Você está na página 1de 15

XI

PROCESSO E PROCEDIMENTO

11.1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS


Como já visto, o Estado é o detentor da jurisdição, a qual se caracteriza
como poder-dever-função de dizer o direito. A jurisdição1, em tese2, é
inerte, devendo ser acionada pela vontade dos interessados, que necessitam
da intervenção do Estado-juiz para tutelar jurisdicionalmente os seus
direitos.
O liame entre a demanda (provocação efetiva da jurisdição) e a
prestação da tutela jurisdicional se realiza pelo processo. Assim, o processo
é o meio, o instrumento, o mecanismo utilizado pelo Estado, por meio dos
órgãos jurisdicionais, para aplicar a norma objetiva (lei) ao caso concreto,
exercendo, assim, a jurisdição.
Na verdade, o processo é um verdadeiro direito humano fundamental,
elencado na Declaração dos Direitos do Homem, da ONU, de 1948,
consistindo em instrumento ético, de participação política do cidadão no
Estado, ou seja, um verdadeiro exercício da cidadania.
José Roberto dos Santos Bedaque3 conceitua o processo como:

O processo é uma entidade complexa, que pode ser vista por dois
ângulos: o externo, representado pelos atos que lhe dão corpo e a
relação entre eles (procedimento) e o interno, que são as relações entre
os sujeitos processuais (relação processual). A moderna doutrina
processual vem desenvolvendo a ideia de que o processo é todo
procedimento realizado em contraditório. A legitimidade do
provimento resultante do processo depende da efetiva participação das
partes na sua formação, ou seja, depende da efetividade do
contraditório.

Fenômeno inerente ao exercício da jurisdição, o processo, em si, é um


sistema abstrato, materializado, porém, por uma sequência de atos
concatenados logicamente (procedimento), os quais são praticados pelos
sujeitos que o integram (relação jurídica processual).
É, pois, o procedimento a faceta extrínseca do processo, o instrumento
que viabiliza sua existência e efetivação no plano fático (conhecido por
elemento material; é o aspecto visível do processo).
Em complemento, a relação jurídica processual é o vínculo entre autor,
juiz e réu permeado por direitos, deveres, faculdades e ônus, que dá vida ao
procedimento (elemento imaterial, invisível). Essa relação jurídica não se
confunde com a outra, a de direito material, que também estabelece um
vínculo de direitos e obrigações entre o empregado e o empregador.
O ajuizamento da demanda pelo autor, a notificação do réu para
comparecer em audiência e apresentar sua resposta, a oitiva das partes e das
testemunhas e o julgamento são exemplos de atos processuais praticados
pelos sujeitos, cujo intuito é o de alcançarem o provimento jurisdicional.
Embora possamos enxergar o processo como um procedimento animado
por uma relação jurídica processual, que se desenvolve em contraditório4,
não podemos nos olvidar da ideia de que o processo é uma técnica de
atuação do Estado para solucionar situações jurídicas, pacificando a
sociedade. Daí a sua natureza pública.

11.2 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS


Ensina Marcus Vinicius Rios Gonçalves que: “O processo pode ser
considerado uma espécie de caminho que deve ser percorrido pelas partes e
pelo juiz para que, ao final, se chegue ao fim almejado, que é a prestação
jurisdicional”5.
Portanto, para que o juiz cumpra a efetiva prestação jurisdicional,
julgando o mérito (pretensão) da demanda, deverá verificar se estão
presentes os pressupostos processuais, bem como se as condições da ação
foram preenchidas.
Os pressupostos processuais são requisitos indispensáveis para que o
processo nasça e se desenvolva validamente.
A ausência de um pressuposto processual deve ser declarada de ofício
pelo juiz, pois se trata de matéria de ordem pública. Em não sendo
reconhecida a falta na primeira oportunidade, o juiz, e de igual maneira as
partes, poderão alegar em momento posterior, pois, como matéria de ordem
pública, não se sujeita à preclusão. Nesse sentido, em havendo recurso, o
Tribunal poderá conhecer de ofício a falta de um pressuposto processual.
Todavia, insta alertar que a ausência de um pressuposto processual não
poderá ser reconhecida de ofício pelo Tribunal Superior do Trabalho, pois o
recurso de revista exige prequestionamento, portanto, a matéria já deveria
ter sido suscitada em instância inferior (TRT).

Ao proferir a sentença, o juiz examinará, portanto, em primeiro lugar,


se foram preenchidos os pressupostos processuais; depois, as
condições da ação. Em caso negativo, nada restará senão a extinção
do processo sem resolução do mérito. Somente em caso positivo é que
o juiz julgará o pedido, concedendo ou não o provimento que o autor
postula6.

Para efeitos elucidativos, mencionamos a existência da classificação que


divide os pressupostos em subjetivos e objetivos. Os subjetivos estão
relacionados aos sujeitos do processo, ou seja, o juiz e as partes.
Em relação ao juiz, os pressupostos são: jurisdição (juiz deve ser
investido), competência e imparcialidade.
Em relação às partes, os pressupostos envolvem os seguintes requisitos:
capacidade de ser parte, capacidade processual e capacidade postulatória.
Já os pressupostos objetivos são: demanda (pedido formulado na petição
inicial), citação do réu e inexistência de coisa julgada, litispendência ou
perempção.
Todavia, adotaremos o posicionamento da doutrina majoritária que os
classifica em: pressupostos processuais de existência (eficácia),
pressupostos processuais de validade (desenvolvimento válido) e
pressupostos processuais negativos.
Atualmente, na fase do neoconstitucionalismo ou pós-positivismo
jurídico, a decisão judicial não consiste apenas na subsunção do fato à
norma, mas sim em um juízo de ponderação do magistrado, que deverá
levar em consideração os princípios da proporcionalidade e razoabilidade
em sua decisão, no caso concreto.

11.3 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DE EXISTÊNCIA


a) Existência de jurisdição ou investidura: só serão existentes (eficazes)
os atos processuais praticados perante os órgãos legalmente investidos na
função jurisdicional. Ao revés, serão inexistentes atos processuais
praticados por um juiz aposentado ou afastado de suas funções.
b) Existência de demanda: em nosso sistema processual, prevalece o
princípio da inércia ou da demanda, cujo teor demonstra que a jurisdição,
em tese, é inerte; portanto, é necessário que a parte interessada provoque o
Estado-juiz. Por meio dessa provocação, o autor apresenta a sua demanda –
compreendida como o ato de se postular a tutela jurisdicional, requerendo a
submissão do interesse alheio ao seu interesse próprio. Essa provocação
ocorre por meio de uma petição inicial, tipificando-se essa como um
instrumento da demanda.
c) Capacidade de ser parte: corresponde à personalidade civil. Portanto,
é possibilidade de todas as pessoas naturais e jurídicas, bem como de alguns
entes despersonalizados (ex.: espólio, massa falida, condomínio, sociedade
em comum) e órgãos públicos (ex.: MPT, Tribunal de Contas etc.) de
figurarem em um processo.
Na primeira edição desta obra, entendíamos que a citação era um
pressuposto de existência7, em razão de que sem a citação a relação jurídica
processual não restaria formada, e que, portanto, não haveria processo para
o reclamado-réu (inexistência).
Porém, a citação vem sendo motivo de cizânia na doutrina, mormente
em decorrência do CPC de 2015, o qual a considera um pressuposto de
validade. Em virtude dessa polêmica, analisaremos a citação quando da
explanação sobre os pressupostos processuais de validade, antecipando que
a mesma deve ser compreendida sob dois enfoques: em relação ao réu e em
relação ao processo.

11.4 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DE VALIDADE


a) Competência: para o processo se desenvolver validamente, é
necessário que a demanda tenha sido aforada em órgão jurisdicional
absolutamente competente. Se a ação for julgada por um órgão
absolutamente incompetente, restará nulo o processo. O mesmo não ocorre
com a incompetência relativa, posto competir ao réu alegar na primeira
oportunidade a incompetência relativa, caso contrário, prorroga-se a
competência. A competência está diretamente relacionada com a jurisdição.
A competência é a parcela ou o partilhamento da jurisdição, ou seja, a
área geográfica em um Estado em que o magistrado detém legitimidade
para dizer o direito no caso concreto.
b) Imparcialidade: o juiz ou o órgão julgador deverão ser imparciais,
não podendo ser legalmente impedidos de conduzir o processo. No que se
refere à suspeição, novamente, compete à parte interessada, por meio da
exceção, alegar tempestivamente a aludida impossibilidade.
c) Petição inicial apta: o ajuizamento da demanda, por meio da petição
inicial, é um pressuposto processual de existência; no entanto, essa petição
deve ser apta, preenchendo os requisitos previstos em lei (CPC/2015, art.
3198), para que possa o processo ser válido, permitindo que o julgador
profira uma sentença de mérito.
d) Capacidade processual9: conhecida como capacidade para estar em
juízo10 ou, para alguns, legitimidade processual (legitimatio ad processum),
é a aptidão de atuar diretamente como parte do processo, sem a necessidade
de representantes ou assistentes, atribuída às pessoas dotadas de capacidade
civil plena (capacidade de fato ou de exercício).
e) Capacidade postulatória: é necessário que as partes estejam
representadas11 adequadamente por um advogado, pois a relação processual
é técnica e exige habilidades específicas para o seu desenvolvimento. O
Código de Processo Civil, em seu art. 10412, § 2o, deixa claro que o ato
processual praticado sem advogado será ineficaz e, portanto, não se
convalida.
Entretanto, no Processo do Trabalho esse pressuposto é atenuado, pois
as partes podem postular em determinadas situações, sem a presença de
advogados, exercendo o jus postulandi.
f) Citação válida: o processo se inicia com o ajuizamento da demanda,
por intermédio da petição inicial, na qual o autor provoca a manifestação do
órgão jurisdicional acerca de sua pretensão; uma vez realizada a citação13 do
réu, a relação jurídica processual torna-se completa. Com a citação,
podemos falar em uma relação jurídica processual, em que os principais
sujeitos do processo estarão interligados, ou seja, autor, juiz e réu. Antes da
citação válida do réu há processo, embora formado somente entre o juiz e o
autor. Tanto é verdade que o próprio CPC preconiza o julgamento de mérito
antes da citação do réu14.
Portanto, podemos entender que a citação tem que ser válida para que se
tenha uma relação jurídica processual plena – autor, juiz e réu. Logo, a
validade da citação é um pressuposto de validade para o processo, como
uma relação jurídica complexa.
Por outro lado, a citação é um pressuposto processual de existência para
ao réu, de modo que, sem ela, não existe processo para ele, mas somente em
relação ao juiz e ao autor.
Por exemplo, temos o ajuizamento de uma demanda na qual o juiz
indefere a petição inicial. Mesmo diante do indeferimento, tivemos o
processo, pois é necessária uma sentença. Caberá até recurso ordinário ao
Tribunal Regional para anular essa sentença de indeferimento da petição
inicial. Dessa forma, não é possível falarmos que não houve processo ou
ação, mesmo não tendo havido a citação. O que ocorreu é que não teve
processo para o réu. Logo, a citação é um pressuposto processual de
existência para o réu, ou seja, o autor participará do processo com o
ajuizamento da petição inicial, mas o réu, só com a citação.

11.5 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS NEGATIVOS


Para a validade de um processo, mister se faz que determinadas
ocorrências não estejam presentes, como:

– litispendência: instituto processual que denuncia a presença de duas


ações idênticas;
– coisa julgada: interposição de ação idêntica a uma outra que já fora
julgada, cuja decisão transitou em julgado (materialmente);
– perempção: no Processo do Trabalho, a perempção não reproduz o
conceito fixado no art. 486, § 3o, do Código Processo Civil de 2015,
já que o art. 732 da CLT preceitua que, se o autor der causa ao
arquivamento da reclamação (ausência na audiência inicial), por
duas vezes seguidas, não terá direito, pelo prazo de seis meses, de
propor novamente a ação. Na realidade, ocorre uma suspensão
punitiva pela negligência do autor.

11.6 PROCEDIMENTO
Como já visto, procedimento (iter) é a sequência de atos processuais, os
quais são logicamente concatenados tendentes a um ato processual fim, qual
seja, o provimento jurisdicional (decisão). É o aspecto extrínseco do
processo. Alguns doutrinadores fazem distinção entre procedimento e rito,
embora, atualmente, doutrinadores modernos os considerem sinônimos.
Pelo procedimento, podemos vislumbrar como os atos processuais
deverão ser praticados, mormente quanto às formas e aos prazos. Desta
feita, a prática de referidos atos é o que dá vida ao processo, o qual nasce
com o ajuizamento da demanda e se finda, em regra, com o trânsito em
julgado da decisão (entrega da prestação jurisdicional invocada).
Insta mencionar que o procedimento trabalhista prima pela
informalidade (não há o formalismo como o do processo civil) e pela
concentração dos atos processuais em audiência, enaltecendo a oralidade e a
simplicidade.
O procedimento no processo trabalhista de conhecimento pode ser de
dois tipos:

11.6.1 Procedimento comum


Encontra-se subdividido em ordinário, sumário e sumaríssimo.
a) Procedimento ordinário: é o rito utilizado no Processo do Trabalho
para as ações cujo valor exceda a quarenta salários mínimos, bem como
para as demandas que não se sujeitam aos procedimentos sumário e
sumaríssimo. Como é o procedimento mais complexo, analisaremos todos
os seus atos em capítulos específicos, ao longo desta obra. Com o advento
da Lei 13.467/2017, que alterou o art. 840, § 1o, da CLT, o pedido deve ser
certo e determinado, ou seja, líquido, de acordo com a nova redação de seus
parágrafos, como segue:

§ 1o Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do


juízo, a qualificação das partes, a breve exposição dos fatos de que
resulte o dissídio, o pedido, que deverá ser certo, determinado e
com indicação de seu valor, a data e a assinatura do reclamante ou
de seu representante.
§ 2o Se verbal, a reclamação será reduzida a termo, em duas vias
datadas e assinadas pelo escrivão ou secretário, observado, no que
couber, o disposto no § 1o deste artigo.
§ 3o Os pedidos que não atendam ao disposto no § 1o deste artigo
serão julgados extintos sem resolução do mérito. (NR)

Muito embora o § 3o se refira à extinção do processo sem julgamento do


mérito, em caso de descumprimento do disposto no § 1o, entendemos de
bom alvitre o magistrado conceder prazo para a emenda da inicial, nos
moldes do art. 321 do CPC, em homenagem ao princípio da colaboração.
Tal medida também viria de encontro às pretensões do reclamante no
exercício do jus postulandi, sem o acompanhamento de advogado.
Exige-se, dessa forma, que o valor da causa seja igual à soma dos
pedidos, sendo que, se o pedido for líquido, tanto a decisão de primeiro
grau como o acórdão deverão também ser líquidos e determinados,
consoante arts. 491 e 492 do CPC.
b) Procedimento sumaríssimo: com o objetivo de empreender uma
maior rapidez ao Processo do Trabalho, a Lei 9.957/2000 aduziu à CLT os
arts. 852-A15 a 852-I. O intento foi o de concentrar e propiciar maior
rapidez às demandas trabalhistas de menor complexidade.
Neste procedimento, serão processadas e julgadas as ações cujo valor
não ultrapasse quarenta vezes o salário mínimo vigente na data do
ajuizamento da ação.
Em hipótese alguma serão submetidas ao rito sumaríssimo as ações em
que figurem como partes a Administração Pública direta, autárquica e
fundacional (art. 852-A, parágrafo único, da CLT). Também não se
sujeitarão ao rito sumaríssimo os dissídios coletivos, as ações civis públicas
e as ações civis coletivas. De outro modo, as ações plúrimas
(litisconsórcio), desde que o valor total dos pedidos dos reclamantes não
ultrapasse 40 salários mínimos.
Outra particularidade do procedimento em estudo é a exigência de que o
autor faça pedido certo ou determinado, indicando o valor líquido. Embora
a lei se utilize do conectivo “ou”, a petição do autor deve conter pedido
certo e determinado. No que tange à certeza do pedido, refere-se a mesma à
identidade do bem da vida pleiteado; ao passo que a determinabilidade
vincula-se à quantidade e à qualidade do objeto desejado; em suma, o autor
deve apontar o bem da vida desejado e o seu respectivo valor; pois o juiz
não pode julgar algo que não se está pedindo (certeza), salvo os pedidos
implícitos admitidos pela lei ou pela jurisprudência, bem como não pode
julgar em quantidade maior do que se está a pedir.
Se a petição inicial não indicar os valores, a demanda será arquivada
(extinta sem resolução do mérito) conforme art. 485, IV do CPC e art. 852-
B da CLT16.
Entretanto, sem considerar isoladamente o objetivo da celeridade
processual insculpida no rito sumaríssimo, pensamos que o juiz do trabalho
pode oportunizar ao autor a correção do erro (ausência de liquidez)
conforme o art. 6o – princípio da cooperação – e o art. 321, ambos do CPC.
Além disso, a citação somente se dará pela via postal, pois a lei proíbe a
citação por edital, uma vez ser incompatível com o objetivo primordial do
rito, que é a celeridade. Na prática, o juiz percebendo que o reclamado está
se escusando do recebimento da notificação, poderá determinar que esta
seja efetivada por oficial de justiça.
Não sendo possível a realização da notificação por meio das duas
modalidades supra (via postal e oficial de justiça), o juiz poderá converter o
rito para ordinário e proceder à notificação por edital.
Porém, de acordo com o art. 852-B, § 1o, da CLT, caso o reclamante não
apresente a petição com o pedido certo e determinado, bem como não
indique corretamente o nome e o endereço do reclamado, o processo será
arquivado (extinto sem resolução do mérito).
O processo, por este rito, deverá ser apreciado no prazo máximo de
quinze dias, desde o seu ajuizamento, podendo haver pauta especial para
tanto, conforme o art. 852-B, III.
A instrução e o julgamento realizar-se-ão em audiência única, havendo
a concentração dos atos processuais, ainda que possa existir a necessidade
de prova pericial, o que geraria a necessidade de uma audiência em
prosseguimento.
Para tanto, o juiz terá liberdade para impor as provas a serem realizadas,
respeitando o ônus probatório de cada parte, podendo, inclusive, limitar ou
excluir provas que considerar desnecessárias.
O juiz deverá propor a conciliação no início da audiência,
argumentando sobre suas vantagens. Durante toda a audiência, o juiz poderá
se utilizar de mecanismos de persuasão para obter a conciliação entre as
partes.
Os incidentes e exceções (ex.: exceção de incompetência, conexão etc.)
que possam interferir no andamento da audiência e do processo serão
dirimidos de plano; as demais questões serão decididas na sentença (CLT,
art. 852-G).
Todas as provas serão produzidas em audiência de instrução e
julgamento, já que a audiência deverá ser única. Porém, como já alertamos,
se existir a necessidade de prova pericial ou oitiva de testemunhas por carta
precatória, o juiz poderá suspender a audiência, designando uma nova
audiência para prosseguimento.
Sobre os documentos apresentados por uma das partes, manifestar-se-á
imediatamente a parte contrária, sem interrupção da audiência, salvo
absoluta impossibilidade, a critério do juiz (art. 852-H, § 1o).
O número de testemunhas, para cada uma das partes, será de, no
máximo, duas, as quais deverão comparecer à audiência independentemente
de intimação, sob pena de condução coercitiva. A testemunha só será
intimada caso a parte interessada comprove a realização do convite (art.
852-H, § 3o).
Salvo em matérias para cujo teor probatório seja necessária a produção
de prova técnica (insalubridade, periculosidade e doenças ocupacionais), o
juiz poderá interromper a audiência, fixar prazo, nomear perito e especificar
o objeto da perícia, devendo as partes ser intimadas para se manifestarem
acerca do laudo técnico, no prazo comum de cinco dias (art. 852-H, §§ 4o e
6o).
Mesmo com essa interrupção, a lei determina que a solução do processo
deva ser apresentada no prazo máximo de trinta dias, salvo motivo
imperioso apresentado pelo juiz nos autos (art. 852-H, § 7o).
Por fim, a sentença, no rito sumaríssimo, não terá o relatório, contendo
apenas o resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a
fundamentação da decisão, que será composta por elementos de justiça e
equidade e deverá atender aos fins sociais da lei e às exigências do bem
comum. Nestes termos, a CLT, em seu art. 852-I, § 1o, in verbis:
Art. 852-I. A sentença mencionará os elementos de convicção do
juízo, com resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência,
dispensado o relatório.
§ 1o O juízo adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa
e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e as exigências do
bem comum.
§ 2o (Vetado)
§ 3o As partes serão intimadas da sentença na própria audiência em
que prolatada.
c) Procedimento sumário: também conhecido como procedimento
de alçada, objetiva oferecer maior celeridade às demandas
trabalhistas. Está previsto na Lei 5.584/1970.

Muito se discutiu sobre a revogação tácita dessa lei quando do


surgimento da Lei 9.957/2000, que institui o procedimento sumaríssimo.
Contudo, o posicionamento majoritário defende a permanência do rito em
tela, sob o fundamento de que norma geral (sumaríssimo) não pode revogar
norma especial (sumário), consoante o propugnado pelo art. 2o, § 2o, da Lei
de Introdução às Normas de Direto Brasileiro. Portanto, há plena
compatibilidade entre os dois procedimentos.
Como mencionado, o objetivo desse rito é analisar demandas de
maneira célere. Assim, as ações sob esse rito deverão ter o valor da causa
de até dois salários mínimos. Importante destacar algumas
particularidades importantes desse procedimento: irrecorribilidade das
sentenças, pois nenhum recurso poderá ser interposto das sentenças
proferidas no rito sumário (dissídios de alçada), salvo se versarem sobre
matéria constitucional. Logo, se a sentença ofender a Constituição, o
recurso cabível será o extraordinário, sendo apreciado pelo Supremo
Tribunal Federal; o resumo dos depoimentos é dispensável, competindo
ao juiz fazer constar na ata de audiência sua conclusão quanto às matérias
fáticas.

11.6.2 Procedimento especial


Possui especificidades em relação ao procedimento ordinário, às vezes,
com a modificação de apenas um simples ato processual, é utilizado para
ações como inquérito judicial para apuração de falta grave (art. 85317 e
seguintes da CLT), dissídio coletivo (art. 85618 e seguintes da CLT), ação de
cumprimento (art. 87219 da CLT), entre outras. Recebe esse nome por adotar
práticas diferenciadas para o seu desenrolar, conforme adiante se verá.

11.7 PROCEDIMENTO PARA AÇÕES QUE NÃO


ENVOLVAM RELAÇÃO DE EMPREGO E PARA
AÇÕES ESPECIAIS QUE TRAMITAM NA JUSTIÇA
DO TRABALHO
Em decorrência da ampliação da competência da Justiça do Trabalho,
em razão da já suscitada EC 45/2004, debates surgiram sobre qual o
procedimento a ser seguido para a condução das ações que não
envolvessem relação de emprego.
De nossa parte, acreditamos que o procedimento a ser seguido é o
previsto pela CLT, especialmente pela sua informalidade e celeridade,
facilitando o acesso do trabalhador ao Judiciário.
Lembramos que as regras processuais trabalhistas podem ser integradas
pelas regras processuais comuns, sobretudo pelas do Código de Processo
Civil, consoante os arts. 769 e 889 da CLT, em casos de omissão ou lacuna
e não havendo incompatibilidade.
O Tribunal Superior do Trabalho, nesse sentido, decidiu, por meio da
Instrução Normativa 27/200520, que as ações aforadas na Justiça do
Trabalho deverão seguir os procedimentos previstos na CLT, salvo as ações
que possuem regramentos expressos quanto ao seu procedimento, tais como
mandado de segurança, ação rescisória, tutelas provisórias (antecipadas e
cautelares), ação de consignação em pagamento e habeas data.
O TST determina, também, que eventuais recursos contra essas ações
seguirão o procedimento da CLT, inclusive no que respeita ao
pagamento21,22 do depósito recursal.
Assim também o preconizado pelo Enunciado 65 da 1a Jornada de
Direito Material e Processual do Trabalho do TST, in verbis:

AÇÕES DECORRENTES DA NOVA COMPETÊNCIA DA


JUSTIÇA DO TRABALHO – PROCEDIMENTO DA CLT. I –
Excetuadas as ações com procedimentos especiais, o procedimento
a ser adotado nas ações que envolvam as matérias da nova
competência da Justiça do Trabalho é o previsto na CLT, ainda que
adaptado. II – As ações com procedimentos especiais submetem-se
ao sistema recursal do processo do trabalho.

Você também pode gostar