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CURSO: DIREITO
3º ANO
CADEIRA:
BEIRA, 2022
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
CURSO: DIREITO
3º ANO
2º SEMESTRE
CADEIRA:
TEMA:
Discentes:
BEIRA, 2022
Índice
Introdução........................................................................................................................................1
A Declaração de Nulidade...............................................................................................................5
A acção sub-rogatória......................................................................................................................6
A impugnação pauliana...................................................................................................................9
Arresto...........................................................................................................................................12
Conclusão......................................................................................................................................13
Referências bibliográficas.............................................................................................................14
Introdução
O cumprimento da obrigação é assegurado pelos bens que integram o património do devedor. O
património do devedor constitui assim a garantia geral das obrigações. Garantia geral porque a
cobertura tutelar dos bens penhoráveis do devedor abrange a generalidade das obrigações do
respectivo titular. Ao lado da garantia geral pode haver garantias especiais do crédito, quer sob
bens de terceiros, quer sobre bens do próprio devedor, que asseguram de modo particular a
satisfação do crédito do titular da garantia. Embora a garantia geral, bem como as garantias
especiais, só se destinem a ser executadas no caso do não cumprimento da obrigação, verdade é
que a garantia geral acompanha a obrigação desde o nascimento desta, tal como as garantias
especiais reforçam, desde a sua constituição, a consistência económico-jurídica do vínculo
obrigacional.
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Garantia geral das Obrigações
Objecto da garantia geral (artigo 601º CC)
Como regra, todos os bens do devedor, isto é, todos os que constituem o seu património,
respondem pelo cumprimento da obrigação. É esta uma garantia geral, a qual se torna efectiva
por meio da execução (a que refere o artigo 817º CC).
Apenas as obrigações naturais são inexequíveis, pois nem todos os bens do devedor integram a
garantia da obrigação. Só garantem o cumprimento da obrigação os bens do devedor que possam
ser penhorados.
Há, bens que a lei processual, pelas mais variadas razões considera impenhoráveis, sacrificando
o interesse do credor em obter a satisfação do crédito ou a reparação do direito violado ao
interesse do devedor em manter a coisa na sua posse ou o direito na sua titularidade.
Os bens discriminados nas diversas alíneas do artigo 822º CPC, são bens absoluta ou
totalmente impenhoráveis;
Os bens mencionados nos artigos 823º e 824º CPC, são, por sua vez relativa ou
parcialmente impenhoráveis.
A lei no artigo 602º CC, ressalva, desta limitação convencional do objecto da garantia
patrimonial as obrigações cujo regime não caiba na disponibilidade das partes.
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de acordo com o próprio texto da lei. E deve a limitação corresponder, por outro lado, a uma real
necessidade ou conveniência do devedor, compatível com a coercibilidade do vínculo
obrigacional, visto às partes não ser lícito criar obrigações naturais fora dos termos em que a lei
prevê a sua existência e implantação.
O artigo 604º CC, distingue, quanto à garantia do cumprimento, duas grandes categorias de
créditos:
Ou dos bens do devedor chegam para integral satisfação dos seus débitos e nenhum
problema de prioridades se levanta entre os credores;
Ou os bens do obrigado não bastam para pagar a todos e, nesse caso, o artigo 604º/1 CC,
manda dividir o preço dos bens do devedor por todos, proporcionalmente ao valor dos
créditos, sem nenhuma distinção baseada, seja na proveniência ou natureza dos créditos,
seja na data da sua constituição.
O direito de crédito, enquanto realidade jurídica, recebe a protecção do direito. Esta protecção
denomina-se a garantia das obrigações e consiste em a ordem jurídica assegurar ao credor os
meios necessários para realizar o seu direito, em caso de incumprimento por parte do devedor.
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No âmbito da garantia das obrigações é usual estabelecer-se uma distinção entre a garantia geral
e as garantias especiais das obrigações. A garantia geral é representada pelo património do
devedor. As garantias especiais consistem num reforço dessa garantia que pode consistir ou na
atribuição a outra pessoa da responsabilidade pela dívida (garantias pessoais) ou na atribuição a
um dos credores de preferência na satisfação do seu crédito sobre determinado bem, que pode
pertencer ou não ao património do devedor (garantias reais).
Efectivamente, regra geral os credores contam apenas para satisfação dos seus créditos com a
possibilidade de executar o património do devedor e proceder à venda judicial dos seus bens para
se pagarem com o produto dessa venda. E, por isso mesmo, a posição dos credores comuns é a
de plena igualdade entre si (par condicio creditorum), na medida em que verificando-se a
insuficiência do património do devedor, ela repercute-se proporcionalmente em cada um dos
créditos, através do correspondente rateio.
Quando algum dos credores beneficiar de uma legítima de preferência, que lhe dê o direito de ser
pago antes dos outros (artigo 604º, nº 2 CC) a sua posição já extravasará da garantia geral, por
isso se referindo a sua situação como a de titular de uma garantia especial das obrigações.
Entre essas garantias especiais inclui-se a penhora, o que permite ao exequente, a partir do
momento em que ela é declarada, adquirir prioridade em relação a outros credores que não
disponham de garantia real sobre os bens penhorados (artigo. 822º, nº 1 CC). A penhora, no
entanto, deixa de constituir preferência no caso de ser declarada a falência do devedor.
Sendo a garantia geral das obrigações representada pelo património do devedor, cabe lembrar
que ele constitui uma grandeza variável pelo que pode aumentar ou diminuir com o decurso do
tempo. Ora, qualquer diminuição do património do devedor envolve prejuízo para os seus
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credores, uma vez que estes apenas poderão executar os bens que ainda subsistam no momento
em que requerem a execução. Por esse motivo, a lei atribui aos credores diversos instrumentos
destinados a evitar qualquer diminuição do património do devedor.
A declaração de nulidade;
A sub-rogação do credor ao devedor;
A impugnação pauliana; e
O arresto.
A Declaração de Nulidade
O primeiro dos meios de conservação da garantia patrimonial que a lei atribui aos credores é a
declaração de nulidade (artigo 605º CC), que consiste na faculdade de os credores, se nisso
tiverem interesse, poderem vir invocar em Tribunal a nulidade dos actos praticados pelo devedor
como, por exemplo, no caso de negócios simulados e celebrados no intuito de defraudar os
credores, artigo 240º CC).
Em bom rigor, esta norma nem seria necessária, já que, conforme se sabe, a nulidade é invocável
a todo o tempo por qualquer interessado e até pode ser declarada oficiosamente pelo Tribunal
(artigo 286º CC), o que legitimaria sempre os credores interessados a requerer a declaração de
nulidade.
Fica assim esclarecido que o artigo 605º CC atribui aos credores legitimidade para invocar a
nulidade de qualquer acto praticado pelo devedor que os possa prejudicar, independentemente do
momento em que esse acto ocorreu ou das suas consequências para o património do devedor. A
solução é correcta, uma vez que, face à gravidade que normalmente revestem as causas de
nulidade dos negócios, não se justificaria estabelecer qualquer requisito suplementar (para além
do normal interesse em agir) para permitir que estas possam ser invocadas por qualquer credor.
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A lei esclarece que a declaração de nulidade aproveita, não apenas ao credor que a haja
invocado, mas também a todos os demais (artigo 605º, nº 2 CC). Efectivamente, a declaração de
nulidade tem efeito retroactivo pelo que determina a restituição de tudo o que tiver sido prestado
ou, se a restituição em espécie não for possível, do valor correspondente (artigo 289º, nº 1 CC).
A acção sub-rogatória
A acção sub-rogatória tem sido classificada como acção sub-rogatória directa ou indirecta. A
acção referida nos artigos. 606º e seguintes, é a acção sub-rogatória indirecta - Consiste esta num
meio de conservação da garantia geral, representado pela possibilidade que os credores têm de
exercerem contra terceiro os direitos de conteúdo patrimonial que competem ao devedor, mas
que não atribui qualquer preferência no pagamento aos credores que a ela recorram, uma vez que
é exercida em proveito de todos os credores (Artigo. 609º CC).
A lei qualifica, porém, ainda como sub-rogação do credor ao devedor a situação prevista no
artigo 50º nº 1 da Lei das sucessões, referente ao caso em que o devedor, em prejuízo dos seus
credores, procede ao repúdio de uma herança que lhe tinha sido atribuída. A lei atribui neste caso
aos credores do repudiante a possibilidade de aceitarem a herança em nome deste nos termos
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previstos nos artigos 606º e seguintes. No entanto, e apesar desta remissão, a verdade é que se
verificam substanciais diferenças entre esta figura e o regime geral da sub-rogação.
A primeira é a de que não se está perante uma substituição pelo credor num acto cuja prática o
devedor omitiu, mas antes na destruição dos efeitos de um acto (o repúdio) que o devedor
praticou.
A segunda é a de que a sub-rogação neste caso não produz a reversão dos bens ao património do
devedor, já que a lei determina que, pagos os credores do repudiante, o remanescente da herança
não aproveita a ele, mas aos herdeiros imediatos (artigo 50º, nº 3 Lei das sucessões).
O primeiro requisito da acção sub-rogatória é a omissão pelo devedor de exercer os seus direitos.
Efectivamente, a acção sub-rogatória caracteriza-se por ser uma reacção do credor contra uma
conduta omissiva do devedor, pelo que, se o devedor vir a actuar positivamente em ordem a
prejudicar o credor, a via adequada para este reagir já não será a da acção sub-rogatória, mas
antes a da impugnação pauliana ou do arresto.
Para além disso, essa omissão do devedor tem que ser relativa ao exercício de direitos
subjectivos que este já adquiriu, pelo que estará naturalmente excluída a acção sub-rogatória
relativamente a simples expectativas de aquisição de direitos (ex: a celebração de um contrato ou
a publicação de uma obra já elaborada).
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Já é, porém, permitido o exercício da sub-rogação em relação a direitos sujeitos a condição ou a
prazo, desde que o credor se encontre em condições de demonstrar que tem interesse em não
aguardar pela verificação da condição ou pelo vencimento do crédito (artigo 607º CC).
Admite-se por outro lado, o exercício da sub-rogação em relação à própria faculdade de sub-
rogação, através da denominada acção sub-rogatória de segundo grau, nos termos da qual o
credor substituindo-se ao devedor, exerce os direitos que o devedor deste tem perante terceiro.
O segundo requisito da sub-rogação é que os direitos, cujo exercício se omitiu, tenham conteúdo
patrimonial, não estando esse exercício reservado, por natureza ou por disposição da lei, ao
respectivo titular.
Excluem-se assim da acção sub-rogatória, quer os direitos de natureza pessoal (ex: o direito de
requerer o divórcio ou a separação judicial de pessoas e bens, bem como as acções de
investigação de maternidade ou paternidade), quer mesmo aqueles que, não sendo daquela
natureza, a lei reserve o seu exercício ao respectivo titular (ex: a revogação da doação por
ingratidão do donatário ou a simples separação judicial de bens).
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Em relação aos meios de defesa que o terceiro demandado tem perante a acção sub-rogatória,
parece que eles se limitarão àqueles que ele possui contra o devedor, que é o efectivo titular do
direito, não podendo assim ser opostos meios de defesa que o terceiro possua contra o próprio
credor, uma vez que este se limita a exercer o direito em substituição do seu verdadeiro titular.
Exercida a sub-rogação, o artigo 609º CC, determina que esta aproveita a todos os credores, o
que implica ter a lei consagrado a modalidade da acção sub-rogatória indirecta, que não atribui
qualquer preferência no pagamento ao credor que a ela recorre, mas antes determina o ingresso
dos bens obtidos no património do devedor, ficando ai sujeitos ao poder de execução de todos os
credores. Assim, o autor da sub-rogação não adquire qualquer vantagem especial pelo facto de a
ela ter recorrido, sendo a sua actuação exercida em benefício de todos os outros credores.
A impugnação pauliana
Generalidades
A lei prevê nos artigos 610º e seguintes do CC, a impugnação pauliana pelo credor dos actos do
devedor que o possam prejudicar. É assim prevista o código actual a velha actio pauliana, assim
denominada por ter sido criada por um édito do pretor romano PAULUS.
Não existia assim no direito romano clássico uma única acção pauliana, correspondendo esta a
três figuras: a actio pauliana poenalis, o interdictum fraudatorium administrativo e a in integrum
restitutio judicial.
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O direito justinianeu procedeu, porém, a uma fusão deste três remédios, procurando eliminar,
tanto quanto possível, o carácter penal da actio e acentuar a sua função restitutória, embora
mantivesse expressamente o delito (fraude aos credores) como pressuposto da restituição. Essa
configuração delitual conduzia a que os terceiros beneficiários só pudessem ser demandados se
fossem cúmplices do acto, exigindo-se assim que tivessem conhecimento da fraude.
Com essa origem remota, a impugnação pauliana tem-se mantido nos diversos direitos, como
meio de conservação da garantia geral, destinada a permitir aos credores reagir contra os actos do
devedor que se apresentam como lesivos dessa garantia. Essa reacção dos credores é admissível
quer em relação a primeira alienação pelo devedor (artigos 610º e seguintes), quer em relação a
alienação subsequentes efectuados pelo adquirente dos bens (artigo 613º CC).
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é dirigida contra os actos praticados por ele. Destinando-se a impedir que esses actos possam
afectar a garantia patrimonial do credito. Estão assim em causa actos que se repercutem em
termos negativos no património do devedor, quer em virtude da diminuição do seu activo.
O último dos requisitos da impugnação pauliana é a de que do acto impugnado resulte para o
credor a impossibilidade de satisfação parcial do crédito ou agravamento dessa impossibilidade.
A impugnação pauliana consiste assim numa acção pessoal, que visa restituir ao credor, na
medida do seu interesse, os bens com que ele contava para garantia do seu crédito. Nesse âmbito,
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a procedência da imputação pauliana constitui um direito de crédito à restituição, que em relação
ao adquirente tem por objecto os bens em espécie ou o seu valor, se estiver de má fé, ou o seu
enriquecimento se estiver de boa fé. Nessa medida, a impugnação pauliana faz surgir uma
pretensão à restituição do enriquecimento por desconsideração de património.
Arresto
O último dos meios de conservação da garantia geral é o arresto de bens do devedor (artigos 619º
e seguintes do CC). O qual consiste numa apreensão judicial de bens, semelhantes à da penhora.
O arresto pode ser requerido sempre que o credor tenha justo receio de perda da garantia
patrimonial do seu crédito (artigo 619º/1 CC). Basta, que exista um risco de o devedor ir
proceder à ocultação alienação ou dissipação dos seus bens ou que se verifiquem quaisquer
outras circunstâncias que indiquem a possibilidade de futuro desaparecimento dos bens que
constituem a garantia patrimonial do crédito.
O arresto pode ainda ser decretado em relação ao adquirente dos bens do devedor, exigindo-se
nesse caso que tenha sido judicialmente impugnada a transmissão (artigo 619º/2 CC). Se o
arresto for julgado injustificado ou caducar, o requerente é responsável pelos danos causados ao
arrestado, quando não tenha agido com a prudência normal (artigo 621º CC). Admite-se, aliás
que o requerente do arresto seja logo obrigado a prestar caução, se tal lhe for exigido pelo
tribunal (artigo 620º CC).
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Conclusão
O presente trabalho levou-nos a concluir que as garantias das obrigações são uma protecção que
o direito dá ao credor para defender-se ou realizar o seu direito se haver incumprimento por parte
do devedor, ou seja, quando haver incumprimento por parte do devedor ataca-se o seu
património como meio de pagamento da sua dívida.
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Referências bibliográficas
ABRANTES, José João, A excepção de não cumprimento do contrato no Direito Civil
Português. Conceito e fundamento, Coimbra, Almeida, 1986.
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