia no campo do direito processual ci- uma pirâmide escalonada, devem ser,
vil, especificamente em relação à ma- constantemente, observadas na pres-
téria probatória, procurando apontar tação jurisdicional, que incumbe ao
as funções tradicionais e atuais do re- próprio Estado.4
ferido instituto, partindo de uma aná- Busca, em verdade, tutelar os di-
lise das garantias processuais consti- reitos fundamentais por meio de uma
tucionais, em especial da cláusula do série de garantias constitucionais pre-
due process of law e de seus corolários. vistas no art. 5º da Constituição Fe-
Nesse contexto, as garantias deral de 1988, que possuem natureza
constitucionais do processo são instru- dúplice, ou seja, caráter declaratório,
mentos de proteção dos direitos fun- pois imprimem existência aos direitos
damentais e sua principal finalidade dos cidadãos e assecuratório, que ao
“no es outro que lograr la tan preten- defender o direito, limitam o poder.5
dida Justicia, reconocida em nuestra Portanto, o fenômeno da consti-
Carta Magna como valor superior del tucionalização das garantias proces-
ordenamento jurídico”.2 suais tem como escopo a valorização
Assim, o Estado, perante uma da pessoa humana e a finalidade de
sociedade em constante transforma- alcançar a justiça,6 ou seja, fazer do
ção e cada vez mais complexa, possui processo “el médio de realización de la
a incumbência precípua de promover Justicia”,7 mantendo, assim, o Estado
a efetividade das pretensões jurídicas, democrático de direito.
tendo em vista a fiscalização e o zelo
dos interesses dos litigantes no pro- Princípio constitucional
cesso, visto que o ente estatal detém
o monopólio da função jurisdicional.3
do devido processo legal
Em decorrência dessa asserti- O devido processo legal serve
va, afirma-se que o Estado de direito de fundamento para os demais prin-
em especial, o Estado democrático de cípios processuais, uma vez que é o
direito, acolheu a defesa dos direitos verdadeiro garantidor dos preceitos
humanos e a democracia como fun- de ordem processual constitucional.
damento, objetivando a redução das É um instrumento assegurador dos
antíteses econômicas e sociais, bem direitos fundamentais, que irradia a

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própria função do Estado democrático Ressalta-se que o dispositivo
de direito. constitucional inerente ao devido pro-
Sua previsão legal situa-se no cesso legal menciona o processo a ser
art. 5º, inciso LIV, da Constituição Fe- tutelado por ele, como gênero, e não
deral brasileira.8 Tal princípio advém apenas o processo judicial, que é uma
da expressão oriunda do termo inglês espécie de processo.14 Dessa forma, o
due process of law, e é a base sobre a due process of law deve ser compreen-
qual todos os outros princípios consti- dido como princípio supremo a ser ob-
tucionais processuais de sustentam.9 servado; portanto, no âmbito adminis-
A garantia de um processo justo trativo, legislativo, além do judicial.15
é um dos grandes temas de que trata Acerca do tema leciona Vigoritti
o jusnaturalismo processual que tem que “il due process sará considerato
origem no art. 10 da Declaração Uni- oltre Che garanzia di legalitá anche
versal dos Direitos Humanos,10 apro- garanzia di giustizia”, bem como, “il
vada pela Organização das Nações due process s’impone a tutti i potere
Unidas (ONU) em 10 de dezembro dello Stato, nessuno escluso”.16 Dessa
de 1948, tendo como fundamentação forma, a extensão definitiva da “prote-
o princípio do devido processo legal, zione del due process a tutti quei pro-
bem como da imparcialidade do juiz, cedimenti – amministrativi, discipli-
da publicidade dos atos jurídicos, da nari, ecc. –, Che possono in qualsiasi
obrigação da motivação da decisão ju- modo ostacolare o negare l’essercizio
dicial, do contraditório e do direito à dei diritti fondamentali, con evidente
prova.11 miglioramento della correttezza del
Desse modo, o devido processo diritto processuale”.17
legal implica o “conjunto de garan- Em seu aspecto procedimental,
tias constitucionais do processo que o devido processo legal tem sido de-
tutelam os direitos processuais dos finido como “o conjunto de garantias
litigantes, dando ao processo uma constitucionais que, de um lado, as-
configuração não apenas técnica, mas seguram às partes o exercício de suas
também ético-política”.12 O conteúdo faculdades e poderes processuais e,
desse princípio vem assegurar as de- de outro, são indispensáveis ao corre-
mais garantias específicas inerentes to exercício da jurisdição”, garantias
ao ideal de um processo justo, tais que não servem apenas “aos interes-
como o contraditório, a ampla defesa, ses das partes, como direitos públicos
a igualdade processual, a publicidade, subjetivos destas, mas que configu-
dentre outras.13 ram, antes de mais nada, a salvaguar-

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da do próprio processo, objetivamente punição administrativa, mas não só
considerado, como fator legitimante no aspecto procedimental e sim, tam-
do exercício da jurisdição”.18 bém, no aspecto substancial”.22
Como Leciona Nery Junior, a Para Cappelletti, a concepção
cláusula due process of law não indi- moderna do devido processo legal vai
ca somente a tutela processual, “tem muito além de “previnir excessos e
sentido genérico, e sua caracterização abusos”. Trata-se da chamada “revo-
se dá de forma bipartida, [...] para in- lução copernicana”, que põe em des-
dicar a incidência do princípio em seu taque a dimensão social do processo,
aspecto substancial, vale dizer, atuan- segundo a qual “se cogita uma nova
do no que respeita ao direito material, visão do processo, que rompe com a
e , de outro lado, a tutela daqueles di- impostação tradicional, pela qual o
reitos por meio do processo judicial ou processualista ou o jurista em geral
administrativo”.19 concentra a sua atenção sobre o direi-
No concernente à justificativa to como norma, ou seja, a norma geral
material do processo, tem-se que a (a lei), seja a norma particular (a sen-
ideologia do due process deve ser ob- tença judicial ou o provimento admi-
servada desde a criação normativo- nistrativo)”.23
legislativa, que, sem sombra de dú- Em síntese, percebe-se que o Es-
vidas, trata da gênese não só de um tado, ao garantir o devido processo
processo justo, mas, sobretudo, de um legal, tem o dever de prestar a jurisdi-
processo justo, legal e adequado.20 ção de modo efetivo, observando a pes-
Com relação ao sentido processu- soa humana inserida em um contexto
al, por sua vez, percebe-se que o alcan- social.
ce da cláusula é mais restrito quando
se afirma que o devido processo nada As máximas de
mais é do que a possibilidade da par- experiência: noção
te ter acesso à justiça, deduzindo sua
pretensão e utilizando a ampla defesa
e conteúdo
no âmbito interno do processo.21 O ordenamento jurídico brasi-
A conclusão que logo se apresen- leiro não permite ao juiz basear sua
ta é imperativa, ou seja, “o devido pro- decisão e, consequentemente, funda-
cesso legal é indispensável em qual- mentá-la em fatos que não tenham
quer ato do Poder Público que venha sido provados no processo. Entretan-
a implicar privação de liberdade indi- to, essa afirmação não deve ser consi-
vidual, de qualquer bem da pessoa ou derada absoluta, uma vez que, como

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pessoa humana, o juiz ao proferir a experiência, a conceituação do referi-
sua decisão raciocina inserido no meio do instituto. Para o autor, as máximas
social em que vive, bem como na cul- de experiência
tura da sociedade. Son definiciones o juicios hipotéticos de
No que tange à atuação dos ju- contenido general, desligados de los he-
chos concretos que se juzgan em el pro-
ízes, é preciso que eles estejam cada ceso, procedentes de la experiencia, pero
vez mais preparados e capacitados independientes de los casos particulares
para desempenhar a função jurisdi- de cuya observación se han inducido y
que, por encima de esos casos, preten-
cional, para isso, necessário se faz que den tener validez para otros nuevos.28
assumam realmente, não apenas for-
A partir da conceituação de Stein,
malmente, “a sua responsabilidade na
ressalta-se que “as máximas de expe-
direção do processo”.24
riência não podem referir-se a aconte-
Portanto, o magistrado deve es-
cimentos individuais, mas constituem
tar sempre atento às mudanças ocor-
premissas do raciocínio que se dão en-
ridas na sociedade, de modo que pos-
tre fato e direito na valoração da pro-
sa, como pessoa humana, aliar a ca-
va”.29 Entretanto, “pouco importa a
pacitação e a sensibilidade ao aplicar
quantidade de casos observados pelo
os ditames da norma jurídica da ma-
juiz, vez que a essência da máxima de
neira mais adequada a cada situação experiência não resulta de sua soma,
concreta. mas da identificação do que há de co-
Nesse sentido, o estudo das má- mum ou genérico entre eles”.30 Com
ximas de experiência aparece com isso, observa-se que as máximas de
extrema relevância no “universo de experiência “son el resultado de uma
valoração da prova”,25 bem como, se- observación incesante, controlada y
gundo a visão publicista e instrumen- rectificada uma y otra vez”.31
talista do processo, como “mecanismo Visto isso, é de suma importân-
para abreviar a solução das deman- cia salientar que as máximas de ex-
das, fazendo com que a prestação ju- periência não se referem “exclusiva-
risdicional cumpra seu papel, que é a mente às vivências pessoais do juiz”,
pacificação social com justiça”.26 pelo contrário, “as noções que expres-
No ordenamento jurídico pátrio, sam devem pertencer ao patrimônio
as máximas de experiência estão pre- comum”. Nesse sentido, as máximas
vistas no art. 335 do Código de Proces- de experiência “devem tratar de fenô-
so Civil,27 entretanto, deve-se a Frie- menos que possam ser observados por
drich Stein, em razão de seu estudo todos, mesmo que não concretamente
pioneiro e amplo sobre as máximas de conhecido por todos”.32

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A formação de uma máxima de tais adquiridos na valoração das ações
experiência parte de fatos do cotidia- humanas, frequências estatísticas,
no que ocorrem ou acontecem de for- etc.”. Trata-se, portanto, “de generali-
ma reiterada. Sua “constituição” como zações do que ordinariamente aconte-
máxima, porém, só ocorre a partir da ce, [...] quer no campo da experiência
“abstração desses mesmos fatos parti- comum, quer no campo da experiência
culares”.33 técnica ou científica”.36
Nesse sentido, segundo Moreira, A partir da sistematização em-
as máximas de experiência “refletem preendida por Stein, a doutrina elabo-
o reiterado perpassar de uma série de rou os seguintes pontos fundamentais
acontecimentos semelhantes”, trazen- para a caracterização das máximas de
do “a convicção de que, se assim cos- experiência em seu conteúdo jurídico:
tumam apresentar-se as coisas, tam- a) as máximas de experiência caracteri-
bém assim devem elas, em igualdade zam-se pela generalidade, podendo ser
encontradas sob a forma de teses hipo-
de circunstâncias, apresentar-se no téticas ou de definições que decompõe
futuro”.34 uma palavra ou um conceito em suas
Ressalta-se que, como outros partes constitutivas; b) para a criação
de uma máxima de experiência, sob a
institutos, as máximas de experiên- forma de tese hipotética, é indiferente a
cia são marcadas pela relatividade, quantidade de casos observados, porém,
não constituindo uma certeza lógica. os fatos devem ter algo relevante e co-
mum que os ligue, permitindo concluir
Dessa forma, “no son más que valores tratar-se do que ordinariamente aconte-
aproximativos respecto de la verdad, ce; c) as máximas de experiência devem
estar submetidas a um constante pro-
y como tales, solo tienen vigencia em
cesso de reformulação, através de obser-
la medida em que nuevos casos obser- vação tanto dos casos que deram origem
vados no muestren que la formulación a sua formação como dos posteriores; d)
as máximas de experiência se extraem
de la regla empleada hasta entonces por indução e se aplicam por dedução;
era falsa”.35 e) as máximas de experiência são sem-
Com relação ao conteúdo, as má- pre relativas, variáveis no tempo e no
espaço, estabelecendo, entretanto, um
ximas de experiência caracterizam-se juízo a priori; f) em todos os casos, as
pela sua “heterogeneidade”, pois ne- máximas de experiência admitem prova
las estão inseridas “leis científicas e em contrário pela parte eventualmente
prejudicada.37
lógicas, noções tratadas pelas ciências
naturais e pelas ciências humanas, As máximas de experiência di-
generalizações empíricas, regras de videm-se em máximas de experiên-
senso comum, prevalências de com- cia comum e máximas de experiência
portamento, resultados experimen- técnica. As primeiras38 são assim cha-

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madas pela possibilidade de qualquer Seguindo essa afirmativa, obser-
pessoa de cultura mediana inserida va-se que a aplicação das máximas de
em um contexto social conhecê-las, di- experiência não depende de provoca-
ferentemente das classificadas como ção das partes. “Admite-se que o juiz
máximas de experiência técnicas que possa, para a formulação de seu con-
pertencem a um determinado campo vencimento, valer-se dessa categoria,
específico do saber.39 sem que essa corresponda à utilização
Ao efetuar a diferenciação entre de seu saber privado”,42 já que tal fato
as máximas de experiência comum e é vedado por nossa legislação.43
técnicas, Ribeiro utiliza como critério
a necessidade ou não de conhecimen- Funções das máximas
to específico. Exemplifica dizendo que
“não dependem de conhecimento espe-
de experiência
cializado, v. g., o período de gestação Acerca do tema, diversos autores
da mulher, a gordura em excesso obs- divergem sobre a real função exerci-
trui as veias, o cigarro provoca males da pelo nominado instituto no direito
à saúde”, por outro lado, “dependem probatório brasileiro. Cabe ressaltar
de conhecimento especializado, técni- que, por se tratar de um instituto
co, e. g., reconhecimento por autenti- complexo, são poucos os doutrinado-
cidade da letra, a causa da morte, por res que dissertam sobre as máximas
meio da necropsia, etc.”40 de experiência, e quando o fazem, rea-
Independentemente de serem co- lizam de forma sucinta e superficial,
muns ou técnicas, as máximas de ex- não dispensando o merecido estudo
periência podem ser empregadas “ex que a categoria enseja.
officio (independentemente do reque- Segundo Ribeiro, as regras de
rimento das partes)”, em razão de se experiência, além de constituírem um
tratarem de “juízos formados a partir critério hábil para a valoração das
do que comumente acontece, poden- provas processuais, por si só consti-
do ser formulados abstratamente por tuem um meio de prova denominado
qualquer pessoa de cultura média, não atípico, por não haver limites e tam-
acarretando prejuízo à garantia cons- pouco regras preestabelecidas para a
titucional do contraditório”. Tal fato é sua aplicação.44
possível, pois “o controle e a crítica já Entretanto, segundo o doutrina-
foram realizados fora do processo, já dor Lopes, as regras de experiência
que são pertencentes ao patrimônio exercem função apenas esclarecedora
comum da comunidade”.41 com relação aos fatos e provas judi-

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ciais, não servindo como critério valo- Para ela, as funções das máxi-
rativo. Ainda, entende que não consti- mas de experiência no campo proba-
tuem regra jurídica e tampouco meio tório48 podem ainda ser divididas em
de prova. Sustenta que, funções tradicionais e funções inova-
posto não constituam meio de prova, doras.49 Por sua vez, as funções tra-
nem regra jurídica, as máximas de ex- dicionais repartem-se em: mecanis-
periência desempenham importante pa-
pel na prestação jurisdicional, represen-
mos para entender e interpretar as
tando instrumento útil e valioso para o alegações e depoimentos das partes,
esclarecimento dos fatos da causa. Sua instrumentos utilizados na aprecia-
aplicação permeia todos os meios de
prova, valendo como elemento auxiliar ção dos meios probatórios e meio de
subsidiário na busca da verdade. A im- conexão dos indícios com os fatos. E
portância das máximas de experiência as inovadoras repartem-se em forma
não deve, porém, ser superestimada
pelo juiz.45 de determinação da evidência ou im-
possibilidade de existência de um fato
Para Pessoa, os papéis atribu-
e inversão do ônus da prova.
ídos às máximas de experiência são
A primeira função tradicional
inúmeros. Todavia, a grande maioria
é a sua utilização pelo juiz como me-
deles está atrelada ao campo do direi-
canismo para entender e interpretar
to probatório, oscilando para a herme-
as alegações e depoimentos das par-
nêutica e para a teoria geral do Esta-
tes. Verifica-se que “a atividade pro-
do.46
batória das partes tem por finalidade
Sistematizando a matéria, a
convencer o juiz sobre a existência ou
mesma autora elenca as funções das
inexistência de fatos históricos dos
máximas de experiência, observando
quais a parte pretende extrair uma
que as cinco primeiras aplicações são
conseqüência jurídica e, conseqüente-
relativas à área da prova e as duas úl-
mente, uma sentença favorável”.50
timas referem-se à hermenêutica:
Dessa forma, observa-se que
a) mecanismos para entender e inter-
“essa atuação é relevante porque as
pretar as alegações e depoimentos das
partes; b) instrumentos utilizados na máximas de experiência podem ser
apreciação dos meios probatórios; c) definições ou juízos esclarecedores so-
meio de conexão dos indícios com os
fatos; d) forma de determinação da evi-
bre expressões utilizadas”,51 com isso,
dência ou impossibilidade de existência o magistrado pode compreender52 “los
de um fato; e) inversão do ônus da pro- significados peculiares de las pala-
va; f) auxílio na subsunção dos fatos às
regras jurídicas; g) instrumento para o bras según el lugar o el dialecto”.53
preenchimento dos conceitos juridica- As máximas de experiência exer-
mente indeterminados.47 cem também papel fundamental na

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análise das provas apresentadas. Para do, em situações excepcionais “pode-
Cambi,54 as máximas de experiência se dispensar a produção de provas,
constituem um critério legítimo para quando, a partir da observação do que
a valoração do liame probatório de um ordinariamente acontece, a alegação
processo. Desse modo, o juiz ao profe- dos fatos em que se funda o pretenso
rir uma decisão poderá fazer uso das direito for intuitiva ou, ao contrário,
máximas de experiência como critério de todo impossível”.59
para a valoração e a consequente fun- Da mesma forma, evidencia-se
damentação de sua decisão.55 outra importante função das má-
Ainda dentro da função tradicio- ximas de experiência, na qual fun-
nal das máximas de experiência no cionam como “critério na análise da
campo da prova, destaca-se a terceira verossimilhança da alegação ou na
atribuição elencada, que é a ligação verificação do caráter consagrado de
entre indícios e fatos. Muitas vezes determinado fato, permitindo uma
os fatos não conseguem ser demons- mais rápida instrução e eficaz solução
trados de forma direta. Tal situação da lide”.60
origina-se por “diversas razões, em A última função inovadora, no
especial a irrepetibilidade do compor- campo probatório, desempenhada
tamento humano e a impossibilidade pela categoria consiste na inversão do
de se adentrar às conjecturas mentais ônus da prova. As máximas de expe-
de cada indivíduo”.56 riência, embora dispensem produção
Na sequência, a primeira função probatória por parte de quem as in-
inovadora das máximas de experiên- voca, permitem prova em contrário,
cias no campo probatório revela este hábil a demonstrar a inaplicabilidade
instituto como uma forma de determi- da regra comum a determinado caso
nação da evidência ou impossibilidade concreto. Com isso,
de existência de um fato.57 Destarte, diante de uma tese defensiva meramen-
“o reconhecimento de que um fato é te negativa, mas com conteúdo altamen-
te inverossímil, deverá o juiz proceder a
evidente ou, ao contrário, impossível inversão do ônus da prova, passando-a
é elemento para que se possa declarar à parte que alegar a tese. Evita-se, com
inadmissível, porque inútil, a prova isso, que a dificuldade de uma parte de
produzir a sua prova, leve a uma decisão
que se apresenta para demonstrar a teratológica, fundada na rígida divisão
sua veracidade”.58 do ônus da prova, porém contrária a ob-
Giza-se que o magistrado deve servação comum.61

ter muito cuidado ao considerar um Logo, as normas de divisão do


fato impossível ou evidente. Contu- ônus da prova, constantes no art. 333

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do Código de Processo Civil,62 “devem Por conseguinte, a utilização das
ser aplicadas a partir da perspectiva máximas de experiência nesses casos
de que o processo tem por objetivo a surge como critério interpretativo, au-
pacificação com justiça. Nesse aspec- xiliando o juiz na sua tarefa de proce-
to, as máximas de experiência funcio- der a adequada “subsunção67 dos fatos
nam como critério balizador da veros- às normas”.68
similhança, capaz de inverter, se ne- Ainda na seara interpretativa, as
cessário, o ônus da prova”.63-64 máximas de experiência apresentam-
Assim, verificada a importância se como cânone hermenêutico para o
das máximas de experiência atrela- preenchimento dos conceitos jurídi-
das ao direito probatório (tradicionais cos indeterminados. Constata-se que
e inovadoras), ressalta-se, agora, a as normas com enunciados elásticos
relevância hermenêutica desse insti- permeiam o sistema com o intuito de
tuto. manter o direito vivo. Nessas espécies
A primeira função hermenêutica cabe ao aplicador preencher o con-
revela o caráter auxiliar das máximas teúdo da norma.
de experiência na subsunção dos fatos Assim, as máximas de experiên-
às regras jurídicas. Nessa senda veri- cia possuem um papel fundamental
fica-se que a norma jurídica, na quali- no preenchimento dos conceitos ju-
dade de abstrata, fixa tipos e envolve rídicos indeterminados, deixando ao
uma série de casos indefinidos, “mas juiz o “cuidado de preencher os claros
não se refere a relações individual- de cobrir os espaços em branco”.69
mente consideradas”. Desse modo, as Desse modo, identificam-se as
normas são “necessariamente afas- diversas funções exercidas pelas má-
tadas da realidade, surgindo, então, ximas de experiência no direito pro-
uma oposição entre normas jurídicas cessual civil. Percebe-se que o referi-
e fatos”.65 do instituto, alicerçado nas garantias
Contudo, “esta oposição não é processuais constitucionais, é meio
um hiato insanável nem é tão radical hábil a ser utilizado para solucionar
quanto parece, porque os fatos indivi- litígios de forma célere, eficaz e justa,
duais apresentam o geral determina- assim como preceitua a moderna pro-
do no conceito abstrato, ou seja, uma cessualística.
nota de tipicidade que permite que
sejam enquadrados nos conceitos nor-
mativos. A aplicação do direito assim
concebida denomina-se subsunção”.66

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Conclusão das de moralidade e Justiça e sua ino-
bservância, inegavelmente, afronta o
O presente estudo buscou eluci- próprio conceito de Justiça, tornando
dar a importância das funções exer- o referido princípio de caráter indis-
cidas pelas máximas de experiência pensável para uma sentença mais
no processo civil de conhecimento. adequada, acertada e justa.
Enfatiza a necessidade de aplicação Nesse sentido as máximas de ex-
das garantias processuais constitucio- periência exercem funções de signifi-
nais, entre as quais o due process of cativa valia no campo concernente ao
law e seus corolários, visando concre- direito probatório no processo civil de
tizar os valores constitucionais ine- conhecimento. Dividem-se em comum
rentes à prestação jurisdicional, que ou técnica. A primeira advém da ex-
dão a elasticidade necessária para a periência adquirida pelo magistrado
interpretação de uma norma jurídica. no cotidiano e em sua vida forense; já
O due process of law constitui-se as técnicas são frutos de outra área do
em norma de direitos humanos, posi- saber da qual o juiz possui formação e
tivada na Declaração Universal dos conhecimento. Sua aplicação é o que
Direitos do Homem, em seu art. 10, e se espera do magistrado para julgar o
recepcionada no Brasil pela Constitui- processo, afastando-se, quando neces-
ção cidadã de 1988, como decorrência sário, do direito positivo, uma vez que
do Estado democrático de direito, que a realidade social não se limita às pre-
vige desde então. Dessa forma, obser- visões legais e a prestação jurisdicio-
va-se que o princípio do devido pro- nal efetiva é assegurada aos litigantes.
cesso legal está constitucionalmente As funções desempenhadas pelo
previsto como garantia individual e referido instituto no processo são o
fundamental do homem e, dessa for- ponto de grande divergência entre os
ma, serve como base para os demais doutrinadores. Além de constituírem
princípios e regras processuais cons- critério legítimo para a valoração do
titucionais, uma vez que traça diretri- material probatório constante num
zes desde a elaboração da legislação, processo, grifa-se que, por não depen-
dos procedimentos legais, culminando derem de prova e por existir a possi-
com uma decisão adequada e justa. bilidade de serem aplicadas de ofício
Dessa forma, frisa-se que o prin- pelo juízo, as máximas de experiência
cípio constitucional do devido proces- podem ser vistas como provas atípicas
so legal exsurge como garantidor da o que, por vezes, torna a fase instru-
concretização dos preceitos constitu- tória do processo mais célere e eficaz,
cionais, na medida em que propicia a requisito essencial no tangente a solu-
elaboração de decisões judiciais dota- ção do litígio com justiça.

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Ainda, cumpre ressaltar que, that it is inherent. From this predic-
dentre as diversas funções exercidas tion analysis of the legal and consti-
pelo referido instituto, destacam-se as tutional procedural safeguards, es-
funções inovadoras, como a determi- pecially the due legal process and its
nação da evidência ou impossibilidade corollaries, there is discussion on the
de existência de um fato, a inversão do maximum experience, their functions
ônus da prova e como cânone herme- and applications in civil procedural
nêutico, funções essas que permitem law. This approach allows note that
uma solução mais célere e eficaz da the maximum experience go beyond
lide, atendendo, assim, à finalidade the simple criterion value of the evi-
de tempestividade e pacificação social, dence read in the process. They are
sem prejuízo para a busca da verdade. used, too, as evidence atypical, becau-
Ao final deste trabalho, frisa-se a se of the possibility of being imple-
importância de situar as máximas de mented in letter and the judge did not
experiência no processo civil moderno, tip them over the need to be proven
o qual busca uma atitude mais ativa do and, on the condition of hermeneutic
magistrado, que deverá fazer uso das canon. Accordingly, the maximum ex-
máximas de experiência para assegu- perience allow a quick investigation
rar a solução dos litígios, bem como a and solution of the deal, so quickly
prestação jurisdicional tempestiva e and effectively, which is expected for
adequada, sempre com o objetivo de se the realization of justice, a value gre-
alcançar a tão pretendida justiça. ater than the legal system.

Key words: Due process of law. Proce-


Use of politics of
dural constitutional guarantees. Max-
experience faced with the imum experience. Process.
principle of due process
of law as a mechanism Notas
of law enforcement 2
PICÓ I JUNOY, Juan. Las garantias cons-
titucionales del processo. Barcelona: Bosch,
Abstract 3
1997. p. 21.
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRI-
NOVER, Ada Pelegrini; DINAMARCO,
Cândido Rangel. Teoria geral do processo.
Article 335 of brazilian Code of Civil São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 37.
4
Procedure are expressly provided for STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis
Bolzan de. Ciência política e teoria geral do
the maximum experience, providing estado. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Ad-
the judge the use of their daily expe- vogado, 2004. p. 85.
5
rience and forensics, to solve the deal, BONAVIDES, Paulo. Curso de direito cons-
titucional. 15. ed. São Paulo: Malheiros Edi-
as a consequence of providing court tores, 2004. p. 530.

v. 22, n. 1, 2008 - p. 32-47 JUSTIÇA DO DIREITO

43
6
PICÓ I JUNOY, Las garantias constitucio- 22
ARIMATÉIA, José Rodrigues. O devido pro-
nales del processo, p. 21. cesso legal em sentido material. Revista da
7
COUTERE apud PICÓ I JUNOY, op. cit., Escola Paulista da Magistratura, São Pau-
p. 21. lo: Imprensa Oficial do Estado. ano I, p. 65-
8
Artigo 5º, inciso LIV, da Constituição Fede- 80, 1993. p. 72.
ral: “Ninguém será privado da liberdade ou 23
CAPPELLETTI, Mauro. Problemas de refor-
de seus bens sem o devido processo legal.” ma do processo civil nas sociedades contem-
9
SILVA, Luciana Vieira. Prova ilícita no porâneas. In: MARINONI. Luiz Guilherme
processo civil à luz do princípio da propor- (Coord.). O processo civil contemporâneo.
cionalidade. Jus Navigandi, Teresina, ano Curitiba: Juruá, 1994. p. 9-30. p. 15.
10, n. 1188, 2 out. 2006. Disponível em: 24
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Os poderes
h ttp://jus2.uol.com.br/doutrina/texto. do juiz. In: MARINONI, Luiz Guilherme. O
asp?id=8997. Acesso em: 29 de mar. 2007. processo civil contemporâneo. Curitiba: Ju-
p. 3. ruá, 1994. p. 93-98. p. 95.
10
Artigo 10 da Declaração Universal dos Di- 25
FORNACIARI, Flávia Hellmeister Clito. As
reitos Humanos: “O homem tem direito, em máximas de experiência e o livre convenci-
plena igualdade, a uma justa e pública audi- mento do juiz. Revista Dialética de Direito
ência por parte de um tribunal independen- Processual, n. 10, p. 9-26, jan. 2004. p. 18.
te e imparcial, para decidir de seus direitos e 26
PESSOA, Flávia Moreira. A utilização das
deveres ou do fundamento de qualquer acu- máximas de experiência no campo proba-
sação criminal contra ele.” tório no direito processual civil. Justiça do
11
DENTI, Vitorio. Valori constituzionali e cul- trabalho, v. 21, n. 251, p. 30-37, nov. 2004. p.
tura processuale. In: Sistemi e riforme: studi 31.
sulla giustizia civile. Bologna - Itália: Muli- 27
Artigo 335 do Código de Processo Civil: “Em
no, 1999. p. 60-88. p. 61. falta de normas jurídicas particulares, o juiz
12
CAMBI, Eduardo. Direito constitucional à aplicará as regras de experiência comum
prova no direito processual civil. São Paulo: subministradas pela observação do que or-
Revista dos Tribunais, 2001. p. 108. dinariamente acontece e ainda as regras da
13
CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, Teo- experiência técnica, ressalvado, quanto a
ria geral do processo, p. 83. esta, o exame pericial.”
14
ARIMATÉIA, José Rodrigues. O devido pro- 28
STEIN, Friedrich. El conocimiento privado
cesso legal em sentido material. Revista da del juez. Trad. de Andrés De La Oliva San-
Escola Paulista da Magistratura, São Pau- tos. 2. ed. Bogotá: Temis, 1988. p. 27.
lo: Imprensa Oficial do Estado, ano I, p. 65- 29
PIRES, Júlio César Becker. Da avaliação
80, 1993. p. 71. da prova cível. 2006. Dissertação (Mestrado
15
LIMA, Maria Rosynete Oliveira. Devido pro- em Ciências Jurídicas e Sociais) - Pontifícia
cesso legal. Porto Alegre: Sergio Antonio Fa- Universidade Católica do Rio Grande do
bris, 1999. p. 215. Sul, 2006. p. 71.
16
VIGORITI, Vicenzo. Garanzie costituziona- 30
LOPES, João Batista. A prova no Direito
li del processo civile. Milano: Giuffré, 1970. Processual Civil. 3. ed. rev., atual. e ampl.
p. 30. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
17
Ibid., p. 39. p. 69.
18
CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, op. 31
STEIN, op. cit., p. 26.
cit., p. 82. 32
PESSOA, Flávia Moreira Guimarães. Máxi-
19
NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do pro- mas de experiência no processo civil. Araca-
cesso civil na constituição federal. 8. ed. São ju: Evocati, 2006. p. 69.
Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 65. 33
PIRES, op. cit., p. 71.
20
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direi- 34
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Regras de
to constitucional e teoria da Constituição. experiência e conceitos juridicamente inde-
7. ed. Coimbra - Portugal: Livraria Almedi- terminados. Revista Forense, Rio de Janeiro,
na, 2003. p. 494. v. 74, n. 261, p. 13-19, jan./mar. 1978. p. 13.
21
NERY JUNIOR, op. cit., p. 70. 35
STEIN, El conocimiento privado del juez,
p. 37.

JUSTIÇA DO DIREITO v. 22, n. 1, 2008 - p. 32-47

44
36 50
ROSITO, Francisco. Direito probatório: as ROSITO, op. cit., p. 108.
51
máximas de experiência em juízo. Porto Ale- PESSOA, op. cit., p. 33.
52
gre: Livraria do Advogado, 2007. p. 79. “O conhecimento de tais termos é essencial
37
PESSOA, Máximas de experiência no pro- ao juiz para a adequada compreensão do
cesso civil, p. 70/71. material probatório colhido em audiência.
38
Lopes, utiliza como exemplos os seguintes Nesse contexto, as máximas de experiência
casos: “É fruto da experiência comum que sobre o uso da linguagem têm função funda-
o motorista, ao passar próximo de crianças mental, permitindo a correta compreensão
que jogam futebol na rua, devem redobrar dos depoimentos colhidos, bem como uma
sua cautela, por ser previsível que uma de- maior aproximação entre julgador e jurisdi-
las, desatenta, possa cortar a frente do veí- cionados.” PESSOA, op. cit., p. 33.
53
culo. Outro exemplo, agora relacionado ago- Tradução livre da autora: os significados
ra relacionado com a atividade forense: deve peculiares de termos segundo o lugar ou o
o juiz receber com reservas o depoimento dialeto. STEIN, El conocimiento privado del
prestado por testemunhas que, ao respon- juez, p. 24.
54
der às perguntas, se volta para o advogado CAMBI, A prova civil: admissibilidade e re-
de uma das partes à espera da aprovação.” levância, p. 284-285.
55
LOPES, A prova no direito processual civil, “No sistema da persuasão racional, as máxi-
p. 69. mas funcionam como critério para impedir
39
CAMBI, A prova civil: admissibilidade e re- a criação de “verdades” desvinculadas de
levância, p. 287. qualquer critério de verossimilhança. Não
40
RIBEIRO, Provas atípicas, p. 110. apresentam, entretanto, caráter obrigató-
41
CAMBI, op. cit., p. 287. rio e vinculante ou desvirtuador da própria
42
BAGGIO, Lucas Pereira. O artigo 335 do apreciação. Assim, as regras de experiência
Código de Processo Civil à luz da categoria atuam, dentro do sistema vigente da per-
das máximas de experiência. In: KNIJNIK, suasão racional, como elemento auxiliar na
Danilo (Coord.). Prova judiciária: estudos análise das provas produzidas, agindo dire-
sobre o novo direito probatório. Porto Ale- tamente na valoração das provas pelo juiz.”
gre: Livraria do Advogado, 2007. p. 181-202. PESSOA, A utilização das máximas de expe-
p. 189. riência no campo probatório no direito pro-
43
CAMBI, op. cit., p. 287. cessual civil, p. 33.
44 56
RIBEIRO, Provas atípicas, p. 105/108. FORNACIARI, As máximas de experiência e
45
LOPES, A prova no direito processual civil, o livre convencimento do juiz, p. 24.
57
p. 70. Como exemplo desta utilização das máxi-
46
PESSOA, Máximas de experiência no pro- mas de experiência assevera Karl Larenz:
cesso civil, p. 73/74. “Pela experiência de funcionamento do
47
PESSOA, Máximas de experiência no pro- mercado, do habitual comportamento econô-
cesso civil, p. 83. mico dos compradores de terrenos, o julga-
48
“No que se refere à atuação das máximas de dor sabe que estes atribuem normalmente
experiência sobre o procedimento probató- grande importância à aptidão do terreno
rio, naturalmente o juiz serve-se de juízos para construção na sua decisão de comprar
gerais extraídos da experiência comum ou e particularmente no preço oferecido. Dessa
do patrimônio científico, fruto de sua cultu- forma não seria, por exemplo, aceitável que,
ra, ao proceder a reconstrução histórica dos uma vez que a aptidão de um terreno para
fatos relevantes para a sua decisão. Não po- construção foi considerada como qualidade
deria ser diferente, como homem médio que essencial do comércio, vir negá-lo num caso
é, vivente em uma certa sociedade e em um concreto.” LARENZ apud PESSOA, Máxi-
dado momento histórico, pois é essencial- mas de experiência no processo civil, p. 158.
58
mente com base na experiência que o juiz PESSOA, Máximas de experiência no pro-
apóia as suas valorações.” ROSITO, Direito cesso civil, p. 157.
59
probatório, as máximas de experiência em PESSOA, op. cit., p. 158.
60
juízo, p. 108. PESSOA, op. cit., p. 159.
49
PESSOA, op. cit., p. 84.

v. 22, n. 1, 2008 - p. 32-47 JUSTIÇA DO DIREITO

45
61
PESSOA, A utilização das máximas de expe-
riência no campo probatório no direito pro- Referências
cessual civil, p. 35.
62
Artigo 333 do Código de Processo Civil: “O ARIMATÉIA, José Rodrigues. O devido pro-
ônus da prova incumbe: I - ao autor, quan- cesso legal em sentido material. Revista da
to ao fato constitutivo do seu direito; II - ao Escola Paulista da Magistratura, São Pau-
réu, quanto à existência de fato impeditivi, lo: Imprensa Oficial do Estado, ano I, p. 65-
modificativo ou extintivo do direito do au-
80, 1993.
tor; Parágrafo único: É nula a convenção
que distribui de maneira diversa o ônus da BAGGIO, Lucas Pereira. O artigo 335 do
prova quando: I - recair sobre direito indis- Código de Processo Civil à luz da categoria
ponível da parte; II - tornar excessivamente das máximas de experiência. In: KNIJNIK,
difícil a uma parte o exercício do direito.”
63 Danilo (Coord.). Prova judiciária: estudos
PESSOA, op. cit., p. 35.
64
“O juiz, utilizando a experiência comum ou sobre o novo direito probatório. Porto Ale-
técnica, faz o raciocínio dedutivo na desco- gre: Livraria do Advogado, 2007. p. 181-202.
berta do fato desconhecido. É o que se de- BONAVIDES, Paulo. Curso de direito cons-
nomina indício ou praesumptiones hominis,
titucional. 15. ed. São Paulo: Malheiros,
sendo-lhe vedado valer-se das regras de ex-
periência em face das praesumptiones iuris. 2004.
Utilizando o juiz essa regra de experiência BRASIL. Constituição Federal, Código Ci-
comum no julgamento da causa, ocorre, nos vil e Código de Processo Civil. In: ABREU
moldes das praesumpiones hominis, a inver- FILHO, Nylson Paim de (Org.). 9. ed. Porto
são do ônus da prova, configurando exceção
Alegre: Verbo Jurídico, 2008.
ao art. 333 do CPC.” RIBEIRO, Provas atípi-
cas, p. 108. CAMBI, Eduardo. A prova civil: admissibi-
65
PESSOA, op. cit., p. 87. lidade e relevância. São Paulo: Revista dos
66
DINIZ apud PESSOA, Máximas de expe- Tribunais, 2006.
riência no processo civil, p. 87.
67
Cumpre ressaltar que “a aplicação judicial _______. Direito constitucional à prova no
do direito não se confunde com um simples direito processual civil. São Paulo: Revista
processo de dedução, não sendo a sentença a dos Tribunais, 2001.
conclusão necessária de um silogismo”, bem
como “os critérios de subsunção dos fatos CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direi-
às normas não conduzem à solução única to constitucional e teoria da constituição.
do caso posto à apreciação do juiz”. É essa 7. ed. Coimbra - Portugal: Livraria Almedi-
indeterminação semântica que caracteriza na, 2003.
os conceitos juridicamente indeterminados.
PESSOA, op. cit., p. 84. CAPPELLETTI, Mauro. Problemas de re-
68
Idem, p. 88. forma do processo civil nas sociedades con-
69
MOREIRA, Regras de experiência e concei- temporâneas. In: MARINONI, Luiz Gui-
tos juridicamente indeterminados, p. 14. lherme (Coord.). O processo civil contempo-
râneo. Curitiba: Juruá, 1994. p. 9-30.
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRI-
NOVER, Ada Pelegrini; DINAMARCO,
Cândido Rangel. Teoria geral do processo.
São Paulo: Malheiros Editores, 2004.
DENTI, Vitorio. Valori constituzionali e
cultura processuale. In: Sistemi e riforme:
studi sulla giustizia civile. Bologna – Itália:
Mulino, 1999. p. 60-88.

JUSTIÇA DO DIREITO v. 22, n. 1, 2008 - p. 32-47

46
FORNACIARI, Flávia Hellmeister Clito. As ROSITO, Francisco. Direito probatório: as
máximas de experiência e o livre convenci- máximas de experiência em juízo. Porto Ale-
mento do juiz. Revista Dialética de Direito gre: Livraria do Advogado, 2007.
Processual, n. 10, p. 9-26, jan. 2004.
SILVA, Luciana Vieira. Prova ilícita no pro-
LIMA, Maria Rosynete Oliveira. Devido cesso civil à luz do princípio da proporciona-
processo legal. Porto Alegre: Sergio Antonio lidade. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n.
Fabris, 1999. 1188, 2 out. 2006. Disponível em: http://jus2.
uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8997.
LOPES, João Batista. A prova no direito
Acesso em: 29 mar. 2007.
processual civil. 3. ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. STEIN, Friedrich. El conocimiento privado
del juez. Trad. de Andrés De La Oliva San-
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Os pode-
tos. 2. ed. Bogotá: Temis, 1988.
res do juiz. In: MARINONI. Luiz Guilher-
me. O processo civil contemporâneo. Curiti- STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis
ba: Juruá, 1994. p. 93-98. Bolzan de. Ciência política e teoria geral do
estado. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Ad-
_______. Regras de experiência e conceitos
vogado, 2004.
juridicamente indeterminados. Revista Fo-
rense, Rio de Janeiro, v. 74, n. 261, p. 13-19, VIGORITI, Vicenzo. Garanzie costituzionali
jan./mar. 1978. del processo civile. Milano: Giuffré, 1970.
NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do pro-
cesso civil na constituição federal. 8. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
PESSOA, Flávia Moreira Guimarães. Máxi-
mas de experiência no processo civil. Araca-
ju: Evocati, 2006.
PESSOA, Flávia Moreira. A utilização das
máximas de experiência no campo proba-
tório no direito processual civil. Justiça do
Trabalho, v. 21, n. 251, p. 30-37, nov. 2004.
PICÓ I JUNOY, Juan. Las garantias cons-
titucionales del processo. Barcelona: Bosch,
1997.
PIRES, Júlio César Becker. Da avaliação
da prova cível. 2006. Dissertação (Mestrado
em Ciências Jurídicas e Sociais) - Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, 2006.
RIBEIRO, Darci Guimarães. Provas atípi-
cas. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
1998.

v. 22, n. 1, 2008 - p. 32-47 JUSTIÇA DO DIREITO

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