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Os 03 (três) Pilares da Teoria Geral do Processo: Jurisdição, Ação e

Processo.
Jean Tiago Erlo

A Teoria Geral do Processo assenta-se em três pressupostos ou institutos fundamentais, quais


sejam: jurisdição, ação e processo. O professor PODETTI qualificou essa tribase como “trilogia
estrutural da ciência do processo civil”, cujos elementos compõe “la base metodológica y
científica del estudio de la teoria y de la prática del proceso”. Pois bem, este nobre processualista
argentino ainda preceitua que, diante da análise destes elementos, deve pautar-se o estudo
partindo de uma concepção unitária subordinada da teoria, assim observado, nenhum dos três
institutos podem ser visualizados ou concebidos independentemente, sendo um o pressuposto
lógico de existência do outro.

Para haver um embasamento no que diz ao conhecimento dos institutos fundamentais, é


veementemente necessário se ter uma conceituação. Por início, a análise etimológica se mostra
como ponto de partida para a compreensão destes, seguida da essência do seu significado
contextualizado à Teoria Geral do Processo, com ares de matéria propedêutica.

Em primeiro caso, visualiza-se a jurisdição, vinda do latim jurisdictio, compondo-se de dois


elementos – juris e dictio, cujo significado literal é “dizer o direito”, isto é, julgar. Desse modo,
não se pode exaurir a utilização de jurisdição somente ao ato de julgar, impende observar
também, à autoridade que a exerce, por ora se atribui ao território de atuação de um
determinado juiz, e até mesmo ao ato de alguém se submeter à esta.

No que concerne ao positivado no Código de Processo Civil, o artigo 16 deste diploma apresenta
que a jurisdição civil é exercida pelos juízes e tribunais, em todo o território nacional. Então,
notoriamente se vê o inequívoco entendimento, que por natureza, a jurisdição é unitária.
Porém, sobretudo, jurisdição é a função de julgar, sendo para resolver uma lide, seja para
permitir a efetivação de uma situação jurídica especial. Mas também, entende-se que ela
demonstra a soberania nacional pelo poder e atividade, composta por órgãos independentes e
imparciais, que no Brasil, assim como em países de sistema jurisdicional de mesmo feito,
pertencem ao Poder Judiciário. Segundo o método Aristotélico de interpretação da jurisdição,
deve, além do gênero (ato de julgar), haver a distinção específica (como julgar).

Em segundo caso, se verifica uma definição clássica de ação, advinda do latim “actio nihil aliud
est quam jus persequendi in judicio quod sibi debetur”, clareando ao português, significa que a
ação não seria outra coisa, senão o direito de perseguir em juízo aquilo que nos é de direito.
Este conceito vem da ROMA antiga, através do jurisconsulto chamado CELSO, que praticamente
exaure o que se entende por ação, porém, no ponto de vista da Teoria Geral do Processo como
ciência, a qual representa a ação como de fato um direito, da qual se faz valer a busca por outros
direitos, conforme assinala o professor MEDINA.

Hoje, se tem como verdade que a ação se trata de um direito de provocar o exercício da
jurisdição com o fim de obter um reconhecimento de um direito subjetivo invocado, gerando
um pretensão à medida que se mostra exigível.

Cabe destacar, que o conceito como visto de maneira primária, se refere à ação no que cabe ao
Direito Processual. É importante ver que, a ação decorre do direito de agir, assim, há o
entendimento de PONTES DE MIRANDA que ao observar o artigo 75 do Código Civil de 1916, o
qual dizia “A todo direito corresponde uma ação, que o assegura”, cunhou a expressão ação do
direito material. Esse Direito Material, pode exercer-se por meio da ação originariamente pelo
direito processual, tanto por via administrativa (direito de petição) ou do juízo arbitral.

O exercício da ação mediante o ponto de vista ainda processual, segundo a doutrina majoritária,
se entende por uma postulação dirigida ao Estado, pois não se aplica diretamente ao réu,
mesmo informalmente se diga “vou propor ação contra fulano”, ao passo que se confunde a
pretensão do direito de ação contra terceiro, com a ação de fato que criará a demanda ofertada
em petição inicial ou nas demais fases hábeis para arguir um direito dentro do feito.

Por terceiro e último instituto fundamental da tríade processual, se encontra o processo, que
por natureza se torna o elemento mais dinâmico dos três, à medida que os atos se compõe e se
sucedem. A origem etimológica, já da indícios desse sentido que o conceito de processo possui
no Direito. Derivado do latim “pro – cedere”, ou seja, formada de uma preposição que indica
para frente acrescida ao verbo caminhar, dando-lhe assim, a ideia de uma sequência em
determinada direção.

Pois bem, processo trata-se de uma sequência ordenada, obedecendo o estabelecido em lei. Ao
qual, se atribui impulso constante a fim de que o juiz tenha o controle dos atos por ele
presididos. Estes atos são prerrogativas de determinadas pessoas que a eles se vinculam, tais
como: juiz, as partes, o representante do Ministério Público (eventual no processo civil ao
contrário do processo penal).

O desenrolar do processo, se dá em obediência aos princípios constitucionais que o norteiam e


às disposições contidas na lei processual, ao ponto que, só lhe é atribuído legitimidade quando
se ajusta ao devido processo legal, assim sendo superveniente ao ajuste a orientação pelos
demais princípios, como por exemplo, o princípio do contraditório, o qual assegura a todos os
que participam dele, a possibilidade de participar interferir no seu desfecho. E não menos
importante, mas por obviedade e ultimato, o processo deve perseguir uma meta final, sendo o
método da atividade jurisdicional, utilizado para a resolução da lide ou para efetuar a garantia
de um direito, dentro dos parâmetros viáveis, se denota de maneira sólida a percepção do
professor PONTES DE MIRANDA quando diz que “O processo não é mais do que o corretivo da
imperfeita realização automática do direito objetivo”.

Finalizada a conceituação, traz-se à baila qual seria a diferença e a relação entre estes institutos
fundamentais. De maneira mais simplória, em prática, a jurisdição se torna a função de julgar
ou de emitir pronunciamentos judiciais que a lei indica, podendo ser contenciosa ao resolver
lides ou voluntária quando trata-se de interesses disponíveis e exigem a intervenção estatal para
adquirir validade.

Ao passo que a ação se torna o direito público subjetivo de demandar ao órgão estatal
competente o exercício da jurisdição, através da modalidade denominada direito de petição,
sendo a jurisdição retirada de sua inércia, para exercer a função jurisdicional, estando
intrinsecamente ligada à ação como direito autônomo de provocá-la.

A ligação inseparável e necessária entre estes dois primeiros institutos, vinculam-se diretamente
ao processo, sendo que um lhe da a possibilidade institucional de ser provocada (jurisdição), o
direito subjetivo de provocá-la (a ação), sendo, as duas anteriores, complementadas pelo
necessário conjunto de procedimentos a fim de se conseguir chegar a um objetivo, qual seja, o
processo. Por conseguinte, o processo se estabelece por atos interdependentes, presididos por
alguém investido da função jurisdicional, impulsionado pelo direito de agir da ação, objetivando
a prolação de uma sentença, de modo a resolver o mérito.
Vê-se dessa maneira, a impossibilidade de separá-los, sendo o mecanismo, preestabelecido e
ordenado por princípios e normas positivadas, colocando cada instituto em seu devido lugar,
mas ao mesmo tempo relacionando-os por obrigatoriedade de sustentar o mecanismo tríade
denotado pela ciência da Teoria Geral do Processo.

Na tentativa explicativa de diferenciá-los, não há como separar efetivamente a diferenciação da


própria relação entre eles de maneira precisa, pois ao ponto que se relacionam, esta diferença
acontece pela especifidade de cada instituto. Podendo assim, ser feita breve analogia, onde a
jurisdição como corpo físico do Estado, materializado pelas instituições, juízes e o poder-dever
de julgar (decidir). A ação, como direito subjetivo de Pessoa Natural ou Jurídica, Pública ou
Privada, de arguir direito próprio ou de terceiro na forma principiológica, constitucional ou
normativa, o que de se entender de direito. E o processo, como mecanismo “manipulado” pela
jurisdição a fim de, com a participação dos “atores e coadjuvantes”, inflamados pelo ato
iniciatório da ação, chegarem a um resultado ou à oficialização de um direito material. O que
demonstra desde a saída da abstração, até materialização como um todo.

Por fim, sobrevém que, visto a conceituação dos institutos, pormenorizando cada um deles,
adentrando nas suas esferas e após vendo qual seria sua aproximação, ou seja, a relação entre
cada um deles intrinsecamente, e também sua diferenciação. Cumpre fazer uma conclusão
analítica do panorama da realidade, sobre a sua efetiva importância, não só para estabelecer a
ciência da Teoria Geral do Processo, mas bem como contextualizá-los no Direito Processual
Brasileiro. Essa tribase aplicada, se vê como a satisfação das demandas litigiosas ou declaratórias
de direitos, que cumpre ao Estado suprir, apaziguando o convívio social e solidificando as bases
positivistas sem deixar de observar a existência humanística e suas peculiaridades, utilizando o
Direito Processual como direcionador da atividade executada, por isso da importância de um
cumprimento real do ordenamento, sabendo diferenciar o abstrato do real, sem que isso enseje
prejudicar acima de tudo, a justiça.

Referências:

BRASIL. Código de Processo Civil de 16 de março de 2015. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 26
de abril de 2019;

MEDINA, Paulo Roberto Gouvea. Teoria Geral do Processo – 4ª ed. rev., atual. e ampl. -Salvador:
Ed. JusPodivm, 2018;

PODETTI, Ramiro. Teoria y Técnica del Proceso Civil y Trilogia Estructural de la Ciencia del
Proceso Civil. Buenos Aires: EDIAR Soc. Anón. EDITORES, 1963, pp. 338/339, nº 2;

PONTES DE MIRANDA. Tratado das Ações, tomo I. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1970,
pp. 109 e segs., especialmente nº 2 e 3.

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