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FACULDADE DE DIREITO DE VITÓRIA – CURSO DE GRADUAÇÃO EM

DIREITO

FICHAMENTO CRÍTICO DO ARTIGO

A lenda do Peugeot, de Yuval Noah Harari

VICTOR MEDEIROS DE OLIVEIRA 221011458

TURMA: 2º EM

Trabalho de FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL (Direito Civil I – Parte geral)

Prof. Dr. Paulo Neves Soto

VITÓRIA – ES

2021.2

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PERSONALIDADE JURÍDICA

O termo personalidade é definido como qualidade essencial de uma


pessoa, a qual expressa a singularidade e a autonomia do ser. No sentido
jurídico, personalidade é a aptidão que toda pessoa tem de exercer direitos e
contrair deveres.  A existência de direitos pressupõe, afinal, a existência da
pessoa que seja titular desse direito. Portando, essa singularidade é
responsável pela transformação da pessoa enquanto objeto, para se tornar um
sujeito do direito. Sendo, portanto, esse sujeito, capaz de direitos e deveres,
conforme regula o artigo 1° do Código Civil e garantida a todo a população.

Nem sempre a personalidade jurídica foi universalmente reconhecida a


todos os seres humanos. No direito romano, o escravo era considerado coisa,
desprovido da aptidão para adquirir direitos; se participasse de uma relação
jurídica fazia-o na qualidade de objeto, não de sujeito. A condição do escravo
não foi muito diferente ao longo da história, enquanto persistiu aquele instituto.

Os doutrinadores não costumam considerar a personalidade jurídica


como um direito em si, mas entendem que dela derivam direitos e obrigações.
O patrimônio - conjunto das situações jurídicas individuais economicamente
apreciáveis -, por exemplo, é uma projeção econômica da personalidade. Há
também os chamados "direitos da personalidade", relativos ao indivíduo e
somente a ele, como o seu nome, estado civil, condições familiares e a sua
qualidade de cidadão.

Em relação ao início da personalidade jurídica, em alguns países,


entende-se que começa após o nascimento e desde que atenda a seguinte
exigência: de que o nascido com vida seja viável (isto é, esteja apto a continuar
a viver), ou que tenha "forma humana". Todavia, no Brasil, esse pensamento é
mais fundamentado na Teoria Concepcionista, por isso o Código Civil brasileiro
entende que a personalidade jurídica tem início com o nascimento com vida,
após a primeira ação de respirar.

Ainda que o Código Civil entenda o início da personalidade após o


nascimento vida, o mesmo código ressalva direitos para o feto em concepção,
os chamados direitos do nascituro, ou direitos infiere, que estão em formação
ou assegurados pelo Estado, conforme orienta o artigo 2° do Código Civil.

No que tange o fim da personalidade jurídica, o CC no artigo 6°,


esclarece que o fim da personalidade acaba com a morte do indivíduo,
independente se for a morte legal, em que se encontra o corpo e não dúvidas
quanto ao óbito, ou a morte presumida, em que é aceita quando o indivíduo
está desparecido por mais de 10 anos, ou por tempos menores a depender da
situação. O decreto de fim da personalidade vai ser importante para as
diretrizes de sucessões e heranças.

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Quanto a desconsideração da autonomia patrimonial da pessoa jurídica,
é uma medida extrema e cirúrgica, coibindo a fraude ou o abuso de poder e da
forma mais simples e objetiva, pois incluída nos dois institutos citados, a
confusão patrimonial. Ela reforça a autonomia patrimonial da pessoa jurídica e
a preservação da empresa, não devendo ser utilizada tão somente porque a
pessoa jurídica não tenha mais bens para satisfazer aos seus credores.

Fique claro: o instituto não dissolve a pessoa jurídica e, sim, permite a


declaração da ineficácia do ato fraudulento para satisfazer credor atingido pela
fraude ou pelo abuso de direito.

Com o “nCPC”, a doutrina da desconsideração da personalidade jurídica


ganha força, pois é criado um ambiente processual constitucional, com respeito
ao devido processo legal, coibindo que o instituto seja usado de forma leviana,
sem oportunidade de defesa ao requerido.

O “nCPC” também cunha uma atmosfera institucional que garanta


decisões que satisfaçam às partes, com mais previsibilidade, o que traz
isonomia aos jurisdicionados e, como espera-se, maior agilidade. Isto
certamente fará com que a desconsideração da personalidade jurídica seja,
aos poucos, interpretada como recomenda a melhor doutrina (teoria maior),
sem consistir um subterfúgio a uma justiça somente aparente, ao credor.

Ademais, o incidente da desconsideração da autonomia patrimonial da


pessoa jurídica somente pode ser utilizado quando harmonizado com a lei
substantiva, é evidente sob pena de se ferir a tão proclamada segurança
jurídica, o que refletirá no empreendedorismo, nos investimentos feitos no
Brasil e no cálculo empresarial. A previsão deste incidente já representa
avanço e inovação, na medida em que estabelece procedimento próprio
destinado à desconsideração da personalidade jurídica, buscando dirimir
algumas controvérsias apartadas do propósito fundamental do direito
processual.

Ao analisar a desconsideração da personalidade jurídica, deve-se levar em


consideração a existência ou não de culpa, o que faz gerar a existência de
duas espécies: subjetiva ou objetiva.
 Espécie subjetiva: descreve a necessidade de se analisar a culpa dos
sócios antes de ocorrer a desconsideração da personalidade jurídica;

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 Espécie objetiva: basta a ocorrência de um determinado fato para
ocorrer a desconsideração da personalidade jurídica,
independentemente de análise de culpa.

A doutrina classifica a teoria menor da desconsideração da personalidade


jurídica como objetiva, enquanto a teoria maior da desconsideração da
personalidade jurídica é tida como subjetiva.

O direito brasileiro utiliza tanto a teoria maior quanto a menor, sendo a


regra geral a utilização da teoria maior (subjetiva), e em alguns micros
ordenamentos utiliza a teoria menor (objetiva).

A teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica é a regra


geral para os micros ordenamentos que não possuem disposição específica,
e seus regramentos constam no artigo 50 do Código Civil.
Até a Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019), o art. 50 assim dispunha:
“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo
desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a
requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações
sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da
pessoa jurídica.”.

As pessoas jurídicas são extremamente importantes para que as


pessoas empreendedoras possam circular riquezas. No entanto, essas
pessoas não podem utilizar a máscara jurídica das sociedades para fraudar e
gerar prejuízos a terceiros.

Por esta razão, é importante a existência das sociedades com


responsabilidade limitada dos sócios, bem como uma forma de punir aquelas
pessoas que utilizam de forma indevida as pessoas jurídicas.

Sapiens: Uma Breve História da Humanidade – Yuval Noah Harari

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CAPÍTULO 2 – A ÁRVORE DO CONHECIMENTO
Harari inicia o segundo capítulo afirmando que havia, anteriormente,
“sapiens arcaicos”: “não gozavam de qualquer vantagem notável sobre outras
espécies humanas” (p. 28). Tal espécie conseguiu alcançar o Oriente Médio, lá,
os Neandertais nativos levaram a melhor em um primeiro confronto. Há 70 mil
anos, contudo, os Sapiens, mais uma vez, partiram das terras africanas e
foram de encontro ao grupo outrora vencedor. A possibilidade de vitória,
segundo o historiador, aconteceu diante de uma “revolução cognitiva na
espécie dos Sapiens”.

Entre 70 mil e 30 mil anos atrás, essa espécie, “tão inteligentes, criativos
e sensíveis como nós”, evoluiu de maneira exponencial graças à Revolução
Cognitiva. Tal acontecimento poderia ser explicado, de acordo com as
principais teorias, baseado em mudanças nas estruturas e conexões internas
do cérebro Sapiens, “possibilitando que pensassem de uma maneira sem
precedentes e comunicassem usando um tipo de linguagem totalmente novo”.
Harari (2017, p. 30) chama tal mudança de ‘árvore do conhecimento’. O autor
ressalta que tudo isso não passou de um mero acaso e, mais importante do
que as causas das mudanças, foram as consequências.

Para ilustrar a importância dessa nova maneira de se comunicar, o autor


reafirma que a linguagem é comum a todos os indivíduos. Todavia, esta forma
de se ‘comunicar’, entre aspas, é arcaica e primitiva nestes, não ultrapassando
limites básicos de rotinas, tarefas em grupo e situações que se estenderiam ao
cotidiano. Após a Revolução Cognitiva, os Sapiens passaram a experimentar
novas formas de linguagem. Estas se assentam em três formas. 1) A
capacidade de dialogar e expandir o pensamento para além do objeto. Se
antes o Homo Sapiens veria um leão e o associaria à caça direta, ao combate
animal-homem, agora, pós-Revolução, ele, junto aos demais membros da tribo,
poderia emboscá-lo, usando de armadilhas e do ambiente para a sua caçada.
2) A evolução da linguagem estaria na utilidade da comunicação para a troca,
para o compartilhamento, para a “fofoca”. “O Homo Sapiens é antes de mais
nada um animal social. A cooperação social é essencial para a sobrevivência e
a reprodução” (HARARI, 2017, p. 31). Diante da nova habilidade, os grupos

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sociais se expandiram e, também, tipos de cooperação mais sofisticados
apareceram.

Segundo o autor, a terceira característica, única, da Revolução Cognitiva


residiria na “capacidade de transmitir informações que não existem (…) lendas,
mitos, deus e religiões apareceram pela primeira vez com a Revolução
Cognitiva (…) Essa capacidade de falar sobre ficções é a característica mais
singular da linguagem dos Sapiens”. A imaginação se expandiu. Apropriamos-a
de forma coletiva. Assim, conseguimos que mais e mais Sapiens cooperem em
torno de um único ideal. Essa capacidade de direcionar pessoas em torno de
ideia que não existem, em uma realidade objetiva, é a responsável por tornar
os seres humanos os seres dominantes do Planeta Terra.

A Lenda do Peugeot
Harari apresenta, neste subtópico, a estrutura social dos Chipanzés.
Hierárquica, baseada na confiança e no estabelecimento de um “macho alfa”,
onde este se consolidava não por força ou inteligência, mas por conseguir
angariar um maior número de chipanzés para participar de seu grupo
dominante. Contudo, de acordo com pesquisas, havia um limite para um grupo
de chipanzés. Da mesma forma acontecia com os “Sapiens arcaicos”. E
mesmo com a capacidade comunicativa trazida pela Revolução Cognitiva a
sociabilidade humana esbarra em um número mágico: estudos da área de
psicologia apontam que grupos de homens e mulheres perdem a coesão
quando unidos por um número maior que 150 membros.

Assim, para o pleno desenvolvimento da espécie, a própria espécie


aponta uma saída: a ficção. Para Harari (2017), poderia ser considerada ficção
a noção de Estado, Igrejas e, até mesmo, a noção de empresas e pessoas
jurídicas. “(…) nenhuma dessas coisas existe fora das histórias que as pessoas
inventam e contam umas às outras (…) As pessoas entendem facilmente que
os ‘primitivos’ consolidam sua ordem social acreditando em deuses e espíritos
e se reunindo a cada lua cheia para dançar juntos em volta da fogueira. Mas
não conseguimos avaliar que nossas instituições modernas funcionam
exatamente sobre a mesma base”.

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Para ilustrar a citação acima, o historiador desenvolve a “lenda da
Peugeot”. No excerto, Harari nos mostra que a Peugeot, a fabricante de carro,
não existe, objetivamente falando. Há carros sendo produzidos, há
funcionários, há sedes e presidente. Contudo, nada disso é, de fato, a Peugeot
S.A. Para que seja possível entender como o conceito de algo abstrato como o
de uma “pessoa jurídica”, faz-se necessário voltar (ou adiantar, dependendo da
perspectiva, rs) alguns séculos e entender que o conceito de PROPRIEDADE
esteve limitado à pessoa física. Na prática, significava que todo ônus e punição
por algum serviço ou produto defeituoso, por exemplo, seria imputado ao
fabricante, à pessoa. As punições eram severas e o empreendedorismo, não
estimulado. Assim:

“A Peugeot é um produto da nossa imaginação coletiva. Os advogados


chamam isso de “ficção jurídica”. Não pode ser sinalizada, não é um objeto
físico. Mas existe como entidade jurídica. (…) A ideia por trás de tais empresas
está entre as invenções mais engenhosas da humanidade. O Homo Sapiens
viveu sem elas por milênios. Foi por isso que as pessoas começaram a
imaginar coletivamente a existência de empresas de responsabilidade limitada.
(…) Como exatamente Armand Peugeot, o homem, criou a Peugeot? (…) Tudo
se resumia a contar histórias e convencer as pessoas a acreditarem nelas”
(HARARI, 2017, p. 38).

Harari quase encerra este trecho afirmando que não é fácil contar
histórias. Mais difícil ainda é fazer com que as outras pessoas acreditem nela.
Contudo, quando acreditam, aqueles que as contam passam a exercer imenso
poder e controle sobre os demais.

“Os tipos de coisa que as pessoas criam por meio dessa rede de
histórias são conhecidos nos meios acadêmicos como “ficções”, “construtos
sociais” ou “realidades imaginadas”. Uma realidade imaginada não é uma
mentira (…) Ao contrário da mentira, uma realidade imagina é algo em que
todo mundo acredita e, enquanto essa crença partilhada persiste, a realidade
imaginada exerce influência no mundo” (HARARI, 2017, p. 40).

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Vivemos, então, em uma realidade dual. Às vezes, quase sempre, a
ficção é mais poderosa.

Superando o Genoma
Assim, com a Revolução Cognitiva houve um paradigma: deixa-se de
viver no tempo biológico e passa-se a viver em um tempo histórico. Não que a
biologia deixe de ser importante, pelo contrário. Mas, agora, há novos atores
tão fundamentais na construção do ser humano quanto. O historiador afirma
que diante da nova forma de encarar o mundo, as estruturas sociais passam a
ser menos sólidas diante da liquidez dos mitos. Comportamentos são
rapidamente revisitados, pois acompanham as percepções coletivas, os
‘constructos sociais’. As mudanças nos padrões sociais e relações
interpessoais e atividade econômica não mais se baseia em alguma mutação
genética.

Dessa capacidade de inventar e acreditar surge, para Harari (2017), o


comércio, uma vez que este é pautado na confiança e esta só existe porque há
mitos compartilhados que unem o vendedor ao comprador: a necessidade, a
confiança.

Contextualizando ao texto, uma das articulações muito utilizadas pelas


pessoas jurídicas é a desconsideração da personalidade jurídica. Na atual
conjuntura da vida moderna, muitas organizações societárias são criadas para
fraudar credores ou burlar a lei.

A desconsideração da personalidade jurídica possui como objetivo


preservar a autonomia da pessoa jurídica ao coibir os atos ilícitos praticados
pelos seus sócios. Exsurge, então, a ideia de que a autonomia da pessoa
jurídica poderá ser relativizada quando devidamente provado que seus sócios
agiram com o intuito de burlar a lei. Desta forma, as pessoas físicas
responderão pessoalmente pelos danos causados, sendo preservado o
instituto pessoa jurídica, conforme entendimento abaixo:

“Comprovadas a infração à lei e ao contrato social, por atos empiorados pela


presença de dolo e abuso de direito, impõe-se responsabilizar o sócio que,
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escondido sob o manto da capacidade autônoma de contrair direitos e
obrigações, prejudica terceiros, fraudando a própria empresa em seu benefício
exclusivo. Pela desconsideração da personalidade jurídica, recai sobre o sócio
de limitada o mister de honrar, com o patrimônio particular, os compromissos
assumidos pela empresa cujo apanágio é servir-lhe aos lucros, tornando
inoperante a circunscrição da responsabilidade ao capital integralizado”. 

Faz-se mister salientar que a desconsideração da personalidade jurídica não


implica a anulação do ato constitutivo da sociedade, mas apenas sua ineficácia
perante o episódio ocorrido.

Em relação a essa prática, adota-se três teorias:

A teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica, possui


como regra desconsiderar a autonomia da sociedade nos casos em que for
configurado que seus sócios agiram com fraude ou abuso, ou ainda que houve
confusão patrimonial entre os bens da pessoa física e os bens da pessoa
jurídica. O supracitado artigo 50, do Código Civil aborda a teoria maior da
desconsideração.

Geralmente, quando se trata na doutrina ou na jurisprudência de


“desconsideração da personalidade jurídica”, refere-se à teoria maior, por
possuir ampla aplicabilidade.

Para esta teoria, o simples inadimplemento de obrigações para com os


credores não configura a desconsideração, a saber:

“A teoria maior não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a
pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações. Exige-se,
aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração de desvio de
finalidade, ou a demonstração de confusão patrimonial”.

A teoria maior, também, encontra-se corroborada no Código de Defesa do


Consumidor (Lei n° 8.078/1990), em seu artigo 28:

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“Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade
quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato
social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência,
estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração”.

A teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica é muito


menos elaborada do que a teoria maior, pois a sua aplicação pressupõe o
simples inadimplemento para com os credores, sem ao menos analisar os reais
motivos que levaram a sociedade a deixar de se obrigar perante terceiros.

Também é aplicada a teoria menor nos casos de insolvência ou falência da


pessoa jurídica, pouco importando se o sócio utilizou fraudulentamente o
instituto, se houve abuso de direito, tampouco se foi configurada a confusão
patrimonial; a preocupação maior é não frustrar o credor da sociedade.

A questão da insolvência e da falência da pessoa jurídica gera muitas


discussões, pois nem sempre a sociedade torna-se insolvente ou falida por
motivos de má administração, e sim porque os negócios não fluíram ou por
qualquer outro motivo que não configure a aplicação da desconsideração da
personalidade jurídica.

No caso de má administração, ou seja, mau uso do instituto, conforme o


disposto no artigo 28, da Lei n° 8.078/1990, caberia a desconsideração, sendo
acolhida então a teoria maior.

Diante do exposto, abaixo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

“A teoria menor da desconsideração, por sua vez, parte de premissas distintas


da teoria maior: para a incidência da desconsideração com base na teoria
menor, basta a prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de
suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou
de confusão patrimonial.

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Para esta teoria, o risco empresarial normal às atividades econômicas não
pode ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas
pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que estes demonstrem conduta
administrativa proba, isto é, mesmo que não exista qualquer prova capaz de
identificar conduta culposa ou dolosa por parte dos sócios e/ou administradores
da pessoa jurídica”. 

Em análise a esta teoria, pode-se afirmar que sua aplicação implicaria em


danos aos sócios ou administradores da pessoa jurídica, pois não leva em
conta se houve ou não a intenção de fraudar credores, e sim a frustração do
crédito do credor.

A desconsideração inversa pressupõe a desconsideração da


personalidade jurídica da sociedade para responsabilizá-la por dívidas do
sócio. Possui como intuito coibir, principalmente, o desvio de bens da pessoa
física para a pessoa jurídica.

A pessoa física, para obter benefícios em seu favor, transfere seus bens para a
pessoa jurídica e continua a usufruir os mesmos, como se ainda os
pertencessem. Esta transação de bens ocorre frequentemente quando o sócio
possui o intuito de fraudar credores, pois estes últimos não terão como saldar a
dívida tomando posse dos bens da pessoa física, apenas se desconsiderada
for a personalidade jurídica da sociedade com a qual a transferência foi
realizada.

Considerando o exposto nos parágrafos anteriores, abaixo o entendimento da


Jurisprudência:

“Na desconsideração inversa da personalidade jurídica de empresa comercial,


afasta-se o princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica,
responsabilizando-se a sociedade por obrigação pessoal do sócio. Tal somente
é admitido, entretanto, quando comprovado suficientemente ter havido desvio
de bens, com o devedor transferindo seus bens à empresa da qual detém
controle absoluto, continuando, todavia, deles a usufruir integralmente,

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conquanto não integrem eles o seu patrimônio particular, porquanto integrados
ao patrimônio da pessoa jurídica controlada”.

Bibliografia

Código Civil

Código Processual Civil

Introdução ao Direito Civil: personalidade civil e sua tutela, Gilberto Fachetti


Silvestre

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/as-teorias-e-os-
pressupostos-de-aplicacao-da-desconsideracao-da-personalidade-juridica-no-
direito-brasileiro/

O Fundamento Dos Direitos da Personalidade, Arraes Editores

Sapiens. Uma breve história da humanidade” de Yuval Noah Harari (44ª ed.,
Porto Alegre: L&PM, 2019, p. 28-41).

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