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EXECUÇÃO CIVIL: INSTRUMENTOS PRÁTICOS DE SATISFAÇÃO DO CRÉDITO E A

EFETIVIDADE DA PERSECUÇÃO EXECUTÓRIA

RESUMO
A presente pesquisa concentra-se na esfera do direito processual civil, especificamente acerca
das execuçõ es civis no direito brasileiro. Tem-se por enfoque problematizar a contraposiçã o
dos princípios da efetividade e menor onerosidade do devedor, bem como analisar-se os
instrumentos prá ticos processuais do judiciá rio para o alcance da satisfaçã o do crédito do
exequente e seu implemento. Para tanto, verifica-se pesquisa e revisã o bibliográ fica, aná lise
jurisprudencial e disposiçõ es legais. Através de tais meios foi possível verificar a inefetividade
das execuçõ es civis, o que se dá por inú meros fatores, dentre eles, a inaplicabilidade de
mecanismos existentes perante o judiciá rio e o conflito de princípios.
Palavras-chave: Execuçã o civil. Processo civil. Efetividade.

INTRODUÇÃO
O processo de execuçã o está disciplinado no Livro dois a partir do artigo setecentos e setenta
e um da Lei treze mil cento e cinco de dois mil e quinze e contempla meios para a cobrança
que tem como base os títulos executivos extrajudiciais.
A persecuçã o civil em busca da satisfaçã o do crédito é uma realidade rotineira no judiciá rio
brasileiro, tendo quantidade expressiva de demandas com tal objeto. Ocorre que a intençã o do
legislador é promover a satisfaçã o do crédito de forma eficiente, célere, utilizando os meios
legais para tanto sem violar os direitos mínimos do devedor.
Contudo, analisar a efetividade do processo executó rio no Brasil em que o nú mero de
inadimplentes cresce de forma considerável é fomentar a discussã o sobre a devida e efetiva
prestaçã o jurisdicional, ao passo que nem todos os credores tem êxito em sua demanda, e
quais fatores corroboram para esta prá tica.
Nesse compasso, serã o analisados princípios basilares que dã o sustentá culo ao processo
executó rio, assim como as ferramentas prá ticas disponíveis para o judiciá rio, e a aná lise da
eficiência em contraponto ao princípio da menor onerosidade do devedor.
Assim, o presente trabalho é pautado por uma natureza bá sica, assim como ordenado por uma
metodologia dedutiva com abordagem qualitativa e pelo procedimento bibliográ fico. Através
do qual foram realizadas pesquisas bá sicas e fichamentos, buscando assim descrever uma
realidade.
Para tanto, o presente trabalho foi dividido em partes, sendo a primeira voltada para a aná lise
de conceitos bá sicos norteadores das execuçõ es civis, assim como os princípios que os regem,
o que se deu através de doutrinas, e a documental, ante a aná lise de decisõ es judiciais de
primeiro grau, legislaçõ es, jurisprudências, revistas e artigos científicos.
Por fim, tais referências bibliográ ficas foram utilizadas com fim a fundamentar e embasar o
desenvolvimento do presente trabalho, momento em que se realizou a produçã o e exposiçã o
dos fatos e cená rio identificado.
Por fim, concluiu-se pela inefetividade das execuçõ es civis. Seja pela inaplicabilidade das
ferramentas dispostas frente ao judiciá rio por inú meros fundamentos, seja por conflito de
princípios, o qual se dá pela excessiva interpretaçã o protecionista dos direitos do executado, o
que passará a expor.

CONCEITO DE EXECUÇÃO E PREVISÃO


A existência de conflitos no â mbito do cumprimento dos negó cios jurídicos formados pelos
indivíduos humanos nos remete a analisar os meios capazes de por fim a demandas que se
relacionam com o inadimplemento de obrigaçõ es. Face a tal realidade surge a jurisdiçã o como
instrumento para a resoluçã o de tais conflitos, a qual tem por detentor o Estado que tem o
poder dever de julgar e decidir a quem tem o direito, corroborado com os ensinamentos de
Cintra, Grinover e Dinamarco, jurisdiçã o é:
Ao mesmo tempo, poder, funçã o e atividade. Como poder, é a manifestaçã o do poder estatal,
conceituado como capacidade de decidir imperativamente e impor decisõ es. Como funçã o,
expressa o encargo que têm os ó rgã os estatais de promover a pacificaçã o de conflitos
interindividuais, mediante a realizaçã o do direito justo e através do processo. E como
atividade ela é o complexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a
funçã o que a lei lhe comete.
A jurisdiçã o como um poder e funçã o estatal que visa viabilizar a resoluçã o de conflitos,
insurgindo no cená rio litigioso buscando-se a preservar o justo direito, o qual se dá por meio
da atividade exercida pelo magistrado, tendo como instrumento para tanto o processo judicial.
Para o cumprimento de tal imputaçã o estatal, o poder jurisdicional encontra se revestido de
um sistema jurídico de normas. Dentre tais, tem-se a legislaçã o processual civil, a qual conta
com processo de conhecimento e execuçã o para fazer cumprir tal encargo.
O processo de conhecimento, como ensina Greco Filho, é uma fase processual na qual se busca
produzir todas as provas e expor todos os fatos, para que perante isto o juiz possa reconhecer
o direito de quem lhe é devido através da sentença.
O processo de execuçã o, de acordo com os ensinamentos de Miranda, a força executiva “retira
valor que está no patrimô nio do demandado, ou dos demandados, e põ e-no no patrimô nio do
demandante”. Assim, trata-se do mecanismo para fazer valer o direito material reconhecido
em título executivo, com a devida satisfaçã o do crédito através do poder estatal.
O processo de execuçã o ainda se subdivide em execuçã o fundada em título judicial, o qual é
concebido apó s um processo de conhecimento, tendo por espécie ú nica a sentença, e o
fundado em título extrajudicial, sendo este um título de diversas espécies.
Ensina Neves que a distinçã o é imperiosa tendo-se em vista que o procedimento executivo
será parcialmente distinto no caso de executar uma sentença, e no processo autô nomo de
executar um título extrajudicial, ainda que ambas as espécies permitam a prá tica dos atos
executó rios. De acordo com o referido autor, os títulos executivos extrajudiciais:
Sã o essencialmente documentos particulares ou pú blicos aos quais a lei empresta força executiva. Sã o
títulos executivos extrajudiciais somente aqueles documentos que a lei federal expressamente prevê
como tal, nã o havendo no direito nacional a possibilidade de criaçã o de título extrajudicial fundado
apenas na vontade das partes envolvidas na relaçã o jurídica de direito material.
Os títulos executivos extrajudiciais sã o documentos que podem ser feitos nas rotinas
negociais, tendo seu rol previsto no artigo setecentos e oitenta e quatro do Có digo de Processo
Civil. Entre eles, estã o: contratos particulares assinados por duas testemunhas, contratos
registrados em cartó rio, notas promissó rias, duplicatas, debêntures e cheques. E em
contraposiçã o tem-se o título judicial: sentença, que é fruto de um processo de conhecimento.
Quando fundado em título extrajudicial, falar-se-á de uma açã o autô noma que dispensa o
processo de conhecimento, visto já encontrar-se a existência de título executivo que respalde a
busca pelo cumprimento da obrigaçã o.
Havendo sentença, tratar-se-á tã o somente de fase processual que sucede o processo de
conhecimento, tratando-se de um cumprimento de sentença, uma vez que insurgindo a
existência de um título judicial, buscar-se-á a efetivaçã o de tal direito para além da esfera do
reconhecimento material.
Nesses moldes, processo de Execuçã o Civil é o meio posto frente ao credor para que se
obtenha a satisfaçã o do direito já reconhecido em título, seja este judicial ou extrajudicial, ao
qual a lei impõ e força executiva. Refere-se a mecanismos legais típicos e atípicos dispostos
sobre o Poder Judiciá rio para que este responda pela desídia do devedor, seja o coagindo ou o
substituindo.
Assim, diz-se da necessidade de execuçã o quando do nã o cumprimento voluntá rio da
obrigaçã o, motivo pelo qual o Estado intervém com fim de ser tal direito exercido por seu
titular através da sua efetivaçã o, o qual se dá mediante a certeza da existência do direito,
sendo esta percebida através do título executivo.
Deste modo, com fim a perceber a materializaçã o da executividade de tais títulos, prevê o
artigo 786 do Có digo de Processo Civil: “A execuçã o pode ser instaurada caso o devedor nã o
satisfaça a obrigaçã o certa, líquida e exigível consubstanciada em título executivo”. Percebe-se,
também através da legislaçã o processual, a execuçã o civil como ferramenta para o alcance da
satisfaçã o do crédito do exequente.
No entanto, o Brasil transcorre uma fase notavelmente drá stica quanto o alcance da essência
do instituto desde sua inauguraçã o em nosso ordenamento jurídico. Trata-se de uma realidade
longamente distinta da qual se objetiva. Para um entendimento exato quanto aos nú meros da
realidade da justiça brasileira, em particular, das execuçõ es civis, bem como para ratificar e
tornar nítida as informaçõ es aqui expostas faz-se imprescindível apresentar os nú meros da
pesquisa realizada pelo CNJ em 2018.
De acordo com a Senadora Soraya Thronicke (informe verbal em plená rio), tal pesquisa torna
pú blica a existência de setenta e nove milhõ es de demandas em tramitaçã o na Justiça. Dessas,
em torno de treze milhõ es referem-se a execuçõ es civis fundadas em títulos extrajudiciais e
judiciais, representando, assim, (dezessete por cento) de todo montante das demandas.
Ainda na mesma aná lise, a Senadora informou que os dados expostos pelo CNJ apontam que
apenas (quatorze vírgula nove por cento) desses processos de execuçã o atingem a satisfaçã o,
findando com uma taxa de (oitenta e cinco vírgula um por cento) de malogro.
Assim, como exemplificou a Senadora, em 2018 a cada cem demandas judiciais apenas
quatorze vírgula nove alcançaram arquivamento definitivo. O que passará a analisar-se
seguidamente sob a égide de princípios e mecanismos processuais.
Deste modo, nota-se somente através de tais nú meros o declínio jurisdicional quanto ao
alcance do fim ú ltimo das execuçõ es civis no Brasil. Encontra-se o instituto em fase processual
apta para a materializaçã o do direito do jurisdicionado, o que, como visto, nã o se percebe.

PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE
É sabido que o processo nã o é um fim em si mesmo, mas o mecanismo judicial para que as
partes vejam satisfeitas suas pretensõ es, tendo por querido a paz social.
Nesse cená rio, encontra-se o princípio da efetividade, sendo este diretamente ligado a duraçã o
razoável do processo e eficiência da prestaçã o jurisdicional, o qual dispõ e que deve o
jurisdicionado obter nã o tã o somente acesso à justiça, mas uma tutela efetiva e em prazo
razoável, e tem por lastro a Constituiçã o Federal, a qual preceitua no inciso 78 do artigo quinto
(Incluído pela Emenda Constitucional nú mero 45, de 2004) que “A todos, no â mbito judicial e
administrativo, sã o assegurados a razoável duraçã o do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitaçã o”.
De acordo com os ensinamentos de Bedaque, partindo dos postulados de Dinamarco, o
“processo efetivo é aquele que, observado o equilíbrio entre os valores segurança e celeridade,
proporciona à s partes o resultado desejado pelo direito material.”
Percebe-se que o direito a uma jurisdiçã o efetiva está pautado inclusive em sede
constitucional, e nos ensinamentos de Bedaque, trata-se de um processo efetivo aquele que
entrega a tutela satisfativa em duraçã o razoável de tempo. Nesse caminhar, preceitua o artigo
setecentos e oitenta e seis do Có digo de Processo Civil que a execuçã o civil possui como
finalidade a efetividade do bem da vida reconhecido pelo título executivo através da satisfaçã o
da obrigaçã o certa, líquida e exigível, quando da inércia do devedor.
Assim, o CÓ DIGO DE PROCESSO CIVIL de 2015, visando materializar tais previsõ es
constitucional e infraconstitucional, trouxe plausíveis dispositivos a fim de tornar possível o
alcance de um resultado processual satisfató rio e em prazo razoável, conforme o artigo quarto
do mencionado diploma, cuja redaçã o diz que “As partes têm o direito de obter em prazo
razoável a soluçã o integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”.
Marinoni afirma, em comentá rio ao supracitado dispositivo: Ao administrador judiciá rio, a
adoçã o de técnicas gerenciais capazes de viabilizar o adequado fluxo dos atos processuais..., b) ao
legislador, a adoçã o de técnicas processuais que viabilizem a prestaçã o da tutela jurisdicional dos
direitos em prazo razoável, c) ao Juiz, a conduçã o do processo de modo a prestar a tutela jurisdicional
em prazo razoável, inclusive com a adoçã o de técnicas de gestã o capazes de dispensar intimaçã o para a
prá tica de atos processuais.
Percebe-se que o ordenamento jurídico brasileiro contempla significativamente uma
prestaçã o jurisdicional respaldada na celeridade, efetividade e satisfaçã o.
Nesse contexto, fala-se da aplicaçã o de tais previsõ es legais nas execuçõ es civis. Neste cená rio,
a efetividade se demonstra quando o credor, através do poder jurisdicional, alcance o crédito
ou o cumprimento da obrigaçã o que lhe é devida. No entanto, como vislumbrado acima
quanto ao relató rio justiça em nú meros do Conselho Nacional de Justiça, exposto pela
senadora Soraya Thronicke em plená rio, as execuçõ es nã o cumprem com tal funçã o
jurisdicional.
De acordo com os ensinamentos de Gajardoni, em comento as execuçõ es civis, a crise nã o é só
do processo em si, mas do pró prio Poder Judiciá rio brasileiro que se encontra assoberbado de
açõ es e diminuído frente aos demais Poderes da Repú blica.
Nesse caminho, sem qualquer lapso, tais previsõ es legais devem ser fundamento basilar para
as execuçõ es civis, de modo que estes proporcionem ao jurisdicionado o encontro da
satisfaçã o de seu direito e em tempo regular, tal como teria obtido se ausente a necessidade de
interpelaçã o perante o poder jurisdicional, tanto quanto se faz possível.
No entanto, o que se dá hodiernamente é que a busca pela efetividade das execuçõ es tem se
transladado cada vez mais para tornar-se uma obrigaçã o exclusiva do exequente, em
contramã o a toda as disposiçõ es legais.
Assim, de tais aná lises, conclui-se que a realidade das execuçõ es civis vai de desencontro a tais
previsõ es constitucional e infraconstitucional, o que os torna utó picos se comparado a como
se dá o processo de execuçã o civil na prá tica, percebendo-se demasiada violaçã o de preceitos
fundamentais frente ao exequente. Ainda, é imprescindível mencionar o artigo sexto do Có digo
de Processo Civil, o qual traz em seu texto a obrigatoriedade da cooperaçã o entre todos os
sujeitos do processo, com fim a obter-se uma soluçã o processual que se efetive no plano
prá tico do jurisdicionado, materializando a entrega do bem da vida objeto da demanda.
A Cooperaçã o das partes surge como grande fator para o alcance da efetividade, visto quanto a
maior a cooperaçã o, maior as chances de o exequente ver sanado se crédito frente ao
executado. Ademais, o dispositivo legal aborda a cooperaçã o sob a ó tica da obtençã o de uma
decisã o justa, efetiva e proferida em tempo razoável, corroborando com o disposto no artigo
quarto da respectiva lei.
De encontro a tal entendimento, discorre Neves em seus ensinamentos:
A colaboraçã o do juiz com as partes exige do juiz uma participaçã o mais efetiva, entrosando-se com as
partes de forma que o resultado do processo seja o resultado dessa atuaçã o conjunta de todos os
sujeitos processuais. O juiz passa a ser um integrante do debate que se estabelece na demanda,
prestigiando esse debate entre todos, com a ideia central de que, quanto mais cooperaçã o houver entre
os sujeitos processuais, a qualidade da prestaçã o jurisdicional será melhor.
Nesse compasso, percebe-se que a decisã o satisfativa e alcance da efetividade deve ser tida
como um objetivo das partes e do juízo, e nã o tã o somente de quem se vislumbra como o
"interessado" na causa.
Como abordado acima, a busca pela tutela satisfativa será alcançada quando todos
entenderem seu papel processual, cooperando entre si e resguardando a observâ ncia da
prestaçã o jurisdicional em tempo razoável e efetiva.
Deste modo, tais dispositivos legais trazem o arcabouço de como devem ser direcionados os
processos judiciais para que se alcance o fim almejado. A aplicaçã o rigorosa de tal princípio à s
execuçõ es civis certamente contribuirá essencialmente na mudança da deplorável realidade
quanto a busca por satisfaçã o da tutela jurisdicional.
Pois, como supramencionado, o que se visa é a materializaçã o do direito já reconhecido, com a
devida satisfaçã o do crédito do exequente, e consequente cumprimento da obrigaçã o que
recoberta o devedor.
Deste modo, o princípio da efetividade deve ser tido como a égide e o norte das execuçõ es
civis, pois de nada adianta atrelar as normas processuais civis aos direitos previstos na
Constituiçã o Federal, artigo primeiro do Có digo de Processo Civil. se nã o percebida a
efetivaçã o de tais direitos, nã o podendo ficar somente na literalidade da lei, devendo emanar
seus efeitos na esfera material.

PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE DO DEVEDOR


Em contrapartida ao princípio da efetividade que nã o é absoluto temos com fim a preservar os
direitos fundamentais do executado, assim como a impedir qualquer injustiça viabilizada pelo
poder jurisdicional, bem como impedir ser ele ferramenta de vingança, o princípio da menor
onerosidade traz a necessidade de se observar o objeto da execuçã o, agindo de forma a ver a
tutela satisfeita mediante o menor dano possível ao executado.
Assim, como ensina Neves, o objeto da execuçã o civil é o direito ao qual se busca
materializaçã o por meio do cumprimento da obrigaçã o fundante da relaçã o negocial das
partes: exequente e executado, como se daria caso honrado de forma espontâ nea pelo
executado. Para tanto, tem-se que observar o princípio da menor onerosidade do devedor.
No mesmo sentido dispõ e o artigo oitocentos e cinco do Có digo de Processual Civil dispõ e que
"quando por vá rios meios o exequente puder promover a execuçã o, o juiz mandará que se faça
pelo modo menos gravoso para o executado”. No entanto, o princípio da menor onerosidade
do devedor nã o pode ser utilizado como barreira ao alcance da satisfaçã o do crédito pelo
exequente, pois, tampouco ter uma interpretaçã o sob uma ó tica absoluta e sem limitaçã o.
Ainda ensina Neves: Gravames desnecessá rios à satisfaçã o do direito devem ser evitados sempre que
for possível satisfazer o direito por meio da adoçã o de outros mecanismos. Dessa constataçã o decorre
a regra de que, quando houver vá rios meios de satisfazer o direito do credor, o juiz mandará que a
execuçã o se faça pelo modo menos gravoso ao executado, nos termos do artigo oitocentos e cinco do
Có digo de Processo Civil.
Assim, como supramencionado, Neves ensina que o princípio da menor onerosidade, entra
em cena para resguardar a dignidade da pessoa humana, evitando que tendo mais de uma
forma de ver satisfeita a execuçã o, que se realize pelo meio menos gravoso, e ressalva que “é
evidente que tal princípio deve ser interpretado à luz do princípio da efetividade da tutela
executiva, sem a qual o processo nã o passa de enganaçã o”.
Tal princípio encontra-se sua égide na dignidade da pessoa humana, e nã o na perda
patrimonial do devedor, sendo que a responsabilidade dos bens do devedor para responder
suas dívidas deve ser enxergada de forma mais simplista e natural. Deste modo, o mero
desconforto do devedor quanto à perda de seu patrimô nio nã o deve ser posto e visualizada
com respeito supremo em face da efetividade. Nesse sentido, ainda preceitua ressalva Neves
que o estrito respeito ao princípio da menor onerosidade nã o pode sacrificar a efetividade da
tutela executiva.
Assim, face a conflito de princípios, deverá o juiz proceder com a aplicaçã o das regras da
razoabilidade e proporcionalidade, nã o sacrificando demasiadamente o direito de nenhuma
das partes.
Percebe-se assim que o princípio da menor onerosidade resguarda o direito do executado
quando da existência de mais de uma possibilidade de cumprimento da obrigaçã o, momento
em que será sopesado por qual meio se fará cumprida, lastreando-se pela menor onerosidade
em contrapeso ao alcance da satisfaçã o.
Deste modo, nã o havendo tantos recursos para que haja tal aná lise, e percebido o resguardo
da dignidade humana do executado, nã o há que alegar-se infringência de tal princípio na
execuçã o, respondendo o bem existente pela dívida, pois o mero dessabor e desconforto de
execuçã o patrimonial nã o enseja infringência ao princípio em aná lise.
Destarte, a natureza do princípio em aná lise ressalva que a execuçã o se dará da forma menos
onerosa ao executado, no entanto, de forma a cumprir com a obrigaçã o. Assim, sendo o meio
menos oneroso totalmente insatisfató rio, buscar-se-á o que possibilita o alcance da
efetividade.
Nesse contexto, o artigo trezentos e noventa e um do Có digo Civil de 2002 dispõ e: "Pelo
inadimplemento das obrigaçõ es respondem todos os bens do devedor. Posto isto, nã o há que
ser utilizado o presente princípio como escusa para o devedor inadimplente, tampouco para
ter-se o seu patrimô nio com proteçã o que impeça o alcance do cumprimento de suas
obrigaçõ es.
Assim, conclui-se que tal princípio nã o tem sua égide na proteçã o patrimonial do executado,
mas tã o somente evitar danos a dignidade da pessoa humana. Deste modo, observado tal
limite, todos os bens deverã o arcar para alcançar com a satisfaçã o do crédito do exequente.
O princípio da menor onerosidade jamais poderá ser utilizado como subterfú gio pelo
executado, de modo que a ponderaçã o de princípios sempre vislumbre a melhor aplicaçã o
com fulcro na satisfaçã o do direito do exequente, tendo se em vista a real natureza do
princípio da menor onerosidade, a boa-fé e o objetivo das execuçõ es cíveis, nesse sentido,
Neves preceitua: É evidente que tal princípio deve ser interpretado à luz do princípio da efetividade
da tutela executiva, sem a qual o processo nã o passa de enganaçã o. O exequente tem direito à
satisfaçã o de seu direito, e no caminho para a sua obtençã o, naturalmente criará gravames ao
executado. O que se pretende evitar é o exagero desnecessá rio de tais gravames. O estrito respeito ao
princípio da menor onerosidade nã o pode sacrificar a efetividade da tutela executiva. Tratando-se de
princípios conflitantes, cada qual voltado à proteçã o de uma das partes da execuçã o, caberá ao juiz no
caso concreto, em aplicaçã o das regras da razoabilidade e proporcionalidade, encontrar um “meio
termo” que evite sacrifícios exagerados tanto ao exequente como ao executado.
Ante o exposto, evidente a supremacia da efetividade da execuçã o civil sobre o princípio da
menor onerosidade do devedor quando nã o desobedecido a preservaçã o do mínimo bá sico e a
dignidade do Executado.

INSTRUMENTOS PRÁTIOS: SISBAJUD, RENAJUD, CNIB, SNIPER, CCS-BACEN E OUTROS

O Có digo de Processo Civil traz em seu corpo previsõ es legais quanto a instrumentos para
serem utilizados na execuçã o civil, com a finalidade de substituir ou coagir o executado a
cumprir com sua obrigaçã o.
Os meios típicos de satisfaçã o de crédito ou da obrigaçã o ao qual se resguarda o título sã o os
expressamente previstos em lei. Em contrapartida, os atípicos sã o as medidas nã o constantes
em lei que sã o idealizadas pelo Judiciá rio e permitidas legalmente em condiçã o secundá ria à s
medidas típicas, ante o soçobro destas, conforme inciso quatro do artigo cento e trinta e nove do
có digo de processo civil.
artigo 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposiçõ es deste Có digo, incumbindo-lhe:
inciso quatro – determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogató rias
necessá rias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas açõ es que tenham por
objeto prestaçã o pecuniá ria;.
Nesse diapasã o, tais medidas ainda se subdividem em coerçã o e sub-rogaçã o. De acordo com
os ensinamentos de Didier jú nior sub rogaçã o configura a atuaçã o do Estado em substituiçã o
ao devedor, enquanto na coerçã o o Estado-Juiz, por meio de decisã o, determina que o devedor
cumpra com sua obrigaçã o, sob pena de medidas judiciais executivas, como a multa.
É notó rio que em um caso o Estado trabalha com a persuasã o sobre o executado, interferindo
diretamente em seu senso e vontade. Em contraposiçã o, percebemos a literal substituiçã o do
devedor pelo Estado-Juiz. Observa-se que o poder jurisdicional possui, à sua disposiçã o,
distintas formas de tornar satisfeito o direito, assim como efetivo o processo executivo.
Em breve classificaçã o das medidas disponíveis perante o judiciá rio temos atípicas e
coercitivas: suspensã o de Carteira nacional de habilitaçã o, recolhimento de passaporte e
bloqueio temporá rio de cartã o de crédito. Por outro lado, as típicas de sub-rogaçã o, quais
sejam: busca e apreensã o e penhora. Por fim, as típicas coercitivas, como a estipulaçã o de
multa.
Exemplo de ferramentas sã o: SISBAJUD, RENAJUD, SNIPER, INFOJUD e CNIB. Todas visam a
busca de patrimô nio do devedor. Seja em pecú nia, bens mó veis ou imó veis. Assim como
demais ativos existentes em seu nome.
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, o Sistema de Buscas de Ativos do Poder
Judiciá rio (SISBAJUD) é:
O sistema de envio de ordens judiciais de constriçã o de valores por via eletrô nica, o qual se dá
mediante a indicaçã o de conta ú nica bancá ria para penhora em dinheiro, o qual agiliza a solicitaçã o de
informaçõ es e o envio de ordens judiciais ao Sistema Nacional Financeiro.
Trata-se de um mecanismo em que se realiza a pesquisa de valores em contas bancá rias do
executado. Percebida a existência de saldo em conta proceder-se-á a penhora.
Ainda ensina o Conselho Nacional de Justiça que é o RENAJUD:
É um sistema on-line de restriçã o judicial de veículos que interliga o Judiciá rio ao Departamento
Nacional de Trâ nsito (Denatran). A ferramenta eletrô nica permite consultas e envio, em tempo real, à
base de dados do Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), de ordens judiciais de
restriçõ es de veículos — inclusive registro de penhora — de pessoas condenadas em açõ es judiciais.
Ainda tem-se o sistema de Restriçõ es Judiciais sobre Veículos Automotores (RENAJUD), o qual
realiza busca de veículos automotor e traz informaçõ es quanto a situaçã o jurídica de tal bem,
momento em que existente este bem, será tomadas as medidas cabíveis para que este
responda pela dívida exequenda.
Ademais, resultado de uma parceria entre o Conselho Nacional de Justiça e a Receita Federal, o
Programa Infojud (Sistema de Informaçõ es ao Judiciá rio) “[...] é um serviço oferecido
unicamente aos magistrados (e servidores por eles autorizados), que tem como objetivo
atender à s solicitaçõ es feitas pelo Poder Judiciá rio à Receita Federal, para o alcance de dados.
Através do Infojud, obtém-se informaçõ es cadastrais e declaraçõ es através da Receita Federal,
as quais contribuem para o encontro da realidade patrimonial do executado, facilitando cada
vez mais o encontro de bens que possam arcar com a dívida.
No mesmo sentido, tem-se a Central Nacional de Indisponibilidade de Bens. A CNIB é um
sistema criado e regulamentado pelo Provimento nú mero 39 de 2014, da Corregedoria
Nacional de Justiça e se destina a integrar todas as indisponibilidades de bens decretadas por
Magistrados e por Autoridades Administrativas.
Mediante a CNIB, realiza-se o decreto de indisponibilidade de bens que atinge alienaçõ es e
oneraçõ es de todos os bens do executado, sejam estes mó veis ou imó veis, o qual se dá através
do rastreamento de todos os bens que O executado possui, evitando assim a dilapidaçã o do
patrimô nio com o fim de lesar credores.
O Sistema Nacional de Investigaçã o Patrimonial e Recuperaçã o de Ativos (SNIPER):
É uma soluçã o tecnoló gica que agiliza e facilita a investigaçã o patrimonial. A partir do cruzamento de
dados e informaçõ es de diferentes bases de dados, o Sniper destaca os vínculos entre pessoas físicas e
jurídicas de forma visual (no formato de grafos), permitindo identificar relaçõ es de interesse para
processos judiciais de forma mais á gil e eficiente.
Por sua vez, o SNIPER, nova ferramenta disponibilizada pelo CNJ, surge como o meio através
do qual obtém-se informaçõ es da existência de relaçõ es negociais entre a pessoa do executado
e outros.
Visa-se alcançar todos os dados existentes quantos possíveis relaçõ es e negó cios, através do
qual ativos e bens poderã o ser localizados e indicados como forma de suprir a dívida em
execuçã o.
O Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional (CCS)
É um sistema informatizado que permite indicar onde os clientes de instituiçõ es financeiras mantêm
contas de depó sitos à vista, depó sitos de poupança, depó sitos a prazo e outros bens, direitos e valores,
diretamente ou por intermédio de seus representantes legais e procuradores.
O objetivo central do CCS, como supramencionado, é a localizaçã o de ativos e bens, das mais
derivadas formas, o qual se dá mediante pesquisas quanto relacionamentos entre o indivíduo
e a instituiçã o bancá ria.
Nos termos do explanado pelo Conselho Nacional de Justiça, todos os mecanismos sã o
dispostos tã o somente perante o Magistrado e os demais serventuá rios auxiliares.
Qualquer protecionismo que exaspere o campo da dignidade da pessoa humana do executado
nã o pode prosperar, vez que todas as pesquisas realizadas findam no campo da busca por bens
patrimoniais e informaçõ es quanto a estes. Resta evidente que há relativamente demasiada
quantidade de medidas executivas postas frente ao judiciá rio. Contudo, percebe-se grande
divergências e limitaçõ es quanto à s suas aplicaçõ es, reprimindo o alcance da efetividade
executiva, como será percebido da aná lise de decisõ es a seguir.

DECISÕES DE JUÍZES DE PRIMEIRO GRAU


Como supramencionado, existem inú meras ferramentas para auxiliar na busca da tutela
jurisdicional satisfató ria. Ocorre, no entanto, sã o incontáveis as divergências quanto à
aplicaçã o de tais medidas.
Com fulcro a ver satisfeita o crédito do exequente, assim como autorizando a utilizaçã o de
mecanismos pelo judiciá rio, dispõ e o artigo setecentos e setenta e três do Có digo de Processo
Civil que o juiz poderá , de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessá rias ao
cumprimento da ordem de entrega de documentos e dados, bem como o artigo setecentos e
setenta e quatro que ensina que caso descumpridas as ordens judiciais ou embaraçada a
execuçã o pelo executado, poderá ele arcar com o pagamento de multas.
Ainda, dispõ e o artigo cento e trinta e nove, inciso quatro, do Có digo de Processo Civil que:
O juiz dirigirá o processo conforme as disposiçõ es deste Có digo, incumbindo-lhe: determinar todas as
medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogató rias necessá rias para assegurar o
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas açõ es que tenham por objeto prestaçã o pecuniá ria.
No entanto, quando da aplicaçã o de tais medidas, percebe-se por parte do judiciá rio grande
embaraço e engessamento. Inú meros sã o os fundamentos para indeferimento de aplicaçã o dos
mecanismos que a pró pria lei já conferiu permissibilidade, rol já supracitado.
Deste modo, faz-se imprescindível citar alguns dos fundamentos negató rios e as respectivas
decisõ es, como o indeferimento por competir à parte exequente a obrigaçã o de localizar bens
do devedor.
Trata-se o primeiro excerto de despacho proferido no processo nú mero 5000396-
39.2012.8.27.2718 do Tocantins, em trâ mite na primeira Vara Cível de Filadélfia:
De início, indefiro o pedido de consulta ao sistema INFOJUD, restrito à s investigaçõ es criminais, por
acessar dados fiscais, nos termos do inciso doze, do artigo quinto da Constituiçã o Federal. E ante a
recusa ao bem penhorado, intime-se o patrono do credor para no prazo de quinze dias ú teis indicar
bens penhoráveis. Informado, expeça-se mandado de penhora, avaliaçã o e intimaçã o ou por carta
precató ria, conforme o caso.
No tocante à penhora de salá rio, no processo nú mero 5000214- 81.2012.8.27.2741 do
Tocantins, o magistrado decidiu pelo indeferimento, nos seguintes termos:
Por ora, INDEFIRO o pedido de penhora sobre o percentual de trinta por cento do salá rio do executado.
Importante ressaltar que estamos diante de um período epidemioló gico que vem acarretando sérias
dificuldades, em especial, a esmagadora parcela da populaçã o brasileira, inclusive, podendo ser o caso
do requerido, o que nesse momento, efetivar a penhora de parte do salá rio ora postulado, entendo ir
contrá rio ao princípio da dignidade da pessoa humana. De outra banda, cabe a parte exequente efetuar
diligências no intuito de localizar e informar ao juízo bens passíveis de penhora em nome do
executado, fins de garantir a dívida exequenda.
Percebe-se que o fundamento que respalda a supradita decisã o ultrapassa o campo da
proteçã o da dignidade da pessoa humana do executado, trazendo à tona uma execuçã o que se
volta contra o pró prio Exequente, seja lhe impondo obrigaçã o que deveriam recair em
sistemas disponibilizados pelo Conselho Nacional de Justiça, seja observâ ncia de uma
proteçã o exacerbada do Executado. Tem-se ainda decisõ es fundamentadas na ausência de
habilitaçã o ou regulamentaçã o para a utilizaçã o das medidas existentes, como decidiu o
magistrado no processo de execuçã o nú mero 5000336-41.2022.8.24.0021 de Santa Catarina:
No que tange a eventual pedido de consulta de valores em contas bancá rias da parte executada via
Sisbajud de forma reiterada (teimosinha), muito embora de fato se tenha noticiado a existência de tal
funçã o, que admite a reiteraçã o diá ria de tentativa de penhora em contas bancá rias por período de até
trinta dias, desconhece este Juízo qualquer regulaçã o (que seria de todo esperável) a propó sito desta
funcionalidade (de efeitos potencialmente no mínimo temerá rios, tais como a constriçã o de quantias
em vulto muitíssimo superior ao efetivamente devido e seus consectá rios), sendo o que basta para o
indeferimento, ao menos por agora, do pedido pertinente.
O sistema denominado “teimosinha”, trata-se, no ensinar do Conselho Nacional de Justiça, de
reiteraçã o de ordens de bloqueio, no qual o pró prio sistema calcula os valores a serem
bloqueados nas ordens subsequentes. Ainda nos termos do informado pelo Conselho Nacional
de Justiça.
A partir da emissã o da ordem eletrô nica de penhora de valores, o magistrado pode registrar a
quantidade de vezes que a mesma ordem terá que ser reiterada no Sisbajud até o bloqueio do valor
necessá rio para o seu total cumprimento. E já é possível deixar as ordens pré agendadas.
Em comento ao abordado, deve-se frisar que é assombroso perceber a inexistência de
regulamentaçã o de ferramentas dispostas pelo Conselho Nacional de Justiça ao Poder
Judiciá rio, tratando-se de verdadeira negaçã o e infringência ao direito daqueles que visam
alcançar a materializaçã o da tutela, assim como de previsõ es legais, as quais, em situaçõ es
como estas, nã o ultrapassam o campo da literalidade legal.
Por mais uma vez, percebe-se decisõ es que vã o de contramã o as inovaçõ es do Conselho
Nacional de Justiça, bem como em sentido ao dispêndio de uma rigorosa proteçã o ao
executado. Ainda, faz-se nítido a omissã o e desídia do poder judiciá rio quanto a regularizaçã o
da aplicaçã o de todos os mecanismos existentes. Pois fundamentos como tais, ante à existência
de mecanismos vá lidos e eficientes, nã o podem prosperar.
Na decisã o abaixo, oriunda do processo nú mero 5017208-26.2012.8.27.2729 de Tocantins, o
magistrado proferiu o indeferimento por inoportunidade da aplicaçã o da medida: Em poucas
palavras, a inscriçã o dos dados pessoais do devedor nos cadastros de inadimplentes via Serasajud será
deferida mediante resultado negativo de consulta aos sistemas informatizados disponíveis ao Tribunal
de Justiça de Tocantins e à expressa afirmaçã o do exequente de que nã o logrou êxito em desincumbir-
se de seu ô nus processual de buscar identificar patrimô nio do devedor por outros meios, dentre os
quais, a título de exemplo, busca por imó veis, busca por semoventes, redes sociais, busca por
recebíveis em aplicativos que intermediam diversos negó cios jurídicos (mercado pago, airbnb, pontos
de programas de fidelidade, uber etc.). Portanto, tendo em vista que ainda será feita buscas por
patrimô nio do executado, INDEFIRO, neste momento, a inclusã o da parte ré no registro de negativaçã o.
À SECRETARIA, proceda com a busca, caso possível, por ativos financeiros em desfavor da parte
executada pelo sistema CCS-BACEN.
Percebe-se de tal decisã o uma prevalência cronoló gica quanto a utilizaçã o das ferramentas, de
acordo com uma interpretaçã o que gira em torno de qual mecanismo vem ser menos
prejudicial ao executado, tendo essa preferência na utilizaçã o sob os demais.
Cabe explanar que nã o há na legislaçã o ordem cronoló gica para aplicaçã o dessas medidas. No
entanto, é utilizado critérios como, o de menor onerosidade, averiguaçã o da gravidade de cada
medida, entre outros. Cria-se assim uma escala quanto ao momento de aplicaçã o de cada uma,
fazendo-se imprescindível a observâ ncia de já ter sido aplicado medidas mais amenas.
Percebe-se assim uma grande desvantagem frente ao exequente, pois há que se destacar uma
maior proteçã o ao exequente em contraposiçã o a busca pela tutela que visa o exequente.
Em sua maioria, trata-se de pedidos que nã o ultrapassam a permissã o legal, tampouco violam
o princípio da menor onerosidade. No entanto, insurgem tais aná lises desprovidas de
necessidade e exigência legal como mais uma barreira para o exequente e a consequente
tutela satisfativa e em tempo razoável.
Nã o o bastante, percebe-se ainda situaçõ es em que o exequente encontra-se compelido a arcar
com a plena responsabilidade pelo alcance de sua tutela satisfativa, algo anô malo, visto que se
tivesse condiçã o para tanto sequer moveria a má quina estatal.
Assim, é evidente que o jurisdicionado assiste tal realidade sediando a cadeira da insatisfaçã o
e da descrença, nã o possuindo qualquer ferramenta para que veja possibilidades de alcance da
materializaçã o de seu direito através do instituto jurisdicional que foi concebido
exclusivamente para o alcance de tal fim.
Deste modo, as execuçõ es cíveis transcorrem caminho longínquo do qual visava-se percorrer,
tornando-se um instrumento meramente utó pico se observado sob a ó tica de suas disposiçõ es
legais e seu panorama na esfera prá tica.

CONCLUSÃO
Ao analisar o processo de execuçã o e as ferramentas existentes e postas frente ao judiciá rio
para o alcance da finalidade das execuçõ es civis, além das decisõ es que contrapõ e o alcance da
tutela satisfativa das execuçõ es civis pelo exequente, sob a égide da inaplicabilidade dos
instrumentos judiciais desenvolvidos pelo Conselho Nacional de Justiça, temos que estamos
diante de vá rios entraves quanto a efetividade.
Percebeu-se o conflito de direitos fundamentais existente, quando da aná lise da busca pelo
bem devido em convergência à preservaçã o das garantias fundamentais do executado.
Ademais, restou evidente que o princípio da menor onerosidade nã o deve ser enxergado com
supremacia e tã o pouco proteger os bens do executado, mas tã o somente preservar a
dignidade humana deste, bem como está límpido a existência de ferramentas para se fazer
valer o direito já reconhecido ao exequente.
Assim evidente as contradiçõ es existentes: O exequente é responsabilizado inteiramente pelo
êxito da execuçã o; a execuçã o gira em torno do protecionismo do executado, quando em
verdade, esta tem pô r fim a satisfaçã o do crédito do exequente. Antagonismos giram em torno
da interpretaçã o das normas, dos princípios e da aplicaçã o das ferramentas judiciais, o que
tornam sua aplicaçã o contraria ao pró prio fim do instituto jurídico.
Porém, sabe-se que nenhuma dessas contradiçõ es giram em torno de beneficiar o exequente, o
qual fica a mercê das ferramentas que, caso exitosas, já teriam saldado a dívida
extrajudicialmente.
Diante de tal conflito, o instituto da execuçã o civil percorre caminho totalmente distinto
daquele inicialmente traçado e para o qual foi criado, submergindo quanto ao alcance do
objetivo processual final, pondo frente ao Poder Judiciá rio grande desafio.
Ainda, imprescindível ressaltar que o presente trabalho nã o visou solucionar a causa e
tampouco apontar todas as causas e culpados pelo soçobro de tal instituto, analisando
detidamente fatores que sem qualquer lapso interferem grandiosamente em sentido negativo
para o alcance da satisfaçã o do crédito do exequente.
Deste modo, cabe ao poder jurisdicional ultrapassar a esfera do reconhecimento do direito
material, consubstanciando-o fora do campo processual para fins de atingir a ideia para o qual
o processo de execuçã o foi formulado buscando no aparato ao judiciá rio para a utilizaçã o
má xima das ferramentas disponíveis de satisfaçã o dos créditos assim como a sua utilizaçã o de
forma coerente e efetiva, afastando o ceticismo e estabelecendo a segurança jurídica e a
satisfaçã o da tutela jurisdicional.

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