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CURSO: DIREITO
4º ANO
1º SEMESTRE
CADEIRA:
CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO
BEIRA, 2023
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
CURSO: DIREITO
4º ANO
1º SEMESTRE
CADEIRA:
CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO
TEMA:
MODELOS DE ORGANIZAÇÃO DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO
Discente:
Joanito Lucas Alberto
BEIRA, 2023
Índice
Introdução..........................................................................................................................1
Caracterização...................................................................................................................2
O Sistema do Administrador-juiz......................................................................................3
Conclusão........................................................................................................................10
Introdução
O contencioso administrativo está historicamente impregnado da controvérsia acerca da
teoria da separação dos poderes, dos princípios organizativos dela decorrentes e das
disputas entre as forças e os interesses que reivindicaram o direito de modelar o novo
Estado saído da Revolução de 89, no trabalho em apreço debruçar-se-á dos modelos de
Organização do Contencioso Administrativo.
1
Os modelos de organização do contencioso administrativo
Os modelos de organização do contencioso administrativo são as formas como os
sistemas jurídicos de cada país estruturam e organizam os órgãos responsáveis por
julgar as questões contenciosas entre a Administração Publica e os particulares.
Caracterização
O contencioso administrativo, então bastante imperfeito, estava a cargo do Conselho do
Rei e dos vários intendentes (da justiça, das finanças, etc.).
O Conselho do Rei foi suprimido em 1791, depois de a Lei de 16- 24 de Agosto de 1790
ter restringido o controlo jurisdicional dos actos da administração pública.
Como é sabido, foi esta última tese que acabou definitivamente por triunfar com a
reforma do Conselho de Estado de 1872.
1
Rui Chancerelle de Machete, «Contencioso Administrativo», Dicionário Jurídico da Administração
Pública, Vol. II., Atlântida, Coimbra, 1972: 689.
2
Nos outros países da Europa continental, na segunda metade do século XIX, destacou –
se também do tronco da jurisdição civil «a jurisdição administrativa».
De então para cá e do ponto de vista dos órgãos a quem tem sido confiado o
«contencioso administrativo» ou seja, os sistemas possíveis, em matérias de órgãos
competentes para conhecer das questões litigiosas entre a Administração Pública,
podemos autonomizar quatro tipos de sistemas:
O Sistema do Administrador-juiz
O sistema do administrador – juiz, também chamado de Ministro – juiz ou de jurisdição
reservada, consiste em atribuir à Administração a faculdade de se julgar a si mesma, isto
é, um órgão da Administração activa recebe competência para resolver as questões
contenciosas, a requerimento ou não de outro órgão, “ou para parafrasear DIOGO
FREITAS DO AMARAL: “neste sistema, as questões litigiosas entre a Administração e
os particulares são apreciadas através de um processo jurisdicionalizado por um órgão
independente, mas esse órgão, em vez de proferir uma sentença, limita-se a proferir um
parecer, que é ou não homologado pelo poder executivo”2.
2
FREITAS DO AMARAL D., IV, op. cit., p. 86.
3
No primeiro caso, o procedimento gracioso prolonga - se numa fase de instrução perante
um órgão administrativo que se limita a emitir parecer sobre o qual recairá decisão final
da autoridade administrativa competente.
Este modelo não foi exclusivamente organizado nos países europeus continentais. Pode-
se identificar também este modelo em alguns países anglo-saxónicos e, mais
particularmente, na Inglaterra.
4
administrativo à maneira a que, VASCO PEREIRA DA SILVA, chamou de “pecado
original”.
Assim, “Foi desta separação de funções que nasceu a jurisdição administrativa”. Este
conceito de Justiça Administrativa lato sensu foi importado por vários países europeus e
outros no mundo através da recepção do sistema de administração executiva ou regime
administrativo que pressupõe a existência de uma jurisdição administrativa. Em
Portugal, esta “importação” foi concretamente realizada no Séc. XIX com a aprovação
da Reforma Administrativa de 1832.
Este último subsistema é também designado por germânico. O sistema dos tribunais
administrativos, no seu primeiro subsistema, teve início, em França, e foi, depois,
seguido em numerosos países, como a Holanda, o Luxemburgo, a Grécia, a Polónia,
Portugal4, a Tunísia, etc.
3
62 Rui Machete, «O contencioso...», op., cit.: 763:
4
Até à recente reforma do contencioso administrativo em Portugal ( ), teve enorme peso a autoridade de
Marcello Caetano que sempre considerou os Tribunais Administrativos integrados no Poder
Executivo.Todavia, já nos finais dos anos 40 do século passado, Carlos Moreira sustentava «ser
contraditório e confuso» que, «sem quebra do princípio que considera separadas e independentes a
administração e a jurisdição, não é possível que um órgão seja ao mesmo tempo, autoridade
administrativa e juiz». Os tribunais administrativos, para este constitucionalista de Coimbra, seriam
5
O sistema germânico vigora, como o próprio nome indica, nos países de língua alemã,
como a Alemanha e a Áustria, tendo sido recentemente seguido por Portugal.
Não menos clássicos são os argumentos aduzidos contra o sistema dos tribunais
administrativos. A integração destes tribunais na Administração acabará sempre por os
fazer inclinar para o lado da parte mais forte, com perda de imparcialidade dos
respectivos juízes; mesmo como ordem autónoma há sempre uma tendência natural para
nesses tribunais se dar uma especial e desequilibrada relevância ao interesse público; a
dualidade de jurisdições cria frequentes e dispensáveis conflitos entre elas com prejuízo
para a celeridade e eficiência da administração da justiça; uma ordem de tribunais
administrativos é uma fonte permanente de pressão financeira sobre o orçamento do
estado, pelo que implica de despesas com as infraestruturas e funcionamento desses
tribunais (v.g. despesas com a manutenção e limpeza das instalações e equipamentos
privativos, despesas com o pessoal, etc.).
1.º – Permite evitar delicados conflitos de jurisdição que são de natureza a engendrar
atrasos consideráveis na administração da justiça;
6
Para assegurar níveis superiores de competência técnica, a uniformidade jurisprudencial
e o prestígio dos tribunais perante a própria administração pública, é recomendável, sem
desconsideração do modelo, consagrar a especialização dos tribunais comuns em
matéria de direito administrativo.
6
FREITAS DO AMARAL D., IV, op. cit., p. 95 e seguintes.
7
SOMMERMANN K.P., "Le système des actions et la protection d’urgence dans le contentieux
administratif allemand", RFD adm. 11 (6) nov.-déc. 1995, p. 1146.
8
0 MODEEN T., “La loi finlandaise sur la procédure administrative contentieuse“, RFD adm. 16 (2)
mars-avr. 2000, pp. 337-341.
9
BÜBÜL E. e SEILLER B., "Le contentieux administratif en Turquie", AJDA 2005, p. 1612.
10
SÉRVULO CORREIA J.M., op. cit., p. 16.
8
Por outro lado, é clássica a censura feita aos juízes comuns de terem uma especial
propensão para sacrificarem o interesse público ao interesse privado. Argumenta-se, por
fim, que o juiz não pode «brandir o machado de guerra contra quem o traz à cintura»
(Jean Rivero). O que quer dizer que o cumprimento dos julgados da jurisdição comum
ficará na prática dependente da consciência e vontade dos agentes administrativos.
9
Conclusão
Finda a abordagem desta temática se tem por concluído que a implementação de cada
modelo ao longo da historia do contencioso administrativo, a evolução da generalidade
dos sistemas aponta claramente no sentido de uma subjectivização da justiça
administrativa, tendo em conta a comprovada insuficiência dos modelos objetivistas
clássicos para assegurar uma proteção judicial efectiva dos direitos e interesses
legalmente protegidos dos particulares, cuja importância se desenvolveu
exponencialmente, acompanhando o alargamento da intervenção administrativa a todas
as esferas da vida social. Não pode ignorar-se, porém, que cada um dos modelos tem as
suas vantagens e desvantagens.
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