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Direito – 4º Ano – 1º Semestre


Diogo Filipe Lima Ferreira
Contencioso do Poder Público

T – 19 de setembro de 2019

Testes: 24 de outubro e 21 de novembro.


Apresentação oral nas OT’s – comentário a um acórdão.
A Justiça Administrativa – Vieira de Andrade

P – 19 de setembro de 2019

Não houve aula.

OT – 20 de setembro de 2019

Não houve aula.

T – 20 de setembro de 2019

Não houve aula.

T – 26 de setembro de 2019

Trabalho marcado para o dia 28 de novembro de 2019

P – 26 de setembro de 2019

Não houve aula.

OT – 27 de setembro de 2019

Não houve aula.

T – 27 de setembro de 2019

INTRODUÇÃO
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Justiça administrativa, contencioso administrativo ou contencioso do poder público


são todos conceitos que sinónimos. Subjazem-lhes o princípio da separação de poderes, o
qual culmina, entre nós, num sistema de poderes tripartido, dividindo-se entre o poder judicial
(exercido pelos tribunais), o poder legislativo (exercido pela Assembleia da República ou pelo
Governo, mediante uma lei de autorização) e o poder administrativo ou executivo (exercido
pela Administração Pública, a qual é encabeçada pelo Governo).
A justiça administrativa traduz-se no controlo da função administrativa pelo poder
judicial. Inicialmente não se verificava qualquer tripo de fiscalização da atividade da
Administração Pública, a qual era verdadeiramente centralizada.

Organizativos
Modelos Objetivistas
Processuais
Subjetivistas

Em função da evolução que tem marcado o contencioso administrativo, há que proceder


à distinção entre modelos organizativos e modelos processuais. Os primeiros dizem respeito à
forma como a justiça se relaciona com a Administração Pública, ao passo que os segundos têm
como escopo o tipo de processo utilizado.

1. MODELOS ORGANIZATIVOS

Dentro dos modelos organizativos são três os que se realçam, a saber: o modelo
administrativista, o modelo judicialista e o modelo judiciarista ou quase-judicialista.

Administrativista Judiciarista Judicialista


Entidade competente Órgãos superiores da Órgãos independentes Tribunais integrados
A.P. da A.P. na ordem judicial
(comuns ou
especializados)
Tipo de processo Não jurisdicional Jurisdicional Jurisdicional
Força da decisão Sem força jurídica Sem força jurídica (a Com força jurídica
vinculativa maior parte das vezes) vinculativa e com
força executória
obrigatória
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1.1. MODELO ADMINISTRATIVISTA

O modelo administrativista é chamado de “administrador-juiz”, de “autotuela” ou de


“jurisdição reservada” ou “conservadora”, uma vez que a decisão final dos litígios
administrativos compete aos órgãos superiores da Administração Pública.
Por conseguinte, o processo que visa dirimir tais litígios apresenta natureza não
jurisdicional, compreendendo-se, portanto, que as decisões dele resultantes não contenham
força jurídica vinculativa, o que deixa à própria Administração a discricionariedade para as
cumprir.
Para este modelo, “julgar a administração é ainda administrar”.

1.2. MODELO JUDICIALISTA

Enquanto o modelo administrativista é importado sobretudo de França, o modelo


judicialista aproxima-se bastante aos ordenamentos anglo-saxónicos.
De acordo com esta conceção, a decisão das questões jurídicas administrativas cabe a
tribunais integrados numa ordem judicial – de acordo com o princípio de que “julgar a
administração é verdadeiramente julgar” –, quer se trate de tribunais comuns ou de tribunais
especializados em razão da matéria.
Conclui-se, dessa forma, que o processo utilizado para fiscalizar a atividade da
Administração Pública apresenta natureza jurisdicional e, além disso, as decisões dele
emergentes têm força jurídica vinculativa e força executória obrigatória.
Este é o modelo português atual, que parte do princípio de que toda a atividade
administrativa, mesmo nos momentos discricionários, está subordinada ao Direito e que atribui
aos tribunais a competência para conhecer todos os litígios emergentes de relações jurídicas
administrativas interpessoais.
No entanto, na ótica do Prof. Paulo Cunha, estamos diante de um modelo judicialista
mitigado, uma vez que, por motivos de interesse económico, existem decisões que são
insuscetíveis de serem executadas (exemplo da torre na Boavista).

1.3. MODELO JUDICIARISTA

Neste tipo de modelo organizativo, a resolução de litígios inerentes à Administração


Público, por não ser substancialmente estranha à função jurisdicional, compete a autoridades
“judiciárias”, que são órgãos administrativos independentes, alheios à orgânica dos tribunais,
apesar da sua designação como “tribunais administrativos”.
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Os pareceres emanados por aqueles órgãos na maior parte das vezes encontram-se
desprovidos de força jurídica e, por conseguinte, a Administração Pública atendê-los-á se assim
o quiser.

T – 03 de outubro de 2019

O Contencioso do Poder Público abrange, além do contencioso administrativo, o


contencioso tributário e o contencioso do Tribunal Constitucional. No entanto, no âmbito
desta unidade curricular debruçar-nos-emos somente no estudo do primeiro.

Já na aula passada – 27 de setembro de 2019 – ficou evidenciada a notória evolução da


Administração Pública, a qual era, no século XIX, bastante centralizada e executiva,
encontrando-se hoje sujeita a um princípio da separação de poderes que, entre nós, reveste
natureza tripartida – poder legislativo (exercido pela Assembleia da República e pelo Governo,
mediante lei de autorização), poder judicial (exercido pelos tribunais) e poder administrativo ou
executivo (exercido pela Administração Pública, a qual é encabeçada pelo Governo).
Além destes três poderes, é possível falar do poder político (responsável pela decisão
política). Este poder não é normativo e é insindicável – veja-se, por exemplo, que na abertura
de um concurso público para a construção de uma autoestrada, a adjudicação da obra a uma
entidade é um ato administrativo, mas a prévia decisão de construir ou não a autoestrada é uma
decisão inteiramente política.
Conclui-se, deste modo, que o poder político não é objeto do contencioso
administrativo.

Apesar de não se verificar o estabelecimento de uma relação hierárquica entre os três


poderes referidos, a justiça administrativa tem como escopo a fiscalização do poder
administrativo pelo poder judicial, o qual, por norma, tem-se revelado como um poder impoluto
ou inocente, fiscalizando a conformidade da atuação da Administração relativamente à lei,
tendo em consideração que o poder administrativo é o mais suspeito e corrupto.
Por seu turno, a atividade do poder legislativo é fiscalizada pelo Tribunal
Constitucional, o qual se pronunciará da sua conformidade com a Constituição da República
Portuguesa, o Direito da União Europeia e os princípios de direito internacional geral ou
comum.

2. Conceito de justiça administrativa/contencioso administrativo


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No século XIX, a Administração Pública era uma administração centralizada (Estado


absoluto) e era visto como o inimigo das liberdades, pelo que a justiça administrativa era
entendida como o conjunto das garantias dos particulares contra as atuações ilegítimas da
Administração que ofendessem os seus direitos ou interesses. Deste modo, o escopo exclusivo
do princípio da legalidade administrativa reconduzia-se à proteção dos direitos dos particulares.
Por seu turno, num contexto de Estado Social, com administração descentralizada, já
não é possível reconduzir a justiça administrativa à garantia dos particulares:

 Existem litígios em que os particulares estão ausentes (relações entre entes


administrativos); e
 O interesse público que, tal como defendido pelo legislador no art. 266º, nº1
CRP, constitui a finalidade necessária e própria da atividade administrativa,
garante não só a defesa dos direitos dos cidadãos, mas também a legalidade da
atuação da Administração Pública.

Em sentido amplo, a justiça administrativa corresponde a um sistema de mecanismos e


processos destinados à resolução de controvérsias nascidas de relações jurídicas administrativas.
A CRP ao definir o âmbito da justiça administrativa, opta por uma fórmula substancial,
referindo-se ao “julgamento de todas as ações e recursos que tenham por objeto dirimir os
litígios emergentes das relações jurídicas administrativas” (art. 212º, nº3 CRP).
Todavia, a garantia das posições jurídicas subjetivas dos particulares constitui o
domínio típico da justiça administrativa, estando-lhes assegurados, à luz dos nºs 4 e 5 do art.
268º CRP, o acesso à justiça administrativa para tutela dos seus direitos e interesses legalmente
protegidos, tendo, inclusive, capacidade para intervir em juízo.

De modo a definir-se a justiça administrativa é necessário ter em consideração as suas


diferentes dimensões:

 A substancial ou material: à justiça administrativa cabe resolver os litígios


emergentes de relações jurídicas administrativas, independentemente dos
sujeitos envolvidos;
 A funcional: a função para resolver conflitos é exercida de forma
jurisdicionalizada;
 A orgânico-processual: essa função é exercida por tribunais – entre nós,
tribunais especializados –, mas que se encontram integrados na ordem judicial
portuguesa – conforme emerge do art. 212º, nº3 CRP e do art. 15º CPTA.
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De acordo com o CPTA, a regra é de que a cada pretensão do cidadão corresponde um


processo. Atualmente existem duas formas de processo, a saber:

 Processos urgentes (art. 36º CPTA): contencioso eleitoral; procedimento de


massa; contencioso pré-contratual; intimação para prestação de informações,
consulta de documentos ou passagem de certidões; intimação para defesa de
direitos, liberdades e garantias; e providências cautelares;
 Ações administrativas (art. 37º CPTA).

3. MODELOS DE JUSTIÇA ADMINISTRATIVA

Todo o modelo de justiça administrativa vai assentar o âmbito da sua atenção em duas
grandes preocupações, isto é, a prossecução do interesse público e a proteção dos direitos e
interesses dos cidadãos.

De modo a apreciar os modelos de justiça administrativa é importante ter em


consideração a evolução constatada no modo como se concebeu a vinculação da Administração
à lei e ao Direito, como se entende a divisão de poderes entre o legislador, a Administração e o
juiz, como se encara a sujeição da Administração ao interesse público e a garantia de proteção
dos direitos e interesses dos cidadãos.
Assim, deve ter-se em atenção:

 O princípio da separação de poderes, existindo uma clara divisão de


poderes e de funções entre a Administração e os tribunais;
 A vinculação jurídica da atividade administrativa, funcionalmente
distinguida da atividade política;
 O conceito de interesse público (finalidade que justifica e vincula a
função administrativa – art. 266º, nº1 CRP);
 A garantia dos administrados (insuficiências das impugnações
administrativas, bem como do recurso contencioso de anulação de atos
administrativos, no contexto de uma Administração intervencionista e
prestadora) e a consagração constitucional do acesso geral e efetivo
dos cidadãos à justiça administrativa (art. 268º, nºs 4 e 5 CRP).

3.1. MODELOS ORGANIZATIVOS


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Os modelos organizativos abordam a justiça administrativa identificando quem exerce


e que função se exerce (administrativa ou judicial).
Em suma, são cinco os modelos organizativos:

 Administrativista;
 Judicialista;
 Judiciarista ou quase-judicialista;
 Administrativista mitigado; e
 Judicialista mitigado.

3.1.1. MODELO ADMINISTRATIVISTA

O modelo administrativista é chamado de “administrador-juiz”, de “autotuela” ou de


“jurisdição reservada” ou “conservadora”, uma vez que a decisão final dos litígios
administrativos compete aos órgãos superiores da Administração Pública.
Por conseguinte, o processo que visa dirimir tais litígios apresenta natureza não
jurisdicional, estando sujeito a meras regras procedimentais. Compreendendo-se, portanto,
que as decisões dele resultantes não contenham força jurídica vinculativa, o que deixa à própria
Administração a discricionariedade para as cumprir.
Para este modelo, estando a atividade designada por contencioso administrativo no seio
da função administrativa, “julgar a administração é ainda administrar”.

Este foi o modelo liberalista, típico dos primórdios do sistema de administração


executiva, fortemente centralizado no Governo, e em que o contencioso era visto como
instrumento de realização do interesse público, concebido como o interesse do Estado.

3.1.2. MODELO JUDICIALISTA

Enquanto o modelo administrativista é importado sobretudo de França, o modelo


judicialista aproxima-se bastante aos ordenamentos anglo-saxónicos.
De acordo com esta conceção, a decisão das questões jurídicas administrativas cabe a
tribunais integrados numa ordem judicial – de acordo com o princípio de que “julgar a
administração é verdadeiramente julgar” –, quer se trate de tribunais comuns ou de tribunais
especializados em razão da matéria (caso português).
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Conclui-se, dessa forma, que o processo utilizado para fiscalizar a atividade da


Administração Pública apresenta natureza jurisdicional e, além disso, as decisões dele
emergentes têm força jurídica vinculativa e força executória obrigatória.
Este é o modelo português atual, que parte do princípio de que toda a atividade
administrativa, mesmo nos momentos discricionários, está subordinada ao Direito e que atribui
aos tribunais a competência para conhecer todos os litígios emergentes de relações jurídicas
administrativas interpessoais.

3.3.3. MODELO JUDICIARISTA OU QUSE-JUDICIALISTA

Neste tipo de modelo organizativo, a resolução de litígios inerentes à Administração


Público, por não ser substancialmente estranha à função jurisdicional, compete a autoridades
“judiciárias”, que são órgãos administrativos independentes, alheios à orgânica dos tribunais,
apesar da sua designação como “tribunais administrativos”.
Trata-se de órgãos com funções específicas de controlo e que atuam segundo um
procedimento contraditório de tipo jurisdicional, embora frequentemente sem autoridade
executiva.
Configura-se como um modelo intermédio na transição dos modelos administrativistas
para os modelos judicialistas.

3.3.4. MODELO ADMINISTRATIVISTA MITIGADO

A decisão sobre as questões contenciosas compete a órgãos superiores da


Administração ativa, mas implica um procedimento jurisdicionalizado com a intervenção
consultiva obrigatória de um órgão administrativo independente, cujo parecer seria ou não
homologado por aqueles.

3.3.5. MODELO JUDICIALISTA MITIGADO

As sentenças dos tribunais (comuns ou especializados), apesar da competência decisória


destes, não têm força executiva ou têm uma força executiva fortemente limitada perante a
Administração (em regra, por estarem sujeitas a publicidade ou por dependerem da boa
vontade administrativa para as executar).

3.3.6. CONCLUSÃO
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No Estado de Direito Social é inquestionável a jurisdicionalização plena do contencioso


administrativo.
Por sua vez, os modelos administrativistas, puros ou mitigados, já não existem
atualmente e a generalidade dos países adotou modelos organizativos judicialistas.
O modelo português oscila entre o judicialista ou o judicialista mitigado, conforme
decorre dos arts. 71º, nº1 e 159º, nº1 CPTA. A título excecional segue-se o modelo judiciarista,
na medida em que há entidades administrativas independentes com competência no contencioso
administrativo, como é o caso do Banco de Portugal, da Entidade Reguladora para a
Comunicação Social ou da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

JUDICIARISTA
ADMINISTRATIVISTA
(QUASE-
(AUTO-TUTELA OU ADMINISTRATIVISTA JUDICIALISTA
JUDICIALISTA OU JUDICIALISTA
JURISDIÇÃO MITIGADO MITIGADO
JURISDIÇÃO
RESERVADA)
DELEGADA)

Órgãos superiores da A.P,


Tribunais integrados
mas com consulta
Órgãos independentes na ordem judicial
QUEM Órgãos superiores da A.P. obrigatória de um órgão Tribunais
da A.P. (comuns ou
administrativo
especializados)
independente

Função administrativa (a
Função
COMO justiça é na atividade da Função judicial Função administrativa Função judicial
administrativista
A.P.)

Não jurisdicionalista (regras Processo Processo


PROCESSO Jurisdicionalista Jurisdicionalista
procedimentais) jurisdicionalizado juridicionalizado

Com força vinculativa


Com força
DECISÃO Sem força vinculativa Sem força vinculativa Sem força vinculativa limitada (publicidade e
vinculativa
boa vontade da A.P.

Modelo de administração
centralizada Modelo de transição
Contencioso: justa (Portugal a título Portugal (arts. 71º, nº1
OBSERVAÇÃO Modelo atual Não existe atualmente
realização do interesse excecional – BP, e 159º, nº1 CPTA)
público (interesse do Estado) CMVM, ERC’s
Não existe atualmente
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Na próxima aula abordar-se-ão os modelos processuais, sendo que a cada um destes


corresponde um modelo organizativista (o modelo administrativista é objetivista, ao passo que o
judicialista é subetivista).

OT – 04 de outubro de 2019

Não houve aula.

T – 04 de outubro de 2019

3.2. MODELOS PROCESSUAIS OU OPERATIVOS

Enquanto nos modelos organizativos a preocupação reside com o “quem” e o “como”,


aos modelos processuais ou operativos interessa saber qual o modelo utilizado.
Neste conspecto, temos os modelos objetivista e subjetivista.

3.2.1. MODELO OBJETIVISTA

Tal como o modelo administrativista, o modelo objetivista encontra-se centrado na


fiscalização da legalidade administrativa, ou seja, importa saber se a atividade da
Administração, na prossecução do interesse público – o interesse do Estado –, se conforma com
a lei.
Este é um modelo de processo sucessivo, pois para que haja um recurso de anulação, é
necessária a existência de um ato administrativo.
Trata-se de um processo em que a Administração Pública surge numa posição de
superioridade.

É conhecido como modelo francês, tendo-se desenvolvido em França a partir da


Revolução Liberal de 1789, sobretudo através da jurisprudência do “Conseil d’Etat”, órgão
administrativo independente que funciona quer como tribunal quer como órgão administrativo
consultivo.

3.2.2. MODELO SUBJETIVISTA

O contencioso administrativo já não se encontra voltado para a fiscalização da


legalidade, mas sim para a tutela jurisdicional efetiva dos direitos e interesses dos
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administrados, pelo que o objeto do processo se reconduz a julgar a alegada lesão das posições
jurídicas subjetivas dos administrados.
Para que os administrados possam recorrer a um tribunal administrativo já não é
necessária a existência de um ato administrativo, pois qualquer pretensão dos administrados é
digna de tutela – art. 37º CPTA e art. 4º EFTA (no qual se realça a al. o) do nº1, de acordo com
a qual se consagra uma competência reservada), ou seja, há uma pluralidade de ações que por
eles podem ser utilizadas.

OBJETIVISTA SUBJETIVISTA

Defesa dos direitos e interesses


FINALIDADE DO Defesa da legalidade e do interesse
legalmente protegidos dos particulares –
PROCESSO público – art. 3º CPTA
art. 268º, nº4 CRP

Tutela das posições jurídicas


substatntivas dos administrados – art. 2º,
Ato administrativo (art. 148º CPA e art.
OBJETO nº1 CPTA, art. 4º ETAF (em particular a
51º CPTA)
al. o)) e art. 268º, nº5 CRP – a cada
pretensão corresponde um processo

Qualquer meio: ação administrativa (art.


37º, nº1 CPTA), providências cautelaras
MEIO PROCESSUAL Recurso de anulação
(arts. 36º, al. f), 112º e 134º CPTA) e
processos urgentes (art. 36º CPTA)

Qualquer interessado (art. 9º CPTA) ou


Ampla: só os titulares de direitos e
LEGITIMIDADE até as autarquias locais e o Ministério
interesses legalmente protegidos
Público

CASO JULGADO Material Formal

Poder de plena jurisdição: anulatórias,


PODER DE COGNIÇÃO
Limitado: anulação do ato condenatórias, declarativas, cautelares
DO JUIZ (art. 71º, nº1 CPTA)

Não há igualdade interpartes


TIPO DE PROCESSO Igualdade interpartes (art. 6º CPTA)
(superioridade da AP)

O modelo objetivista é designado como modelo francês, tendo-se desenvolvido em


França a partir da Revolução Liberal de 1789, sobretudo através da jurisprudência do “Conseil
d’Etat”, órgão administrativo independente que funciona quer como tribunal quer como órgão
administrativo consultivo.
O processo tem por objeto um ato, face ao qual se pretende fiscalizar a legalidade do
exercício autoritário dos poderes administrativos. O recurso de anulação constitui o núcleo
essencial do sistema, tratando-se de um recurso de mera legalidade, sucessivo e limitado, não
só no poder de cognição do juiz, como na execução das sentenças.
Encontra-se inteiramente associada ao modelo administrativista.
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Apresenta como principal vantagem a circunstância de apresentar mais garantias de


defesa da legalidade.

Por seu turno, o modelo subjetivista surgiu no pós Segunda Guerra Mundial,
assumindo como vantagem primordial o facto de fornecer uma proteção mais intensa aos
administrados que sejam titulares de direitos perante a Administração Pública.
O modelo subjetivista, de origem alemã, encontra-se associado ao modelo judicialista.

Conforme se verifica, as vantagens referidas não se opõem, mas complementam-se, daí


que o nosso sistema apresente marcas dos dois modelos.

Hoje em dia não existem modelos processuais puros, tal como foi constatado em relação
aos modelos organizativos.

Nos países da Europa continental, os modelos mais recentes de justiça administrativa


oscilam entre os que são mistos – com características objetivistas e subjetivistas – e os que
apresentam características predominantemente subjetivas, encontrando-se ultrapassados os
modelos objetivistas puros.

Em Portugal, até ao ano de 2015 tivemos um modelo predominantemente objetivista.


Todavia, a partir daí a tendência aponta para o subjetivista, ainda que tenhamos um modelo
misto.

T – 10 de outubro de 2019

4. SISTEMAS DE JUSTIÇA ADMINISTRATIVA EM PORTUGAL

4.1. O MODELO ORGANIZATIVO PORTUGUÊS

Do ponto de vista organizativo, o modelo de contencioso administrativo apresenta


influência francesa.
A evolução do contencioso administrativo português deu-se a partir de um modelo
administrativista mitigado (vigorou de 1832 a 1930), que transitou para um modelo quase-
judicialista (de 1930 a 1976) e, finalmente, para um modelo judicialista de competência
especializada (imposição da Constituição da República Portuguesa).
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Pese embora encontrarem-se integrados numa judicial, os tribunais administrativos são


autónomos, independentes e imparciais e, além disso, é assegurada a sua autorregulação
(existe um Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais, cuja função se reconduz
à fiscalização do funcionamento da jurisdição administrativa e ao exercício do poder disciplinar
sob os respetivos juízes administrativos). Isto resulta da conjugação dos arts. 212º, nºs 1 e 2,
216º e 217º, nº2, todos da CRP.

Ainda assim, o nosso modelo organizativo de justiça administrativa apresenta laivos de


judicialismo mitigado, na medida em que podem verificar-se decisões de tribunais
administrativos desprovidas de força executiva ou com força executiva fortemente limitada (por
razões de publicidade ou de boa vontade da Administração Pública para as executar).

4.2. O MODELO PROCESSUAL PORTUGUÊS

A primeira época a considerar, de 1832 a 1982, foi resultado de uma forte influência
francesa, em que o contencioso-regra se consubstanciava no recurso de anulação de atos
administrativos, ou seja, de base claramente objetivista. Nesta época, a jurisdição
administrativa era bastante limitada nas suas múltiplas dimensões:

 Substancial: restrição dos meios de acesso;


 Processual: tutela reduzida dos particulares;
 Funcional: poderes de controlo judicial diminuídos.

É só com a revisão constitucional de 1982 e, induzida por esta, com a alteração da


legislação processual de 1984/85 (ETAF – DL nº 129/84, de 27-04 e LPTA – DL nº 267/85, de
16-07) se passa verdadeiramente a uma segunda fase – a fase transitória –, em que se verifica
a um alargamento do âmbito do contencioso administrativo e a uma intensificação da proteção
dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos.
A verdade é que o texto original da Constituição da República Portuguesa de 1976
ainda pressupunha a visão tradicional da justiça administrativa como contencioso de legalidade
de atos administrativos.

É legítimo referir que apenas a revisão constitucional de 1989 começou a alterar de


forma relevante o modelo de justiça administrativa, marcando uma nova fase de evolução do
modelo processual português, que culminou na Reforma de 2002, a qual promoveu uma
profunda reforma do modelo de justiça administrativa, aproximando-o do modelo alemão de
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traços subjetivistas, consagrando o processo administrativo como um processo de partes e


alargando os poderes de cognição e de decisão do juiz perante a Administração.
O ETAF foi revisto pela Lei nº 13/2002, de 19-02 e a LPTA passou a designar-se por
CPTA por via da Lei nº 15/2002, de 22-02 (ambos entraram em vigor a partir do dia 1 de janeiro
de 2004).

Em 2015 constatou-se uma nova reforma no sentido de agilizar e flexibilizar o


processo com vista a libertar os tribunais de processos que há décadas se encontram paralisados.
Esta reforma foi introduzida conjuntamente no CPTA e no ETAF pelo DL nº 214-G/2015, de
02-10.
Antes de 2015 existiam ações administrativas comuns e especiais, mas agora temos
apenas ações administrativas que podem incidir sobre uma série de pretensões dos
particulares (art. 37º, nº1 CPTA e art. 4º, nº1 ETAF). A par destas ações administrativas
surgiram os processos urgentes (art. 36º CPTA), os quais são mais céleres devido à
necessidade de obtenção de uma rápida resposta às questões neles consagradas.

Discute-se se os tribunais administrativos apresentam uma reserva material absoluta,


i.e., se apenas eles podem julgar questões administrativas e se só se podem debruçar sobre elas.
Na ótica dos Professores Gomes Canotilho, Freitas do Amaral e Vital Moreira essa
reserva material absoluta existe, pelo que apenas os tribunais administrativos podem dirimir
questões inerentes à atividade da Administração Pública e, além disso, não poderão debruçar-se
sob outras quaisquer questões.
O Supremo Tribunal Administrativa não adota essa posição, pois entende que a mesma
contraria o disposto no art. 15º CPTA.

P – 10 de outubro de 2019

Estudo dos acórdãos.

OT – 11 de outubro de 2019

Estudos dos acórdãos

T – 11 de outubro de 2019

Revisão sobre o conceito de justiça administrativa


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Na ótica do Prof. Vieira de Andrade, a justiça administrativa é o conjunto institucional


ordenado normativamente com vista à resolução de questões jurídico-administrativas,
emergentes de relações jurídicas administrativas, atribuídas a uma ordem judicial
administrativa, que as vai julgar de acordo com um procedimento administrativo específico – o
processo administrativo constante do CPTA.

De modo a definir-se a justiça administrativa é necessário ter em consideração as suas


três dimensões:

 Dimensão substancial ou material

De acordo com a dimensão substancial ou material, a justiça administrativa visa


dirimir os litígios emergentes de relações jurídicas administrativas, independentemente dos
sujeitos envolvidos.
À partida, ficam excluídas tidas as questões de direito privado, ainda que a
Administração Pública seja parte. Além disso, ficam também arredadas as relações que não
sejam estabelecidas no âmbito da função administrativa da Administração Pública.
Aqui parecem relevar para efeitos de justiça administrativa as relações jurídico-
administrativas intersubjetivas ou interpessoais – aquelas que produzem efeitos externos –
entre entidades públicas e entre estas e os particulares.
De fora ficam os conflitos intrapessoais conforme resulta dos conceitos de regulamento
administrativo e ato administrativo – arts. 135º e 148º CPA, respetivamente, bem como da
própria noção de ação de impugnação, emergente dos arts. 51º, nº2, al. b) e 55º, nº1, al. d),
ambos do CPA;

 Dimensão funcional

A função para resolver tais conflitos é exercida de modo judicial ou jurisdicional,


afastando-se por completo da função administrativa desempenhada em finais do século XIX;

 Dimensão orgânico-processual

Essa função é exercida por tribunais (comuns ou especializados em razão da matéria)


integrados numa ordem judicial, de acordo com um processo administrativo próprio.

RESERVA MATERIAL ABSOLUTA DA JUSTIÇA ADMINISTRATIVA?


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 Só os tribunais administrativos podem decidir questões administrativas?

É o que parece resultar dos arts. 1º e 4º, nº1 ETAF. Nesse sentido, o Professores Vital
Moreira, Gomes Canotilho e Freitas do Amaral.
Essa não é a posição defendida do Supremo Tribunal Administrativo, que entende não
haver reserva material absoluta, referindo que a regra geral é de que a resolução de questões
administrativas compete a tributais administrativos, mas nada impede que a lei atribua
competência a outros tribunais.

 Os tribunais administrativos só podem resolver questões administrativas?

A resposta é negativa.
Conforme emerge do art. 15º CPTA, se na pendência do processo se suscitar uma
questão prévia da competência de outra jurisdição, o juiz do tribunal administrativo pode – há
quem entenda tratar-se de um poder-dever – suspender o processo e aguardar que a questão
seja discutida na jurisdição própria. Pode também, se assim o entender resolver a questão prévia
da competência da outra jurisdição, não obstante a decisão produzir efeitos unicamente no
processo em causa.

Para encerrar a parte introdutória, a nossa Constituição apenas define o modelo


organizativo da justiça administrativa portuguesa – modelo judicialista (art. 212º, nº3 CRP) –,
mas deixa uma marca claramente subjetivista ao prever no art. 268º, nºs 4 e 5 CRP a tutela
jurisdicional efetiva das posições substantivas dos particulares (direitos e interesses legalmente
protegidos).
Esta justiça administrativa tem limites para que não haja ingerência do poder judicial no
poder administrativo. Esses limites resultam em primeiro lugar da noção de relação jurídica
administrativa – os limites substanciais – e dos poderes do juiz – limites funcionais.

T – 17 de outubro de 2019

5. OBJETO DA JUSTIÇA ADMINISTRATIVA

A justiça administrativa consubstancia o domínio do poder judicial sobre o poder


administrativo. Conforme referido anteriormente, não existe qualquer relação hierárquica entre
os vários poderes, pelo que é necessário que a relação entre aqueles dois seja harmoniosa.
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Daqui resulta a necessidade de se estabelecer limites – materiais e funcionais – ao


contencioso administrativo, de forma a que não se contenda com o princípio da separação de
poderes.

5.1. LIMITES MATERIAIS OU SUBSTANCIAIS

Decorre do art. 212º, nº3 CRP que os tribunais administrativos estão vocacionados à
resolução de litígios emergentes de relações jurídicas administrativas.

O que se entende por relação jurídica administrativa?

Partindo da circunstância de o legislador não ter definido a relação jurídica


administrativa, importa atender ao conceito constitucional, o qual caracteriza a relação jurídica
administrativa como uma relação jurídica de natureza pública, em oposição à relação jurídica
privada.
São consideradas relações jurídicas de direito público aquelas em que pelo menos um
dos sujeitos é uma entidade pública ou uma entidade particular no exercício de um poder
público, atuando com vista à realização de um interesse público legalmente definido.

Não são relevantes para a justiça administrativa as questões relativas à validade de atos
praticados no exercício de outras funções estaduais, como são os atos políticos e os atos
legislativos:

 Atos políticos: são atos de 1º grau, praticados por órgãos de soberania, em


execução direta da Lei Fundamental e destinados à prossecução direta de
interesses fundamentais da comunidade política (atos de defesa nacional, atos
diplomáticos, etc.);
 Atos legislativos: contrariamente ao ato administrativo, o qual é individual e
concreto (art. 148º CPA), os atos legislativos são gerais e abstratos, editados
sob a forma de diploma legislativo, i.e., Lei ou Decreto-Lei.

Posto isto, por relação jurídica administrativa deve entender-se uma relação jurídica
(relação social tutelada pelo Direito), externa (as relações jurídicas internas, por norma, são
irrelevantes para a justiça administrativa), interpessoal ou intersubjetiva entre dois ou mais
sujeitos públicos ou privados (entre particulares e os entes administrativos ou entre sujeitos
administrativos), regulada pelo direito administrativo, de onde emergem posições jurídicas
ativas e passivas.
18

Este será o primeiro limite material à justiça administrativa, ou seja, o tribunal apenas
deverá intervir quando em causa esteja uma relação jurídica administrativa. Todavia, a simples
existência de relações jurídicas administrativas, embora necessária, não é suficiente para que
se verifique tal intervenção.
Nestes termos, a intervenção justifica-se quando a relação jurídica administrativa em
concreto afete direitos e interesses legalmente protegidos dos particulares (art. 268º, nº4
CRP).

Assim, outro limite material colocado ao contencioso administrativo passa por aferir se
as relações jurídicas administrativas contendem com direitos e interesses dos particulares (art.
266º, nº1 CRP).
No âmbito de posições jurídicas subjetivas, o cidadão pode ser titular de um direito
subjetivo ou de um interesse legítimos ou legalmente protegido.
O cidadão será titular de um direito subjetivo quando da interpretação de uma
disposição legal resultar que a sua finalidade principal passa pela proteção efetiva de um
determinado bem jurídico próprio do administrado – atribuição de subsídios.
Por seu turno, será titular de um interesse legítimo ou legalmente protegido quando
apesar de a finalidade última do legislador ter sido a preocupação do interesse público, indireta
ou reflexamente, também precaveu o interesse do particular – associações coletivas de defesa
do ambiente.
Aos direitos subjetivos e aos interesses legítimos ou legalmente protegidos opõem-se os
interesses de facto, i.e., quando da interpretação da disposição legal se retira que a única
finalidade do legislador se reconduziu ao interesse público – lei que obriga a que as estradas
estejam em bom estado de conservação.

5.2. LIMITES FUNCIONAIS

A função jurisdicional exercida pelos tribunais administrativos é, devido à sua natureza,


circunscrita por dois limites funcionais, os quais são justificados pelo princípio da separação
de poderes e pela necessidade de salvaguardar a autonomia do poder administrativo.

 Poder de fiscalização atribuído aos tribunais administrativos

O poder judicial somente pode fiscalizar a conformidade à lei da atuação da


Administração Pública, pois o poder de decisão pertence sempre a esta. O tribunal afere apenas
19

da juridicidade da decisão, omitindo-se de proferir quaisquer juízos de valor sobre a


oportunidade ou a conveniência do ato.

 Poder de jurisdição limitada

Em momento algum poderá o poder judicial atribuído a um tribunal administrativo


determinar o conteúdo dos atos administrativos concretos – poderá anulá-los, condenar a
Administração ao pagamento de juros ou outras sanções.
Excecionam-se os atos vinculados ou devidos, i.e., atos adotados pela Administração
sem qualquer margem de discricionariedade – art. 37º, nº1, als. a) e b) CPTA – caso da
atribuição da nacionalidade ou atribuição de asilo político.

P – 17 de outubro de 2019

Apresentação de acórdãos.

OT – 18 de outubro de 2019

Apresentação de acórdãos.

T – 18 de outubro de 2019

Não houve aula.

T – 24 de outubro de 2019

Realização do primeiro teste de avaliação contínua.

P – 24 de outubro de 2019

Realização do primeiro teste d avaliação contínua.

OT – 24 de outubro de 2019 (troca)

Não houve aula.

T – 25 de outubro de 2019
20

Não houve aula.

T – 31 de outubro de 2019

Apresentação de acórdãos.

P – 31 de outubro de 2019

Apresentação de acórdãos.

OT – 01 de novembro de 2019

Feriado.

T – 01 de novembro de 2019

Feriado.

T – 07 de novembro de 2019

Leis dos Tribunais de Conflitos

A ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA ADMINISTRATIVA

Desde 1989, os tribunais administrativos e fiscais, por via da revisão constitucional,


constituem uma categoria própria de tribunais, separada dos ditos “tribunais judiciais” (art.
209º, nº1, al. b) CRP), formando uma hierarquia cujo órgão superior é o Supremo Tribunal
Administrativo (art. 212º, nº1 CRP).

Dentro dos tribunais administrativos deve distinguir-se os tribunais de natureza


permanente e tribunais arbitrais (estes regem-se pela Lei da Arbitragem Voluntária, i.e., a Lei
nº 63/2011, de 14-12). Configuram-se como tribunais ad hoc, uma vez que são normalmente
constituídos expressamente para cada caso. A sua constituição é feita na sequência de uma
convenção de arbitragem celebrada entre as partes da relação jurídico controvertida ou resulta
de uma cláusula compromissória.
21

Atualmente, temos um tribunal arbitral de natureza permanente, designado por CAAD –


Centro de Arbitragem Administrativa, o qual funciona em Lisboa e a que o Governo entendeu,
por via de portaria, atribuir competência para dirimir conflitos, quer de natureza administrativa,
quer de natureza tributária, encontrando-se o Estado obrigado a cumprir as suas decisões.
Os tribunais de natureza permanente, contrariamente às jurisdições voluntárias
(arbitragem), correspondem a uma jurisdição obrigatória, ou seja, compulsória.

Porque se aceitam e utilizam os tribunais arbitrais em matéria administrativa e


tributária?

São dois os principais motivos para que se aceitem e utilizem os tribunais arbitrais, quer
em matéria administrativa, quer em matéria tributária.
Em primeiro lugar, visam evitar a rigidez processual dos tribunais judicias. Além disso,
assentam em questões de celeridade e flexibilidade.

Das decisões dos tribunais arbitrais cabe, em princípio, recurso para o Tribunal Central
Administrativo.

Estrutura Orgânica dos Tribunais Administrativos e Fiscais

O topo da pirâmide é ocupado pelo Supremo Tribunal Administrativo, previsto no


arts. 11º a 25º ETAF e art. 1º do DL nº 325/2003, de 29-12.
O STA funciona em duas secções: uma de contencioso administrativo e uma de
contencioso tributário. Os processos são julgados por formações de três juízes, um dos quais é
o relator. Os acórdãos do STA são ‘tirados’ por maioria e são permitidos votos de vencido
(declarações de voto).
Incumbe ainda atender ao art. 8º, al. a) ETAF, o qual consagra o que até aqui foi dito,
i.e., que o STA encabeça a estrutura orgânica dos TAF.

Em segundo lugar surgem os Tribunais Centrais Administrativos, tanto o Norte


(TCA-N) como o Sul (TCA-S). Estes tribunais encontram-se regulados nos arts. 8º, al. b) e 31º
a 37º, todos do ETAF.
Do art. 31º ETAF deve ser efetuada uma remissão para o art. 2º do DL nº 325/2003, de
29-12.
22

Em terceiro lugar, aparecem os Tribunais Administrativos de Círculo (TAC), i..e, os


tribunais de competência geral. Estes tribunais são previstos nos arts. 8º, al. c) e 39º a 44º
ETAF.
Em Portugal funciona a agregação dos Tribunais Administrativos de Círculo com os
Tribunais Tributários, com exceção da Comarca de Lisboa, sendo que em todas as outras
Comarcas existem Tribunais Administrativos e Fiscais.
Relativamente aos Tribunais Administrativos de Círculo há que realizar uma remissão
do art. 39º ETAF para o art. 3º do DL nº 325/2003, de 29-12.
De acordo com o art. 3º, nº1 do DL nº 325/2003, de 29-12, os Tribunais Administrativos
de Círculo (e os Tribunais Tributários) apresentam sede apenas em Almada, Aveiro, Beja,
Braga, Castelo Branco, Coimbra, Funchal, Leiria, Lisboa, Loulé, Mirandela, Penafiel, Ponta
Delgada, Porto, Sintra e Viseu.
O nº2 do referido preceito determina que “a área de jurisdição dos tribunais
administrativos de círculo e tribunais tributários consta do mapa anexo ao presente diploma e
que dele faz parte integrante”.

A competência dos tribunais é aferida no momento da propositura da ação, tal como


decorre do art. 5º ETAF, ainda que possam vir a verificar-se posteriores alterações, não se altera
o tribunal competente onde foi proposta a ação.
O art. 6º ETAF versa o seu âmbito nas alçadas dos tribunais. De acordo com esta
norma, os Tribunais Arbitrais de Círculo decidem questões cujo valor não exceda €5.000,00, ao
passo que os Tribunais Centrais Administrativos apresentam uma alçada de €30.000,00.

No que à competência territorial diz respeito, as decisões do Supremo Tribunal


Administrativo aplicam-se a todo o território. Por seu turno, as decisões dos Tribunais Centrais
Administrativos aplicam-se à zona Norte ou à zona Sul, consoante provenham do TCA Norte ou
do TCA Sul.
Por fim, as decisões dos Tribunais Arbitrais de Círculo apresentam o seu âmbito de
aplicação à respetiva área territorial em razão da competência material, tal como decorre do art.
16º CPTA.

P – 07 de novembro de 2019

Apresentação de trabalhos.

OT – 08 de novembro de 2019
23

Caso Prático

António, desempregado, residente no concelho de Vila Verde, pretende propor uma


ação judicial contra a entidade patronal de que desvinculou, precisando para o efeito de apoio
judiciário.
Dirigiu-se aos serviços de Segurança Social de Vila Verde, onde apresentou
requerimento para a concessão de apoio beneficiário que foi, no entanto, indeferido.
Sabendo que António pretende reagir judicialmente ao referido indeferimento,
responda, fundamentadamente, às seguintes questões;

a) Meio processual adequado;

Incumbindo atender ao meio processual adequado, há que atender ao disposto no art. 4º


ETAF e nos arts. 2º, 36º e 37º CPTA.
No caso concreto, visa-se fiscalizar a legalidade de atos jurídicos emanados por órgãos
da Administração Pública, circunstância que leva a que se aplique o preceituado no art. 4º, nº1,
al. b) ETAF.
Vislumbra-se a existência de um ato administrativo de conteúdo negativo, pretendendo
o interessado que seja negado o indeferimento do ato administrativo, ou seja, impugná-lo, bem
como que a Segurança Social seja condenada à prática de um ato devido (ou vinculado).
Assim, urge atender ao meio processual constante das als. a) e b) do nº1 do art. 37º do
CPTA

b) Tribunal competente, material, hierárquica e territorialmente;

No que à competência material diz respeito, procura-se saber o objeto da justiça


administrativa, i.e., dirimir os litígios emergentes de relações jurídicas administrativas
controvertidas.
A competência hierárquica dos tribunais administrativos encontra-se regulada nos arts.
24º, 37º e 44º, todos do ETAF. E, por fim, relativamente à competência territorial, importa
atentar aos arts. 16º a 22º CPTA, sendo que o primeiro consagra a regra geral, i..e, de que é
territorialmente competente o tribunal do domicílio do interessado.

De modo a solucionar a questão suscitada, urge atender ao art. 1º ETAF, de acordo com
o qual “os tribunais de jurisdição administrativa […] são os órgãos de soberania com
competência para administrar a justiça em nome do povo, nos litígios compreendidos pelo
âmbito de jurisdição previsto no artigo 4º deste Estatuto”. No caso concreto, já foi respondido
24

que o meio processual passa pela fiscalização da legalidade de atos jurídico emanados por
órgãos da Administração Pública, o que permite concluir, uma vez mais, que estamos perante a
al. b) do nº1 do art. 4º ETAF.
Deve também justificar-se a competência material do caso concreto no art. 2º, nº1
CPTA.

No que à competência hierárquica diz respeito, não é possível enquadrar o referido


processo na competência da Secção de Contencioso Administrativo do Supremo Tribunal
Administrativo (art. 24º ETAF), nem na competência da Secção de Contencioso Administrativo
dos Tribunais Centrais Administrativos (art. 37º ETAF), o que permite concluir pela
competência hierárquica, nos termos do art. 44º ETAF, dos tribunais administrativos de círculo.

Por fim, no que tange à competência territorial, importa atender à norma especial do art.
20º, nº1 CPTA, de acordo com a qual a ação deve ser intentada no tribunal da área da sede da
entidade demandada. Assim, sendo a Segurança Social pertencente ao município de Vila Verde,
é competente o Tribunal Administrativo de Círculo de Braga.

c) Legitimidade ativa, passiva e necessidade de patrocínio judiciário;

O art. 9º CPTA prevê a legitimidade ativa e, por conseguinte, consagra uma marca
claramente objetivista, na medida em que não limita a legitimidade ao titular do interesse ou
direito subjetivo a tutelar, mas também ao Ministério Público.
Por seu turno, o art. 10º CPTA versa sobre a legitimidade passiva, referindo que “a ação
deve ser proposta contra a outra parte na relação material controvertida”, ou seja, perante a
situação concreta, contra a pessoa coletiva. Não obstante, se a ação for proposta contra o órgão
da pessoa coletiva, deve ser remetida para a sua sede em Braga.
Por fim, no que ao patrocínio judiciário diz respeito, urge atender ao art. 11º CPTA e
art. 20º CRP.
Decorre do art. 11º, nº1 CPTA que o patrocínio judiciário é obrigatório nos tribunais
administrativos, nos termos previstos no Código de Processo Civil (CPC). Assim, os autores
devem representar-se sempre por advogado, ao passo que as entidades públicas podem fazer-se
representar por advogado, solicitar ou licenciado em direito ou em solicitadoria.
A esta última referência têm sido suscitadas inúmeras críticas. Desde logo, criam-se
situações de desigualdade, pois a constituição de um advogado é, por regra, mais dispendiosa do
que o patrocínio por solicitador ou licenciado em direito ou em solicitadoria, tornando mais caro
o patrocínio dos administrados. Além disso, os licenciados em direito e em solicitadoria serão
menos habilitados profissionalmente do que o mandatário do administrado.
25

O art. 20º, nº1 CRP determina que “a todos é assegurado o acesso ao Direito e aos
tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça
ser denegada por insuficiência de meios económicos”.

d) Possibilidade de providência cautelar.

art. 36º CPTA e arts. 112º e ss. CPTA (ver melhor na próxima aula).

T – 08 de novembro de 2019

Esquema da aula passado à mão.

T – 14 de novembro de 2019

A competência dos tribunais administrativos

A competência dos tribunais é um dos pressupostos processuais, i.e., um dos requisitos


que devem estar preenchidos para que possa haver decisões de mérito.
A incompetência do tribunal constitui uma exceção dilatória (arts. 89º, nºs 1, 2 e 4, al.
a) do CPTA), que dá lugar à absolvição da instância, havendo a possibilidade de ser proposta
nova ação.
Por regra, o autor pede a remessa dos autos ao tribunal competente no prazo de 30 dias
a contar do trânsito em julgado da decisão de incompetência.

Tal como estabelece o art. 5º, nº1 ETAF, a competência dos tribunais fixa-se no
momento da propositura da ação, sendo esta alheia a qualquer alteração superveniente.

Na resolução de situações práticas importa determinar a competência material, depois a


hierárquica e, posteriormente, a competência territorial.

 Repartição da competência em razão da matéria

É o art. 212º, nº3 CRP que permite delimitar a competência material, de acordo com o
qual é da competência dos tribunais administrativos a resolução de qualquer conflito emerge de
uma relação jurídico-administrativa.
Ainda assim, deve ter-se em consideração que o âmbito da jurisdição administrativa
emerge do art. 4º ETAF.
26

Conclui-se que se a matéria não for da competência dos tribunais administrativos, sê-lo-
á da competência de outra jurisdição – circunstância que pode proporcionar a existência de
conflitos (Lei nº 91/2019, de 04-09).

Atente-se, pois, ao preceituado no art. 4º ETAF.

 Tutela de direitos e interesses de natureza administrativa, i.., a tutela


jurisdicional efetiva das posições substantivas dos administrados – art. 4º, nº1,
al. a) ETAF;

 Contencioso dos atos e dos regulamentos administrativos. No que ao


contencioso dos atos administrativos diz respeito:

 Fiscalização dos atos emanados pela Administração Pública no exercício de


funções (art. 4º, nº1, al. b) ETAF);
 Fiscalização dos atos materialmente administrativos emanados por órgãos que
não pertencem à Administração Pública – casos do Presidente da República, do
Presidente da Assembleia da República, do Presidente do Tribunal de Contas,
do Presidente do Tribunal Constitucional, do Presidente do Supremo Tribunal
Administrativo, do Procurador Geral da Repúblico e do PCSN ??? (art. 4º, nº1,
al. c) ETAF). Excluem-se da al. c) os litígios relativos à fiscalização de atos
considerados materialmente administrativos praticados pelo Conselho Superior
de Magistratura e seu Presidente e pelo Presidente do Supremo Tribunal de
Justiça (art. 4º, nº4, als. c) e d) ETAF);
 Fiscalização dos atos materialmente administrativos praticados por entidades de
outra natureza (que não pública) no exercício de funções públicas – caso das
concessionárias – (art. 4º, nº1, al. d) ETAF).

 Contencioso dos contratos públicos, i.e., tudo aquilo que respeita à apreciação
de litígios emergentes de contatos públicos (art. 4º, nº1, al. e) ETAF);

 Responsabilidade civil extracontratual, i.e., a emergente da atuação da


Administração Pública, o que inclui a conduta de órgãos, funcionários ou
agentes que integrem a Administração Pública, bem como a responsabilidade
resultante de atos praticados por órgãos públicos não pertencentes à
Administração Pública (art. 4º, nº1, al. f) ETAF). Deste preceito exclui-se a
responsabilidade civil extracontratual resultante de factos ilícitos imputados a
27

magistrado dos tribunais judicias, à atuação do Presidente do Supremo Tribunal


de Justiça, do Conselho Superior de Magistratura e seu Presidente (art. 4º, nº4,
al. d) ETAF) – Não será a al. a) do nº4 do art. 4º do ETAF???

 Responsabilidade civil extracontratual por atos praticados por titulares de


órgãos, funcionários, agentes, trabalhadores e demais servidores públicos (art.
4º, nº1, al. g) ETAF);

 Questões de responsabilidade civil extracontratual contra entidades privadas e


seus trabalhadores titulares de órgãos sociais, representantes legais ou auxiliares
que resultem de ações ou omissões no exercício de poderes públicos (art. 4º,
nº1, al. h) ETAF).

Isto posto, há uma categoria que abrange uma série de litígios que são também da
competência material da justiça administrativa (art. 4º, nº1, als. j), k), m) e l) ETAF).
A al. o) do nº1 do art. 4º do ETAF consagra uma norma de competência residual da
justiça administrativa, abrangendo também todas as situações emergentes de relações jurídico-
administrativas que não sejam referidas nas diversas alíneas a que se fez referência – exemplo
da atribuição de indemnizações resultantes de sacrifícios por parte dos poderes públicos.

P – 14 de novembro de 2019

Apresentação de acórdãos.

OT – 15 de novembro de 2019

Caso Prático 2

António, residente no Porto, é proprietário de um automóvel que utiliza para se


deslocar para o trabalho em Braga.
No passado dia 3 de janeiro, quando circulava em Viola Nova de Famalicão, a queda
de uma placa publicitária, propriedade do município, causou danos no seu veículo no montante
de €25.000,00.
Sabendo que António não tem forma alternativa de se deslocar para o trabalho durante
o período de imobilização do veículo, responda às seguintes questões:

a) Meio processual adequado:


28

Estamos perante uma situação de responsabilidade civil extracontratual, por via da


omissão do dever de vigilância por parte do município (art. 486º CC), recaindo sobre ele uma
presunção de culpa (art. 493º CC).
Assim, o meio processual adequado encontra-se regulado pelo art. 4º, nº1, al. f) ETAF e
art. 37º, nº1, al. k) CPTA.

b) Legitimidade e necessidade de patrocínio judiciário:

O art. 9º CPTA prevê a legitimidade ativa e, por conseguinte, consagra uma marca
claramente objetivista, na medida em que não limita a legitimidade ao titular do interesse ou
direito subjetivo (de propriedade) a tutelar, mas também ao Ministério Público.
Por seu turno, o art. 10º CPTA versa sobre a legitimidade passiva, referindo que “a ação
deve ser proposta contra a outra parte na relação material controvertida”, ou seja, perante a
situação concreta, contra a pessoa coletiva. Não obstante, se a ação for proposta contra o órgão
da pessoa coletiva, deve ser remetida para a sua sede em Braga.
Por fim, no que ao patrocínio judiciário diz respeito, urge atender ao art. 11º CPTA e
art. 20º CRP.
Decorre do art. 11º, nº1 CPTA que o patrocínio judiciário é obrigatório nos tribunais
administrativos, nos termos previstos no Código de Processo Civil (CPC). Assim, os autores
devem representar-se sempre por advogado, ao passo que as entidades públicas podem fazer-se
representar por advogado, solicitar ou licenciado em direito ou em solicitadoria.
A esta última referência têm sido suscitadas inúmeras críticas. Desde logo, criam-se
situações de desigualdade, pois a constituição de um advogado é, por regra, mais dispendiosa do
que o patrocínio por solicitador ou licenciado em direito ou em solicitadoria, tornando mais caro
o patrocínio dos administrados. Além disso, os licenciados em direito e em solicitadoria serão
menos habilitados profissionalmente do que o mandatário do administrado.
O art. 20º, nº1 CRP determina que “a todos é assegurado o acesso ao Direito e aos
tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça
ser denegada por insuficiência de meios económicos”.

c) Tribunal competente e consequência da eventualidade da ação ser proposta em


tribunal territorialmente incompetente:

Vislumbrando-se uma relação jurídico-administrativa, estamos no âmbito da justiça


administrativa (art. 212º, nº3 CRP).
29

Não cabendo a ação na competência do Supremo Tribunal de Justiça (art. 24º ETAF)
nem dos Tribunais Centrais Administrativos (art. 37º ETAF), deve concluir-se pela competência
hierárquica de um Tribunal Administrativo de Círculo, por via da sua competência universal
resultante do art. 44º ETAF.
Isto posto, de maneira a aferir a competência em razão do território, urge atender aos
arts 16º a 22º CPTA. Tratando-se de uma ação que tem como âmbito a responsabilidade civil
extracontratual de uma pessoa coletiva de direito público, importa atender ao art. 18º, nº1
CPTA, nos termos do qual é territorialmente competente “o tribunal do lugar em que se deu o
facto constitutivo da responsabilidade”, ou seja, o facto danoso ocorreu em Vila Nova de
Famalicão.
Conforme determina o art. 3º, nº2 do DL nº 325/2003, de 29-12, a área de jurisdição dos
tribunais administrativos de círculo consta do mapa anexo ao presente diploma, no âmbito do
qual é possível concluir que o município de Vila ova de Famalicão pertence à sede de Braga e,
portanto, é territorialmente competente o Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga (só existe
Tribunal Administrativo de Círculo na Comarca de Lisboa).

Isto posto, na eventualidade de a ação ser proposta num tribunal territorialmente


competente, vislumbra-se um caso de incompetência relativa, tal como preceitua o art. 14º, nº1
CPTA.
Nos termos do referido preceito, deve o tribunal incompetente remeter oficiosamente os
autos ao tribunal administrativo competente.

d) Prazo para propositura da ação:

Para os diferentes tipos de ações vêm expressamente consagrados no CPTA prazos


distintos.
Ainda assim, a regra é a do art. 41º CPTA, segundo o qual “sem prejuízo do disposto na
lei substantiva e no capítulo seguinte, a ação administrativa pode ser proposta a todo o tempo” 1.

1
Cada tipo de ação apresenta as suas especificidades no que apo prazo para a propositura diz
respeito.
A ação de impugnação deve ser proposta no prazo de um ano ou três meses, se promovida pelo
Ministério Público ou nos restantes casos, respetivamente (art. 58º, nº1, als. a) e b) CPTA).
A ação de impugnação à prática do ato devido deve ser proposta no prazo de um ano a contar do
termo do prazo legal estabelecido para a emissão do ato legalmente omitido (art. 69º, nº1 CPTA).
A ação que visa a impugnação de normas pode ser pedida a todo o tempo (art. 74º, nº1 CPTA).
Os prazos de propositura das ações relativas à validade e execução de contratos consta do art.
77º-B CPTA.
30

No caso concreto, tratando-se de responsabilidade civil extracontratual, deve atender-se


ao disposto no art. 498º CC, ou seja, a ação deve ser proposta no prazo de 3 anos.

e) Possibilidade de haver lugar a providência cautelar:

As providências cautelares encontram-se previstas na al. f) do nº1 do art. 36º CPTA, o


qual remete para os arts. 112º a 134º do mesmo diploma,
As providências cautelares podem ser propostas antes ou durante a ação administrativa
principal. Consideram-se um meio processual acessório, cujo escopo passa pela salvaguarda do
efeito útil de uma decisão que venha a ser tomada na ação principal.
Para que se suscite a aplicabilidade das providências cautelares, é necessário que se
encontrem preenchidos dois pressupostos (art. 120º CPTA, a saber: fumus boni iuris, i.e., deve
haver a aparência do direito, ou seja, numa primeira abordagem a questão principal terá
viabilidade; e, além disso, percilum in mora, i.e., o facto da decisão da ação principal demorar
tempo a ser proferida pode trazer um grave prejuízo ao autor.
Assim, preenchidos os referidos pressupostos, em princípio, será procedente a
providência cautelar.

No caso da aula passada não poderia haver providência cautelar, pois a mesma apenas
pode ser proposta contra a parte da ação principal, o que não sucede no caso concreto, pois o
autor visava evitar o despedimento (por parte da sua entidade empregadora) e não por parte da
Segurança Social, i.e., a entidade demandada na ação administrativa principal.
Pelo contrário, o presente caso concreto, existem danos quantificados (no valor de
€25.000,00) e, aparentemente, a ação principal apresenta viabilidade, pelo que poderia o autor,
se preenchidos os pressupostos do art. 120º CPTA, interpor a providência cautelar, mais
concretamente a dos arts. 112º, nº2 e 133º CPTA, devendo o município de Vila Nova de
Famalicão prestar as quantias indispensáveis a evitar a situação de carência, ou seja, os
€25.000,00 para o conserto do automóvel, de modo a que António conseguisse deslocar-se para
o trabalho em Braga.

T – 15 de novembro de 2019

(continuação do assunto abordado na última aula teórica)

A ação que vise a responsabilidade civil extracontratual deve ser proposta no prazo de três a
contar da data em que o lesado teve conhecimento do direito que lhe compete (art. 498º, nº1 CC).
31

Em termos de competência em razão do território, o Supremo Tribunal Administrativo


tem competência nacional, os Tribunais Centrais Administrativos dividem o território nacional
em dois – a Norte e a Sul – e, por fim, a competência dos Tribunais Administrativos de Círculo
é definida pelos arts. 16º a 22º CPTA:

 Art. 22º CPTA: atribui, com natureza residual, competência ao Tribunal


Administrativo de Círculo de Lisboa;
 Art. 21º CPTA: estabelece os critérios para quando haja cumulação de pedidos;
 Art. 20º CPTA: trata-se de uma norma de caráter genérico, a qual identifica
situações precisas – caso do contencioso eleitoral, que à luz do art. 20º, nº3
CPTA é da competência do tribunal da área da sede do órgão cuja eleição se
impugna;
 Art. 19º CPTA: consagra a competência em situações relativas a litígios
emergentes de contratos públicos, sendo competente o tribunal do lugar do
cumprimento do contrato;
 Art. 18º CPTA: versa sobre processos cujo âmbito seja a responsabilidade civil
extracontratual, para os quais é competente o tribunal do lugar onde se deu o
facto constitutivo da responsabilidade, i.e., o lugar onde ocorreu o facto danoso;
 Art. 17º CPTA: nos processos relacionados com bens imóveis, será
territorialmente competente o tribunal da situação dos bens;
 Art. 16º CPTA: é este preceito que consagra a regra geral no que à competência
territorial diz respeito, o qual estabelece que os processos devem ser intentados
no tribunal da área da residência habitual – pessoa singular – ou da sede –
pessoa coletiva – do autor.

Uma vez identificado o tribunal competente em razão do território, importa atender ao


art. 3º do DL nº 325/2003, de 29-12, bem como ao Mapa Anexo a este Decreto-Lei, de maneira
a aferir em que se jurisdição se insere o critério utilizado.

Pode suceder que se vislumbrem situações de conflitos de tribunais. Estes conflitos


podem ser positivos ou negativos.
Os primeiros surgem quando mais do que um tribunal se considera competente, ao
passo que os segundos ocorrem quando existem dois tribunais e nenhum deles se arroga
competente.

No âmbito dos conflitos de tribunais há que distinguir dois tipos:


32

 Conflitos entre tribunais da mesma jurisdição


O conflito entre tribunais da mesma jurisdição (para nós, a administrativa) era resolvido
pelo Plenário do Supremo Tribunal Administrativo, mas agora é da competência do Presidente
do Supremo Tribunal Administrativo, tal como postula o art. 23º, nº2 ETAF.
Por regra, ao conflito de tribunais da mesma jurisdição há que aplicar o disposto no art.
14º, nº1 CPTA, de acordo com qual “o processo é oficiosamente remetido ao tribunal
administrativo ou tributário competente”. Neste âmbito, estamos perante uma incompetência
relativa.
À luz do art. 13º CPTA, a questão da competência é a primeira a ser avaliada aquando
da entrada do processo no tribunal. Além disso, nos termos desta norma, a competência do
tribunal é de conhecimento oficioso.

 Conflitos entre tribunais de diferentes jurisdições

De acordo com o art. 9º, nº1 da Lei nº 91/2019, de 04-09, vislumbra-se uma situação de
conflito de jurisdição “quando dois ou mais tribunais, integrados em ordens judiciais
diferentes, se arrogam ou declinam o poder de conhecer da mesma questão, dizendo-se o
conflito positivo no primeiro caso e negativo no segundo”.

A questão é resolvida pelo preceituado no art. 14º, nº2 CPTA, nos termos do qual “pode
o interessado, no prazo de 30 dias a contar do trânsito em julgado da decisão que declare a
incompetência, requerer a remessa do processo ao tribunal competente”.
O referido nº2 do art. 14º CPTA consubstancia uma incompetência absoluta, devendo
proceder-se a uma remissão para o art. 89º, nºs 1, 2 e 4 CPTA.
O processo dá entrada no tribunal e o juiz a quo declara-se incompetente em razão do
território. Esta incompetência constitui uma exceção dilatória, que tem como consequência a
absolvição da instância, tendo o autor o prazo de 30 dias após o trânsito em julgado da decisão
da incompetência para pedir a remessa dos autos ao tribunal competente. Na eventualidade de
também este se considerar incompetente, a questão terá de ser resolvida por um Tribunal de
Conflitos, de natureza ad hoc, nos termos do previsto no art. 209º, nº3 CRP.
A Lei nº 91/2019, de 04-09 estabelece no art. 2º, nº1 a composição do Tribunal de
Conflitos quando em causa haja um conflito entre um tribunal administrativo e um tribunal
judicial. Neste conspecto, o tribunal ad hoc é constituído por:

 um presidente: o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça ou o Presidente


do Supremo Tribunal Administrativo, “consoante a última das decisões que
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originaram o conflito (…) tenha sido proferida (…), respetivamente, por um


tribunal judicial ou por um tribunal da jurisdição administrativa e fiscal” (art-
2º, nº2 da Lei nº 91/2019, de 04-09); e
 dois juízes (art. 2º, nº3 da Lei nº 91/2019, de 04-09):

a) “O vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça mais antigo no


cargo ou, se for igual a sua antiguidade, o mais antigo na sua categoria,
que fica a ser o relator sempre que a presidência caiba, nos termos do
número anterior, ao Presidente do Supremo Tribunal de Justiça”; e
b) “O vice-presidente do Supremo Tribunal Administrativo eleito de entre
e pelos juízes das respetivas Secções de Contencioso Administrativo ou
de Contencioso Tributário, consoante o pedido, o recurso ou a consulta
diga respeito, respetivamente, a matéria administrativa ou tributária,
que passa a ser o relator sempre que a presidência caiba, nos termos do
número anterior, ao Presidente do Supremo Tribunal Administrativo”.

Na eventualidade de o conflito ocorrer entre tribunais administrativos e o Tribunal de


Contas, a questão é regulada pelo art. 1º, nº3 da Lei nº 98/97, de 26-08.

T – 21 de novembro de 2019

Realização do segundo teste de avaliação contínua.

OT – 21 de novembro de 2019

Realização do segundo teste de avaliação contínua.

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