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Universidade Politécnica

A POLITÉCNICA

Escola Superior Aberta

GUIA DE ESTUDO
Direito Processual Civil I
Curso de Ciências Jurídicas
(7.º Semestre - 2016)

Moçambique
FICHA TÉCNICA

Maputo, Abril de 2016

© Série de Guias de Estudo para o Curso de Ciências


Jurídicas (Ensino a Distância).

Todos os direitos reservados à Universidade Politécnica


e ao Docente autor do Guia de Estudo

Título: Guia de Estudo de Direito Processual Civil I


Edição: 1ª

Organização e Edição
Escola Superior Aberta (ESA)

Elaboração
José Armando Langa (Conteúdo)
Elísio Salustiano da Silva Sevene (Revisão Textual)
Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

UNIDADES TEMÁTICAS

Temas………………………………………………………………………………………….Pág.

Noções gerais…………………………………………………………………………....................6

Fontes gerais de Direito Processual Civil………………………………………………………...12

Princípios de Processo Civil ……………………………………………………………………..15

As acções: classificação e espécies…………………………………………….………………....20

Formas de Processo Civil…………………………………………………………………………24

Pressupostos Processuais………………………………………………………………………....29

Formalismo do Processo Declarativo Ordinário:

 Fase dos Articulados…………………………………………………………………...…41

 Fase de Audiência Preliminar e Despacho Saneador…………………………………......58

 Fase de Instrução …………………………………………………………………………65

 Fase de Discussão e Julgamento da Causa …………………………………………….....70

 Fase de Sentença ………………………………………………………………………....75

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

APRESENTAÇÃO

Caro(a) estudante

Está nas suas mãos o Guia de Estudo da disciplina de Direito Processual Civil I, que integra a
grelha curricular do Curso de Licenciatura em Ciências Jurídicas oferecido pela Universidade
Politécnica na modalidade de Educação a Distância.

Este guia tem por finalidade orientar os seus estudos individuais neste semestre do curso. Ao
estudar a disciplina de Direito Processual Civil, você irá adquirir conhecimentos práticos básicos
que lhe permitirão desenvolver competências no domínio de saber fazer, o que certamente
constituirá uma grande contribuição na sociedade em geral, sobretudo ao nível do sistema de
administração de justiça no país. Portanto, por se tratar de uma cadeira eminentemente prática,
para além de pragmáticos, iremos privilegiar uma abordagem prática, em detrimento da teórica vs.
Doutrinária, a qual poderá ser desenvolvida pelo estudante através da consulta dos manuais
recomendados no plano temático

Este Guia de Estudo contempla textos introdutórios para situar o assunto que será estudado os
objectivos específicos a serem alcançados ao término de cada unidade temática, a indicação de
textos como leituras obrigatórias que você deve realizar; as diversas actividades que favorecem a
compreensão dos textos lidos e a chave de correcção das actividades que lhe permite verificar se
você está a compreender o que está a estudar.

Vai também encontrar no guia a indicação de leituras complementares, isto é, indicações de


outros textos, livros e materiais relacionados ao tema em estudo, para ampliar as suas
possibilidades de reflectir, investigar e dialogar sobre aspectos do seu interesse.

Esta é a nossa proposta para o estudo de cada disciplina deste curso. Ao recebê-la, sinta-se como
um actor que se apropria de um texto para expressar a sua inteligência, sensibilidade e emoção,
pois você é também o(a) autor(a) no processo da sua formação em Gestão de Recursos humanos.
Os seus estudos individuais, a partir destes guias, nos conduzirão a muitos diálogos e a novos
encontros.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

A equipa de professores que se dedicou à elaboração, adaptação e organização deste guia sente-se
honrada em tê-lo como interlocutor(a) em constantes diálogos motivados por um interesse
comum à educação de pessoas e a melhoria contínua dos negócios, base para o aumento do
emprego e renda no país.

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso convívio.

A Equipa da ESA

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

UNIDADE TEMÁTICA 1

TEMA DA UNIDADE

Noções Gerais

Elaborado por José Armando Langa

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de: (i) conhecer e distinguir as várias jurisdições
existentes e a sua aplicação/ utilização correcta em cada caso, consoante a natureza do caso; (ii)
conhecer as juridições existentes no nosso direito positivo e domínio da sua aplicação; e (iii)
conhecer a natureza do Direito Processual Civil I através das suas principais caracteríticas.

Os Conteúdos da unidade

I. JURISDIÇÃO

1. Conceito

1.1 – Sentido restrito: refere-se à solução de conflitos concretos de interesses ou litígios,


através de um órgão super-partes, estranho aos interesses em causa e com autoridade
sobre os titulares destes. Tal órgão, designa-se por tribunal, conforme resulta das
disposições combinadas dos art.ºs 1, 2 e 3 da Lei n.º 24/2007, de 20 de Agosto, Lei da
Organização dos Tribunais Judiciais, adiante, designada apenas por LOJ, e art.ºs 212.º e
213.º da Constituição da República de Moçambique, adiante designada apenas por CRM.

1.2 - Sentido orgânico: refere-se ao conjunto de tribunais da mesma espécie, como por
exemplo, o conjunto de tribunais judiciais, tribunais fiscais, tribunais administrativos, etc.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

2. Tipos de jurisdição

No que se refere à tipologia de jurisdição, ela compreende quatro tipos, os quais, para uma
melhor compreensão sugerimos a sua breve análise dois a dois:

2.1 – Jurisdição especial vs. Jurisdição comum

A jurisdição especial reporta-se aos tribunais que apenas conhecem determinadas


categorias de causas que lhes são afectadas por lei, enquanto a jurisdição comum, que
também é designada por jurisdição ordinária, compreende o conjunto de tribunais a quem
é incumbida a função genérica de julgar, sem quaisquer restrições que afectem os
tribunais especiais. Estamos, portanto, perante uma repartição de atribuições, em que, no
primeiro caso, também conhecidos por tribunais de competência especializada, vigora o
princípio de especialidade ou tipicidade decorrente da própria lei; já no segundo caso, os
tribunais vão aqui se ocupar de toda a matéria não tipificada como especial, isto é,
estamos em face de uma definição por exclusão de partes, de onde resulta que o que não é
especial é comum. Os tribunais comuns julgam, sobretudo, causas cíveis, comerciais e
criminais.

À respeito, importa referir que a orgânica dos tribunais comuns no nosso direito positivo
compõe-se dos seguintes tribunais, pela ordem de hierarquia: Tribunal Supremo, Tribunal
Superior de Recurso, Tribunais Judiciais de Província e Tribunais Judiciais de Distrito,
conforme aliás resulta do que dispõe ao art.º 29/1 da LOJ.

No concernente aos tribunais de competência especializada ao nível do nosso


ordenamento jurídico, podemos citar como exemplos, os tribunais fiscais, administrativos
e aduaneiros, os quais foram (e vão sendo) criados (outros), ao abrigo do que dispõe o art.º
223.º/2 da CRM em combinação com o art.º 29/2 da LOJ.

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2.2 - Jurisdição voluntária vs. Jurisdição contenciosa

A jurisdição voluntária é aquela que tem por finalidade a regulação de situações de


interesses carecidos de composição, mas que não são propriamente litígios, conforme
resulta do preceituado do art.º 1409.º e ss do Código de Processo Civil, doravante
designado apenas por CPC.

Por contraposição à anterior jurisdição, também conhecida por graciosa, temos a


jurisdição contenciosa que tem por fim a composição de litígios ou conflito concreto de
interesses.

No quadro-resumo que se segue destacamos as principais características que distinguem


estas duas jurisdições:

Jurisdição voluntária Jurisdição contenciosa

Predomínio do princípio do inquisitório Predomínio do princípio do dispositivo (as


(o juiz ordena sozinho e livremente a partes dispõem do processo, isto é,
investigação) – Vide art.º 1409.º/2 do iniciam, conferem o necessário impulso,
CPC suspendem, alegam, contra-alegam,
extinguem) – Vide art.ºs 3.º e 264.º do CPC

Predomínio do princípio de equidade Predomínio do princípio de legalidade


(justiça do caso concreto) – Vide art.º estrita – Vide art.ºs 8.º do CC ex vi art.º
1410º do CPC ex. vi ar.º 4.º/a) do Código 661.º - 1.ª parte do CPC.
Civil, adiante designado apenas de CC.

O juiz pode modificar livremente as suas Vigora o princípio de inalterabilidade das


decisões – Vide art.º 1411.º/1 do CPC decisões – Vide ar.º 666.º/1 do CPC.

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II. PROCESSO

1. Noção

O processo civil é, em termos gerais, uma sequência de actos a praticar pelas partes
em litígio, autor e réu, adiante designados apenas por A. e R, respectivamente, e pelo
Tribunal (através/ representado pelo juiz). Esta sequência de actos tem um
determinado fim, que é a justa solução de um conflito de interesses. Por isso mesmo
que, outros doutrinários definem o processo civil como sendo uma sequência de actos
destinados á justa composição de um litígio ou conflito de interesses concretos
privados, mediante a intervenção do tribunal/ juiz, sendo que ambas as partes (A., R. e
juiz) obrigam-se a observar determinadas regras jurídicas estabelecidas por lei.

Importar asseverar que o conceito de “parte” em processo civil, para além do A. e R.,
que são as pessoas verdadeiramente interessadas e desavindas na lide, inclui ainda o
próprio tribunal e outros intervenientes processuais que participam sobretudo nas fases
de instrução e julgamento da causa, como por exemplo, as testemunhas, declarantes,
peritos e Ministério Público (M.ºP.º), sendo que este último que intervém não só como
fiscal da legalidade, mas também como verdadeira parte em representação do Estado
nos casos em que haja interesses públicos/ Estado em jogo ou então em representação
dos incapazes e réus ausentes.

2. Características do Direito Processual Civil

O processo civil comporta três grandes características, assim resumidas:

2.1 Instrumental – o direito processual civil não cria direitos, apenas mostra caminhos/
procedimentos para a realização do direito, portanto, trata-se de um direito adjectivo
(um instrumento) ao serviço do direito substantivo, ou seja, direito material ou direito
civil, entanto que conjunto de regras que regulam as relações entre os particulares, não

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regulados num outro ramo de direito privado especial – direito comercial, direito do
trabalho, direito marítimo, direito de família, etc.;

2.2 Imperativo – as normas do direito processual civil são de cumprimento obrigatório, o


que significa que todos os intervenientes processuais, incluindo o próprio tribunal
obrigam-se a respeitá-las e observá-las, tanto no início e/ no acto de propositura da
acção, como no decurso ou desenvolvimento da instância, sob pena de incorrerem em
sanções legais correspondentes;

2.3 Público - em linhas gerais, pode dizer que o carácter público do direito processual
civil resulta da finalidade do direito, em si, que é o estabelecimento da harmonia social.
Isto significa a composição de conflitos de interesses, não pode e nem deve ser
entendido como a simples produção de sentenças pelo tribunal, impõe-se que estas
sentenças, embora legais, sejam sobretudo justas, estejam (objectivamente) de acordo
com as espectativas reais do cidadão, só assim é que serão aceites pela sociedade. Para
melhor aprofundamento desta parte, sugerimos que revisite a matéria relativa aos
ramos de direito, nomeadamente no que concerne à diferença e/ ou características dos
direitos privado e público, podendo recorrer aos três grandes critérios: Posição de
sujeitos, qualidade de sujeitos e interesses protegidos.

Leituras Obrigatórias
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de
nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de estudo.
Portanto, não deixe de estudá-los.

Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios
Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2000.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Leituras Complementares
Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

Legislação
Código de Processo Civil/ CPC; Lei da Organização Judiciária/LOJ; Código Civil/Cod.Civil;
Código das Custas Judiciais/CCJ; e Constituição da República de Moçambique/CRM

Actividades
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios
propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção
no final do presente Guia de Estudo.

Actividades

Leitura do texto

REFERÊNCIAS

CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

UNIDADE TEMÁTICA 2

TEMA DA UNIDADE

Fontes Gerais do Direito Processual Civil

Elaborador por José Armando Langa

Objectivos
No fim desta unidade você deverá ser capaz de conhecer as fontes primárias do Direito
Processual Civil, sua relevância e sua evolução histórica, sobretudo, no direito moçambicano.

Os Conteúdos da unidade

III. FONTES GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Esta é uma das matérias que foram objecto de abordagem com maior profundidade nas cadeiras
anteriores deste curso, com especial destaque à cadeira de Introdução ao Estudo de Direito, por
isso, vamos ser bastante breves e práticos na abordagem desta unidade temática, sugerindo que
revisite os materiais já dados nessa época para melhor refrescamento da memória.

Todavia, em termos de conceito, lembramos que, em sentido restrito, entende-se por fontes de
direito os processos e/ ou as formas de criação e de revelação das normas jurídicas, sendo que, à
luz do direito moçambicano, a fonte imediata de direito é a lei, nas suas diversas formas de
manifestação, conforme resulta claro do art.º 1.º do CC.

Passamos então a apresentar de forma exemplificativa a evolução histórica das fontes do Direito
Processual Civil moçambicano:
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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

- Constituição da República de 2004


- Código de Processo Civil de 1939
- Lei n.º 22/2007, de 1 de Agosto (Lei Orgânica do Ministério Público e Estatuto dos
Magistrados do Ministério Público)
- Lei n.º 24/2007, de 20 de Agosto (Lei da Organização Judiciária)
- Lei n.º 10/2014, de 25 de Agosto (Lei da Família – LF)
- Lei n.º 9/2005, de 23 de Dezembro (Lei que autoriza o Governo a introduzir
alterações ao CPC)
- Lei n.º 10/92, de 6 de Maio (antiga Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais)
- Lei n.º 8/92, de 6 de Maio (Lei que introduz o divórcio por mútuo consentimento)
- Lei n.º 11/99, de 11 de Julho (Lei da Arbitragem, Mediação e Conciliação de
conflitos)
- Lei n.º 4/92, de (Lei dos Tribunais Comunitários)
- Lei n.º 10/2002, de 12 de Março (Lei que introduz alterações ao Cód. Proc. Civil)
- Código das Custas Judiciais – CCJ
- Lei n.º 9/2008, de 25 de Novembro (lei que autoriza o Governo a introduzir
alterações ao CPC)
- Decreto-Lei n.º 1/2005, de 27 de Dezembro (Introduz alterações ao CPC)
- Decreto-Lei n.º 1/2009, de 24 de Abril (Introduz alterações ao CPC)
- Decreto n.º 24/98, de 2 de Junho (Altera o valor das alçadas e a competência dos
Tribunais Judiciais)
- Decreto n.º 82/2009, de 29 de Dezembro (Introduz alterações ao CCJ)
- Decreto n.º 53/2005, de 22 de Dezembro (Cria secções de competências especializada
em matéria comercial, nos tribunais judiciais de província)
- Tratados e Convenções Internacionais
- Assentos do Tribunal Supremo
- Acórdãos do Conselho Constitucional
i) n.º 03/CC/2007, de 23 de Julho (Proc.º n.º 07/CC/07)
ii) n.º 05/CC/2008, de 8 de Maio (Proc.ºs n.ºs 09/CC/08 e 08/CC/08)
iii) n.º 06/CC/2008, de 7 de Agosto (Proc.º n.º 05/CC/08)
iv) n.º 08/CC/2008, de 21 de Outubro (Proc.º n.º 06/CC/08)

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Leituras Obrigatórias
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de
nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de estudo.
Portanto, não deixe de estudá-los.

Texto
JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios Gerais,
Coimbra Editora, Coimbra, 2000.

Leituras Complementares
Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

Legislação
CPC, LOJ, CC, CRM, LF

Actividades
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios
propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção
no final do presente Guia de Estudo.

Actividades

Leitura do texto
REFERÊNCIAS
CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

UNIDADE TEMÁTICA 3

TEMA DA UNIDADE
Princípios do Processo Civil
Elaborado por José Armando Langa

Objectivos
No fim desta unidade voce deverá ser capaz de, não só conhecer os grandes princípios
orientadores da actividade hermeneútica em processo civil, como também saber distrincá-los e
aplicá-los na sua (futura) vida profissional, que aliás começa desde já com a resolução correcta
dos casos práticos que lhe forem apresentados.

Os Conteúdos da unidade

IV. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Qualquer ramo de direito tem os seus princípios que têm como principal função orientar a
actividade de interpretação e aplicação das normas jurídico-processuais na composição de
litigiosos por parte dos profissionais de direito (com destaque ao legislador, juiz, advogado e
procurador).

É assim que, por exemplo, no direito penal, de outros, vigoram os princípios de “nullum crime
sine legem” e de “nullum pena sine process”, nos direitos reais, o princípio de “numerus
clausulus”, no direito das obrigações, os princípios de “pacta sunt servanda”, a autonomia da
vontade e a liberdade contratual, e no direito civil, o princípio da boa-fé, sendo este último tido ou
conhecido como um dos grandes princípios do direito, em geral.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

O direito processual civil, por se tratar de um direito subsidiário a todos os ramos de direito, face
à sua magnitude, conforme aliás referimos atrás, arrasta consigo um leque enorme de princípios
orientadores, os quais não poderemos conseguir fazer a sua abordagem total nesta sede, pelo que
sugerimos que procurem desenvolver esta unidade temática através de leitura e ou consulta de
alguns manuais, com especial destaque (em nossa preferência) aos manuais dos professores José
Lebre de Freitas e Tomás Timbane, já sugeridos na Bibliografia inserida no Plano Temático desta
cadeira.

Com efeito, em sede desta sessão, passamos a seguir a partilhar consigo e de forma breve,
simples, prática e pragmática, alguns dos referidos grandes princípios orientadores do direito
processual civil, em que procuramos fazer, a título meramente exemplificativo, o devido
enquadramento legal:

1. Princípio da Legalidade, o qual desemboca no princípio da legalidade das formas do


processo: - Vide art.ºs1.º, 460.º à 466.º do CPC;

2. Princípio da Acção: - Vide art.ºs 2.º, n.º 2 e 264.º, n.º 2 do CPC. Este princípio está
directamente associado ao princípio de prontidão da justiça, o que significa que o cidadão
deve ter acesso à justiça e não apenas aos tribunais, o que pressupõe ou sugere profundas
reformas à respectiva legislação processual, nomeadamente através de simplificação do
(demasiado) formalismo, celeridade do processo, segurança, eficiência e eficácia das
decisões e do sistema judiciário moçambicano no seu todo;

3. Princípio do Dispositivo: - Vide art.ºs 3.º, 264.º, n.º1, 661.º, n.º 1, 664.º, in fine do CPC;

4. Princípio de Igualdade versus Princípio do Contraditório: - Vide art.º 3.º, in fine, 2.º
em conjugação com o art.º 492.º, 501.º, 489.º, n.º 1 do CPC;

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

5. Princípio da estabilidade da instância: - Vide art.º 268.º, 63.º, n.º 1 ex vi 267.º do CPC;

6. Princípio da economia processual: - Vide art.º 137.º, 138.º, 154.º, 155.º e 266.º do CPC;

7. Princípio da livre apreciação das provas: - Vide art.º 264.º e 664.º, 1.ª parte do CPC;

8. Princípio da imediação, oralidade e concentração: (i) Significa que a prova deve


realizar-se perante o tribunal de forma directa. Deve verificar-se em contacto directo entre
o tribunal e as fontes de prova. – Vide art.º 652.º, n.º 3 do CPC; (ii) Perante a formulação
de perguntas e exame das respostas através da reacção (modo de falar, gestos, movimento
corpóreo, o olhar, a calma, a pressa com que as questões são respondidas, lágrimas risos, a
respiração, o silêncio, a irritação, etc.; (iii) A concentração significa que os actos de
instrução, discussão e julgamento se façam para que seja o mais curto possível o intervalo
entre eles. Vide art.º 656., n.º 1 do CPC. Isto evita que a prova produzida se apague na
memória do juiz;

9. Princípio da plenitude da assistência dos juízes: Como consequência do princípio da


imediação e da oralidade, torna-se necessário que todos os juízes que compõem o tribunal
colectivo assistam a toda a instrução e decisão da causa, e como corolário, só podem
intervir na decisão da matéria de facto os juízes que tenham assistido a todos os actos de
instrução e discussão praticados na audiência. – Vide art.º 654.º, n.º 1 do CPC;

10. Princípio da imparcialidade do juiz: O juiz não deve exibir-se de forma tendenciosa
para qualquer das partes, o juiz deve-se colocar entre as partes e acima delas (para o
processo seja justo e válido);

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

11. Princípio da fundamentação das decisões judiciais, associado ao princípio da


legalidade do conteúdo das decisões judiciais: - Vide art.ºs 158.º e 659.º do CPC ex vi
art.ºs 70.º e 212.º/ 2 da CRM

12. Princípio da celeridade processual: - Vide art.º 2, n.º 1 do CPC.

13. Princípio de cooperação e de boa-fé: - Vide art.º 265.º, 456.º, n.º 2; 519.º do CPC;

14. Princípio do Duplo Grau de Jurisdição: Este princípio prevê a possibilidade de revisão,
por via de recurso, das causas já julgadas pelo juiz de primeiro grau (ou primeira
instância), que corresponde à denominada jurisdição inferior (Vide os art.ºs 69.º e 70.º da
CRM e art.º 676.º/ 1do CPC). Garante, assim, um novo julgamento, por parte dos órgãos
da “jurisdição superior”, ou de segundo grau (também denominada de segunda instância).
O princípio do duplo grau de jurisdição funda-se na possibilidade de a decisão de primeiro
grau ser injusta ou errada, daí decorrendo a necessidade de permitir sua reforma em grau
de recurso

Leituras Obrigatórias
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de
nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de estudo.
Portanto, não deixe de estudá-los.

Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios
Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2000.

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Leituras Complementares
Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

Legislação
CPC, LOJ, CC e CRM

Actividades
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios
propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção
no final do presente Guia de Estudo.

Actividades

Leitura do texto

REFERÊNCIAS

CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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UNIDADE TEMÁTICA 4

TEMA DA UNIDADE
Tipologia das acções e suas espécies
Elaborado por José Armando Langa

Objectivos
No fim desta unidade voce deverá ser capaz de distinguir os diferentes tipos e espécies de acções
em processo civil e o âmbito de aplicação de cada um deles.

Os Conteúdos da unidade

V. TIPOS DE ACÇÕES E SUAS ESPÉCIES

Esta unidade temática é abordada de forma simples, directa e prática pelo próprio código de
processo civil. Com efeito, conforme resulta claro do disposto no n.º 1 do art.º 4.º do CPC,
existem dois grandes tipos de acções:

1. Acções declarativas – de uma forma geral, as acções declarativas visam a obtenção de


uma declaração de existência ou inexistência de um direito ou a prestação de uma coisa ou
de um facto;

Consoante a sua finalidade, as acções declarativas desdobram-se em: (Vide o n.º 2 do


mesmo artigo acima citado)

1.1 Simples apreciação, positiva ou negativa, consoante se destina à declaração de


existência ou inexistência dum direito ou dum facto. De modo geral, usa-se quando se
verifica uma situação de incerteza sobre a existência de um determinado direito ou de um

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

facto, como por exemplo, a alegação de existência de uma dívida, a qual, até pode ser que
em alguma momento tenha existido, mas a dado momento deixou de existir por perdão
do respectivo titular/ credor, porém, este, vendo se aflito tenta “reavivar o crédito”
ameaçando inclusive o extinto devedor em demanda-lo em tribunal, com vista à sua
cobrança coerciva;

1.2 Condenação – destina-se a obter ou a exigir a prestação de uma coisa ou de um facto,


pressupondo ou prevendo a violação de um direito. Ou seja, o autor (A.) invoca um
direito e sua violação, pedindo ao tribunal que condene o réu (R.) à reintegração do
direito violado ou uma outra sanção jurídica; Supõe um facto ilícito, isto é, a violação de
um direito, representando uma acção contra essa violação. – Vide os art.ºs 1.º, 2.º/ 2 do
CPC

1.3 Constitutivas, que, por sua vez, podem ser modificativas e extintivas, têm por finalidade
certa mudança na ordem jurídica existente. É o que sucede, por exemplo, com a
necessidade de obtenção uma servidão de passagem, nos termos previstos nos art.º 1550.º
e ss do CC; Temos igualmente, os casos de investigação e impugnação de paternidade,
previstos nos art.ºs 230 e ss e 244 e ss da LF, em que, no primeiro caso, o filho de
indivíduos não casados entre si propõe contra o pretenso pai uma acção destinada ao
reconhecimento e declaração da sua condição de filho do mesmo; no segundo caso,
porque o filho nascido ou concebido na constância do matrimónio da mãe se presume
filho do respectivo cônjuge, é o presumido pai que impugna a sua paternidade, ilidindo
aquela presunção e concepção.

2. Acções executivas – nestas, o autor pretende a reparação coerciva e efectiva do seu direito,
ora violado. Ou seja, ao contrário do que sucede na acção declarativa, em que o autor
arroga-se detentor de um determinado direito e solicita o seu reconhecimento pelo
judiciário, já na acção executiva temos o direito e seu correspondente titular (credor), o
qual solicita a intervenção do tribunal para obter a sua realização/ cumprimento coercivo

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por parte do obrigado (devedor), conforme resulta do disposto no n.º 3 da disposição legal
acima citada.

Por seu turno, as acções executivas comuns, consoante a sua finalidade, podem ser: (Vide
o art.º 45.º/ 2 do CPC)

2.1 Para o pagamento de quantia certa, cujo formalismo se acha previsto nos art.º 811.º e ss
do CPC, em que o exequente pretende com a demanda a penhora do património do
devedor e sua posterior venda para a satisfação do seu crédito com o respectivo produto
desta venda;

2.2 Para a entrega de coisa certa, através da qual e conforme o respectivo título, o
executado é demandando a proceder a entrega coerciva de um bem determinado,
observando-se, para o efeito as formalidades previstas nos art.ºs 930.º e ss do CPC; e

2.3 Para a prestação de facto, positivo ou negativo, nos termos preceituados nos art.ºs 933.º
e ss do CPC.

Na verdade, a diferença entre estas duas “grandes” espécies de acções (declarativas e executivas)
corresponde à diferença entre investigar e executar. Investiga-se no sentido de apurar se existe
efectivamente um direito; verificado este, através de uma sentença, ou nos termos dos artigos 45°
e ss do CPC, procede-se então à execução forçada do devedor, apreendendo-se-lhe os bens
suficientes e vendendo-os, cujo produto destina-se ao ressarcimento do credor.

Leituras Obrigatórias
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de
nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de estudo.
Portanto, não deixe de estudá-los.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios
Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2000.

Leituras Complementares
Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

Legislação
CPC, LOJ, CC, CRM e LF

Actividades
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios
propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção
no final do presente Guia de Estudo.

Actividade

Leitura do texto

REFERÊNCIAS

CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

UNIDADE TEMÁTICA 5

TEMA DA UNIDADE
Formas do processo civil
Elaborado por José Armando Langa

Objectivos
No fim desta unidade voce deverá ser capaz de saber: (i) as diferentes formas de processo civil e
seu âmbito de aplicação; (ii) as formas de processo comum e domínio de aplicação de cada uma
delas; (iii) a aplicação subsidiária do processo comum ordinário às demais formas do processo;
(iv) a direfença entre a alçada e a competência; e (v) o conceito do valor da causa e sua relação
com a alçada e a competência dos tribunais.

Os Conteúdos da unidade

VI. FORMAS DO PROCESSO CIVIL

Segundo o processualista Tomás Timbane, a forma de processo, declarativo ou executivo, é o


conjunto ordenado de actos a praticar, bem como das formalidades a cumprir, tanto na
propositura, bem como, especialmente, no desenvolvimento da acção.

Na verdade, esta definição, conforme certamente deve estar lembrado, resulta do conceito do
processo civil abordado nas primeiras unidades temáticas desta cadeira. Ainda, segundo Tomás
Timbane, este conjunto ordenado não obedece a um modelo único, pois, são numerosos os
esquemas processuais fixados na lei para a formulação e apreciação das pretensões que podem
ser deduzidas pelas partes, sendo que tal variedade depende de diversos factores, entre os quais,
se destaca o tipo de providência requerida, o valor dos interesses em jogo e a natureza da relação
material que serve de basse à pretensão do autor.

Assim, conforme resulta do art.º 460.º do CPC, o legislador processual civil estabelece duas
grandes formas de processo: processo especial e processo comum, em que o primeiro aplica aos
casos expressamente designados por lei e o segundo, a todos os casos a que não corresponda ao

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

anterior processo, isto é, processo especial, portanto, a diferenciação apresentada nos conceitos
acabados de abordar é por exclusão de partes.

Dos conceitos acabados de apresentar resulta claro que o processo comum, na verdade é o
processo regra, por contraposição ao processo especial, o qual constitui uma verdadeira
excepção.

1. No que ao processo especial concerne importa realçar que, aqui, vigora o princípio de
especialidade ou tipicidade, para dizer que só seguirá a forma especial o processo que
assim tiver sido previsto pelo legislador (em sede do CPC ou outra legislação avulsa,
como por exemplo, o Código de Estrada, a LF, legislação específica relativa à menores,
etc.), quer em termos de nomeação/ designação, quer mesmo em termos do ritual ou
formalismo a obedecer na sua tramitação, daí que o mesmo (legislador) dedicou um título
específico, o IV, para uma abordagem minuciosa desta forma de processo, em que se
encontram regulados diversificados processos especiais.

Com efeito, e a título meramente exemplificativo, encontramos logo no início, no art.º


944.º e ss do CPC o processo das interdições e inabilitações, que tem lugar quando se
pretenda decretar, definitiva ou provisoriamente, a interdição ou inabilitação; o processo
de cessão do arrendamento, previsto no art.º 964.º do mesmo diploma legal, quando se
pretenda fazer cessar o arrendamento, seja pelo decurso do prazo ou por qualquer outro
fundamento; o processo de expurgação de hipotecas e da extinção de privilégios, previsto
no art.º 998.º e ss, através do qual o adquirente de um bem hipotecado não responsável
pelas dívidas garantidas, requer o pagamento dos credores e consequente libertação dos
bens onerados; o processo de prestação de contas, previsto no art.º 1014.º e ss, o qual tem
Iugar quando quem tem direito de exigir contas peticiona que elas sejam prestadas ou
quando quem tem o dever de as prestar toma a iniciativa de o fazer livremente; o
processo de revisão e confirmação de sentenças estrangeiras, regulado no art.º 1094.º e
ss; por aí em diante.

2. Quanto ao processo comum (declarativo ou executivo), este reveste duas formas,


designadamente a forma ordinária e a forma sumária, conforme resulta do art.º 461.º
do CPC, as quais, regra geral, são definidas através de critérios assentes sobretudo no

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

valor da causa.

2.1 Com efeito, o processo declarativo ordinário, previsto do art.º. 467.° e ss do


CPC, é a forma mais solene do processo comum e aplica-se as acções declarativas
que, não sendo especiais, tem um valor superior ao da alçada do Tribunal Judicial de
Província, conforme resulta do art.º. 462º.°/1-1.ª parte, excepto as acções sobre o
estado de pessoas e interesses imateriais, conforme o previsto no art.º 312.º
deste mesmo diploma. Importa reter que a solenidade desta forma do processo
(ordinária), resulta do elevado valor e /ou complexidade dos interesses em jogo,
daí a sua adopção como processo-modelo relativamente às demais formas de
processo, aplicando-o, de forma subsidiária, no silêncio e/ ou omissão,
conforme resulta do preceituado no art.º 463.º/1-2.ª parte.

2.2 Por seu turno, e ao contrário do anterior, o processo declarativo sumário é menos
solene e relativamente brando ou aliviado, sendo que no que concerne ao seu
domínio, aplica-se às acções declarativas que, não sendo especiais nem ordinárias,
tenham um valor igual ou inferior ao da alçada do Tribunal Judicial de Província,
conforme prevê o art.º 462.º/1-2.ª parte do CPC.

Conforme resulta da abordagem que precede, a definição da forma do processo comum


declarativo a seguir em cada caso, assenta no valor da acção, tendo por base a alçada do tribunal.

3. Assim importa ter presentes os conceitos da alçada e do valor da acção.

3.1 Em processo civil alçada é o limite do valor da acção dentro do qual um tribunal
julga sem que das suas decisões caiba recurso ordinário, repetimos, recuso ordinário
e não qualquer outro recurso pois, conforme resulta do disposto no art.º 676.º/ 2 do
CPC, existem dois grandes tipos de recursos, ordinários e extraordinários.

Nos termos do que dispõe o art.º 38 da LOJ, em matéria cível a alçada dos tribunais
judiciais de província é de valor equivalente á cinquenta vezes o salário mínimo
nacional e a dos tribunais judiciais de distrito de 1.ª e 2.ª classes, é de vinte e cinco
vezes e dez vezes o salário mínimo nacional, respectivamente, devendo se ter em

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

conta que o salário mínimo nacional é o que vigora para a função publica, conforme
o previsto no art.º 118.º da LOJ, e é determinado anualmente, pelo governo vs.
Conselho de Ministros, por via de um decreto. Regra geral, para efeitos processuais,
considerar-se-á o salário mínimo em vigor à data da propositura da acção.

3.2 Quanto ao valor da causa, este normalmente é fixado pelo autor, no acto de
propositura da acção ou pelo réu-reconvinte, no acto da apresentação da sua
reconvenção, sendo que em ambos os casos o valor da causa deve representar a
utilidade económica imediata do pedido, conforme prescreve o art.º 305.º/1 do CPC.
Não obstante, a sua fixação obedece a determinados critérios legais previstos na
própria lei, nomeadamente no art.º 306.º e ss do mesmo diploma acabado de citar.

Portanto, conforme certamente deve ter reparado, estes dois elementos estabelecem entre si uma
relação de inter-dependência, nomeadamente no que concerne à determinação da forma do
processo a seguir e ao tribunal competente para dirimir o litígio. (Vide art.º 305.º/2 do CPC).

4. Já relativamente ao processo executivo comum, prevê-se igualmente as duas formas de


processo: ordinária e sumária, porém, o critério de diferenciação ou classificação não
assenta no valor da causa, o legislador inspirou-se em critérios de qualificação
documental, isto é, a tipologia de título executivo que fundamenta a acção, conforme
resulta do disposto no art.º 465.º do CPC.

Todavia, à semelhança do que sucede no processo declarativo comum, prevê-se, ainda


que de forma não tão expressiva, a aplicação subsidiária da execução ordinária às
demais espécies e formas de execução (Vide art.º 466.º/ 2, 3 e 4). Outrossim, perante o
silêncio e/ ou vazio do processo executivo na suas diversas formas, aplicar-se-á as
disposições reguladores do processo de declaração, com as necessárias adaptações,
conforme o preceituado no art.º 466.º/ 1 ex vi art.º 801.º ambos do CPC.

Leituras Obrigatórias
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de
nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de estudo.
Portanto, não deixe de estudá-los.
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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios
Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2000.

Leituras Complementares
Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

Legislação
CPC, LOJ, CC, CRM e LF

Actividades
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios
propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção
no final do presente Guia de Estudo.

Actividades

Leitura do texto

REFERÊNCIAS

CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

UNIDADE TEMÁTICA 6

TEMA DA UNIDADE
Pressupostos processuais
Elaborado por José Armando Langa

Objectivos
No fim desta unidade voce deverá ser capaz de saber a importância do conhecimento e domínio
das condições para acção, relevância da sua observância e as consequências jurídico-processuais
decorrentes da sua violação.

Os Conteúdos da unidade

VII. PROSSUPOSTOS PROCESSUAIS

Designam-se por pressupostos processuais as condições cuja verificação é indispensável para que
o tribunal se ocupe do mérito da causa, isto é, são elementos processuais que visam assegurar a
especialização do tribunal consoante a matéria em apreciação, incluindo a possibilidade de as
partes defenderem os seus interesses.

Segundo Tomás Timbane, no seu manual Lições de Processo Civil I, normalmente são indicados
dois motivos que justificam a existência dos pressupostos processuais: garantir o adequado
exercício da função jurisdicional e acautelar os interesses das partes.

Ainda segundo este mesmo autor, os pressupostos podem ser positivos ou negativos, gerais ou
especiais. Os positivos são aqueles cuja verificação é indispensável para o tribunal conhecer do
mérito ou do fundo da causa, enquanto os negativos são aqueles cuja verificação é impeditiva de o
tribunal conhecer do objecto do processo. Por seu turno, os gerais são aqueles que valem para a
generalidade de todos os processos, enquanto os especiais valem para determinados processos em
concreto.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Decorrente do carácter imperativo do direito processual civil, a inobservância e/ou violação das
regras relativas aos prossupostos processuais acarretam consequências de natureza jurídico-
processual, geralmente, a absolvição da instância, conforme o previsto no art.º 288.º do CPC.
Importa, no entanto, realçar que a absolvição da instância não é o mesmo que a absolvição do
pedido, pois esta última consiste em, tendo sido apreciado o mérito da causa, o tribunal decide o
conflito a favor do reu, julgando a acção improcedente, diferentemente da absolvição da instância,
em que o tribunal deixa de se pronunciar sobre o mérito da causa, em consequência de existência
de certos aspectos que o impedem de assim proceder.

No que concerne à sua classificação, nem todos autores/ doutrinários são coincidentes em relação
a este tema pois, vários autores têm estalecido uma vasta e diversificada classificação dos
pressupostos processuais. Porém, para o nosso caso, por razões de ordem prática e pragmática,
conforme aliás referimos nas notas introdutórias a esta cadeira e temos vindo a ser ao longo das
nossas apresentações, cingir-nos-emos na classificação geral ou comum, sem prejuízo de poderes
consultar à referida doutrina, por sinal, já recomenda, tanto no plano temático, como no presente
plano analítico.

Com efeito, segundo a abordagem a que nos propomos a fazer, os pressupostos processuais
subdividem-se em dois grupos: os pressupostos subjectivos, também designados por
pressupostos relativos às partes e os pressupostos objectivos, também conhecidos por
pressupostos relativos ao tribunal. Passamos a seguir a apresentar, em linhas gerais e de forma
muito breve, as características de cada grupo.

1. Pressupostos Subjectivos/ Relativos às Partes

1.1 Personalidade Judiciária

Consiste na susceptibilidade de ser parte, e quem tiver personalidade jurídica tem


igualmente personalidade judiciária – Vide art.º 5.º do CPC. A Personalidade Jurídica,
consiste, ou seja, é a susceptibilidade de ser titular de direitos e obrigações,
reconhecida a toda a pessoa humana (personalidade singular) e também a
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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

organizações de pessoas e/ ou de bens (personalidade colectiva) – Vide art.º 66.º do


CC

Porém, a susceptibilidade de ser parte não implica necessariamente a possibilidade de


estar, por si, em juízo.
Se é verdade que todas as pessoas com personalidade jurídica tem igualmente
personalidade judiciária, o inverso não acontece, ou seja, nem todas as pessoas ou
entes que têm personalidade judiciaria têm personalidade jurídica, desde logo porque a
lei processual indica alguns casos de entes que, não tendo personalidade jurídica,
podem, ainda assim, demandar ou ser demandadas.

Por exemplo, nos termos do art.º 7.º do CPC, têm também personalidade judiciária,
ainda que não tenham personalidade jurídica, as sucursais, agencias, filiais, delegações
ou representações, podendo demandar ou ser demandadas por acto por eles praticados.

Em termos das consequências jurídico-processuais, a falta de personalidade judiciária


conduz ao indeferimento liminar da petição inicial (p.i.) ou a absolvição da
instância, conforme o prescrito no art.º 474.º/1.b) do CPC. Porém, importa realçar que
a falta de personalidade judiciária pode ser sanada (art.º
49
4.°/2), quer antes de ser proferido o despacho de indeferimento liminar, quer antes da
absolvição da instância, através da intervenção de pessoa com personalidade,
conforme resulta do art.º 494.º/2 do mesmo diploma legal.

1.2 Capacidade Judiciária

Consiste na susceptibilidade de estar, por si, em juízo. Consiste, pois, na possibilidade


de estar, por si, em juízo como autor (capacidade judiciária activa) ou como réu
(capacidade judiciária passiva) decidindo sobre a orientação dos seus interesses em
juízo. Em princípio a capacidade judiciária existe quando e na medida em que existe a
capacidade de exercício de direitos. – Vide art.ºs 9.º á 25.º do CPC. As consequências
da falta de capacidade judiciária são idênticas às relativas à falta de personalidade
judiciária, conduzindo ao indeferimento liminar ou a absolvição da instância,
consoante o momento em que ocorrem. Por outro lado, tal como na personalidade

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

judiciária, a capacidade judiciária pode, igualmente, ser suprida, mediante a intervenção


ou a citação do representante legítimo – Vide art.º 23.º do CPC.

1.3 Legitimidade das Partes

Uma pessoa é parte legítima num processo declarativo quando tem neste um interesse
directo, i.é, quando é titular da relação material que no processo é discutida, vide art.º
26.º do CPC. Para o caso da acção executiva, Cfr igualmente o art.º 55.º deste mesmo
diploma legal.

Entretanto, em muitos casos, é a própria lei que expressamente declara quem tem
legitimidade para intentar certas acções, ainda que não tenha interesse directo na
causa. É o que se designa de critério suplectivo de determinação da legitimidade.
Ex.s Art.ºs 125.º. 141.º, 242.º, 243.º, 287.º, 605.º, 1281.º, 1785.º, 181.º, 1819.º, 1839.º,
1841.º, 1846.º, 2075.º, 2078.º e ss do CC. Tal como a personalidade e capacidade
judiciárias, a legitimidade, é, em regra, sanável. Pode ser conhecida oficiosamente
pelo juiz, quando seja manifesta, logo no despacho liminar, dando lugar ao
Indeferimento liminar da p.i., ao abrigo do disposto no art.º 474.° do CPC ou em
momento posterior, designadamente em sede do despacho saneador ou mesmo da
sentença final, absolvendo deste modo o réu da instância. – Vide art.ºs 510.º/1.a) e
660.º/1 do CPC. Todavia, e à semelhança da capacidade judiciária, pode ser sanada,
através da correcção do vício, nos termos previstos no art.º 494.º/2 do CPC ou através
do incidente da intervenção principal, em atenção ao disposto no art.º 351.º/a) do CPC.

O estudante deverá, no entanto, aprofundar esta unidade temática, nomeadamente no


que concerne á legitimidade plural vs. Litisconsórcios, analisar as vicissitudes e seus
contornos dentro dos limites previstos na lei. (Vide art.º 27.º e ss do CPC)

1.4 Interesse Processual

Em processo civil, a legitimidade das partes depende de cada uma delas ter na acção
um interesse directo. Assim, dispõe o art.º 26.º, que “ …”

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

O interesse directo exprime-se pela utilidade derivada da procedência da acção; o


interesse em contradizer, pelo prejuízo que dessa procedência advenha.
A falta de interesse constitui o vício da ilegitimidade, que, verificado pelo tribunal,
determina a absolvição do réu da instância.

1.5 Patrocínio Judiciário Obrigatório

O patrocínio judiciário consiste na assistência técnica e profissional que os advogados,


que são os profissionais do foro dotados de qualificação jurídico-profissional, prestam
as partes, tendo em vista uma adequada
e correcta condução processual da lide. O direito de defesa, na verdade, é o direito de
livre escolha do defensor dos direitos fundamentais consagrados na CRM,
designadamente nos art.ºs 62 e ss.
Mais, para além do direito de defesa, em si, a CRM confere ao cidadão o direito de
escolha livre do defensor para o assistir em todos os actos do processo.

Entretanto, importar referir e realçar que há requisitos básicos para o exercício do


patrocínio judiciário em moçambique, designadamente habilitações profissionais
adequadas e o mandato judicial, isto é, uma relação de caracter contratual estabelecida
entre o advogado e o cidadão, seu cliente; portanto, só mediante a autorização deste
pode o advogado exercer as suas funções.

Porém, o patrocínio judiciário só se torna pressuposto processual quando o mesmo é


de constituição obrigatória, nos precisos termos do disposto no art.º 32.º/1 do CPC,
sendo que a sua violação acarreta as consequências previstas no art.º 33.º do mesmo
diploma.

2. Pressupostos Objectivos/ Relativos ao Tribunal

A competência, é pressuposto processual relativo ao tribunal, que consiste na repartição


do poder jurisdicional entre os diversos tribunais. Com efeito, uma questão em litígio
pode estar em contacto com mais do que uma ordem jurídica, o que coloca questões

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

relativas a jurisdição dos tribunais moçambicanos perante tribunais estrangeiros, a qual


rege-se por regras próprias diferentes das regras sobre competência interna.

Assim, importa distinguirmos a competência internacional da competência interna, sendo


que no primeiro caso, trata-se de atribuir o poder de julgar aos tribunais
nacionais/moçambicanos, em face dos tribunais estrangeiros; já no segundo caso, trata-se
de repartir, entre os diversos tribunais moçambicanos, o poder de julgar ou de dirimir
conflitos.

2.1 Competência Internacional

Conforme estabelece o art.º 61.º do CPC, os tribunais moçambicanos, têm competência


internacional quando se verifique alguma das circunstâncias indicadas no 65.°do mesmo
diploma atrás citado. Porém, pode suceder que os tribunais moçambicanos tenham
competência exclusiva para resolver determinados litígios. É o caso de compra e venda de
um imóvel sito em Moçambique ou de um divórcio de moçambicanos em Moçambique.
Nesses casos o problema da Competência internacional não se coloca.

Para que os tribunais moçambicanos tenham competência internacional para julgar um


litígio, o art.º 65.º indica diversos critérios, cada um com requisitos próprios,
designadamente os critérios da coincidência, da causalidade, da reciprocidade e da
necessidade. Sendo certo que não se exige que estas circunstâncias ocorram
simultaneamente, basta a ocorrência de uma delas, conforme, alias, resulta do próprio
texto do n.º 1 do art.º 65.º, que desde já passamos a citar “a competência internacional dos
tribunais moçambicanos depende da verificação de alguma das seguintes circunstâncias”.

Por uma questão de economia de tempo, sobretudo porque a matéria relativa às conexões
e normas de conflitos foi exaustivamente tratada nas cadeiras anteriores, não vamos entrar
em pormenores, recomendamos ao ilustre estudante a rever os conhecimentos adquiridos
anteriormente, bem assim, a consultar o manual do professor Tomás Timbane, já sugerido
nos planos temático e analítico desta cadeira.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Todavia, para terminar, importar referir que a infracção das regras de competência
internacional determina a incompetência absoluta, conforme resulta do disposto no art.º
101.º do CPC, cujo efeito, regra geral, é a absolvição da instância ou a remessa do
processo ao tribunal competente, conforme resulta do disposto no art.º 105.º do mesmo
diploma acabado de citar.

2.2 Competência Interna

Num dos sentidos desta expressão, fala-se de competência interna dos tribunais para
designar a repartição, dentro de cada tribunal, dos processos entre as respectivas secções
ou entre os respectivos juízes.

Noutra acepção, é pertinente citar o art.º 62.º, do CPC, que pode ser conjugado com o art.º
32.º/ 1 da LOJ, que estabelecem que na ordem interna, o poder jurisdicional distribui-se
pelos diferentes tribunais segundo a matéria e o valor da causa, a hierarquia judiciária e o
território, em casos excepcionais atende-se também a qualidade do réu.

2.2.1 Em razão da hierarquia

Os tribunais judiciais encontram-se hierarquizados para efeitos de recurso das suas


decisões, conforme o previsto nos art.ºs 70.º à 72.º CPC

Por isso, na base existem os tribunais judiciais de distrito e os tribunais judiciais de


província, os quais têm, essencialmente, competência para dirimir litígios em primeira
instância. Seguidamente, temos os tribunais superiores de recurso, ou seja, “os tribunais
intermédios”, que, em regra, funcionam como tribunais de segunda instância,
nomeadamente conhecendo dos recursos interpostos nos tribunais judiciais de província
e alguns recursos interpostos nos tribunais de distrito (regra geral, os recursos interpostos
nos tribunais judiciais de distrito são apreciados e decididos pelos tribunais judiciais de
província, funcionando estas, como segunda instância). Por fim, encontramos no topo, a
jurisdição comum o Tribunal Supremo que é o órgão superior da hierarquia dos tribunais
judiciais) a quem caberá garantir a aplicação uniforme da lei na esfera da sua jurisdição,
conforme resulta do disposto no art.º 225.º da CRM.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Importa, por conseguinte, asseverar que a hierarquia judiciária não consiste na


subordinação de direcção, como sucede na administração pública, ou seja, os juízes dos
tribunais superiores não têm poder de direcção (processual) sobre os juízes dos tribunais
inferiores, face ao princípio constitucional de independência dos juízes, segundo o qual
estes devem obediência, apenas, à lei e à sua consciência, conforme prescreve o art.º
271.º/ 1 da CRM. Portanto, os tribunais judiciais encontram-se hierarquizados apenas
para efeitos de recurso das suas decisões e de organização do próprio aparelho judicial,
conforme dispõe o art.º 34.º da LOJ.

A infracção das regras de competência interna em razão da hierarquia determina a


incompetência absoluta do tribunal e conduzem á absolvição da instância ou a remessa
do processo ao tribunal competente. (Vide os art.ºs conjugados 101.º e 105.º do CPC

2.2.2 Em razão da meteria

As causas que não sejam atribuídas por lei a alguma jurisdição especial são da
competência do tribunal comum, sendo este o tribunal cível. – Vide art.ºs 66.º á 68.º do
CPC

Com efeito, a CRM estabelece, no art.º 233.º, tribunais de diversa natureza ou diferentes
categorias de tribunais, de acordo com a natureza da matéria em discussão. É assim que
existem tribunais judiciais, tribunais administrativos, tribunais fiscais, tribunais
aduaneiros, tribunais de trabalho, tribunais marítimos e tribunais militares, sendo que
cada um destes tribunais tem competência para determinadas matérias segundo a sua
especialização. Portanto, estamos em face do princípio de especialidade, cabendo a cada
tribunal conhecer conflitos cuja natureza cabe dentro das atribuições conferidas por lei.

Deste modo, todos os conflitos de interesses que não devam ser dirimidos pelos tribunais
especiais, cabem aos tribunais comuns dirimi-los.

Os tribunais judiciais, são, segundo o art.º 223.º/ 4 da CRM, conjugado com o art.º 68.º/1
do CPC, tribunais comuns em matéria civil e criminal, exercendo jurisdição em todas as
áreas não atribuídas a outras ordens jurisdicionais. E, nos termos do n.º 2 do mesmo

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artigo, a função judicial comum é acometida aos tribunais Supremo, Superior de


Recurso, de Província e de Distrito.

Os tribunais comuns são os tribunais onde, em regra, se recorre quando há um conflito,


só se recorre a um tribunal especial quando a lei estabelece competência exclusiva a esse
tribunal, como, por exemplo, os tribunais administrativos, tribunais aduaneiros, tribunais
de trabalho, etc.

Por seu turno, dentro dos tribunais judiciais, a lei distingue, em razão da matéria, entre
tribunais de competência genérica e tribunais de competência especializada: assim, não
há um único tribunal comum de competência especializada mas sim vários, de acordo
com a natureza do conflito de interesses que se pretende resolver, tendo em conta as
atribuições que resultam da lei. Assim, os tribunais comuns de competência
especializada têm competência apenas para os casos expressamente indicados na lei. São
exemplos, para o caso de Moçambique, de tribunais comuns de competência
especializada, o Tribunal de Menores da Cidade de Maputo (que apenas julga litígios
relativos a menores) e o Tribunal de Polícia da Cidade de Maputo (competente para
dirimir transgressões). (Vide art.º 29.º/2 da LOJ. Se não existir um tribunal especial para
resolver determinado conflito, recorre-se, então, aos tribunais comuns. Estes tribunais
comuns estão organizados em secções cíveis, criminais, laborais, de menores e
comerciais, sendo as cíveis propriamente ditas e comerciais as únicas em que se
propõem acções de natureza comercial.

À semelhança do que sucede em relação á hierarquia, a infracção das regras de


competência interna em razão de matéria desemboca na incompetência absoluta, cujos
efeitos, regra geral, é a absolvição da instância vs. Indeferimento liminar da p.i. (Vide as
disposições conjugadas dos art.ºs 101.º, 105.º, 474.º/ 1.b) e 494.º/1.f) todos do CPC.

2.2.3 Em razão do território

A competência territorial de um tribunal judicial de primeira instância resulta da


cumulação de dois factores: o da circunscrição territorial (província ou distrito) onde o
tribunal tem competência e o elemento de conexão territorial, que faz uma ligação entre

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

um certo litígio e uma certa área situada no território nacional, nada impedindo que a
conexão se estabeleça com diversas áreas do país.

A regra geral, quando a lei não determina especialmente em contrário, é a de que o


tribunal competente para a acção é o do domicílio do réu, e para a execução, o tribunal
da 1.ª instância em que a causa foi julgada.

Significa, portanto que o foro do réu (art.ºs 85. ° e 86.º do CPC), correspondente à regra
supletiva, pelo que sempre que não haja uma disposição concreta que indica o lugar do
território nacional onde deva ser proposta a acção, então é competente o tribunal do
domicílio do réu.

No entanto, há que tomar-se em consideração os casos em que o réu não tenha residência
habitual ou for incerto, em que o mesmo será demandado no tribunal do domicílio do
autor, conforme prescreve o art.º 85.º/2 do CPC.

Sendo, o foro do réu, regra geral, significa, portanto que, haverá excepções à esta rega,
as quais terão por base e limite a própria lei, conforme resulta dos art.º 73.º e ss do CPC.

É assim que, por exemplo, o art.º 73.º vem a estabelecer o foro real ou da situação dos
bens; o art.º 74.º estabelece o foro obrigacional; o art.º 75.º o foro do autor; o art.º 90.º, o
foro das execuções, por aí em diante.

A infracção destas regras determina a incompetência relativa do tribunal, cujo efeito,


regra geral, é a remessa do processo ao tribunal competente, conforme dispõe o art.º
108.º e ss do CPC.

2.2.4 Em razão do valor

Resulta do art.º 305.º/1 do CPC, que toda a causa, seja qual for a sua natureza, deve ter
um valor certo, expresso em moeda legal, o qual representa a utilidade económica do
pedido. Para além de estabelecer a relação da causa com a alçada do tribunal, o valor da

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

causa permite determinar a competência do tribunal, conforme aliás a nossa abordagem


na aula temática número cinco.

A competência dos tribunais judiciais de província é ilimitada, por isso podem julgar
acções do mais ínfimo valor ate ao infinito valor. Porém, se o valor da causa não exceder
à sua alçada, não há lugar a recurso ordinário, conforme a nossa abordagem anterior
sobre as alçadas dos tribunais, salvo os casos previstos na própria lei.

Ao contrário, os tribunais judiciais de distrito (de 1.ª e 2.ª classe), têm competência
limitada. Assim os tribunais de distrito de 1.ª classe podem conhecer causas desde o
ínfimo valor até o equivalente a cem vezes o salario mínimo nacional, mas a sua alçada
corresponde a vinte e cinco salários mínimos. Por seu turno, os tribunais judiciais de
distrito de 2.ª classe podem julgar causas desde o ínfimo valor até cinquenta vezes o
salário mínimo nacional e a sua alçada corresponde a dez salários mínimos. (Vide os art.º
38.º e 84.º da LOJ. Por isso, as acções que correm em cada um destes tribunais só
admitem recurso se o valor da acção exceder o valor da alçada de cada um deles, salvo as
excepções previstas nos art.º 475.º/ 1 e 678.º/ 2 e 3 do CPC

A infracção a esta regra determina a incompetência relativa do tribunal e tem como efeito
a remessa do processo ao tribunal competente. (Vide art.º 108.º e ss do CPC)

Leituras Obrigatórias
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de
nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de estudo.
Portanto, não deixe de estudá-los.

Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios
Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2000.

Leituras Complementares
Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Legislação
CPC, LOJ, CC, CRM e LF

Actividades
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios
propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção
no final do presente Guia de Estudo.

Actividades

Leitura do texto

REFERÊNCIAS

CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

UNIDADE TEMÁTICA 7

TEMA DA UNIDADE
Formalismo processual do processo declarativo comum ordinário
 Petição inicial: elaboração e sua tramitação

Elaborado por José Armando Langa

Objectivos
No fim desta unidade voce deverá ser capaz de saber (i) as principais grandes fases do processo
declarativo comum ordinário; (ii) não só saber e dominar os requisitos externos da petinião inicial,
adiante designada apenas por p.i., como também a sua correcta elaboração e tramitação
subsequente.

Os Conteúdos da unidade

VIII. FORMALISMO PROCESSUAL DO PROCESSO DECLARATIVO COMUM


ORDINÁRIO

Conforme referimos nas abordagens anteriores, o processo civil pode ser especial ou comum,
sendo que o primeiro aplica-se aos casos expressamente tipificados na lei e, o segundo, aos casos
a que não corresponda processo especial. (Vide art.º 460.º CPC)

A nossa abordagem centrar-se-á na forma comum, não só por ser a mais predominante, mas
sobretudo por ser o processo regra, o que significa que no silêncio do processo especial aplicam-
se as regras previstas para o processo comum.

Por seu turno, conforme aliás tivemos oportunidade de referir nas unidades temáticas antecedes, o
processo comum se reveste de duas formas: a forma ordinária e a forma sumária, cada um com o

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

seu domínio de aplicação, conforme resulta das disposições conjugadas dos art.ºs 461.º e 462.º,
ambos do CPC.

O processo declarativo ordinário é normalmente a forma de processo utilizada nos tribunais cíveis
de escalão provincial, cujo valor está acima da alçada dos tribunais de província.

É o processo que permite a realização plena do princípio do contraditório, consagrando sempre o


direito de audição da parte contrária, ou seja, a igualdade das partes perante o Tribunal, conforme
preconiza o art.º 3.º/ 1 do CPC. É um processo modelo que absorve todas as outras formas de
processo, conforme resulta claro do disposto no art.º 463.º/1, in fine do CPC.

Neste contexto, para melhor compreensão e domínio das demais formas do processo, optamos por
tratar e analisar o formalismo do processo declarativo comum ordinário nas suas diversas fases.

Com efeito, o plano geral do processo declarativo ordinário pode ser dividido, num estudo
analítico da acção, em cinco fases períodos ou ciclos distintivos, designadamente a fase dos
articulados (vide art.º 467° à 507.º), a fase da audiência preliminar e despacho saneador, também
conhecida por fase de saneamento e condensação do processo (vide art.º 508° à 511.º, incluindo
288.º), fase de instrução do processo (vide art.º 512.º à 568.º), fase de audiência final (vide art.º
646.º à 657) e fase de sentença. (vide art.º 658.º à 670.º)

1. FASE DOS ARTICULADOS – (Vide art.º 467.º à 506.º CPCP)

Fase dos Articulados - é a fase introdutória destinada à definição dos termos da acção e à
exposição das razões, tanto de facto, como de direito, que servem de fundamento à
pretensão de cada uma das partes. Conforme estabelece o art.º 151.º/ 1 do CPC, são as
pecas escritas usadas pelas partes para estabelecerem perante o Juiz os termos do litígio e
em que expõem as razões de facto e de direito da acção e da defesa e formulam o
respectivo pedido.
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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

À luz da nossa lei processual, esta fase compreende essencialmente dois articulados:
a petição inicial e a contestação (vide art.ºs 467.º e 486.º do CPC, respectivamente). Porém,
admite-se entretanto uma terceira peça, a resposta, nos casos em que o réu na sua
contestação haja deduzido alguma excepção e/ ou reconvenção, casos em que a referida
peça ou articulado se designará de resposta à excepção e/ ou resposta à reconvenção.
(vide art.º 502.ºCPC). Pode ainda existir uma quarta peça, também designada resposta, nos
casos previstos no número quatro do mesmo artigo acabado de citar. Estas duas peças,
conforme alguns autores, designam-se por articulados eventuais.

1.1 Petição Inicial (p.i.) – Vide art.º 467.º CPC

A p.i. é o primeiro articulado do processo o qual é apresentado pelo autor, através do


qual este último introduz o processo a juízo, ou seja, provoca a demanda.

A p.i. tem de obedecer a determinados requisitos, sem os quais ela não pode ser recebida
pelo juiz. Os requisitos para ser apta a petição inicial estão fixados no artigo 193.º/ 2
C.P.C e são: a clareza e coerência. Portanto, a clareza, coerência e inteligibilidade da p. i.
é importante porque é a causa de defesa do Reu, permitindo-lhe tomar posição definida
face aos factos nela articulados (vide art.ºs 484.º/ 1, 490.º e 193.º/ 2 do CPC). A petição
inicial deve ser sujeita a exame liminar do juiz e, se for inepta, o juiz deve determinar seu
indeferimento liminar, conforme impõe o art.º 474.º/1 CPC.

Porém, previamente à sua apresentação ao juiz da causa, a p.i. passa por diversas
tramitações.

Com efeito, uma vez elaborada, a p.i. deverá dar entrada na Secretaria Judicial (do
Tribunal) ou Distribuição Geral, nos termos e para os efeitos previstos no art.º 209.º do
CPC.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Feita a distribuição, nos termos previstos nos art.ºs 214.º e 222.º do mesmo diploma legal
que temos vindo a citar, a p.i. é remetida à secção respectiva, a qual, logo à sua entrada é
registada e autuada no respectivo de porta de registo das acções, atribuindo-se-lhe o
respectivo número de processo. No prazo de cinco dias a contar a partir da data da
distribuição da p.i. ou então da sua entrada na secretaria, conforme os casos (só haverá
distribuição nos casos em que o tribunal estiver organizado em secções, de contrário, isto
é, nos casos em que o tribunal funcionada apenas um único juiz, o qual se ocupará por
todos os processos e expedientes que dão entrada no tribunal, o prazo para o pagamento
do preparo inicial conta a partir da data da entrada da p.i. na Secretaria Judicial), o autor
deverá efectuar o pagamento do preparo inicial, conforme estabelece o art.º 127.º do
Código das Custas Judiciais (CCJ), sendo que o não pagamento do preparo dentro deste
prazo, acarreta para o autor duas consequências: (i) o pagamento do imposto de justiça
igual ao valor do preparo não pago, mais o próprio preparo, tudo no prazo de cinco das a
contar a partir da data da notificação para esse efeito (vide art.º 134.º CCJ); (ii) caso o
autor não efectue os pagamentos atrás referidos ou então o faça fora do prazo aí indicado,
o juiz ordenará a extinção da instância, em obediência às disposições conjugadas dos art.ºs
134.º/ §1.º do CCJ e 287.º/ f) do CPC.

Uma vez efectuado o pagamento do preparo inicial, o processo é concluso ao juiz da


causa, para efeitos de exame da p.i., nomeadamente a verificação da observância pelo
autor dos pressupostos processuais, bem, assim dos requisitos previstos no art.º 467.º do
CPC. No âmbito deste exame, que também designa-se por saneamento da p.i., o juiz
profere a seguir o despacho liminar, o qual reveste três modalidades, a saber: (i)
Indeferimento da p.i.; (ii) Aperfeiçoamento da p.i.; ou (iii) Citação do réu.

Leituras Obrigatórias
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de
nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de estudo.
Portanto, não deixe de estudá-los.

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Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios
Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2000.

Leituras Complementares
Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

Legislação
CPC, LOJ, CC, CRM e LF

Actividades
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios
propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção
no final do presente Guia de Estudo.

Actividades

Leitura do texto

REFERÊNCIAS

CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

UNIDADE TEMÁTICA 8

TEMA DA UNIDADE
Continuação do formalismo processual do processo declarativo comum
ordinário
 Saneamento da petição inicial e proferição do despacho liminar;
 Citação: Função, modalidades e efeitos.

Elaborado por José Armando Langa

Objectivos
No fim desta unidade voce deverá ser capaz de saber (i) as modalidades do despacho liminar
sobre a p.i., seus efeitos e as possíveis atitudes do autor em cada uma delas; (ii) a função primária
da citação e seus efeitos, bem assim as suas diferentes modalidades.

Os Conteúdos da unidade

1.1.1 Despacho Liminar e suas modalidades

….dando continuidade à sessão anterior, dizíamos que, pago o preparo inicial, o processo
é afecto ao juiz, para efeitos de saneamento da p.i., isto é, verificação da sua regularidade,
através da qual o juiz proferirá o despacho liminar, que poderá consistir (i) no
Indeferimento liminar; (ii) Convite ao autor para aperfeiçoar a sua p.i.; ou então (iii)
Ordenar a citação do réu.

1.1.1.1 Indeferimento da p.i. (Vide art.º 474.º CPC)

O Juiz, antes de ordenar a citação do reu para os termos da petição inicial, deve ter em
conta a necessidade de realizar um saneamento preliminar da petição inicial, verificando
se estão preenchidos os pressupostos processuais relativos ao próprio processo e cuja
observância legalmente se impõem no começo da lide. Com efeito, o juiz tem de verificar
se a petição inicial preenche os seguintes requisites processuais:

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

 Aptidão da p.i.

A p.i tem de obedecer a determinados requisitos, sem os quais ela não pode ser recebida
pelo juiz. Com efeito, os requisitos para ser apta a petição inicial estão fixados no artigo
193.º/ 2 C.P.C e são, na essência: a clareza e coerência. Na verdade, a clareza, coerência e
inteligibilidade, estes elementos são importantes porque são a causa de defesa do reu,
porque lhe vão permitir tomar posição definitiva face aos factos nela articulados,
conforme resulta dos art.º 484/.º1, 490.º e 193.º/ 2, ambos do CPC.

A insuficiência destes elementos, conduz, pois, ao indeferimento liminar da p.i., nos


termos do que dispõe o art.º 474.º/1.a) ex vi art.º 193.º/ 1 do CPC.

 Duplicados

A apresentação de duplicado de p.i. é um dos pressupostos que o juiz deve verificar no


acto de saneamento da p.i., conforme resulta das disposições conjugadas dos art.ºs 151.º/1
e 152.º do CPC. A lei exige a apresentação dos duplicados, quer da petição inicial, quer
dos demais articulados, tantos duplicados quantos réus existirem. Porém, se a petição
inicial for apresentada sem duplicados, o juiz recebe-a mas fixa um prazo para a sua
apresentação, sob pena de indeferimento e absolvição do reu da instância, conforme
sanciona o art.º152.º/2-2.ªparte, in fine do diploma que temos vindo a citar.

Sendo a falta relativo aos demais articulados, não serão os mesmos recebidos pelo tribunal,
ou seja, assiste ao tribunal/ funcionário, recusa do seu recebimento, tudo em atenção ao
disposto no art.º 152.º/2-1.ª parte do CPC.

 Indicação do valor da causa

É igualmente um pressuposto processual obrigatório, sendo que a sua falta de indicação


determina a absolvição da instancia, conforme resulta do disposto no art.º 288.º em
conjugação com o art.º 314.º/3 CPC, isto é, caso o autor mesmo perante a interpelação do
tribunal para sanar o vício não o declare no prazo fixado pelo juiz.

 Falta de pagamento do preparo inicial

Conforme já havíamos referido na unidade temática sobre a tramitação da p.i. após à sua
entrada e distribuição, a sua verificação conduz à extinção de Instancia, nos termos das

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

disposições conjugadas dos art.ºs 287.º f) do CPC e 89.º/2 e 134.º do CCJ, se a falta
respeitar à p.i. Se se verificar na contestação, esta não é atendida no processo. (Vide art.º
135.º CCJ)

 A litispendência

Os requisitos estão fixados de forma clara no art.º 497.º do CPC, sendo que a sanção pela
sua verificação é a absolvição da instância, nos termos dos art.ºs conjugados 288° e) e
494.º/1g) CPC.

Portanto, em resumo, as causas genéricas para o indeferimento liminar da p.i. são as


constantes do art.º 474.º/ 1 do CPC, o que significa que vigora o princípio da tipicidade.

No quadro resumo que se segue, procuramos sintetizar as possíveis atitudes do autor, face
ao indeferimento liminar da p.i. e seus efeitos:

Atitudes possíveis Efeitos


O autor conforma-se com o
O despacho de indeferimento transita em julgado.
despacho. de
Extingue-se a instância, e assim, absolve-se desta o réu.
indeferimento-e renuncia a
propositura de nova acção.

 Deve apresentar a nova p.i. no prazo de 5 dias a contar


da data da notificação do indeferimento liminar, nos

O autor conforma-se com o termos do art.º 476.º/ 1 do CPC.

despacho e quer propor  O autor vai beneficiar dos seguintes efeitos: (i) a acção
nova acção no prazo legal, considera sempre proposta na data de entrada da
previsto no art.º 476.º CPC. primeira p.i. na secretaria judicia; (ii) aproveita a
distribuição feita; (iii) aproveito o pagamento dos
preparos iniciais já efectuados no âmbito da anterior p.i.

O autor conforma-se co o  O despacho de indeferimento liminar transita em

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

despacho de indeferimento. julgado, extingue-se e absolve-se o réu da instância;


Quer propor nova acção,
 O autor pode propor nova acção desde que respeite os
mas não vinculado no prazo
prazos de caducidade.
do art.º 476.º do CPC.

 O recurso é de agravo e deve ser apresentado no prazo


de 8 dias (Vide art.º 685.º/1 CPC;
O autor não se conforma
com o despacho de  O réu é citado para os termos da causa do agravo, nos
indeferimento liminar da p.i. termos do art.º 476.ª/3 CPC;
e recorre, nos termos do
 Se o recurso tiver provimento, manda-se notificar o réu
disposto no art.º 475.º do
para contestar a acção. Se não tiver provimento o
CPC.
recurso, o autor pode aproveitar o prazo e benefício doa
art.º 476.º/1, apresentando nova p.i

1.1.1.2 Aperfeiçoamento da p.i. (Vide at.º 477.º CPC)

Este despacho tem lugar quando o juiz não encontra motivos para indeferir
liminarmente a p.i mas, em contrapartida verifica que a mesma não tem determinados
requisitos legais, não vem acompanhada de determinados documento, ou então
enferma de determinadas irregularidades legais susceptíveis de comprometer o
sucesso da acção. Portanto, não estamos em face de uma p.i. inepta, todavia, a mesma
contém alguns vícios que podem ser sanados pelo autor, de modo a viabilizar a normal
prossecução da lide.

O aperfeiçoamento reveste-se duas modalidades, cada uma com consequências próprias:

 Aperfeiçoamento para completar, também designado por compleição, que se


verifica nos casos em que a p.i. carece de determinados dados ou elementos de
identificação ou então falta de junção de certos documentos referenciados ao longo
da exposição. Nestes casos, se o autor foi convidado a completar e não o fez, o juiz

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deve indeferir liminarmente a p.i., conforme resulta do disposto no art.º 152.º/ 3 in
fine do CPC;

 Aperfeiçoamento para corrigir, também designado por correcção. Tratando-se de


irregularidades que integram o conceito de ineptidão da p.i. o juiz indeferir
liminarmente, ou seja, não deve perder tempo em nadar corrigir pois, a lei em
relação à ineptidão, manda indeferir imediatamente. Se não integram aquele
conceito, ai sim, o juiz convida a parte a corrigir a p.i., sob pena de a acção correr
sob risco do autor, isto é, manda seguir o processo, ordenando a citação do réu, o
qual, poderá aproveitar para rebater as referidas fragilidades constantes da p.i.

1.1.1.3 Despacho de citação (Vide art.º 478.º CPC)

Esta é a última modalidade do despacho liminar, no âmbito de saneamento da p.i.

Por via de regra, a citação faz-se após a distribuição do processo. Porém, existe uma
excepção, a citação prévia ou antecipada, que precede a distribuição, nos precisos termos
previstos no art.º 478.º/ 2 do CPC.

São exemplos que podem fundamentar o pedido de citação prévia pelo autor, os casos de
iminência de prescrição de prazo de validade para a acção; iminência de morte do
provável reu; iminência de ausência do provável réu, etc.

Quais são então os pressupostos para a proferição deste despacho de citação, também
considerado despacho residual.

Não havendo motivos para o indeferimento liminar da p.i., por ausência dos requisitos
legais acima referenciados, nem irregularidades que careçam de ser sanadas, por via de
aperfeiçoamento da p.i., ao juiz não resta outra alternativa que não ordenar a citação do
réu, conforme dispõe o art.º 478.º/1 do CPC.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Assim, entende-se por citação o acto processual determinado pelo juiz, visando a
comunicação do início de uma lide ou contencioso judicial a um interessado ou visado

nessa mesma lide ou processo, cuja finalidade é de dar início ou “ponta pé de saída” ao
processo e garantir o exercício do princípio do contraditório. (Vide ar.º 3.º/ 1 CPC)

A citação reveste três grandes modalidades: (i) citação pessoal, que é aquela que se faz na
pessoa do próprio réu ou do seu representante legal (Cfr. art.ºs 233.º e 242.º CPC); (ii)
citação edital, quando se trata de réu ausente em parte incerta ou quando se não conhece
o seu endereço, bem assim os casos que há incerteza da pessoa a citar (Cfr. art.ºs 237.º,
248.º à 252.º do CPC); e (iii) citação quase pessoal, quando ela não é feita na pessoa do
réu nem dos eu representante legal, de terceiros. (Cfr. art.ºs 235.º à 243.º CPC).

O conteúdo da citação consta do art° 242.º CPC, que se resume no seguinte: (i) o réu deve
ser avisado que foi contra ele proposta uma acção e identificar-se a acção, através do
número do processo e o tribunal/ secção onde o processo corre; (ii) deve ser informado o
réu do primeiro acto que tem de praticar em defesa dos seus interesses, incluindo as
consequências legais caso não realize o acto referido no período anterior; (iii) deve
igualmente ser informado do prazo que tem para praticar ou apresentar a sua defesa,
entregando-se-lhe o duplicado legal da petição inicial, excepto quando se trate de citação
edital, em que o duplicado fica à disposição do réu no cartório judicial.

Conforme resulta do art.º 481.º do CPC, a citação tem dois grandes efeitos, os adjectivos
ou processuais e os substantivos ou objectivos. Os efeitos adjectivos da citação tornam a
instância estável (art.ºs 268.º e 481.º/b CPC), impedem a litispendência (art.ºs 497.º, 498.º,
499.º e 481.º/c) CPC) e fazem cessar a boa-fé do possuidor (art.ºs 481.º/a) CPC e art.º
1260.º Cod. Civil), por seu turno, os efeitos substantivos, interrompem a prescrição (art.º
323.º Cod. Civil) e constituem o devedor em mora nas obrigações sem prazo legal (art.º
805.º/1 Cod. Civil).
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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Leituras Obrigatórias
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de
nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de
estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios
Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2000.

Leituras Complementares
Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

Legislação
CPC, LOJ, CC, CRM e LF

Actividades
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios
propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção
no final do presente Guia de Estudo.

Actividades

Leitura do texto

REFERÊNCIAS

CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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UNIDADE TEMÁTICA 9

TEMA DA UNIDADE
Continuação do formalismo processual do processo declarativo comum
ordinário
 Contestação e suas modalidades;
 Articulados eventuais e articulados supervenientes

Elaborado por José Armando Langa

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de saber distinguir: (i) a contestação defesa da
contestação ataque; (ii) a contestação defesa directa da contestação defesa indirecta;

Os Conteúdos da unidade

1.2 Contestação – Vide art.ºs 486.º e ss CPC

A contestação é o segundo articulado do processo declarativo comum ordinário, é a peça


processual escrita em que o réu é chamado ao Tribunal para se defender,
respondendo a p.i. apresentada pelo autor. É através desta peça processual em que, no
âmbito de exercício do contraditório, o réu vai expor os fundamentos da sua defesa e
formular o (s) pedido (s) correspondente (s), dentro do prazo fixado por lei. (Vide art.º
486.º CPC)

À contestação, cabem duas grandes modalidades: contestação defesa e contestação


ataque (Vide art.ºs 487.º e 501.º do CPC)

53
Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

1.2.1 Contestação defesa

A contestação defesa ramifica-se em duas sub-modalidades, designadamente a


contestação defesa directa, também designada por contestação-impugnação e
contestação defesa indirecta, ou simplesmente contestação-excepção. (Vide o art.º
487.º/1 CPC).

Na contestação defesa directa ou impugnação o réu ataca frontalmente o pedido, quer


contradizendo os factos articulados pelo autor, quer afirmando que os factos aí
articulados não podem produzir o efeito jurídico pretendido pelo autor, conforme resulta
do disposto no art,º 487.º/2-1.ª parte do CPC. Trata-se, portanto, de uma contestação
propriamente dita, em que o autor contradiz a p.i. do autor, negando de forma frontal os
factos por este articulados durante a sua explanação, contrariando-o ou refutando-os, sem
nenhuns rodeios ou afirmando que os referidos factos não podem produzir o efeito
jurídico pretendido pelo autor. Portanto, em resumo, a impugnação consiste basicamente
na negação dos factos em si ou na negação dos efeitos jurídicos dos factos.

Na contestação-defesa indirecta ou contestação por excepção, o réu não faz “frente a


frente” com o autor, ele alega factos que impedem o tribunal de conhecer o mérito da
causa, conduzindo à absolvição da instância ou a remessa do processo para outro
Tribunal, (vide art.º 487.º2/1.ª parte e art.º 493.º/2 ambos do CPC) ou aduzindo factos
que impedem, modificam ou extinguem o direito invocado pelo autor, conduzem á sua
absolvição do pedido (art.º 487.°/2, 2a parte e art.º 493.º/3 ambos do CPC). No primeiro
caso, o réu vai arguir ou deduzir excepções do tipo dilatório, previstos no art.º 494.ºCPC
e no segundo caso, estamos em face das excepções peremptórias, de entre as quais, se
destacam as prevenidas no art.º 496.º CPC.

1.2.2 Contestação ataque/ Reconvenção

É a formulação de um pedido autónomo feito pelo réu contra o autor perante o mesmo
Juízo em que é demandado. É uma acção proposta pelo réu contra o autor e obedece as
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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

características da p.i., previstas no art.º 467.º/ 1 c) e d), em conjugação com o art.º 501.º
ambos do CPC. Portanto, é uma acção dentro de uma outra acção, trata-se de duas acções
cruzadas. Não obstante, importa asseverar que a reconvenção é facultativa, o réu deduz
se quiser, não existe nenhum impedimento legal que em processo autónomo o réu possa
instaurar uma acção contra o autor.

Todavia, a admissão da reconvenção está condicionada à observância e/ ou existência de


dois requisitos formais, extraídos do disposto no art.º 274.º/3 do CPC, quais sejam: (i)
verificação da competência internacional, prevista no art.º 65.º CPC e a competência em
razão da matéria e da hierarquia, por remissão do art.º 98.º do mesmo diploma legal atrás
citado; (ii) aplicação da mesma forma do processo aos dois pedidos (da acção e da
reconvenção), conforme prevê o art.º 274.º/ 3 do CPC, excepto se a diferença provier do
diverso valor dos pedidos.

1.3 Articulados eventuais ou Resposta (s) – Vide art.º 502.º CPC

Conforme referimos mais atrás, o processo declarativo comum ordinário comporta


apenas dois articulados ordinários, a petição inicial e a contestação. No entanto,
referimos igualmente que poderá haver lugar a um terceiro e quarto articulados eventuais
- as respostas, sendo que o terceiro visa responder a matéria de excepção e/ ou de
reconvenção deduzida pelo réu na sua contestação, a ser apresentado no prazo de dez
dias e/ ou vintes, consoante se trate de resposta à excepção e/ ou reconvenção,
respectivamente, à luz do disposto no art.º 502.º/ 3 do CPC. Verificando-se as
circunstâncias referidas no número quatro deste mesmo artigo, pode o réu apresentar a
sua resposta, no prazo de cinco dias a contar a partir da data da apresentação da resposta
pelo autor ou então da data da notificação ao réu dessa mesma resposta, se para o efeito
tiver sido notificado. Trata-se, portanto, do quarto articulado eventual.

55
Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

1.4 Articulados supervenientes – Vide art°s 506 e 507 CPC

Articulados Supervenientes, são apenas os factos que possam ter interesse para a decisão
da causa e que tenham ocorrido posteriormente ao termo dos prazos para a acção ou
defesa; ou que tendo ocorrido antes daqueles prazos e a parte que as invoca deles só teve
conhecimento findo aqueles prazos.

Consoante o momento de tomada de conhecimento dos factos ou da sua ocorrência, os


articulados supervenientes podem ser subjectivos ou objectivos. Dizem-se subjectivos, os
factos relativamente aos quais a parte só teve conhecimento após o termo dos articulados
normais ou ordinários; e são objectivos, os factos ocorridos posteriormente aos
articulados normais ou ordinários. (Art.º 506.º/2 CPC)

A superveniência subjectiva deve ser requerida no prazo de 10 (dez) dias a contar a partir
da data do conhecimento do facto e a objectiva deve ser requerida no prazo de 10 (dez)
dias a contar a partir da data da sua ocorrência, sendo que, em ambos os casos a parte
deverá apresentar imediatamente os meios de prova da requerida superveniência,
conforme resulta do disposto no art.º 506.º/3 CPC.

Reunindo os requisitos legais acima referidos, o juiz recebe o articulado superveniente e


manda notificar a parte contrária para deduzir a sua oposição, querendo, no prazo de 5
(cinco) dias, sendo que a falta de oposição equivale à falta de contestação, isto é,
consideram-se confessados os factos aí articulados pela parte contrária. Sendo 0
articulado superveniente deduzido após a proferição do despacho saneador, especificação
e questionário, este só pode ser deduzido oralmente em sede da audiência final e ai será
debatido e decido. Salvo se a parte contraria não prescindir o prazo de 5 (cinco) dias
previsto na lei para responder, ou seja, apresentar a sua defesa/ oposição e juntar os
meios de prova, caso em que a audiência será adiada. (Vide art.º 507.º/ 2 CPC)

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de


nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de
estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.
Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios
Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2000.

Leituras Complementares

Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

Legislação
CPC, LOJ, CC, CRM e LF

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios


propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção
no final do presente Guia de Estudo.

Actividades

Leitura do texto

REFERÊNCIAS

CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

UNIDADE TEMÁTICA 10

TEMA DA UNIDADE
Continuação do formalismo processual do processo declarativo comum
ordinário
 Fase de audiência preliminar e despacho saneador

Elaborado por José Armando Langa

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de saber: (i) as funções do despacho saneador; e (ii)
a organização da especificação e questonário;

Os Conteúdos da unidade

2. FASE DE AUDIÊNCIA PRELIMINAR E DESPACHO SANEADOR - (Vide art.º


508.º á 511.º CPC)

Conforme anunciamos nas primeiras unidades temáticas, esta é a segunda fase do processo
declarativo comum ordinário, igualmente designado por fase de saneamento e condensação do
processo, a qual, por regra, tem lugar finda a fase dos articulados.

2.1 Audiência preliminar

Havendo lugar, o juiz designa a audiência preliminar com algumas das seguintes
finalidades: tentativa de conciliação das partes, discussão de qualquer excepção que
tenha sido arguida pelas partes, discussão sobre a possibilidade de conhecimento

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

imediato do mérito da causa, discussão das posições das partes com vista a delimitar o
âmbito ou os termos do litígio ou ainda para proferir despacho saneador, conforme
resulta do disposto no art.º 508.º/ 1 CPC.

Quando o juiz pretenda apreciar o mérito da causa no despacho saneador, por entender
que o processo tem todos os elementos para tomar uma decisão, deve marcar
obrigatoriamente a audiência preliminar, sob pena de nulidade da decisão que tiver
apreciado o mérito da causa, conforme o comando previsto no número quatro do mesmo
artigo acabado de citar. Nestes casos, em que o juiz conheça do mérito da causa no
despacho saneador, bem assim naqueles em que tenha julgado procedente uma excepção
peremptória, o despacho em causa fica tendo, para todos os efeitos legais, o valor de uma
sentença, passando a designar-se de despacho saneador-sentença, conforme resulta do
disposto no art.º 501.º/ 4 CPC.

O juiz, ao marcar ou designar audiência preliminar, deve declarar expressamente a sua


finalidade de modo a permitir uma melhor preparação das partes para a discussão e ou
debate das matérias indicadas no despacho, sendo que, tratando-se de uma causa que
admite transacção as partes devem comparecer pessoalmente ou fazerem-se representar
por mandatários com poderes especiais para transigir, sob pena de multa. (Vide art.º
508.º/ 2 e 4 CPC). Por outro lado, a lei estabelece que a audiência preliminar não pode
ser adiada por falta das partes, as quais ficam obrigadas a justificar a ausência nos 5
(cinco) dias subsequentes aquele em que esta se realizou, sob pena de multa, contudo
sem prejuízo da aplicação do regime previsto no art.º 651.º do CPC, com as necessárias
adaptações.

O juiz dirige a audiência preliminar, obedecendo a ordem prevista no art.º 509.º CPC,
mas não pode impor qualquer solução ao caso, deve deixar que as partes expressem
livremente a sua vontade e os seus interesses, mantendo-se equidistante em relação a elas
e à matéria em si objecto de discussão, tal como impõe o princípio de imparcialidade do
juiz.
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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Havendo acordo, o juiz dita logo para a acta a homologação do acordo alcançado, nos
precisos termos estabelecidos pelas partes, salvo se estas preferirem apresentar um
acordo mais elaborado, consoante a complexidade da matéria em discussão, caso em que
o juiz poderá, excepcionalmente, fixar um prazo para as partes procederem á sua junção
aos autos. O despacho de homologação do acordo alcançado pelas partes extingue a
instância ou o pedido, consoante os casos, e tem força de sentença, conforme resulta do
disposto no art.º 300.º CPC.

Não havendo acordo, passa-se à discussão das excepções, se for esse o caso. Para o efeito,
o juiz dá palavra ao advogado do A. e depois ao R., conforme o previsto no art.º 509.º/ 2
CPC.

2.2 Despacho saneador

O despacho saneador será proferido terminada a fase dos articulados e logo á seguir ou
mesmo em plena audiência preliminar, nos casos em que ela houver lugar, o qual
compreende dois grandes momentos ou fases: saneamento do processo e condensação do
processo.

2.2.1 Saneamento do processo

Trata-se da função saneadora, a qual consiste, basicamente, na expurgação de todos os


obstáculos que possam obstar ou obstaculizar o normal prosseguimento do processo,
incluindo a eventual possibilidade de conhecimento directo do pedido, desde que o
processo reúna nesta fase todos os requisitos legais, conforme resulta do disposto no art.º
510.º/ 1 e 6 CPC.

Com efeito, o despacho saneador tem como objectivos (i) conhecer as excepções
dilatórias que podem conduzir à absolvição da instância, seguindo a ordem prevista no
art.º 288.º (vide art.º 510.º/1.a); (ii) conhecer as nulidades, ainda que não tenham por
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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

efeito anular todo o processo (vide art.º 510.º/ 1.a) em conjugação com os art.ºs 201.º á
205.º); (iii) decidir se procede alguma excepção peremptória (vide art.º 510.º/1.b); e
conhecer directamente do pedido (vide art.º 510.º/1.c).

Realizado o saneamento do processo, nos termos acima referidos, o juiz verifica se está
ou não em condições de tomar a decisão de direito, pronunciando-se do fundo da
questão, isto é, do pedido. Para o efeito, o juiz deverá verificar se encontram-se reunidos
os requisitos legais previstos no art.º 510.º/1.c), designadamente (i) se está em face de
questões unicamente de direito e estiver em condições de decidir com a necessária
segurança; (ii) se está em face de questões de facto e direito e o processo reunir todos os
elementos para uma decisão de/ ou em consciência; ou (iii) se está em face de questões
apenas de facto e o processo contém todos os elementos essências para a decisão
conscienciosa. Tomando decisão, nos termos referidos nesta disposição, o despacho
saneador, mais do que um simples saneamento, toma igualmente a função julgadora.

Conforme já haviam referenciado acima, a decisão tomada pelo juiz no despacho


saneador e sobre a questão de fundo da causa (decidindo sobre o pedido ou fundo da
causa) ou sobre alguma excepção peremptória julgando-a procedente tem o valor de
sentença e assim é designada. (Vide o art.º 510.º/6 CPC)

Proferido o despacho saneador, quer na audiência preliminar, quer depois da sua


realização, ao mesmo cabe recurso de agravo quando tenha decidido sobre excepções
dilatórias, questões prévias ou nulidades de que o juiz deva apreciar oficiosamente, e
cabe recurso de apelação quando tenha decidido alguma excepção peremptória ou tenha
conhecido do mérito da causa, conforme estabelece, respectivamente, o art.º 510.º/ 7-1.ª
parte e art.º 510.º/ 7-2.ª parte do CPC.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

2.2.2 Condensação do processo

Por seu turno, a função condensadora do despacho sanador consiste na fixação do


objecto da causa, especificando a matéria provada e quesitando a matéria por provar em
sede da audiência final.

Com efeito, conforme resulta do disposto no art.º 511.º/ 1 CPC, não tendo havido acordo
ou conciliação das partes em sede da audiência preliminar, e quando o processo não
termine no despacho saneador, ou seja, quando o juiz não conheça do mérito da causa ou
não absolva o reu da instância, nos termos referidos na secção precedente, o processo
deve prosseguir, com a elaboração da especificação e do questionário.

No entanto, só haverá selecção da matéria de facto naqueles casos em que, devendo o


processo prosseguir, a complexidade da causa, assim o justifique.

A selecção dos factos articulados pode ser feita mesmo por remissão para os articulados
e deve cingir-se aos factos articulados considerados relevantes para a decisão da causa,
primeiro especificando os que julgue assente em virtude de terem sido já provados por
confissão, acordo das partes ou prova documental e, segundo, quesitando os factos
controvertidos, ou seja, os factos que careçam ainda de prova.

O questionário abrange os factos não provados, não acordados, não confessados e que
interessam a decisão da causa e exigem prova em julgamento, devendo o juiz formular o
questionário na forma de quesitos, em que cada quesito deve corresponder a cada
facto articulado na petição inicial ou na reconvenção.

De acordo com o disposto no número dois do artigo atrás citado, o juiz deve elaborar a
especificação e o questionário sem deficiência, excesso, complexidade ou obscuridade,

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

assistindo às partes o direito de apresentarem as suas reclamações no prazo de 48


(quarenta e oito) horas a contar a partir da data da notificação deste despacho e apenas
sobre a matéria constante da especificação e questionário com o fundamento nos vícios
acabados de referir, seguindo-se depois os termos subsequentes previstos nos números
seguintes do supra citado artigo.

Fixados, definitivamente, a especificação e questionário, ou quando tenha transitado em


julgado o despacho saneador, são as partes notificadas para alterarem, querendo, o rol de
testemunhas e ou requererem quaisquer outras provas, no prazo 5 (cinco), conforme
dispõe o art.º 512.º CPC.

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de nossos estudos e
para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios Gerais, Coimbra
Editora, Coimbra, 2000.

Leituras Complementares

Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

Legislação
CPC, LOJ, CC, CRM e LF

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Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios propostos em cada
uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção no final do presente Guia de Estudo.

Actividades
Leitura do texto
REFERÊNCIAS

CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

UNIDADE TEMÁTICA 11

TEMA DA UNIDADE
Continuação do formalismo processual do processo declarativo comum ordinário
 Instrução do processo

Elaborado por José Armando Langa

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de saber a função principal da instrução, as várias espécias ou tipos de
prova e o momento da sua produção.

Os Conteúdos da unidade

3. FASE DE INSTRUÇÃO – (Vide art.º 513.º e ss do CPC)

A instrução compreende a terceira fase do processo declarativo comum ordinário e tem por fim a produção ou a
recolha dos elementos de prova sobre os factos que, interessando à decisão da causa, não tenham sido
devidamente esclarecidos nos ciclos ou fases anteriores, ou seja, desenvolve-se sempre tendo em vista os factos
quesitados que serão objecto de prova em sede da audiência final ou julgamento, conforme resulta do disposto no
art.º 513.º CPC. Ela começa depois que é fixado em definitivo o Despacho Saneador, Especificação e
Questionário.

Existem, entretanto, alguns casos em que não há lugar á instrução consoante as características circunstanciais de
cada processo. São exemplos típicos, os casos em que há indeferimento liminar da p.i., quando o processo for
decidido no saneador ou ainda quando se está em face da revelia operante do réu, nos precisos termos previstos no
art.º 484.º do CPC.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

3.1 Função da prova

Segundo Ana Prata, no Dicionário Jurídico, Livraria Almedina, Coimbra, 199, 3.ª Edição, em sentido
amplo ou lato sensu, a prova é a demonstração da realidade de um facto ou da existência de um acto
jurídico. Num sentido restrito ou stcricto sensu, a prova tem por função a demonstração da realidade de um
facto, conforme aliás também resulta do disposto no art.º 341.º do Cód. Civil.

3.2 Momento de produção da prova

Sendo a instrução a realização de diligências de produção de prova sobre os factos quesitados no


questionário, importa saber em que momento a prova deve ser produzida.

Nas unidades temáticas precedentes, designadamente na fase dos articulados e na fase de saneamento e
condensação do processo, referimos que as partes devem, desde logo, juntar documentos e apresentarem o
rol de testemunhas, bem assim requererem quaisquer outros meios de prova, no acto de apresentação dos
seus articulados. Porém, a sua produção ocorre, em regra, em sede da audiência final ou discussão e
julgamento da causa, conforme prevê as disposições conjugadas dos art.º 621.º e 652.º ambos do CPC.

Todavia, pode a prova ser produzida por antecipação, desde que haja fundado motivo e se encontrem
reunidos os requisitos legais previstos na lei, conforme resulta do preceituado no art.º 520.º CPC.

Com efeito, nos termos do comando legal acabado de referenciar, a produção antecipada da prova pode ser
requerida vs. efectuada, tanto antes da propositura da acção, como durante a fase dos articulados, desde que
se encontrem reunidos os seguintes requisitos: (i) quando haja justo receio de tornar-se difícil o
depoimento de certas pessoas ou então impossível o depoimento de certas pessoas; ou (ii) quando haja
justo receio de que a verificação de certos factos sobre os quais há-de recair a prova se tornará impossível
ou difícil.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Reunidos estes requisitos, caberá então à parte a quem interessa a produção antecipada da prova justificar,
por meio de requerimento, devidamente instruído com os seguintes elementos: (vide art.º 521.º CPC) (i)
justificação da necessidade da antecipação, identificando os factos sobre os quais recairá a produção da
prova; (ii) identificação das pessoas que hão-de ser ouvidas, se for depoimento de parte ou de testemunhas;
(iii) se a produção for requerida antes da propositura da acção, o requerente deverá indicar o pedido futuro
e seus fundamentos e a pessoa que figurara como réu na acção a propor futuramente.

3.3 Tipologia de provas

Segundo o professor Tomás Timbane, no seu manual, intitulado Lições de Processo Civil I, Editora
Escolar, dentro do direito probatório há que distinguir

o direito probatório formal do direito probatório material. Com efeito, o direito probatório formal é aquele
que regula a forma e o prazo de apresentação das provas, o modo e termos da sua utilização e aplicação em
juízo, sendo que, à luz do nosso direito positivo adjectivo, o mesmo encontra-se previsto nos art.ºs 513.º à
645.º. O direito probatório material, constituído pelo conjunto das normas constantes dos art.ºs. 341.º a
396.0 do Cód.Civil, onde se estabelecem os princípios informadores da prova em geral e se fixam as
espécies de prova, consta a matéria sobre o ónus da prova, a sua força probatória e a admissibilidade dos
meios de prova.

No que concerne á sua tipologia, importa previamente referir que quando o valor de determinado meio de
prova está estabelecido na lei, a prova diz-se vinculada. No caso contrário, diz-se que a prova é livre.

As provas classificam-se em função do seu objecto, destacando-se, de entre outras, as seguintes:

3.3.1 Prova por confissão: refere-se, geralmente, nos casos em que a prova é feita por confissão de
uma das partes, no processo, de qualquer facto que lhe seja desfavorável. O art.º 352.º e ss do
Cód.Civil apresentam o detalhe, os contornos e o valor da confissão, podendo ainda conferir o
disposto no art.º 552.º e ss do CPC. Porém, importa realçar que em todos os factos que versem

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

sobre direitos indisponíveis não funciona a prova por confissão, é sempre necessária a produção
de prova.

3.3.2 Prova por presunção: fala-se de presunção legal ou de presunção judicial, respectivamente, à
uma ilação que a lei ou o julgador tira de um facto conhecido para afirmar um facto
desconhecido, conforme resulta do art.º 349.º e ss Cód. Civil;

3.3.3 Prova documental: é a demonstração da realidade de um ou mais factos através de um


documento. Nos termos do que dispõe o art.º 523.º em conjugação com os art.ºs 467.º/2 e 488.º/
2 do CPC, os documentos destinados a fazer prova dos factos que fundamentam a acção ou a
defesa devem ser apresentados juntamente com os respectivos articulados. Em sede do direito
probatório material, o detalhe se acha no art.º 362.º e ss do Cód.Civil;

3.3.4 Prova Pericial: quando se trate de factos para cuja apreciação sejam necessários
conhecimentos especializados, ou quanto aos factos, relativos a pessoas, que não devam ser
objecto de inspecção judicial. Quando incide sobre coisas móveis ou pessoas, designa-se por
exame, quando incide sobre imóveis, designa-se por vistoria e quando se pretenda determinar
ou aferir o valor de determinados bens ou direitos, designa-se por avaliação. À luz do direito
adjectivo ou direito probatório formal, a prova pericial é tratada no art.º 568.º e ss do CPC e no
direito probatório material, nos art.ºs 388.º e 389.º Cód.Civil;

3.3.5 Prova por Inspecção: é a que tem por fim a percepção directa de factos pelo tribunal, sendo o
valor da força probatória da inspecção livremente apreciado pelo tribunal. (Vide os art.ºs 612.º à
615.º do CPC ex vi art.ºs 390.º e 391.º Cód.Civil;

3.3.6 Prova testemunhal: a prova testemunhal está regulada nos termos do art.º 616.º e ss do CPC e
392.º e ss do Cód.Civil, só não é admissível quando a lei assim o diz de forma expressa, como

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

por exemplo, quando determinado facto deva ser provado por documento ou outro meio com
força probatória plena e o seu valor é também de livre apreciação pelo tribunal;

3.3.7 O art.º 518.º do CPC, a apresentação de coisas móveis ou imóveis, quando sirvam de meios
de provas, casos em que tais bens serão entregues na secretária do tribunal, à excepção das
situações constantes do número dois deste mesmo diploma legal.

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de


nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de
estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios
Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2000.

Leituras Complementares
Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

Legislação
CPC, LOJ, CC, CRM e LF

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios


propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção
no final do presente Guia de Estudo.

Actividades
Leitura do texto
REFERÊNCIAS
CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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UNIDADE TEMÁTICA 12

TEMA DA UNIDADE
Continuação do formalismo processual do processo declarativo comum
ordinário
 Fase de audiência final, também designada por fase de discussão e julgamento da causa

Elaborado por José Armando Langa

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de saber os diferentes momentos que caracterizam a
audiência final, incluindo o objecto de cada momento.

Os Conteúdos da unidade

4. FASE DE DISCUSSÃO E JULGAMENTO DA CAUSA – (Vide art.º 646.º a 657.ºdo


CPC)

A instrução do processo termina na audiência final, onde se realiza a discussão e o julgamento


da causa, a qual compreende a fase dos debates orais ou escritos dos advogados das partes e a
fase da decisão da causa pelo Tribunal.

A discussão da causa é preenchida pelos debates entre os patronos das partes; debates orais, na
apresentação das pretensões dos seus constituintes e na apreciação crítica da prova produzida;
debate por escrito sobre o aspecto jurídico da causa, no caso de os advogados não terem preferido
a discussão oral, conforme resulta do disposto no art.º 657.° CPC).

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

Por seu turno, o julgamento da causa é o período destinado à decisão da causa, a qual se
desdobra em dois momentos distintos: o julgamento da matéria de facto, efectuado pelo tribunal
colectivo, sob a forma de respostas aos quesitos formulados no questionário; o julgamento final,
mediante a aplicação do direito aos factos provados, sendo a decisão proferida por um juiz
singular.

Em geral a audiência é pública, sendo que o respectivo julgamento é realizado com a intervenção
de um Tribunal colectivo. Se no julgamento da matéria de facto intervir apenas o juiz singular, a
audiência é sujeita á anulação, conforme prevê art.º 646.º/ 1 e 2 CPC. Entretanto, o Tribunal
colectivo não pode pronunciar-se sobre questões de direito nem sobre factos só possíveis de
provar por documentos nem os que foram integrados na especificação, se não se tem como
inexistente o pronunciamento do Tribunal colectivo em relação a estes factos, conforme resulta do
número 3 do artigo acabado de citar.

4.1 A audiência final é designada após a fase do saneamento e condensação do processo,


depois de notificadas às partes para alterarem, querendo, o rol de testemunhas ou
requererem quais quer outras provas. Uma vez marcada, ela só pode ser adiada nos
seguintes casos: (Vide art.º 651.º CPC)

4.1.1 lmpossibilidade de constituir o quórum do Tribunal colectivo;

4.1.2 Por falta de alguma pessoa que tendo sido convocada, dela se não prescinda
(perito, testemunha, parte) e o tribunal considere inconveniente prosseguir sem a
presença dessa pessoa. Mas se o Tribunal iniciar o julgamento, este será
interrompido antes de se iniciarem os debates orais, marcando o juiz dia para a
continuação para que a referida pessoa possa ser ouvida;

4.1.3 Quando for oferecido documento que a parte contrária não possa examinar na
mesma audiência e esta não prescinda do prazo do exame do documento que não
pode ultrapassar oito dias. Não sendo adiada a audiência, será interrompida antes

71
Curso de Ciências Jurídicas – Direito Processual Civil I – Semestre 7/ José Armando Langa

do começo dos debates orais e marcado o dia para a continuação após o decurso
do prazo do exame do documento fixado pelo juiz; Ou

4.1.4 A ausência de qualquer dos advogados por razoes de forca maior.

Todavia, a audiência não pode ser adiada mais de uma vez quer por falta dos advogados
ou das pessoas convocadas, nem por acordo das partes, conforme o comando previsto no
art.º 651.º/ 2 CPC.

4.2 Por seu turno, o art.º 656.º CPC, vem a estabelecer o princípio de continuidade da
audiência final, no sentido de que, uma vez iniciada, ela é contínua, só podendos ser
interrompida nos seguintes casos, devidamente comprovados: (i) por motivo de forca
maior; (ii) absoluta necessidade; e/ ou (iii) por adiamento, nos termos referidos no
art.º 651.º/ 1 CPC.

4.3 Conforme referimos acima, para além da verificação das presenças e eventuais
motivos que possam justificar o seu adiamento, a audiência final compreende
basicamente dois momentos importantes: a discussão da matéria de facto e o
julgamento da meteria de facto.

4.3.1 Discussão da matéria de facto (Vide art.ºs 652.º, 653.º e 657.º CPC)

Este é o momento mais “crítico” da audiência final, em que se vai proceder à


produção de toda a prova apresentada pelas partes, incluindo a que tiver sido
solicitada oficiosamente pelo tribunal. Com efeito, compreende este momento
a realização dos seguintes actos: (i) prestação dos depoimentos de parte; (ii)
exibição de filmes ou gravações sonoras; (iii) leitura dos quesitos e das
respostas dadas pelos peritos, com os esclarecimentos adicionais e verbais
destes; (iv) inquirição das testemunhas; (v) debates orais sabre a matéria de
facto em que os advogados das partes discutem a prova e procuram fazer a

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apreciação e integração do direito aos factos; e (vi) discussão do aspecto


jurídico da causa, a qual terá lugar após o julgamento da matéria de facto,
sendo que, caso não haja acordo em que a discussão seja oralmente, haverá
lugar à apresentação das alegações por escrito, nos precisos termos previstos
no art.º 653.º/ 5 e 6 em conjugação com o art.º 657.º CPC.

4.3.2 Julgamento da matéria de facto (Vide art.º 653.º CPC)

Referimos atrás que cabe ao tribunal colectivo decidir sobre a matéria de


facto contestante do questionário previamente elaborado pelo tribunal na
respectiva fase processual, incluindo eventuais novos quesitados surgidos em
sede da audiência de discussão e julgamento.

Em sede do julgamento da matéria de facto, o tribunal colectivo vai produzir


um acórdão, indicando quais os factos provados, quais os factos não provados,
especificando, inclusive, os fundamentos da sua convicção.

Cabe igualmente ao tribunal colectivo, no âmbito de julgamento da matéria de


facto e sede do acórdão acima referido, pronunciar-se sobre as reclamações
apresentadas pelos advogados, por deficiência, obscuridade ou contradição
das respostas dadas ou ainda a falta da sua fundamentação.

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de


nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de
estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios
Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2000.
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Leituras Complementares

Pode consultar também o resto da Bibliografia recomenda no plano temático.

Legislação
CPC, LOJ, CC, CRM e LF

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios


propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção
no final do presente Guia de Estudo.

Actividades

Leitura do texto

REFERÊNCIAS

CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES

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UNIDADE TEMÁTICA 13

TEMA DA UNIDADE
Continuação do formalismo processual do processo declarativo comum
ordinário
 Fase de sentença.

Elaborado por José Armando Langa

Objectivos

No fim desta unidade você deverá ser capaz de saber os requisitos externos e de fundo da
sentença, sua função e efeitos jurisdicionais.

Os Conteúdos da unidade

5. FASE DE SENTENÇA – (Vide art.º 658.º a 675.º CPC)

Conforme estabelece o art.º 658.º CPC, concluída a discussão do aspecto jurídico da causa, vai o
processo concluso ao juiz, para a proferição da sentença, no prazo de quinze dias.

5.1 Noção

Segundo Ana Prata, in Dicionário Jurídico - Direito Civil, Direito Processual Civil e
Organização Judiciária, Livraria Almedina, Coimbra 1999, 3.ª Edição, sentença é a
decisão final de um litigio – quer se trate da causa principal, quer de algum incidente desta
- proferida pelo juiz.

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Entende-se igualmente por sentença a decisão proferida pelo juiz e que põe termo a lide
ou então o acto de administrar a justice traduzido na proferição, pelo juiz, da decisão que
põe termo a lide, conforme se pode extrair do disposto no art.º 156.º/ 1 CPC.

5.2 Estrutura da sentença

À par dos requisitos externos, previstos no art.º 157.º CPC, cuja observância é obrigatória
por parte do juiz, a sentença compõe-se de quatro partes essenciais, a saber: (Vide art.º
659.º CPC)

5.2.1 Relatório – compreende o resumo do objecto do processo e do que foi alegado


pelas partes nos seus articulados. Ou seja, o juiz, nesta parte da sentença deve
começar pela identificação das partes, seguindo-se a descrição dos pedidos do
autor e do réu e seus respectivos fundamentos e termina com a conclusão;

5.2.2 Questões a resolver – o juiz procurar apurar dentro da matéria controvertida,


as suscitadas pelas partes de que importa delas tomar uma posição, bem assim
aquelas que, por imposição legal, o juiz deve conhecer oficiosamente.
Referimo-nos àquelas questões que podem conduzir à absolvição da instância,
designadamente (i) a Incompetência absoluta do Tribunal (vide o art.º 101.º);
(ii) a Nulidade do processo (art.º 193.º/ 1), (iii) a falta de Personalidade e
Capacidade Judiciária, incluindo a Representação (art.ºs 5.º, 9.º e 10.º); (iv) a
Ilegitimidade das partes (Art.º26.º); e/ ou (v) outras excepções do tipo dilatório
(art.º494.º);

5.2.3 Fundamentação – trata-se do dever legal de fundamentação das decisões


judiciais, previsto no art.º 158.º CPC. Com efeito, o juiz deve identificar os
fundamentos de facto que sustentam a sua decisão, quer a partir da matéria
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apurada em sede da especificação, quer a apurada em sede do julgamento da


matéria de facto, isto é, do acórdão referido no art.º 653.º/ 2 CPC. Deve
igualmente identificar e indicar os fundamentos de direito aplicáveis aos factos
apurados; e

5.2.4 Decisão – aqui o juiz toma a sua decisão final, a qual pode consistir na
absolvição da instância, na absolvição (total ou parcial) do pedido ou então na
condenação no pedido.

5.3 Efeitos da sentença

No que concerne aos actos do juiz da causa, a sentença tem por efeito extinguir o poder
jurisdicional do juiz em relação a matéria da causa do processo. Os únicos actos que o juiz
pode praticar após a proferição da sentença, são os constantes do art.º 666.º/ 2,
designadamente (i) a rectificação de erros materiais; (ii) suprimento de nulidades; (iii)
esclarecimentos de dúvidas existentes na sentença; e (iv) a reformulação da sentença
quanta a custas e multa.

Significa, portanto, que proferida a sentença, as partes podem reclamar, dentro do prazo
de 5 dias (art.º 153.º CPC), recorrer, no prazo de 8 dias (art.ºs 676.º/ 1 e 2 685.º/ 1 CPC)
ou o juiz pode corrigir oficiosamente erros materiais.

Esgotados os prazos para dela se reclamar ou se recorrer ou então nos casos em que
não haja lugar a recurso (por exemplo, nos casos em que o valor da causa não excede a
alçada do Tribunal, conforme o art.º 678.º/1 CPC), a sentença transita em julgamento,
conforme o previsto no art.º 677.º CPC)

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Uma vez transitada em julgamento a sentença passa a ter os seguintes grandes efeitos:

5.3.1 Valor do caso julgado material, isto é, impõe-se obrigatoriamente às partes.


Se a sentença versa sobre o mérito da causa, ou seja, sobre a relação material
controvertida, a sua força obrigatória opera dentro e fora do processo e
constituindo deste modo caso julgado material, impedindo qualquer das partes
a possibilidade de vir a juízo com nova acção idêntica a anterior, com os
mesmos fundamentos e pedido. (Vide art.º 671.º/ 1 em conjugação com os
art.ºs 497.º e 500.º CPC);

5.3.2 Valor do caso julgado formal, quando a sentença não se pronuncia sobre o
mérito da questão ou da matéria controvertida, ela recai sobre a relação
processual, em si, sendo que a sua forca limita-se ao processo em que a
sentença é ou foi proferida, conforme resulta do disposto no art.º 672.º CPC;

5.3.3 Outro efeito da sentença transitada em julgado, conforme aliás muito bem
referiu o Professor Tomás Timbane, no seu manual de Lições de Processo
Civil I, é que ela torna-se, igualmente, num título executivo, se estivermos em
face de uma sentença condenatória, podendo, com base nela, o autor ou o reu
reconvinte propor acção executiva para obter satisfação no que a outra parte
tiver sido condenada, conforme o previsto nos art.ºs 46.°/ a) e 47.º/ 1 CPC.

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de


nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de estudo.
Portanto, não deixe de estudá-los.

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Texto
 TOMÁS TIMBANE, Lições de Processo Civil I, Escolar Editora
 JOSÉ LEBRE DE FREITAS – Introdução ao Processo Civil – Conceito e Princípios
Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2000.

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CPC, LOJ, CC, CRM e LF

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