Você está na página 1de 16

TEORIA GERAL

DO PROCESSO

Rosana Antunes
Pressupostos processuais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir o que são pressupostos processuais.


 Analisar cada um dos pressupostos processuais.
 Explorar a aplicação dos pressupostos processuais pelas Cortes
Superiores.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar os pressupostos processuais e explorar
a sua aplicação pelas Cortes Superiores.
A concepção dos pressupostos processuais tem origem na obra de
Oskar Von Bülow, que lhes deu autonomia. A doutrina de Bülow serviu
para elevar o Direito processual a uma posição de destaque, afastando-o
dos domínios do Direito material.
Os pressupostos processuais são requisitos necessários para que o
processo atinja seu objetivo, ou seja, uma sentença de mérito, compondo
condições imprescindíveis para que o processo exista e se desenvolva de
forma válida e regular, evitando, assim, o acometimento de vícios graves e
constituindo um filtro capaz de reter postulações formalmente inviáveis.
A teoria dos pressupostos processuais ainda é alvo de constantes
críticas pela doutrina, sendo um tema controverso na sua sistematização.
Entretanto, não há maiores inconvenientes em seguir uma ou outra
sistematização ou classificação. O que mais importa para os operado-
res do Direito é saber as consequências advindas do desrespeito aos
pressupostos processuais de validade e existência do processo e se a
sua ausência vai afetar todo o procedimento, alguns atos ou apenas um
ato isolado.
2 Pressupostos processuais

Pressupostos processuais
A instauração regular e o desenvolvimento do processo dependem do preenchi-
mento de alguns requisitos. Tais requisitos são conhecidos como pressupostos
processuais, os quais estão divididos em duas categorias: pressuposto de
existência e pressuposto de validade.
Essa terminologia é aceita pela doutrina e pela jurisprudência. Apesar
disso, há autores que fazem críticas quanto à terminologia pressupostos
processuais de existência e pressupostos de validade processual, preferindo
utilizar a terminologia pressupostos de existência e requisitos de validade,
sistematizando o tema de forma diferente da proposta nesse capítulo.
Contudo, nos esquemas didáticos, não se mostra inconivente utilizar a
terminologia consagrada na doutrina, na lei e na jurisprudência, sendo assim,
examinaremos dessa forma.
Inicialmente, você precisa entender que o processo é um feixe de relações
jurídicas, por meio do qual ocorre o exercício do poder democrático estatal.
Ainda, segundo Alexandre Câmara (2017, p. 33), o processo “[...] é mecanismo
de exercício do poder democrático estatal, e é através dele que são construídos
os atos jurisdicionais”. Pois bem, como em toda relação jurídica, impõe-se a
coexistência de elementos subjetivos e objetivos.
Os elementos subjetivos de existência são os sujeitos principais do processo,
ou seja, as partes (autor e réu) e o Estado-juiz. Para que um processo exista, é
necessário que uma pessoa postule perante a um órgão investido de jurisdição.
É importante fixar que a existência do autor postulando a um órgão investido de
jurisdição completa o elemento subjetivo do processo, ou seja, o processo existe
sem o réu. Contudo, para que o processo exista para o réu, ou seja, para produzir
consequências jurídicas para ele, é necessário a sua citação válida. Esse é o co-
mando do artigo 312 do Código de Processo Civil (CPC) de 2015 (BRASIL, 2015).
Vale ressaltar que o citado artigo tem incidência nos processos de conhe-
cimento, no processo de execução ou a qualquer outro cuja instauração seja
de inciativa de parte.
Já os elementos objetivos de uma relação jurídica são os fatos jurídicos e o
objeto. O fato jurídico é ato postulatório, pois instaura a relação processual. É
o que chamamos de ato inaugural. O objeto litigioso do processo é a prestação
jurisdicional solicitada no ato inaugural, o que a doutrina chamada de demanda.
A ausência de algum pressuposto de existência implica na própria inexis-
tência jurídica do processo.
Preenchidos os elementos de existência subjetivos e objetivos, o processo
existe. Entretanto, pode ser que o processo exista, mas lhe falte um pressuposto
Pressupostos processuais 3

de existência jurídica. A doutrina costuma citar como exemplo a sentença


proferida por alguém que não é juiz. Nesses casos, o processo existe, mas
o ato (sentença) não preencheu os elementos mínimos, o que impede a sua
existência jurídica (validade).
Assim, havendo pressupostos de existência, haverá processo. Contudo,
é preciso verificar se foram preenchidos todos os pressupostos de validade
processual e a validade de todo procedimento ou, especificamente, de cada um
dos atos jurídicos praticados no procedimento, uma vez que o procedimento
é um ato jurídico complexo de formação sucessiva.
Surge, então, a análise dos pressupostos processuais objetivos, subjetivos
e de validade. A ausência de um dos pressupostos de validade está diante de
um processo inválido. Entretanto, é bom frisar que sempre será preciso apurar
a possibilidade de corrigir o vício. Sendo possível sanar o vício, o processo
seguirá em direção à análise do mérito. Do contrário, ou seja, se o vício não
puder ser sanado, o processo deverá ser extinto sem julgamento de mérito.
São pressupostos de validade subjetivos o juiz competente e imparcial e as
partes capazes. Sobre os pressupostos de validade objetivos, pode ser citada
a demanda devidamente formulada, respeitando os requisitos intrínsecos e
extrínsecos exigidos por lei.
Em resumo, por ora, você precisa saber que:

 São pressupostos processuais de existência: o juízo investido de


jurisdição, as partes e a demanda.
 São pressupostos processuais de validade: o juízo competente e
imparcial, as partes capazes (processual e postulatória) e uma demanda
regularmente formulada (requisitos intrínseco e extrínseco).

Na ausência de um dos pressupostos processuais de existência, sequer haverá processo.


Presente os pressupostos de existência, para que ocorra desenvolvimento válido e regular
do processo, é necessário haver a presença dos pressupostos processuais de validade.
No processo inexistente, o juiz, por ato meramente administrativo, determinará o
cancelamento da distribuição do processo, enquanto no processo invalido o juiz irá
prolatar a sentença de extinção do processo sem a resolução de mérito.
4 Pressupostos processuais

Pressupostos processuais
de existência e validade
Vamos agora analisar cada um dos pressupostos processuais objetivo e subjetivo
de existência e validade do processo.

Pressupostos processuais subjetivos de existência:


capacidade de ser parte e existência de órgão
investido de jurisdição

A capacidade de ser parte

É um pressuposto processual subjetivo. A capacidade de ser parte pode ser con-


siderada como aptidão para, em tese, ser um sujeito da relação processual (autor,
réu, assistente, etc.). Alguns doutrinadores denominam personalidade judiciária.
Esses sujeitos são dotados da capacidade de serem partes, bem como todos
aqueles que têm a personalidade civil (pessoas naturais e jurídicas). Podemos
citar como exemplo: o nascituro, o condomínio, a sociedade de fatos, a so-
ciedade não personificada e a sociedade irregular (art. 986 do CC), os entes
formais (espólio, massa falida, herança jacente etc.), as comunidades indígenas
ou tribais e os órgãos públicos, como o Ministério Público, o PROCON, os
Tribunais de Contas, entre outros.
Essa capacidade decorre do mandamento previsto no inciso XXX, do art.
5º da Constituição Federal. Trata-se da inafastabilidade do Poder Judiciário.
Observe que não existe alguém que tenha meia capacidade de ser parte, ou
seja, ou ela tem ou não tem capacidade judiciária.
Para que o processo exista, não se exige a capacidade de ser parte do
réu. Primeiramente, porque pode existir processo sem réu, o que ocorre nos
casos de jurisdição voluntária. Em segundo lugar, o processo existe com a
demanda, e não com a presença do réu. Diante da inexistência do réu, o juiz
deve extinguir o processo, sem análise do mérito, pois o processo já existe.

O autor demanda sem indicar o réu. Nos casos em que a sua presença é exigida, o juiz
intimará o autor para que este regularize a petição inicial.
Se o autor não o fizer, o processo será extinto sem julgamento de mérito.
Pressupostos processuais 5

Existência de órgão investido de jurisdição

A investidura na função jurisdicional é um dos pressupostos subjetivos de


existência do processo. Assim, são inexistentes os atos jurídicos se a demanda
for ajuizada perante um órgão que não esteja investido na jurisdição. Exemplos:
sentenças prolatadas por quem não é juiz de Direito, colheita de provas feita
por aquele que não foi investido na jurisdição, devido ao fato de ainda não
ter tomado posse do cargo de juiz de Direito, apesar de passar no concurso
público, entre outras.
Para melhor entendimento desse pressuposto, é necessário conhecer o
conceito de jurisdição. Segundo Fredie Didier Júnior (2018, p. 187), jurisdição
“[...] é a função atribuída a terceiro imparcial de realizar o Direito de modo
imperativo e criativo, reconhecendo, efetivando e protegendo situações jurídicas
concretamente deduzidas, em decisão insuscetível de controle externo, e com
a aptidão para tornar-se indiscutível”. A jurisdição é a manifestação de um
poder e só é controlada pela própria jurisdição.

Pressuposto processual objetivo de existência:


demanda
O pressuposto processual objetivo de existência é a demanda compreendida
no ato de pedir ao Estado-juiz uma providência jurisdicional. Dessa forma, o
ato de pedir é necessário para a inauguração do processo.
O processo se instaura quando o autor se dirige ao Poder Judiciário, o qual
delimita a prestação jurisdicional, apresentando o seu pedido e a causa de
pedir (art. 312 do CPC). Contudo, se a petição inicial não trouxer o pedido, o
magistrado extinguirá o processo sem julgamento do mérito.

Pressupostos processuais de validade subjetivos:


capacidade processual, capacidade postulatória e juízo
competente e imparcial
A capacidade processual está relacionada às partes. Segundo a doutrina, é
uma tríplice capacidade, sendo elas: capacidade de ser parte, capacidade de
estar em juízo e capacidade postulatória.
A capacidade processual é a aptidão para praticar atos processuais pesso-
almente em juízo, ou seja, independente de assistência ou representação, ou
por meio das pessoas indicadas pela lei (art. 75 do CPC).
6 Pressupostos processuais

Na forma do artigo 70 do CPC de 2015, todas as pessoas que se encontram


em exercício de seus direitos têm capacidade de estar em juízo. O artigo 71 do
CPC de 2015 afirma que o incapaz será representado ou assistido por seus pais,
tutores ou curadores na forma da lei. Assim, os relativamente capazes deverão
ser assistidos, enquanto os absolutamente incapazes serão representados.
Com isso, a capacidade processual diz respeito à prática e à recepção, de forma
eficaz, dos atos processuais, iniciando ao pedir ou ao ser citado validamente.
Pressupõe-se a capacidade de ser parte, entretanto, é possível ter capacidade de
ser parte e não ter capacidade processual. Porém, a recíproca não é verdadeira.
No caso de ausência de capacidade processual, o artigo 76 do CPC de 2015
informa que ela é sanável. Assim, verificando a incapacidade processual, o
órgão jurisdicional deve conceder um prazo razoável para que seja sanado
esse vício de validade. Somente a capacidade processual do autor pode ser
vista como pressuposto processual de validade capaz de extinguir o processo
sem análise do mérito.
Por fim, você precisa se atentar para o fato de que apenas a capacidade
para estar em juízo do demandante é pressuposto subjetivo de validade. Se o
demandado regulamente citado não comparecer em juízo de forma regular, o
processo, em regra, seguirá, muito embora seja considerado revel. Se o deman-
dado for incapaz, ele deverá ser representado ou assistido, conforme o caso.
A capacidade postulatória (ius postulandi) também é um pressuposto pro-
cessual relacionado às partes. Em primeiro lugar, você aprendeu que os atos
processuais exigem um especial tipo de capacidade, denominado capacidade
processual, entretanto, é necessária, ainda, a capacidade postulatória, assim
entendida como a aptidão para dirigir petições ao órgão jurisdicional, para
que possam ser praticados, validamente, os atos processuais.
Alguns atos processuais, além da capacidade processual, exigem a ca-
pacidade técnica, sem a qual não será possível a realização de atos válidos.
Segundo Fredie Didier Júnior (2018, p. 398), isso significa que a capacidade
para praticar atos jurídicos válidos é “[...] bipartida em: capacidade processual
e capacidade técnica.”.
A essa capacidade técnica se dá o nome de capacidade postulatória. Ela
abrange a capacidade de pedir e a capacidade de responder. Os advogados
regularmente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) têm ca-
pacidade postulatória, bem como os defensores públicos, os membros do
Ministério Público, entre outros. Em alguns casos, as próprias pessoas poder
direcionar seu pedido diretamente aos órgãos jurisdicionais. Podemos citar
como exemplo os Juizados Especiais Cíveis (nas causas inferiores a 20 salários
mínimos) na impetração do habeas corpus.
Pressupostos processuais 7

Assim, a capacidade postulatória somente é exigida na prática de de-


terminados atos processuais, portanto, há atos processuais que não exigem
capacidade postulatória. Como exemplo, podemos citar o ato de testemunhar.
As pessoas que não são advogadas precisam integrar a sua capacidade
processual com a capacidade postulatória, nomeando o seu representante
judicial, sendo este um advogado ou um defensor público, por exemplo.
A ausência de capacidade postulatória é caso de nulidade do ato processual
que pode ser sanada. Contudo, se isso não ocorrer, haverá implicação na
extinção do processo para o autor. No caso do réu, há o prosseguimento do
processo à sua revelia (art. 76 do CPC).
O advogado postula, por meio de outorga de instrumento de representação,
a procuração. Dessa forma, a procuração é o instrumento de representação
judicial. É possível o advogado postular sem a procuração para evitar a preclu-
são, a prescrição, as decadências ou as práticas de atos considerados urgentes
(art. 104 do CPC), entretanto, ele deverá, posteriormente, apresentá-la no prazo
de 15 dias, sendo prorrogável por igual período. Caso a procuração não seja
juntada ao processo nesse prazo, os atos não são ratificados, além de serem
considerados relativamente ineficazes. Os requisitos da procuração estão
enumerados no artigo 105 do CPC de 2015.

Competência e imparcialidade do órgão jurisdicional ligadas ao


juízo: pressupostos de validade subjetiva do procedimento

A competência é o limite de exercício de um poder, ou seja, é o poder de


exercer a jurisdição nos limites estabelecidos por lei.
Há uma divisão de trabalhos, no território nacional, que é estabelecida a
partir de critérios fixados em lei, na qual os juízos ou os órgãos jurisdicio-
nados estão autorizados a exercer o poder. Essa competência é denominada
competência interna.
A distribuição de competência se dá por meio de normas. Há fontes nor-
mativas de diversas naturezas que estão aptas a atribuir competência aos
órgãos jurisdicionais. O artigo 44 do CPC traz o agrupamento de fontes que
fixam competência.
Uma informação importante é o regime jurídico de fixação de competência.
Assim, quando a regra de competência é fixada para atender, principalmente,
ao interesse público, ela é chamada de competência absoluta. Já a competência
fixada para atender ao interesse particular é denominada regra de competência
relativa. A competência absoluta e a relativa são defeitos processuais, que, em
regra, não levam à extinção do processo (art. 64 do CPC).
8 Pressupostos processuais

A competência é, segundo Alexandre Câmara (2017), a área de atuação


de cada órgão jurisdicional. Sempre que um processo se instaurar perante
um juízo, será preciso verificar, então, se esse juízo está legitimado a atuar
naquela causa. Se a resposta for positiva, o juízo é considerado competente
para a causa, ou então incompetente se a resposta for negativa. As regras de
competência internas estão fixadas no CPC dos arts. 42 a 66.
Outro pressuposto processual de validade subjetiva é a imparcialidade
do juízo. Imparcial é o juiz que não tem interesse no objeto do processo nem
queira favorecer uma das partes. Assim, a imparcialidade do juízo consiste
na ausência de vínculos subjetivos com o processo, mantendo-se, o julgador,
distante o quanto for necessário para que possa conduzir com isenção.
Assim, podemos considerar a parcialidade do juízo como um vício proces-
sual, mas que, apesar disso, não gera a extinção do processo. Há dois graus
de parcialidade: o impedimento e a suspeição. Verificado o impedimento e a
suspeição do magistrado, os autos devem ser remitidos ao seu substituto legal.
Por fim, convém lembrar que a imparcialidade e a competência são pres-
supostos processuais relativos as órgão julgador e que derivam da garantia
fundamental do Direito ao juiz natural, que é o juiz devido, de acordo com
as regras gerais e abstratas previamente estabelecidas.

Pressupostos processuais de validade objetivo:


intrínseco e extrínseco
O pressuposto de validade objetivo intrínseco está relacionado ao formalismo
processual, ou seja, todas as formalidades processuais (formas e formalidades)
que delimitam os poderes, as faculdades e os deveres dos sujeitos processuais.
O formalismo processual é verificado no conjunto de regras que disciplinam
a atividade processual. Podemos citar algumas funções que o formalismo exerce
no processo, como, por exemplo, o fato de o formalismo indicar o início e o
fim do processo, disciplinar o poder do Juiz, controlar os eventuais excessos
das partes, equilibrar todos os poderes das partes, entre outros.
Segundo Didier Júnior (2018, p. 396), o formalismo “[...] é como funciona o
processo, e quais são as regras do jogo”. Por isso, o desrespeito ao formalismo
processual leva à invalidade do ato jurídico processual. Presente a invalidade
por não observância do formalismo, deverá, em primeiro lugar, buscar-se o
aproveitamento dos atos processuais ou a sanação do vício. Somente quando
for impossível a correção do vício ou o aproveitamento é que o ato não deve
ser aceito e, dessa forma, se for o caso, a extinção do processo. O sistema de
Pressupostos processuais 9

nulidade está previsto nos arts. 276 a 283 do CPC. Esses dispositivos legais
têm, principalmente, o objetivo de evitar a decretação de nulidade.

Pressupostos processuais objetivos extrínsecos

Vamos cuidar agora dos pressupostos processuais objetivos extrínsecos, os


quais podem ser positivos ou negativos.
Consideram-se como pressuposto processual objetivo negativo aqueles fatos
que não podem ocorrer para que o procedimento se instaure validamente. Ou seja,
fatos estranhos ao processo que, uma vez existente, impedem a sua formação válida.
São fenômenos externos a relação processual, que têm o condão de impedir
o seu normal prosseguimento, a litispendência, a coisa julgada, a perempção e a
convecção de arbitragem. Estes constituem situações que ocorrem fora do processo,
cuja verificação depende da validade e da eficácia da sua constituição, do seu
desenvolvimento e da sua extinção. Uma vez verificados tais fenômenos, a relação
processual estará comprometida. Assim, a existência de um desses fatos leva à
extinção do processo, conforme determina os incisos V e VII no rol do art. 485.
Já o pressuposto processual objetivo extrínseco positivo é aquele que devem
existir para que a instauração do processo seja válida. Segundo o artigo 17 do
CPC, “[...] para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”.
(BRASIL, 2015).
O interesse de agir e a legitimidade são exigidos para qualquer postulação
em juízo, ou seja, para propositura da demanda, para a apresentação da defesa,
para recorrer, entre outros atos processuais.
A legitimidade para agir nada mais é do que a legitimidade ad causa ou
a pertinência subjetiva da ação: capacidade para conduzir um processo em
que se discute uma determinada relação jurídica, tanto ao que se refere a
polo ativo, como a polo passivo. A principal classificação de legitimidade
ad causa apresentada pela doutrina é: legitimidade ordinária e legitimidade
extraordinária. Na ordinária, o legitimado está em juízo em nome próprio,
defendendo o próprio interesse, enquanto na extraordinária o legitimado está
em juízo em nome próprio, mas defendendo o interesse alheio.
Segundo o artigo 18 do CPC (BRASIL, 2015):

 Legitimidade ordinária: o legitimado está em juízo em nome próprio


e defendendo o próprio interesse.
 Legitimidade extraordinária: o legitimado está em juízo em nome próprio,
mas defendendo o interesse alheio. Sinônimo de substituição processual.
10 Pressupostos processuais

O interesse de agir é um interesse instrumental e de natureza processual.


Deve ser aferido diante do objeto litigioso, em concreto, e tem por objeto
o provimento que se pede ao juiz como meio de obter a satisfação de um
interesse primário lesado. Observe que há falta de interesse processual
quando não for mais possível a obtenção do resultado almejado (perda do
objeto da causa). Exemplo: o cumprimento da obrigação se deu antes da
citação do réu.
Agora que você já aprendeu o que são os pressupostos processuais de
existência e validade, e a sua importância para a regular a tramitação das
demandas, vamos, na próxima seção, explorar a aplicação dos pressupostos
processuais pelas Cortes Superiores.

A jurisdição é uma função estatal exercida em todo território nacional.


Por questão de conveniência, há setores específicos da função jurisdicional.
Já a competência se refere aos limites dentro dos quais cada juízo pode, legitimamente,
exercer a função jurisdicional.

As Cortes Superiores e os pressupostos


processuais
Você aprendeu que os pressupostos processuais se ligam à validade existência
do processo. Preenchidos os pressupostos da existência e a validade do processo,
aponta-se para a validade jurídica da demanda. São indispensáveis, portanto,
para que se tenha processo válido.
Nas Cortes Superiores, os atos processuais que têm por finalidade inva-
lidar, reformar ou integrar determinada decisão judicial, dentro da mesma
relação processual, têm natureza jurídica de extensão do direito de ação, pois
se pretende que um órgão diferente e hierarquicamente superior reanalise o
pedido feito.
Assim, para cada tipo de decisão judicial, há um recurso expressamente
previsto e correspondente na legislação processual. Contudo, todos os elemen-
tos de existência e validade e as condições de eficácia do procedimento, que é
um ato complexo de forma sucessiva, precisam ser observados pelos Tribunais.
Pressupostos processuais 11

Portanto, há pressupostos do procedimento recursal que devem ser ob-


servados. Esses pressupostos são divididos pela doutrina em: pressupostos
recursais intrínsecos e extrínsecos.
Pressupostos recursais intrínsecos são os pressupostos inerentes ao direito
de recorrer, sendo considerados pressupostos de existência desse direito, pois,
na ausência do preenchimento de um deles, considera-se inexiste o direito de
recurso. Exemplos:

a) Cabimento: decorrente do princípio da taxatividade. Afirma-se que


o recurso deve ser cabível, isto é, só será aceito o recurso que tenha
previsão na lei.
b) O interesse recursal: é um binômio, pois o recorrente deve ter a ne-
cessidade de recorrer e atuar de forma adequada.
c) Necessidade: é preciso a existência de uma decisão que cause prejuízo
à parte, sendo necessária a utilização do recurso para buscar a melhora
de sua situação.
d) Adequação: tem base no princípio da correspondência, uma vez que
o tipo de recurso interposto deve ser hábil para proporcionar a melhor
posição processual almejada.
e) Legitimidade recursal: é a legitimidade ad causam, na qual só se terá
legitimidade para recorrer à parte sucumbente.

Já os pressupostos recursais extrínsecos são os relativos ao exercício do


direito de recorrer, isto é, existindo o direito de recorrer pelo preenchimento
dos pressupostos intrínsecos, deve-se observar os requisitos para a validade
do recurso interposto. Exemplos:

a) Tempestividade: o recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado


em lei.
b) Preparo: devem ser recolhidas taxas judiciais de alguns recursos para
a sua interposição.
c) Regularidade formal: consiste na necessidade de o recorrente atender a
todos os requisitos especificados na lei para determinado tipo de recurso.

Preenchidos os pressupostos recursais intrínsecos e extrínsecos, o recurso


será conhecido, ou seja, admitido e no mérito será provido ou não (juízo de
mérito). Chegando o processo em seus termos finais.
12 Pressupostos processuais

A seguir, você pode ver um exemplo de legitimidade ad causam.


Quando alguém pretende obter uma indenização de outrem, é necessário que o
autor seja aquele que está em posição jurídica de vantagem e o réu seja o titular, ao
menos em tese, do dever de indenizar.

BRASIL. Lei nº. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF, 2015.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.
htm>. Acesso em: 14 jun. 2018.
CÂMARA, A. F. O novo processo civil brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2017.
DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual
civil, parte geral e processo de conhecimento. 20. ed. Salvador: Juspodivm, 2018. v. 1.

Leituras recomendadas
ALVIM, J. E. C. Teoria geral de processo. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.
CINTRA, A. C. de A.; GRINOVER, A. P.; DINAMARCO, C. R. Teoria geral do processo. 28.
ed. São Paulo: Malheiros, 2012.
TUCCI, J. R. C. e. A causa petendi no processo civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2009. (Coleção estudos de direito de processo Enrico Tullio Liebman, 27).
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:

Você também pode gostar