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Processo de execução
1. INTRODUÇÃO
O ser humano possui uma vocação, que lhe é imanente, de viver em grupo, associado a
outros seres da mesma espécie, sendo explanado por Aristóteles que o homem é um animal
político, que nasce com a tendência de viver em sociedade. Cada homem tem necessidade
dos demais para sua conservação e aperfeiçoamento, pelo que a sociedade não é uma
formação artificial, mas uma necessidade natural do homem.
Quem contempla o panorama de um agrupamento social verifica que ele revela aos olhos
do observador os homens com as suas necessidades, os seus interesses, as suas pretensões
e os seus conflitos. Estes conceitos, além de outros com eles relacionados, devem merecer
uma análise do estudioso do direito processual, ainda que preliminar e superficial.
É natural que ocorram conflitos nas relações humanas. Quando à pretensão do titular de
um dos interesses em conflito, opõe o outro a resistência, o conflito assume as feições de
uma verdadeira lide.
Segundo Carreira Alvim, “a lide nada mais é do que um modo de ser do conflito de
interesses, qualificado pela pretensão de um dos interessados e pela resistência do outro”
Diante disso o Estado viu-se na obrigação de criar normas para que as lides fossem
solucionadas, de modo à reestabelecer a ordem social. Assim o Estado exerce jurisdição
sobre a lide.
Para que se proponha um processo de execução, deve existir em um primeiro plano o não
cumprimento de uma obrigação assumida, assim a tutela executiva busca a satisfação ou
realização de um direito já acertado ou definido em título judicial ou extrajudicial, a fim da
eliminação de uma crise jurídica de inadimplemento.
Na execução, o Estado atua como substituto, promovendo uma atividade que competia ao
devedor exercer: a satisfação da prestação a que tem direito o credor. Somente quando o
obrigado não cumpre voluntariamente a obrigação é que tem lugar a intervenção do órgão
judicial executivo. Dai a denominação de "execução forçada", adotada pelo Código de
Processo Civil, no art. 566, à qual se contrapõe a ideia de "execução voluntária" ou
"cumprimento" da prestação, que vem a ser o adimplemento.
O processo como meio de resolução das lides, vem desde os primórdios da existência
humana, mais só atingiu seu alto grau de desenvolvimento em Roma. As instituições
jurídicas romanas evoluirão de tal forma, que ainda hoje, o direito de quase todas as nações
cultas do mundo se inspira no direito romano.
Com a queda do império romano, invadido por bárbaros, o processo romano altamente
desenvolvido entrou em choque com o primitivo processo germânico, um processo
rudimentar de fundo místico-religioso. Os invasores, como não deixaria de ser, procuraram
impor seu método de resolução de conflitos, contudo, o processo romano continuou
resistindo.
Esse período denominou-se praxismo porque o direito processual foi considerado pelos
jurisconsultos, advogados e práticos como um conjunto de recomendações práticas sobre o
modo de se proceder o juízo. Preocupavam-se com a forma de realizar o processo, sem
grandes preocupações com estudos teóricos de processo. Este período se encerra com o
procedimentalismo.
3. O PROCESSO DE EXECUÇÃO
Em alguns casos o patrimônio do devedor, também representa óbices para à ampla atuação
jurisdicional, pois o principio da menor onerosidade ao devedor deve ser aplicado, assim
existem certos bens indispensáveis à sua vida digna, não podendo ser objeto de penhora.
Vale salientar, que a aplicação do principio da menor onerosidade ao devedor deve ser
aplicado harmonicamente com o principio da efetividade da execução. Há, porém, um limite
ao principio da menor onerosidade, cuja incidência não pode servir de amparo a calotes de
maus pagadores.
Em síntese, Elpídio Donizete argumenta que “é preciso distinguir entre o devedor infeliz e de
boa-fé, que vai ao desastre patrimonial em razão de involuntárias circunstâncias da via, e o
caloteiro chicanista, que se vale das formas do processo executivo e da benevolência dos
juízes como instrumento a serviço de suas falcatruas. Quando não houver meios mais
amenos para o executado, capazes de conduzir à satisfação do credor, que se apliquem os
mais severos”.
4. AS PARTES
O nosso código processual vigente em seus arts. 566 a 568 tratam da legitimidade ad
causam ativa e passiva no processo de execução. Como a tutela executiva só pode ser
promovida pelo credor ou pelas pessoas legitimas, por outro lado só pode figurar como
executado o devedor ou quem tenha responsabilidade executiva.
A legitimidade ativa extraordinária encontra-se prevista no texto normativo no art. 566, II, do
Código Processual Civil, onde o legislador dá excepcionalmente autorização para alguém
pleitear, em nome próprio, direito alheio. Um exemplo quando o Ministério Público
promove ação civil ex delito.
O art. 567, do Código de Processo Civil, traz as hipóteses de legitimação sucessiva, in verbis:
“Podem também promover a execução, ou nela prosseguir: I – o espólio, os herdeiros ou os
sucessores do credor, sempre que, por morte deste, lhes for transmitido o direito resultante
do título executivo; II – o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe foi
transferido por ato entre vivos; III – o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou
convencional”.
Como já apresentado no tópico anterior, apenas podem figurar no polo passivo da execução
o devedor que tenha adquirido responsabilidade executiva. O art. 568, do Código de
Processo Civil, trata dos sujeitos que poderão figurar no polo passivo: “são sujeitos passivos
na execução: I – o devedor, reconhecido como tal no título executivo; II – o espólio, os
herdeiros ou os sucessores do devedor; III – o novo devedor, que assumiu, com o
consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo; IV – o fiador judicial; V –
o responsável tributário, assim definido na legislação própria”.
5. COMPETÊNCIA
A busca pela tutela executiva pode ser fundada em título executivo judicial e extrajudicial.
Compete a execução de título judicial, quando for o caso, o juízo que prolatou a decisão
exequenda. Dispõe o art. 475-P, do Código de Processo Civil, sobre a competência para a
apreciação executiva dos títulos judiciais, “O cumprimento de sentença efetuar-se-á perante:
I – os tribunais, nas causas de sua competência originária; II – o juízo que processou a causa
no primeiro grau de jurisdição; III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença
penal condenatória, de sentença arbitral ou de sentença estrangeira”.
Nos casos em que os tribunais têm competência originária, como por exemplo: ação
rescisória e mandando de segurança, cabe o tribunal que proferiu o acórdão processar o
seu cumprimento. Se a causa foi decidida em juízo de primeiro grau de jurisdição, será ele
competente para executar sua sentença.
Agora existem alguns casos que o juízo que prolatou decisão não será o competente para
exercer a tutela executiva, são exemplos à sentença penal condenatória, a sentença arbitral
e a sentença estrangeira, nestes casos será competente o juízo cível, sendo o for para o
ajuizamento da respectiva ação será definido de acordo com as normas sobre competência
constantes nos arts. 94 e seguintes do Código de Processo Civil.
A tutela executiva também pode ser fundada em título extrajudicial, assim prevê o Código de
Processo Civil em seu art. 576, “A execução, fundada em título extrajudicial, será processada
perante o juízo competente, na conformidade do disposto no Livro I, Título IV, Capítulos II e
III”.
Em sendo possível a prorrogação executiva, pode ocorrer por disposição legal, nas hipóteses
de conexão, prevista no art. 102 do CPC, por vontade das partes, que podem eleger foro,
previsto no art. 111 do CPC, e por deixarem de excepcionar o foro incompetente, previsto no
art. 114 do CPC.
Pode surgir na execução conflito de competência entre juízes, se verificando tal ocorrência,
aplicam-se, com fundamento no art. 598 do Código de Processo Civil, as normas do
processo de conhecimento sobre conflito de competência.
O Código ainda prevê a competência para que se proceda à execução fiscal, a Lei n°
6.830/80, que regulamenta a cobrança judicial de divida ativa da Fazenda Pública, não trata
da competência, assim, na execução fiscal aplicasse o CPC.
Nos termos do art. 578, a execução fiscal será proposta no foro do domicílio do réu; se não o
tiver, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.
O título é certo quando não deixa dúvida acerca da obrigação que deva ser cumprida, quem
é devedor e quem é credor. Tal requisito sofre certa atenuação nos casos de dar coisa
incerta e nas obrigações alternativas, uma vez que em tais casos não há a exata previsão do
objeto da prestação.
Ensina Elpídio Donizetti, que a liquidez ocorre quando o título permite, independentemente
de qualquer outra prova, a exata definição do quantum debeatur. Assim, deve o título conter
todos os elementos necessários para que se possa determinar a quantia a ser paga ou a
quantidade da coisa a ser entregue ao titular do direito.
7. TÍTULOS EXECUTIVOS
O título executivo é o documento previsto em lei que representa obrigação certa e liquida, a
qual, inadimplida, possibilita a propositura da ação executiva. Os títulos executivos, salvo
outros previstos na legislação especial estão enumerados nos arts. 475-N e 586, todos do
Código de Processo Civil.
Os títulos executivos judiciais são aqueles formados pelo processo judicial. O Código
Processual Civil enumera os títulos executivos judiciais em seu art. 475-N, são títulos
executivos judiciais: I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de
obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia; II – a sentença penal
condenatória transitada em julgado; III – a sentença homologatória de conciliação ou de
transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo; IV – a sentença arbitral; V – o acordo
extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente; VI – a sentença estrangeira,
homologada pelo superior tribunal de Justiça; VII – o formal e a certidão de partilha,
exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular
ou universal.
Os títulos executivos extrajudiciais são os documentos que criam uma relação jurídica sem a
intervenção direta do estado. O Código de Processo Civil em seu art. 585, in verbis:
III – os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de
seguro de vida;
VII – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da união, dos estados, do Distrito Federal,
dos territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;
VIII – todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.
Como já foi tratado, para que o título seja executivo devem conter pressupostos ou
requisitos sem os quais não poderá existir a execução. A execução para cobrança de crédito
deve sempre ser fundada em obrigação certa, líquida e exigível. O Art. 586, do Código de
Processo Civil, “a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de
obrigação certa, líquida e exigível”.
8. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL
Os bens presentes são todos aqueles que o devedor já possua no momento do surgimento
da obrigação. Já os futuros são os bens adquiridos depois de a obrigação ser constituída.
O texto legal ainda prevê algumas restrições quanto aos bens do devedor, reputando como
impenhoráveis ou inalienáveis, assim não respondendo estes bens em sede de execução. A
previsão tanto no Código de Processo Civil, art. 648, quanto na legislação extravagante,
podemos citar com exemplo a Lei. 8.009/90.
Esta teoria se constitui de um instituto excepcional, uma vez que o ordinário é a preservação
da personalidade jurídica e a responsabilidade civil da sociedade que firmou o negócio
jurídico.
Vale ressaltar que qualquer que seja o tipo de sociedade constituída, é facultado ao sócio
demandado o benefício de ordem, ou seja, pode o sócio exigir que primeiro seja alcançados
os bens da sociedade, cabendo a este nomear bens da sociedade passiveis de penhora,
poderá também o sócio pagar o débito e executar a sociedade, nos autos do mesmo
processo.
Inicialmente o primeiro inciso tutela o direito de sequela que integra os diretos reais. Assim
podemos concluir que será fraudulenta a alienação no curso do processo, seja ele de
conhecimento ou de execução, envolvendo direitos reais.
Por fim o terceiro inciso alude os demais casos previstos em lei. Podemos citar alguns
exemplos, como a penhora sobre crédito prevista no art. 672, §3°, do Código de Processo
Civil, e a alienação ou oneração de bens do sujeito passivo de dívida ativa em execução,
previsto no art. 185 do Código Tributário Nacional.
I – frauda a execução, isto é, aliena ou onera bens em uma das circunstâncias do art. 593;
III – resiste injustificadamente às ordens judiciais, por exemplo, mesmo intimado não
apresenta os bens confiados à sua guarda;
IV – intimado, não indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais são e onde se encontram os bens
sujeitos à penhora e seus respectivos valores, este ato é punido com multa não superior a
20% (vinte por cento) do valor do débito atualizado em execução.
Nesta modalidade de execução, o devedor é citado para, no prazo de dez dias satisfazer a
obrigação, ou, seguro o juízo, apresentar embargos, previsto nos art. 621 e 622 do Código de
Processo Civil.
Pode entregar a coisa, neste caso, a execução é extinta, exceto se o título estabelecer o
pagamento de frutos, ressarcimento de prejuízos, multas por atraso que a execução
transmuda-se em execução por quantia certa.
Depositar a coisa em vez de entregá-la, assim poderá propor embargos no prazo de dez dias
a contar do termo de depósito.
Pode ainda permanecer inerte, ai caberá ao juiz tomar as providencias para que a obrigação
adquira seja integralmente cumprida.
Os requisitos gerais de qualquer peça que inicia o processo estão elencados no art. 282, do
Código de Processo Civil.
Para propor a ação de execução deve a petição inicial ser instruída com o título executivo
extrajudicial, o demonstrativo de débitos atualizados até a data da propositura da ação,
quando se tratar de execução por quantia certa e a comprovação que a obrigação não foi
cumpria. Estes requisitos específicos do processo de execução estão enumerados nos
incisos do art. 614 do Código de Processo Civil.
Cabem ainda ao requerer a tutela executiva que seja indicada a espécie de execução
pretendida, requerer a intimação do devedor, pleitear as medidas acautelatórias urgentes e
provar que adimpliu a contraprestação, elencados no art. 615 do Código de Processo Civil e
seus incisos.
Poderá o credor após proposta a ação executiva, requer ao juízo uma certidão onde consta
o nome das partes e o valor atribuído à causa, para fins de averbações no registro de
imóveis, veículos ou outro registro de bens, previsto no art. 615-A do Código de Processo
Civil.
O juiz verificando que a petição está incompleta determinará que o credor corrija no prazo
de 10 dias, sob pena de indeferimento, art. 616 do Código de Processo Civil.
O art. 618 prevê os casos em que a execução será nula, “é nula a execução: I – se o título
executivo extrajudicial não corresponder à obrigação certa, líquida e exigível (art. 586); II – se
o devedor não for regularmente citado; III – se instaurada antes de se verificar a condição ou
de ocorrido o termo, nos casos do artigo 572”.
BIBLIOGRAFIA
ALVIM, José Eduardo Carreira, Teoria Geral do Processo, 13° Edição, Rio de Janeiro: Forense,
2010.
DONIZETTI, Elpídio, Curso Didático de Direito Processual Civil, 16°Edição, São Paulo: Atlas,
2012.
WANBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, vol. 1/ Luiz Rodrigues Wanbier
e Eduardo Talamini, 11° Edição, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.